Vesperata em Diamantina

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Gabinete do Deputado CARLOS MOTA - PL/MG
Vesperata em Diamantina
Senhor presidente,
Senhoras e senhores deputados,
Venho mais uma vez a esta tribuna fazer uma confissão pública do meu
amor por Minas Gerais. Cada cidade, cultura, peculiaridade, me encantam. Participar
de eventos festivos, culturais, reviver fatos históricos, estar com os mineiros, são
momentos de regozijo absoluto para mim. Num cotidiano tão cibernético, impessoal,
atribulado, é muito gratificante para a alma e mente assistir, por exemplo, a uma
Vesperata em Diamantina.
Seguindo a tradição das serenatas, Diamantina inovou com a Vesperata,
cujo nome é uma adaptação dos termos vésperas e matinada; sendo este último
referente às matinas eclesiásticas, que antecediam habitualmente as missas das almas.
De acordo com Monsenhor Walter Almeida, Major Capelão da Polícia Militar, as tardes
em Diamantina eram verdadeiras “tardes vesperais”. Entre suas observações históricas
destacou aquelas relativas às reuniões musicais vespertinas no seio das famílias
diamantinenses, originadas na tradição inglesa de se tomar chá aos finais de tarde.
A Vesperata tem como palco a Rua da Quitanda. Das sacadas e janelas
dos casarios, a Banda de Música do Terceiro Batalhão da Polícia Militar e a Banda
Mirim Prefeito Antônio de Carvalho Cruz encantam turistas e cidadãos diamantinenses.
Os maestros regem do centro da rua, misturando-se às centenas de pessoas que, em
mesas distribuídas na calçada, apreciam também bebidas e petiscos típicos da região.
O evento é belíssimo e atrai turistas do Brasil e exterior, lotando os hotéis e as
pousadas da cidade.
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Vou me permitir fazer uma breve referência à história da Vesperata,
usando como fonte o estudo de um amigo historiador diamantinense, Antônio Carlos
Fernandes. A Vesperata tem origem no século XVIII quando as Irmandades
contribuíram para o reconhecimento e a manutenção da música como um ofício
consolidado e seguro para o músico setecentista na Capitania das Minas Gerais. Esse
mesmo processo foi similar no Arraial do Tijuco, atual Diamantina. Naquela época eram
encomendadas músicas aos mestres de ofício das festas religiosas, alvoradas,
ladainhas, novenas, etc.
Sustentado por uma vigorosa economia mineradora, diamantífera e
aurífera, um ambiente musical intenso e poderoso desenvolveu-se no Arraial. A criação
de um Bispado em Diamantina, em meados do século XIX, e a eleição de um bispo,
aprofundou a ação do clero regular na cidade, impondo limites ao livre funcionamento
das Irmandades, subordinadas agora às normas de conduta determinadas por aquela
instituição. Diamantina, já emancipada desde 1838, testemunhou sua Câmara
Municipal editar um Código de Posturas Municipais que tinha por objetivo disciplinar
seu ordenamento urbano de então.
O advento dessas novas relações no domínio da esfera pública e a
criação do Bispado foram fatores determinantes para o esvaziamento nas funções e no
cotidiano das Irmandades, diminuindo sua capacidade financeira de continuar
oferecendo estabilidade e segurança ao ofício de músico no antigo Tijuco. Tal situação
acelerou o amadorismo que cercou o músico diamantinense ao longo dos séculos XIX e
XX. No entanto, a musicalidade da cidade não foi ofuscada, pois o rico passado musical
permaneceu como legado às gerações futuras. Exemplo da preservação dessa
qualidade musical pode ser ilustrado com o Maestro Francisco Nunes Junior,
diamantinense que fundou a Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro em 1922 e o
Conservatório Mineiro de Música em 1924.
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A cidade ainda cultiva, nos dias atuais, a paixão pelo piano, instrumento
presente e vivo no cotidiano das famílias. Diamantina possui um número expressivo de
músicos hábeis que primam pelo bom gosto e executam Jazz, Fox, Bolero, Valsa,
Bossa Nova, Samba, Chorinho, Serenata.
As bandas de música criadas no século XIX em Diamantina exerceram
papel fundamental para a preservação da musicalidade tijuquense, ao absorverem
inúmeros músicos, principalmente porque assumiram a responsabilidade de funcionar
como uma escola para capacitação do músico aprendiz. A Banda do então 4º Corpo
Militar em Diamantina, criada em 1891, manteve a tradição de desempenhar essa
função.
A execução de retretas era prática comum às bandas naquele tempo,
atividade que ajudou a delinear a educação artística da população. Quando João
Batista de Macedo, o Maestro Piruruca, foi regente da Banda Militar, introduziu uma
inovação durante suas retretas, que eram executadas no coreto existente na praça em
frente ao atual prédio da Prefeitura de Diamantina. A música “La Mezza Notte”, de
autoria de M. D. Carline, possuía uma linha de composição que o inspirou a destacar os
blocos de solistas nas sacadas e janelas dos casarões da antiga praça, para executála. Esta música é uma fantasia, onde há a impressão de que os músicos praticam uma
provocação musical, com destaque para os trompetes, trombones e bombardinos.
A atitude do Maestro Piruruca, em destacar os solistas nas sacadas, foi
proporcionada pela melodia dessa música. A disposição peculiar dos músicos,
separados em blocos pelos sobrados da cidade, foi sendo repassada entre os maestros
da regência da Banda Militar. E assim, as belas Vesperatas de Diamantina se
perpetuaram. Ressalto a importância que teve o Professor Erildo do Nascimento no
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processo de fixação da Vesperata na agenda cultural de Diamantina, pois num
momento de esfriamento das tardes musicais, foi ele quem a redescobriu e realizou as
suas primeiras apresentações.
Senhor presidente, gosto sempre que possível enfatizar traços da nossa
cultura, tradições, história. Meio à efervescência dos trabalhos nesta Casa, creio ser
valioso dedicar espaço para mostrar o que temos de bom em nossa terra. Deixo
registrado nos anais da Câmara dos Deputados minha satisfação em conhecer e ser
uma grande admirador da nossa arte e, neste discurso, em especial, das tardes
vesperais de Diamantina.
Deputado Carlos Mota
Vice-líder do PL
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