cânon - Ministerio Nova Alianca

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PLANO DE AULA APOSTILADO
Escola Superior de Teologia do Espírito Santo
Bibliologia
Visão panorâmica e aspectos da formação da Bíblia
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BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.
Todas as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Versão
Almeida Corrigida e Fiel(ACF)
©2008, publicada pela Sociedade Bíblica Trinitariana,
e da Bíblia King James (Tradução em português do Novo
Testamento)©2008, publicada pela Sociedade Ibero-americana da
Bíblia, salvo indicação em contrário
O presente material é baseado nos principais tópicos e pontos salientes da matéria em questão.
A abordagem aqui contida trata-se da “espinha dorsal” da matéria. Anexo, no final da apostila,
segue a indicação de sites sérios e bem fundamentados sobre a matéria que o módulo aborda,
bem como bibliografia para maior aprofundamento dos assuntos e temas estudados.
TEOLOGIA DO ES, Escola Superior de - Título original: Bibliologia, Visão panorâmica e aspectos
da formação da Bíblia – Espírito Santo: ESUTES, 2004.
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES
2
_______
_______
SUMÁRIO
_______
UNIDADE I
A BÍBLIA COMO LIVRO
Introdução.........................................................................................................................................................4
A escrita e estrutura da Biblia...........................................................................................................................5
O Antigo Testamento........................................................................................................................................8
O Novo Testamento........................................................................................................................................12
O tema central da Bíblia..................................................................................................................................15
UNIDADE II
A BÍBLIA COMO A PALAVRA DE DEUS
A inspiração da Bíblia....................................................................................................................................17
Teorias sobre a inspiração da Bíblia...............................................................................................................24
Provas da inspiração da Bíblia........................................................................................................................25
UNIDADE III
O CÂNON DA BÍBLIA E SUA EVOLUÇÃO
O Significado da palavra “CÂNON”................................................................................................................27
O Cânon do Antigo Testamento......................................................................................................................27
O Cânon do Novo Testamento........................................................................................................................28
Os livros apócrifos do NT...............................................................................................................................29
UNIDADE IV
A PRESERVAÇÃO DA BÍBLIA E SUAS TRADUÇÕES
A Septua Ginta................................................................................................................................................32
As principais traduções da Bíblia para o inglês...............................................................................................33
As principais traduções da Bíblia para o português........................................................................................34
A Bíblia no Brasil.............................................................................................................................................35
APÊNDICE
O Período Interbíblico.......................................................................................................................................35
Período Babilônico............................................................................................................................................39
Período Medo-Persa.........................................................................................................................................42
O período Greco-Macedônia............................................................................................................................43
O período Macabeu..........................................................................................................................................44
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................................................46
BIBLIOGRAFIA
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES
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UNIDADE I
A BÍBLIA COMO LIVRO
...............................................................
“Através da Bibliologia compreendemos a formação da Bíblia, sua história e como miraculosamente ela chegou
até nós”
..............................................................
INTRODUÇÃO
A Bíblia é um livro singular, inspirado por Deus. Escribas, Sacerdotes, Reis, Profetas e Poetas,
homens das mais diversas culturas a escreveram, num período aproximado de 1.500 anos. Foram mais
de 40 pessoas a escreverem as páginas da Bíblia e notadamente vê-se a mão de Deus na sua unidade.
Estes textos foram copiados e recopilados de geração para geração em diversos idiomas, tais como:
Hebraico, Aramaico e grego; até chegar a nós. A Bíblia em sua forma original é desprovida das
divisões de capítulos e versículos. Para facilitar sua leitura e localização de "citações” a divisão da
Bíblia em capítulos foi feita em 1250, pelo cardeal Hugo de Saint Cher, abade dominicano e estudioso
das escrituras. Apenas mais tarde foi dividido em versículos. Em 1445 o A.T. foi dividido em
versículos pelo Rabino Nathan. O N.T. foi em 1551 por Robert Stevens, um impressor de Paris. Até a
invenção da gráfica por Gutenberg, a Bíblia era um livro extremamente raro e caro, pois eram todos
feitos artesanalmente (manuscritos) e poucos tinham acesso às Escrituras. A Bíblia é composta de 66
livros, 1.189 capítulos, 31.173 versículos, mais de 773.000 palavras e aproximadamente 3.600.000 letras.
Encontra-se traduzida em mais de 1000 línguas e dialetos, o equivalente a 50% das línguas faladas no
mundo. Há uma estimativa que já foi comercializado no planeta milhões de exemplares entre a versão
integral e o NT. Mais de 500 milhões de livros isolados já foram comercializados. Afirmam ainda que a
cada minuto 50 Bíblias são vendidas, perfazendo um total diário de aproximadamente 72 mil
exemplares! O estudo da Bibliologia auxilia grandemente a compreensão dos fatos bíblicos. Ela nos
mostra, por exemplo, como a Bíblia chegou até nós. Pela Bíblia Deus fala em linguagem humana, para
que o homem possa entendê-lo. Por isso ela faz alusão a tudo que é terreno e humano. Ela menciona
países, rios, mares, plantas, comércio, dinheiro, produtos, costumes, raças, usos, línguas, etc. O autor
da Bíblia é Deus, mas os escritores foram homens. Na linguagem figurada de diversas partes da Bíblia
o próprio Deus age e é descrito como homem. É comum, por exemplo, encontrarmos na Bíblia
antropopatismos (Ato de atribuir sentimentos humanos a Deus. Ex.: A ira de Deus, Deus arrependeuse, etc.) e antropomorfismos (Ato de atribuir formas humanas a Deus. Ex: Os olhos de Deus, a mão do
Senhor, etc.). A Bíblia chega a esse ponto para que o homem melhor compreenda o que Deus quer lhe
dizer.
A BIBLIOLOGIA ESTUDA A BÍBLIA SOB OS SEGUINTES ASPECTOS:
• Sua estrutura, considerando sua divisão, classificação dos livros, capítulos, versículos,
particularidades e tema central.
• A Bíblia como livro divino.
• O Cânon sagrado: sua formação e transmissão até nós.
• A preservação e tradução do texto bíblico. Isso aborda as línguas originais e os manuscritos bíblicos.
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES
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• Inclui também elementos de história geral da Bíblia, inclusive o período interbíblico, e auxílios
externos no estudo da Bíblia: geografia bíblica, usos e costumes orientais, sistemas de medida, peso e
moeda, história das nações antigas, estudo dos personagens e dificuldades bíblicas.
A ESCRITA DA BÍBLIA E SUA ESTRUTURA
O vocábulo “Bíblia”
O vocábulo “Bíblia” vem do grego, língua original do Novo testamento. Deriva do vocábulo grego
“Biblos”. Um rolo de papiro de tamanho pequeno era chamado “Biblion”, e vários destes eram uma
“Bíblia”. Portanto, literalmente, a palavra Bíblia quer dizer “coleção de livros pequenos”.
A escrita da Bíblia
A Bíblia foi originalmente escrita em forma de rolo, sendo cada livro um rolo. Assim, vimos que os
livros sagrados não estavam unidos como os temos hoje. Isso só foi possível com a invenção do papel
no século II pelos chineses, bem como a invenção do prelo em 1450 pelo alemão Gutenberg. Os livros
antigos tinham forma de rolo (Jr 36.2). Eram feitos de papiro ou pergaminho. Ainda hoje, devido aos
ritos tradicionais, os rolos sagrados das escrituras hebraicas continuam em uso nas sinagogas judaicas.
MATERIAIS EMPREGADOS NA REDAÇÃO DA BÍBLIA
Papiro
O papiro é uma planta aquática que cresce junto a rios, lagos e banhados no oriente, cuja entrecasca
servia para escrever. Essa planta ainda existe no Sudão, na Galiléia superior e no vale de Sharom. Seu
uso na escrita vem de 3.000 a.C. A impossibilidade de recuperar muitos dos antigos manuscritos (um
manuscrito é, neste sentido, uma cópia à mão das Escrituras) se deve basicamente aos materiais
perecíveis empregados na escrita da Bíblia. Dentre os antigos materiais de escrita, o mais comum era o
papiro, feito da planta do mesmo nome. Esse junco crescia nos rios e lagos de pouca profundidade,
existentes no Egito e na Síria. Grandes carregamentos de papiros eram despachados através do porto
sírio de Byblos. Supõe-se que a palavra grega para livro (biblos) tenha origem no nome desse porto. A
palavra portuguesa "papel" vem da palavra grega papyros, isto é, papiro. The Cambridge History ofthe Bible
(A História da Bíblia, de Cambridge) relata como se preparava o papiro para a escrita: “Retiravam-se as
películas que envolvem o caule. Essas películas eram cortadas no sentido longitudinal em fitas estreitas,
sendo então socadas e prensadas em várias camadas, sendo que cada camada era disposta
perpendicularmente em relação à camada de baixo. Quando seca, a superfície esbranquiçada era polida
com uma pedra ou outro objeto. Plínio menciona diversos tipos de papiro que foram achados, de
diferentes espessuras e superfícies, produzidos antes do período do Novo Império, quando as folhas
eram freqüentemente bem delgadas e translúcidas". O mais antigo fragmento de papiro de que se tem
notícia é de 2400 antes de Cristo. Os mais antigos manuscritos foram escritos em papiro, e era difícil a
preservação de qualquer um desses papiros, exceto em regiões secas, como as áreas desérticas do Egito,
ou em cavernas semelhantes às de Qumran, onde foram achados os rolos do mar Morto. O uso do
papiro era bem comum até por volta do século terceiro depois de Cristo.
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Exemplos de papiro manuscristo
Papiro ainda em forma de planta
Pergaminho
O pergaminho é de pele de animais geralmente cabra ou carneiro e seu uso é mais recente; vem dos
primórdios da era cristã. É um material gráfico superior ao papiro. Essa palavra designa "peles
preparadas de ovelhas, cabras, antílopes e outros animais". Essas peles eram "tosadas e raspadas" a
fim de se obter um material mais durável para a escrita. F.F. Bruce escreve que a palavra "pergaminho”
tem origem no nome da cidade de Pérgamo, na Ária Menor, pois a produção desse material para escrita
esteve, numa certa época, especialmente associada ao local".
Velino
Era o nome dado à pele de filhotes de diversos animais. Freqüentemente o velino era atingido de
púrpura. Alguns dos manuscritos que temos hoje em dia são velino cor-de-púrpura. Geralmente os
caracteres escritos sobre o velino purpúreo eram prateados ou dourados. Os mais antigos rolos de
peles de animais são de aproximadamente 1500 antes de Cristo.
Outros Materiais para Escrita
Ôstraco - Fragmento de cerâmica não-esmaltada, bastante usado entre o povo em geral. Esses
fragmentos têm sido encontrados em abundância no Egito e na Palestina (Jó 2.8).
Tabletes de argila
Inscritos com um instrumento pontiagudo e, então, secados a fim de se ter um registro definitivo
(Jeremias 17.13; Ezequiel 4.1). Eram os mais baratos e um dos mais duráveis materiais para escrita.
Tabletes de cera
Um estilete de metal era usado para escrever num pedaço plano de madeira recoberto com cera.
INSTRUMENTOS PARA A ESCRITA
Cinzel
Um instrumento de ferro para entalhar as pedras.
Estilete de Metal
"Usava-se o estüeto, um instumento triangular com uma cabeça plana, para fazer marcas nos tabletes
de argila e de cera".
Pena
Era feita de "juncos (juncus maritimis), com 15 a 40 centímetros de comprimento, sendo que uma das
extremidades era cortada de modo a produzir o formato de cinzel achatado, a fim de que se pudesse
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fazer traços grossos ou finos com as beiradas largas ou estreitas. A pena de junco esteve em uso na
Mesopotâmia desde o início do primeiro milênio (a.C), sendo que é bem possível que tenha sido
adotada em outros lugares, enquanto que a idéia de uma pena de ave parece ter vindo dos gregos, no
século três a.C. (Jeremias 8.8). A pena era usada para escrever em velino, pergaminho e papiro. A tinta
geralmente era uma mistura de "carvão, cola e água".
AS FORMAS DOS LIVROS ANTIGOS
Rolos
Eram folhas de papiro coladas uma ao lado da outra, formando longas tiras, e, então, enroladas num
bastão. O tamanho do rolo era limitado por causa da dificuldade de seu uso. Geralmente se escrevia só
de um lado. Um rolo escrito dos dois lados tem o nome de "opistógrafo" (Apocalipse 5.1). Conhecem-se
alguns rolos com 43 metros de comprimento, mas em geral, os rolos tinham entre seis e dez metros. Não
é de surpreender que Calímaco, pessoa cuja função consistia em catalogar os livros da biblioteca de
Alexandria, tenha dito que "um livro grande é um grande transtorno".
Forma de códice ou livro
A fim de tornar a leitura mais fácil e menos desajeitada, as folhas de papiro foram montadas em forma
de livro, sendo escritas em ambos os lados. Greenlee afirma que o cristianismo foi o principal motivo
para o desenvolvimento de formato do códice, ou volume manuscrito antigo. Os escritores clássicos
escreveram em rolos de papiro até aproximadamente o século três depois de Cristo.
TIPOS DE ESCRITA
Escrita uncial
Letras maiúsculas deliberadas e cuidadosamente desenhadas, própias para livros. Os códices Vaticano e
Sinaítico são manuscritos unciais.
Minúscula Carolina
"Uma escrita de letras menores, cursivas, criadas com vistas à produção de livros". A mudança de unciais
para minúsculas teve início no século nove. Os manuscritos gregos eram escritos sem quaisquer
espaços entre as palavras. (Até 900 AD. o hebraico era escrito sem vogais, quando os massoretas
introduziram a vocalização.) Bruce Metzger responde o seguinte àqueles que falam da dificuldade de
um texto contínuo: "Não se deve, todavia, pensar que essas ambigüidades ocorram com muita
freqüência no grego. Nessa língua a regra é que, com bem poucas exceções, as palavras vernáculas só
podem terminar em vogai (ou em ditongo) ou em uma dentre três consoantes: n, r e s (ni, rô e sigma)
Além do mais, não se supõe que a escrita contínua apresentasse dificuldades excepcionais na hora da
leitura, pois, na antigüidade, aparentemente era costume ler em voz alta, mesmo quando se estivesse
sozinho. Assim, apesar da inexistência de espaço entre as palavras, ao pronunciar, sílaba por sílaba, o
que estava lendo, a pessoa logo se acostumava a ler o texto em escrita contínua".
AS LÍNGUAS DA BÍBLIA
O estudo das diversas línguas é interessante e de muito proveito. As línguas estão sempre se
modificando e mudando com o desenvolvimento dos povos e inter relacionando as nações. Será
necessário que reconheçamos isto neste estudo. Deus não inspirou a Bíblia na língua portuguesa,
embora tenhamos a Bíblia inspirada em vernáculo nosso. Originalmente a Bíblia fora escrita em três
línguas, a saber: hebraica, aramaica e grega. Esta era a língua do Novo testamento. Alguns
comentadores dizem que provavelmente Abraão deixou de usar a velha língua semítica — A caldaica
— a qual era a da sua própria terra (Gn 12.1-5), quando saiu de Ur, e adotou a língua dos cananeus,
em cujo meio foi morar. A sua descendência — os hebreus — mais tarde, durante o cativeiro em
Babilônia, deixou de falar a língua hebraica e adotou a caldaico-aramaica, a qual continuou a ser falaESUTES – Escola Superior de Teologia do ES
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da até os tempos de Jesus Cristo. Esta língua cananéia, que Abraão usou, era, provavelmente, a mesma
ou alguma forma dela, que foi conhecida mais tarde como hebraica. Parece que a língua hebraica foi
chamada “a língua de Canaã” (Is 19.18). Algumas das tabuinhas de Tel-el-Amarna, descobertas em
1887 no Egito, assim chamadas pelo nome do lugar em que foram achadas, com data de 400 anos mais
ou menos depois de Abraão, são escritas em boa língua cananéia ou língua hebraica.
A Língua do Velho Testamento
Com poucas exceções, o Velho Testamento foi escrito na língua hebraica. Esta era a língua do povo de
Israel e é chamada “a língua judaica” (II Reis 18.26). Esta língua continuou a ser falada e escrita pelos
hebreus até o cativeiro, quando adotaram a aramaica ou siríaca, a qual é um dialeto da hebraica.
Devido a esta mudança de língua, os versados na língua hebraica podem descobrir três períodos em
que se divide a história do desenvolvimento dela. Cada período é distinguido pelo seu estilo e
idioma.O período em que foi escrito o Pentateuco, é o da língua hebraica falada no tempo de Moisés.
O período em que a língua alcançou o ponto do seu maior desenvolvimento em pureza e refinamento.
Neste foram escritos os livros de Juízes, Samuel, Reis, Crônicas, Salmos dê Davi, Provérbios e os
demais livros de Salomão e as profecias de Isaías, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum
e Habacuque. O período em que foram escritos os demais livros de profecias, assim como os de Ester,
Esdras e Neemias. Durante esta época, palavras, frases e idiotismos de línguas estrangeiras tinham
sido incorporados à hebraica da segunda época, em conseqüência da comunicação dos judeus com as
nações vizinhas. As passagens do Velho Testamento que não são escritas em hebraico são as seguintes:
Esdras 4.8 a 6.18 e 7.12-26, Jeremias 10.11 e Daniel 2.4 a 7.28. Estas são escritas no dialeto caldaico. Este
fenômeno se explica pela residência de Daniel e Esdras na Babilônia e as suas relações com os
governadores desses países.
A Língua do Novo Testamento
Os livros do Novo Testamento foram escritos originalmente na língua grega, conhecida como
helênica, porque os gregos eram chamados helenos ou o povo de Helas. Depois da grande conquista
de Alexandre Magno, rei da Macedônia, filho de Filipe e de Olímpia, a língua grega, numa forma
helênica, espalhou-se em toda parte do Egito e do Oriente, e tornou-se a língua vernácula dos hebreus
que residiam nas colônias de Alexandria e outras partes. A Bíblia contém 66 livros e divide-se em duas
partes principais: o Antigo Testamento e o Novo Testamento. O Antigo Testamento tem 39 livros e o
Novo Testamento 27. Os 66 livros foram escritos num período de aproximadamente 1.500 anos por
mais de 40 gerações. Os escritores pertenceram às mais variadas profissões e atividades, viveram e
escreveram em continentes, regiões e países distantes uns dos outros e em épocas diversas. Mesmo
assim, seus escritos formam uma harmonia perfeita. Foi escrito por mais de 40 escritores, envolvidos
nas mais diferentes atividades, inclusive reis, camponeses, filósofos, pescadores, poetas, estadistas,
estudiosos, etc.
O ANTIGO TESTAMENTO
Com 39 livros, foi originalmente escrito em hebraico, com algumas pequenas partes em aramaico. O
aramaico foi a língua que Israel trouxe do cativeiro babilônico. Era a língua que se falava em toda a
Mesopotâmia, e foi durante muitos anos a língua internacional do comércio. Era também conhecida
com siríaco e caldaico e tinha praticamente a mesma estrutura do hebraico. Há também na Bíblia,
algumas palavras persas. Podemos dividir os livros do A.T. em, Livros da lei ou Pentateuco são cinco:
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio. Tratam do início de todas as coisas, da lei e do
estabelecimento da nação de Israel.
Livros Históricos
São doze: Josué, Juízes, Rute, I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crônicas, Esdras, Neemias, Ester.
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES
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Trata da história de Israel em seus vários períodos. Teocracia, sob os juízes. Monarquia, Sob Saul, Davi
e Salomão. Divisão do reino depois da morte de Salomão, cativeiro e período pós-exílio.
Livros Poéticos
São cinco: Jó, Salmos, provérbios, Eclesiastes, cantares de Salomão.
São chamados poéticos devido à sua construção literária.
Livros Proféticos
São dezessete: Profetas maiores (cinco): Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel, Daniel.
Profetas menores (doze): Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias,
Ageu, Zacarias, Malaquias.
LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
Lei (Pentateuco) – 5 livros
Poesia – 5 livros
1. Gênesis
2. Êxodo
2. Salmos
3. Levítico
3. Provérbios
4. Números
4. Eclesiastes
5. Deuteronômio
5. O Cântico dos Cânticos
Historia – 12 livros
Profetas – 17 livros
A. Maiores
B. Menores
1. Josué
2. Juízes
1. Isaías
1. Oséias
3. Rute
2. Jeremias
2. Joel
4. 1Samuel
3. Lamentações
3. Amós
5. 2Samuel
4.
Ezequiel
4. Obadias
6. 1Reis
5. Daniel
5. Jonas
7. 2Reis
6. Miquéias
8. 1Crônicas
7. Naum
9. 2Crônicas
8. Habacuque
10. Esdras
9. Sofonias
11. Neemias
10. Ageu
12. Ester
11. Zacarias
12. Malaquias
A classificação dos livros do A.T. como conhecemos, por assunto, não levando em conta a ordem
cronológica dos livros, vem da Septuaginta. Calcula-se, por exemplo, que Jó seja o mais antigo dos
livros da Bíblia. Na Bíblia em hebraico (chamada Tanach) a divisão dos livros é bem diferente: Leis,
escritos e profetas. Abaixo encontramos a divisão dos livros do Antigo Testamento na Tanach.
Lei (Em hebraico Torah), que compreende os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números, Deuteronômio.
Profetas (Em hebraico Nebiim), agrupados em: Profetas anteriores: Josué, Juízes, 1 e II Samuel, I e II
Reis; Profetas posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias,
Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias
Escritos (Em hebraico Ketubim): Jó, Salmos, Provérbios, Rute, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes,
Lamentações, Ester, Daniel, Esdras, Neemias, I e II Crônicas. O título referido, Lei, Profetas e Escritos,
aparece reduzido em ocasiões como a Lei e os Profetas ( Mt 5.17) ou, de modo mais singelo, a Lei ( Jo
10.34).
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES
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RESUMO DE CONTEÚDO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
A lei (Pentateuco) – 5 livros
Poesia – 5 livros
1. Gênesis- Este livro, que mostra como era
"no princípio", faz uma narrativa da criação,
da relação de Deus com o homem e da
promessa de Deus a Abraão e seus
descendentes.
2. Êxodo O nome Êxodo significa "saída".
Este livro conta como Deus livrou os
israelitas de uma vida de penúrias e
escravidão no Egito. Deus fez um pacto com
eles e lhes deu leis para ordenar e governar
sua
vida.
3. Levítico- O nome do livro se deriva do
nome de uma das doze tribos de Israel. O
livro registra todas as leis e regulamentos a
respeito
de
rituais
e
cerimônias.
4. Números- Os israelitas vagaram pelo
deserto durante quarenta anos, antes de
entrar em Canaã, "a terra prometida". O
nome do livro se deriva dos censos
promovidos durante esse tempo no deserto.
1. Jó- A pergunta "Por que sofrem os inocentes?"
é
tratada
nesta
história
bíblica.
2. Salmos- Estas 150 orações foram usadas pelos
hebreus para expressar sua relação com Deus.
Abrangem todo o campo das emoções humanas,
desde a alegria até o ódio, da esperança ao
desespero.
3. Provérbios- Este é um livro de máximas de
sabedoria, de ensinamentos éticos e de senso
comum acerca de como viver uma vida reta.
4. Eclesiastes- Na sua busca por felicidade e
pelo sentido da vida, este escritor, conhecido
como "filósofo" ou "pregador", faz perguntas
que continuam presentes na sociedade
contemporânea.
5. O Cântico dos Cânticos- Este poema descreve
o gozo e o êxtase do amor. Simbolicamente tem
sido aplicado ao amor de Deus por Israel e ao
amor
de
Cristo
pela
Igreja.
5. Deuteronômio Moisés pronunciou três
discursos de despedida pouco antes de
morrer. Neles recapitulou, com o povo,
todas as leis de Deus para os israelitas. O
nome do livro expressa essa "recapitulação"
ou
"segunda
lei".
Historia – 12 livros
Profetas – 17 livros
Maiores
1. Josué Josué foi o líder A.
dos
exércitos israelitas em suas
vitórias sobre seus inimigos, os 1. Isaías- O profeta
cananeus.
O
livro
termina Isaías
trouxe
a
descrevendo a divisão da terra mensagem do juízo de
entre as doze tribos de Israel. Deus
às
nações,
anunciou
um
rei
futuro, à semelhança de
2.
Juízes
Os
israelitas Davi, e prometeu uma
constantemente desobedeciam a era
de
paz
e
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES
B. Menores
1. Oséias- Oséias se vale de sua
experiência conjugal, em que ele era
dedicado à sua esposa, mesmo
sabendo que ela lhe era infiel, para
ilustrar o adultério que Israel tinha
cometido contra Deus e para mostrar
como o fiel amor de Deus pelo seu
povo nunca muda.
10
Deus e caíam nas mãos de países tranqüilidade.
opressores. Deus constituiu juízes
para livrá-los da opressão.
2. Jeremias-: Muito
antes da destruição de
3. Rute- O amor e a dedicação de Judá pela Babilônia,
Rute à sua sogra, Noemi, são o Jeremias predisse o
tema deste livro.
justo juízo de Deus.
Embora sua mensagem
4. I Samuel- Samuel foi o líder de seja majoritariamente
Israel no período compreendido de destruição, Jeremias
entre os Juízes e Saul, o primeiro também falou do novo
rei. Quando a liderança de Saul pacto com Deus
falhou, Samuel ungiu a Davi
como
rei. 3. Lamentações- Tal
qual Jeremias havia
predito, Jerusalém caiu
5. IISamuel- Sob o reinado de cativa da Babilônia.
Davi, a nação se unificou e se Este livro registra cinco
fortaleceu. No entanto, depois dos "lamentos" pela cidade
pecados de Davi, adultério e caída.
assassinato, tanto a nação como a
família do rei sofreram muito.
4.
EzequielA
mensagem de Ezequiel
foi dada aos judeus
6.-I Reis Este livro inicia com o cativos na Babilônia.
reinado de Salomão em Israel. Ezequiel usou histórias
Depois de sua morte, o reino se e parábolas para falar
dividiu em conseqüência da do juízo, da esperança
guerra civil entre o Norte e o Sul, e da restauração de
resultando no surgimento de duas Israel.
nações: Israel no Norte e Judá no
Sul.
5. Daniel-Daniel se
manteve fiel a Deus,
enfrentando
7.- II Reis Israel foi conquistada mesmo
pressões
pela Assíria em 721 a.C. Judá, pela muitas
cativo
na
Babilônia, em 586 a.C. Estes quando
Babilônia.
Este
livro
acontecimentos
foram
as
visões
considerados como um castigo ao inclui
povo pela desobediência às leis de proféticas de Daniel.
Deus.
8. I Crônicas- Este livro inicia
com as genealogias de Adão até
Davi e, em seguida, conta os
acontecimentos do reinado de
Davi.
9.
II
Crônicas-
:
Este
livro
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES
2. Joel- Depois de uma praga de
gafanhotos, Joel admoesta o povo
para
que
se
arrependa.
3. Amós- Durante um tempo de
prosperidade, este profeta de Judá
pregou aos ricos líderes de Israel
sobre o juízo de Deus; insistia em que
pensassem nos pobres e oprimidos,
antes de pensarem em sua própria
satisfação.
4. Obadias- Obadias profetizou o
juízo sobre Edom, um país vizinho de
Israel.
5. Jonas- : Jonas não queria pregar
para a gente de Nínive, que era
inimiga de seu próprio país. Quando,
finalmente, levou a mensagem
enviada por Deus, seus habitantes se
arrependeram.
6. Miquéias A mensagem de
Miquéias para Judá era de juízo, em
vez
de
perdão,
esperança
e
restauração. Especialmente notável é
um versículo em que resume o que
Deus requer de nós (6.8).
7. Naum-Naum anunciou que Deus
destruiria o povo de Nínive por sua
crueldade
na
guerra.
8.Habacuque-Este livro apresenta um
diálogo entre Deus e Habacuque sobre
a
justiça
e
o
sofrimento.
9. Sofonias- Este profeta anunciou o
Dia do Senhor, que traria juízo a Judá
e às nações vizinhas. Esse dia, que
haveria de vir, seria de destruição
para muitos, mas um pequeno
remanescente, sempre fiel a Deus,
sobreviveria para abençoar o mundo
inteiro.
11
abrange o mesmo período que II
Reis, mas com ênfase em Judá, o
reino do Sul, e seus governantes.
10. Esdras- Depois de estar cativo
na
Babilônia
por
algumas
décadas, o povo de Deus retornou
a Jerusalém. Um de seus líderes
era Esdras. Este livro contém a
admoestação que Esdras fez ao
povo para que este seguisse e
honrasse
a
lei
de
Deus.
11. Neemias- Depois do templo,
também foi reconstruída a
muralha de Jerusalém. Neemias
foi
quem
dirigiu
esse
empreendimento. Ele também
colaborou com Esdras para
restaurar o fervor religioso do
povo.
10. Ageu- Depois que o povo voltou
do exílio, Ageu o admoestou para que
dessem prioridade a Deus e
reconstruíssem em primeiro lugar o
templo,
mesmo
antes
de
reconstruírem suas casas.
11. Zacarias- Como Ageu, Zacarias
instou o povo a reconstruir o templo,
assegurando-lhes a ajuda e bênçãos de
Deus. Suas visões apontavam para um
futuro brilhante.
12. Malaquias-Após o retorno do
exílio, o povo voltou a descuidar de
sua vida religiosa. Malaquias passou a
inspirá-los novamente, falando-lhes
do "Dia do Senhor".
12. Ester- Este livro relata a
história de uma rainha judia da
Pérsia, que denunciou um complô
que
visava
destruir
seus
compatriotas. Com isso ela evitou
que todos fossem aniquilados.
O NOVO TESTAMENTO
Tem 27 livros. Foi escrito em grego, mas não no grego clássico. Foi escrito em grego Koiné, (pronunciase Koinê) o grego coloquial falado pelo povo. Seus 27 livros estão classificados em:
Biográficos
São os quatro evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Os primeiros três também são conhecidos
como sinópticos, devido ao seu paralelismo.
Histórico
É o livro de Atos dos apóstolos. Registra a história da igreja primitiva, sua vida e a propagação do
evangelho.
Epístolas
São 21 as epístolas ou cartas. Contém a doutrina da igreja.
* Nove, são dirigidas às igrejas: Romanos, I e II Coríntios, Gálatas. Efésios, Filipenses, Colossenses, I e
II Tessalonicenses.
* Quatro, são dirigidas a indivíduos: I e II Timóteo, Tito, Filemom.
* Uma é dirigida aos hebreus cristãos: Hebreus.
* Sete, são dirigidas a cristãos indistintamente: Tiago, I e II Pedro, I, II e III João e Judas.
* As últimas sete também são chamadas universais, católicas ou gerais.
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Profético
É o livro de Apocalipse.
Os livros do N.T. também não estão em ordem cronológica de escrita.
RESUMO DE CONTEÚDO DOS LIVROS DO NOVO TESTAMENTO
Evangelhos
1. Mateus - Este Evangelho cita muitos textos do Velho
Testamento. Ele se destinava primordialmente ao
público judeu, para o qual apresentava Jesus como o
Messias prometido nas Escrituras do Velho Testamento.
Mateus narra a história de Jesus desde seu nascimento
até sua ressurreição e põe ênfase especial nos
ensinamentos
do
Mestre.
História
1. Atos dos Apóstolos
Quando Jesus deixou os seus discípulos, o
Espírito Santo veio habitar com eles. Este livro foi
escrito por Lucas para ser um complemento ao
seu Evangelho. Ele relata eventos da história e da
ação da igreja cristã primitiva, mostrando como a
fé se propagou no mundo mediterrâneo de então.
2. Marcos- Marcos escreveu um Evangelho curto,
conciso e cheio de ação. Seu objetivo era aprofundar a fé
e a dedicação da comunidade para a qual ele escrevia.
3. Lucas- Neste Evangelho é enfatizado como a salvação
em Jesus está ao alcance de todos. O evangelista mostra
como Jesus estava em contato com as pessoas pobres,
com os necessitados e com os que são desprezados pela
sociedade.
4. João - O Evangelho de João, pela sua forma, se coloca
à parte dos outros três. João organiza sua mensagem
enfocando sete sinais que apontam para Jesus como
Filho de Deus. Seu estilo literário é reflexivo e cheio de
imagens
e
figuras.
Epístolas
1. Romanos- Nesta importante carta, Paulo escreve aos
romanos sobre a vida no Espírito, que é dada pela fé
aos que crêem em Cristo. O apóstolo reafirma a
grande bondade de Deus e declara que, através de
Jesus Cristo, Deus nos aceita e nos liberta de nossos
pecados.
2. 1Coríntios- Esta carta trata especificamente dos
problemas que a igreja de Corinto estava enfrentando:
dissensão, imoralidade, problemas quanto à forma da
adoração pública e confusão sobre os dons do Espírito.
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12. Tito- Tito era ministro em Creta. Nesta carta
o apóstolo Paulo o orienta sobre como ajudar os
novos
cristãos.
13. Filemom Filemom é instado a perdoar seu
escravo, Onésimo, que havia fugido. Filemom
deveria aceitá-lo de volta como a um amigo em
Cristo.
14. Hebreus Esta carta exorta os novos cristãos a
não observarem mais rituais e cerimônias
tradicionais, pois, em Cristo, eles já foram
cumpridos.
13
3. 2Coríntios- Nesta carta o apóstolo Paulo escreve
sobre seu relacionamento com a igreja de Corinto e as
dificuldades que alguns falsos profetas haviam trazido
ao
seu
ministério.
4. Gálatas-Esta carta expõe a liberdade da pessoa que
crê em Cristo com respeito à lei. Paulo declara que é
somente pela fé que as pessoas são reconciliadas com
Deus.
5. Efésios- O tema central desta carta é o propósito
eterno de Deus: Jesus Cristo é a cabeça da Igreja, que é
formada a partir de muitas nações e raças.
6. Filipenses- A ênfase desta carta está no gozo que o
crente em Cristo encontra em todas as circunstâncias
da vida. O apóstolo Paulo a escreveu quando estava
encarcerado.
7. Colossenses- Nesta carta o apóstolo Paulo diz aos
cristãos de Colossos que abandonem suas superstições
e que Cristo seja o centro de sua vida.
8. 1Tessalonicenses- O apóstolo Paulo dá orientações
aos cristãos de Tessalônica a respeito da volta de Jesus
ao
mundo.
9. 2Tessalonicenses- Como em sua primeira carta, o
apóstolo Paulo fala do retorno de Jesus ao mundo.
Também trata de preparar os cristãos para a vinda do
Senhor.
15. Tiago Tiago aconselha os cristãos a viverem
na prática sua fé e, além disso, oferece idéias
sobre
como
isso
pode
ser
feito.
16. 1Pedro- Esta carta foi escrita para confortar
os cristãos da igreja primitiva que estavam
sendo perseguidos por causa de sua fé.
17. 2Pedro- Nesta carta o apóstolo Pedro adverte
os cristãos sobre os falsos mestres e os estimula
a
continuarem
leais
a
Deus.
18. 1João- Esta carta explica verdades básicas
sobre a vida cristã com ênfase no mandamento
de
amarem
uns
aos
outros.
19. 2João- Esta carta, dirigida à "senhora eleita e
aos seus filhos", adverte os cristãos quanto aos
falsos
profetas.
20. 3João- Em contraste com sua Segunda Carta,
esta fala da necessidade de receber os que
pregam
a
Cristo.
21. Judas- Judas adverte seus leitores sobre a má
influência de pessoas alheias à irmandade dos
cristãos.
10. 1Timóteo- Esta carta serve de orientação a
Timóteo, um jovem líder da igreja primitiva. O
apóstolo Paulo lhe dá conselhos sobre a adoração, o
ministério e os relacionamentos dentro da igreja.
11. 2Timóteo- Esta é a última carta escrita pelo
apóstolo Paulo. Nela lança um último desafio a seus
companheiros
de
trabalho.
Profecia
1. Apocalipse - Este livro foi escrito para encorajar os cristãos que estavam sendo perseguidos e para firmálos na confiança de que Deus cuidará deles. Usando símbolos e visões, o escritor ilustra o triunfo do bem
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14
sobre o mal e a criação de uma nova terra e um novo céu.
Quadro demonstrativo dos livros do novo testamento
Evangelhos
1. Mateus
2. Marcos
3. Lucas
4. João
Epístolas
1. Romanos
2. 1Coríntios
3. 2Coríntios
4. Gálatas
5. Efésios
6. Filipenses
7. Colossenses
8. 1Tessalonicenses
9. 2Tessalonicenses
10. 1Timóteo
11. 2Timóteo
Profecia
1. Apocalipse
LIVROS DO NOVO TESTAMENTO
História
Atos dos Apóstolos
12. Tito
13. Filemom
14. Hebreus
15. Tiago
16. 1Pedro
17. 2Pedro
18. 1João
19. 2João
20. 3João
21. Judas
O TEMA CENTRAL DA BÍBLIA
A Bíblia é Cristocêntrica, seu tema central é Jesus. Se olharmos de perto a tipologia bíblica, através de
símbolos, figuras e profecias, veremos que ele ocupa o lugar central nas escrituras:
Em Gênesis, Jesus é o Descendente da mulher (Gn 3.15).
Em Êxodo, é o Cordeiro Pascal.
Em Levítico, é o Sacrifício Expiatório.
Em Números é a Rocha Ferida.
Em Deuteronômio, é o Profeta.
Em Josué, é o Capitão dos Exércitos do Senhor.
Em Juízes é o Libertador.
Em Rute, é o Parente Divino.
Em Reis e Crônicas, é o Rei Prometido.
Em Ester, é o Advogado.
Em Jó, é o nosso Redentor.
Em Salmos, é o nosso socorro e alegria.
Em Provérbios, é a sabedoria de Deus.
Em Eclesiastes, é o alvo verdadeiro.
Nos profetas, é o Messias Prometido.
Nos Evangelhos, é o Salvador do Mundo.
Em Atos, é o Cristo Ressurgido.
Nas Epístolas, é o Cabeça da igreja.
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No Apocalipse, é o Alfa e o Ômega, o Cristo que volta para reinar.
Fatos e particularidades sobre a bíblia
A Bíblia é única, é um livro “diferente de todos os demais” e única em sua coerência. Ela é um livro:
Escrito durante um período de mais de 1.500 anos; Escrito durante mais de 40 gerações; Escrito por
mais de 40 autores, envolvidos nas mais diferentes atividades, inclusive reis, camponeses, filósofos,
pescadores, poetas, estadistas, estudiosos, etc.
* Moisés, um líder político, que estudou nas universidades do Egito;
* Pedro, um pescador;
* Amós, um boiadeiro;
* Josué, um general;
* Neemias, um copeiro;
* Daniel, um primeiro-ministro;
* Lucas, um médico;
* Salomão, um rei;
* Mateus, um coletor de impostos;
* Paulo, um rabino.
Escrito em diferentes lugares
* Moisés, no deserto;
* Jeremias, numa masmorra;
* Daniel, numa colina e num palácio;
* Paulo, dentro de uma prisão;
* Lucas, enquanto viajava;
* João, na ilha de patmos;
* Outros, nos rigores de uma campanha militar.
Escrito em diferentes condições
* Davi, em tempos de guerra;
* Salomão, em tempos de paz.
Escrito sob diferentes circunstâncias
*Alguns escreveram enquanto experimentavam o auge da alegria, enquanto outros escreveram numa
profunda tristeza e desprezo.
Escrito em três continentes
*Ásia;
*África;
*Europa.
Escrito em três idiomas
Hebraico a língua do Antigo Testamento. Em II Reis 18.26-28 essa língua é chamada de “judaica”.
Em Isaias 19.18, de “língua de Canaã”. Aramaico a “língua franca” do Oriente Próximo até a época de
“Alexandre o Grande” (século VI a.C. – século IV a.C.). Grego a língua do Novo Testamento. Foi o
idioma de uso internacional na época de Cristo.
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UNIDADE II
A BÍBLIA COMO A PALAVRA DE DEUS
...............................................................
“Através da Bibliologia compreendemos a formação da Bíblia, sua história e como miraculosamente ela chegou
até nós”
..............................................................
A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
Que a Bíblia é a palavra de Deus não resta nenhuma dúvida para nós Cristãos. Quem tem o Espírito
de Deus deposita toda a confiança nela. Mas, mesmo assim apresentamos algumas provas de que a
Bíblia é a palavra de Deus, não “para” crermos, mas “porque” cremos. Nossa era é marcada pelo
ceticismo, materialismo, racionalismo e outras crenças errôneas procuram extinguir o conhecimento
de Deus. Por isso, apresentamos agora algumas provas da origem divina da Bíblia. Antes, porém,
veremos as falsas teorias sobre a inspiração da Bíblia. A característica mais importante da Bíblia não é
sua estrutura e sua forma, mas o fato de ter sido inspirada por Deus. Não se deve interpretar de modo
errôneo a declaração da própria Bíblia a favor dessa inspiração. Quando falamos de inspiração, não se
trata de inspiração poética, mas de autoridade divina. A Bíblia é singular; ela foi literalmente "soprada
por Deus". A seguir examinaremos o que significa isso.
Uma Definição de Inspiração
Embora a palavra inspiração seja usada apenas uma vez no Novo Testamento (II Tm 3.16) e outra no
Antigo (Jó 32.8), o processo pelo qual Deus transmite sua mensagem autorizada ao homem é
apresentado de muitas maneiras. Um exame das duas grandes passagens a respeito da inspiração
encontradas no Novo Testamento, poderá ajudar-nos a entender o que significa a inspiração bíblica.
Descrição Bíblica de Inspiração
Assim escreveu Paulo a Timóteo: "Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar,
para repreender, para corrigir, para instruir em justiça" (II Tm 3.16). Em outras palavras, o texto
sagrado do Antigo Testamento foi "soprado por Deus" (gr., theopneustos) e, por isso, dotado da
autoridade divina para o pensamento e para a vida do crente. A passagem correlata de 1Coríntios 2.13
realça a mesma verdade. Disto também falamos", escreveu Paulo, "não com palavras de sabedoria
humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais."
Quaisquer palavras ensinadas pelo Espírito Santo são palavras divinamente inspiradas. A segunda
grande passagem do Novo Testamento a respeito da inspiração da Bíblia está em II Pedro 1.21. "Pois a
profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens santos da parte de Deus
falaram movidos pelo Espírito Santo." Em outras palavras, os profetas eram homens cujas mensagens
não se originaram de seus próprios impulsos, mas foram "sopradas pelo Espírito". Pela revelação,
Deus falou aos profetas de muitas maneiras (Hb 1.1): mediante anjos, visões, sonhos, vozes e milagres.
Inspiração é a forma pela qual Deus falou aos homens mediante os profetas. Mais um sinal de que as
palavras dos profetas não partiam deles próprios, mas de Deus é o fato de eles sondarem seus
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próprios escritos a fim de verificar "qual o tempo ou qual a ocasião que o Espírito de Cristo, que estava
neles, indicava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e
sobre as glorias que os seguiriam" (I Pe 1.11). Fazendo uma combinação das passagens que ensinam
sobre a inspiração divina, descobrimos que a Bíblia é inspirada no seguinte sentido: homens movidos
pelo Espírito, escreveram palavras sopradas por Deus, as quais são a fonte de autoridade para a fé e
para a prática cristã. Vamos a seguir analisar com mais cuidado esses três elementos da inspiração.
Definição Teológica da Inspiração
Na única vez em que o Novo Testamento usa a palavra inspiração, ela se aplica aos escritos, não aos
escritores. A Bíblia é que é inspirada, e não seus autores humanos. O adequado, então, é dizer que: o
produto e inspirado os produtores não. Os autores indubitavelmente escreveram e Falaram sobre
muitas coisas, como, por exemplo, quando se referiram a assuntos mundanos, pertinentes a esta vida,
os quais não foram divinamente inspirados. Todavia, visto que o Espírito Santo, conforme ensina
Pedro tomou posse dos homens que produziram os escritos inspirados, podemos, por extensão,
referir-nos à inspiração em sentido mais amplo. Tal sentido mais amplo inclui o processo total por que
alguns homens, movidos pelo Espírito Santo, enunciaram e escreveram palavras emanadas boca do
Senhor; e, por isso mesmo, palavras dotadas da autoridade divina. É um processo total de inspiração
que contém os três elementos essenciais: a causalidade divina, a mediação profética e a autoridade
escrita.
Causalidade Divina. Deus é a Fonte Primordial da inspiração da Bíblia. O elemento divino estimulou
o elemento humano. Primeiro Deus falou aos profetas e, em seguida, aos homens, mediante esses
profetas. Deus revelou-lhes certas verdades da fé, e esses homens de Deus as registraram. O primeiro
fator fundamental da doutrina da inspiração bíblica, e o mais importante, é que Deus é a fonte
principal e a causa primeira da verdade bíblica. No entanto, não é esse o único fator.
Mediação Profética. Os profetas que escreveram as Escrituras não eram autômatos. Eram algo mais
que meros secretários preparados para anotar o que se lhes ditava. Escreveram segundo a intenção
total do coração, segundo a consciência que os movia no exercício normal de sua tarefa, com seus
estilos literários e seus vocabulários individuais. As personalidades dos profetas não foram
violentadas por uma intrusão sobrenatural. A Bíblia que eles produziram é a Palavra de Deus, mas
também é a palavra do homem. Deus usou personalidades humanas para comunicar proposições
divinas. Os profetas foram a causa imediata dos textos escritos, mas Deus foi a causa principal.
Autoridade Escrita. O produto final da autoridade divina em operação por meio dos profetas, como
intermediários de Deus, é a autoridade escrita de que se reveste a Bíblia. A Escritura "é divinamente
inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça". A Bíblia é
a última palavra no que concerne a assuntos doutrinários e éticos. Todas as controvérsias teológicas e
morais devem ser trazidas ao tribunal da Palavra escrita de Deus. As Escrituras receberam sua
autoridade do próprio Deus, que falou mediante os profetas. No entanto, são os escritos proféticos e
não os escritores desses textos sagrados que possuem e retêm a resultante autoridade divina. Todos os
profetas morreram; os escritos proféticos prosseguem. Em suma, a definição adequada de inspiração
precisa ter três fatores fundamentais: Deus, o Causador original, os homens de Deus, que serviram de
instrumentos, e a autoridade escrita, ou Sagradas Escrituras, que são o produto final.
A Inspiração em contraste com a Revelação e a Iluminação
Há dois conceitos inter-relacionados que nos ajudam a esclarecer, pela contraposição, o que significa
inspiração. São eles a revelação e a iluminação. Revelação diz respeito à exposição da verdade.
Iluminação, à devida compreensão dessa verdade descoberta. No entanto, a inspiração não consiste
nem em uma, nem em outra. A revelação prende-se à origem da verdade e à sua transmissão; a
inspiração relaciona-se com a recepção e o registro da verdade. A iluminação ocupa-se da posterior
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apreensão e compreensão da verdade revelada. A inspiração que traz a revelação escrita aos homens
não traz em si mesma garantia alguma de que os homens a entendam. É necessário que haja
iluminação do coração e da mente. A revelação é uma abertura objetiva; a iluminação é a compreensão
subjetiva da revelação; a inspiração é o meio pelo qual a revelação se tornou uma exposição aberta e
objetiva. A revelação é o fato da comunicação divina; a inspiração é o meio; a iluminação, o dom de
compreender essa comunicação.
Inspiração dos Originais, não das Cópias
A inspiração e a conseqüente autoridade da Bíblia não se estendem automaticamente a todas as cópias
e traduções da Bíblia. Só os manuscritos originais, conhecidos por autógrafos, foram inspirados por
Deus. Os erros e as mudanças efetuados nas cópias e nas traduções não podem ser atribuídos à
inspiração original. Por exemplo, II Reis 8.26 diz que Azarias tinha 22 anos de idade quando foi
coroado rei, enquanto II Crônicas 22.2 diz que tinha 42 anos. Não é possível que ambas as informações
estejam corretas. O original é autorizado; a cópia errônea não tem autoridade. Outros exemplos desse
tipo de erro podem encontrar-se nas atuais cópias das Escrituras (I Rs 4.26 e II Cr 9.25). Portanto, uma
tradução ou cópia só é autorizada à medida que reproduz com exatidão os autógrafos. Veremos
posteriormente até que ponto as cópias da Bíblia são exatas (cap. 15), segundo a ciência da crítica
textual. Por ora basta-nos observar que o grandioso conteúdo doutrinário e histórico da Bíblia tem
sido transmitido de geração a geração, ao longo da história, sem mudanças nem perdas substanciais.
As cópias e as traduções da Bíblia, encontradas no século xx, não detêm a inspiração original, mas
contêm uma inspiração derivada, uma vez que são cópias fiéis dos autógrafos. De uma perspectiva
técnica, só os autógrafos são inspirados; todavia, para fins práticos, a Bíblia nas línguas de nossa
época, por ser transmissão exata dos originais, é a Palavra de Deus inspirada. Visto que os originais
não mais existem, alguns críticos têm objetado à inerrância de autógrafos que não podem ser
examinados e nunca foram vistos. Eles perguntam como é possível afirmar que os originais não
continham erro, se não podem ser examinados. A resposta é que a inerrância bíblica não é um fato
conhecido empiricamente, mas uma crença baseada no ensino da Bíblia a respeito de sua inspiração,
bem como baseada na natureza altamente precisa da grande maioria das Escrituras transmitidas e na
ausência de qualquer prova em contrário. Afirma a Bíblia ser a declaração de um Deus que não pode
cometer erro. É verdade que nunca se descobriram os originais infalíveis da Bíblia, mas tampouco se
descobriu um único autógrafo original falível. Temos, pois, manuscritos que foram copiados com toda
precisão e traduzidos para muitas línguas, dentre as quais o português. Portanto, para todos os efeitos
de doutrina e de dever, a Bíblia como a temos hoje é representação suficiente da Palavra de Deus,
cheia de autoridade.
A Natureza da Inspiração
O primeiro grande elo da cadeia comunicativa "de Deus para nós" chama-se inspiração. Há diversas
teorias a respeito da inspiração. Algumas delas não se coadunam com o ensino bíblico sobre o
assunto. Nosso propósito, portanto, neste capítulo, tem dois aspectos: primeiro, examinar as teorias a
respeito da inspiração e, segundo, apurar com a máxima precisão o que está implícito no ensino da
Bíblia a respeito de sua própria inspiração.
Ortodoxia: a Bíblia É a Palavra de Deus
Por cerca de 18 séculos de história da igreja, prevaleceu a opinião ortodoxa da inspiração divina. Os
pais da igreja, em geral, com raras manifestações menos importantes em contrário, ensinaram
firmemente que a Bíblia é a Palavra de Deus escrita. Teólogos ortodoxos ao longo dos séculos vêm
ensinando, todos de comum acordo, que a Bíblia foi inspirada verbalmente, i.e., é o registro escrito por
inspiração de Deus. No entanto, tem havido tentativas de procurar explicação para o fato de o registro
escrito ser a Palavra de Deus ao mesmo tempo que o Livro obviamente foi composto por autores
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humanos, dotados de estilos pessoais diferentes uns dos outros; essas tentativas conduziram os
estudiosos ortodoxos a duas opiniões divergentes. Alguns abraçaram a idéia do "ditado verbal",
afirmando que os autores humanos da Bíblia registraram apenas o que Deus lhes havia ditado,
palavra por palavra. De outro lado, estão os estudiosos que preferiam a teoria do "conceito inspirado",
segundo a qual Deus só concedeu aos autores pensamentos inspirados, e os autores tiveram liberdade
de revesti-los com palavras próprias. Ditado verbal. Na obra de John R. Rice, Our God-breathed book
— the Bible [Nosso livro soprado por Deus — a Bíblia], encontramos uma apresentação clara e bem
ordenada do ditado verbal. O autor descarta a idéia de que o ditado verbal seja mecânico, sustentando
que Deus ditou sua Palavra mediante a personalidade do autor humano. É que Deus, por sua atuação
especial e providência, foi quem formou as personalidades sobre as quais posteriormente o Espírito
Santo haveria de soprar seu ditado palavra por palavra. Assim, argumenta Rice, Deus havia
preparado de antemão os estilos particulares que ele próprio desejava, a fim de produzir as palavras
exatas, ao usar estilos e vocabulários predeterminados, encontráveis nos diferentes autores humanos.
O resultado final, então, foi um ditado palavra por palavra da parte de Deus, as Escrituras Sagradas.
Conceitos inspirados. Em sua Systematic theology [Teologia sistemática], A. H. Strong apresenta uma
visão que vem sendo denominada inspiração conceitual.1 Deus teria inspirado apenas os conceitos,
não as expressões literárias particulares com que cada autor concebeu seus textos. Deus teria dado
seus pensamentos aos profetas, que tiveram toda a liberdade de exprimi-los em seus termos humanos.
Dessa maneira, Strong esperava evitar quaisquer implicações mecanicistas derivadas do ditado verbal
e ainda preservar a origem divina das Escrituras. Deus concedeu a inspiração conceitual, e os homens
de Deus forneceram a expressão verbal característica de seus estilos próprios.
Modernismo: a Bíblia CONTÊM a Palavra de Deus
Ao surgir o idealismo germânico e a crítica da Bíblia (v. cap. 14), surgiu também uma nova visão
evoluída da inspiração bíblica, a par do modernismo ou liberalismo teológico. Opondo-se à opinião
ortodoxa tradicional de que a Bíblia é a Palavra de Deus, os modernistas ensinam que a Bíblia
meramente contém a Palavra de Deus. Certas partes dela são divinas, expressam a verdade, mas outras
são obviamente humanas e apresentam erros. Tais autores acham que a Bíblia foi vítima de sua época,
exatamente como acontece a quaisquer outros livros. Afirmam que ela teria incorporado muito das
lendas, dos mitos e das falsas crenças relacionadas à ciência. Sustentam então que, pelo fato de esses
elementos não terem sido inspirados por Deus, devem ser rejeitados pelos homens iluminados de
hoje; tais erros seriam resquícios de uma mentalidade primitiva indigna de fazer parte do credo
cristão. Só as verdades divinas, entremeadas nessa mistura de ignorância antiga e erro grosseiro, é que
de facto teriam sido inspiradas por Deus.
O Conceito da Intuição
Na outra extremidade da visão modernista estão os estudiosos que negam totalmente a existência de
algum elemento divinos na composição da Bíblia. Para eles a Bíblia não passa de um caderno de
rascunho em que os judeus registravam suas lendas, histórias, poemas etc., sem nenhum valor
histórico. O que alguns denominam inspiração divina não seria outra coisa senão intensa intuição
humana. Dentro desse folclore judaico a que se deu o nome de Bíblia, encontram-se alguns exemplos
significativos de elevada moral e de gênio religioso. Todavia, essas percepções espirituais são
puramente naturalistas. Em absolutamente nada, passam de intuição humana; não existiria inspiração
sobrenatural, tampouco iluminação.
Neo-Ortodoxia: a Bíblia torna-se a Palavra de Deus
No início do século XX, a reviravolta nos acontecimentos mundiais e a influência do pai dinamarquês
do existencialismo, Soren Kierkegaard, deram origem a uma nova reforma na teologia européia.
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Muitos estudiosos começaram a voltar-se de novo para as Escrituras, a fim de ouvir nelas a voz de
Deus. Sem abrir mão de suas opiniões críticas a respeito da Bíblia, começaram a levar a Bíblia a sério,
por ser a fonte da revelação de Deus aos homens. Criando um novo tipo de ortodoxia, afirmavam que
Deus fala aos homens mediante a Bíblia; as Escrituras tornam-se a Palavra de Deus num encontro
pessoal entre Deus e o homem. À semelhança das outras teorias a respeito da inspiração da Bíblia, a
neo-ortodoxia desenvolveu duas correntes. Na extremidade mais importante estavam os
demitizadores, que negam todo e qualquer conteúdo religioso importante, factual ou histórico, nas
páginas da Bíblia, e crêem apenas na preocupação religiosa existencial sobre a qual medram os mitos.
Na outra extremidade, os pensadores de tendência mais evangélica tentam preservar a maior parte
dos dados factuais e históricos das Escrituras, mas sustentam que a Bíblia de modo algum é revelação
de Deus. Antes, Deus se revela na Bíblia nos encontros pessoais; não, porém, de maneira
proposicional.
O Ensino Bíblico a respeito da Inspiração
Muitas objeções têm sido levantadas contra as várias teorias da inspiração, as quais partem de
diferentes concepções, tendo variados graus de legitimidade, dependentemente do ângulo de
observação da pessoa que as formula. Visto que o objetivo deste estudo é levar o leitor a compreender
o caráter da Bíblia, o critério analítico que escolhemos visa a avaliar todas essas teorias, levando em
consideração o que as Escrituras revelam a respeito de sua própria inspiração. Comecemos com o que
a Bíblia ensina formalmente sobre essa questão e, depois, examinemos o que se acha logicamente
implícito nesse ensino.
O que a própria Bíblia ensina a respeito de sua inspiração
No capítulo anterior examinamos de modo genérico o ensino de dois grandes textos do Novo
Testamento a respeito da inspiração (II Tm 3.16 e II Pe 1.21). A Bíblia declara ser um livro dotado de
autoridade divina, resultante de um processo pelo qual homens movidos pelo Espírito Santo
escreveram textos inspirados (soprados) por Deus. Vamos agora examinar em minúcias o que significa
essa declaração.
A Inspiração é Verbal
Independentemente de outras afirmações que possam ser formuladas a respeito da Bíblia, fica bem
claro que esse livro reivindica para si mesmo esta qualidade: a inspiração verbal. O texto clássico de II
Timóteo 3.16 declara que as graphã, i.e., os textos, é que são inspiradas. "Moisés escreveu todas as
palavras do Senhor..." (Ex 24.4). O Senhor ordenou a Isaías que escrevesse num livro a mensagem
eterna de Deus (Is 30.8). Davi confessou: "O Espírito do Senhor fala por mim, e a sua palavra está na
minha boca" (II Sm 23.2). Era a palavra do Senhor que chegava aos profetas nos tempos do Antigo
Testamento. Jeremias recebeu esta ordem: "... não te esqueças de nenhuma palavra" (Jr 26.2). No Novo
Testamento, Jesus e seus apóstolos ressaltaram a revelação registrada ao usar repetidamente a
expressão "está escrito" (v. Mt 4.4,7; Lc 24.27,44). O apóstolo Paulo testemunhou: "... falamos, não com
palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina..." (I Co 2.13). João nos adverte
quanto a não "tirar quaisquer palavras do livro desta profecia" (Ap 22.19). As Escrituras (i.e., os escritos)
do Antigo Testamento são continuamente mencionadas como Palavra de Deus. No célebre sermão da
montanha, Jesus declarou que não só as palavras, mas até mesmo os pequeninos sinais diacríticos de
uma palavra hebraica vieram de Deus: "Em verdade vos digo que até que a terra e o céu passem, nem
um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido" (Mt 5.18). Portanto, o que quer que se
diga como teoria a respeito da inspiração das Escrituras, fica bem claro que a Bíblia reivindica para si
mesma toda a autoridade verbal ou escrita. Diz a Bíblia que suas palavras vieram da parte de Deus.
A Inspiração é Plena
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A Bíblia reivindica a inspiração divina de todas as suas partes. É inspiração plena, total, absoluta.
"Toda Escritura é divinamente inspirada..." (II Tm 3.16). Nenhuma parte das Escrituras deixou de
receber total autoridade doutrinária. A Escritura toda (i.e., o Antigo Testamento integralmente),
escreveu Paulo, "é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir,
para instruir em justiça" (II Tm 3.16). E foi além, ao escrever: "... tudo o que outrora foi escrito, para o
nosso ensino foi escrito" (Rm 15.4). Jesus e todos os autores do Novo Testamento exemplificam
amplamente sua crença firme na inspiração integral e completa do Antigo Testamento, citando trechos
de todas as Escrituras que eram para eles de autoridade, até mesmo os que apresentam ensinos
fortemente polêmicos. A criação de Adão e de Eva, a destruição do mundo pelo dilúvio, o milagre de
Jonas e o grande peixe e muitos outros acontecimentos são mencionados por Jesus deixando bem clara
a autoridade deles (cap. 3). Todo trecho das Sagradas Escrituras reivindica total e completa
autoridade. A inspiração da Bíblia é plena. É claro que a inspiração plena estende-se apenas aos
ensinos dos autógrafos, como já afirmamos (cap. 1). Todavia, tudo quanto a Bíblia ensina, quer no
Antigo, quer no Novo Testamento, é integralmente dotado de autoridade divina. Nenhum ensino das
Escrituras deixou de ter origem divina. O próprio Deus inspirou as palavras usadas para exprimir os
ensinos proféticos. Repitamos: a inspiração é plena, a saber, completa e integral, abrangendo todas as
partes da Bíblia.
A inspiração atribui autoridade
Fica, pois, saliente o fato de que a inspiração concede autoridade indiscutível ao texto ou documento
escrito. Disse Jesus: "... a Escritura não pode ser anulada..." (Jo 10.35). Em numerosas ocasiões o Senhor
recorreu à Palavra de Deus escrita, que ele considerava árbitro definitivo em questões de fé e de
prática. O Senhor recorreu às Escrituras como a autoridade para ele purificar o templo (Mc 11.17),
para pôr em cheque a tradição dos fariseus (Mt 15.3,4) e para resolver divergências doutrinárias (Mt
22.29). Até mesmo Satanás foi repreendido por Cristo mediante a autoridade da Palavra escrita de
Deus: "Está escrito [...] Está escrito [...] Está escrito...". Jesus contra-atacou as tentações de Satanás com
a Palavra de Deus escrita (Mt 4.4,7,10). Algumas vezes, Jesus declarou o seguinte: "... era necessário que
se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos" (Lc 24.44).
Todavia, é em outra declaração de Jesus que encontramos apoio ainda mais forte do Senhor à
autoridade inquestionável das Escrituras: "É mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer
da lei" (Lc 16.17). A Palavra de Deus não pode ser anulada. Provém de Deus e está envolta na
autoridade divina que o próprio Deus lhe concedeu.
Implicações da doutrina bíblica da Inspiração
Há certos fatos que, embora não formalmente apresentados na doutrina da inspiração, acham-se
implícitos. Vamos tratar aqui de três deles: a igualdade entre o Antigo e o Novo Testamento, a
variedade da expressão literária e a inerrância do texto.
A inspiração diz respeito igualmente ao Antigo e ao Novo Testamento
A maioria das passagens citadas acima a respeito da natureza plena da inspiração refere-se
diretamente ao Antigo Testamento. Com base em que, então, podem aplicar-se (por extensão) ao
Novo Testamento? A resposta a essa pergunta é que o Novo Testamento, à semelhança do Antigo,
reivindica a virtude de ser Escritura Sagrada, escrito profético, e toda a Escritura e todos os escritos
proféticos devem ser considerados inspirados por Deus. De acordo com II Timóteo 3.16, toda a
Escritura é inspirada. Ainda que a referência explícita, aqui, refira-se ao Antigo Testamento, é verdade
que o Novo Testamento também deve ser considerado Escritura Sagrada. Pedro, por exemplo,
classifica as cartas de Paulo como parte das "outras Escrituras" do Antigo Testamento (II Pe 3.16). Em I
Timóteo 5.16, Paulo cita o evangelho de Lucas (10.7), referindo-se a ele como "Escritura". Tal fato é
mais significativo ainda quando consideramos que nem Lucas, nem Paulo fizeram parte do grupo dos
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doze apóstolos. Visto que as cartas de Paulo e os escritos de Lucas (Lucas e Atos; v. At 1.1, Lc 1.1-4)
foram classificados como Escritura Sagrada, por implicação direta o resto do Novo Testamento, escrito
pelos apóstolos, também é considerado Escritura Sagrada. Em suma, se "toda Escritura é divinamente
inspirada" e o Novo Testamento é considerado Escritura, decorre disso claramente que o Novo
Testamento é encarado com a mesma autoridade do Antigo. Na verdade, é exatamente assim que os
cristãos, desde o tempo dos apóstolos, têm considerado o Novo Testamento. Eles o consideravam com
a mesma autoridade do Antigo Testamento.
Além disso, de acordo com II Pedro 1.20,21, todas as mensagens escritas de natureza profética foram
dadas ou inspiradas por Deus. E, visto que o Novo Testamento reivindica a natureza de mensagem
profética, segue-se que ele também reclama autoridade igual à dos escritos proféticos do Antigo
Testamento. João, por exemplo, refere-se ao livro do Apocalipse da seguinte forma: "palavras da
profecia deste livro" (Ap 22.18). Paulo afirmou que a igreja estava edificada sobre o alicerce dos
apóstolos e profetas do Novo Testamento (Ef 2.20; 3.5). Visto que o Novo Testamento, à semelhança
do Antigo, é um texto dos profetas de Deus, ele possui por essa razão a mesma autoridade dos textos
inspirados do Antigo Testamento.
A Inspiração abarca uma variedade de fontes e de Gêneros Literários
O fato de a inspiração ser verbal, ou escrita, não exclui o uso de documentos literários e de gêneros
literários diferentes entre si. As Escrituras Sagradas não foram ditadas palavra por palavra, no sentido
comum que se atribui ao verbo ditar. Na verdade, há certos trechos menores da Bíblia, como, por
exemplo, os Dez Mandamentos, que Deus outorgou diretamente ao homem (Dt 4.10), mas em parte
alguma está escrito ou fica implícito que a Bíblia é resultante de um ditado palavra por palavra. Os
autores das Sagradas Escrituras eram escritores e compositores, não meros secretários, amanuenses ou
estenógrafos. Há vários fatores que contribuíram para a formação das Escrituras Sagradas e dão forte
apoio a essa afirmativa. Em primeiro lugar, existe uma diferença marcante de vocabulário e de estilo
de um escritor para outro. Comparem-se as poderosas expressões literárias de Isaías com os tons
lamurientos de Jeremias. Compare-se a construção literária de suma complexidade, encontrada em
Hebreus, com o estilo simples de João. Distinguimos facilmente a linguagem técnica de Lucas, o
médico amado, da linguagem de Tiago, formada de imagens pastorais. Em segundo lugar, a Bíblia faz
uso de documentos não-bíblicos, como o Livro de Jasar (Js 10.13; 2Sm 1.18), o livro de Enoque (Jd 14) e
até o poeta Epimênedes (At 17.28). Somos informados de que muitos dos provérbios de Salomão
haviam sido editados pelos homens de Ezequias (Pv 25.1). Lucas reconhece o uso de muitas fontes
escritas sobre a vida de Jesus, na composição de seu próprio evangelho (Lc 1.1-4). Em terceiro lugar, os
autores bíblicos empregavam vasta variedade de gêneros literários; tal fato não caracteriza um ditado
monótono em que as palavras são pronunciadas uma após a outra, segundo o mesmo padrão. Grande
parte das Escrituras é formada de poesia (e.g., Jó, Salmos, Provérbios). Os evangelhos contêm muitas
parábolas. Jesus empregava a sátira (Mt 19.24), Paulo usava alegorias (Gl 4) e até hipérboles (Cl 1.23),
ao passo que Tiago gostava de usar metáforas e símiles. Por fim, a Bíblia usa a linguagem simples do
senso comum, do dia-a-dia, que salienta a ocorrência de um acontecimento, não a linguagem de
fundamento científico. Isso não significa que os autores usassem linguagem anticientífica ou negadora
da ciência, e sim linguagem popular para descrever fenômenos científicos. Não é mais anticientífico
afirmar que o sol permaneceu parado (Js 10.12) do que dizer que o sol nasceu ou subiu (Js 1.15). Dizer
que a rainha de Sabá veio "dos confins da terra" ou que as pessoas no Pentecostes vieram "de todas as
nações debaixo do céu" não é dizer coisas com exatidão científica. Os autores usaram formas comuns,
gramaticais de expressar seu pensamento sobre os assuntos. Por isso, o que quer que fique implícito
na doutrina dos escritos inspirados, os dados das Escrituras mostram com clareza que elas incluem o
emprego de grande variedade de fontes literárias e de estilos de expressão. Nem todas as mensagens
vieram diretamente de Deus, mediante ditado. Tampouco foram expressas de modo uniforme e literal.
É preciso que se entenda a inspiração da perspectiva histórica e gramatical. A inspiração não pode ser
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entendida como um ditado uniforme, ainda que divino, que exclua os recursos, a personalidade e as
variadas formas humanas de expressão.
Inspiração pressupõe inerrância
A Bíblia não só é inspirada; é também, por causa de sua inspiração, inerrante, não contém erro. Tudo
quanto Deus declara é verdade isenta de erro. Com efeito, as Escrituras afirmam ser a declaração
(aliás, as próprias palavras) de Deus. Nada do que a Bíblia ensina contém erro, visto que a inerrância é
conseqüência lógica da inspiração divina. Deus não pode mentir (Hb 6.18); sua Palavra é a verdade (Jo
17.17). Por isso, seja qual for o assunto sobre o qual a Bíblia diga alguma coisa, ela só dirá a verdade.
Não existem erros históricos nem científicos nos ensinos das Escrituras. Tudo quanto a Bíblia ensina
vem de Deus e, por isso, não tem a mácula do erro. Não é possível refugir às implicações da inerrância
factual com a declaração de que a Bíblia nada tem para dizer a respeito de assuntos factuais ou
históricos. Grande parte da Bíblia apresenta-se como história. Bastam as tediosas genealogias para
atestar essa realidade. Alguns dos maiores ensinos da Bíblia, como a criação, o nascimento virginal de
Cristo, a crucificação e a ressurreição corpórea, claramente pressupõem matérias factuais. Não existem
meios de "espiritualizar" a natureza factual e histórica dessas verdades bíblicas, sem praticar violência
terrível contra a análise honesta do texto, da perspectiva cultural e gramatical. A Bíblia não é um
compêndio de Ciências, mas, quando trata de assuntos científicos em seu ensino, o faz sem cometer
erro. A Bíblia não é um compêndio de História, mas, sempre que a história secular se cruza com a
história sagrada em suas páginas, a Bíblia faz referência a ela sem cometer erro. Se a Bíblia não fosse
inerrante e não estivesse certa nas questões factuais, empíricas, comprováveis, de que maneira seria
possível confiar nela em questões espirituais, não sujeitas a testes? Como disse Jesus a Nicodemos: "Se
vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?" (Jo 3.12).
TEORIAS SOBRE A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
As várias teorias a respeito da Inspiração
Ao longo da história, as teorias a respeito da inspiração da Bíblia têm variado segundo as
características essenciais de três movimentos teológicos: a ortodoxia, o modernismo e a neo-ortodoxia.
Ainda que essas três perspectivas não se limitem a um único período, suas manifestações primordiais
são características de três períodos sucessivos na história da igreja. Na maior parte dessa história,
prevaleceu a visão ortodoxa, a saber: a Bíblia é a Palavra de Deus. Com o surgimento do modernismo,
muitas pessoas vieram a crer que a Bíblia meramente contém a Palavra de Deus. Mais recentemente,
sob a influência do existencialismo contemporâneo, os teólogos neo-ortodoxos têm ensinado que a
Bíblia torna-se a Palavra de Deus quando a pessoa tem um encontro pessoal com Deus em suas
páginas.
Teoria da Inspiração Natural Humana
Ensina que a Bíblia foi escrita por homens de intelecto especial como Sócrates ou Shekespeare. Se for
assim, como se explica o fato de homens como Pedro, um simples pescador sem instrução ter escrito
dois livros do Novo Testamento?
Teoria da Inspiração Divina Comum
Ensina que a inspiração dos escritores é a mesma que temos hoje quando pregamos, ensinamos e
andamos em comunhão com Deus. Isso é errôneo, por que: A inspiração que o Espírito Santo nos
concede admite gradação; quanto mais se busca a Deus, mais aumenta a percepção espiritual do
crente, ao passo que a inspiração dos escritores bíblicos não admite graus. O escritor era ou não
inspirado. A inspiração comum pode ser permanente (I Jo 2.27). A dos escritores era temporária.
Várias vezes encontramos a expressão: “E veio a mim a palavra do Senhor”, indicando o momento em
que Deus os tomava para transmitir sua mensagem.
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Teoria da Inspiração Parcial
Ensina que algumas partes da Bíblia são inspiradas e outras não. Que a Bíblia não é a palavra de Deus,
mas apenas contém a palavra de Deus. Se assim fosse, quem estaria habilitado a dizer quais partes
são, e quais partes não são inspiradas? Em Marcos 7.13, Jesus aplicou o termo “palavra de Deus” a
todo o Antigo Testamento.
Teoria do Ditado Verbal
Ensina a inspiração da Bíblia só quanto às palavras, não deixando lugar para a atividade e o estilo de
cada escritor. Nem é preciso ser estudioso da Bíblia para perceber claramente que cada escritor tem
um estilo bem particular. Os escritores não escreveram sem qualquer noção de mente e raciocínio;
Deus não usurpa a mente de ninguém. Deus usou as faculdades mentais de cada um.
Teoria Correta da Inspiração Bíblica
Todas as partes da Bíblia são igualmente inspiradas; houve cooperação vital e contínua entre os
escritores e o Espírito Santo que os capacitava. Os escritores não funcionaram como máquinas
inconscientes; eles a escreveram com palavras de seu vocábulo, porém sob poderosa influência do
Espírito Santo.
PROVAS DE INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
Os cristãos têm sido desafiados, ao longo dos séculos, a apresentar as razões em defesa de sua fé (I Pe
3.15). Visto que as Escrituras se firmam nos alicerces da fé em Cristo, repousou sobre os ombros dos
apologistas cristãos a tarefa de apresentar evidências da Inspiração divina da Bíblia. Reivindicar que a
Bíblia é inspirada por Deus é uma coisa, mas comprovar essa reivindicação é coisa bem diferente.
Vamos apresentar algumas alguns argumentos e evidências que dão apoio à doutrina da inspiração da
Bíblia.
A perfeita Harmonia e Unidade da Bíblia
A existência da Bíblia até os dias de hoje pode ser considerada um milagre. Os livros nela contidos
foram escritos por cerca de 40 pessoas, cobrindo um período de aproximadamente 1.500 anos. Esses
homens, na maior parte dos casos não se conheceram. Muitas vezes um escritor iniciava um assunto e
séculos depois, um outro o completava com tanta riqueza de detalhes que somente um livro vindo de
Deus poderia ser assim. Quanto à unidade física da Bíblia, por exemplo, ninguém sabe ao certo como
os 66 livros se encontraram e se agruparam num só volume. Com certeza foi obra de Deus.
A aprovação da Bíblia por Jesus
Jesus é a pessoa e o nome mais conhecido no mundo. Inúmeras pessoas crêem que Ele fez milagres;
crêem em Sua ressurreição, mas não crêem na Bíblia. Jesus leu a Bíblia (Lc 4.16-20), ensinou a Bíblia
(Lc 24.27); e chamou-a de “Palavra de Deus” (Lc 24.44). Também afirmou que as Escrituras são a
verdade (Jo 17.17). As evidências escriturísticas revelam irrefutavelmente que Jesus confirmou a
autoridade divina da Bíblia. O texto do evangelho como um todo, com amplo apoio histórico revela
que Jesus era homem de integridade e de verdade. O argumento portanto, é este: se o que Jesus
ensinou é a verdade, e Jesus ensinou que a Bíblia é inspirada, segue-se que é verdade que a Bíblia é
inspirada por Deus. Se Jesus Cristo possui alguma autoridade ou integridade como mestre religioso,
podemos concluir que a Bíblia é inspirada por Deus.
O cumprimento Fiel das Profecias
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Outro testemunho externo dotado de grande força em apoio da inspiração das Escrituras é o fato da
profecia cumprida. Até o presente momento, nenhuma profecia incondicional da Bíblia a respeito de
acontecimentos ficou sem cumprimento. Centenas de predições, algumas delas feitas centenas de anos
antes de se cumprirem, concretizaram-se literalmente. As profecias sobre o messias, proferidas séculos
antes de seu nascimento, a cidade em que ele haveria de nascer (Mq 5.2) e a natureza de sua concepção
e nascimento (Is 7.14) cumpriram-se literalmente e com toda a precisão quanto a tempo, local e outros
detalhes.O cumprimento da profecia de Ezequiel 37 (O vale dos ossos secos) que prediz sobre a
restauração de Israel e seu estabelecimento como nação está em andamento perante os nossos olhos.
A influência benéfica e positiva da Bíblia sobre Povos e Nações
Nenhum outro livro tem sido tão largamente disseminado, nem exercido tão forte influência sobre o
curso dos acontecimentos mundiais do que a Bíblia. As Escrituras Sagradas têm sido traduzidas em
mais línguas, têm sido impressas em maior número de exemplares, têm influenciado mais o
pensamento, inspirado mais as artes e motivado mais as descobertas do que qualquer outro livro. A
Bíblia foi traduzida em mais de mil línguas, abrangendo mais de 90% da população do mundo. Suas
tiragens somam alguns bilhões de exemplares. Os bestsellers que têm vindo em segundo lugar, ao
longo dos séculos, nunca chegam perto do detentor perpétuo do primeiro lugar, a Bíblia. As Escrituras
judeu-cristãs têm influenciado mais a civilização que qualquer outro livro ou combinação de livros do
mundo. Na verdade, nenhuma outra obra religiosa ou de fundo moral no mundo excede a
profundidade moral contida no princípio do amor cristão, e nenhuma apresenta conceito espiritual
mais majestoso sobre Deus do que o conceito que a Bíblia oferece. A Bíblia apresenta ao homem os
mais elevados ideais que já pautaram a civilização.
A Bíblia é familiar a cada povo ou indivíduo em qualquer lugar
Qual é a pessoa que lê o Salmo 23 e pensa que ele foi escrito para os judeus? Para nós que vivemos no
Brasil, a impressão que temos é que ele foi escrito diretamente para nós. Nenhum cristão, no mundo
inteiro tem a Bíblia como um livro alheio estrangeiro que foi traduzido para sua língua. Se lermos
“Em seus passos que faria Jesus”, sabemos que é americano; se lermos “O peregrino”, sabemos ser
inglês. É assim com a Bíblia? Não. Todas as raças consideram a Bíblia como possessão sua. Nós temos
a Bíblia como nossa, e é assim em qualquer país.
A Bíblia é sempre nova e Inesgotável
A Bíblia nunca se torna um livro obsoleto. Sua mensagem é sempre nova e inesgotável. Quem, por
exemplo, já se cansou de ler o Salmo 23, João 3.16 ou I Coríntios 13? Cada vez que lemos essas
passagens, descobrimos coisas que nunca tínhamos visto antes e sua mensagem milenar satisfaz tanto
as crianças como ao ancião.
LEMBRETE
“É importante que se saiba que toda a Biblia foi inspirada mas nem toda ela foi dada por revelação.
Revelação é a ação de Deus pela qual ele dá a conhecer ao escritor coisas desconhecidas. O relato da
criação por exemplo, foidado a Moisés por revelação. A inspiração porém, nem sempre implica em
revelação.”
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UNIDADE III
O CÂNON DA BÍBLIA E SUA EVOLUÇÃO
...............................................................
“Através da Bibliologia compreendemos a formação da Bíblia, sua história e como miraculosamente ela chegou
até nós”
..............................................................
O SIGNIFICADO DA PALAVRA “CÂNON”
A palavra cânon tem raiz na palavra "cana", "junco" (do hebraico geneh, através do grego kanon). O
"junco" era usado como uma vara para medir e, por fim, veio a significar "padrão". No sentido
religioso, Cânon não significa vara de medir, mas aquilo que serve de norma ou regra. Orígenes
empregou a palavra "cânon para indicar aquilo que chamamos de regra de fé, o padrão pelo qual
devemos medir e avaliar". Mais tarde teve o sentido de "lista" ou "rol". Aplicada às Escrituras, a
palavra cânon significa "uma lista de livros oficialmente aceitos". Deve-se ter em mente que a igreja
não criou o cânon nem os livros que estão incluídos naquilo que chamamos de Escrituras. Ao
contrário, a igreja reconheceu os livros que foram inspirados desde o princípio. Foram inspirados por
Deus ao serem escritos.
TESTES PARA A INCLUSÃO DE UM LIVRO NO CÂNON
Não sabemos exatamente quais foram os critérios que a igreja primitiva usou para escolher os livros
canônicos. Possivelmente houve cinco princípios orientadores, empregados para determinar se um
livro do Novo Testamento era ou não canônico, se era ou não Escritura. Geisler e Nix registram esses
cinco princípios:
Revela autoridade? - Veio da parte de Deus? (Esse livro veio com o autêntico "assim diz o Senhor"?)
É profético? — Foi escrito por um homem de Deus?
É autêntico? (Os pais da igreja tinham a prática de "em caso de dúvida, jogue fora".Isso acentua a
validade do discernimento que tinham sobre os livros canônicos.")
É dinâmico? — Veio acompanhado do poder divino de transformação de vidas?
Foi aceito, guardado, lido e usado? — Foi recebido pelo povo de Deus?
Pedro reconheceu as cartas de Paulo como Escrituras em pé de igualdade com as Escrituras do Antigo
Testamento (II Pedro 3:16)..
O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO E SEU DESENVOLVIMENTO
A divisão do Antigo Testamento que conhecemos vem da Septuaginta. A Septuaginta foi a primeira
tradução das escrituras, feita do hebraico para outra língua, nesse caso o grego, em 285 a.C. Também a
ordem por assuntos como conhecemos vem dessa tradução. A disposição dos livros no cânon hebraico
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é bem diferente da nossa. Há apenas uma tríplice divisão do cânon: Lei, escritos e profetas. Consiste
em apenas 24 livros a invés dos nossos 39. Isso porque alguns livros são considerados apenas em seu
conjunto:
I e II Samuel.......................................................Considerados apenas um
I e II Reis............................................................Considerados apenas um
I e II Crônicas.....................................................Considerados apenas um
Esdras e Neemias..............................................Considerados apenas um
Os doze profetas menores.................................Considerados apenas um
É importante lembrar que segundo a tradição quem reuniu todos esses livros e os colocou em ordem
como coleção completa foi Esdras, após a volta do cativeiro. Desses originais eram feitas cópias para
as sinagogas largamente disseminadas.
Data de reconhecimento e fixação do cânon do Antigo Testamento
Em 90 D.C. em Jâmia, uma cidade próxima a Jope, em Israel. Os rabinos num concílio presidido por
Johanan Ben Zakai reconheceram e fixaram o cânon do A. T.
Fatores determinantes da necessidade do Cânon do Antigo Testamento
• A destruição de Jerusalém e do templo, em 70 A.D., acabou com o sistema sacrificial judaico. Muito
embora o cânon do Antigo Testamento estivesse fixado na mente judaica bem antes de 70 A.D., era
necessário algo mais definitivo. Os judeus encontravam-se espalhados e precisavam definir que livros
tinham a Palavra oficial de Deus devido à existência de muitos textos extra-escriturísticos e à
descentralização. Os judeus se tornaram o povo de um Livro específico, e foi esse livro que os manteve
juntos.
• O cristianismo começava a florescer e muitos textos, de autoria de cristãos, principiavam a circular.
Os judeus necessitavam desmoralizar de modo marcante esses textos, bem como impedir que fossem
aceitos junto com os seus próprios escritos e usados nas sinagogas.
É preciso ter cuidado em se fazer separação entre o cânon hebraico, as Escrituras e a grande variedade
de literatura religiosa existente.
A Literatura Apócrifa do Antigo Testamento
A palavra apócrifo vem do grego apokruphos e significa "oculto" ou "escondido". Jerônimo, que viveu no
quarto século, foi o primeiro a chamar de apócrifo esse grupo de livros. Os apócrifos são os livros
acrescentados ao Antigo Testamento pela Igreja Católica, os quais os protestantes afirmam não serem
canônicos.
Por que não canônicos?
O Unger's Bible Dictionary (Dicionário Bíblico de Unger) apresenta as seguintes razões para a exclusão:
"Estão repletos de discrepâncias e anacronismo históricos e geográficos".
"Ensinam doutrinas falsas que incentivam práticas divergentes das ensinadas pelas Escrituras
inspiradas".
"Apelam para estilos literários e apresentam uma artificialidade no trato do assunto, com um estilo
que destoa das Escrituras inspiradas".
"Faltam-lhes os elementos distintivos que conferem caráter divino às autênticas Escrituras, como, por
exemplo, a autoridade profética e o sentimento poético e religioso”.
O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO E SEU DESENVOLVIMENTO
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A formação dos livros do N. Testamento não levou mais que 100 anos. Em 100 d.C. estavam todos
escritos. A ordem dos 27 livros como conhecemos vem da Vulgata e não leva em conta a seqüência
cronológica dos livros (a ordem em que foram escritos).
As epístolas de Paulo.....................Foram os primeiros escritos do N.T.
Os Atos dos apóstolos....................Escrito em 63 d.C.
Os evangelhos.................................Os Sinópticos escritos em 65 d.C. e João em 85 d.C
Hebreus e Judas..............................Escritos entre 68 e 90 d.C.
Apocalipse........................................Escrito em 96 d.C.
Data de fixação e reconhecimento do cânon do Novo Testamento
Foi no concílio de Cartago em 397 d.C. Nessa ocasião foi definitivamente reconhecido e fixado o cânon
do N.T.
Testes para a inclusão de um livro no Cânon do Novo Testamento
O fator básico para determinar a canonicidade do Novo Testamento foi a inspiração divina, e o
principal teste da inspiração foi a apostolicidade. Geisler e Nix detalham a respeito: "Na terminologia
do Novo Testamento, a igreja foi edificada ‘sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas’ (Efésios
2.20), os quais Cristo prometera que, pelo Espírito Santo, iriam guiar 'a toda a verdade' (João 16.13).
Atos 2.42 diz que a igreja em Jerusalém perseverou 'na doutrina dos apóstolos e na comunhão'. A
palavra apostolicidade, conforme empregada para designar o teste de canonicidade, não significa
obrigatoriamente 'autoria apostólica' nem 'aquilo que foi preparado sob a direção dos apóstolos".
"Parece muito melhor concordar com Gaussen, Warfield, Charles Hodge e a maioria dos protestantes
em que o teste básico de canonicidade é a autoridade apostólica, ou a aprovação apostólica, e não
simplesmente autoria apostólica". Stonehouse afirma que a autoridade apostólica que se revela no
Novo Testamento nunca está divorciada da autoridade do Senhor. Há nas epístolas um constante
reconhecimento de que na igreja só existe uma única autoridade absoluta; a autoridade do próprio
Senhor. Sempre que os apóstolos falam com autoridade, fazem-no exercendo a autoridade do Senhor.
Dessa forma, por exemplo, quando Paulo defende sua autoridade de apóstolo, baseia-se única e
diretamente na comissão recebida do Senhor (Gálatas 1 e 2); quando evoca o direito de regulamentar a
vida da igreja, declara que sua palavra tem a autoridade do Senhor, mesmo quando nenhuma palavra
específica do Senhor lhe tenha sido transmitida (I Coríntios 14.37; I Coríntios 7.10). "O único que, no
Novo Testamento, fala com uma autoridade interna e que se impõe por si mesmo é o Senhor".
OS LIVROS CANÔNICOS DO NOVO TESTAMENTO
Há três razões que mostraram a necessidade de se definir o cânon do Novo Testamento.
1. Um herege, Marcião (cerca de 140 A.D.), desenvolveu seu próprio cânon e começou a divulgá-lo. A
igreja precisava contrabalançar essa influência decidindo qual era o verdadeiro cânon das Escrituras
do Novo Testamento.
2. Muitas igrejas orientais estavam empregando nos cultos livros que eram claramente espúrios. Isso
requeria uma decisão concernente ao cânon.
3. O edito de Diocleciano (303 A. D.) determinou a destruição dos livros sagrados dos cristãos. Quem
desejava morrer por um simples livro religioso? Eles precisavam saber quais eram os verdadeiros
livros. Atanásio de Alexandria (367 A.D.) nos apresenta a mais antiga lista de livros do Novo
Testamento que é exatamente igual à nossa atual. A lista faz parte do texto de uma carta
comemorativa escrita às igrejas. Logo após Atanásio, dois escritores, Jerônimo e Agostinho, definiram
o cânon de 27 livros. Policarpo (115 A.D.), Clemente e outros referem-se aos livros do Antigo e do
Novo Testamento com a expressão "como está escrito nas Escrituras". Justino Mártir (100-165 A.D.),
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referindo-se à Eucaristia, escreve em Primeira Apologia 1.67: "E no domingo todos aqueles que vivem
nas cidades ou no campo se reúnem num só local, e, durante o tempo que for possível, lêem-se as
memórias dos apóstolos ou escritos dos profetas. Então, quando o leitor termina a leitura, o presidente
faz uma admoestação e um convite a que todos imitem essas boas coisas".
OS LIVROS APÓCRIFOS
A palavra “apócrifo” significa literalmente “escondido”, “oculto”. No sentido religioso significa “não
genuíno”, “espúrio”. Foram escritos entre Malaquias e Mateus, no período em que cessara por
completo a revelação divina. Flávio Josefo os rejeitou totalmente e os judeus nunca os reconheceram
como canônicos. Jamais foram citados por Jesus, nem foram reconhecidos pela igreja primitiva. Nas
Bíblias de edição da igreja romana o total de livros é de 73 ao invés de 66. Isso porque essa igreja,
desde o concílio de Trento, em 1546, incluiu no cânon do A. T. sete livros apócrifos, além de quatro
acréscimos a alguns dos livros canônicos. A igreja católica os aprovou para combater a reforma
protestante. Nessa época os protestantes combatiam avidamente as novas doutrinas romanistas: do
purgatório, da oração pelos mortos (II Mac 12. 38-45), da salvação mediante as obras. A igreja romana
via nos apócrifos uma base para sustentar essas doutrinas. Os sete livros são: Tobias, Judite, Sabedoria
de Salomão, Eclesiástico, Baruque, I Macabeu, II Macabeus.
Os 4 acréscimos: ao livro de Ester (Ester 10.4 a 16.24) , Cântico dos três santos filhos (a Daniel 3.2490 ), História de Suzana (a Daniel 13) Bel e o dragão ( a Daniel 14 ).
Apócrifos do antigo testamento
Esses são os sete livros apócrifos do Antigo Testamento:
Tobias; Judite; Sabedoria de Salomão; Eclesiástico; Baruque, I e II Macabeus; Os 04 acréscimos ao livro
de Ester: (Ester 10.4 a 16.24); Cântico dos três santos filhos (a Daniel 3.24-90); História de Suzana (a
Daniel 13); Bel e o dragão (a Daniel 14).
Outras razões por que não esses livros não foram reconhecidos como canônicos
Estão repletos de discrepâncias e anacronismo históricos e geográficos. Ensinam doutrinas falsas que
incentivam práticas divergentes das ensinadas pelas Escrituras inspiradas. Ex: O ensino da Crueldade
e do Egoísmo. Em Eclesiástico 12:6, por exemplo, se escreve: "Não favoreças aos ímpios; retêm o teu
pão e não o dês a eles." Poderá alguém pensar que Deus havia de inspirar a algum homem a escrever
semelhante conselho? Eis, o que está escrito em Provérbios 25.21, 22. Se o que te aborrece tiver fome,
dá-lhe pão para comer; se tiver sede, dá-lhe água para beber, porque assim amontoarás brasas vivas
sobre a sua cabeça, e o Senhor te retribuirá. Apelam para estilos literários e apresentam uma
artificialidade no trato do assunto, com um estilo que destoa das Escrituras inspiradas. Faltam-lhes os
elementos distintivos que conferem caráter divino às autênticas Escrituras, como, por exemplo, a
autoridade profética e o sentimento poético e religioso.
Outros fatos importantes sobre os Apócrifos
A respeito dos apócrifos, diz o biblicista Norman Geisler: “Que os apócrifos, seja qual for o valor
devocional ou eclesiástico que tiveram não são canônicos, comprova-se pelos seguintes fatos”: A
comunidade judaica jamais os aceitou como canônicos. Não foram aceitos por Jesus, nem pelos
autores do Novo Testamento. A maior parte dos primeiros grandes Pais da Igreja rejeitou a sua
canonicidade. Nenhum concílio da Igreja os considerou canônicos, senão no final do quarto século.
Jerônimo, o grande especialista e tradutor da “Vulgata”, rejeitou fortemente os livros apócrifos.
Muitos estudiosos católicos romanos, ainda ao longo da Reforma rejeitaram os livros apócrifos.
Nenhuma igreja ortodoxa grega, anglicana ou protestante, até presente data, reconheceu os apócrifos
como inspirados e canônicos, no sentido integral dessas palavras.
ESUTES – Escola Superior de Teologia do ES
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Apócrifos do Novo Testamento
Os apócrifos do Novo Testamento não constituem nenhum problema, porque são rejeitados por todas
as igrejas cristãs. Não podíamos esperar algo diferente diante da fragilidade de seus escritos. Basta
citar um exemplo do Evangelho de São Tomás: "Jesus atravessava uma aldeia e um menino que
passava correndo, esbarra-lhe no ombro. Jesus irritado, disse: não continuarás tua carreira.
Imediatamente, o menino caiu morto. Seus pais correram a falar a José; este repreende a Jesus que
castiga os reclamantes com terrível cegueira."Este relato, que não se coaduna com a sublimidade dos
ensinos de Cristo, é suficiente para provar que este evangelho é espúrio.
Apócrifos do Novo Testamento: Evangelho segundo os Hebreus; Evangelho dos Egípcios, Evangelho
de Gamaliel, Evangelho de Tomé, Evangelho dos Ebionitas, As Sete Epístolas de Inácio, Aos Trálios, A
Epístola de Policarpo, Atos de Paulo, Atos de André, Apocalipse de Pedro, Apocalipse de Tomé,
Apocalipse de Paulo e vários outros.
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UNIDADE IV
A PRESERVAÇÃO DA BÍBLIA E SUAS TRADUÇÕES
...............................................................
“Através da Bibliologia compreendemos a formação da Bíblia, sua história e como miraculosamente ela chegou
até nós”
..............................................................
A SEPTUAGINTA
A mais antiga versão que existe é a septuaginta. Esta é uma tradução livre, desviando-se, em muitos
lugares, da original hebraica. Foi feita em 285 antes de Cristo, provavelmente para os judeus que
foram espalhados por todas as nações, uns 160 anos depois da volta de Neemias do cativeiro. Há
muitas lendas acerca desta tradução: todavia, podemos dizer que foi a obra de setenta redatores em
Alexandria. Sendo em grego, provavelmente, existia nos tempos de Jesus Cristo, mas não há evidência
alguma de que ele ou os seus discípulos a usassem. Pelo contrário, é mais provável que Jesus falasse
aramaico, salvo quando falou à mulher siro-fenícia (Mc 7.26) em grego, a fim de que ela o
compreendesse. As palavras, nos Evangelhos, que vêm a nós sem serem traduzidas são aramaicas:
“Talita Cumi” (Marcos 5.41); “Eloí, Eloí, lamá-sabactani” (Marcos 15.34). A Septuaginta tornou--se a
base de muitas traduções. As outras traduções na língua grega que merecem menção são as seguintes:
A versão de Áquila, um homem natural de Sinope, em Pontus, que se converteu do paganismo ao
judaísmo.No século II ele procurou fazer uma tradução literal do texto hebraico. A versão de Teodócio
de Éfeso. Ele reviu a Septuaginta; e a versão de Symmachus de Samaria. Não podemos deixar de
mencionar versão Siríaca, chamada o Peshito, que foi completa no século II, provavelmente antes de
150. Foi preparada para provas do seu uso entre os seus patrícios. No segundo século, o latim
suplantou o grego e ficou sendo por muitos anos a língua diplomática da Europa. Ao longo da costa
setentrional da África organizaram-se umas igrejas compostas de pessoas de língua latina. Para essas,
foi preparada uma versão latina. A sua história e origem são desconhecidas. O Velho Testamento foi
vertido da Septuaginta, e ao Novo Testamento faltavam os seguintes livros: Hebreus, Tiago e II Pedro.
Tertuliano e os seus contemporâneos usaram-na livremente. Esta tradução foi a base da Vulgata, a
qual se tornou a Bíblia autorizada da Igreja Católica Romana.
A Vulgata
Sofrônio Eusébio Jerônimo (c. 340-420) nascera de pais cristãos, em Estridão, na Dalmácia. Havia sido
educado na escola local até sua ida a Roma, com a idade de doze anos. Durante os oito anos seguintes,
Jerônimo estudou latim, grego e autores pagãos, antes de tornar-se cristão, com a idade de dezenove
anos. Logo após sua conversão e batismo, Jerônimo devotou-se a uma vida de rígida abstinência e de
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serviço ao Senhor. Passou muitos anos perseguindo uma vida semi-ascética de eremita. De 374 a 379,
empregara um rabino judeu para que lhe ensinasse o hebraico, enquanto estivesse residindo no
Oriente, perto de Antioquia. Foi ordenado presbítero em Antioquia antes de partir para
Constantinopla, onde passou a estudar sob a orientação de Gregório de Nazianzo. Em 382, foi
convocado por Roma para ser secretário de Dâmaso, bispo de Roma, e nomeado membro de uma
comissão para revisar a Bíblia latina. É provável que Jerônimo tenha aceitado o projeto em virtude de
sua devoção a Dâmaso, pois sabia que as pessoas de menor instrução se oporiam fortemente a sua
tradução. Este o convidou para corrigir e melhorar a Bíblia latina, então em uso nas igrejas do leste.
Aquele sábio completou a revisão do Novo Testamento. Depois da morte de Dâmaso, Jerônimo
mudou-se para Belém, onde fundou um mosteiro. Aí, no 80° ano de sua vida, começou uma nova
tradução do Velho Testamento, do hebraico para o latim. Esta é conhecida como a Vulgata Latina no
Concilio de Trento (1545-1547) foi proclamada autêntica, e um anátema foi pronunciado sobre
qualquer pessoa que afirmasse que qualquer livro que nela se achava não fosse totalmente inspirado
em toda parte. Esta tem sido a Bíblia seguida pelos católicos romanos em todas as suas traduções. A
Bíblia Douai e o Novo Testamento publicado em Reims foram traduzidos da Vulgata.
AS PRINCIPAIS TRADUÇÕES DA BÍBLIA PARA O INGLÊS
Bíblia de Genebra (1557,1560)
Durante a perseguição sob o comando de Mary Tudor, muitos reformadores fugiram para o
continente em busca de segurança. Entre aqueles que se estabeleceram em Genebra encontravam-se
estudiosos e amantes da Bíblia, como Miles Coverdale e John Knox (1513-1572), os quais produziram
uma revisão que viria a exercer grande influência no povo da Inglaterra. Em 1557, um do grupo,
chamado Guilherme Whittingham, cunhado de João Calvino, produziu uma revisão provisória do
Novo Testamento. Essa foi a primeira vez que o Novo Testamento em inglês se dividia em versículos,
embora tivesse sido assim dividido no Novo Testamento grego de Estéfano, bem como em edições
anteriores em latim e em hebraico. Longos prólogos foram acrescentados às traduções, juntamente
com súmulas de capítulos e copiosas notas marginais. Foi introduzido o grifo na tradução para indicar
lugares em que o inglês exigia palavras não encontradas no texto original. Logo depois do Novo
Testamento ter sido publicado em Genebra, foi iniciado o trabalho de revisar cuidadosamente toda a
Bíblia. Em 1560, foram completados o Antigo Testamento e uma revisão do Novo que incluíam as
mais recentes evidências textuais, e teve início a longa e movimentada história da Bíblia de Genebra. Em
1644, a Bíblia de Genebra já havia passado por 140 edições. Ela foi tão popular, que fez frente à Bíblia dos
bispos (1568) e à primeira geração da chamada Versão autorizada (1611). Foi largamente usada entre os
puritanos, citada repetidamente nas páginas de Shakespeare e usada até mesmo na mensagem
extraída de "Os tradutores aos leitores", na tradução de 1611. Embora suas anotações fossem mais
brandas que as de Tyndale, eram calvinistas demais tanto para Elizabete I (1558-1603) quanto para
Tiago I (1603-1625).
A Bíblia do rei Tiago (1611)
Em janeiro de 1604, Tiago I foi convocado a comparecer à Conferência de Hampton Court em resposta
à Petição Milenar que recebeu ao dirigir-se de Edimburgo para Londres após a morte de Elizabete I.
Perto de mil líderes puritanos haviam assinado uma lista de queixas contra a igreja da Inglaterra, e
Tiago desejava ser o pacificador nesse novo reino, colocando-se acima de todos os partidos religiosos.
Ele tratou os puritanos com maus modos na conferência, até que John Reynolds, presidente puritano
da Faculdade Corpus Christi, em Oxford, levantou a questão de ser feita uma versão autorizada da
Bíblia para todos os partidos dentro da igreja. O rei expressou seu apoio à tradução porque o ajudaria
a livrar-se de duas das traduções mais populares e elevar a sua estima aos olhos dos súditos. Foi
nomeada uma junta, à semelhança daquela da Bíblia de Genebra, que Tiago considerava a pior de todas
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as traduções existentes. Ela e a Bíblia dos bispos eram as Bíblias que ele esperava suplantar na igreja.
Seis grupos de tradutores foram escolhidos: dois em Cambridge para revisar de 1Crônicas a
Eclesiastes e os livros apócrifos; dois em Oxford para revisar de Isaías a Malaquias, os evangelhos,
Atos e o Apocalipse; dois em Westminster para revisar de Gênesis a II Reis e de Romanos a Judas.
Apenas 47 dos 54 homens escolhidos trabalharam de fato nessa revisão da Bíblia dos bispos. Suas
instruções estabeleciam que eles deviam seguir o texto da Bíblia dos bispos, a menos que notassem que
as traduções de Tyndale, de Matthew, de Coverdale, de Whitchurche e de Genebra correspondessem
mais de perto ao texto original. Esse texto original se baseou em poucos ou nenhum dos textos
superiores dos séculos de XII a XV, uma vez que seguiu as edições de 1516 e de 1522 do texto grego de
Erasmo, incluindo-se sua interpolação de I João 5.7. Usar a Bíblia dos bispos como ponto de partida
significava que muitas das antigas palavras eclesiásticas seriam mantidas na nova revisão. As notas
marginais acompanharam a nova revisão, e a chamada Versão autorizada nunca chegou a ser de fato
autorizada, nem ser de fato uma versão. Ela substituiu a Bíblia dos bispos nas igrejas porque nenhuma
edição dessa Bíblia foi publicada depois de 1606. Ser lançada no mesmo formato que a Bíblia de
Genebra conferiu à publicação de 1611 maior influência, assim como para isso contribuiu o uso que fez
de expressões precisas. A longo prazo, a grandeza de sua tradução conseguiu vencer a competição
com a influente Bíblia de Genebra dos puritanos, sua principal rival. Três edições da nova tradução
apareceram em 1611. Outras edições foram publicadas em 1612, e sua popularidade continuou a exigir
novas impressões. Durante o reinado de Carlos I (1625-1649), o Parlamento Longo estabeleceu uma
comissão para deliberar sobre a revisão da chamada Versão autorizada ou produzir uma tradução
totalmente nova. Somente revisões insignificantes resultaram em 1629, 1638, 1653, 1701, 1762, 1769 e
duas edições posteriores. Essas três últimas revisões foram feitas pelo dr. Blayney de Oxford. Elas
variaram em cerca de 75 mil pormenores do texto da edição de 1611. Pequenas mudanças
continuaram a surgir no texto até datas recentes como 1967 no texto da Versão autorizada que
acompanha a New Scofield reference edition (Nova edição de referência de Scofield). Entrementes, foram
feitas tentativas de trazer amplas alterações e correções às traduções inglesas da Bíblia em virtude de
novas descobertas textuais e por conta da natureza mutável da própria língua.
AS PRINCIPAIS TRADUÇÕES DA BÍBLIA PARA O PORTUGUÊS
Tradução de Almeida
Coube a João Ferreira de Almeida a grandiosa tarefa de traduzir pela primeira vez para o português o
Antigo e o Novo Testamento. Nascido em 1628, em Torre de Tavares, nas proximidades de Lisboa,
João Ferreira de Almeida, quando tinha doze anos de idade, mudou-se para o sudeste da Ásia. Após
viver dois anos na Batávia (atual Jacarta), na ilha de Java, Indonésia, Almeida partiu para Málaca, na
Malásia, e lá, pela leitura de um folheto em espanhol acerca das diferenças da cristandade, converteuse do catolicismo à fé evangélica. No ano seguinte começou a pregar o evangelho no Ceilão (hoje Sri
Lanka) e em muitos pontos da costa de Malabar. Não tinha ele ainda dezessete anos de idade quando
iniciou o trabalho de tradução da Bíblia para o português, mas lamentavelmente perdeu o seu
manuscrito e teve de reiniciar a tradução em 1648. Por conhecer o hebraico e o grego, Almeida pôde
utilizar-se dos manuscritos dessas línguas, calcando sua tradução no chamado Textus receptus, do
grupo bizantino. Durante esse exaustivo e criterioso trabalho, ele também se serviu das traduções
holandesa, francesa (tradução de Beza), italiana, espanhola e latina (Vulgata). Em 1676, João Ferreira
de Almeida concluiu a tradução do Novo Testamento, e naquele mesmo ano remeteu o manuscrito
para ser impresso na Batávia; todavia, o lento trabalho de revisão a que a tradução foi submetida
levou Almeida a retomá-la e enviá-la para ser impressa em Amsterdamã, na Holanda. Finalmente, em
1681 surgiu o primeiro Novo Testamento em português. Milhares de erros foram detectados nesse
Novo Testamento de Almeida, muitos deles produzidos pela comissão de eruditos que tentou
harmonizar o texto português com a tradução holandesa de 1637. O próprio Almeida identificou mais
de dois mil erros nessa tradução, e outro revisor, Ribeiro dos Santos, afirmou ter encontrado número
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bem maior. Logo após a publicação do Novo Testamento, Almeida iniciou a tradução do Antigo, e, ao
falecer, em 6 de agosto de 1691, havia traduzido até Ezequiel 41.21. Em 1748, o pastor Jacobus op den
Akker, de Batávia, reiniciou o trabalho interrompido por Almeida, e cinco anos depois, em 1753, foi
impressa a primeira Bíblia completa em português, em dois volumes. Estava, portanto concluído o
inestimável trabalho de tradução da Bíblia por João Ferreira de Almeida. Apesar dos erros iniciais, ao
longo dos anos estudiosos evangélicos têm depurado a obra de Almeida, tornando-a a preferida dos
leitores de fala portuguesa.
Tradução de Figueiredo
Nascido em 1725, em Tomar, nas proximidades de Lisboa, o padre Antônio Pereira de Figueiredo,
partindo da Vulgata latina, traduziu integralmente o Novo e o Antigo Testamento, gastando dezoito
anos nessa laboriosa tarefa. A primeira edição do Novo Testamento saiu em 1778, em seis volumes.
Quanto ao Antigo, os dezessete volumes de sua primeira edição foram publicados de 1783 a 1790. Em
1819 veio à luz a Bíblia completa de Figueiredo, em sete volumes, e em 1821 ela foi publicada pela
primeira vez em um só volume. Figueiredo incluiu em sua tradução os chamados livros apócrifos que
o Concilio de Trento havia acrescentado aos livros canônicos em 8 de abril de 1546. Esse fato tem
contribuído para que a sua Bíblia seja ainda hoje apreciada pelos católicos romanos nos países de fala
portuguesa. Na condição de exímio filólogo e latinista, Figueiredo pôde utilizar-se de um estilo
sublime e grandiloqüente, e seu trabalho resultou em um verdadeiro monumento da prosa
portuguesa. Porém, por não conhecer 85 línguas originais e ter-se baseado tão-somente na Vulgata, sua
tradução não tem suplantado em preferência popular o texto de Almeida.
A BÍBLIA NO BRASIL
Em 1902, as sociedades bíblicas empenhadas na disseminação da Bíblia no Brasil patrocinaram nova
tradução da Bíblia para o português, baseada em manuscritos melhores que os utilizados por
Almeida. A comissão constituída para tal fim, composta de especialistas nas línguas originais e no
vernáculo, entre eles o gramático Eduardo Carlos Pereira, fez uso de ortografia correta e vocabulário
erudito. Publicado em 1917, esse trabalho ficou conhecido como Tradução brasileira. Apesar de ainda
hoje apreciadíssima por grande número de leitores, essa Bíblia não conseguiu firmar-se no gosto do
grande público. Coube ao padre Matos Soares realizar a tradução mais popular da Bíblia entre os
católicos na atualidade. Publicada em 1930 e baseada na Vulgata, essa tradução possui notas entre
parênteses defendendo os dogmas da Igreja Romana. Por esse motivo recebeu apoio papal em 1932. A
primeira revisão da Bíblia em português feita pela Trinitarian Bible Society [Sociedade Bíblica
Trinitária] foi iniciada no dia 16 de maio de 1837. Essa decisão foi tomada seis anos após a formação
da Sociedade. O primeiro projeto escolhido para a publicação da Bíblia numa língua estrangeira pela
Sociedade foi o português. O rev. Thomas Boys, do Trinity College, Cambridge, foi encarregado de
liderar o empreendimento. No ano de 1969, em São Paulo, foi fundada a Sociedade Bíblica Trinitariana
do Brasil, com o objetivo de revisar e publicar a Bíblia de João Ferreira de Almeida como a Edição
corrigida e revisada fiel ao texto original. Em 1943, as Sociedades Bíblicas Unidas encomendaram a um
grupo de hebraístas, helenistas e vernaculistas competentes uma revisão da tradução de Almeida. A
comissão melhorou a linguagem, a grafia de nomes próprios e o estilo da Bíblia de Almeida. Em 1948
organizou-se a Sociedade Bíblica do Brasil destinada a "Dar a Bíblia à Pátria". Essa entidade fez duas
revisões no texto de Almeida, uma mais aprofundada, que deu origem à Edição revista e atualizada no
Brasil, e uma menos profunda, que conservou o antigo nome Corrigida. Em 1967, a Imprensa Bíblica
Brasileira, criada em 1940, publicou a sua Edição revisada de Almeida, cotejada com os textos em
hebraico e grego. Essa edição foi posteriormente reeditada com ligeiras modificações. Mais
recentemente, a Sociedade Bíblica do Brasil traduziu e publicou A Bíblia na linguagem de hoje (1988). O
propósito básico dessa tradução tem sido o de apresentar o texto bíblico numa linguagem comum e
corrente. Em 1990, a Editora Vida publicou a sua Edição contemporânea da Bíblia de Almeida. Essa edição
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eliminou arcaísmos e ambigüidades do texto quase tricentenário de Almeida, e preservou, sempre que
possível, as excelências do texto que lhe serviu de base. Uma comissão constituída de especialistas em
grego, hebraico, aramaico e português, coordenada pelo Rev. Luiz Sayão, trabalha em uma nova
tradução das Escrituras para a língua portuguesa, sob o patrocínio da Sociedade Bíblica Internacional,
com o título Nova versão internacional, da qual já se publicou o Novo Testamento em 1993. São também
dignas de referência: a Bíblia traduzida pelos monges di Meredsous (1959); A Bíblia de Jerusalém,
traduzida pela Escola Bíblica de Jerusalém (padres dominicanos) e editada no Brasil por Edições
Paulinas em 1981, com notas, e a Edição integral da Bíblia, trabalho de diversos tradutores sob a
coordenação de Ludovico Garmus, editado pela Vozes e pelo Círculo do Livro, também com notas.
APÊNDICE - O PERÍODO INTERBÍBLICO
400 a.C. — 04 da Era Cristã
Literatura: Daniel, Esdras e Neemias
O Período Interbíblico é um dos temas menos conhecido pelos que estudam a Bíblia. Os fatos históricos são de alta relevância, ocorridos nos seus 400 anos mais ou menos. Esta ignorância decorre do
fato de que a nossa Bíblia nada narra a respeito; simplesmente o ignora. Malaquias encerrou o ciclo
profético, e, depois dele, nada interessou à Revelação. Por seu turno, os leitores da Bíblia não se
interessaram por ele, e assim passou a ser apenas um ciclo perdido na história do povo eleito. Foi,
entretanto, um dos períodos mais ricos, quer em lições da História, quer no campo da literatura. As
luta dos Macabeus, para restaurar a dinastia de Davi, valem por uma afirmativa de que o povo da
Bíblia não estava morto e sua história continuava. Este período faz parte desta história, é a
continuação do período profético, mesmo sem profetas, e é a chave para uma boa compreensão dos
começos do Novo Testamento. Como pode um estudante do Novo Testamento entender o panorama
histórico que se abre com João, o Batista, e depois com o Senhor Jesus, se ignorar a história
preparatória para este período? O Período Interbíblico foi preparatório, tanto quanto os anteriores,
para a vinda do Messias, "o Desejado dos povos". Alguns não sabem por que os historiadores, em
geral, terminam a história do Antigo Testamento com a história do último profeta. Aí desce o pano,
como se tudo tivesse terminado. Não está certo. A nação hebraica continua a sua trajetória como se
nada tivesse ocorrido, sem luz para o caminho, é certo, mas, tateando nas trevas, prosseguindo para o
seu destino, que era dar ao mundo o seu Messias. A história deve prosseguir o seu curso. Os livros de
Malaquias, Esdras e Neemias deixam o povo às voltas com a reconstrução da sua nacionalidade, em
lutas contra os vizinhos belicosos e invejosos, sem uma saída, pelo menos próxima, destes grandes
conflitos. Ao historiador não podem passar sem notícia os graves problemas que se delineavam no
horizonte, especialmente o que se poderia esperar dos resultados da nova situação criada com a volta
dos cativos. Os que podem ler a História Geral, a história dos persas, podem dar-se por satisfeitos,
mas isso não acontece com a imensa maioria dos leitores da Bíblia. Por isso alguns historiadores
incluem, em sua apreciação histórica, o período que vai de Malaquias a João Batista. Por outro lado, se
é verdade que a Revelação terminou com Malaquias e que depois não houve mais profeta, parece
certo que Deus não tinha abandonado o seu povo. A Teologia parou, mas não a História. Que
aconteceu com a nova posição do povo judaico? Que teria acontecido com os que ficaram na
Mesopotâmia e com os que tinham fugido para o Egito? Como se teriam comportado os sucessores de
Ciro e Dario? Que tipo de judaísmo se havia formado durante esta longa noite de trevas? São perguntas que qualquer estudante do Antigo Testamento faz. É preciso construir uma ponte entre Malaquias
e João Batista, ponte que una a historia da Revelação à que lhe seguiu, de maneira a não interromper o
ciclo de atividades desta gente notável. Os cristãos do primeiro século são, para os de outras eras
posteriores, uma quase interrogação. Como é que Paulo encontrava, em todas as cidades que visitava,
uma colônia judaica? De onde veio esta gente? Como é que ele podia viajar de cidade em cidade,
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usando a mesma língua e valendo-se dos seus títulos de cidadão romano, quando o certo é que ele era
judeu, filho de judeu? Que teria havido no mundo, para permitir tais situações? Sem um
conhecimento das guerras de Alexandre, o Grande, e depois dos romanos, o estudante moderno fica
sem entender o panorama histórico que se abre para a difusão da mensagem do Novo Testamento.
Uma Era Tumultuosa
O Período Interbíblico representa uma era tumultuosa, não apenas para o povo hebreu, mas para o
mundo de então. Depois dos governos dos assírios e caldeus, veio o governo dos persas. Foi um
grande contrapeso dos destinos da pobre humanidade. As carnificinas dos assírios e caldeus, a
destruição das nacionalidades, por efeito destes sistemas de governo dissolventes, foram submetidos
por um sistema de governo em que os interesses de pequenas ou grandes nacionalidades receberam
um tratamento bem diferente do usual, naqueles dias longínquos obscuros. O estudante da História
não pode ignorar estas diferenças de sistema de governar os
povos. Foi graças a esta nova
mentalidade surgida nas estepes iranianas que os israelitas tiveram o direito de voltar à sua pátria,
reconstruir a sua cidade arrasada e restaurar o seu sistema de culto ao Deus verdadeiro. Os livros de
Daniel, Esdras e Neemias são o nosso campo de inspiração histórica, para uma sadia apreciação da
mudança de situação. Conta-se que tão logo Ciro assumiu o poder em Babilônia, lhe foi mostrada a
Escritura de Isaias 45, em que ele é mencionado por nome como o que estava destinado a restaurar o
povo de Israel à sua pátria. Ciro ficou admirado de ver o seu nome registrado duzentos anos antes de
nascer. Por isso, logo no primeiro ano do seu governo, deu ordens para que os cativos que desejassem,
voltassem à sua terra, devolveu os vasos de ouro que Nabucodonozor tinha levado e promoveu todas
as medidas para facilitar a volta a Judá. Assim, em 520, no segundo ano de Dario sócio de Ciro na
conquista da Babilônia, foi dada ordem aos judeus de voltarem à Palestina. Poucos voltaram, porque
muitos estavam estabelecidos na terra, fazendo bons negócios, e preferiram ajudar seus irmãos que
retornavam, a voltar com eles. A reconstrução do Templo foi iniciada no oitavo mês do segundo ano
de Dario, que corresponde a outubro-novembro; e no sexto ano do mesmo governante, em 12 de
março de 515, foi o Templo concluído (Ed 6.15). Foram apenas cinco anos de grande atividade. Não se
pense que o Templo ficou totalmente construído; apenas o suficiente para que fossem retomados os
serviços religiosos da novel comunidade restaurada. Este templo continuou em reconstrução e só ficou
totalmente concluído em 66 da nossa era. No tempo de Jesus, ainda as obras estavam em andamento;
portanto, durante 586 anos continuaram as obras. No ano 70 da nossa era, apenas 4 anos depois de
concluído, foi totalmente arrasado por Tito, general romano. Só há outro templo, na face da terra, que
levou tanto tempo para ser acabado: a Catedral de Milão, que levou 700 anos. Reconstruído o templo,
para reinicio do culto a Jeová, faltavam os muros da cidade, que estavam derrubados. Esta tarefa
coube a Neemias, o copeiro do rei. Em 444 a.C. foram iniciados os trabalhos de reconstrução e durante
cinquenta e dois dias — algo incrível! — foram dados como completos (Ne 6.15). A história da
reconstrução do Templo e dos muros é uma narração dramática e só pôde ser levada ao fim graças à
boa disposição do governo persa. Artaxerxes (465-424) foi o grande monarca da restauração dos
muros. Recentes investigações arqueológicas deram conta da maneira como foi feita esta reconstrução.
As pedras usadas não foram devidamente trabalhadas, e, em muitos casos, apenas pedaços de pedra
foram usados para tapar os buracos abertos nas muralhas. É de se ver que em 52 dias não seria
possível se fazer uma obra completa e acabada. Os inimigos, ao redor, tudo fizeram para impedir a
restauração do povo eleito na sua terra, e não foram poucas as encrencas políticas, as invencionices
diplomáticas da época, para frustrar esta obra. Deus tinha prometido que ela seria feita, e nada
poderia se opor à sua efetivação. Por dois séculos dominaram os persas sobre Jerusalém, e este
governo foi em tudo benéfico para a pobre e sofrida gente. Depois dos livros de Esdras e Neemias, a
Bíblia silencia sobre a história do povo. Um pesado véu caiu sobre Jerusalém, de modo que o
estudante da Bíblia tem de valer-se de autores profanos, para compor esta época, sempre interessante.
Se a Bíblia silencia sobre as atividades deste povo, nem por isso a sua história foi menos importante.
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Apesar do fato de que depois de Malaquias jamais alguém disse "Assim diz Jeová"; isto é, jamais
alguém se apresentou como falando em nome de Deus. A pequena comunidade continuou a sua
história, agora repartida entre os que ficaram em Babilônia, os que tinham fugido para o Egito e a
comunidade de Jerusalém. São os livros conhecidos como deutero-canônicos que nos falam desta
gente. Uma vastíssima literatura, na sua maioria escrita em grego, registra os acontecimentos desta
notável nação. Entre estes muitos livros, encontram-se os conhecidos pelo nome de Apócrifos,
incluídos pelo Concílio de Trento na coleção sagrada. Os outros, muitos deles fazem parte da
literatura judaica que se estende através, de 400 anos. Alguns dos livros escritos durante esta longa
época, versando a história do Antigo Testamento, são:
1. Adão; 2. Enoque; 3. Lameque; 4. Os Doze Patriarcas; 5. A Oração de José; 6. Eldade de Medade; 7. O
Testamento de Moisés; 8. Ascensão de Moisés; 9. Os Salmos de Salomão; 10. Apocalipse de Elias; 11.
Ascensão de Isaias; 12. Apocalipse de Sofonias; 13. Apocalipse de Esdras; 14. História de João Hircano;
15. Apocalipse de Baruque; 16. O Livro dos Jubileus; 17. Livro de Lenda e Magias; 18. Epístola de
Jeremias; 19. Os Livros Sibilinos; 20. Apocalipse de Zacarias; 21. Os quatro livros dos Macabeus.
Muitos outros não estão incluídos nesta lista. Destes, a Igreja Católica, por decisão do Concílio de
Trento em 1545 d.C. incluiu na sagrada lista os seguintes, chamados apócrifos: Judite, Tobias
(acrescido de Ester), Livro da Sabedoria (um grande livro), Eclesiástico (não Eclesiastes), Baruque
(acrescido a Daniel), e I e ll Macabeus. Desta inclusão de livros não inspirados na sagrada Bíblia
nasceu a mais tremenda crise religiosa dos últimos 500 anos, provocando não poucas lutas a respeito
das Bíblias falsas e verdadeiras. Foi desta luta que se convencionou chamar ditos livros de Apócrifos,
isto é, falsos. Em verdade, não são falsos, mas simplesmente livros não inspirados. Alguns, como os de
Macabeus, são grandes livros históricos, que relatam as lutas dos judeus contra os sírios. Entre os
deste grupo, destacamos também o Livro da Sabedoria, escrito no segundo século a.C. Uns são
interessantes, alguns outros, de pouca valia. Como é de se ver, uma comunidade que tinha produzido
alguns dos maiores vultos literários da antiguidade não poderia viver no anonimato. Jamais povo
algum produziu obras como as dos profetas, o Livro dos Salmos e outros. Inquietos pelo motivo de
Deus ter silenciado em relação ao Seu povo, deram para escrever, e grande parte destes escritos são de
natureza especulativa, tais como os Apocalipses. Os mesmos Apócrifos são, na sua maioria, histórias
de contos de fadas, sem qualquer base histórica.
Ambiente
O Vocábulo Interbíblico — Etimologicamente, "Interbíblico" quer dizer "entre a Bíblia", ou melhor,
“entre os dois Testamentos”. Isto é, entre o Antigo e o Novo Testamento assim como Se acham hoje
em nossas Bíblias. Hoje, apanhamos nossa Bíblia, folheamos o Antigo Testamento, chegamos a
Malaquias: encontramos uma página em branco, e logo nos defrontamos à primeira página do Evangelho segundo Mateus. Para quem desconhece a história, não sabe que essa página em branco entre os
dois Testamentos, representa um largo período de tempo que, segundo as melhores informações
históricas aceitas, durou mais ou menos 400 anos. O livro do Profeta Malaquias, último profeta desse
período, termina com a promessa do precursor do Messias, Mt 3.1 é o cumprimento fiel da Profecia de
Malaquias, No entanto, entre a profecia (Ml 3.1) e seu cumprimento. (Mt 3.1), transcorreram nada
menos de 400 anos. No transcurso desses anos, houve mudanças radicais, na terra e na vida do povo
do Senhor, como também na vida e nos costumes das Nações Gentias. O Mapa Mundi sofreu, no
decorrer desses anos, sensíveis transformações. A vida das apuradas civilizações oscila grandemente.
Enquanto poderosíssimas civilizações eram sepultadas pelas armas brutais de inimigos incontidos,
outras surgiam aqui e a acolá; graças às armas vitoriosas de povos conquistadores. Assim os
geógrafos-historiadores contemporâneos ou semi-contemporâneos desses sucessos, registraram em
seus anais, as diversas transformações pelas quais o mundo foi passando. Os 400 anos do Período
Interbíblico caracterizam-se pela cessação da Revelação Bíblica, pelo silêncio profundo em que Deus
permaneceu em relação ao seu povo, pois durante esse período, nenhum profeta se levantou em nome
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de Deus. No silêncio desesperador desses 400 anos, o Senhor deixou que os esforços dos homens, na
resolução dos problemas espirituais falhassem; que a filosofia se esboroasse; que o poder material
enfadasse as almas; que a imoralidade religiosa desiludisse a todos. Em 500 e poucos anos, os judeus
foram derrotados, levados ao cativeiro; sua Metrópole fora destruída, seu Templo profanado e
derrubado. Depois de duras provas por que passaram, tornaram a Jerusalém, reedificaram a cidade,
reconstruíram o Templo, e prosseguiram na sua história brilhante e ascendente, cujo término se
verificou em 70 da nossa era, na destruição de Jerusalém pelos Romanos.
Ambiente — Por ambiente, entendemos as condições, bem como as transformações geográficas,
econômicas, políticas e sociais da época, relacionadas com a vida dos judeus. O Judaísmo no N.T.
difere substancialmente do N.T. Essa mudança de ambiente entre os dois judaísmos é digna de nota e
precisa ser considerada, para melhor entendermos o mundo judeu nos dias dos Evangelhos. No fim
do Período Interbíblico, as tribos de Israel, haviam desaparecido. "Foram absorvidas pela sagacidade
dos assírios. Isaias profetizara que mesmo de Judá, apenas um "restante" seria salvo. Com efeito, a
tribo de Judá sobreviveu a todas as intempéries, a todas as tribulações a qual foi submetida; à
humilhação, ao furor dos inimigos e, após a procela babilônica, desponta fulgente em Jerusalém, a fim
de reiniciar seus trabalhos e de continuar suas tradições gloriosas. Os Judeus foram levados de
Jerusalém. Uma vez no exílio, toda a dor, toda a opressão, todo o desespero, foi insuficiente para
amortecer em sua alma o apego. Prosseguiram em suas tradições cívico-religiosas. Mantiveram acesas
as suas lâmpadas espirituais e reverdece, nesse tempo, em seus corações, a esperança Messiânica, cujo
desfecho verificar-se-ia em Jerusalém. Alimentaram, portanto, o desejo vivo de voltar à cidade do
Grande Rei. Esse desejo obrigou os judeus a não se ajustarem às condições sociais e religiosas do povo
vencedor. Por conseguinte, a religião de Jeová, mesmo no cativeiro, foi preservada. Um dos maiores
benefícios do cativeiro babilônico foi de colocar um marco entre o povo de Deus, para mostrar-nos o
velho e o novo judeu. Isto é, o judeu velho, pessimista, vencido, sem esperança nas promessas do
Eterno e o judeu novo, despertado, transformado, curado de sua idolatria e pronto a obedecer
fielmente à voz de Jeová. Os dois tipos de judeus voltaram a Jerusalém, mas o novo venceu o velho, de
sorte que todas as tendências idolátricas e derrotistas foram suplantadas pela atitude otimista dos
judeus transformados, que estavam dispostos a lutar, até derramar sangue, para preservar pura a
religião do seu Deus. Daí encontrarmos no Novo Testamento um judeu excessivamente nacionalista,
aterradoras tradições do seu povo, excedendo em zelo, e alcançando as raias do fanatismo cego,
pronto a cometer qualquer atrocidade, por falso zelo religioso, ou por zelo verdadeiro, como no caso
de Saulo de Tarso. Menores não foram as transformações políticas na vida dos judeus. Abrimos o
Novo Testamento e ali encontramos a dominação Romana no apogeu da sua força. Essa transição
entre o Poderio Persa e o Romano não encontramos na Bíblia, porque ocorreu nos anos do silêncio
Divino. A história, porém, no-lo apresenta. Encontramos nas páginas do Novo Testamento uma onda
invasora de influência Grega, permeando a sociedade da época. Em todas as partes prevalecem a
língua, artes, costumes, filosofia, literatura gregos. O Antigo e o Novo Testamento nada nos dizem a
respeito. Mais uma vez, as circunstâncias obrigam-nos a recorrer à história, para termos luz sobre os
fatos. Notamos igualmente, mudança na língua falada pelos judeus. Antes, os judeus falavam o
hebraico. Após o cativeiro começaram de falar o Aramaico. Perderam na Babilônia a sua língua
hebraica. O Aramaico é o hebraico transformado pela influência de diversos idiomas orientais.
Apareceram, durante o Cativeiro Babilônico, atravessando os séculos e chegando até nossos dias, as
Sinagogas, cuja função na vida religiosa do judeu e na propagação do Cristianismo é relevante. Em
lugar das doze tribos de Israel, ocupando o território da Palestina, como nos mostra o Antigo
Testamento, encontraremos nos dias de Jesus, 4 ou 5 regiões, como por exemplo: Galiléia, Samaria,
Judéia, Peréia, etc. Nos dias de Jesus parece que o exclusivismo judeu, gerado sob circunstâncias
prementes na Babilônia, floresce, amadurece, torna-se impertinente e odioso. Entretanto, interpretado
esse fator do ponto de vista judeu, ele se nos apresenta como zelo excessivo pelas tradições dos
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antepassados, cuja liberdade foi conquistada com derramamento de sangue e com enormes sacrifícios.
Durante o Cativeiro, aparecem diversas seitas político-religiosas que, no correr dos anos se
multiplicaram, principalmente sob o regime Romano, cuja dominação severa muito contribuiu para
essa situação. O Cativeiro Babilônico foi o tiro de morte na tendência do judeu na adoração de ídolos.
Hoje, o judeu prefere a morte a prestar culto a uma imagem. Nem as chamas da Inquisição Espanhola,
nem as atrocidades de D. João III, conseguiram genuflexar os judeus ante as imagens. Os judeus que
foram para Babilônia por causa de idolatria, lá entre os deuses, curaram-se desse mal, cujo efeito
perdura ainda. No Cativeiro, graças à benéfica influência dos Profetas do Altíssimo, graças também ao
sofrimento, reverdeceu a esperança messiânica, que se mantinha viva ainda nos dias do Novo
Testamento.
PERÍODO BABILÔNICO
Conexão Histórica
Uma vez morto Saul, Davi dominou sobre as doze tribos de Israel. Venceu os inimigos do seu povo e
preparou tudo para que seu filho Salomão esplendesse. De fato, o reino de Salomão foi o mais glorioso
de toda a história israelita. As nações do leste e sul pagaram-lhe tributo. Em religião, foram os judeus
reconhecidos como "os escolhidos de Jeová". Todos olhavam com expectação para o filho de Davi.
Erigiu-se o Templo em Jerusalém. Tudo floresceu naquela nação, até mesmo o luxo, a vaidade, a
opressão, a idolatria e a rebelião ao Senhor. Com a morte de Salomão, o reino foi dividido: Norte com
Jeroboão, filho de Nebá; e Sul com Roboão, filho de Salomão. O norte estabeleceu sua capital em
Samaria e adorou nos "altos"; e o sul ficou com sua capital em Jerusalém e adorou a Deus no Templo
de Salomão. O norte abandonou o Templo em Jerusalém e gradativamente também a Jeová para
seguir a idolatria, que trouxe como conseqüência, o declínio moral e espiritual; a pobreza e a confusão.
Inúteis foram os esforços dos profetas do Senhor em chamar o povo ao arrependimento. Cada rei, que
se levantou em Israel, era mais ímpio, mais profano. Esse estado de corrupção encheu a medida da ira
de Deus, até que, em 722 a.C. Sargão II, rei da Assíria, destruiu Samaria e dispersou os israelitas por
terras estranhas. Em Samaria, deixaram os assírios, povo de raça mongólica, que caldeou com os
remanescentes lavradores do norte, dando em resultado aquele povo estranho aos judeus, que tanto
dificultou os trabalhos de Esdras e Neemias. Dai a rivalidade entre judeus e samaritanos, como
encontramos no Novo Testamento. Judá, depois da queda de Samaria, como nação, durou mais 135
anos. O povo do sul permaneceu fiel ao seu Deus e às tradições dos antepassados, talvez devido à
influência da aliança de Jeová com Davi, do Templo e de outras coisas da cidade "santa" Jerusalém. O
poderio assírio perturbou muitas vezes a paz de Judá. Desapareceu, porém, a ameaça, quando as
armas babilônicas destruíram o predomínio dos filhos de Assur. O mesmo pecado que levou os
israelitas ao cativeiro, campeou agora em Judá, e talvez mais acentuado. A palavra, a exortação dos
mensageiros de Deus foi desprezada. Os profetas foram perseguidos, alguns barbaramente mortos.
Como resultado desse desatino dos judeus, o Senhor mandou-lhes Nabucodonozor que os levou em
cativeiro para Babilônia em 587 a.C.
O Tempo do Cativeiro Babilônico
O Antigo Testamento descreve em linhas gerais os eventos do Cativeiro Babilônico, isto é, quando os
judeus foram levados de Jerusalém para a Babilônia, capital da Caldéia. II Reis caps. 24 e 25 e II
Crônicas capítulo 36 descrevem de maneira clara o Cativeiro Babilônico. No relato bíblico, entretanto,
não se precisa a data do exílio; dá-o a história profana como ocorrido em 587 a.C. Segundo lemos em II
Reis cap. 24.1-7, os Babilônicos foram a Jerusalém durante o reinado de Joiaquim, que serviu por três
anos Nabucodonozor, rei dos caldeus. Depois de Joiaquim, reinou em seu lugar Joachim. Por esse
tempo o Egito foi subjugado pelas armas da Babilônia que se apoderou de todos os domínios egípcios
na Ásia. Pela rebeldia de Joachim, que desrespeitou seu tratado com os caldeus, os soldados de
Nabucodonozor sitiaram Jerusalém. Atemorizado, o rei de Judá, saiu ao encontro de Nabucodonozor,
acompanhado de sua mãe, seus príncipes e seus oficiais. O rei da Babilônia o tomou preso, levou
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todos os tesouros da Casa de Jeová, despojou o templo de todos os vasos de ouro e levou dez mil
cativos para a Babilônia, dentre artífices, príncipes e gente ilustre de Jerusalém. O próprio Joachim foi
transferido para a Babilônia, juntamente com sua mãe, suas mulheres, seus oficiais, homens principais
da terra inclusive alguns milhares de ilustres guerreiros. Nabucodonozor deixou Matanias no trono
de Judá, tio paterno de Joiaquim, que passou a chamar-se Zedequias. Onze anos durou esse estado de
coisas entre Jerusalém e Babilônia, quando irrompeu nova crise entre os dois reinos. Zedequias se
rebela contra Nabucodonozor e este, à frente de poderoso exército sitia Jerusalém, durante dois anos
— Jeremias 39.2, — abre brecha na muralha da cidade e entra ali triunfante. Os guerreiros judeus
fogem espavoridos e atônitos da presença dos caldeus; estes, valendo-se do estado de confusão
reinante, passam ao fio da espada homens, crianças, moços e velhos; destroem o suntuoso templo já
despojado de suas riquezas. Prendem a Zedequias; matam-lhe os filhos; vasam-lhe os olhos;
transferem-no para Ribla, na Babilônia. Levam ainda, outros judeus para Babilônia — Jeremias 39.9.
Depois disso, a Bíblia volta a falar-nos do ambiente do povo de Deus em Babilônia, o fim do cativeiro
e a volta a Jerusalém, sob Ciro, Dario e outros reis persas.
O Exílio Babilônico
A política dos reis caldeus difere diametralmente da dos reis assírios. Enquanto estes dispersavam
promiscuamente por terras estrangeiras, os povos vencidos, os caldeus conduziam em levas para
Babilônia; os exilados, dando-lhes bairros onde podiam morar em conjunto, gozar de certa liberdade,
tanto política como religiosa. Ezequiel e Jeremias deixam claro que os caldeus não oprimiam tanto os
exilados como faziam os assírios. O cativeiro Babilônico é muito mais brando do que o egípcio. Os
judeus na Caldéia ajudaram a construir edifícios, outros trabalharam em paz nos seus próprios lares.
Possuíam casas, como lemos em Ezequiel 3.24 e 33.30. Outros ainda deram-se ao comércio, à
agricultura e a outros misteres. Preservaram com muito cuidado as genealogias sacerdotais e reais
provindas de Arão e Davi. Foram conceituados, pois Daniel e seus três companheiros assistiam junto
ao rei. Podiam, ao modo judeu, adorar o seu Deus. O que aconteceu com os companheiros de Daniel,
não deve ser interpretado como perseguição religiosa, mas como intriga política. Continuaram a
praticar em Babilônia, alguns serviços religiosos. Tinham sacerdotes, guardavam o sábado, circuncidavam, jejuavam, obedeciam a Lei de Moisés. Cultuavam a Deus, liam a Bíblia e oravam na sinagoga.
Admite-se que alguns judeus tenham ingressado no paganismo; minoria, entretanto. O resto se
manteve firme em Deus e às tradições do seu povo e voltou para Jerusalém com fé inabalável em
Jeová. Durante o exílio, alguns profetas escreveram suas visões e mensagens. Escreveram-se diversos
Salmos. Nesses escritos, principalmente nos Salmos, deixa os autores transparecer a tristeza que lhes
ia à alma por estarem longe de Jerusalém. Os judeus antes do exílio Babilônico ocupavam-se quase
exclusivamente de lavoura e pecuária. Os anos de cativeiro converteram-nos em hábeis comerciantes.
Enriqueceram-se. Estabeleceu-se rasgado contraste entre os exilados que se locupletaram, e os que
permaneceram em Judá, que eram vitimas de extremada pobreza. Quando os medo-persas deram
liberdade aos judeus de retornarem à sua pátria, muitos deles, rejeitaram o convite, pois tinham
indústria, comércio, propriedades, riquezas que não lhes permitiam voltar ao torrão natal. Ficaram em
Babilônia, Egito, etc. Esses são os judeus da Diáspora ou dispersão.
Finalidade do Exílio
A Palavra de Deus afirma categoricamente que o Cativeiro Babilônico veio ao povo judeu, em
conseqüência imediata do pecado. Jeremias exortou e exortou o povo ao arrependimento. Se vos
converterdes ao Senhor, passará de vós este perigo. O povo não se arrependeu. O castigo veio.
Outrora, Moisés disse ao povo que se mantivesse fiel a Jeová. A permanência na terra dependia
diretamente de sua fidelidade ao Senhor. "Não terás outros deuses diante de mim" (EX. 20.3) foi o que
Deus, por Moisés, disse e reiterou muitas vezes ao povo. Em Deuteronômio, pacientemente Moisés
repete ao povo a Lei. A coisa mais recomendada pelo grande legislador é a "obediência". Moisés e
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Josué admoestaram o povo judeu a não irem após os deuses dos cananeus. Se fossem fieis em observar
a "Lei", teriam bênçãos copiosas; se não a observassem seriam levados para terra estranha. Lemos na
resposta de Deus a Salomão, após a dedicação do Templo em Jerusalém (I Reis 9:6-9): "Porém se vos
desviardes, vós e vossos filhos, e não me seguirdes nem guardardes os meus mandamentos e os meus
estatutos que vos tenho proposto, mas se fordes servir a outros deuses, e lhes derdes culto;
exterminarei a Israel da terra que lhe dei; e esta casa, que santifiquei ao meu nome, lançá-la-ei longe
da minha presença, e Israel virá a ser provérbio e motejo de todos os povos. Embora esta casa seja tão
alta, todavia todo o que por ela passar, pasmará e assobiará e dir-se-á: Porque fez Jeová assim a esta
casa e a esta terra? Ser-lhe-á dito em resposta: Porque deixaram a Jeová, seu Deus, que tirou da terra
do Egito a seus pais, e se apegaram a outros deuses e os adoraram e os serviram. Por isso trouxe Jeová
sobre eles todo este mal". Os profetas tiveram mensagens idênticas e advertiram ao povo para que se
abstivessem da idolatria, que fugissem à injustiça e que andassem com inteireza de coração nos retos
caminhos do Senhor. Deus lhes mandou repetidas admoestações: fome, praga, peste, seca, etc. A
finalidade era converter dos maus caminhos, o povo de Israel. Os judeus, porém, se enfatuaram,
entregaram-se a toda sorte de idolatria e injustiças e maldades; desprezaram o Senhor e Sua palavra;
perseguiram os profetas e encheram de sangue a terra. Aterraram-se ao Templo e entregaram-se a
religiosidade exterior e vazia. Por causa da rebelião dos judeus, veio o terrível "dia de Jeová".
Jerusalém foi destruída, o Templo profanado e reduzido a pó e o povo cativo, foi levado para
Babilônia. Os judeus foram escolhidos por Deus para uma nobre missão: a de dar ao mundo o
Messias. Mas, num dado período de sua vida desviaram-se dessa finalidade proposta por Deus.
Assim foi que Nabucodonozor corrigiu a idolatria dos judeus. Israel deveria ser purificado pelo
isolamento. A liberdade espiritual conquistada pela servidão política; a nação sacerdotal deveria ser
consagrada pelo sofrimento. Deste processo, viria uma revolução moral; o egoísmo seria destruído,
bem como os desajustes espirituais; “estabelecer-se-ia um novo ideal de fé e santidade e a preparação
para a tarefa que aguardava o "restante santo", de cujo seio sairia o Salvador do mundo". A finalidade
principal, pois, do Exílio Babilônico, foi "punir" e "educar" o povo de Deus; reintegrá-lo no caminho do
Senhor e prepará-lo para o advento do Messias.
Profetas do Exílio
Em 605 a.C. os Babilônicos começaram a ter predomínio sobre os judeus. Levaram nesse tempo, com
alguns judeus, Daniel, Ezequiel e outras pessoas. Em princípios de 587 o rei Joiaquim e grande parte
do seu povo foram transportados para a capital dos caldeus. No fim de 587, sob Zedequias, Jerusalém
foi destruída e o Templo incendiado. O povo foi conduzido em levas, para o cativeiro em Babilônia.
Quando afinal o Templo foi incendiado e o reino de Judá totalmente destruído, muitos deveriam ter
pensado que Jeová não fosse poderoso como os deuses da Babilônia. Alguns abandonaram sua fé
religiosa, para se tornarem iguais aos gentios. Outros deram ouvidos aos falsos profetas, que
predisseram: Jeová dentro de breves dias restaurará o seu povo no seu próprio país. No exílio, os
judeus não tiveram reis. Ao sacerdócio proibiu-se o exercício de suas funções. Dos três ofícios da teocracia israelita: profeta, sacerdote e rei, sobreviveram apenas a voz da profecia. Sobre o profeta recaiu
a responsabilidade toda da liderança. Os fenômenos, graças à Providência divina são recíprocos: para
grandes necessidades, grandes homens. No escuro céu de Babilônia onde se achava o povo do Senhor,
começaram a brilhar Ezequiel, Daniel, Jeremias, Isaias e outros Todos trazem ao povo mensagens de
consolação e esperança. Os profetas animaram os exilados. Ezequiel foi levado para a Babilônia em
598 A.C. Foi comissionado por Deus para o ministério profético entre 593 e 571 a.C. O seu ministério
anterior à queda de Jerusalém, e cheio de visões e admoestações ao povo, para ver se conseguia evitar
a catástrofe que ameaçava perder a sua pátria. Posteriormente, quando não mais existia o Templo em
Jerusalém, o Profeta anuncia a restauração de Israel e seu futuro feliz (caps. 33 a 48). Ezequiel é
chamado o profeta da esperança, pois anuncia (cap. 37) que a graça de Deus operará a restauração de
seu povo. "Farei com eles um concerto de paz... e porei no meio deles o meu santuário para sempre''.
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Assim, das orlas do Quebar, sai a voz de conforto e esperança que ecoa no coração de todos os
exilados judeus. Daniel, o sábio servo do Senhor, esteve em evidência na corte Babilônica. Chegou à
elevadíssima posição de vice-rei. "E revelador pessoal da providência divina" sobre Babilônia e seu rei.
Daniel foi o sábio estadista e o grande administrador. Conselheiro do rei e orientador dos negócios da
corte. O profeta do Senhor, confortou também o seu povo. Jeremias, depois de exortar o seu povo ao
arrependimento, antes da queda de Jerusalém, dedica parte do seu livro a confortar os cativos de
Babilônia. Sua carta aos exilados consola e anima com bons conselhos, o povo de Deus que estava em
Babilônia. Suas palavras são esperançosas. Deus, no fim dos 70 anos, visitaria o seu povo e dar-lhe-ia a
primitiva glória. Mudaria sua tristeza em alegria. A segunda parte de Isaias (Isaias caps. 40-66) é
escrita para edificar os abatidos de coração que se achavam em Babilônia. Jeová é o verdadeiro Deus.
Sua promessa a Abraão, reiterada depois às posteridades, é real. Reverdece a esperança messiânica.
Os Ídolos que agora vos atormentam, nada são; mera vaidade humana. O Cativeiro era de caráter
provisório. Logo viria o "Servo Sofredor" e carregaria no seu corpo as enfermidades de todos,
curando-os "por suas pisaduras.
PERÍODO MEDO-PERSA
Eventos políticos da dominação persa
A Média — A Média fica no majestoso Planalto do Iran, a leste da Cadeia de Zagros, a oeste da
Mesopotâmia, comunicando-se com o Mar Cáspio. Os medos descendem de um grupo IRANIANO. O
fundador da dinastia média foi Ciaxiares (633 a.C.), que auxiliou Nabopalassar a destruir Nínive.
Sucedeu-lhe no trono, seu filho Astíages, cuja filha foi desposada por Cambises, pai de Ciro, Vassalo
da Média.
A Pérsia — A Pérsia, era no tempo de Astíages, tributária da Média. A Pérsia antiga estava situada a
oeste do Golfo Pérsico, ao sul de Babilônia e sul da Média. Quando Ciaxiares fundou a famosa
dinastia médica, a Pérsia era uma de suas humildes colônias. Casando Cambises com a filha de
Astíages, o medo, seus domínios não sofreram alteração. Nenhum beneficio lhe resultou deste
matrimônio, ainda que ansiosamente o esperasse. A suprema ambição de Cambises: alargar o
território persa — tomou-se um recalque em Ciro, que se transformou. Percebe-se nas entrelinhas da
História, que havia sérias rivalidades entre Persas e Medos. Com a queda de Nínive, Pérsia ficou
sendo Tributária da Média. Desgostava aos persas esse jugo. Restava-lhes uma esperança — a política
de casamento. Cambises desposou a filha de Astíages. Esperou em vão território e liberdade, mas
nada lhe deram.
Interpretação da Queda da Babilônia
Ciro, sem dúvida, foi um célebre libertador. Deus havia predito alguns feitos de Ciro. Em Isaias 44.2628, "Ciro é o Pastor de Jeová, que cumprirá todo o seu beneplácito". Em 45.1 "Ciro é o ungido de
Jeová". Em 47.13 ", Ciro reedificará as cidades de Judá". Entrando Ciro em Babilônia, os judeus que ali
se achavam, foram e mostraram, ou o informaram dessas profecias, e o rei Persa libertou os filhos de
Israel. Libertou a todos os cativos não somente da Babilônia, mas de outras regiões. Firmara Ciro um
propósito no seu coração, não tirar nenhum povo de sua terra, de seu lar. Estava, portanto no seu
plano de realizações libertar todos os cativos. Ciro fez proclamar um edito nestes termos: Os judeus
que livre e espontaneamente desejarem voltar à sua pátria, poderão contar com as garantias do rei.
Zorobabel, da linhagem real e Josué da linhagem sacerdotal, voltaram chefiando a primeira leva de 50
mil judeus. Levaram vasos e outras provisões. O "restante" de Isaias voltava agora para sua pátria
cantando: "Se eu me esquecer de ti, Jerusalém, esqueça-se a minha mão direita da sua destreza.
Apegue-se-me a língua ao céu da boca, se eu não me lembrar de ti, se eu não preferir Jerusalém à
minha maior alegria". Chegando a Jerusalém, edificaram um altar e o culto a Jeová foi restabelecido.
Lançaram os alicerces do Templo. Habitaram a terra, mas tiveram de lutar contra os Filisteus, os
Edomitas, Moabitas, Amonitas, os mongólicos Samaritanos e outros, que se haviam estabelecido no
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país. A ascensão de Ciro, portanto, significa, cumprimento da vontade de Deus, libertação do
"Restante" de Judá, restauração da cidade de Jerusalém, templo, culto e sacrifícios a Jeová.
Daniel que dá a exata interpretação às palavras escritas na parede: "Mene: Deus contou o teu reino e o
acabou; TEKEL: Pesado na balança e achado em falta; PERES: Está dividido o teu reino, e entregue aos
Medos e aos Persas"! Consuma-se desse modo, a queda de Babilônia. Ciro, ao entrar em Babilônia
ordenou que os sacerdotes ungissem seu filho em nome do deus local. Ciro prossegue em suas
conquistas. Matam-no os Citas. Seu filho Cambises continua as guerras de seu pai. Toma uma parte da
Europa e consolida as posses do grande Império Medo-Persa.
Sucessos Espirituais sob o regime Persa
Por Nabuzaradan, sob Nabucodonozor, Judá foi levado cativo para a Babilônia. O exílio veio a Israel
em conseqüência do pecado. A influência dos judeus sobre Nabucodonozor e os Babilônios em geral,
foi muito grande. Deus prosseguia, através dessas vicissitudes, a preparar o mundo para vinda de
seu Filho. O Senhor transformou em bênção a aflição de seu povo. Quando Ciro dominou a Babilônia
proclamou um edito de liberdade aos filhos do cativeiro, permitindo-lhes voltar a Jerusalém. Além
dessas bênçãos, devemos convir em que no Exílio, Deus conseguiu vitórias sobre o seu povo:
A Idolatria destruída;
A Lei de Moisés respeitada;
Inauguração do Culto Público;
Reverdecimento da Esperança Messiânica;
Pronunciado Nacionalismo.
PERIODO GRECO-MACEDÔNIO
Explicação
Chamamos "Período Grego" o tempo da Dominação Macedônica no mundo. Estende-se das primeiras
conquistas de Filipe, até as Guerras Macabéias (333 a 167 a.C.).
Geografia
A Grécia Antiga divide-se em duas partes gerais: no norte a Hélade, com capital em Atenas e ao sul o
Peloponeso, ligado ao continente pelo istmo de Corinto, com a capital em Esparta.
Religião dos Gregos
A religião ocupava lugar central na vida dos Gregos. Seus deuses que se contavam as centenas, seus
santuários, seus jogos e tantos outros pormenores sobre religião, devem preocupar-nos e levar-nos a
estudar minuciosamente o assunto.
Alexandre Magno
Alexandre era filho de Filipe. Educara-se aos pés de Aristóteles. Sempre ao lado de seu pai, ajudava-o
nos planos bélicos. Admirador apaixonado de Homero; sonhava com glórias e conquistas. Viram-no
chorar um dia ao ouvir das vitórias de Filipe: "Meu pai não me deixará, pois, nada a fazer". Era
homem providencial para derribar e levantar impérios. Salvou a vida de seu pai das mãos dos
bárbaros no Danúbio. Atribuem-lhe a vitória de Queronéia. Há tantas inverdades em torno de
Alexandre, que é difícil separar-se o trigo do joio. Aos 20 anos, por morte de seu pai, assumiu as
rédeas do governo do Império Macedônio. Jovem ainda, as nações subjugadas viram nisso áurea
oportunidade para sacudirem o jugo Macedônio. Os Tribálios, os Getas e os Ilirios se levantaram
contra Alexandre. O jovem General, com incrível celeridade subjuga esses insurretos. Depois dessas
brilhantes vitórias, todos o temeram, todos o respeitaram. Acabava de submeter os Ilirios, quando foi,
às pressas, chamado à Grécia para sufocar um movimento de insurreição. Destruiu a cidade de Tebas,
reduzindo-a a monturos. A única coisa que se salvou, foi a casa do poeta Píndaro. Bastou o exemplo.
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Atenas o recebeu com vivas e aplausos, proclamando-o seu generalíssimo nas guerras contra os
persas.
Divisão do Império de Alexandre
Ainda em vida, Alexandre predisse que seus amigos lhe fariam "cruento funeral". Cumpriu-se o
vaticínio. O Macedônico não deixou sucessor direto, pois tinha um irmão, mas era imbecil, e um filho
com poucos anos de idade. Pérdicas no principio, governou como regente, passando-a sucessivamente
a Antípatro e Polispércon. Os outros generais uniram-se e combateram os regentes. Com as lutas, veio
a divisão e com esta a debilidade do grande Império de Alexandre. Cassandro, após a morte de seu
pai Antípatro, reinou na Europa. Ptolomeu dominou no Egito, Antíoco na Ásia e Selêuco na Babilônia.
Houve guerras entre estes e outros generais. Alguns deles morreram e o Império ficou assim dividido:
O Egito coube a Ptolomeu; a Síria a Selêuco; a Macedônia a Cassandro; e a Trácia a Lisímaco.
O PERÍODO MACABEU
O tempo
Entende-se o período Macabeu, de 167 a 63 a.C. Abrange 40 anos. Começou com Antíoco IV, o
Epifanes.
Macabeu
O nome Macabeu, hoje está muito vulgarizado por causa dos livros apócrifos da Bíblia Católica, que
trás I e II Macabeus. Entretanto, poucos conhecem sua etimologia. Macabeu, grego "MAKKABAIOS".
Pensam alguns que vem da palavra MKHBJ, compõe-se das principais letras da sentença "Quem entre
os deuses é semelhante a Ti, Jeová" de Êxodo 5.11. Outros ainda acreditam que venha de uma palavra
hebraica, cuja significação é "destruidor". William Smith opina que "Macabeu”, foi originalmente o
sobrenome de Judas, o terceiro filho de Matatias, e sua etimologia provável se originam de Macabá,
que significa "martelo". Hasmoneos, ou melhor, Chasmoneana, é o nome próprio da família de
Chasmon, o bisavô de Matatias conforme lemos em I Crônicas 24.7 e Neemias 12.19.
Natureza do Período
O Período chamado "Macabeu" se caracteriza por lutas, perseguições, sacrifícios, e finalmente por um
longo período de independência e paz.
Guerra Macabéia
O iníquo Apolônio governa com mãos de ferro a Judéia. Extravasa sobre os pobres e indefesos judeus,
o ódio de seu amo, Antíoco Epifanes, que com razão foi chamado Epimanes, "o louco".
Ateneu, uma espécie de inquisidor-mor, um tipo de torquemada, é o fanático perseguidor que impõe,
a ferro e a fogo, os ídolos pagãos dos sírios. É implacável. Não perdoa a ninguém. Persegue, prende,
açoita, mata, tudo em nome de religião. Seus emissários vão por todos os termos da Judéia buscando
os "hereges", como Saulo mais tarde andará a cata de cristãos. Jerusalém está reduzida a escombros, e
sua população dizimada. Milhares de seus ilustres filhos tombaram ante a fúria, o desvario, o
desatino de Epifanes. O povo judeu ficou reduzido e humilhado. Os poucos jerusalemitas que conseguiram sobreviver à catástrofe do "sírio-louco", fugiram pára os pequenos arraiais da Judéia e
esconderam-se nas cavernas e nos montes. A maior glória, a coisa mais sagrada dos judeus, o templo,
construído por Esdras e Neemias, fora agora profanado, da maneira mais vil para um filho de Abraão
— os sírios introduziram um porco no seu santuário. Os judeus preteriam a morte, a verem tamanha
transgressão. O amor que os israelitas devotavam à religião e à tradição de seus antepassados, era
muito grande e mais forte que muitos exércitos sírios somados. Esse amor, muitas vezes recalcado
pela intolerância e impiedade dos sírios, tornar-se-ia um patriotismo brilhante, capaz de sacudir o
jugo profano e iníquo de Epifanes e devolver à Palestina sua independência política e religiosa.
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Dormia latente, no entanto esse patriotismo no peito de cada judeu sincero. Era mister que a taça dos
crimes de Epifanes se enchesse. Todos os judeus sentiam a mesma coisa - lutar para ser livre, ou
morrer sob o tacão de seus perversos dominadores. Faltava, em meio àquele silêncio que coagia os
filhos de Israel, apenas um "grito", uma voz de comando, como outrora de um Josué, de um Gideão,
ou de um Samuel conclamando o povo a luta, ao sacrifício. Todos os judeus estariam a postos.
Nenhum fugiria ao combate. Esse patriotismo dos judeus estava destinado a assinalar nas páginas de
sua gloriosa história, os feitos mais notáveis. Nesse estado de consciência, nessas prementes
circunstâncias, os judeus aguardavam o grito de independência. Foi em Modeina, num lugarejo entre
Jerusalém e Jope, a sudoeste da Palestina, portanto, que um velho, mas fiel sacerdote do Senhor, cujo
nome era Matatias, deu o primeiro grito de independência. Matatias, filho de Simão, filho de Johanan,
filho de Hasman, da turma de Joarib, (as primeiras vinte e quatro turmas estabelecidas por Davi). Era
descendente direto da casa de Arão. Matatias tinha cinco filhos: João, Simão, Judas, Eleazar e Jônatas.
Matatias, foragido em Modeina, acha-se certo dia na vila. Apolônio e Ateneu mandaram um esbirro às
províncias de Judéia, para mais torturar a consciência dos judeus. Apeles, o comissário fiscal de
Ateneu, obrigou a Matatias e outro judeu a oferecerem sacrifício aos deuses. O velho sacerdote
terminantemente se recusou fazê-lo. Choveram as ameaças de Apeles contra os dois judeus. O outro
judeu, condescendendo com o comissário, dobra-se aos ídolos e vai oferecer sacrifício, quando
Matatias matou a ambos, ao renegado judeu e ao comissário de Apolônio. A seguir, o ancião, sentindo
renovadas suas forças, derrubou o pagão e lançou a proclamação: Independência! Independência! Seu
brado ecoou por todas as montanhas da Judéia e feriu os ouvidos dos oprimidos judeus. Chegou o dia
da nossa libertação. Antes, porém, espera-nos o sacrifício. Lancemo-nos à luta e Jeová nosso Redentor
pelejará por nós. Reunindo seus cinco destemidos filhos, Matatias foge para as montanhas, a fim de
engrossar as fileiras de seu pequenino exército, defender-se dos famigerados sírios e proteger seus
irmãos de raça. Os judeus acercaram-se logo de Matatias e começaram a lutar com ardor, por sua
independência religiosa e política. Os sírios e traidores judeus, ficaram indignados ante o avanço do
velho sacerdote. Nada fizeram senão localizar os patriotas judeus e esperar pelo sábado, dia em que
os adeptos de Moisés descansam, em obediência à Lei do Senhor. De fato, no sábado, cessaram os
judeus de toda a sua obra. Cultuavam ao Senhor. De emboscada, os sírios lançaram-se sobre os judeus
e mataram cerca de mil soldados. Os judeus preferiram a morte a violar o sábado de Jeová. Matatias
aprendeu a lição desse trágico incidente. O sangue das vitimas autorizou-o a pregar: Nesta luta pela
vida, pela liberdade e pela religião, pode-se quebrar a guarda do sábado, tratando-se de legítima
defesa. Depois de meses de lutas, e já enorme seu exército, o ancião Matatias veio a falecer. Matatias,
antes de exalar o último suspiro, recomendou a seus filhos que tomassem a Simão por conselheiro e a
Judas como chefe militar; que se unissem "pelos laços da maior abnegação na sua consagração, à causa
de seu pai, que era a de seu país".
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