Dissertação ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO: COMPARAÇÃO ENTRE A EFETIVIDADE DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR NO ATENDIMENTO AO PACIENTE HIPERTENSO Marly Ramires INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CARDIOLOGIA Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde Área de Concentração: Cardiologia ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO: COMPARAÇÃO ENTRE A EFETIVIDADE DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR NO ATENDIMENTO AO PACIENTE HIPERTENSO Autora: Marly Ramires Orientadora: Dr.ª Maria Claúdia Irigoyen Coorientadora: Enf.ª Silvia Goldmeier Dissertação submetida como requisito para obtenção do grau de Mestre ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, área de concentração: Cardiologia da Fundação Universitária de Cardiologia / Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre 2014 i Dados Internacionais de Catalogação na Publicação R173e Ramires, Marly Ensaio clínico randomizado: comparação entre a efetividade da equipe multidisciplinar no atendimento ao paciente hipertenso / Marly Ramires; Orientadora Maria Cláudia Irigoyen ; Coorientadora Silvia Goldmeier . – Porto Alegre : 2014. 98 f.; il. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul / Fundação Universitária de Cardiologia – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde: Cardiologia, 2014. 1. Assistência ambulatorial. 2. Hipertensão. 3. Qualidade de Vida. I. Irigoyen, Maria Cláudia. II. Goldmeier, Silvia. III. Título. CDU: 616.12-008.331.1 Bibliotecária responsável: Marina Miranda Fagundes CRB 10/2173 ii Dedico esta dissertação aos meus exemplos de vida, Dr.ª Lucia Pelanda, Dr.ª Maria Cláudia Irigoyen e Enf.ª Silvia Goldmeier, pelo apoio e dedicação, sempre me estimulando a dar este grande passo. Às minhas filhas Tatiane e Tassiana, que com muita sabedoria, discernimento, bom senso e dedicação estiveram ao meu lado me encorajando nas horas difíceis e me aplaudindo nos momentos de glória. Obrigada em especial à minha mãe Clélia, que com seus ensinamentos corretos e competentes me inspirou a lutar e acreditar na vitória sempre. Ao meu neto Bernardo, embora tão pequeno, minha grande fonte de inspiração. Aos meus genros Tiago e Iaslei, e ao meu irmão Flávio, obrigada pela paciência. Amo vocês! iii “Uma visão sem ação, não passa de um sonho. Uma visão com ação pode mudar o mundo” iv LISTA DE ABREVIATURAS AVC Acidente vascular cerebral AVE Acidente vascular encefálico BAI Inventário Beck de Ansiedade CEP Comitê de Ética em Pesquisa DAC Doença arterial coronária DAP Doença arterial periférica DASH Dietary Approaches to Stop Hypertension DCV Doença cardiovascular DIC Doença isquêmica do coração DVP Doença vascular periférica DM Diabetes Mellitus ELSA Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto FC Frequência cardíaca FR Fatores de risco HAS Hipertensão arterial sistêmica IC Insuficiência cardíaca ICC Insuficiência cardíaca congestiva IC/FUC Instituto de Cardiologia / Fundação Universitária de Cardiologia IMC Índice de massa corporal INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia IR Insuficiência renal ISSL Inventário de sintomas de estresse para adultos de Lipp ITT Intenção de tratamento Mg/dl Miligramas por decilitro mmHg Milímetro de mercúrio NHP Nottingham Health Profile OMS Organização Mundial da Saúde QV Qualidade de vida PA Pressão arterial PAD Pressão arterial diastólica PAS Pressão arterial sistólica v PEPI Postmenopausal Estrogen/Progestin Interventions PSF Programa de Saúde da Família RS Rio Grande do Sul RVP Resistência vascular periférica Rx CVB Raio X Coração e Vasos da Base SBC Sociedade Brasileira de Cardiologia SBH Sociedade Brasileira de Hipertensão SF-36 The Short Form (36) Health Survey SNS – Sistema nervoso simpático SRA Sistema renina-angiotensina SUS – Sistema Único de Saúde TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TH – Terapia hormonal vi SUMÁRIO BASE TEÓRICA ......................................................................................................... 1 1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 2 2 CONCEITO................................................................................................. 3 3 PREVALÊNCIA /CUSTO DA DOENÇA ................................................ 4 4 FISIOPATOLOGIA DA HAS ................................................................... 7 5 ASPECTOS GERAIS ............................................................................... 11 6 FATORES DE RISCO DA HIPERTENSÃO ........................................ 13 6.1 IDADE ..................................................................................................... 13 6.2 GÊNERO E ETNIA ................................................................................. 13 6.3 EXCESSO DE PESO E OBESIDADE ................................................... 15 6.4 INGESTÃO DE SAL .............................................................................. 18 6.5 INGESTÃO DE ÁLCOOL ...................................................................... 19 6.6 SEDENTARISMO .................................................................................. 21 6.7 ESTRESSE .............................................................................................. 21 6.8 TABAGISMO.......................................................................................... 23 6.9 FATORES SOCIOECONÔMICOS ........................................................ 24 6.10 HEREDITARIEDADE .......................................................................... 24 7 QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA À HIPERTENSÃO ......... 25 8 INSTRUMENTO QUALIDADE DE VIDA ........................................... 29 9 ATUAÇÃO DO GRUPO MULTIPROFISSIONAL – MULTIHAS ... 30 9.1 ATENDIMENTO MÉDICO ................................................................... 30 9.1.1 Avaliação clínica .................................................................................. 30 9.2 ATENDIMENTO DE ENFERMAGEM ................................................. 32 vii 9.2.1 Medida da PA ....................................................................................... 32 9.3 ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO .............................................. 34 9.4 ATENDIMENTO PSICOLÓGICO ......................................................... 35 9.5 ATENDIMENTO NUTRICIONAL ........................................................ 36 10 HIPÓTESE .............................................................................................. 38 11 OBJETIVOS ........................................................................................... 39 11.1 OBJETIVO GERAL .............................................................................. 39 11.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................ 39 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 40 ARTIGO PARA A REVISTA PORTUGUESA DE CARDIOLOGIA ...................................................................................................................................... 49 APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO75 APÊNDICE B – INVENTÁRIO DE SINTOMAS DE ESTRESSE ...................... 77 APÊNDICE C – INVENTÁRIO BECK DE ANSIDADE - BAI............................ 81 APÊNDICE D - ANAMNESE ALIMENTAR ......................................................... 82 APÊNDICE E – AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA ....................................... 85 APÊNDICE F – QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA ........................................................................................................................... 86 viii 1 BASE TEÓRICA 2 1 INTRODUÇÃO A hipertensão arterial e as doenças relacionadas a pressão arterial são responsáveis pela alta frequência das internações. A insuficiência cardíaca (IC) é a principal causa de hospitalização entre as doenças cardiovasculares, sendo duas vezes mais frequentes que as internações por acidente vascular cerebral.1 Em 2005 ocorreram 1.180.184 internações por doenças cardiovasculares, com custo global de R$ 1.323.775.008,283. No Brasil, em 2003, 27,4% dos óbitos foram decorrentes de doenças cardiovasculares, atingindo 37%, quando são excluídos os óbitos por causas mal definidas e a violência. A principal causa de morte em todas as regiões do Brasil é o acidente vascular cerebral (AVC), acometendo as mulheres em maior proporção.2 Entre os fatores de risco para mortalidade, a hipertensão arterial explica 40% das mortes por acidente vascular cerebral e 25% daquelas por doença coronariana. 3 Comparar os resultados obtidos pelo atendimento realizado por uma equipe multiprofissional, na primeira consulta e durante um ano de acompanhamento é a proposta deste estudo. A metodologia aplicada: o ensaio clínico demonstra ser o instrumento mais poderoso de pesquisa, porque as pessoas são alocadas ao acaso para receber uma de várias intervenções clínicas, o mesmo baseia-se em coletas de dados aleatórios e tendem a ser mais confiáveis já que anulam a influência de quem escolheu as amostras. Portanto comparar o atendimento convencional com o atendimento multiprofissional, considerando a redução da pressão arterial como desfecho desejado e o Escore de Qualidade de Vida é objetivo deste estudo, pois não há dúvidas de que controlar a pressão arterial será o desafio do próximo século. 3 2 CONCEITO A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA). A HAS, decorrente do aumento na PA no indivíduo, é uma enfermidade crônica, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a qual apresenta altos custos médicos e socioeconômicos decorrentes principalmente das complicações que a acompanham.4 Associa-se frequentemente a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas com consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais. É uma doença que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, sendo responsável por grande número de mortes devidas a infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e doença renal crônica. No Brasil, de acordo com dados estatísticos, as doenças cardiovasculares constituem importante causa de mortalidade, sendo que a HAS atinge entre 15% e 20% da população urbana adulta (com mais de 18 anos), chegando a 65% dos indivíduos mais idosos.5 A maioria dos eventos cardiovasculares ocorre em indivíduos com alterações leves dos fatores de risco que, se deixados sem tratamento por muitos anos, podem produzir uma doença manifesta.3 Vários estudos epidemiológicos e ensaios clínicos já demonstraram a drástica redução da morbimortalidade cardiovascular com o tratamento da hipertensão arterial.2,6 Por tratar-se de uma enfermidade com impacto clínico e humanístico nos pacientes a melhora da PA tem uma relação positiva na qualidade de vida (QV), além de ser um fator independente para a melhora da QV dos pacientes hipertensos.7 4 3 PREVALÊNCIA /CUSTO DA DOENÇA A HAS tem alta prevalência e baixas taxas de controle, sendo considerada um dos principais fatores de risco (FR) modificáveis e um dos mais importantes problemas de saúde pública. A mortalidade por doença cardiovascular (DCV) aumenta progressivamente com a elevação da PA a partir de 115/75 mmHg de forma linear, contínua e independente.1,5 Sabe-se que o grande obstáculo para o controle da PA é a não adesão ao tratamento pelos pacientes hipertensos, sendo esse um dos principais problemas de saúde pública no mundo, além de gerar gastos ao sistema de saúde dos Estados Unidos de 100 bilhões de dólares ao ano.8 Somente nos Estados Unidos, aproximadamente um milhão de pessoas morrem por ano de doenças cardiovasculares,9 representando um grande prejuízo social e econômico. Em 2001, cerca de 7,6 milhões de mortes no mundo foram atribuídas à elevação da PA (54% por acidente vascular encefálico – AVE – e 47% por doença isquêmica do coração – DIC), sendo a maioria em países de baixo e médio desenvolvimento econômico e mais da metade em indivíduos entre 45 e 69 anos.10,11 Nos países em desenvolvimento, o crescimento da população idosa e o aumento da longevidade, associados a mudanças nos padrões alimentares e no estilo de vida, têm forte repercussão sobre o padrão de morbimortalidade.3 Dessa forma, a hipertensão arterial ainda é uma das principais causas de morbimortalidade também nas sociedades desenvolvidas, provavelmente associadas a hábitos alimentares inadequados, ao sedentarismo e ao estresse causado pelo ritmo de vida acelerado e altamente competitivo, que afetam milhares de pessoas em todo o mundo. 5 As DCV são ainda responsáveis por alta frequência de internações, ocasionando custos médicos e socioeconômicos elevados.12 Como exemplo, em 2007 foram registradas 1.157.509 internações por DCV no SUS. Em relação aos custos, em novembro de 2009, houve 91.970 internações por DCV, resultando em um custo de R$165.461.644,33. A doença renal terminal, outra condição frequente na HAS, ocasionou a inclusão de 940.28 indivíduos em programa de diálise no Sistema Único de Saúde (SUS), registrando-se 9.486 óbitos em 2007. Inquéritos populacionais em cidades brasileiras nos últimos 20 anos apontaram uma prevalência de HAS acima de 30%.13 Considerando-se valores de PA ≥ 140/90 mmHg, 22 estudos encontraram prevalências entre 22,3% e 43,9%, (média de 32,5%), com mais de 50% entre 60 e 69 anos e 75% acima de 70 anos.13,14 Entre os gêneros, a prevalência foi de 35,8% nos homens e de 30% em mulheres, semelhante a de outros países. A revisão sistemática quantitativa de 2003 a 2008, de 44 estudos em 35 países, revelou uma prevalência global de 37,8% em homens e 32,1% em mulheres.15 Estudos clínicos demonstraram que a detecção, o tratamento e o controle da HAS são fundamentais para a redução dos eventos cardiovasculares.5 A comparação das frequências, respectivamente, de conhecimento, do tratamento e de controle nos estudos brasileiros,16 com as obtidas em 44 estudos de 35 países,15 revelou taxas semelhantes em relação ao conhecimento(52,3% vs. 59,1%), mas significativamente superiores no Brasil em relação ao tratamento e ao controle (34,9% e 13,7% vs. 67,3% e 26,1%) em especial em municípios do interior com ampla cobertura do Programa de Saúde da Família (PSF), mostrando que os esforços concentrados dos 6 profissionais de saúde, das sociedades científicas e das agências governamentais são fundamentais para se atingir metas aceitáveis de tratamento e controle da HAS.13-15 Em todos os biênios investigados, a região Sul apresentou maiores taxas de internação por AVC. As taxas, no entanto, foram descendentes em 2001-2003 e 20052006. No lado e sentido opostos, apareceu a região Norte, com as menores taxas, porém em ascensão. Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste também apresentaram declínio, com o Sudeste alcançando as menores taxas em 2005-2006. Quanto às internações por insuficiência cardíaca congestiva (ICC), houve declínio em todas as regiões, sendo as menores taxas identificadas no final do período investigado no Nordeste.16 Devemos ainda considerar que a prevalência de hipertensão arterial aumenta com a idade e que o crescimento percentual de idosos em nossas sociedades vem aumentando anualmente, apontando para um aumento na prevalência da hipertensão num futuro muito próximo. Acredita-se que em 2025 na América Latina a prevalência de hipertensão deverá aumentar entre 5 e 9% devido à maior proporção de pacientes mais idosos na população. Sendo assim, 44.5% dos homens e 40.2% das mulheres acima de 20 anos de idade deverão ser hipertensos nessa região.16 7 4 FISIOPATOLOGIA DA HAS O sistema arterial tem como função principal distribuir sangue para os leitos capilares de todo o corpo. As arteríolas são componentes terminais desse sistema composto de vasos de grande resistência, que regulam a distribuição do fluxo para os diversos leitos capilares. Já as grandes artérias, como: a aorta, a pulmonar e seus principais ramos, são dotadas de uma grande elasticidade, possibilitando o fluxo de um volume considerável de sangue. O coração funciona no organismo como uma bomba intermitente, na qual todo o débito sistólico é lançado no sistema arterial durante a sístole, que ocupa apenas um terço do ciclo cardíaco. Nesse momento da contração cardíaca, uma pequena parte da energia gerada pela contração cardíaca é dissipada como fluxo capilar anterógrado durante a sístole e o restante é armazenado como energia potencial nas artérias distensíveis. Durante o momento da diástole, essa energia potencial, através da retração elástica das paredes das artérias, é transformada em fluxo sanguíneo capilar.17 A PA possui alguns determinantes principais que podem ser divididos em dois grandes grupos: determinantes “físicos” e “fisiológicos”. Os fatores físicos relacionam-se com as características mecânicas do líquido, que são: o volume do líquido (volume sanguíneo) e as características elásticas (complacência) do sistema. Os fatores fisiológicos relacionam-se com certas características do sistema cardiovascular, ou seja, débito cardíaco (frequência cardíaca X débito sistólico) e a resistência periférica.17,18 (Figura 1). 8 Figura 1 – Pressão arterial e seus determinantes físicos e fisiológicos. Fonte: adaptado de Berne e Levy; 2000.19 Os determinantes da PA podem ser afetados por numerosos fatores genéticos e ambientais, sendo controlados pelos hormônios, pelo sistema nervoso, pela glândula parácrina e pelo feedback intracelular. A interação entre esses fatores muda com a idade e conta para o padrão heterogêneo das alterações hemodinâmicas, que inicia e sustenta a PA elevada durante a vida.20 De acordo com o que se demonstrou em evidências e em estudos clínicos, o rim possui um papel central na fisiopatologia da HAS. Um exemplo disso ocorre quando os rins necessitam elevar a PA acima do normal para manter o volume de líquido extracelular dentro de valores limites. Outros exemplos são os modelos experimentais de HAS em ratos que demonstraram o quanto fica prejudicada a excreção renal de sódio em qualquer grau de PA. O papel central dos rins, entretanto, na hipertensão deve-se a diferenças na sensibilidade ao sal.20 Nas formas genéticas da HAS, a sensibilidade ao sal pode resultar de várias mutações, afetando proteínas do citoesqueleto, transportadores iônicos, ou fatores endócrinos que controlam o sistema renal de sódio. Em outras formas de hipertensão, a sensibilidade ao sal, origina-se de um desequilíbrio entre as regulações hormonais, nervosas ou hemodinâmicas que afetam o balanço de sódio através de mudanças na filtração glomerular ou reabsorção tubular.20 9 Alguns estudos demonstram que apenas 30% é a contribuição quantitativa dos fatores genéticos para a HAS, devendo haver outros fatores associados para desencadear realmente a patologia, como idade, gênero, raça e hábitos de vida.21 Outro ponto chave na fisiopatologia da HAS é o mecanismo microvascular e macrovascular envolvido na patologia. O aumento da resistência arterial periférica é o marco da HAS. Mudanças na estrutura da relação parede/lúmen vascular finalizam num remodelamento, dificultando a contração da musculatura lisa vascular. Estudos demonstram que pacientes hipertensos têm uma redução no lúmen, porém uma área normal da secção transversal, essa hipertrofia pode conduzir também ao fechamento de pequenos vasos, além de elevarem a PA. A hipertensão sistólica isolada em pacientes idosos é considerada uma doença separada, devido ao endurecimento das grandes artérias com o avanço da idade.20 A HAS, como a maioria das doenças crônicas cuja incidência aumenta com a idade, envolve tanto componentes etiológicos ambientais como hereditários, sendo, portanto, classificada como uma doença poligênica e multifatorial, estando relacionada a mudanças morfológicas e funcionais no sistema cardiovascular e no controle autonômico em humanos e animais.22,23 Em condições normais, a PA deve ser mantida em uma estreita faixa de variação, permitindo uma adequada perfusão tecidual. Esse controle envolve grande número de substâncias e de sistemas fisiológicos que interagem de maneira complexa e com redundância para manter a PA em níveis adequados, nas mais diversas situações fisiológicas. Dessa forma, o controle de PA envolve mecanismos neurais e neuro-humorais que, em curto e longo prazos, modulam não só a atividade do sistema nervoso autônomo para o coração e para os vasos, como também o volume sanguíneo 10 e a secreção de vários hormônios (renina, vasopressina, peptídeo natriureticoatrial etc.).23,24 A figura 2 demonstra a complexidade da fisiologia do vaso: DC – débito cardíaco; SNS – sistema nervoso simpático; SRA – sistema reninaangiotensina; FC – frequência cardíaca. Figura 2– Fisiopatologia da hipertensão Fonte: Kaplan, 1998. Embora os efeitos do sistema nervoso sobre o sistema cardiovascular se devam, em grande parte, à ação dos neurotransmissores: noradrenalina e acetilcolina, a liberação de outros neurotransmissores nas terminações pós-ganglionares simpáticas e parassimpáticas podem potencializar e/ou minimizar a ação da noradrenalina e da acetilcolina, ampliando as oportunidades de controle cardiovascular por aumentar ou diminuir a sensibilidade do músculo cardíaco e do músculo liso vascular à estimulação simpática e parassimpática.23,25,26 11 5 ASPECTOS GERAIS Nas últimas décadas, o estudo dos mecanismos de controle da pressão arterial mostrou que um grande número de substâncias e sistemas fisiológicos interage de maneira complexa e com redundância para garantir a PA em níveis adequados nas mais diversas situações.27 De acordo com Swales (1996),9 a HAS foi reconhecida como doença por Richard Bright (1789-1858), o qual, nos seus esclarecimentos a respeito da doença renal crônica, relata ter observado que doentes apresentavam muitas vezes hipertrofia ventricular esquerda e concluiu que isso seria decorrente do aumento da força necessária para impulsionar sangue através dos vasos sanguíneos doentes.9 Complementando essa ideia, Brandão coloca que a HAS é responsável pelo desenvolvimento da doença arterial coronária (DAC), AVC, IC, insuficiência renal (IR) e doença arterial periférica (DAP). Nos países industrializados, a HAS distinguese por ser um dos fatores de risco de maior magnitude e essa condição responde por grande parte da morbidade e da mortalidade cardiovascular.28 A hipertensão arterial pode ser também classificada pela sua etiologia. Acredita-se que 95 e 99% dos casos são de hipertensão primária ou essencial, para a qual não existe causa orgânica evidente. Para os demais casos, a hipertensão é secundária à administração de drogas (contraceptivos orais, hormônios da suprarrenal, dentre outras); gravidez; doença cardiovascular como coarctação da aorta; doença renal; doença das glândulas suprarrenais (córtex ou medula).28 As doenças crônicas estão na agenda de prioridades da maioria dos países em desenvolvimento, os quais lideram as causas de mortalidade e afetam as condições de vida e saúde da população. No Brasil, a situação não é diferente. As doenças crônicas, 12 entre elas as cardiovasculares e o diabetes mellitus, também lideram as causas de mortalidade e morbidade, gerando grandes demandas aos serviços de saúde. Com o objetivo de suprir importantes lacunas de conhecimento sobre a incidência dessas doenças e seus fatores de risco, foi idealizado o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto – ELSA Brasil.29 O ELSA Brasil é um estudo de coorte multicêntrico que acompanhará cerca de 15 mil funcionários e docentes de seis instituições públicas de ensino superior e pesquisará nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. Envolvendo homens e mulheres entre 35 e 74 anos, a pesquisa de caráter multidisciplinar tem o objetivo de investigar o desenvolvimento de doenças crônicas na população brasileira. A partir do ELSA Brasil será possível produzir um conhecimento voltado para a realidade nacional e suas especificidades, levando em conta os aspectos culturais e o contexto socioeconômico adverso em que vive grande parcela da população. Esse fato revelase de grande importância quando levado em conta que as condutas existentes no Brasil para prevenção e atenção a esse tipo de doença baseiam-se em estudos realizados nos Estados Unidos e em países europeus.30 Transcendendo o contexto nacional, o ELSA Brasil traz contribuições de um país em desenvolvimento e marcado pela diversidade, o que faz do estudo potencial fonte de referência para países com populações de características semelhantes à brasileira. 13 6 FATORES DE RISCO DA HIPERTENSÃO 6.1 IDADE Com o avançar da idade a PA aumenta linearmente.31 A hipertensão em indivíduos jovens deriva mais frequentemente apenas da elevação na pressão diastólica, enquanto o principal componente, a partir da sexta década, é a elevação da pressão sistólica.32 Inquéritos internacionais de saúde em vários países têm demonstrado uma alta prevalência de mau controle da hipertensão. Esses inquéritos têm relatado que a prevalência é de 22% no Canadá, das quais 16% são controladas, 26,3% no Egito, das quais 8% são controladas e 13,3% na China das quais 3% são controladas. A HAS é uma epidemia mundial; na grande maioria, 50% da população com mais de 50 anos têm hipertensão.23 6.2 GÊNERO E ETNIA A prevalência global de HAS entre homens e mulheres é semelhante, embora seja mais elevada nos homens até os 50 anos, invertendo-se a partir da 5ª década.13,33 Em relação à cor, a HAS é duas vezes mais prevalente em indivíduos de cor nãobranca. Estudos brasileiros com abordagem simultânea de gênero e cor demonstraram predomínio de mulheres negras com excesso de HAS de até 130% em relação às brancas.13 Não se conhece, com exatidão, o impacto da miscigenação sobre a HAS no Brasil. As principais doenças cardiovasculares na população africana são a hipertensão arterial, os acidentes vasculares cerebrais, a miocardiopatia, a cardiopatia 14 isquêmica e a doença reumática cardíaca. Segundo o Relatório Mundial da Saúde, no ano 2000, as doenças cardiovasculares foram responsáveis por 9.2% do total das mortes na África, chegando mesmo a matar mais do que a malária. Dados recentes de vários países apontam para prevalências bastante altas na raça negra, chegando a ultrapassar os 25-30% em pessoas com mais de 25 anos de idade. Multiplicidade de fatores concorre para o rápido aumento da prevalência das doenças cardiovasculares nessa raça.14 No estudo “Prevalência, Reconhecimento e Controle da Hipertensão Arterial Sistêmica no Estado do Rio Grande do Sul”,34 verificou-se que as mulheres da amostra apresentavam renda e escolaridade menor que os homens. Devido à conhecida relação entre a desigualdade social e a situação de saúde da população, esse achado tangencial não deve ser menosprezado, mas sim estar presente tanto em projetos de pesquisa futuros, como também no planejamento de ações em saúde. Assim, o reconhecimento da situação socioeconômica desfavorável das mulheres no estado do Rio Grande do Sul deve servir como alerta para evitar (e agir sobre) a desigualdade de sexo em saúde.2 Segundo o estudo “Menopausa e hipertensão arterial”,35 a incidência de doença cardiovascular é menor em mulheres na idade reprodutiva e após a menopausa levantou-se a possibilidade de que o estrógeno fosse protetor para eventos cardiovasculares e torna-se similar à do homem. Seguindo essa linha de raciocínio, vários estudos epidemiológicos sugeriram que a terapia hormonal (TH) fosse benéfica na prevenção da DCV. Um dos principais estudos sobre o assunto foi a coorte – The Nurse’s Health Study, que acompanhou 85.941 mulheres por 14 anos, coletando informações sobre vários fatores de risco para doença coronariana (dieta, estilo de vida). Os desfechos principais foram infarto do miocárdio não-fatal e mortalidade por doença coronariana DAC. A redução de 31% na incidência de DAC 15 encontrada após ajuste para idade associou-se ao uso de reposição hormonal. Estudos experimentais também avaliaram a TH na prevenção primária da DCV. O mais importante foi o Postmenopausal Estrogen/Progestin Interventions (PEPI) trial, que avaliou o benefício da TH apenas em desfechos substitutos (redução do colesterol).36 Esses estudos delinearam o papel da TH na prevenção primária da DCV, apesar de evidentes vieses das cointervenções (redução do tabagismo, melhora na dieta, atividade física regular) nos estudos de coorte e da falta de resultados em desfechos primordiais nos ensaios clínicos. Para prevenção secundária da DCV, estudos observacionais e metanálises também encontraram possível efeito protetor da TH, com redução em novos eventos coronarianos em usuárias versus não-usuárias.36 6.3 EXCESSO DE PESO E OBESIDADE Na vida adulta, mesmo entre indivíduos fisicamente ativos o incremento de 2,4 kg/m2 no índice de massa corporal (IMC) acarreta maior risco de desenvolver hipertensão. O excesso de peso se associa com maior prevalência de HAS desde jovens.37 A obesidade central também se associa com PA.38 Em todas as idades, independente do sexo ou raça, a obesidade e HAS têm forte correlação positiva. Maior atividade simpática tem sido demonstrada em indivíduos obesos e há uma aceitação geral de que o sistema nervoso simpático (SNS) contribui na gênese da hipertensão relacionada à obesidade.39 Parece ocorrer uma relação de retroalimentação entre ganho de peso, aumento da atividade simpática, resistência à insulina e HAS. O ganho de peso resulta em aumento da atividade simpática, que pode provocar resistência à insulina e hiperinsulinemia. O ciclo é reforçado pela tendência da hiperinsulinemia em estimular o apetite, o ganho de peso e o aumento da atividade simpática.39 16 Outro corpo de evidências favorece a obesidade como importante fator de risco para o desenvolvimento da hipertensão primária no adulto.31,40 Os estudos longitudinais e transversais norte-americanos mostram haver correlação entre a PA e a massa corpórea, avaliada por qualquer método (índice de massa como Quetelet ou peso acima do ideal) havendo indicações de que não se trata de um artefato de medida, decorrente do uso de manguitos inadequados para pessoas obesas. O risco aumenta quanto maior o ganho de peso. Por outro lado, a redução de peso em pessoas que já eram hipertensas se associa com a queda da pressão arterial.28 O Quetelet está associado com a pressão arterial sistólica (PAS) e a Pressão arterial diastólica (PAD). O IMC é uma medida da associação entre o peso e a estatura de um indivíduo idealizada pelo estadístico belga L. A. J. Quetelet, também conhecida como índice de Quételet. Calcula-se conforme a expressão matemática: IMC = massa estatura2 O valor obtido não é constante, varia com a idade, o sexo, o gênero (Fig. III). Também depende de outros fatores, como as proporções de tecido muscular e adiposo. No caso de adultos se tem utilizado como um dos recursos para retornar a seu estado nutricional, de acordo com os valores propostos pela Organização Mundial de Saúde (OMS).41 17 Figura 3 – Mudanças de IMC conforme a idade de crianças espanholas. Valores correspondentes aos percentuais mais relevantes à prática clínica. Fonte: OMS, 1995.41 Tabela 1 – Classificação da OMS quanto o estado nutricional de acordo com o IMC IMC (kg/m2) Classificação Valores principais Valores adicionais Baixo peso <18,50 <18,50 Magreza severa <16,00 <16,00 Magreza moderada 16,00 - 16,99 16,00 - 16,99 Magreza acentuada 17,00 - 18,49 17,00 - 18,49 18.5 - 22,99 Normal 18.5 - 24,99 23,00 - 24,99 Sobrepeso ≥25,00 Pré-obeso 25,00 - 29,99 ≥25,00 25,00 - 27,49 27,50 - 29,99 18 Tabela 1 – Classificação da OMS quanto o estado nutricional de acordo com o IMC (continuação) IMC (kg/m2) Clasificação Obeso ≥30,00 ≥30,00 30,00 - 32,49 Obeso tipo I 30,00 - 34,99 32,50 - 34,99 35,00 - 37,49 Obeso tipo II 35,00 - 39,99 37,50 - 39,99 Obeso tipo III ≥40,00 ≥40,00 Fonte: adaptado de OMS, 1995.41 6.4 INGESTÃO DE SAL Ingestão excessiva de sódio tem sido correlacionada com elevação da PA, a população brasileira apresenta um padrão alimentar rico em sal, açúcar e gorduras. Em contrapartida, em populações com dieta pobre em sal, como os índios brasileiros Yanomami, não foram encontrados casos de HAS.5 O excesso de consumo de sódio contribui para a ocorrência de hipertensão arterial. A relação entre aumento da pressão arterial e avanço da idade é maior em populações com alta ingestão de sal. Povos que consomem dieta com reduzido conteúdo de sal têm menor prevalência de hipertensão e a pressão arterial não se eleva com a idade. Entre os índios Yanomami, que têm baixa ingestão de sal, não foram observados casos de hipertensão arterial.39 São inúmeras as evidências que asseguram a associação entre consumo de sal e pressão arterial. A redução do consumo de sal provoca marcada redução da pressão 19 arterial em hipertensos e normotensos, bem como o maior consumo de sal tem sido associado valores pressóricos e predisposição a desenvolver hipertensão.39 É extremamente rica a literatura sobre a ingestão de Eletrólitos na dieta, sobretudo o Sódio no sal de cozinha.28,42 Os dados existentes envolvem considerações antropológicas que indicam que a adição de sal ao alimento é recente na história da humanidade, relacionada à necessidade de conservação do mesmo, e não relacionada às necessidades dietéticas do eletrólito. Por outro lado, as populações primitivas que não apresentam hipertensão arterial ingerem também baixo conteúdo de sódio na dieta, mostrando-se sempre com PA baixas para a idade e sem ascensão da PA com a idade.38,42 Em diversas populações tem-se mostrado a correlação da ingestão de sódio com a prevalência de hipertensão arterial. Problema adicional para essas análises diz respeito à metodologia da avaliação da ingestão diária de sódio. Por outro lado, a forma de atuação do sódio, e também de eletrólitos relacionados como potássio e cálcio, dar-se-ia ao nível intracelular, no mecanismo da bomba de sódio.42 6.5 INGESTÃO DE ÁLCOOL A pressão arterial aumenta com o consumo elevado de bebidas alcoólicas como cerveja, vinho e destilados. O efeito varia com o gênero, e a magnitude está associada à quantidade de etanol e à frequência de ingestão.43 Conforme as VI Diretrizes de Hipertensão Arterial Sistêmica,5 o consumo elevado de bebidas alcoólicas como cerveja, vinho e destilados aumenta a pressão arterial. O efeito do consumo leve a moderado de etanol está estabelecido. Verifica-se redução média de 3,3 mmHg (2,5 a 4,1 mmHg) na pressão sistólica e 2,0 mmHg (1,5 a 2,6 mmHg) na pressão diastólica com a redução no consumo de etanol. O consumo de bebida 20 alcoólica fora de refeições aumenta o risco de hipertensão, independentemente da quantidade de álcool ingerida.44 A moderação no consumo de álcool leva a limitar o consumo a 30 g/dia de etanol para os homens e 15 g/dia para mulheres.5 De acordo com Moreira e cols. (1998),45 estudos observacionais e experimentais permitem concluir que indivíduos que consomem grandes quantidades de álcool (acima de 30 g/dia) apresentam risco aumentado para HAS. Por outro lado, o efeito pode estar relacionado não apenas à quantidade e duração da exposição, mas também, ao tempo desde o último consumo. Esse efeito deletério do etanol, sobre o sistema cardiovascular, reforça a interpretação de que o efeito protetor decorrente do consumo de bebidas alcoólicas, particularmente o vinho, deve-se mais ao estilo de vida dos bebedores do que a um efeito intrínseco da bebida.46 Em uma observação de Coorte que estudou mais de 15 mil pessoas, com idade entre 45 e 64 anos, das quais 8.334 eram normotensas, a análise estratificada, na qual foram incluídas mulheres brancas e homens negros, que consumiam a partir de 210g de álcool por semana, apresentou maior incidência de hipertensão do que os abstêmios.45 Quanto ao uso de álcool tem-se mostrado que um consumo excessivo de álcool está associado com maior prevalência de hipertensão, tanto em estudos transversais, quanto em estudos de coorte.1,31 Discute-se a via pela qual o álcool poderia aumentar a PA de um indivíduo, embora esse tenha uma ação direta sobre o músculo cardíaco; há evidências também de uma ação indireta sobre o metabolismo de cálcio.45 21 6.6 SEDENTARISMO Atividade física reduz a incidência de HAS, mesmo em indivíduos préhipertensos, bem como a mortalidade e o risco de DCV. O sedentarismo é responsável, nos EUA, por cerca de 200 mil mortes, anualmente, por doenças coronarianas e diabetes. Entre os adultos, 60% são sedentários, apenas 20% são ativos o suficiente para aumentar ou manter a boa forma física, enquanto 20% são ativos esporadicamente. Na Finlândia, 71% da população é sedentária, percentual maior é encontrado em Portugal, 83%, enquanto que a Bélgica chega a atingir 67%, e países como a Suécia e Irlanda, a prevalência de sedentarismo varia de 32% a 35%.47 O sedentarismo no Rio Grande do Sul (RS) é muito alto mesmo nas faixas etárias mais jovens, estima-se 47% de sedentarismo em Porto Alegre.48 Ficou evidente que os percentuais da HAS, do excesso de peso, das glicemias elevadas, do colesterol alto e do sedentarismo aumentam nas faixas etárias mais avançadas, bem como os altos percentuais de fumantes nas diversas faixas etárias, mostrando que teremos de enfrentar, cada vez mais, um maior número de pacientes com doença cardiovascular. Indivíduos sedentários apresentam risco aproximado 30% maior de desenvolver hipertensão que os ativos.49 6.7 ESTRESSE O estresse é um importante fator de risco para a HAS, pois é sabido que indivíduos que são submetidos a emoções constantes como preocupação, raiva, tristeza, ansiedade ou insônia, podem apresentar aumento nos níveis tensionais.50 Vem sendo alvo de grande interesse na literatura, a ligação entre o estresse emocional e a 22 hipertensão arterial e o seu papel do estresse da gênese da hipertensão arterial. Existe ênfase de que a adrenalina liberada de forma intermitente poderia gerar vaso constrição neurogênica sustentada e hipertensão pela ação em receptores présinápticos, promovendo a liberação de norepinefrina.51 Observações clínicas de indivíduos hipertensos ou com predisposição genética para a hipertensão sugerem que esses estão suscetíveis de forma mais acentuada ao estresse.50 Por outro lado, em indivíduos que vivem ou trabalham em situações estressantes (como os controladores de aeroportos), a preponderância da hipertensão pode ser até cinco vezes maior que em indivíduos afastados dessas situações.52 De acordo com Lautert, Chaves e Moura, no seu estudo investigativo realizado com uma amostra de 207 enfermeiros, em um hospital universitário na cidade de Porto Alegre, RS, a fim de identificar as fontes geradoras de estresse na atividade gerencial do enfermeiro, que trabalha no hospital e as principais alterações que isso pode acarretar sobre a saúde desse profissional, a conclusão foi a de que o estresse nessa atividade está relacionado a diferentes variáveis, tanto da situação como do próprio indivíduo. Um ponto importante a destacar é que o estresse desencadeado pela atividade gerencial causa alterações em sua saúde, principalmente imunológicas, músculo-articulares, cardiovasculares e gastrintestinais, assim como as situações críticas causam cinco vezes mais estresse nessa atividade. Atribuir ao estresse um papel mais definido na gênese da hiperatividade simpática associada à hipertensão arterial está na observação de existirem, num mesmo indivíduo, outros fatores de risco associados (dieta, nível econômico, sedentarismo e hábitos sociais).52 23 6.8 TABAGISMO O tabagismo é um importante fator de risco para HAS porque se associa a maior incidência de mortalidade por DAC, AVC, doença vascular periférica (DVP), favorecendo o aumento da PA.53 No organismo humano, o monóxido de carbono concorre com o oxigênio isso significa menor oxigenação do sangue, células e tecidos e, consequentemente, maior oxidação no organismo. Aos poucos, essa condição metabólica acelera o envelhecimento do endotélio, que é a camada de células que formam a parede de vasos e artérias do corpo humano. Em um processo em cascata, surgem inflamações e obstruções dessas vias de passagem do sangue no organismo, que, nessa condição, não conseguem alimentar de oxigênio e nutrientes as células, tecidos e órgãos do corpo humano. Esse processo de envelhecimento acelerado dos vasos é conhecido como aterosclerose e sua evolução leva à ocorrência de infarto do miocárdio e de acidente vascular cerebral, além de trombose em membros diversos.53 Em relação ao uso de fumo, diversos estudos na literatura têm falhado em mostrar associações consistentes entre o hábito de fumar e a prevalência de hipertensão arterial, quando se controlam variáveis de confusão como a obesidade, a idade e o sexo. Sabe-se, contudo, que os fumantes têm maior chance de evoluir para formas malignas da doença e, também, de morrerem mais frequentemente de morte súbita cardíaca e por doença coronária.2 24 6.9 FATORES SOCIOECONÔMICOS A influência do nível socioeconômico na ocorrência da HAS é complexa e difícil de ser estabelecida.5 No Brasil a HAS foi mais prevalente entre indivíduos com menor escolaridade.13 Conforme o estudo “Desigualdades Sócio-espaciais na Mortalidade do Adulto no Município de São Paulo”,54 foram utilizados dados desses moradores. O estudo demonstrou que o nível sócio-econômico mais baixo estava associado à maior prevalência de HAS. Também, são fatores associados possíveis: hábitos dietéticos, incluindo consumo de sal e ingestão de álcool em altas doses, IMC, estresse psicossociais, menor acesso aos cuidados de saúde e nível educacional.5 Adicionado a esses aspectos, a população torna-se mais vulnerável aos problemas de saúde pela dificuldade de adquirir a medicação em virtude do nível socioeconômico, aumentando os custos dos sistemas de atenção primária.48 6.10 HEREDITARIEDADE O caráter hereditário aparece em 74% dos sujeitos dos fatores envolvidos na fisiopatogênese da hipertensão arterial, um terço deles pode ser atribuído a fatores genéticos. Citam como exemplo o sistema regulador da pressão arterial e sensibilidade ao sal. Os autores55 deixam claro que a hipertensão arterial pode ser entendida como uma síndrome multifatorial, de patogênese pouco elucidada, na qual interações complexas entre fatores genéticos e ambientais causam elevação sustentada da pressão. Em aproximadamente 90% a 95% dos casos não existe etiologia conhecida ou cura, sendo o controle da pressão arterial obtido por mudanças do estilo de vida e tratamento farmacológico.56 25 7 QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA À HIPERTENSÃO Um grande problema encontrado nos estudos que avaliam a QV dos pacientes hipertensos são as características desses estudos. O formato de esses estudos clínicos objetiva minimizar os efeitos adversos dos medicamentos no controle da PA e seu impacto na QV desses pacientes.56 No entanto, pouco conhecimento é obtido sobre outros fatores que podem contribuir para melhorar a QV dos pacientes com hipertensão arterial. O termo e o conceito de QV surgiram com o crescimento e o desenvolvimento econômico, ocorridos após a Segunda Guerra Mundial, embora alguns estudos apontem indícios do termo na década de 30. No Brasil, esse conceito começou a ser aplicado a partir de 1970, primeiramente circunscrito às práticas dos serviços de saúde e, com o advento da Constituição de 1988 e com a consequente criação do SUS, o foco da QV passou a se dirigir para os pacientes, principalmente os usuários do SUS.56 Não existe uma definição consensual sobre QV, mas os pesquisadores parecem concordar que a qualidade de vida é um conceito dinâmico, amplo, subjetivo e polissêmico. Apesar de não haver uma única definição, a OMS define qualidade de vida como a “percepção do indivíduo de sua proteção na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.5 Nessa definição, a OMS toma como base uma natureza multifatorial da qualidade de vida, considerando seis domínios que objetivam demonstrar as diferentes dimensões do ser humano na determinação dos níveis de qualidade de vida da cada indivíduo. Domínios esses categorizados em saúde física, 26 saúde psicológica, nível de independência, relações sociais, meio ambiente e padrão espiritual.56,57 Estudos demonstram interesse crescente pela avaliação da QV, acreditando que as informações acerca do tema servem de indicadores para avaliar a eficácia, a eficiência e o impacto de determinados tratamentos para grupos de portadores de agravos; comparar os procedimentos; avaliar os custos e os benefícios dos serviços prestados; aprovar e definir tratamentos; definir estratégias na área de saúde; e monitorar a manutenção da qualidade de vida dos pacientes.58 Dessa forma, o interesse crescente pelo constructo qualidade de vida tem aumentado. Em consequência, observa-se também um crescimento no número de instrumentos para mensurá-lo. Os instrumentos utilizados são os questionários de QV, que compreendem dois grupos: genéricos e específicos. Os questionários genéricos objetivam avaliar, de forma geral e global, aspectos relacionados com a QV. Os questionários específicos objetivam avaliar alguns aspectos particulares da QV. Como exemplo, temos o King's health questionnare aplicado em portadores de incontinência urinária.57 Consonante com o que acontece no mundo, no Brasil, a literatura acerca da temática QV tem aumentado nos últimos anos, sobretudo pelo estímulo à realização de pesquisas sobre o tema, pelo advento das traduções e validações dos instrumentos de QV para a língua portuguesa. Diante desse fato, ressalta-se a relevância do tema, visto que o interesse pelo conceito de QV é relativamente recente e decorrente, em parte, de novos paradigmas, que objetivam o alcance de uma melhor QV, passando essa a ser um resultado esperado das condutas de promoção e proteção em saúde.56,57 Segundo Williams, qualidade de vida relacionada à saúde é o valor atribuído à duração da vida quando modificada pela percepção de limitações físicas, psicológicas, 27 funções sociais e oportunidades que implicam a relação harmoniosa dos vários fatores do cotidiano do ser humano. Abrange fatores de natureza biológica, psicológica e sociocultural, tais como estilo de vida, saúde física, saúde mental, longevidade, satisfação no trabalho, relações familiares, disposição, produtividade, dignidade e até mesmo espiritualidade.57 A redução da qualidade de vida dos pacientes hipertensos pode ser comparada a de pacientes com doenças crônicas, como a diabetes, depressão, ansiedade ou problemas emocionais.58 Estudos demonstram que indivíduos hipertensos sintomáticos apresentam pior qualidade de vida quando comparados aos assintomáticos.59 A justificativa de pior qualidade de vida desses indivíduos pode estar relacionada ao fato de se sentirem doentes, de tomarem medicamentos que tendem a causar reações adversas, do estresse de ter que fazer dieta, exercícios e privar-se de determinadas vontades, além de possíveis complicações, tais como acidente vascular cerebral ou infarto.56,60 Em indivíduos que não tem ciência de serem hipertensos, a qualidade de vida tende a ser melhor, podendo estar associada ao fato de os indivíduos não se sentirem doentes, não se preocuparem com mudanças no estilo de vida ou com as possíveis reações adversas aos medicamentos. Os indivíduos assintomáticos, geralmente não controlam os níveis tensionais, por não terem ciência da doença, aumentando assim o risco de morte ou de desenvolver doenças cardiovasculares.59,61 Um estudo avaliando a QV em 8.303 americanos identificou que a hipertensão aumentava o risco em 73% de apresentar saúde pobre ou razoável versus indivíduos sem hipertensão.59 Ter hipertensão e estar ciente dela estava associado a menor qualidade de vida, assim como o uso de medicamentos anti-hipertensivos apresentou relação direta com o número de dias não saudáveis, independentemente dos níveis 28 pressóricos. Pelo fato da HAS ser doença assintomática, pode ser vista como curável ou sem gravidade, o que interfere no segmento do tratamento e controle da hipertensão arterial.58 Paralelamente à redução dos níveis pressóricos, os medicamentos anti-hipertensivos podem produzir efeitos adversos que interferem na QV e na percepção geral das condições de saúde.59 29 8 INSTRUMENTO QUALIDADE DE VIDA O questionário de Bulpitt e Fletcher (1990)62 é o primeiro instrumento de QV específico para hipertensos, no Brasil, que passou por todo o processo de tradução e adaptação transcultural proposto pela literatura. Dessa maneira, tendo sido comprovado sua validade no tratamento anti-hipertensivo, está apto a ser utilizado na investigação e prática clínica. O instrumento foi idealizado para ser utilizado em estudos com até um ano de duração, pois, por objetivar somente avaliar o impacto da hipertensão, doença assintomática, detecta apenas alterações psicológicas em decorrência do diagnóstico, no humor e efeitos adversos do tratamento em pacientes hipertensos em tratamento ambulatorial.62 30 9 ATUAÇÃO DO GRUPO MULTIPROFISSIONAL – MULTIHAS A equipe multiprofissional pode ser constituída por todos os profissionais que lidam com pacientes hipertensos: médicos, enfermeiros, nutricionistas, educadores físicos, fisioterapeutas, farmacêuticos, psicólogos, assistentes sociais, musicoterapeutas, funcionários administrativos e agentes comunitários de saúde. Como a HAS é uma síndrome clínica multifatorial, a contribuição da equipe multiprofissional é desejável sempre que possível. Abordagem multidisciplinar: grau de recomendação I e nível de evidência A. Segundo as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão,5 recomenda-se para o atendimento ao paciente hipertenso que a equipe multiprofissional seja composta por: 9.1 ATENDIMENTO MÉDICO 9.1.1 Avaliação clínica O clínico avalia o paciente e investiga através da história clínica, os dados referentes ao tempo e tratamento prévio de hipertensão, fatores de risco, indícios de hipertensão secundária e de lesões de órgãos-alvo, e ao consumo pregresso ou atual de medicamentos ou drogas que podem interferir em seu tratamento (anti-inflamatórios, anorexígenos, descongestionantes nasais, etc.). O exame físico deve ser minucioso, buscando sinais sugestivos de lesões de órgãos-alvo e de hipertensão secundaria. O exame de fundo de olho deve ser sempre feito ou solicitado na primeira avaliação, em especial em pacientes com HAS estágio 3, que apresentam diabetes ou lesão em órgãos-alvo (Classe IIa, Nivel C). Para a tomada da decisão terapêutica é necessária a 31 estratificação do risco cardiovascular global que leva em conta, além dos valores de PA, a presença de fatores de risco adicionais, de lesões em órgãos-alvo e de doenças cardiovasculares. Além dos fatores clássicos de risco cardiovascular expostos no Quadro I, novos fatores de risco cardiovascular vêm sendo identificados, e ainda que não tenham sido incorporados em escores clínicos de estratificação de risco (Framingham,30 Score31) têm sido sugeridos como marcadores de risco adicional em diferentes diretrizes: glicemia de jejum (100 a 125 mg/dL) e hemoglobina glicada anormal,32 obesidade abdominal (circunferência da cintura > 102 cm para homens e > 88 cm para mulheres), pressão de pulso > 65 mmHg (em idosos),25 história de préeclampsia na gestação33, história familiar de hipertensão arterial (em hipertensos limítrofes. O paciente é examinado pelo médico que após avaliação clínica solicita exames laboratoriais para determinar o diagnóstico. Quadro 1 – Avaliação clinica Colesterol total, Triglicerídeos, Glicemia, Creatinina, Potássio Exame de urina (bioquímica e sedimento), Hemograma, Eletrocardiograma de repouso. Raio X Coração e Vasos da Base (RX CVB) Fonte: elaboração da autora Exames complementares: conforme a indicação clínica, poderemos fazer uma avaliação laboratorial complementar do paciente hipertenso de ambos os grupos (os 32 pacientes com lesão de órgão alvo ou hipertensão secundária deverão ser investigados por meio de métodos específicos). 9.2 ATENDIMENTO DE ENFERMAGEM O enfermeiro avaliava os aspectos socioeconômicos, características do estilo de vida do paciente e devia instruí-lo sobre a importância da adesão. Faz parte das orientações aspectos dos efeitos colaterais das drogas além dos fatores de risco responsáveis pelo aumento da PA. A partir do conhecimento dessas informações, os pacientes ficarão atentos quanto aos efeitos colaterais das drogas, motivo do abandono ao tratamento, possibilitando a substituição das mesmas quando possível. O instrumento de QV, que é um instrumento de avaliação da qualidade de vida com 46 questões para hipertensos de Bulpitt e Fletcher (1990)62 era em seguimento aplicado pelo enfermeiro. Os domínios avaliados no instrumento foram: aspectos sociais, capacidade funcional, estado geral de saúde, aspectos físicos, saúde mental, aspectos emocionais e vitalidade. 9.2.1 Medida da PA A medida precisa da pressão arterial é de grande importância na pesquisa da hipertensão. A técnica de medida de PA deve ser realizada por enfermeira treinada através de método indireto, com aparelho eletrônico (Omron HEM-705)*, ou aparelho * BHS – The British Hypertension Society – é um órgão do Reino Unido responsável por produzir diretrizes de renome internacional para a gestão de hipertensão que são amplamente adotada na atenção primária e encarregado da validação ativa de novos dispositivos para a medição da pressão arterial (Fonte: British Hypertension Society British Hypertension Society; Disponível em http://www.bhsoc.org/). AAMI – Association for the Advancement of Medical Instrumentation – é a principal fonte de informação essencial sobre os dispositivos médicos e equipamentos desde 1967. 33 adequadamente calibrado conforme normas do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO).63 Os pacientes devem permanecer em ambiente calmo por pelo menos 5 minutos sentados, com os pés no solo e o braço direito suportado ao nível do coração (posição ortostática também nos indivíduos idosos, diabéticos, alcoólatras, portadores de disautonomia e/ou em uso de medicação antihipertensiva). Segundo as guias clínicas e diretrizes de hipertensão, o braço deve estar sempre na altura do coração e a bolsa de borracha deve ser apropriada para o tamanho do braço do paciente, pois uma bolsa muito larga pode superestimar o valor da PA e uma bolsa muito curta pode subestimar esse valor. A largura da bolsa de borracha do manguito deve corresponder a 40% da circunferência do braço, e seu comprimento pelo menos 80%, encontra-se o que é preconizado pela Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) em relação ao tamanho da bolsa de borracha. As pressões são definidas conforme a VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão5 e dividem a Hipertensão em duas etapas: sentado lado direito e lado esquerdo, em pé lado direito e esquerdo a partir de PA> 140/90 mmHg. PAS entre 140-159 e PAD entre 90 e 99 mmHg, conforme a VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão.5 Para a confirmação diagnóstica, deverão ser realizadas no mínimo três medidas da pressão arterial em cada consulta, com intervalo de 1-2 minutos entre elas e nas mesmas condições descritas acima. Havendo diferenças superiores a 6 mmHg entre elas, recomenda-se que sejam realizadas novas aferições, até serem obtidas medidas com diferença inferior a 4 mmHg. Serão utilizadas as médias de duas consultas para a obtenção da pressão arterial classificatória. Nos casos de hipertensão Fornece programas que reforçam a capacidade dos profissionais, instituições de saúde, desenvolve, administra o uso de instrumentos médicos e tecnologias relacionadas (Fonte: Association for the Advancement of Medical Instrumentation – AAMI. Standards and Recomended Practices. Arlington, Biomedical Equipment, vol. 2, 1993). 34 grave ou evidência de dano em órgão alvo serão utilizadas as medidas da primeira consulta para obtenção da pressão classificatória, sempre seguindo as normas da última diretriz. As medidas serão ajustadas para a circunferência braquial de acordo com a tabela de Maxwell.64 Tabela 2 – Classificação da Pressão Arterial CATEGORIA SISTÓLICA, mmHg DIASTÓLICA, mmHg Ótima ou ideal < 120 < 80 Normal < 130 < 85 130 – 139 85 – 89 Estágio 1 140 – 159 90 – 99 Estágio 2 160 – 179 100 – 109 Estágio 3 ≥ 180 N ≥ 110 Normal limítrofe HIPERTENSÃO Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2010.5 9.3 ATENDIMENTO FISIOTERAPÊUTICO Ensaios clínicos controlados demonstraram que os exercícios aeróbios, em conjunto com resistidos, promovem reduções de PA. Para manter uma boa saúde cardiovascular e qualidade de vida, todo adulto deve realizar, pelo menos cinco vezes por semana, 30 minutos de atividade física moderada de forma contínua ou acumulada, desde que em condições de realizá-la.65,66 O exercício físico (EF) é uma atividade física planejada, estruturada e repetitiva, que tem como objetivo final ou intermediário aumentar ou manter a saúde e 35 a aptidão física. Este pode propiciar benefícios como a redução da pressão arterial (PA) pós-exercício em relação aos níveis pré-exercícios agudos e crônicos.67,68 Indivíduos sedentários apresentam risco aproximado 30% maior de desenvolver hipertensão que os ativos.69 Desta forma a intensidade do exercício físico deveria ser controlado pelo teste ergométrico. Na falta do teste pode ser controlada objetivamente pela ventilação, ou utilizar a fórmula FC máxima = 220 - idade, exceto em indivíduos em uso de betabloqueadores e/ou inibidores de canais de cálcio não-diidropiridínicos. Segundo as VI Diretrizes recomenda-se: Sugestão da intensidade de exercícios isotônicos segundo a frequência cardíaca: a) atividades leves: mantém-se com até 70% da FC máxima ou de pico, recomendando-se a faixa entre 60% e 70%, quando se objetiva o treinamento efetivo eminentemente aeróbio; b) atividades moderadas: mantém-se entre 70% e 80% da FC máxima ou de pico, sendo considerada a faixa ideal para o treinamento que visa a prevenção e o tratamento da hipertensão arterial; c) atividades vigorosas: mantém-se acima de 80% da FC máxima ou de pico, propondo-se a faixa entre 80% e 90% quando se objetiva o treinamento com expressivo componente aeróbio, desenvolvido já com considerável participação do metabolismo anaeróbio.5 9.4 ATENDIMENTO PSICOLÓGICO O papel do psicólogo é imprescindível quando há o objetivo da adesão ao tratamento. Vários fatores têm sido responsáveis pelo desencadeamento: 36 psicossociais, econômicos, educacionais, ansiedade e o estresse emocional. Esses fatores participam do desencadeamento e manutenção da HAS e podem funcionar como barreiras para a adesão ao tratamento e mudança de hábitos. Diferentes técnicas de controle do estresse podem ser capazes de reduzir discretamente a PA de hipertensos.58 9.5 ATENDIMENTO NUTRICIONAL Marcadores de risco adicional em diferentes diretrizes como obesidade abdominal (circunferência da cintura > 102 cm para homens e > 88 cm para mulheres) devem ser investigadas.70 Assim, as metas antropométricas a serem alcançadas são o IMC menor que 25 kg/m2. Manter o IMC abaixo de 25 kg/m2 preveniu em 40% o desenvolvimento de HAS em mulheres, em um estudo com seguimento médio de 14 anos.71 A relação entre os aumentos de peso e da pressão arterial é quase linear, sendo observada em adultos e adolescentes. Perdas de peso e da circunferência abdominal correlacionam-se com reduções da PA e melhora de alterações metabólicas associadas.72,73 O sucesso do tratamento depende fundamentalmente de mudança comportamental e da adesão a um plano alimentar saudável. O acompanhamento dos indivíduos após o emagrecimento deve ser estimulado com o objetivo de evitar o reganho de peso. A cirurgia bariátrica é considerada o tratamento efetivo para obesidade moderada a grave.5 Em pacientes com obesidade grave, a cirurgia bariátrica reduz a mortalidade. 37 O padrão dietético DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension)62, rico em frutas, hortaliças, fibras, minerais e laticínios com baixos teores de gordura, tem importante impacto na redução da PA. Um alto grau de adesão a esse tipo de dieta reduziu em 14% o desenvolvimento de hipertensão. Os benefícios sobre a PA têm sido associados ao alto consumo de potássio, magnésio e cálcio nesse padrão nutricional. A dieta DASH potencializa ainda o efeito de orientações nutricionais para emagrecimento, reduzindo também biomarcadores de risco cardiovascular. Dieta DASH: grau de recomendação I e nível de evidência A. A dieta do Mediterrâneo associa-se também à redução da PA. O alto consumo de frutas e hortaliças revelou ser inversamente proporcional aos níveis de PA, mesmo com um mais alto percentual de gordura. A substituição do excesso de carboidratos nessa dieta por gordura insaturada induz à mais significativa redução da PA. Dietas vegetarianas são inversamente associadas com a incidência de doenças cardiovasculares. Isso se explica em razão de fornecerem menor quantidade de nutrientes, como gordura saturada e colesterol. Entretanto, essas dietas são deficientes em micronutrientes como ferro, vitamina B12 e cálcio, sendo necessária a suplementação para atender às recomendações vigentes. As deficiências de micronutrientes, muitas vezes observadas em lacto-vegetarianos, têm sido identificadas como fatores predisponentes à HAS em adultos seguidores desse estilo alimentar. Fato relevante é a observação de que os vegetarianos apresentam, em geral, menor IMC, fato que, independentemente do tipo de dieta, associa-se a menor PA.70 38 10 HIPÓTESE A abordagem multiprofissional do tratamento da HAS promove maior adesão dos pacientes ao tratamento anti-hipertensivo, tendo como consequência a melhoria e o controle da pressão arterial e da qualidade de vida. 39 11 OBJETIVOS 11.1 OBJETIVO GERAL Avaliar a efetividade do atendimento multiprofissional, considerando a redução da pressão arterial como desfecho desejado dos pacientes hipertensos atendidos no ambulatório SUS do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul. 11.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) comparar o resultado dos valores da pressão arterial dos pacientes hipertensos atendidos no grupo MULTIHAS e no grupo controle na primeira consulta e após um ano de atendimento; b) verificar se há modificação nos fatores de risco a partir das intervenções da equipe MULTIHAS, nos dois grupos de pacientes. 40 REFERÊNCIAS 1. 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O atendimento GM efetuado a cada dois meses por todos os profissionais (medico, enfermeiro, nutricionista, fisioterapeuta e psicólogo), consistia de orientações e intervenções à adesão medicamentosa e não medicamentosa (mudanças estilo de vida). O atendimento GC efetuado pelo médico e enfermeiro consistia da adequação da posologia. As avaliações consistiam: de análise da bioquímica do sangue, de medidas de PA, do índice de massa corporal (IMC), do escore Qualidade de Vida (QV), do escore Short Form Health Survey (SF-36),dos inventários estresse e ansiedade (ISSL e Beck - BAI). Resultados: No GC, no basal e após um ano de acompanhamento a PA foi: 163,8±32,9 / 96,6±22,4 e 162,6±30,9/ 95,0±19,0. No GM, a PA foi de 168,4±30,5 / 96,1±17,9 e 151,2±32,7 / 88,3±20,7 (p=0,02 e 0,01). A QV melhorou nos dois grupos após um ano; o estresse reduziu em 27,9% (p=0,03) no GM. O escore do SF-36( prática da atividade física), melhorou de 45,0±39,2 para 60,2±44,8 (p=0,01) e a sensibilidade à dor: de 48,5±27,3 para 63,7±34,3 (p=0,01). O IMC reduziu no GM e aumentou no GC, sem significância estatística. Conclusão: O atendimento da equipe multidisciplinar participa na redução da PA e fatores de risco no tratamento da hipertensão. 52 ABSTRACT Background: Multidisciplinary team approaches to manage hypertensive patients have showed benefits in reducing blood pressure (BP) and risk factors for hypertension. Objective: To compare values of BP and other variables in patients undergoing two types treatment: Multidisciplinary Group(MG) and Conventional Group (CG). Method: randomized clinical trial, in Hypertension ambulatory ICFUC; MG assistance was effected every two months by all professionals(physician, nurse, dietitian, physiotherapist and psychologist) and consisted about orientations and mechanisms to medication and non-pharmacological adherence (lifestyle chances). Assistance of GC was effected by physician and nurse and consisted about adapting to the drug. Evaluated analysis of blood biochemistry, of BP measurements, body mass index(BMI), score Quality of Life(QOL), score Short Form Health Survey(SF 36), inventory of stress and anxiety( ISSL and Bech-BAI). Results: On CG the baseline and after one year follow up the BP was 163.8 ± 32.9 / 96.6 ± 22.4 and 162.6 ± 30.9 / 95.0 ± 19.0. On the MG the BP was 168.4 ± 30.5 / 96.1 ± 17.9 and 151.2 ± 32.7 / 88.3 ± 20.7 (p = 0.02 and 0.01). QOL improved in both groups after one year; stress decreased by 27.9% (p = 0.03) in MG. Score of SF 36( physical activity) improved from 45.0 ± 39.2 to 60.2 ± 44.8 (p = 0.01) and pain sensitivity: 48.5 ± 27.3 to 63.7 ± 34.3 (p = 0.01). BMI decreased on MG and increased in the CG, without statistical significance . Conclusion: The multidisciplinary team assistance participates in BP reduction and risk factors in treatment of hypertension. 53 INTRODUÇÃO A hipertensão arterial sistemica (HAS) é a terceira causa de morte no mundo afetando cerca de um bilhão de pessoas1,2, o que justifica um maior esforço ao controle dos níveis pressóricos, modificação de estilo de vida e adesão ao tratamento3. Dados do National Health and Nutriton Examination Survey indicam que mais de 70 milhões de americanos tem PA elevada justificando o tratamento medicamentoso e/ou não medicamentoso. Dentre os hipertensos, 22% desconhecem sua hipertensão, 32% não se tratam e apenas 64% dos tratados têm a PA controlada4. Este número é assustador e demonstra a ineficiência dos programas atualmente utilizados tanto para prevenir quanto para combater a HAS, reforçando a necessidade de buscar um novo modelo de atendimento que contemple o indivíduo como um todo. Dados da literatura referem que a HAS é uma doença multifatorial e que a redução dos valores de pressão arterial reduz significativamente o risco de complicações cardiovasculares e acidente vascular encefálico (AVE)5. Em torno de 69% dos pacientes infartados, 77% dos que sofreram acidente vascular encefálico e 74% dos que desenvolveram insuficiência cardíaca congestiva apresentavam valores da PA>140/90 mm Hg6. As atuais taxas de controle da hipertensão são inaceitáveis. Sabe-se que o grande obstáculo para o controle da PA é a não adesão ao tratamento não medicamentoso e medicamentoso cujas maiores dificuldades estão relacionadas ao desconhecimento da doença, ausência de sintomas, dificuldades de acesso aos medicamentos e aqueles relacionados a reações adversas e a interação medicamentosa7,8. Mudanças no estilo de vida das populações para redução da PA, devem ser incentivadas. Especial atenção deve ser dada à redução do tabagismo, do consumo de 54 álcool, do peso corporal e regularidade na prática de exercícios físicos, do consumo de sal, e ingesta de frutas e vegetais. Em pacientes hipertensos, essas medidas devem ser adotadas em associação ao tratamento medicamentos, fundamental para o sucesso na redução da PA e suas complicações9,10. A abordagem multidisciplinar é uma ferramenta importante para o controle da hipertensão, pois possibilita aos profissionais da saúde ações continuadas voltadas à adesão ao tratamento e também a mudanças de estilo de vida11. Desta forma, o objetivo principal deste estudo foi comparar o controle da pressão arterial do grupo tratado com abordagem multidisciplinar com aquele grupo tratado de forma convencional. Os objetivos secundários foram comparar entre estes dois grupos qualidade de vida, atividade física, medida de estresse, índice de massa corporal (IMC), colesterol, HDL colesterol, glicemia e triglicerídeos. MÉTODOS Desenho do Estudo Trata-se de um ensaio clínico randomizado, realizado no Ambulatório de hipertensão do IC/FUC. Os pacientes considerados elegíveis foram incluídos no estudo e randomizados através do programa randomizaded.com12 no qual eram classificados em grupo Multidisciplinar (GM) e grupo Controle (GC). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do IC/FUC sob o nº 3927/06, e todos os pacientes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). 55 Participantes Foram incluídos pacientes hipertensos atendidos no Ambulatório do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, RS, Brasil, com idade igual ou maior a 18 anos. Os critérios de exclusão consistiram-se de pacientes que apresentassem hipertensão secundária comprovada, como hipertensão renovascular, ou aldosteronismo secundário, pacientes hipertensos com cardiopatia congênita, cirúrgicos e com infarto agudo do miocárdio (IAM) comprovado. Intervenções Grupo Intervenção Ao grupo intervenção foi prestado assistência multidisciplinar composta pelo medico, enfermeira, nutricionista, psicólogo e fisioterapeuta através de protocolos validados. As consultas eram agendadas a cada 2 meses, e todos os profissionais da equipe multidisciplinar avaliavam e reforçavam suas orientações iniciais na busca da adesão individualizada. Após um ano de atendimento os protocolos eram reaplicados. Grupo Controle Os pacientes eram avaliados pela equipe multidisciplinar por meio de protocolos na primeira consulta e após um ano. Nas consultas subsequentes, a cada dois meses, pelo médico e enfermeiro. 56 Desfechos Avaliados Pressão arterial As medidas da PA eram efetuadas pelo enfermeiro seguindo rigorosamente as normas das VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão1. Foi considerado hipertenso todo o paciente que apresentasse consecutivamente valores de sistólica ≥ 140 e diastólica ≥90 mmHg. Qualidade de vida O instrumento de QV, específico para hipertensos Bulpitt e Fletcher13, no Brasil, passou pelo processo de tradução e adaptação transcultural proposto pela literatura. Os domínios avaliados no instrumento foram: Aspectos Sociais, Capacidade Funcional, Estado Geral de Saúde, Aspectos Físicos, Saúde Mental, Aspectos Emocionais e Vitalidade . A normalidade do escore foi considerada quando o valor atingisse ≥ 7. Atividade física Os pacientes foram monitorizados durante a realização do teste do degrau, mediante as variáveis: freqüencia cardíaca, pressão arterial, saturação de oxigênio, índice de percepção do esforço (Escala de Borg)14. A adesão dos pacientes à atividade física foi avaliada por meio de uma ficha de controle dos exercícios, no qual os dias e horário dos exercícios foram anotados. Foi considerado atividade física satisfatória quando o paciente atingisse 150 min/semana. 57 Índice de massa corporal (IMC) O IMC15 era calculado a partir da fórmula: peso corporal (Kg) dividido pela altura (em metros) ao quadrado conforme classificação: normal 18,5-24,9. Sobrepeso ≥25 a 29,9 e obesidade ≥30,00 Medida de estresse Os pacientes eram avaliados através do escore de Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)16 e conforme a classificação. Colesterol, HDL colesterol, glicemia e triglicerídeos Os exames bioquímicos solicitados eram: colesterol total, triglicerídeos, glicemia, creatinina, potássio, hemograma, exame de urina (bioquímica e sedimento), eletrocardiograma de repouso, Rx CVB (rx de coração e vasos de base). Os pacientes com suspeita de hipertensão secundária eram encaminhados para investigação através de métodos específicos, e excluídos do projeto se hipertensão secundária fosse confirmada Amostra Foram selecionados 120 pacientes com hipertensão arterial. Destes, 60 pacientes tratados com profissionais de diversas especialidades - médico, enfermeiro, psicólogo, nutricionista e fisioterapeuta- ao qual chamamos de grupo multihas e 60 pacientes tratados pelo médico e enfermeiro chamado grupo convencional. Para o estudo foi considerado a diferença de 5 mm/Hg no nível de pressão arterial sistólica entre a pressão verificada na primeira consulta e após 01 ano em 58 tratamento, independente do grupo, com nível de significância de 0,05 e poder estatístico de 80%. Randomização Os pacientes eram encaminhados pela unidade básica de saúde ao ambulatório de hipertensão. Os considerados elegíveis, eram randomizados pelo programa randomizaded.com12 por uma assistente de pesquisa e classificados, segundo a ordem de sorteio, em multihas ou controle Análise estatística As variáveis contínuas foram descritas como média e desvio-padrão, e as variáveis categóricas em valor absoluto e percentuais. Em relação aos testes estatísticos para as variáveis contínuas, foram utilizados o teste t de Student e para análise das variáveis categoriais, foi empregado o teste qui-quadrado ou o teste exato de Fisher .Para comparar as variáveis de interesse pós intervenção utilizou-se análise de variância com medidas repetidas seguido do teste de comparações múltiplas com correção de Bonferrroni. O nível de significância foi de 5% p < 0,05). RESULTADOS Participantes do estudo e características da amostra Do período de 2008 à 2011, 146 pacientes hipertensos com idade ≥ 18 anos foram atendidos no ambulatório de HAS conforme fluxograma demonstrado na Figura 1. Após a randomização, 22 pacientes foram excluídos por razões expressas na Figura 2. O numero total de pacientes randomizados foi de 124 (63 do GM e 61 do GC) equivalendo a população com ITT. 59 Na tabela 1 podemos ver descritas as características clinicas dos dois grupos de pacientes: os que foram submetidos ao tratamento convencional e aqueles submetidos a tratamento multidisciplinar. Percebemos que os grupos se assemelham quanto aos resultados dos testes e exames aos quais foram submetidos. A maior parte dos pacientes era do sexo feminino, e com idade superior a 50 anos. A raça predominante foi a raça branca (75,8%), e 68,9% eram casados. Quanto a atividade laboral, 40 % mantinham-se em atividade formal e quanto à escolaridade, 61,5% possuíam entre 5 a11 anos de estudo. Do total apenas 124 pacientes foram avaliados na primeira consulta e após um ano 104 pacientes completaram o estudo. O grupo controle totalizou 61 pacientes sendo que destes 8 abandonaram após 1ª consulta e 8 não completaram um ano de tratamento. O número total de pacientes foi de 45 pacientes O grupo Mullti (intervenção) totalizou 63 pacientes sendo que 1 faleceu, 1 abandonou o estudo após a 1ª consulta e 2 desistiram ao longo do estudo, totalizando 59 pacientes. Sendo assim na análise por intenção de tratar (ITT), a proporção de pacientes no GM foi maior do que no GC (98,4% e 86,7% respectivamente). Considerando a redução dos valores da PA dos pacientes no GM e GC observamos uma redução significativa entre os que receberam assistência multiprofissional comparado ao controle com p= 0,001. Na tabela 2 estão descritas as características clinicas dos dois grupos de pacientes após um ano de tratamento. Na comparação entre os grupos GM e GC houve diferença nos valores da PAS (p=0,02) e PAD (p=0,01), redução do estresse (p=0,04) e a atividade física foi intensificada (p=0,01 ). 60 Nas análises intra-grupos, os valores da PAS e PAD no GM reduziu significativamente com p=0,001 e p=0,001respectivamente.No GC os valores da PAS e PAD apresentaram, após um ano de acompanhamento, p=0,081 e p=0,56 demonstrado nas figuras 2 e 3. DISCUSSÃO A abordagem multidisciplinar mostrou em nosso estudo um controle mais adequado dos níveis da pressão arterial em relação ao grupo controle (Figuras 2 e 3). Sendo assim a abordagem multidisciplinar, cujas intervenções foram de adesão farmacológica e não farmacológica, nos levou a empreender ações continuas e conjuntas na busca da melhor intervenção. Na tabela 1 observamos que os grupos eram homogêneos quanto às características clinicas e que a maior prevalência é representado pelo sexo feminino perfazendo um total de 65% da amostra. Estes dados se assemelham a outros estudos, no qual as mulheres buscam de uma forma mais frequente, ações de saúde, para solução das suas dificuldades e ou sintomas. Nestes estudos a prevalência de mulheres representaram 65,46%17-19. Na mesma tabela observa-se ainda que os fatores de risco responsáveis pela hipertensão (IMC, perfil lipídico, glicemia, estresse, sedentarismo), estavam alterados nos dois grupos. Os escores de QV no início do estudo, se encontravam com valores de escore em torno de 6,0 sendo que após um ano os níveis do escore nos dois grupos aumentou em um ponto, sem apresentar no entanto um salto de qualidade de vida relacionada à saúde. Metanálise recente teve como objetivo relacionar a QV em normotensos e hipertensos mostrou um menor escore entre os hipertensos na análise 61 de todos os oito domínios do SF 36 caracterizando os valores da pressão arterial como fator decisivo e influente no baixo escore encontrado entre os hipertensos20. Na análise da atividade física, no GM, observamos que sua prevalência passou de 40 % para 60 % ao final de um ano. Entre os pacientes integrantes do GC, a atividade física de 41 % reduziu para 30%. A atividade física, cujo fator de risco é modificável, mostra-se extremamente benéfico à população, quando executada regularmente. Estudos apontam que a atividade física reduz a incidência de HAS, mesmo em indivíduos pré-hipertensos, bem como a mortalidade e o risco de doença cardiovascular21. Embora os mecanismos responsáveis ainda não estejam totalmente definidos, acredita-se que a redução das catecolaminas séricas e da resistência vascular periférica (RVP) associadas à prática de atividade física sejam alguns dos fatores contribuintes para a redução da PA22. A prática regular de exercício físico moderado provoca adaptações autonômicas e hemodinâmicas que melhoram o funcionamento do sistema cardiovascular. Além disso, apresenta implicações clínicas importantes, uma vez que pode prevenir ou até mesmo tratar a HAS23. A partir das intervenções realizadas verificou-se um benefício direto no grupo que recebeu assistência multidisciplinar com orientações da fisioterapia, mostrando uma diferença significativa entre o grupo controle e o que recebeu orientações em todas as consultas. Percebe-se que ao final do estudo houve uma pequena redução do IMC entre os pacientes do GM e um aumento no GC. Segundo a OMS, a obesidade é definida como um dos maiores problemas nutricionais de maior ascensão entre a população, observado nos últimos anos. É também considerada uma epidemia mundial, presente tanto em países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento. Dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia apontam que 80% da população adulta é sedentária e que 52% dos adultos brasileiros estão acima do peso, sendo 11% obesos, 62 o que explica o aumento da morbidade e mortalidade, já que a obesidade é fator de risco para várias doenças crônicas não transmissíveis24. Schaan e col demonstraram, de forma semelhante ao nosso estudo, uma redução do IMC (p=0,007) entre pacientes infartados randomizados submetidos ao tratamento transdisciplinar comparados a pacientes do grupo controle25. Um outro aspecto de grande relevância foi o grau de estresse encontrado nesta amostra. Diferentes técnicas de controle do estresse, podem ser capazes de reduzir discretamente a PA de hipertensos26,27. Observa-se que após um ano houve uma queda no nível de estresse entre os pacientes que receberam intervenção. A ligação entre o estresse emocional e a HAS e o papel do estresse na gênese desta, vem sendo alvo de grande interesse na literatura. Evidências de que a adrenalina liberada de forma intermitente poderia provocar vasoconstrição neurogênica sustentada e HAS pela ação em receptores pré-sinápticos facilitando a liberação de norepinefrina, reforçam essa possibilidade28. Em um ensaio clínico foi demonstrada que a redução da PA através do treinamento de controle do estresse em hipertensas estressadas restaurou o transporte de L-arginina através do sistema aos níveis de pacientes hipertensas não estressadas29. As investigações empíricas têm demonstrado a importância de algumas variáveis ambientais sobre a ativação psicobiológica. Particularmente, os modelos desses autores sugerem que uma diminuição no controle fisiológico, em função da redução da internalização de fontes de reforço ou apoio social, faz com que o sistema parassimpático diminua sua ativação cronicamente e o simpático tenha maior possibilidade de expandir-se através de barreiras cognitivas29. Aumentos súbitos dos parâmetros cardio vasculares podem atingir níveis comprometedores que exijam cuidados imediatos e em longo prazo. Além disso, a reatividade cardiovascular tem 63 sido considerada possuidora de uma função significativa na neurogenética das doenças coronarianas e da aterosclerose30. Frente ao treinamento do controle do estresse a abordagem multiprofissional, que inclui psicoterapia breve focal, direcionada para aquisição de estratégias de enfrentamento do estresse auxilia na reestruturação do modo de pensar, estilo de vida e cuidados com a saúde 31. Verificamos que após a intervenção que incluiu a orientação nas várias áreas abordadas e nas entrevistas psicológicas, que focam a expressão das preocupações e ansiedades vivenciadas, tanto frente ao tratamento como de situações de vida dos pacientes, os do GM apresentou uma melhora significativa na redução do estresse. Um outro aspecto de relevância observado no nosso estudo e ainda pouco documentado está relacionado a frequência às consultas. Os pacientes do GM, que se mantiveram no estudo por um ano, representaram 95,3 % da amostra, já no GC este percentual foi de 73,8% podendo ser inferido como uma das facetas da não adesão ao tratamento anti-hipertensivo a assiduidade ao comparecimento às consultas agendadas. Essa simples medida pode evidenciar o desejo do paciente tratar a sua doença e revelar a percepção da sua consciência de possuir um problema de saúde que necessita de cuidados32. Considera-se que o cuidado desenvolvido neste ambulatório com atenção multidisciplinar ao paciente hipertenso melhorou o auto cuidado, na medida em que o paciente teve um investimento mais abrangente do que no tratamento convencional. Trabalho anterior reforça que a ampliação do processo saúde-doença pode melhorar a autopercepção e favorecer mudanças de hábitos para que o paciente hipertenso adquira cuidados mais saudáveis33. 64 Embora usualmente se acredite que os efeitos colaterais contribuam para a não adesão, outros fatores como conhecimento da doença e ausência de sintomas iniciais deva ser considerado podendo ter forte influência. Uma das formas de incentivar a adesão medicamentosa é substituir, na medida do possível, através dos programas governamentais, fármacos sem os clássicos efeitos coletareis semelhantes a placebo. O número reduzido de pacientes nos dois grupos foi um dos fatores que impossibilitou, na análise bioquímica, resultados mais fidedignos na comparação entre os grupos. Percebe-se no entanto, que no GM, houve redução em todos os parâmetros com exceção da glicemia e triglicerídeos cujos valores se mantiveram similares. Observa-se, outrossim, que no GC os parâmetros aumentaram após um ano ou se mantiveram nos mesmos índices. CONCLUSÃO A partir dos resultados deste estudo consideramos a importância de propostas de tratamento para pacientes hipertensos, que incluam a assistência multiprofissional visando a redução dos múltiplos fatores que interferem em sua origem e manutenção. A importância destas propostas é reforçada pelo evidente benefício para saúde pública na redução dos danos que a hipertensão não controlada desencadeia. 65 REFERÊNCIAS 1. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes brasileiras de hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1-supl.1):1-51. 2. Ounpuu S, Negassa A, Yusuf S. INTER-HEARTH: A global study of risk factors for acute myorcardial infarction. Am Hearth J. 2001;141(5):711-21. 3. Dean SC, Kerry SM, Cappuccio FP, Oakeshott P. 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Prevalência e fatores sócio-demográficos em hipertensos de São Jose do Rio Preto-SP. Arq Bras Cardiol. 2008;91(1):31-5. 20. Trevisol DJ, Moreira LB, Kerkhoff A, Fuchs SC, Fuchs FD. Health-related quality of life and hypertension: a systematic review and meta-analysis of observational studies. J Hypertens. 2011;29(2):179-88. 21. Parker ED, Schmitz KH, Jacobs DR Jr, Dengel DR, Schreiner PJ. Physycal activity young adults and incident hypertension over 15 years of follow –up: the CARDIA study. Am J Public Health. 2007;97(4):703-9. 22. Rique ABR, Soares EA, Meirelles CM. Nutrição e exercício na prevenção e controle das doenças cardiovasculares. Rev Bras Med Esp. 2002;8(6):244-54. 23. Laterza MC, Rondon MPB, Negrão CE. The anti-hypertensive effect of exercise. Rev Bras Hipertens. 2007;14(2):104-11. 24. Mariath AB, Grillo LP, Silvia RO, et al. Obesidade e fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis entre usuários de unidade de alimentação e nutrição. 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Arq Bras Cardiol. 2005;85(3):157-61. 31. Lopes MCL, Marcon LCSS, Souza AC, Waidman MAP. O auto cuidado em indivíduos com hipertensão arterial: um estudo bibliográfico. Rev Eletrônica Enferm. 2008;10(1):198-211. 32. Coelho EB, Neto MM, Palhares R, Cardoso MCM, Geleilete TJM, Nobre F. Relação entre a Assiduidade às Consultas Ambulatoriais e o Controle da Pressão Arterial em Pacientes Hipertensos. Arq Bras Cardiol. 2005;85(3):157-61. 33. Lopes MCL, Marcon LCSS, Souza AC, Waidman MAP. O auto cuidado em indivíduos com hipertensão arterial: um estudo bibliográfico. Rev Eletrônica Enferm. 2008;10(1):198-211. 69 LEGENDA DAS FIGURAS Figura 1. Representação do Fluxograma do estudo. Figura 2. Valores da PAS, basal e após 1 ano, entre-grupos e intra-grupos. Figura 3. Valores da PAD, basal e após 1 ano, entre-grupos e intra-grupos. 70 Tabela 1. Características clínicas basais VARIÁVEIS MULTIHAS CONTROLE (n=63) (n=61) 60,2% 64% 54,5 ± 12,7 53,6 ± 12,3 168,4 ± 30,5 163,8 ± 32,9 0,55 96,1 ±17,9 96,6 ± 22,4 0,76 83,8% 80,2% 0,83 5,7 ± 2,0 5,7 ±1,9 0,86 45,0 ± 39,2 41,0 ± 38,6 0,65 IMC (kg/m2) † 32,2 ± 6,7 32,4 ±6,0 0,40 Col T† 197,0±36,1 210,4±45,0 0,15 47,3 ± 12,6 45,3 ± 13,0 0,75 Glicemia 96,6 ± 14,0 112,7 ± 14,1 0,07 Triglicerídeos† 154,3 ± 87,5 152,0 ± 82,7 0,76 Sexo (F)* Idade † PAS (mmHg) † PAD (mmHg) † ISLL com stress* † Escore QV Atividade Física † HDL † † p Variáveis categóricas expressas* como frequência absoluta (n) e relativa (%). Variáveis contínuas† como média e desvio padrão. PAS - pressão arterial sistólica; PAD pressão arterial diastólica; QV - qualidade de vida; IMC - índice de massa corporal; ISLL índice sintoma; Col T - colesterol total; HD L - high density low. 71 Tabela 2. Características clínicas após 1 ano VARIÁVEIS (%) MULTIHAS CONTROLE (n=59) (n=45) PAS (mmHg)† 151,1 ± 32,7 162,6 ± 30,9 0,02 PAD (mmHg)† 88,3 ± 20,7 95,0 ± 19,9 0,01 7,0 ±1,6 6,9±2,0 0,73 Atividade Física 60,2 ± 44,8 30,3±41,0 0,01 IMC (kg/m2) † 31,9 ± 6 ,2 32,0±6,8 0,87 72,1% 87,7% 0,04 172,4 ± 43,6 216,5 ± 40,8 0,72 42,8 ± 13,9 43,6 ±13,7 0,35 107,3 ± 20,9 113,1±12,3 0,38 157,2 ± 95,4 171,3 ± 99,5 0,65 † Escore QV ISLL com stress Col T † HDL† Glicemia† † Triglicerídeos * p Variáveis categóricas expressas* como frequência absoluta (n) e relativa (%). Variáveis contínuas† como média e desvio padrão. PAS - pressão arterial sistólica; PAD pressão arterial diastólica; QV - qualidade de vida; IMC - índice de massa corporal; ISLL índice sintoma; Col T - colesterol total; HD L - high density low. 72 Figura 1. Representação do Fluxograma do estudo. 73 Figura 2. Valores da PAS, basal e após 1 ano, entre grupos (termo de interação entre grupo e tempo-ANOVA para medidas repetidas e intragrupos (comparação múltipla com correção de Bonferroni). 74 Figura 3. Valores da PAD, basal e após 1 ano, entre grupos (termo de interação entre grupo e tempo-ANOVA para medidas repetidas e intragrupos(comparação múltipla com correção de Bonferroni). p*=0.080 75 APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO COREN n:_____________ Porto Alegre, ________________ de 20__ . 1- O (a) senhor (a) está sendo convidado (a) a participar do projeto de pesquisa sobre "Influência da Assistência Multiprofissional no Manejo da Hipertensão Arterial Sistêmica, avaliada Através um Prontuário Eletrônico.” 2- Antes de assinar o consentimento para a sua participação, por favor, leia (ou escute) com atenção as informações abaixo. Aproveite a oportunidade para esclarecer todas as dúvidas com o pesquisador que lhe apresentou o estudo. Queremos deixar claro que, caso o(a) senhor(a) decida não participar, não haverá prejuízo no seu atendimento. 3-O(a) senhor(a) está sendo atendido(a) pelo ambulatório multiprofissional para o tratamento de pressão alta. O projeto de pesquisa ao qual o(a) senhor (a) está sendo convidado(a) a participar pretende estudar uma nova forma de atender as pessoas, para que o tratamento da hipertensão tenha melhores resultados e com isso evite o aparecimento de problemas mais sérios de saúde. Se o(a) senhor(a) aceitar participar deste estudo, pesquisadores da área da saúde como médico, enfermeiro, nutricionista, fisioterapeuta e psicólogo lhe farão perguntas sobre seus hábitos de vida antes da consulta e repetirão os questionários após 6 e 12 meses do início do seu tratamento. 4- Além de lhe fazer perguntas, verificaremos a sua pressão, mediremos a sua cintura/quadril, o seu peso corporal e, se necessário, faremos todos os procedimentos e exames de rotina desse hospital como exame de urina, sangue (que inclui uma picada de agulha), etc. Essas informações serão utilizadas para o nosso estudo. Pela sua participação no estudo, você não receberá nenhum valor em dinheiro, mas terá a garantia de que todas as despesas necessárias à realização da pesquisa não serão de sua responsabilidade. 5- Os procedimentos são simples e garantimos ao(à) senhor(a) que o seu nome, ou o de qualquer participante, não será de forma alguma revelado. Ainda assim, o(a) senhor(a) poderá retirar seu consentimento a qualquer momento, sem prejuízo do seu atendimento e receber todas as informações que desejar. 6- Qualquer dúvida o paciente poderá contatar o Comitê de Ética do IC que aprovou esse estudo, pelos telefones (51) 3223-7393 ramal 26 com Maria Lúcia; ou um dos pesquisadores: Pesquisadora Marly Ramires, telefones: (051)3684-1176 ou 8169-6899 Médica Anna Stein, telefones: (51)9981-0097 Enfermeira Silvia Goldmeyer, telefones: (051)3230-3867 ou 9243-1342. Nutricionista Denise Dilemburg, telefones: (051)3230-3600 ramal 3863 ou 91844832 Fisioterapeuta Daniela Nascimento, telefones: (51) 9971-4276 Psicóloga Patrícia Ruschel, telefones: (51)8133-3572 Neuropsicóloga Danielle I. da Costa, telefones: (51) 3320-5134 ou 9986-4497 Neuropsicóloga Sabine P. Marroni, telefones: (51) 3320-5134 ou 9989-5248 Assino o presente documento, em duas vias de igual teor, ficando uma em minha posse. Nome do paciente:_________________________________________ ____________________________________________ Assinatura do paciente 76 CASO O PACIENTE PRECISE DO AUXÍLIO DE OUTRA PESSOA. COREN n:__________________ Nome do pesquisador responsável: ____________________________________________ ____________________________________________ Assinatura do pesquisador responsável. Declaro que o formulário sob COREN n:____________ Foi lido para o _____________________________________________em(data)__________ paciente: pelo pesquisador ___________________________________________enquanto eu estava presente. Nome da testemunha________________________________________ _________________________________________ Assinatura da testemunha _________________________________________ Assinatura do pesquisador Sugestões/Reclamações/Contribuições que o paciente julgue necessárias: ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ________________________________________ Data:______/______/_______ Nome do paciente:_________________________________________ ____________________________________________ Assinatura do paciente 77 APÊNDICE B – INVENTÁRIO DE SINTOMAS DE ESTRESSE PARA ADULTOS DE MARILDA EMMANUEL NOVAES LIPP (ISSL) Nome:_______________________________________________________________ Data de Nascimento _____/_____/________Local de Nascimento:__________/_______/_________ dia Estado mês ano Cidade País Idade: ____________Sexo M ( ) F ( ) Escolaridade________________________________________ RG________________________________CPF______________________________ Curso/Série: _______________Escola/Instituição:___________________________ Lateralidade Destro ( ) Sinistro ( ) Ambidestro ( ) Profissão:_________________________________ Função:__________________________Data da aplicação: _____/____/______ dia mês ano Aplicador:_________________________Início:____________Término___________ Autorizo uso sigiloso como pesquisa:______________________________________ assinatura INSTRUÇÕES Quadro 1- Assinalar com F1 ou P1. como indicado para sintomas que tenha experimentado nas últimas 24 horas Quadro 2 – Assinalar com F2 ou P2, como indicado para sintomas que tenha experimentado na última semana 78 Quadro 3- Assinalar com F3 ou P3, como indicado para sintomas que tenha experimentado no último mês. QUADRO 1 a ( ) 1. Mãos e pés frios ( ) 2. Boca seca ( ) 3.Nó no estômago mas que tem experimenta- ( ) 4. Aumento de sudorese (muito suor, do nas últimas ( ) 5.Tensão muscular 24 horas ( ) 6. Aperto da mandíbula /ranger os dentes ( ) 7. Diarréia passageira ( ) 8. Insônia ( ) 9. Taquicardia ( ) 10. Hiperventilação (respirar ofegante, a) marque com um F1 os sinto- suadeira) rápido ( ) 11. Hipertensão Arterial súbita e passageira (pressão alta) ( ) 12. Mudança de apetite _______________________________ QUADRO 1 b a) marque com um P1 os sintomas que tem experimentado nas últimas 24 horas QUADRO 2 a a) marque com um F2 os sintomas que tem experimentado na última semana ( ) 13. Aumento súbito de motivação ( ) 14. Entusiasmo súbito ( ) 15. Vontade súbita de iniciar novos projetos ( ) 1. Problemas com a memória ( ) 2. Mal estar generalizado sem causa específica ( ) 3.Formigamento das extremidades ( ) 4. Sensação de desgaste físico constante ( ) 5. Mudança de apetite ( ) 6. Aparecimento de problemas dermatológicos 79 ( ) 7.Hipertensão Arterial (pressão alta) ( ) 8. Cansaço constante ( ) 9. Aparecimento de úlcera ( ) 10. Tontura/sensação de estar flutuando QUADRO 2 b a) marque com um P2 os sinto mas que tem experimentado na última sema na ) 11.Sensibilidade emotiva excessiva (estar muito nervoso) ( ) 12. Dúvida quanto a si próprio ( ) 13. Pensar constantemente em um só assunto ( ) 14. Irritabilidade excessiva ( ) 15. Diminuição da libido (sem vontade de sexo) QUADRO 3 a a) marque com um F3 os sintomas que tem experimentado no último mês ( ( ) 1. Diarréia Freqüente ( ) 2. Dificuldades sexuais ( ) 3. Insônia (dificuldade p/dormir) ( ) 4. Náusea ( ) 5. Tiques ( ) 6. Hipertensão Arterial Continuada (pressão alta) ( ) 7.Problemas dermatológicos prolongados (problemas de pele) ( ) 8. mudança extrema de apetite ( ) 9. Excesso de gases ( ) 10. Tontura freqüente ( ) 11. Úlcera ( ) 12. Enfarte 80 QUADRO 3 b a) marque com um P3 os sintomas que tem experimentado no último mês ( ) 13.Impossibilidade de trabalhar ( ) 14. Pesadelos ( ) 15.Sensação de incompetência em todas as áreas ( ) 16.Vontade de fugir de tudo ( ) 17.Apatia, depressão ou raiva prolongada ( ) 18.Cansaço excessivo ( ) 19.Pensar, falar constantemente em um só assunto ( ) 20.Irritabilidade sem causa aparente ( ) 21.Angústia /ansiedade diária ( ) 22.Hipersensibilidade emotiva ( ) 23.Perda do senso de humor. 81 APÊNDICE C – INVENTÁRIO BECK DE ANSIDADE - BAI Nome:____________________________________________ DATA:____/____/_____ Abaixo está uma lista de sintomas comuns de ansiedade. Por favor, leia, cuidadosamente cada item da lista. Identifique o quanto você tem sido incomodado por cada sintoma durante a última semana, incluindo hoje, colocando um “x” no espaço correspondente, na mesma linha de cada sintoma. Absoluta- Levemente Moderadamente- Gravemente mente não Não me Foi muito Dificilmente incomodou desagrapude suportar muito dável mas pude suportar 1. Dormência ou formigamento 2.Sensação de calor 3.Tremores nas pernas 4. Incapaz de relaxar 5. Medo que aconteça o pior 6. Atordoado ou tonto 7.Palpitação ou aceleração do coração 8. Sem equilíbrio 9. Aterrorizado 10. Nervoso 11.Sensação de sufocação 12.Tremores nas mãos 13. Trêmulo 14. Medo de perder o controle 15.Dificuldade de respirar 16.Medo de morrer 17. Assustado 18.Indigestão ou desconforto no abdômen 19. Sensação de desmaio 20 Rosto afogueado 21.Suor (não devido ao calor) 82 APÊNDICE D - ANAMNESE ALIMENTAR DT ANAMNESE:___/___/___ DT ENTREGA:___/___/___ HORA__________ NOME DIETA_________________________________________________VET_____ 1. DADOS ANTROPOMÉTRICOS: Peso atual: ________ Altura atual: _________IMC: __________ Peso Ideal: ______ Circunferência Abdominal: __________ 2. DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL (segundo IMC) ( )Obesidade ( )Sobrepeso ( )Desnutrido ( ) Eutrófico 3. INQUÉRITO DE FREQUÊNCIA ALIMENTAR: GRUPO ALIMENTAR 1x semana CARNE VERMELHA LEITE QUEIJO IOGURTE VEGETAIS FRUTAS PEIXE OVOS FRANGO DOCES CHOCOLATES BISC. RECHEADO EMBUTIDOS ENLATADOS TEMPEROS INDUSTRIALIZADOS 2-4x semana Todo dia Eventual ÓLEO UTILIZADO: ( )Soja ( )Milho ( )Girassol ( ) Canola ( ) Arroz ( ) Outro___________ BANHA ( )Sim ( ) Não BACON ( ) Sim MANTEIGA ( ) com sal ( ) sem sal NATA ( )sim ( )não ( )Não MARGARINA ( ) com sal ( ) sem sal 83 4 HÁBITOS ALIMENTARES: a) Quantas refeições costuma fazer ao dia? ( ) menos 2 refeições/ dia ( ) 2-4 refeições ( )4-6 refeições ( )6-8 refeições b) Segue horário para se alimentar? ( ) Sim, sempre ( ) Sim, evetualmente ( ) Não, nunca c) Já recebeu orientação nutricional?______ De quem? ( ) Nutricionista ( ) Médico ( ) Outro. Quem?__________________ d) Está em acompanhamento atualmente? ( )Sim ( )Não e) Qtde de líquidos ingerida diariamente? f) ( ) < 500ml ( )500ml – 1000ml ( )1000-2000ml ( )>2000ml f)Hábito intestinal? ( )normal ( ) constipação ( )diarréia g)Hábito urinário? ( ) normal ( ) alterado________________________ h) Uso de bebidas alcoólicas? ( )sim ( ) não Se sim, qual o tipo ( )cerveja ( )destilados ( )misto Com que freqüência? ( ) eventual ( )quinzenalmente ( )1 x semana ( ) 2-5 x semana ( )diariamente i)Consumo de frituras? ( )sim ( ) não Quando?______________________ j) Controle de sal na alimentação ( )sim ( )não ( ) sem sal k) Alterações do aparelho digestivo? ( ) pirose ( ) distensão abdominal ( ) vômito ( ) anorexia ( ) cólica ( ) hematêmese ( ) melena l) Alterações na mastigação? ( )dentição incompleta ( )prótese com problema ( )Outro Qual?__________________ m) Condições de deglutição? ( ) normal ( )disfagia ( )odinofagia 5 RECORDATÓRIO DE 24HS REFEIÇÃO CAFÉ DA MANHÃ Horário: Local: LANCHE Horário: Local: ALMOÇO Horário: Local: LANCHE Horário: Local: JANTAR Horário: Local CEIA Horário: Local: 84 Alimentos que costuma ingerir fora de horário?_____________________________________ OBSERVAÇÕES ADICIONAIS: Avaliadora_________________________________________ 1) 2) Forneceu orientações para o paciente? ( )Sim ( )Não Qual?____________________________________ CÁLCULO DA DIETA 85 APÊNDICE E – AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: Nome: ____________________________________ Data de Nasc.: ___/___/____ Idade: ________ Sexo: ___ Raça: ___ Ocupação: _________________________ Endereço:_____________________________________________________________ _______ Telefone p/ contato: _____________________________ 2. HISTÓRIA SOCIAL: Atitude de Lazer ( ) Ativa: sair com amigos, cinema, teatro, parque, jantar fora, exercícios, dança. ( ) Passiva: ler, dormir, assistir TV, jogar cartas Pratica atividade física regular ? ( ) Sim. Qual?_________________Frequência Semanal:_________Duração:_____________ ( ) Não. Motivo:______________________________________________________________ 3. AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA a) Quais atividades realiza em casa ? ( ) cozinhar ( ) arrumar a cama ( ) jardinagem ( ) lavar roupa/louça ( ) limpar ( ) lavar carro ( ) outros: ______________________________________________________________ b) Que meio de transporte usa? Refere dificuldade? ( ) não ( ) sim. Qual?_____________ ( ) dirigir ( ) ônibus ( ) caminhar ( ) lotação ( ) táxi ( ) necessita acompanhante 4. Diagnóstico Funcional e Plano Fisioterapêutico: a) FC máxima prevista pela idade: ______________ b) FC alvo (Karvonen): _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 86 APÊNDICE F – QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA Seção 1 Por favor, assinale a alternativa correspondente à sua resposta ou coloque um número no local apropriado. Ex.: HORAS DE SONO (8). 1. No último mês você sentiu tortura ou teve algum desmaio? ( ) Sim ( )Não Se NÃO, por favor, pule para a questão 4. 2. Se SIM, a tontura ou desmaio ocorreram enquanto você estava em pé? ( ) Sim ( )Não 3. Por quantas horas no dia sentiu tontura ou desmaio? ( ) Menos do que uma ( ) 1 a 2 horas ( ) mais do que 2 horas 4. No último mês, você se sentiu frequentemente sonolento durante o dia? ( )Sim ( )Não 5. Quantas horas, em média, você dorme por dia? _______ horas 6. No último mês sentiu fraqueza nas pernas? ( ) Sim ( )Não 7. Você sentiu a vista turva ou embaçada no último mês? ( ) Sim ( )Não 8. Você tem falta de ar quando caminha no chão plano, em comparação com pessoas de sua idade? ( ) Sim ( )Não 9. Seus Tornozelos incham no final do dia? ( ) Sim ( )Não 10. Comparando-se a outros homens e mulheres de sua idade, você tende a caminhar: ( ) Mais lentamente ( )Mais rapidamente ( )No mesmo passo 11. Quantas vezes, em média, você levanta durante a noite para urinar? ( )0 ( )1 ( )2 ( ) + que 2 12. No último mês você tem sentido a boca seca? ( ) Sim ( ) Não 87 Se NÃO, por favor, passe para a questão 17 13. Se SIM, a boca seca atrapalha você para falar ou comer? ( ) Sim ( )Não 14. No último me você tem sido incomodado por um gosto ruim na boca? ( ) Sim ( )Não 15. No último mês tem sido incomodado por nariz entupido ou escorrendo? ( ) Sim ( )Não 16. Comparando-se a outras pessoas de sua idade, sua capacidade de concentração é: ( ) Melhor que a média ( ) A mesma que a média ( ) Pior que a média 17. No último mês você sentiu vermelhidão no seu rosto ou pescoço? ( )Sim ( )Não 18. Durante o último mês, você foi frequentemente incomodado por sonhos agitados que pareciam reais ou por pesadelos? ( ) Sim ( )Não 19. Durante o último mês, você sentiu enjoo ou vomitou com frequência? ( ) Sim ( )Não 20. Você teve alguma lesão na pele no último mês? ( ) Sim ( ) Não 21. Você tem apresentado coceira no último mês? ( ) Sim ( ) Não 22. Seus dedos ficam pálidos quando está frio? ( ) Sim ( ) Não 23. Se SIM, eles ficam doloridos? ( ) Sim )Não ( 24. Você tem sofrido de dor de cabeça no último mês? ( ) Sim ( )Não Se NÃO, passe para a questão 27 Se SIM, por favor, passe para a questão 26 e 27 24. Com que frequência suas dores de cabeça ocorrem? ( ) 1 ou mais vezes por dia ( ) 1 até 6 vezes por semana ( ) Menos que uma vez por semana 25. Em que hora do dia sua dor de cabeça ocorre? ( )ao acordar pela manhã 88 ( ( )durante o dia, sem estar presente quando você acorda )durante a noite 26. Você tem tido tosse seca no último mês? ( ) Sim ( )Não 27. As próximas questões se referem à sua vida sexual. Sabemos que estas questões de natureza muito pessoal, mas são importantes, pois estamos interessados em todos os aspectos do seu bem-estar e gostaríamos que você as respondesse. Gostaríamos de enfatizar, novamente, que essa informação è confidencial. Seu interesse em sexo está: ( ) menor ( ) o mesmo ou maior 28. Você tem relações sexuais? ( )Sim Se SIM, por favor, pule para a questão 31 ( )Não 29. Suas razões para não ter relações sexuais são (assinale quantas alternativas forem necessárias) ( ) Falta de interesse ( ) Outra razão relacionada com sua saúde (pó favor, especifique) ( ) Outra razão não-relacionada com a saúde(por favor, especifique) 30. Com que frequência você tem relações sexuais? Por favor, escreva no espaço o número de: ( ) Vezes por semana ( ) Vezes por mês ou ( ) Vezes por ano 31. Somente para homens Durante a relação sexual você é incomodado por não conseguir manter uma ereção? ( ) Sim ( )Não Somente para mulheres Durante a relação sexual você tem sentido dificuldade para se excitar (ficar molhada/lubrificada)? ( )Sim ( )Não 89 Seção 2 32. Por favor, assinale a alternativa que melhor representa a sua situação ( )emprego remunerado ( )emprego não-remunerado, mas trabalhando em casa ou com parentes ( )desempregado, mas procurando por um trabalho ( )desempregado, afastado por motivos de doença ( )aposentado 33 Se você assinalou “emprego remunerado”, no último mês quantos dias você faltou devido à sua doença? (por favor, escreva o número de dias no espaço, ou assinale nenhum se você não teve falta devido à doença) ( ) dias ( ) nenhum 34. Se você faltou ao trabalho por motivo de doença, escreva qual foi a razão 35. Durante o último mês, você tem se sentido incapaz de realizar atividades doméstica habituais devido à sua doença? ( ) Sim ( )Não 36. Se SIM, por quantos dias você esteve incapacitado de realizar suas atividades habituais devido à doença? Por favor, escreva o número de dias ( ) 37. Quais foram as razões pelas quais você esteve incapaz de realizar suas atividades habituais?