Oração do Pai Nosso - Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde

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Oração do Pai Nosso
Pai Nosso que estais no céu. Sim, tu és Pai, és o começo de mim: eu vivo, eu amo
porque tu és meu Pai. É de ti e por ti que eu vivo: é meu Pai. Mas não somente meu: és Pai
Nosso, isto é, meu e de meus colegas, da outras pessoas, das outras criaturas, do mundo.
Somo todos irmãos.
Pai, tu estás no céu. Isto é, onde tu estás é o céu. Tua companhia produz o céu. Tudo
o que de bom e belo desejamos e esperamos: amor, paz, força coragem, bem-estar para o
corpo e para a alma, pois de ti vêm todo o bem e a felicidade.
Santificado seja o teu nome. Louvado sejas pelo teu nome de Pai. Agradecido te
sou porque posso chamar-te Pai, meu Pai, nosso Pai. Quero proclamar-te Pai, com palavras
e com atitudes comportamentais. Que todos os homens tenham comportamento de filhos.
Venha a nós o teu Reino. Tu és Rei e governas minha consciência e toda a
humanidade com uma única lei: o Amor. Tu nos amas. Tu nos queres e nos fazes o bem, só
o bem. No teu Reino há justiça e paz, pois todos têm direito e possibilidade de serem bons e
felizes e de fazerem o bem.
Seja feita a tua vontade tanto na terra como no céu. No céu todos aceitam,
participam e colaboram no teu plano. Mas eu também, nós, humanos, também
reconhecemos que tu sabes o que nos é útil, que queres o nosso bem, a nossa felicidade.
Reconhecemos que tua única lei é suficiente para governar e dirigir nossas atitudes
comportamentais. Pedimos-te perdão pela arrogância e impertinência das leis que fazemos
e impomos aos outros, impedindo-os de serem o que tu queres.
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Tu, como Pai previdente e solícito, não nos
deixas em necessidade. Tu não és egoísta, mas és Pai que nos dá:
- o pão que mata a fome do estômago: a terra brasileira é fértil, produz de tudo;
- o pão que mata a fome do espírito, isto é,a coragem e a força de lutar e ser
pessoa; nos dás a paz social, é só colaborarmos;
- o pão da tua Palavra, que é sábia e justa, estimulante e suave, porque é a
Verdade;
- o Pão Eucarístico, que é teu Filho, feito nosso irmão e nosso alimento
substancial.
Perdoa as nossas ofensas.
Obrigado! Nem é preciso pedir-te,pois tu não somente perdoas, senão que vais atrás
do pecador, de mim, me procuras quando te esqueço e te desrespeito na pessoa de teu Filho,
meu irmão. Caim, onde está teu irmão? (Gen 4,9). Obrigado, Pai, pelo perdão que me dás a
todo instante.
Assim como nós perdoamos aos que nos ofendem. Obrigado, Pai, porque me
deste a coragem e a força de perdoar, de perdoar sempre. Às vezes custa muito; é difícil
perdoar; mas, assim como tu me perdoas sempre, eu também quero perdoar sempre.
Não nos deixei cair em tentação. Não me deixes ceder à preguiça de só fazer o
mínimo. Não me deixes ceder ao capricho de me colocar em primeiro plano para só
receber. Mas ajuda-me a ser o primeiro a servir. Ajuda-me a ser ativo, eficiente e eficaz em
possibilitar aos outros serem teus filhos felizes, sentirem-se irmãos.
Mas livra-nos do mal. Livra-nos da necessidade e miséria material; da
intranqüilidade espiritual; do egoísmo que me impede de ser irmão; da subserviência do
pobre e explorado; da prepotência do rico e estudado; da acomodação dos felizes e
infelizes; do desânimo ante a dificuldade; da desconfiança de tua bondade e da boa vontade
dos outros meus irmãos.
Sim! Pai! Amém! Eu creio e te aceito como meu Pai e Pai de meus irmãos; Pai de
todos os homens; Pai da maravilhosa criação que colocaste à minha e nossa disposição.
Obrigado! Pai! Amém!
Quando o ente querido é um doente mental
A fisionomia de Tom está pálida e sonada. Ele tenta telefonar, mas suas mãos
trêmulas não o ajudam. Frustrado, ele grita: “Ninguém pode usar telefones, todos estão com
defeito!”.
David, o irmão mais novo de Tom, entretido num jogo com um amigo, humilhado e
envergonhado, tira o telefone das mãos de Tom, e joga no chão. Por um momento, Tom
olha furioso e confusamente para seu irmão. A seguir, retira-se da sala. David volta para a
companhia de seu amigo, que viu toda a cena, meio sem jeito, e ambos continuam a jogar.
Ocorrências como essa na convivência familiar estão-se tornando sempre mais
comuns. É possível ser de ajuda no caso de se ter alguém em casa sofrendo de uma doença
mental? Certamente que sim.
Encontrando o caminho – Se você está vivendo com um ente querido com
problemas emocionais ou mentais, seja bem-vindo à nossa sociedade contemporânea.
Praticamente toda família é afetada, direta ou indiretamente por alguma forma de doença
mental. Aproximadamente 20% da população, anualmente, necessita de alguma forma de
tratamento para doenças mentais diagnosticáveis. Em nossa sociedade tecnológica de ritmo
alucinante, muitas pessoas continuam a desintegrar-se. Se você é um entre muitos que
sofrem em silêncio, acompanhando seu ente querido sempre mais confuso, é importante
saber que existe ajuda e esperança. Apresentamos a seguir algumas pistas que podem ser de
ajuda.
Quem está doente mentalmente é, como todos nós, alguém que passa por
dificuldades e precisa de ajuda. A diferença é o grau. Quando alguém mostra sinais de
dificuldades emocionais ou mentais está sinalizando para ajuda. O comportamento
esquisito pode ser maneira de lidar com questões que são por demais dolorosas e
estressantes para se trabalhar. É necessário procurar ajuda profissional, se esta pessoa pede
ou indica através de comportamentos esquisitos.
Distúrbios severos no pensar, sentir e no relacionar-se, incapacitando a pessoa a
lidar com as exigências normais da vida, são uma indicação de que a ajuda é necessária.
Alguns sinais de alarme incluem mudança nos hábitos de dormir ou em atividades sócias,
hostilidade crescente ou desconfiança, mudança extremas de humor, pensamento ou
sentimentos, depressão ou comportamentos destrutivos. Os sintomas variam, mas procure
ajuda profissional se os sintomas persistirem ou piorarem, ou então quando não puder mais
suportar a situação.
Existem assistentes sociais, psicólogos, enfermeiras e psiquiatras que são peritos em
técnicas para lidar efetivamente com comportamentos anormais. Algumas sessões de
aconselhamento podem ser de fundamental importância para ajudar a pessoa a lidar com
seus problemas. Caso seu familiar ou amigo corra o risco de ferir-se ou mesmo ferir os
outros, ou então seu comportamento está simplesmente fora de controle ou da realidade, um
tratamento mais específico é necessário. Pessoas com certos desequilíbrios respondem
extremamente bem a um programa de aconselhamento ou medicação.
Encontrar ajuda – Evite culpar seu ente querido ou a si mesmo pelo distúrbio
mental. A doença mental, entre outros fatores, é uma desordem bioquímica do cérebro, que
causa muita angústia à vitima. Não exija da pessoa que se equilibre, pois não ser capaz de
fazer isso é parte de sua doença.
Deixe clara sua solicitude, faça-a ver que ela será ajudada. Não tente negar o que o
outro está sentindo ou ouvindo ou vendo como real. É melhor passar a certeza de seu amor
e dizer: “O que você está sentindo é real para você, mas gostaria que você fosse ajudado
nessa experiência”.
Deixe claro que procurar ajuda não significa que ele é fraco, sem valor ou
simplesmente falhou. Trata-se simplesmente de reconhecer uma necessidade e de um passo
em direção a um ajustamento mais saudável à realidade.
A não ser que seu ente querido esteja totalmente desnorteado, partilhe
responsabilidades, explore e selecione trabalhos apropriados. Descubra tanto quanto possa
sobre trabalhos ou profissões, e dialogue sobre o que aconteceria, que perguntas surgiriam,
e assim por diante.
É importante que seu ente querido compreenda que buscar ajuda profissional não
dará à pessoa que ajuda o controle sobre a sua vida, e que ele tem o direitos de decidir
continuar ou não o tratamento.
Saber quando procurar internação – Caso a pessoa se encontre seriamente
perturbada e se recuse a qualquer tipo de tratamento, você precisa viabilizar a internação
num hospital psiquiátrico ou, então, num hospital geral com especialidade em psiquiatria.
A hospitalização pode acontecer em situações de emergência, quer voluntária quer
involuntariamente. A hospitalização permite uma separação do ambiente em que a pessoa
vive, enquanto é tratada. Este período de separação também capacita a família a trabalhar
possíveis mudanças recomendadas pelo programa de tratamento, garantindo,
conseqüentemente, um melhor ajustamento, quando o doente retorna para casa.
Aceitar a doença do ente querido – Conviver com uma pessoa mentalmente doente
não é algo fácil. Quem não estiver sabendo da verdadeira natureza e causas da doença
mental pode facilmente culpar você, sua família ou alguém mais. Você pode, sem dúvida,
ressentir-se, devido a comportamentos inoportunos com os quais talvez tenha de lidar.
O desafio é aceitar a condição de seu ente querido como ela é. Cultivar a atitude
correta em relação a um comportamento, pensamentos e sentimentos ajudar-lo-a a não
estressar-se. Aceitar a doença de seu ente querido o deixará mais à vontade, desarmado, o
que doente perceberá, respondendo mais positivamente.
Lembre-se de que não adianta nada discutir com a pessoa doente. O seu ente
querido já sabe que está comportando-se anormalmente, e questiona-lo pode elevar a um
isolamento maior e agravamento da doença. Permanecendo na realidade, você ajuda a
mantê-lo na realidade também. Muita introspecção ou tempo ocioso pode atrapalhar, mais
que ajudar. Encorajar para que seu ente querido se envolva em alguma atividade exterior
pode ser extremamente benéfico.
Não se esqueça de procurar ajuda para você também – uma pessoa religiosa, amiga,
ou atividade fora de casa, por exemplo -, pois lhe dará equilíbrio e um ponto de referência.
Existem instituições que têm grupos de apoio para familiares, que podem ser utilizadas.
Cultivar um momento regular de oração pode ser extremamente proveitoso. Você precisa
manter-se espiritualmente forte e capaz de trabalhar com a situação, uma vez que você é a
primeira pessoa a defender seu ente querido.
Tenha confiança – As pessoas emocionalmente desequilibradas ou doentes mentais
freqüentemente acreditam que a recuperação é impossível. É possível que você também,
após tantas tentativas de ajudar seu ente querido e não vendo resultados palpáveis, sinta que
de nada adianta o seu esforço, e queria desistir de tudo.
O desespero, no entanto, pode ser o obstáculo-chave para ambos no lutar contra a
doença. O melhor antídoto contra o desespero é uma esperança realista e encorajamentoternura.
Traduzido de Care Notes, publicações da Abbey Press, St. Meinead, IN, EUA, pelo Pe. Léo Pessini.
O que é Homeopatia
O princípio básico da homeopatia é conhecido desde a Grécia antiga. Derivada da
palavra grega homoios, que significa semelhante, a homeopatia consiste em tratar o
semelhante pelo semelhante. Isto quer dizer: tratar de uma doença com a substância que
produz na pessoa sadia sintomas semelhantes aqueles que o doente apresenta. Segundo a
opinião médica corrente, os sintomas são causados pela doença. A homeopatia, ao
contrário, vê os sintomas como reação do corpo contra a doença, na tentativa de superá-la.
A homeopatia procura estimular esta reação ao invés de suprimi-la.
Como funciona – A homeopatia é um processo de cura natural, no qual os remédios
ajudam o paciente a restabelecer sua saúde, estimulando as forças de cura natural do
organismo. A escolha do remédio depende mais da reação mental e física individual do
paciente do que dos sinais e sintomas característicos da doença. A homeopatia, portanto,
está preocupada com a pessoa como um todo, em vez de tratar do paciente simplesmente
como protador de uma doença.
É uma nova terapia? – A homeopatia não é um ramo recente da medicina.
Conhecida na Grécia desde o século V, a homeopatia foi introduzida no século XVIII por
Samuel Hahnemann, médico alemão, como terapia alternativa suave e segura.
A homeopatia tem recebido apoio crescente através dos anos, e hoje é praticada em
mais de 50 países ao redor do mundo.
Por quanto tempo os remédios podem ser guardados? – Assim como os
remédios homeopáticos não são acompanhados de bulas, também em suas embalagens não
constam datas de validade. Isto porque, desde que mantidos em determinadas condições,
terão uma duração praticamente ilimitada. Tais condições são: ambientes secos,
temperatura não excessivamente elevada, ausência de contato com radiações de televisão
ou outras, ímãs, substâncias de odor muito intenso (como cânfora, por exemplo).
Se tais condições não forem respeitadas, haverá alterações facilmente reconhecíveis
nesses remédios: os glóbulos ficarão aglutinados e os líquidos com sinais de precipitação.
Uma vez ocorridas essas alterações, os medicamentos não deverão mais ser
utilizados.
Como devo tomar os glóbulos ou comprimidos? Os comprimidos não devem ser
tocados com as mãos porque o suor ou as impurezas da mão podem prejudicar o efeito.
Deixe-os rolarem dentro da tampa do franço e daí para a boca. Deixe os comprimidos se
derreterem na boca.
Com que freqüência devem ser tomados os remédios homeopáticos? – Em caso
de urgência, precisamos tomar dois comprimidos a cada hora, até seis vezes ao dia. Daí em
diante, tomamos dois comprimidos três vezes ao dia, até melhorar. Em casos menos
urgentes, tomamos dois comprimidos três vezes ao dia, até melhorar.
Quando deve parar de tomar os comprimidos? – Se você perceber uma melhora,
aumente o intervalo entre as doses. Se a melhora for grande, então pare o tratamento. Se
houver uma recaída, retome-o.
Após quanto tempo devo obter resultados? – Uma pergunta difícil de responder
de forma geral. Quaisquer que sejam os sintomas, você deveria sentir alguma sensação de
bem estar em duas semanas, mesmo que os sintomas continuem. Se você não sente
absolutamente nada durante o primeiro mês de tratamento, então é preciso considerar um
outro remédio.
Posso tomar um remédio homeopático com medicamentos comuns? – esta
pergunta não pode ser respondida de forma absoluta, com um simples “sim” ou “não”. De
modo geral, esses dois tipos de medicamentos não deveriam ser tomados ao mesmo tempo.
Em alguns tratamentos, os remédios alopáticos anulariam totalmente a ação dos
homeopáticos, havendo contra-indicação absoluta nessa associação. Outras vezes, ao
contrário, podem ser associados. Sempre siga o conselho de seu médico. Nunca soubemos
de reação cruzada entre um medicamento alopático e outro homeopático.
Posso tomar mais de um remédio homeopático ao mesmo tempo? – É melhor
evitar isto. Tomar mais de um remédio de uma vez dificulta a avaliação dos resultados.
Quando tomei o remédio pela primeira vez, os sintomas pioraram. Isto está
certo ou tomei o remédio errado? – Só há uma agravação (aumento transitório dos
sintomas) quando o remédio escolhido é o medicamento acertado. Uma agravação rápida,
leve e transitória seria o ideal. Deve ser recebida com alegria e não deve ser impedida, pois
é final de acerto na escolha do medicamento. Após uma agravação, ocorre o processo de
cura. Não é, porém, obrigatória.
Os remédios homeopáticos têm algum efeito colateral? – Os remédios
homeopáticos contêm ingredientes ativos que são completamente seguros até mesmo para
bebês e crianças. Não produzem efeito colateral indesejável nem estimulam o vício.
Que potência deve usar? De modo geral, para casos agudos usamos potências
baixas, por exemplo, 6ª centesimal (C6). Para os casos crônicos, são usadas potências mais
altas, por exemplo, a 30ª centesimal (C30) ou até mesmo mais elevadas.
É possível substituir as vacinas usadas contra doenças epidêmicas (coqueluche,
sarampo etc.) por alguma alternativa homeopática? – Não há alternativas oficialmente
reconhecidas que possamos legalmente recomendar. Entretanto, há substâncias
homeopáticas que podem ser recomendadas pelo médico homeopata (preventivos
homeopáticos). Isto também se aplica ao tratamento profilático de animais.
Se a homeopatia trata de pessoas e não de doenças, como há remédios
homeopáticos contra indigestão, equimoses etc.? – Há uma série de substâncias
homeopáticas que têm aplicação muito específica em determinadas situações. Por isso,
tratam com sucesso um grupo enorme de pessoas. Milhares de pessoa tomaram
conhecimento da homeopatia pela simples utilização bem-sucedida de algum remédio
homeopático popular (específico).
Temperos fortes ou comida em geral afetam a ação dos remédios? - é melhor
tomar cada dose entre as refeições, deixando pelo menos uma hora antes ou após a refeição.
É aconselhável evitar comida muito temperada ou bebidas fortes. O uso de uma pasta
dental sem sabor também ajuda a obter bons resultados durante o tratamento.
Publicado na edição n.º 1 de 1991 da Revista COMTAPS, adaptado de “Homeopathic treatment:
some questions answerwd”, da Nelson , de Londres.
A doença do alcoolismo
Crianças de pais alcoólatras
Pergunta-se freqüentemente se a personalidade dos filhos de pais alcoólatras é de
alguma forma afetada. Pesquisadores norte-americanos elencaram os seguintes sintomas
característicos em tais crianças:
 procuram sempre supor o que seria um comportamento normal;
 têm dificuldade em seguir um projeto do começo ao fim;
 mentem quando seria mais fácil dizer a verdade;
 julgam-se sem qualquer perdão;
 apresentam um mau humor constante;
 têm dificuldades com relacionamentos mais íntimos;
 acham-se muito sérias;
 buscam constantemente aprovação para seus atos;
 sentem-se diferentes das outras crianças;
 são super-responsáveis ou superirresponsáveis.
Uma outra característica é que são extremamente leais, mesmo em situações em que
sua lealdade não é correspondida.
O tratamento do alcoolismo
Segundo Jandira Mansur (O que é alcoolismo, Editora Brasiliense, São Paulo, p.
45), qualquer vínculo de dependência não é fácil de romper, e isto é particularmente difícil
quando seu objetivo é o álcool.
Pergunta-se freqüentemente qual seria a melhor forma de tratamento. Psicoterapia,
internação em clínicas especializadas, freqüências às reuniões doa Alcoólicos Anônimos
(AA) ou as drogas “antiálcool”?
É importante observar que todos os alcoólatras são iguais, e que não existe uma
forma ideal de tratamento para todos. Alguns se beneficiam ao freqüentar os grupos de AA,
outros já não se adaptam e necessitam de outros tipos de tratamento. Sem dúvida, o AA
desempenha um papel relevante num país como o Brasil, pobre de recursos, pois é gratuito
e atende a todas a faixas sócio-econômicas da população. Pertencer a um grupo e ter um
lugar onde se possa ser ouvido é muito importante para quem perdeu (ou está perdendo)
família e amigos.
Há alcoólatras mais ou menos dependentes. Os tratamentos devem corresponder aos
diferentes graus de severidade. Não se levando isso em conta, seria o mesmo que
recomendar antibióticos para todos os que têm febre, independentemente de sua origem e
gravidade.
A alternativa de tratamento com drogas antiálcool auxilia a muito, mas não serve
para todos.
A psicoterapia também tem ajudado muitos a desfazerem sua relação de
dependência alcoólica, ao detectar porque a pessoa está bebendo, quais problema pessoais a
bebida está ocultando.
A internação de clínicas especializadas visa dar a chance aos mais debitados de se
recuperarem concomitantemente com a possibilidade de ficar algum tempo afastados do
álcool.
Qual é o melhor tratamento para o alcoolismo? Vai depender da peculiaridade do
caso, da especificidade de cada situação. Uma receita geral não seria aconselhável.
Sem tratamento é possível dominar o alcoolismo? Alguns que conseguiram vencer a
dependência referem ter sido beneficiados por determinado tratamento; outros afirmam que
a cura aconteceu “espontaneamente”.
A saúde abalada, a percepção do que estavam perdendo com o alcoolismo, uma
alteração importante na vida, na área profissional ou afetiva, foram fatores importantes de
mudança.
Fica claro que existe a possibilidade de se romper com o alcoolismo se houver
motivação suficiente para isso. É na verdade um processo complexo que requer muito mais
do que “um pouco de boa vontade”. Basta verificar como é difícil fazer um regime ou parar
de fumar. No caso do álcool, a dificuldade é muito maior.
Os alcoólicos Anônimos (AA)
Presentes em 136 países, no Brasil os AA contam com 4 mil grupos, reunindo cerca
de 400 mil alcoólicos.
O grande obstáculo para o tratamento do alcoolismo, como já foi mencionado, é a
dificuldade de o alcoólatra admitir que está doente. Nos grupos de AA, a recuperação dos
alcoólatras se faz em reuniões periódicas, onde cada participante conta suas experiências.
A troca de experiência e o apoio dos membros mais antigos ajudam o doente a se controlar.
AA é uma associação leiga e não busca substituir o tratamento médico, nem
compete com a medicina; dá sua parcela de contribuição para a recuperação do alcoólatra.
“Evita a primeira dose”, é um dos lemas dos AA. O programa de recuperação
baseia-se nos chamados “12 passos”, que transcrevemos a seguir.
1. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido o
domínio sobre nossas vidas.
2. Passamos a creditar que um poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos a
sanidade.
3. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma
em que o concebíamos.
4. fizemos um minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.
5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano a
natureza exata de nossas falhas.
6. Prontificamos-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos
de caráter.
7. Humildemente rogamos a ele que nos livrasse de nossas imperfeições.
8. Fizemos uma relação de todas as pessoa a quem tínhamos prejudicado, e nos
dispusemos a reparar os danos e elas causados.
9. Fizemos reparações dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo
quando faze-las significaria prejudica-las ou a outrem.
10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o
admitíamos prontamente.
11. Procuramos, através de prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente
com Deus, na forma em que o concebíamos, rogando apenas o conhecimento de sua
vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade.
12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a esses passos, procuramos
transmitir esta mensagem aos alcoólatras e praticar esses princípios em todas as nossas
atividades.
Concluindo, diríamos que a libertação da doença do alcoolismo só acontece num
compromisso solidário. É sempre mais fácil criticar do que arregaçar as mangas e colocar a
mão na massa.
Todos somos responsáveis. A comunidade cristã profética é aquela que cuida dos
seus membros doentes, também dos alcoólatras.
Léo Pessini, sacerdote camilianos, capelão do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo.
Enfocando o não verbal
Nossa vivência nos permite afirmar que não é habito, entre o pessoal de saúde,
validar a comunicação com seus clientes. Há pessoas competentes em procedimentos
técnico-científicos de sua especialidade, mas que têm dificuldade em interagir com seus
clientes. Temos ouvido várias vezes de profissionais de saúde, principalmente médicos e
enfermeiras: “Não consigo me fazer entender ...”, “dei toda a orientação, não sei porque
não seguiu...”, “Ela não segue o que é explicado...”, “Não sei mais o que fazer, ela não
colabora com o tratamento...”
A não validação da comunicação havida entre as pessoas é uma das causas de falta
de compreensão do que é expresso entre elas.
Presenciamos, as vezes, perguntas como “O senhor compreendeu o que foi dito?”,
“Tudo certo?”, “Entendeu tudo?” O paciente diz “sim”, “tudo bem”. Estamos cientes que
não é este o modo mais adequado de se validar a comunicação; sabemos que existem
técnicas que nos orientam sobre como validar a mensagem recebida, e que a leitura dessa
mensagem não pode ser feita apenas pelo que o paciente “diz”.
Os profissionais de saúde talvez não estejam cientes da importância da sua
comunicação na relação com os pacientes, nem alertados para o calor da coerência entre
comunicação verbal e não verbal.
Se acreditamos que é tarefa do profissional de saúde decodificar, decifrar e perceber
a significação da mensagem que o paciente nos envia, para poder estabelecer um plano de
tratamento e cuidados adequados e coerente com as necessidades demonstradas por ele,
sentiremos a importância de conhecer e estar atentos às comunicações verbal e não verbal
emitidas por ele e por nós durante a interação.
A rotina do dia-a-dia inibe a percepção e, para que possamos interpretar os atos
verbos-gestuais do paciente, precisamos nos assumir como produtor consciente de
linguagem e como elemento transformador, intérprete de mensagens.
Vários autores afirmam que não é possível entendermos a comunicação sem
entendermos como ocorre a percepção. A percepção pode ser definida como um processo
de reconhecimento através dos sentidos. Não implica só na estimulação sensorial, mas na
organização de forças dentro do sistema nervoso, recolocação de experiências passadas e o
aparecimento de uma resposta. Portanto, o “como” nós fazemos uso dos vários tipos de
comunicação depende da nossa capacidade de perceber todos esses dados. Afirmam, ainda,
que a comunicação é mais efetiva quando as mensagens não verbais são reconhecidas e
interpretadas adequadamente, e que usamos os cinco sentidos (visão, audição, gustação ,
olfato e tato) para percebe-la.
É essencial compreendermos que o como o paciente percebe o que está acontecendo
influenciará sua consulta mais do que o que está realmente acontecendo.
O uso dos cinco sentidos facilita a compreensão da comunicação não verbal dos
outros, tornando mais precisa a identificação de suas necessidades. Mas, para se usar a
comunicação não verbal efetivamente, é importante compreende-la.
A comunicação pode ser dividida em verbal e não verbal. A comunicação verbal é
entendida como aquela associada às palavras expressas, e a não verbal, a que inclui todas as
formas de comunicação que não envolvam as palavras expressas.
Não existe a comunicação verbal sozinha nos relacionamento interpessoais; a
mensagem transmitida é sempre uma interação entre a comunicação verbal e a não verbal.
Os autores inclusive afirmam que dois terços do que ocorre numa relação interpessoal é
comunicação não verbal, sendo apenas um terço verbalizado!
Kurtz e Prestera dizem que o corpo não mente; que sua cor, postura, movimento,
tensões e vitalidade expressam o interior da pessoa. Que o corpo conta coisa sobre a nossa
história emocional e nossos sentimentos mais profundos, nossa personalidade, e que esses
sinais são uma linguagem clara para aqueles que aprenderam a lê-los.
A comunicação não verbal é a que retrata mais fielmente os sentimentos das
pessoas, porque o controle consciente é menor. Podemos incluir na comunicação não verbal
a postura, os gestos, o toque, a aparência física, as expressões faciais, os Sinai vocais e a
distância entre as pessoas.
Segundo Edwards e Brilhart, são oito os tipos de sinais não verbais:
1.
Sinais vocais ou paralinguísticos. Independentes dos fonemas que
compõem as palavras, os sinais paralinguísticos demonstram sentimentos,
características da personalidade, atitudes, relacionamento interpessoal e
autoconceito. Citam, como exemplo, as formas de se dizer a palavra
“não”. Os sinais paralinguísticos são fornecidos pelo ritmo da voz,
intensidade, grunhidos, ruídos vocais de hesitação e por tosses provocadas
por tensão. O sentimento “dúvida”, muitas vezes, é identificado por sinais
paralinguísticos como “eh”, “uhn”, “ahn”...
2.
Gestos ou movimentos. São os movimentos visíveis das diferentes partes
do corpo, principalmente das expressões faciais, desde o movimento dos
olhos, boca e sobrancelhas até a movimentação dos braços, pernas, dedos
etc. Quanto mais encoberto for o sinal - um leve tremor nos mãos, por
exemplo – mais difícil é encontrá-lo no nível consciente.
O olhar merece destaque na área da face pela gama de sinais que ele pode emitir.
Alguns autores consideram que, somente quando duas pessoas se olham diretamente
nos olhos, é que existe uma base real de comunicação.
3.
Postura ou ângulo do corpo. É a posição corporal diante de outra pessoa
ou objeto. Implica na permanência, por algum tempo, da posição corporal.
Pode-se detectar interesses, rejeição, desprezo pelo ângulo do corpo das
pessoas envolvidas numa relação. Imagine, por exemplo, duas pessoas
sentadas conversando, estando uma inclinada e tencionada para frente, e a
outra recostada confortavelmente e olhando para outro lado.
4.
O toque. O modo como ele ocorre está relacionado com o espaço pessoal,
a pressão exercida na outra pessoa, o ambiente, a cultura dos
comunicadores, a idade, o sexo e as expectativas do relacionamento.
Quando tocada, a pessoa pode perceber pressão, temperatura e dor.
Estudos recentes em enfermagem demonstram que sentimentos e energia
são transmitidos pelo toque. Tocar também pode ser visto como sinal de
status e poder, pois é invadir o espaço pessoal das pessoas. Pode ser
considerado uma deferência (o superior tocar o subordinado) ou uma falta
de deferência para com o outro (tocar e expor um paciente na presença
dos demais), dependendo de onde e como ocorre o toque. Steinberg
afirma que a pessoa muito insegura precisa tocar seu interlocutor
periodicamente para se assegurar de que está recebendo a atenção
desejada.
5.
O espaço. A distância mantida entre os comunicadores pode indicar o
tipo de relação que existe: diferença de “status”, papéis, preferências ou
simpatias e relação de poder. Todos temos um espaço a nossa volta que
consideramos como sendo “nosso”. Territoriedade pode ser definida como
sendo o desejo que as pessoas têm de controla o uso do espaço definido
como seu; por exemplo, sentar-se na “sua” cadeira de sala de aula.
Carvalho, na sua tese de doutorado, conclui que a necessidade territorial
continua presente e acontece na hospitalização.
6.
Objetos e adornos. Muitos são os objetos que servem de sinal. O
autoconceito pode ser percebido através de jóias, roupas, automóvel, tipo
de cabelo, ente outros. As relações podem ser identificadas pela aliança,
roupa branca, crachá. No hospital, muitas vezes, descaracterizam-se as
pessoas, tirando-lhes objetos de identificação pessoal, dos quais, às vezes,
nunca se despojaram.
7.
Tipo de corpo. Existem estudos relatando que a percepção das diferentes
partes do próprio corpo influi no auto-conceito e na relação com os
outros. Pessoas que sofrem alguma mudança em sua aparência mostramse menos confiantes e mais ansiosas no relacionamento com os demais. A
própria aparência e forma de um corpo já nos trazem sinais como: faixa
etária, sexo, origem étnica e social, estado de saúde e até caráter. Muitos
trabalhos analisam as partes do corpo no seu formato por si só ou na
relação com as outras partes, por exemplo, relacionando o tamanho da
testa com a inteligência.
8.
O momento. A escolha do momento para se dizer alguma frase ou fazer
algum gesto também influi na interpretação da mensagem enviada, além
do “intervalo” dado entre as mensagens. Os mesmos autores, Edwards e
Brilhart, dão como exemplo a reação de um paciente que toca a
campainha no hospital e é atendido cinco segundos ou cinco minutos
depois. Esta diferença de tempo pode ter um significado diferente para o
paciente. Nossa expectativa é diferente ao atendermos um telefone em
nossa casa que toca às 3 horas da tarde ou às 3 horas da manhã.
Se aceitarmos que o homem é um ser físico-mental-emocional-espiritual
indissolúvel, conhecer e perceber os sentimentos das pessoas com as quais interagimos ou
atendemos é fundamental. É através da compreensão mais exata do outro que percebemos
suas necessidades, passamos a entende seus atos e abrimos portas para relações
interpessoais significativas.
É sabido que nenhuma pessoa pode simultaneamente notar todas as partes do corpo
do outro, porém é o somatório dos vários sinais que nos dá um significado para a
mensagem recebida.
Podemos começar a ler de maneira consciente a comunicação não verbal se
lembrarmos sempre do princípio básico de que o indivíduo não pode não se comunicar,
portanto todo comportamento numa situação interacional tem valor de mensagem.
Perguntem-se sempre: qual é essa mensagem?
Para Reflexão
 Quando a comunicação interfere na qualidade das relações humanas?
 Que função tem a comunicação não verbal nas internações hospitalares?
 O que cada um de nós pode fazer para melhorar a própria comunicação?
Maria Júlia Paes da Silva, enfermeira, professora assistente do Departamento de enfermagem
Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da USP.
Aborto, fecundação artificial e adoção.
Nossa repulsa espontânea à lógica nos impede de perceber algumas contradições
talvez nem tanto insanáveis.
Como o imenso Brasil, com menos de 150 milhões de habitantes, pode recusar
modestos alqueires de terra para auto-cultivo a dezenas de milhares de lavradores? Como
justificar tanto malabarismo biológico para fecundações artificiais no Primeiro Mundo, por
parte de casais que desistem de conseguir adotar uma ou outra das dezenas de milhões de
crianças vagantes pelas capitais do Brasil? Crianças carentes estão pelo visto mais bem
protegidas contra qualquer expatriação, que as tiraria de zonas de criminalidade, que contra
a fome e a analfabetismo.
Esta situação não ajuda a diminuir os abortos clandestinos, já que, para os
abortamentos legais, o direito nacional neste ponto é dos mais discretos e razoáveis. A
preocupação humanitária e ética, porém, não se limita a desfrutar de uma honorável
legislação, deve almejar a diminuição real do conjunto dos abortos de todo tipo. Em outras
palavras, os princípios são bons de se defenderem, se, por trás deles, são pessoas humanas
reais que são defendidas.
Será necessário repetir ainda que a moral cristã é totalmente contrária à ligadura
intempestiva das trompas?
Parece que sim, diante do número de mulheres esterilizadas em idade procriativa
(amiúde com suspeita de falta de informação suficiente e de liberdade), beirando a
percentagem de um terço na região de São Paulo, para não falar do Norte.
É um absurdo combater a modernidade no abstrato e globalmente. O certo é
refletirmos criticamente sobre certas situações concretas que ela oferece. Sabemos da
existência de 30 pedidos de adoção na França para cada criança adotável; isto não explica
totalmente, é claro, por que muitas mulheres, razoavelmente situadas, querem um filho ao
se aproximarem dos 40 anos (os 38 anos são reputados o ano decisivo). Até os 30 anos,
quer-se antes de tudo a liberdade para subir na vida e aproveitar-se dela. A partir daí, o
dilema para muitas - biologia esclarecida obriga – é menos a tentação do casamento que da
maternidade, ‘haja ou não um pai a tempo completo, como dizia M., de 37 anos, nesta
situação. De filho “se eu quiser, quando eu quiser”, passou-se a “antes de tocar a hora
fatídica do risco maior”. Não são aí simples suposições; 19,9% das crianças nascidas na
França fora do matrimônio, em 1980, tinham uma mãe de mais de 30 anos; em 1989, eram
46,2%; hoje beiram à metade. A família não pode deixar de refletir o ethos (moral vivida)
do seu momento e lugar.
Diz-se que a fecundação artificial não é um problema brasileiro. Sim e não, porque
os problemas são conexos (muitos carentes na rua favorecem os abortamentos: os
empecilhos cultivados em redor da adoção expressam o pouco caso que se faz do bem
destas crianças, pouco caso confirmado pela evasão escolar, pelo volume da vadiação e o
pouco sustento público dos orfanatos filantrópicos); também porque a elites nacionais
importam rapidamente inovações estrangeiras, ainda que aparentemente fora de contexto.
Seria prematuro sugerir uma lei brasileira sobre novas técnicas de fecundação. Para
os católicos, este setor a rigor não existe, por falta de espaço de moralidade. Tudo
depende,portanto, da ética dos profissionais, especialmente médicos: recusarão
seguramente fazer uma virgem-mãe nacional ou implantar um embrião para uma mulher
solteira menopausada; mas aqui nem é preciso. Para o resto, o poder do dinheiro cresce
quando vê decrescer o poder da moral.
Crianças nas ruas e abortos por falta de condições constituem problemas morais,
sobretudo para aos responsáveis políticos, ainda que valiosas iniciativas privadas enfrentem
o desafio, aqui e acolá, com notável coragem. A esterilização, masculina ou feminina,
depende mais da educação de base, isto é, da educação tout court, sem que nos iludamos
quanto ao peso de outros condicionamentos. Ante tais problemas, com efeito, a catequese
não pode silenciar, como não silencia a Igreja, mas deve ter o realismo dos
encaminhamentos lentos, porque, afinal, a moral é uma pedagogia dos imperfeitos, isto é,
exige tempo e paciência. Revolução da noite para o dia só se efetiva no papel ou no
palanque.
Não poupamos críticas às seitas, mas observamos honestamente os prodígios que
algumas delas obtêm em matéria de ética individual, mesmo se achamos as conquistas de
pouco relevo? Que reforma política dispensa a conversão da ética individual? Como fazem
estas seitas? Nenhuma reforma estrutural atinge seus grandiosos objetivos senão mediante a
colaboração de mudanças individuais do pensar e do agir. Fracassos de diversos planos de
reerguimento sócio-econômico não confirmam isso?
Em todos esses questionamentos a vida está em pauta. Não que estejamos
promovendo a vida física em absoluto, o que não coincidiria com a tradição cristã, ou a de
qualquer religião respeitável. Evidenciam antes a complexidade tanto do fenômeno da vida
humana quanto de seu dirigir ético. Uma questão não resolvida puxa geralmente a atenção
para outras. Até obrigar a um planejamento de conjunto, abraçando mais fatores, sobre mais
tempo, exigindo também maior motivação coletiva.
Hubert Lepargneur, sacerdote camilianos, teólogo moralista, comunidade de São Paulo.
O futuro da geneterapia
De autoria da jornalista Luciana Cersósimo, a “Folha de S.Paulo” publicou, em sua
edição de 22 de fevereiro do corrente ano, interessante artigo, com o título “Salvar vidas
com geneterapia não é antiético, diz cientista americano”. O cientista é Steven Rosenberg,
que –como informa o jornal – aplicou pela primeira vez a geneterapia contra o câncer. O
método desenvolvido pelo pesquisador consiste em injetar no paciente glóbulos brancos,
retirados de seu próprio organismo, mas reprogramados em laboratório para destruir os
tumores.
Basicamente, como explica a publicação, o procedimento retira do corpo do
paciente um tipo especial de glóbulos brancos, chamados linfócitos infiltradores do tumor.
Essas células circulam no sangue e fazem uma espécie de patrulhamento no organismo. Se
percebem algum tumor incipiente, elas se infiltram nele e o destroem. No entanto, se os
tumores são de maior tamanho, os linfócitos não conseguem, normalmente, realizar o seu
trabalho.
Quando reprogramados, já armados com o novo gene produtor de uma toxina
especial, os linfócitos geneticamente tratados são reinjetados no organismo do doente e se
infiltram nele, dissolvendo as células tumorais.
O tratamento de Steven Rosenbeg não foi, porém, a primeira terapia genética,
acrescenta o jornal, indicando que, em setembro do ano passado, Frech Andeson, do
Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue, em Bethesda, nos EUA, usara uma
técnica semelhante para tratar de uma menina. A paciente vivia em uma “bolha de
plástico”, pois seu sistema imunológico não funcionava, tornando-a presa fácil para
qualquer doença.
Aqui, na íntegra, a parte essencial do texto de Luciana:
Steven Rosenbeg é a “última palavra” em engenharia genética. Aos 50 anos, ele é o
cirurgião chefe do Instituto Nacional do Câncer em Betjesda (Maryland, Leste dos EUA).
Depois de 12 anos de pesquisas, conseguiu no dia 30 de janeiro realizar a primeira terapia
genética para tratar de dois pacientes que sofrem de melanoma, um tipo de câncer da pele
que pode ser fatal.
Em entrevistas à “Folha de S.Paulo”, Rosenberg alerta que a geneterapia ainda está
dando os primeiros passos, mas vê com otimismo os avanços do tratamento, já que pode ser
a cura para várias doenças genéticas. Mudar a constituição genética das Pessoas,
responsável por suas características individuais, não lhe parece eticamente questionável,
diante da possibilidade de salvar vidas.
Folha – Como o senhor vê os progressos da terapia genética? Poderia ser vista
como a futura cura do câncer?
Steven – A geneterepia está nos primeiros estágios de seu desenvolvimento. Agora,
não representa a cura para o câncer. E um tratamento experimental e ainda precisa de muito
trabalho adicional. Estamos tratando apenas de dois pacientes com melanoma. Planejamos
realizar a terapia com 50 pacientes, ainda em 91, mas, como estamos no princípio, é
impossível dizer agora se representa ou não um avanço.
Folha – Como estão passando hoje, uma semana após o início do tratamento\?
Esteven – estão bem. Não apresentaram problemas.
Folha – Quanto tempo será necessário para saber se os resultados são positivos?
Steven – Os pacientes recebem injeções duas vezes por semana, em um período de
quatro semanas. Avaliamos que, em dois meses, poderemos ver se mostraram qualquer
evidência de reação.
Folha – Em setembro do ano passado foi realizada a primeira terapia genética, em
uma criança de quatro anos, para tratar da ADA (deficiência de adenosina deaminase, ou
doença da “bolha de plástico”, em que o paciente não tem defesa alguma e o sistema
imunológico é extremamente deficiente). Como é seu estado de saúde, hoje?
Steven – A menina está passando bem. Mas, uma vez mais, ainda é muito cedo para
saber se qualquer desses pacientes está melhor. Muito cedo.
Folha - Em quais outras doenças a geneterapia poderá ser aplicada?
Steven – Além dos pacientes de melanoma, estão sendo feitos muitos testes em
laboratório. A geneterapia não é um tratamento. É uma ferramenta para a introdução de
novos genes dentro de células que tenham alterações em sua função ou para corrigir erros
genéticos em células. Quase todas as doenças genéticas podem ser tratadas assim, Acho que
estamos apenas começando a ver as aplicações e veremos aplicações para muitas outras
doenças no futuro. Mas é importante não ter expectativas irreais. Foram necessários 12
anos de pesquisa, antes de ser aplicada a esses pacientes.
Folha – Qual é a sua expectativa em relação à geneterapia?
Steven – Estou muito otimista. A geneterapia representa uma nova abordagem para
o tratamento de doenças. A maioria das outras abordagens utiliza tratamentos externos,
como cirurgia, medicamentos ou terapia com irradiação. Aqui estamos tentando tratar das
doenças mudando o constituinte mais interno do homem, o genético.
Folha – E quanto ao aspecto ético de alterar a constituição genética das pessoas?
Steven – Sem dúvida, existiriam muitas objeções à geneterapia. Mas estamos
tentando resolver problemas da melhor maneira possível. Uma em cada cinco pessoas que
estão vivas hoje morrerá de câncer, então é obvio que é necessário desenvolver novos
tratamentos. Devemos explorar todas as possibilidades. A engenharia genética representa
uma via muito excitante para o tratamento de doença no futuro.
Folha – Quanto tempo foi necessário para obter autorização para a aplicação da
geneterapia para o câncer?
Steven – Cerca de oito ou nove meses. Mas considere que trabalho na área há 2
anos.
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