Normalidade e Deficiência

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Análise de um livro didático de língua inglesa do ensino médio:
qualidade ou quantidade?
Tássila da Silva Pacheco1
Adriana Soares2
Resumo: Hoje em dia é muito comum encontrar em escolas de Ensino Médio, estaduais ou
particulares, livros didáticos ou apostilas para as aulas de Língua Estrangeira, muitos desses, os
próprios alunos adquirem. Mas como esses livros são utilizados? Os professores conseguem usar
todos os conteúdos na ordem em que se apresentam nos livros? Os exercícios são ótimos em sua
totalidade? Todos os alunos conseguem realizá-los? Todos os conteúdos são realmente trabalhados?
Para essa pesquisa será analisado o livro Inglês para o Ensino Médio – Volume único, de Mariza
Ferrari e Sarah Rubin.
Palavras-chave: PCNs. Língua Estrangeira. Ensino Médio. Livros didáticos.
Abstract: Nowadays it is very common to find in high schools, state or private, textbooks or handouts
for foreign language classes, many of the students acquire them. But how are these books used? Can
teachers use all the contents in the order they are presented in the books? Are the exercises really?
Can all students achieve them? Are all contents actually worked? For this research it will be analyzed
the book Inglês para o Ensino Médio – volume único, by Mariza Ferrari and Sarah Rubin.
Keywords: PCNs. Foreign Language. Ensino Médio. Textbooks.
PCNs do Ensino Médio
Segundo os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) de Língua Estrangeira do
Ensino Médio, ao final de seus estudos, o aluno deverá ter as seguintes habilidades
e competências (2000, p. 96):
 Competência interativa, que se desenvolve por meio do uso da linguagem em
situações de diálogo entre falantes que partilham o mesmo idioma, pautado por
regras comuns e reciprocamente convencionadas;
 Conhecimento das regras e convenções que regem determinado sistema
linguístico no âmbito do uso de recursos fonológicos, morfológicos, sintáticos e
semânticos. Por exemplo, no Inglês, dá-se a anteposição de adjetivos a
substantivos; no Espanhol, os pronomes reflexivos não são separados do verbo
por hífen quando ocorre a ênclise, diferentemente do Português;
1
Graduada em Letras Licenciatura Plena pela Faculdade Cenecista de Osório/FACOS – Osório/Rio
Grande do Sul – Brasil.
2
Professora Mestre em Linguística Aplicada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica. Professora
Orientadora do Estágio Supervisionado em Língua Inglesa no Ensino Fundamental e Médio da
Faculdade Cenecista de Osório – Osório/ Rio Grande do Sul - Brasil
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 Competência de ler e produzir textos, articulados segundo sentidos produzidos
ou objetivados intencionalmente, de acordo com normas estabelecidas nos vários
códigos estrangeiros modernos, percebendo contextos de uso bem como
diferenças entre os diversos gêneros textuais.
Estas habilidades e competências estão descritas nos PCNs para que todos os
professores de línguas do Ensino Médio possam saber o que é esperado de um
aluno, referente o aprendizado de uma língua estrangeira, quando ele termina seus
estudos. Mas, muitas vezes, os professores não têm acesso aos PCNs, ou não
seguem as orientações dadas por eles. Então, se o professor não tem acesso a
estas informações, como ele trabalha o ensino da língua estrangeira? Com base
somente no conteúdo programático da escola? Ou baseado no livro didático?
Nos dias atuais, muitas escolas disponibilizam aos alunos livros didáticos para a
disciplina de Língua Estrangeira, em algumas, os alunos compram os livros em
outras eles são adquiridos gratuitamente.
A maior dúvida apresentada nesse artigo é como esses livros são apresentados e
como os professores os utilizam. Será que seguindo os conceitos dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, os professores conseguem trabalhar com os livros, ou os
dois são tão distintos, não sendo possível utilizá-los juntamente?
Segundo os PCNs do Ensino Médio, “O objetivo primordial do professor de língua
estrangeira deve ser o de tornar possível ao seu aluno atribuir e produzir
significados, meta última do ato de linguagem.” (2000, p.28) Como o professor pode
trabalhar com esse objetivo, se muitas vezes, seus alunos não se importam em
estudar uma língua estrangeira? Ou muitas vezes, os alunos são tímidos demais
para dialogar em inglês? Muitos professores têm essas dúvidas e não sabendo
como trabalhar, acabam dedicando suas aulas ao livro didático. Não está errado,
pois o livro didático está disponível com exercícios, explicações extras e atividades
muito interessantes, mas utilizar somente o livro não é a melhor forma de alcançar o
objetivo proposto pelos PCNs.
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As aulas de língua estrangeira devem ser interativas desde os níveis mais básicos
para que os alunos possam engajar-se em uma conversa mesmo que seja para uma
simples troca de informações. Contudo, muitas vezes, a interatividade não se dá
somente com o uso do livro didático.
Influência
recíproca:
a
interação
da
teoria
e
da
prática.
Diálogo entre pessoas que se relacionam ou que possuem algum tipo de
convivência.
Sociologia. Agrupamento das relações ou ações entre os indivíduos
pertencentes a um determinado grupo ou entre os grupos de uma mesma
sociedade.
Psicologia. Fenômeno que permite a certo número de indivíduos constituir
um grupo, e que consiste no fato de que o comportamento de cada
indivíduo se torna estímulo para outro. (Etm. inter + ação) (FERREIRA,
2010)
Para haver interação é preciso que existam no mínimo duas pessoas, por
conseguinte, com o livro didático não há interação.
O indivíduo que aprende um novo código linguístico não se desvincula de
sua língua materna. O professor de língua estrangeira no ensino médio
deve lançar mão de conhecimentos linguísticos e metalinguísticos dos
alunos, estabelecer pontos de convergência e de contraste, assim como
colocar o aluno frente a situações reais de uso do idioma, que ultrapassam
o teórico e o metalinguístico. (PCNs do Ensino Médio, 2000, p.94)
“...estabelecer pontos de convergência e de contraste, assim como colocar o aluno
frente a situações reais de uso do idioma, que ultrapassam o teórico e o
metalinguístico.” ( 2000, p.27). Os PCNs estão claros quanto ao uso do livro didático:
não deve ser abolido, mas necessita ser trabalhado juntamente com outros tipos de
atividades em que os alunos possam vivenciar a língua estrangeira, utilizar na
prática tudo que eles aprendem na teoria. Igualmente como acontece na disciplina
de Educação Física, primeiro eles devem saber as regras para depois começarem a
jogar, no ensino de uma língua estrangeira acontece da mesma forma, pois se os
alunos não vivenciarem essa língua eles irão esquecer a teoria.
Então, o livro didático não deve ser exterminado, pois seu uso também traz muitos
benefícios aos aprendizes de uma língua estrangeira, mas juntamente com o uso do
mesmo deve haver a utilização de outros tipos de atividades.
O professor do ensino médio deve ter clareza quanto ao fato de que o
objetivo final do curso não é o ensino da gramática e dos cânones da norma
culta do idioma. O domínio da estrutura linguística envolve, todavia, o
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conhecimento gramatical como suporte estratégico para a leitura e
interpretação e produção de textos. (PCNs do Ensino Médio, 2000, p.113)
É importante sim, ensinar a gramática, a formação correta da sentença, o
vocabulário, contudo os Parâmetros Curriculares Nacionais deixam claro que, o
professor não precisa preocupar-se somente com o conhecimento gramatical. O
aluno tem necessita das duas habilidades: conhecer a gramática e saber expressarse, para poder escrever, ler, compreender e conversar com seus colegas ou com um
nativo da língua, se necessário for.
Analisando um livro didático do ensino médio
O livro que será analisado será “Inglês para o Ensino Médio – Volume único, de
Mariza Ferrari e Sarah Rubin.” Ele tem ao total 512 páginas divididas em quatro
partes: PART 1, PART 2, PART 3 e lista de verbos irregulares. Pela análise
compreende-se que cada um desses três capítulos representam uma série das três
do Ensino Médio.
Cada capítulo tem oito unidades e elas são divididas em “competências” e
“estrutura”; dentro das competências existem diversos assuntos, desde esportes até
relacionamento, textos diferenciados, como quadrinhos, poemas, reportagens, entre
outros. No item “estrutura”, aparece o conteúdo gramatical, em algumas unidades
são trabalhados mais de um conteúdo, existem muitos exercícios, mas são pouco
variados.
Em seguida, decorrem os conteúdos previstos, para os três anos do Ensino Médio,
nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Estrangeira. Destes conteúdos,
todos que estão em negrito são abordados no livro didático:
• pronomes pessoais (sujeito e objeto);
• adjetivos e pronomes possessivos;
• artigos;
• preposições;
• adjetivos, advérbios e suas posições na frase (word order);
• caso genitivo (’s);
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• plurais regulares e irregulares;
• substantivos contáveis e incontáveis (mass and count nouns);
• quantifiers: much, many, few, little, a lot of, lots of, a few, a little;
• conjunções (linkers);
• falsos cognatos;
• principais prefixos e sufixos;
• verbos regulares e irregulares;
• graus dos adjetivos;
• pronomes indefinidos e seus compostos;
• pronomes reflexivos;
• pronomes relativos;
• pronomes interrogativos;
• uso enfático de do;
• orações condicionais;
• tag questions;
• additions to remarks;
• discurso direto e indireto;
• verbos seguidos de infinitivo e gerúndio;
• verbos seguidos de preposição;
• voz passiva simples e dupla;
• orações temporais com o verbo to take;
• forma causativa de have and get;
• also, too, either, or, neither, nor;
• phrasal verbs.
Fazendo um cálculo, digamos que a escola disponibilize de dois períodos semanais
para a disciplina de língua inglesa, a princípio temos 8 períodos mensais, por ano
são cerca de 80 períodos, então poderíamos dividir uma unidade do livro a cada 10
períodos, ou seja, em torno de um mês para cada uma das oito unidades préestabelecidas, por ano. Cada unidade tem entre 20 a 25 páginas, então poderíamos
utilizar quatro páginas do livro a cada dois períodos.
Se o professor seguir a risca o livro didático, como irá trabalhar as outras
competências estabelecidas pelos PCNs? Muitas atividades e textos podem ser
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utilizados a partir do livro didático, mas seguindo-o fielmente não é possível alcançar
todos os objetivos presentes nos PCNs.
Então, precisa haver um combinado entre o livro didático e a vivência em sala de
aula da língua estrangeira, pois nenhum dos dois sozinhos terá um bom
desempenho, mas os dois trabalhados em conjunto serão um ótimo subsídio para a
aprendizagem da língua estrangeira.
O professor de língua estrangeira no ensino médio deve lançar mão de
conhecimentos linguísticos e metalinguísticos dos alunos, estabelecer
pontos de convergência e de contraste, assim como colocar o aluno frente a
situações reais de uso do idioma, que ultrapassam o teórico e o
metalinguístico. Ainda que em situação de simulação, a mobilização de
competências e habilidades para atividades de uso do idioma – ler manuais
de instrução, resolver questões de vestibular, solicitar e fornecer
informações, entender uma letra de música, interpretar um anúncio de
emprego, traduzir um texto, escrever um bilhete, redigir um e-mail, entre
outras – deve ocorrer por meio de procedimentos intencionais de sala de
aula. (PCNs do Ensino Médio, 2000, p.94)
Portanto, o professor não deve esquecer o livro, mas também não deve deixar de
trabalhar com outros tipos de atividades que façam com que os alunos interajam
entre si e troquem experiências.
Referências
BORK, Ana Valéria. Aprendizagem de língua inglesa no Ensino Médio: um
estudo empírico com a técnica de dramatização. Universidade Federal de Curitiba,
2005.
BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares
Nacionais do Ensino Médio. Parte I - Bases Legais; Parte II - Linguagens, Códigos
e suas Tecnologias; Parte III - Ciências da Natureza, Matemática e suas
Tecnologias; Parte IV - Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília: MEC, 2000.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio básico da língua
portuguesa. 8.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
MOURA, Denilda. Os múltiplos usos da língua. EduFal. Maceió, 1999.
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SANTOS, André Luiz Pereira. A realidade da realidade do ensino da língua
inglesa nas escolas de Ensino Médio com base nos novos PCNs: uma visão
crítica comparativa. Universidade da Amazônia, 2001.
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