revistahugv Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas The Journal of Getulio Vargas University Hospital V.13. N. 1 JAN./JUN. – 2014 UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS Rua Apurinã nº 04 – Praça 14 de Janeiro, Cep: 69020-170 Manaus - AM Fones: (092) 3305-4708 E-mail: [email protected] FUNDADORES Ricardo Torres Santana Jorge Alberto Mendonça LISTA DO CONSELHO EDITORIAL DA REVISTA HUGV EDITOR-CHEFE Fernando Luiz Westphal Maria Augusta Bessa Rebelo Kathya Augusta Thomé Lopes LISTA DO CONSELHO CONSULTIVO DA REVISTA HUGV Aristóteles Comte Alencar Armando de Holanda Guerra Júnior Celsa Moura Domingos Sávio Nunes de Lima Edson de Oliveira Andrade Ermerson Silva Eucides Batista da Silva Eurico Manoel Azevedo Fernando César Façanha Fonseca Fernando Luiz Westphal Francisco Mateus João Giuseppe Figliuolo Ione Rodrigues Brum Ivan da Costa Tramujás Jean Jorge Silva de Souza José Correa Lima Netto Julio Mario de Melo e Lima Juscimar Carneiro Nunes Kathya Augusta Thomé Lopes Leíla Inês de A. R. da Camara Coelho Lourivaldo Rodrigues de Souza Luís Carlos de Lima Luiz Carlos de Lima Ferreira Luiz Fernando Passos Marcus Vinicius Della Coletta Maria Augusta Bessa Rebelo Maria do Socorro Lobato Maria do Socorro L. Cardoso Maria Fulgência Costa L. Bandeira Maria Lizete Guimarães Dabela Márcia Melo Damian Marcus Tolentino Massanobu Takatani Miharu Magnória Matsuura Matos Patrícia Bandeira de Melo Akel Petrus Oliva Souza Ricardo Torres Santana Rodolfo Fagionato Rossiclei de S. Pinheiro Rubem Alves da Silva Júnior Sandra Lúcia Euzébio Taís Freire Galvão Wilson Bulbol Zânia Regina Ferreira Pereira revistahugv Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas The Journal of Getulio Vargas University Hospital V.13. N. 1 JAN./JUN. – 2014 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS Copyright© 2014 Universidade Federal do Amazonas/HUGV REITORA DA UFAM Prof.ª Dra. Márcia Perales Mendes Silva SUPERINTENDENTE DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS Dr. Rubem Alves da Silva Júnior PRODUÇÃO GRÁFICA-EDITORIAL Fernando de Souza Neto ORGANIZAÇÃO Thaís Borges Viana DIRETORA DA EDUA Prof.ª Dra. Suely Oliveira Moraes Marquez DIRETORA DA REVISTA Profª Dayse Enne Botelho EDITOR-CHEFE DA REVISTA Prof. Dr. Fernando Luiz Westphal REVISÃO (LÍNGUA PORTUGUESA) Sergio Luiz Pereira CAPA Serviço de Ergodesign TIRAGEM 300 EXEMPLARES CDU 61(051) R454 Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas. Revista do Hospital Getúlio Vargas. V. 13, n. 1 (2014) / Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2013 86 p. Semestral Título da revista em português inglês ISSN – 1677-9169 1. Medicina-Periódico I. Hospital Universitário Getúlio Vargas II. Universidade Federal do Amazonas. CDU 61(051) Sumário Editorial 11 Fernando Luiz Westphal Artigos Originais Perfil Clínico e Epidemiológico dos Pacientes Internados com Diagnóstico de Insuficiência Cardíaca Crônica Internados no Centro de Referência em Cardiologia do Estado do Amazonas 13 José Ricardo Ferreira; Marlúcia do Nascimento Nobre; Yanna da Silva de Melo Avaliação da Dor Pós-Operatória e do Grau de Satisfação dos Pacientes Submetidos à Cirurgia para Colecistectomia 20 Raquel Normando Cunha; Mozer da Silva Campos; Juscimar Carneiro Nunes; Thiago Monteiro de Carvalho Glomerulopatias Primárias no Amazonas: Avaliação de Biópsias Renais Percutâneas durante 20 Anos 28 Rebecca Souza Mubarac; Christiany Moreira Almeida; Ricardo Sena; Antônio Duarte Cardoso; Wilson Seffair Bulbol; Rolando Vermehren Relato de Caso Cistadenocarcinoma Seroso Papilífero de Ovário: Relato de Caso 34 Manuel Rios Ruiz; Giovanna Lopes Colares; Sandra Karina Rodriguez Rios; Leonardo Simão Coelho Hepatite Aguda Induzida por Propiltiouracil: Relato de Caso 40 Vinicius Renan Pinto de Mattos; Evelyn Santos de Paula; Mauro Martins Lippi; Aline Brasil Aranha; Maria Cristina Tavares da Costa Esclerose Múltipla com Rebaixamento do Nível de Consciência: Relato de Caso 44 Juliana Keth Hidalgo Farina Costa; Daniel Ribeiro; Nise Alessandra de Carvalho Sousa; Monique de Souza Vitoriano; Giselle Ferreira Benevides; Clécida Mara Normando Rebouças Hérnia de Spiegel: Relato de Caso 49 Rebeca Aparecida dos Santos Di Tommaso; Rubem Alves da Silva Neto; Priscila Cavalcanti Ballut; João José Corrêa Bergamasco; Marcelo Henrique dos Santos; Tikara Hagiwara Amiloidose de Laringe 54 Raimundo Monteiro Maia Filho; Luís Frederico Bonilla; Ziza Emi Sakamoto; Paulyne de Souza Viapina Granuloma Glótico por Tubo de Montgomery Andra Aleixo Aguiar; Lubyanka Ferreira Pereira Custódio; Márcia dos Santos da Silva; Renato Telles de Souza; Fernando Luiz Westphal; José Corrêa Lima Neto 59 Múltiplos Fenômenos Embólicos Pulmonares e Periféricos Secundários à Tromboflebite de Veia Jugular Interna: Um Relato de Caso de Síndrome de Lemierre 63 Mary Cristina Bentes Pontes; Victor de Sá Guimarães Fleury Machado; Lívia Garcia Mendonça de Oliveira; Guilherme Augusto Pivoto João; Eduardo da Silva Ramos; Henrique Samuel Carvalho de Albuquerque Schwannoma Gástrico Mimetizando Gist: Um Relato de Caso 69 Gerson Suguiyama Nakajima; Rubem Alves da Silva Neto; Marcos Vinícius Monteiro Lins de Albuquerque; João José Corrêa Bergamasco; Mônika Maya Tsuji Nishikido; Diego da Costa Matos Hérnia de Amyand: Relato de Caso 74 Paulo Inácio Diniz; Giselle Macedo; Vitor Montenegro; Ricardo Estevam; João Bergamasco; Isabela Carvalho Tratamento Cirúrgico de Corpo Estranho no Brônquio Principal Esquerdo 77 Fernando Luiz Westphal; Luís Carlos de Lima; José Corrêa Lima Netto; Ricardo Augusto Monteiro Cardoso; Lincoln José Trindade Martins Timolipoma, Uma Massa Mediastinal Gigante: Relato de Caso Fernando Luiz Westphal; Luiz Carlos de Lima; José Corrêa Lima Netto; Michel de Araújo Tavares; Ricardo Augusto Monteiro Cardoso 82 Contents Editorial Fernando Luiz Westphal 11 Original Articles Clinical and epidemiological profile of patients diagnosed with chronic heart failure hospitalized in Amazonas State cardiology center 13 José Ricardo Ferreira; Marlúcia do Nascimento Nobre; Yanna da Silva de Melo Evaluation of cholecystectomy undergone patients postoperative pain and satisfaction degree 20 Raquel Normando Cunha; Mozer da Silva Campos; Juscimar Carneiro Nunes; Thiago Monteiro de Carvalho Amazonas Primary Glomrulopathies: 20 Years Kidney Percutaneous Byopsies Review 28 Rebecca Souza Mubarac; Christiany Moreira Almeida; Ricardo Sena; Antônio Duarte Cardoso; Wilson Seffair Bulbol; Rolando Vermehren Case Report Serous cystoadenocarcinoma papiliferous of ovary 34 Manuel Rios Ruiz; Giovanna Lopes Colares; Sandra Karina Rodriguez Rios; Leonardo Simão Coelho Propylthiouracyl-induced hepatitis: case report 40 Vinicius Renan Pinto de Mattos; Evelyn Santos de Paula; Mauro Martins Lippi; Aline Brasil Aranha; Maria Cristina Tavares da Costa Multiple Sclerosis with Decreased Level of Consciousness: A Case Report 44 Juliana Keth Hidalgo Farina Costa; Daniel Ribeiro; Nise Alessandra de Carvalho Sousa; Monique de Souza Vitoriano; Giselle Ferreira Benevides; Clécida Mara Normando Rebouças Spiegel´s hernia: a case report 49 Rebeca Aparecida dos Santos Di Tommaso; Rubem Alves da Silva Neto; Priscila Cavalcanti Ballut; João José Corrêa Bergamasco; Marcelo Henrique dos Santos; Tikara Hagiwara Laryngeal amyloidosis 54 Raimundo Monteiro Maia Filho; Luís Frederico Bonilla; Ziza Emi Sakamoto; Paulyne de Souza Viapina Glottic granuloma after Montgomery tube Andra Aleixo Aguiar; Lubyanka Ferreira Pereira Custódio; Márcia dos Santos da Silva; Renato Telles de Souza; Fernando Luiz Westphal; José Corrêa Lima Neto 59 Multiple Pulmonary and Peripheral Embolic Phenomena Secundary to Internal Jugular Vein Trombophlebitis: A Lemierre’s Sindrome Case Report 63 Mary Cristina Bentes Pontes; Victor de Sá Guimarães Fleury Machado; Lívia Garcia Mendonça de Oliveira; Guilherme Augusto Pivoto João; Eduardo da Silva Ramos; Henrique Samuel Carvalho de Albuquerque Gastric Schwannoma Mimicking Gist: A Case Report 69 Gerson Suguiyama Nakajima; Rubem Alves da Silva Neto; Marcos Vinícius Monteiro Lins de Albuquerque; João José Corrêa Bergamasco; Mônika Maya Tsuji Nishikido; Diego da Costa Matos Amyand’s Hérnia: Case Report 74 Paulo Inácio Diniz; Giselle Macedo; Vitor Montenegro; Ricardo Estevam; João Bergamasco; Isabela Carvalho Foreign body surgical treatment in the left main bronchus 77 Fernando Luiz Westphal; Luís Carlos de Lima; José Corrêa Lima Netto; Ricardo Augusto Monteiro Cardoso; Lincoln José Trindade Martins Thymolipoma, a giant mediastinal mass: a case report Fernando Luiz Westphal; Luiz Carlos de Lima; José Corrêa Lima Netto; Michel de Araújo Tavares; Ricardo Augusto Monteiro Cardoso 82 Editorial A RHUGV encontra-se em expansão com muitos artigos sendo submetidos para avaliação pelo Conselho Editorial. Nesse momento, estamos atingindo a estabilidade de um periódico que alcançou credibilidade junto à comunidade científica, pois transmite a certeza de que os artigos enviados serão analisados com o rigor científico necessário e condizente com o nível dos nossos editores associados. É claro que não possuímos ainda o número de artigos originais necessários para pleitearmos nossa ascensão em uma base de dados nacional ou internacional, fato que conseguiremos à medida que os Grupos de Pesquisa se estruturarem dentro do Hospital Universitário e na Faculdade de Medicina. Vários aspectos estão previstos nesse contexto, desde a construção do novo hospital, a implantação do Programa de Bolsas de Iniciação Científica do Hospital Universitário e das Escolas de Saúde da Ufam. É certo que precisamos dessa elevação de classificação para angariar novos artigos para a nossa revista. O ingresso da RHUGV nas plataformas cientificas necessita de uma reformulação dos artigos que devem ser a contextualização dos projetos de pesquisas realizados, seja no nível de iniciação científica ou de pós-graduação. Talvez possamos pleitear o ingresso nas plataformas de divulgação internacional quando a comunidade do Hospital almejar algum incentivo para realizar pesquisa clínica, tais como carga horária destinada à pesquisa ou financiamento para participação em Congressos. Um dos fatores importantes de inclusão e manutenção da Revista HUGV na base de dados Qualis é a publicação de trabalhos científicos de produções realizadas em Programas de Pós-Graduações. Nesse momento, faço novamente um apelo aos coordenadores dos programas de pós-graduação da Universidade Federal do Amazonas para que enviem seus trabalhos para a nossa Revista, pois sabemos da existência de diversos trabalhos de conclusão de Mestrado que ficam nas prateleiras das bibliotecas sem publicações, determinando uma diminuição na avaliação do Curso de PósGraduação pela Capes. Os objetivos a serem cumpridos por nossa Revista HUGV são manter a qualidade do conteúdo: o mérito científico de um jornal é a qualidade primária considerada na seleção para indexação. Aspectos como a originalidade dos artigos, sua importância e validade, dentro do campo de conhecimento, são elementos-chave para a aceitação de uma revista. A qualidade do trabalho editorial a revista deve mostrar características que contribuam para a objetividade, credibilidade e qualidade de seu conteúdo. Manter um percentual de 70 a 80% dos artigos de um número da Revista como artigos originais e não relatos de caso como ocorre atualmente. O Corpo Editorial da RHUGV está em constante renovação, isso porque estamos recebendo novos colegas pós-graduados no Hospital, das diversas áreas da Saúde, com qualificação e com determinação para desenvolver projetos de pesquisa. Já sabemos que a aprovação de Projetos numa Instituição gera formação de pessoal, aquisição de tecnologia de ponta e permite ao Hospital ter uma boa classificação junto aos órgãos governamentais. Outro aspecto importante a ser ressaltado é o papel dos revisores, que não recebem remuneração e a confecção de um parecer necessita de tempo das suas obrigações de trabalho e, mais importante, dos seus momentos de lazer. Com frequência, uma revisão exige a consulta de bibliografia complementar e a busca ativa de artigos adicionais. A complexidade de questões | 11 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 metodológicas e testes estatísticos também podem exigir discussão do manuscrito com outros colegas especializados nessas áreas. Além disso, todo esse processo deve ocorrer em tempo hábil, idealmente dentro de um mês após a primeira submissão, e de duas semanas para as demais apresentações. Aos que tentam denegrir a imagem do periódico, falando que ele não tem valor, pois é Qualis C, convido-os a participarem ativamente com propostas e apresentação de artigos originais para conseguirmos uma classificação maior nos Periódicos Capes. Lembro-lhes ainda de que atualmente a RHUGV é para a maioria dos Serviços do HUGV a única memória contextualizada existente. A luta é constante e diária. Sabemos que a manutenção de um periódico atualmente é extremamente difícil, visto que a objetividade e praticidade do atual modo de vida não permite que atividades não rentáveis possam ser desenvolvidas com desgaste do precioso tempo, fator que afasta mentes brilhantes do espírito científico. De outra forma, temos a convicção de que a manutenção da pesquisa e da academia são pontos cruciais para o desenvolvimento da ciência em nossa região e sempre teremos pessoas imbuídas desse sentimento que permitirão que essa caminhada não decline. | 12 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 PERFIL CLÍNICO E EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES INTERNADOS COM DIAGNÓSTICO DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CRÔNICA INTERNADOS NO CENTRO DE REFERÊNCIA EM CARDIOLOGIA DO ESTADO DO AMAZONAS CLINICAL AND EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF PATIENTS DIAGNOSED WITH CHRONIC HEART FAILURE HOSPITALIZED IN AMAZONAS STATE CARDIOLOGY CENTER José Ricardo Ferreira,* Marlúcia do Nascimento Nobre,** Yanna da Silva de Melo*** Resumo Objetivo: Traçar o perfil clínico e epidemiológico dos pacientes com diagnóstico de Insuficiência Cardíaca Crônica (IC), internados no Centro de Referência em Cardiologia do Estado do Amazonas no período de janeiro a dezembro de 2011. Métodos: Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo e observacional de pacientes com Insuficiência Cardíaca crônica, hospitalizados no período de janeiro a dezembro de 2011, no Hospital Universitário Francisca Mendes (HUFM) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Foi feito o levantamento dos prontuários por meio do código internacional de doenças (CID) de IC e realizado o levantamento estatístico para traçar o perfil epidemiológico (idade, sexo, naturalidade e procedência), e o perfil clínico (principal etiologia, causa da descompensação clínica, classe funcional da admissão e da alta hospitalar). Resultados: Foram avaliados um total de 151 prontuários, destes entraram para o estudo 61 pacientes. A média de idade foi de 57,19 anos, sendo 69,49% do sexo masculino e 30,51% do sexo feminino. A naturalidade predominante foi do Amazonas com 77,97%. Em relação à procedência dos pacientes, 44,07% foram provenientes da capital, 33,90% provenientes do interior do Estado e 22,03% provenientes dos demais Estados do Brasil. A principal etiologia identificada da IC foi a Isquêmica com 47,58% seguida da Valvulopatia com 8,47%, tendo como maior causa de descompensação um novo evento isquêmico com 50,85%, seguida das doenças infecciosas com 27,12%. A classe funcional predominante na admissão hospitalar foi a III com 45,76% e na alta hospitalar foi a II com 64,41%. Conclusão: A cardiopatia isquêmica foi a principal causa de insuficiência cardíaca, sendo um novo evento isquêmico o maior responsável pela descompensação clínica e nova internação hospitalar. Palavras-chave: Insuficiência Cardíaca, Perfil Clínico e Epidemiológico. Abstract Objective: Describe the clinical and epidemiological profile of chronic heart failure patients admitted in the Amazonas State cardiology center between january and december/2011. Methods: This is a retrospective, descriptive, observational study of chronic heart failure patiets, hospitalized between january and december/2011, at Francisca Mendes University Hospital (HUFM) of the Federal University of Amazonas (UFAM). The inmates survey was conducted through the international code of diseases (ICD) of heart failure records and performed the statistical * Especialista em Clínica Médica/Cardiologia e residente de Ecocardiografia do HUGV. ** Preceptora titular da Cadeira de Cardiologia e Ecocardiografia do HUGV. *** Graduada em Medicina pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA). | 13 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 PERFIL CLÍNICO E EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES INTERNADOS COM DIAGNÓSTICO DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CRÔNICA INTERNADOS NO CENTRO DE REFERÊNCIA EM CARDIOLOGIA DO ESTADO DO AMAZONAS research to delineate the epidemiological (age, sex, nationality and origin), and clinical profiles (main etiology, because of clinical decompensation, functional class admission and discharge). Results: We evaluated a total of 151 records, from these, 61 entered the study. The average age was 57.19 years, which 69.49% were male and 30.51% female. The Amazon palce of birth was predominant with 77.97%. Regarding the origin of the patients 44.07% were from the capital, 33.90% from the State countryside and 22.03% from the other regions of Brazil. The main etiology of HF was identified Ischemic with 47.58% followed by Valvulopathy to 8.47%, with the largest cause of decompensation a new ischemic event with 50.85%, followed by the Infectious Diseases with 27.12%. The predominant functional class at admission was III with 45.76% and at discharge was II with 64.41%. Conclusion: Ischemic heart disease was the leading cause of heart failure, a new ischemic event was most responsible for clinical decompensation and new hospitalization. Keywords: Cardiac Insufficiency, Clinical and Epidemiological Profile. Introdução A Insuficiência Cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa de caráter sistêmico, definida como disfunção cardíaca que ocasiona inadequado suprimento sanguíneo para atender necessidades metabólicas tissulares, na presença de retorno venoso normal, ou fazê-lo somente com elevadas pressões de enchimento.¹ condições socioeconômicas, ainda existem formas de IC associadas à doença de Chagas, endomiocardiofibrose e a cardiopatia valvar reumática crônica, que são situações especiais de IC em nosso meio.¹ Infecções virais prévias e exposição a drogas (álcool, quimioterápicos, antidepressivos tricíclicos etc.) também podem levar à miocardiopatia dilatada.5 Estudos de prevalência estimam que 23 milhões de pessoas no mundo tenham IC e que dois Perto de 20 a 30% dos casos de IC com fração milhões de casos novos são diagnosticados de ejeção reduzida nos adultos, a causa exata não é conhecida e esses pacientes são anualmente.² referidos como portadores de miocardiopatia Segundo os dados do Sistema Único de Saúde, dilatada idiopática. A insuficiência cardíaca tivemos perto de 398 mil internações por é caracterizada por uma fase crônica na insuficiência cardíaca no ano de 2000 com 26 mil qual o paciente apresenta-se estável e outra mortes. Essas internações correspondem a mais fase de descompensação aguda marcada por de 30% das internações e consumiram 33% dos reinternação hospitalar frequente.3-9 gastos com doenças do aparelho circulatório, tornando-se a primeira causa de internação de Múltiplos fatores de riscos estão presentes simultaneamente e precedem o surgimento da pacientes > 65 anos no SUS.³ IC, o que torna difícil selecionar a causa básica No último Censo (2010), observa-se crescimento e definir ações específicas de planejamento de da população idosa no Brasil e, portanto, com saúde, de modo a reduzir sua incidência.6,10 potencial crescimento de pacientes em risco ou Em nosso meio, há carência de dados portadores de insuficiência cardíaca.4 epidemiológicos, clínicos e terapêuticos sobre a A IC consiste na via final comum de várias doença, o que dificulta a definição de prioridades doenças, como, por exemplo: hipertensão para elaboração de estratégias preventivas.² arterial sistêmica, diabetes e coronariopatias.² No Brasil, a principal etiologia da IC é a Este trabalho tem como objetivo principal cardiopatia isquêmica crônica associada à identificar esse perfil clínico e epidemiológico, podermos conhecer melhor as hipertensão arterial. Em determinadas regiões para características da Região Norte do país e traçar geográficas do país e em áreas de baixas | 14 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Ferreira et al medidas para melhoria do atendimento ao portador de IC. Tipo de estudo e local da pesquisa Por meio do Serviço de Arquivo Médico e Informações em Saúde (Same) do HUFM o número de pacientes e seus respectivos prontuários, foram levantados por intermédio do CID (Código Internacional de Doenças) de insuficiência cardíaca. Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo e observacional de pacientes com Insuficiência Cardíaca crônica, hospitalizados no período de janeiro a dezembro de 2011, no Hospital Universitário Francisca Mendes (HUFM) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Inicialmente foram encontrados um total de 151 prontuários que apresentavam CID de insuficiência cardíaca, 52 não foram incluídos no estudo por não serem IC o diagnóstico, apesar de estarem cadastrados com o código de insuficiência cardíaca. Pacientes e Métodos Restaram 99 pacientes; destes, cinco foram excluídos por serem hospitalizados para realização de procedimentos não relacionados Os critérios de inclusão escolhidos foram: com a IC, 18 foram excluídos por terem fração preencher os critérios clínicos de Framingham4 de ejeção maior a 50% e 15 foram excluídos para IC, terem fração de ejeção abaixo por não terem a fração de ejeção preenchida de 50% pela ecocardiografia transtorácica, no questionário, restando para o estudo 61 estarem hospitalizados no período de janeiro pacientes. a dezembro de 2011, pertencentes a qualquer classe funcional, sexo ou idade. Posteriormente foi realizada a coleta dos dados, por meio de uma ficha (Figura 1), que Os critérios de exclusão foram: diagnóstico continha informações sobre: nome do paciente, não definido de insuficiência cardíaca (ex: idade, sexo, naturalidade, data do diagnóstico DPOC exacerbado), pacientes internados para de insuficiência cardíaca, tempo de internação, procedimentos eletivos não relacionados à etiologia da insuficiência cardíaca, fração IC descompensada (ex: troca do gerador em de ejeção, número de internações, causa da usuários de marcapasso). descompensação clínica, classe funcional NYHA na admissão e alta e número de óbitos. Critérios de inclusão e exclusão Procedimentos e coleta dos dados FICHA DE COLETA DE DADOS 1. Nome do paciente:_______________________________________________________ 2. Idade: ( ) Sexo: M ( ) F( ) 3. Naturalidade:___________________________________________________________ 4. Procedência:____________________________________________________________ 5. Data do diagnóstico de insuficiência cardíaca:__________________________________ 6. Tempo de internação:_____________________________________________________ 7. Etiologia da Insuficiência Cardíaca na admissão:________________________________ 8. Fração de ejeção:_________________________________________________________ 9. Número de internações:___________________________________________________ 10. Causa da descompensação clínica:__________________________________________ 11. Classe funcional NYHA na admissão:_______________________________________ 12. Classe funcional NYHA na alta hospitalar:___________________________________ 13. Óbito: não ( ) sim ( ) Figura 1: Ficha de Coleta de Dados | 15 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 PERFIL CLÍNICO E EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES INTERNADOS COM DIAGNÓSTICO DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CRÔNICA INTERNADOS NO CENTRO DE REFERÊNCIA EM CARDIOLOGIA DO ESTADO DO AMAZONAS Analise estatística financiamento. A análise estatística foi realizada utilizando o software Minitab versão 15.0, no qual se fez a análise exploratória dos dados. Resultados Aspectos éticos O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Humana e Animal da Universidade Federal do Amazonas, protocolo número 179.782/2012, e não houve fontes externas de A média de idade da amostra estudada foi de 57,19 anos com um desvio padrão de 14,23, variando de 18 e 81 anos, sendo 69,49% do sexo masculino e 30,51% do sexo feminino (Figura 2). A naturalidade predominante foi do Amazonas com 77,97%, seguido do Pará com 8,47%, Ceará e Rio Grande do Norte com 5,08% do Ceará, e Rio de Janeiro com 3,39%. Figura 2: Porcentagem de pacientes com IC de acordo com o sexo. Em relação à procedência dos pacientes estão assim distribuídos: 44,07% provenientes da capital, 33,90% provenientes do interior do Estado do Amazonas e 22,03% provenientes dos demais Estados do Brasil (Figura 3). Figura 3: Procedência de pacientes internados com IC. A principal etiologia identificada entre os com 6,78%, a periparto com 5,08% e as demais pacientes foi a Isquêmica com 47,58% seguida da etiologias com 1,69% (Figura 4). Valvopatia com 8,47%, em seguida a idiopática | 16 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Ferreira et al Figura 4: Principais etiologias identificadas. As principais causas de descompensação da IC foram: novo evento isquêmico com 50,85%, seguida das doenças infecciosas com 27,12% e arritmias e não adesão ao tratamento com 6,78% (Figura 5). Figura 5: Principais causas de dencompensação da IC. Dentre as causas infecciosas o predomínio foi de infecção do trato urinário (ITU) com 31,25%, seguido de pneumonia com 25%. Flebite, erisipela, pé diabético e infecção de vias aéreas superiores todas tiveram a mesma porcentagem de 6,25%. 12,5% não tiveram o tipo de infecção especificada (Figura 6). Figura 6: Principais causas infecciosas de descompensação clínica. | 17 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 PERFIL CLÍNICO E EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES INTERNADOS COM DIAGNÓSTICO DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CRÔNICA INTERNADOS NO CENTRO DE REFERÊNCIA EM CARDIOLOGIA DO ESTADO DO AMAZONAS A proporção da classe funcional (CF), segundo a NYHA, na admissão foi de 45,76% em CF III e 40,68% na CF IV. A alta hospitalar foi de 64,41% em CF II e 35,59% na CFI. Discussão Estudos sobre o perfil epidemiológico e clínico do paciente com IC são escassos no Estado do Amazonas o que dificulta na elaboração de políticas de prevenção, controle e manejo dessa síndrome. De acordo com o estudo de Framingham,7 a idade mais predisponente para o aparecimento da IC foi acima de 60 anos. No presente estudo, verificou-se que a média de idade foi 57,19 anos, variando de 18 e 81 anos, sendo a média inferior aos encontrados por Framingham. Quanto à distribuição por sexo, observouse que 69,49% eram do sexo masculino, esse predomínio também foi observado no estudo de Rassi e cols.8 Foi observado que houve predominância da procedência dos pacientes da capital, mas houve um número expressivo de atendimentos de pacientes do interior do Estado, mostrando o papel fundamental desse centro de referência em cardiologia para o Estado do Amazonas. A etiologia predominante foi a isquêmica, dado semelhante à da literatura nacional, seguido de valvopatia. A principal causa de descompensação foi um novo evento isquêmico seguido de infecção. Esse dado mostra a necessidade de se intensificar o tratamento e seguimento mais minucioso dos pacientes coronarianos. Dentre as causas infecciosas de descompensação da IC, o destaque ficou por conta da infecção urinária e pneumonia, outro dado similar à encontrada na literatura nacional. Em geral, os dados encontrados neste trabalho foram similares aos da literatura nacional, mas foi observada uma significativa exclusão de prontuários durante a elaboração do trabalho, que se deu principalmente da não compatibilidade do CID na admissão e a real doença do paciente e da falta de algumas informações nos prontuários médicos. Isso demonstra a necessidade de elaboração de mais trabalhos na área e do comprometimento no preenchimento completo dos dados dos pacientes. Mesmo com essa limitação observada neste trabalho, seus resultados podem auxiliar na elaboração de políticas públicas para prevenção de doenças cardiovasculares, sobretudo a miocardiopatia isquêmica, visando reduzir internações hospitalares, cirurgias, mortalidade e o alto custo gerado por essas hospitalizações. Referências 1. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Ayub-Ferreira SM, Rohde LE, Oliveira WA, Almeida DR e cols. Sociedade Brasileira de Cardiologia. III Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica. Arq Bras Cardiol 2009; 93(1 supl.1): 1-71. 2. Nogueira PR, Rassi S, Corrêa KS. Perfil Epidemiológico, Clínico e Terapêutico da Insuficiência Cardíaca em Hospital Terciário. Arq Bras Cardiol. 2010; [on-line]. Ahead print, p. 0-0. 3. Tavares LR, Victer H, Linhares JM, Barros CM, Oliveira MV, Pacheco LC, Viana CH, Pereira SB, Silva GP, Mesquita ET. Epidemiologia da Insuficiência Cardíaca Descompensada em Niterói. Projeto Epica. Niterói. Arq Bras Cardiol 2004, volume 82(n.º 2): 121-4. 4. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Bacal F, Ferraz AS, Albuquerque D, Rodrigues D, et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Atualização da Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica, 2012. Arq Bras Cardiol 2012: 98(1 supl. 1): 1-33. 5. Walsh CR, Larson G M, Larson, Evans JC, Djousse L, Elisson RC, Vasan RS, Levy D. Alcohol consumption and risk for congestive heart failure in the Framingham Heart Study. Ann Intern Med, v. 136, 2002. p. 181. 6. Lessa I. Epidemiologia da hipertensão arterial | 18 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Ferreira et al sistêmica e da insuficiência cardíaca no Brasil. Rev Bras Hipertensão 2001; 8(4): 383-92. 7. Ho KKL, Pinsky JL, Kannel WB, Levy D. The epidemiology of heart failure: the Framingham study. J Am Coll Cardiol. 1993; 22(Suppl A): 6-13. 8. Rassi S, Barreto ACP, Porto CC, Pereira CR, Calaça BW, Rassi DC. Sobrevida e fatores prognósticos na insuficiência cardíaca cistólica com início recente dos sintomas. Arq Bras Cardiol. 2005; 84(4): 309-13. 9. Braga JCV, Reis F, ARAS R, Costa ND, Bastos C, Silva R. Aspectos clínicos e terapêuticos da insuficiência cardíaca por doença de Chagas. Arq Bras Cardiol. 2006; 86(4): 297-302. 10. Latado AL, Passos LCS, Braga JCV, Santos A, Guedes R, Moura SS, et al. Preditores de letalidade hospitalar em pacientes com insuficiência cardíaca avançada. Arq Bras Cardiol. 2006; 87(2): 185-92. | 19 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 AVALIAÇÃO DA DOR PÓS-OPERATÓRIA E DO GRAU DE SATISFAÇÃO DOS PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA PARA COLECISTECTOMIA EVALUATION OF CHOLECYSTECTOMY UNDERGONE PATIENTS POSTOPERATIVE PAIN AND SATISFACTION DEGREE Raquel Normando Cunha,* Mozer da Silva Campos,** Juscimar Carneiro Nunes,*** Thiago Monteiro de Carvalho**** Resumo Objetivos: O presente estudo tem o objetivo de avaliar a incidência de dor aguda e o grau de satisfação do paciente com o tratamento recebido no pós-operatório. Métodos: A população estudada foi composta de pacientes cirúrgicos submetidos à colecistectomia no período de sete meses no Hospital Universitário Getúlio Vargas. Os pacientes foram abordados após 24 horas do término da cirurgia e questionados sobre a presença de dor em algum momento e, em caso positivo, classificaram-na dentro da escala visual analógica (EVA) da dor. Perguntas adicionais sobre a vontade de ter recebido mais medicações analgésicas e o grau de satisfação com o tratamento analgésico recebido foram inclusas no questionário. Resultados: Quando questionado sobre a dor, apenas 14,09% pacientes relataram ausência de dor, 50,34% pacientes queixaram dor leve, 30,87% dor moderada e 4,70% dor intensa. Apesar da alta incidência, com um total de 72% dos pacientes queixando-se de dor aguda pós-operatória, 77,85% dos pacientes afirmaram que não necessitavam de mais medicamentos analgésicos e 81,88% mostraram-se satisfeitos com o tratamento recebido. Conclusão: A medicina focada em seu aspecto de doença finda por não tratar como prioridade a dor do paciente. Até o próprio absorve esse conceito, conforma-se e julga ser aceitável a dor pós-operatória. Dentro de suas expectativas, o paciente não está ciente do grau de analgesia que merece receber. Esse cenário precisa mudar, o paciente deve expressar sua dor e uma equipe multidisciplinar, composta por equipe de enfermagem, médicos cirurgiões e anestesiologistas, deve estar capacitada para atendê-los. Palavras-chave: Dor aguda, Dor, Analgesia, Satisfação. Abstract Objectives: This study aims to assess the acute pain incidence and the patient’s satisfaction degree with the treatment received postoperatively. Methods: The study population consisted of cholecystectomy undergone patients in the period of seven months at University Hospital Getúlio Vargas. Patients were addressed 24 hours after the surgery end, asked about the pain presence at some point, if so, rated it within the visual analogue scale of pain. Additional questions about the desire of receiving more analgesics and satisfaction with the analgesic treatment received were included in the questionnaire. Results: When asked about pain, only 14,9% patients reported no pain, 50,34% patients complained mild pain, 30,87% moderate pain and 4,70% severe pain. *Graduada em Medicina (Ufam), médica residente de Anestesiologia (HUGV) **Acadêmico de Medicina (Ufam). ***Graduado em Medicina (Ufam), especialista em Anestesiologia (SBA/AMB/CFM), mestrado (Unifesp), doutorado (Unesp). Professor da disciplina de Anestesiologia da Faculdade de Medicina e supervisor do Programa de Residência Médica em Anestesiologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Professor da disciplina de Anestesiologia Clínica da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). **** Graduado em Medicina (UFRR), médico residente de Anestesiologia (HUGV). | 20 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 AVALIAÇÃO DA DOR PÓS-OPERATÓRIA E DO GRAU DE SATISFAÇÃO DOS PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA PARA COLECISTECTOMIA Despite the high incidence, with 72% patients complaining of acute postoperative pain, 77,85% of patients stated that they did not need more painkillers and 81,88% were satisfied with the treatment received. Conclusion: The medicine focused on their appearance of illness, ending not treat as a priority the patient’s pain. Even the patient absorbing this concept conforms to it and thinks about postoperative pain as a common outcome. Within their expectations, the patient is not aware about the acceptable analgesia degree. This scenario needs to change, the patient should express their grief and a multidisciplinary team consisting of nursing staff, surgeons and anesthesiologists should be trained to serve them well. Keywords: : Acute pain, Pain, Analgesia, Satisfaction. Introdução Apesar dos avanços no arsenal terapêutico para analgesia, a dor pós-operatória ainda é muito frequente e permanece sendo uma causa de sofrimento para o paciente cirúrgico. Alguns dos fatores que contribuem para esse fato é o conformismo do paciente e a grande preocupação dos médicos com os efeitos adversos das drogas. A educação tanto dos pacientes quanto da equipe multidisciplinar assistente, dentre eles técnicos de enfermagem, enfermeiros, médicos cirurgiões e médicos anestesiologistas, trará ganhos na assistência ao paciente. A graduação da dor com o uso da escala analógica visual é de grande valia e o seu uso rotineiro contribui para o tratamento satisfatório.1,2,3,4,5 A dor, seja aguda ou crônica, quando inadequadamente tratada, tem repercussões negativas psicológicas, econômicas e sociais para os pacientes, seus familiares e para a sociedade. Logo, está justificado o empenho em promover analgesia satisfatória com uso de protocolos e uma equipe treinada para oferecer amparo ao paciente com dor.5,6,7,8 Métodos Este é um estudo prospectivo, descritivo, tipo corte transversal aonde foram submetidos à pesquisa pacientes cirúrgicos do Hospital Universitário Getúlio Vargas que realizaram cirurgia para colecistectomia no período de 1.º/4/2013 a 31/10/2013. Foram inclusos na pesquisa pacientes com estado físico ASA I, ASA Procedimentos cirúrgicos levam a grandes II e ASA III, sem limite de faixa etária, tanto do alterações na hemostasia do corpo causando sexo masculino quanto feminino. Foram exclusos hipercatabolismo, hipercoagulabilidade e do estudo pacientes que realizaram seu pósinflamação. Esse quadro sem intervenção operatório em Unidade de Terapia Intensiva e oportuna leva ao aumento da frequência aqueles que não compreenderam a metodologia cardíaca, da resistência vascular sistêmica, da pesquisa. As técnicas anestésicas foram as de catecolaminas circulantes elevando o risco usualmente empregadas pelo corpo clínico de infarto do miocárdio e acidente vascular do Serviço de Anestesiologia bem como a cerebral. Outras complicações possíveis são analgesia pós-operatória também não sofreram sangramento, náuseas e vômito, dor, íleo interferências, sendo mantida a prescrição paralítico, fadiga, distúrbios do sono e da pelos médicos responsáveis pela condução do mecânica respiratória. Esse quadro compõe a paciente na enfermaria pós-cirúrgica. O estudo resposta endócrino-metabólica ao trauma e cada foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética um desses sintomas e complicações contribui em Pesquisa da Ufam. para o aumento da morbidade e permanência do paciente da instituição hospitalar no pós- Os pacientes selecionados para o estudo operatório. Intervenções com o intuito de responderam ao questionário informando seus abolir essa resposta fisiológica é recomendável dados pessoais e no pós-operatório foram e nesse campo o tratamento da dor ganha abordados na enfermaria após 24 horas de importância.1,2,5 pós-operatório. Nessa ocasião, o paciente foi questionado se houve dor em algum momento | 21 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Cunha et al após a cirurgia e se a resposta for positiva, classificaram-na por meio da escala visual analógica de dor (EVA). Em uma pontuação que varia de 0 a 10, é considerado dor leve quando atribuído os escores 0, 1 e 2, é considerado dor moderada, quando atribuído valores 3, 4, 5, 6 e 7 e, por último, é considerado dor intensa quando atribuído valores 8, 9 e 10. Adicionalmente, foram questionados sobre grau de satisfação com o tratamento analgésico oferecido e se desejariam ter recebido mais medicamento para o tratamento da dor. Dados de prontuário como idade, sexo, índice de massa corporal, estado físico, pressão arterial, frequência cardíaca, tipo de anestesia a que o paciente foi submetido e se a cirurgia foi realizada por videolaparoscopia ou laparotomia, foram anotados no momento da abordagem. As informações foram registradas em um banco de dados, sendo utilizado o programa Epi Info. As análises estatísticas serão realizadas por meio de testes do qui-quadrado e t de student ou teste de Mann Whitney para testar diferenças entre variáveis categóricas e contínuas, respectivamente. Métodos padrões de análise para estudos descritivos serão conduzidos. A análise dos dados foi iniciada com descrição estatística simples, IC 95% e testes de significância foram empregados para validar essas proporções encontradas. A curva de sobrevida foi formulada a partir da análise de Kaplan-Meier. Resultados Um total 149 pacientes participaram do estudo respondendo ao questionário proposto. A faixa etária incluiu pacientes adolescentes (2,68%), adultos (74,50%) e idosos (22,82%), do sexo feminino (87,25%) e masculino (12,75%). Durante o período de coleta de dados houve colecistectomias videolaparoscópicas (28,19%) e por laparotomia (71,81%) e a técnica anestésica escolhida foi variável, sendo anestesia geral balanceada (85%), anestesia combinada de geral + peridural (11%), bloqueio peridural isolado (2%) e anestesia geral venosa total (3%). Quando questionado sobre a dor, apenas 21 (14,09%) pacientes relataram não ter sentido nenhuma dor, 75 (50,34%) pacientes queixaram dor leve, 46 (30,87%) dor moderada e 7 (4,70%) dor intensa. Apesar da alta incidência de dor no pós-operatório, com um total de 128 pacientes (72%) queixando-se de dor em algum momento das primeiras 24 horas de pós-operatório, 77,85% dos pacientes afirmaram que não necessitavam de mais medicamentos analgésicos e 81,88% afirmaram que estavam satisfeitos com o tratamento que receberam. A relação entre a dor referida pelo paciente e o tipo de anestesia a que ele foi submetido mostrou que daqueles que receberam bloqueio regional peridural, nenhum apresentou queixa de dor intensa no pós-operatório, porém não houve significância estatística conforme representado no Gráfico 1. A relação da dor com o tipo de cirurgia mostrou que proporcionalmente os pacientes submetidos a cirurgias videolaparoscópicas evoluíam com menor intensidade da dor na escala visual analógica (EVA) conforme a Gráfico 2. Gráfico 1: Relação entre o tipo de anestesia x intensidade da dor (p-valor = 0.8261). | 22 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 AVALIAÇÃO DA DOR PÓS-OPERATÓRIA E DO GRAU DE SATISFAÇÃO DOS PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA PARA COLECISTECTOMIA Gráfico 2: Relação entre o tipo de cirurgia e a intensidade da dor (p-valor = 0.2357). O estado físico dos pacientes variou de P1 a P3, sendo 90 (60,40%) pacientes em estado físico ASA I, 37 (24,83%) em estado físico ASA II e 22 (14,65%) pacientes em estado físico ASA III. Os pacientes em estado físico P3 foram os que mais queixaram dor, com um total de 95,45% afirmando sentir dor ao questionamento. Esses dados estão demonstrados no Gráfico 3 e não houve relevância estatística. Gráfico 3: Relação entre o estado físico ASA x intensidade da dor (p-valor = 0.1254). Os resultados mostraram uma alta incidência de dor mesmo naqueles pacientes que receberam analgésicos potentes no pós-operatório imediato conforme demonstrado no Gráfico 4. Dos pacientes que receberam opioides, 84,33% relataram ter sentido dor, enquanto aqueles que receberam sua analgesia com outras classes de medicamentos, como anti-inflamatórios não esteroides e analgésicos, 87,87% referiram dor aguda nas primeiras 24 horas. | 23 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Cunha et al Gráfico 4: Relação entre o uso de opioides x intensidade da dor (p-valor = 0.9397). Discussão suas expectativas, o paciente não está ciente do grau de analgesia que merece receber. Esse A dor aguda está presente em todo o mundo, cenário precisa mudar, o paciente deve ser em países desenvolvidos e naqueles em orientado a expressar sua dor e deve existir uma desenvolvimento. Independentemente de sua equipe multidisciplinar, composta por médicos etiologia, seja dor no período pós-operatório, cirurgiões, médicos anestesiologistas e equipe dor em pacientes com câncer ou dor ocasionada de enfermagem capacitada para atendê-los.3,4,5 por traumatismo em serviços de urgência/ emergência, o alívio da dor tem sido inadequado. No estudo em questão, 35,57% relataram Apesar de todo o conhecimento da fisiopatologia dor e a classificaram como de moderada à da dor e do grande arsenal terapêutico intensa segundo a escala visual analógica. Esse disponível, o sucesso do tratamento da dor dado mostra que o estudo feito no Hospital encontra-se mais teórico do que prático.5,7,8,9,10 Universitário Getúlio Vargas, assim como em diversos estudos já realizados com esse mesmo A medicina atual focada em seu aspecto de enfoque, a analgesia está sendo insuficiente doença e seus mecanismos fisiopatológicos para o nível de dor apresentado pelo paciente. finda por não tratar como prioridade a dor do Apesar de ser claramente possível otimizar a paciente. Mais importante que o conforto e terapêutica nessa ocasião, 97,32% dos pacientes bem-estar deste, recebe enfoque a cicatrização declararam-se satisfeitos ou muito satisfeitos da ferida cirúrgica, presença de fístulas e débito com a analgesia que lhes foi prescrita. Isso dos drenos. Estudos apontam que mais de 40% reflete o que foi acima citado, o julgamento de dos pacientes em pós-operatório apresentam dor que a dor é parte normal do processo anestésicode moderada à severa intensidade revelando o cirúrgico, está enraizada culturalmente grande índice de falha terapêutica. Os principais tornando-se um problema de difícil manejo.3,4,5 fatores para esse controle inapropriado são médicos com pouca experiência, mitos sobre A analgesia pós-operatória é um grande passo a adição e temor de complicações após alta para diminuir a morbidade do paciente e trazer conforto em sua estada hospitalar. Permite ao hospitalar.3,5,10,11 paciente a deambulação precocemente com Até o próprio paciente absorve esse conceito prevenção de doenças tromboembólicas como e conforma-se com o fato, supondo ser normal tromboembolismo pulmonar e trombose venosa e aceitável a dor pós-operatória. Dentro de profunda, assim como permite a fisioterapia | 24 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 AVALIAÇÃO DA DOR PÓS-OPERATÓRIA E DO GRAU DE SATISFAÇÃO DOS PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA PARA COLECISTECTOMIA respiratória prevenindo a atelectasia e infecções pulmonares. Uma complicação digna de preocupação é dor crônica póscirúrgica. Esta ocorre mais frequentemente após toracotomias para ressecção pulmonar, herniorrafias inguinais e mastectomias, e são fatores de risco reconhecidos para essa síndrome intensidade e persistência da dor aguda pós-operatória não tratada. A síndrome da dor crônica prende o paciente ao serviço de saúde, levando-o a repetidas consultas durante várias semanas ou meses sem resolutividade. A dificuldade do tratamento traz ao paciente e à equipe cirúrgica certo grau de insatisfação e frustração. Logo, a prevenção dessa condição sempre será o melhor caminho.1,2,6,7,8 cada droga irá agir por meio de mecanismos de ação distintos aplicando-se os princípios anteriormente citados. Essa redução da dose possibilita baixa incidência de efeitos adversos visto que há uma relação direta entre eles.4,10,12 Cada procedimento cirúrgico tem a própria característica e risco pós-operatório; logo, o uso da analgesia combinada deve ser avaliado individualmente para cada cirurgia visando reduzir suas eventuais consequências clínicas. Temos como exemplo o uso de opioides em baixas doses associados a bloqueio peridural para cirurgias do aparelho digestivo, pois nessas cirurgias há potencial risco de desenvolvimento de íleo paralítico. Assim como seria benéfico medicamentos analgésicos não opioide em Há três pontos que devem ser levados em cirurgias de abdome superior e naquelas por consideração na abordagem da dor pós- videolaparoscopia onde há maior prevalência de operatória: a terapia com analgesia multimodal, náuseas e êmese. Outro caso a ser considerado é o protocolos específicos para cada procedimento uso de drogas não anti-inflamatórias em cirurgias baseado em evidências; e o requerimento da otorrinolaringologia pela possibilidade de analgésico individual do paciente. O ponto- sangramento, e uso preferencial de técnicas chave desses protocolos não está somente em anestésicas regionais associada à analgesia diminuir a dor, mas também em reduzir os sistêmica em cirurgias torácicas com o intuito de efeitos adversos dos medicamentos analgésicos manter gradiente de ventilação/perfusão com trazendo qualidade ao pós-operatório.4,12 volumes e capacidades pulmonares adequados, prevenir hipoxemia, atelectasias e pneumonia A analgesia multimodal ou balanceada surgiu no pós-operatório.4,12,13 trazendo benefícios, tendo como princípios os efeitos aditivos e sinérgicos das drogas Atenção especial deve ser direcionada para analgésicas. A combinação de drogas favorece certas cirurgias e, especialmente, nas primeiras a diminuição da dose de cada uma, pois 24 horas de pós-operatório conforme Figura 1 abaixo: Figura 1: Demonstrativo do potencial de dor de cada cirurgia. | 25 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Cunha et al Salvo a tolerância de dor de cada paciente, podese notar que a colecistectomia por laparotomia tem potencial para causar dor intensa nas primeiras 48 horas, o que tornaria necessário um esquema analgésico adaptado para esse nível de dor. Já a cirurgia por videolaparoscopia tem um potencial menor para dor, podendo assim a terapia analgésica ser realizada sem medicamentos opioides.12,13 A percepção da intensidade da dor e a necessidade de tratamento são bastante variáveis e deve ser avaliada separadamente. Alguns fatores são sabidamente preditores de dor no pós-operatório como presença de dor aguda ou crônica antes da cirurgia, distúrbios do humor (níveis altos de ansiedade ou estados depressivos), estado físico ASA III ou IV e idade menor que 21 anos. Quanto ao sítio cirúrgico, a intensidade da dor é maior em cirurgias torácicas seguidas por cirurgias em abdome superior, abdome inferior e cirurgias ortopédicas. O paciente deve ser orientado quanto ao procedimento cirúrgico e o que acontecerá em seu pós-operatório, só essa simples informação já diminui o seu nível de ansiedade. Ele deve estar ciente de que existe uma equipe apta para atendê-lo na enfermaria e que o alívio da dor faz parte do seu tratamento.2,4,12,13,14,15 Existe uma escada da dor proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1996 que nos ajuda a manusear a terapia da dor. Para dor considerada leve, ou seja, aquela com escore de 1-4 na escala visual analógica, devese usar analgésicos comuns de baixa potência como dipirona e paracetamol associados ou não a fármacos anti-inflamatórios não esteroides + adjuvantes. Para dor classificada como moderada, ou seja, com escore de 5-7, devemse usar fármacos opioides fracos associados a anti-inflamatórios não esteroides + adjuvantes. Para dor considerada intensa, ou seja, com escore de 8-10 na escala, sugere-se iniciar com opioides fortes + anti-inflamatórios não esteroides + adjuvantes e, se necessário, poderá ser realizados métodos invasivos para o alívio da dor, como bloqueios anestésicos periféricos ou regionais.4,16 Um caminho de forte incentivo é a analgesia controlada pelo paciente, nesta o paciente comanda uma bomba de infusão contínua de analgésicos. Essa modalidade traz conforto e tranquilidade ao paciente, já que ele mesmo diz quando e quanto de analgésico necessita. Está fortemente indicada na analgesia pósoperatória, diminuindo o tempo entre a demanda e a oferta da medicação, além de permitir uma concentração plasmática constante e mais apropriada do fármaco, evitando doses que propiciam efeitos indesejáveis.1,2,6,7 Segundo informações coletadas no nosso estudo, não houve grandes diferenças na incidência nem mesmo na intensidade da dor naqueles pacientes que utilizaram fármacos opioides e naqueles que utilizaram sua analgesia somente com analgésicos comuns e anti-inflamatórios não esteroides. Alguns questionamentos podem ser feitos na tentativa de explicar tal fato. Foi usada a escala visual analógica da dor? O opioide estava bem indicado nos casos em que foi utilizado? Quando utilizado, foi prescrito de modo sistemático ou como medicação de resgate? Nesta última situação sendo necessário primeiro o paciente sentir dor para depois receber a medicação. Esses questionamentos permanecem e será de grande valia novos estudos com o intuito de respondê-los.16 Conclusão A dor envolve complexas reações fisiológicas com manifestações autonômicas e psicológicas negativas como mal-estar, sensação de fadiga, aumento do consumo de oxigênio, espasmos musculares, má perfusão tecidual, liberação hormonal de cortisol e glucagon e aumento do catabolismo de uma maneira geral.1,2,4,5 A dor é um sintoma de difícil mensuração, cada indivíduo a sente de sua maneira e com graus de intensidade variáveis. Talvez por essa variabilidade encontramos resultados desiguais no estudo, como exemplo nos pacientes com queixa de dor intensa e outros sem queixas álgicas apesar de terem sido submetidos ao mesmo procedimento cirúrgico e tratamento analgésico. A valorização da resposta de cada paciente é fundamental para o sucesso do tratamento e a escala visual analógica | 26 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 AVALIAÇÃO DA DOR PÓS-OPERATÓRIA E DO GRAU DE SATISFAÇÃO DOS PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA PARA COLECISTECTOMIA juntamente com a escada da dor da OMS orienta a terapêutica medicamentosa.5,12,15 Dessa maneira, os pacientes cirúrgicos do Hospital Universitário Getúlio Vargas seriam melhor amparados quanto as suas necessidades físicas e psicológicas, aumentando seu grau de satisfação e bem-estar. É esperado que o alívio da dor pós-operatória leve a desfechos favoráveis como redução de disfunções orgânicas, da morbidade e consequente diminuição do tempo de internação hospitalar. Dados estatísticos ainda não são suficientes para provar impactos sobre a mortalidade.1,2,4,8 Referências 1. Cavalcanti I, Cunha L, Abrão M, Sarmento R. Tópicos de anestesia e dor. 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Management of acute and postoperative pain. Curr Opin Anaesthesiol 2001; 14: 417-421. 10. Ballantyne J. Managing acute pain in the developing world. International Association for the study of pain (IASP), Pain Clinical Updates, vol. XIX, Issue 3, june, 2011. 11. Sommer M, de Rijke JM, van Kleef M et al. The prevalence of postoperative pain in a sample of 1490 surgical inpatients. Eur J Anaesthesiol 2008; 25: 267-274. 12. Usichenko I, Rottenbach I, Kohlmann T, Julich A., Lange J, Mustea A, Engel G, Wendt M. Implementation of the quality management system improves postoperative pain treatment: a prospective pre-/post-interventional questionnaire study. British Journal of Anesthesia 2013; 110(1): 87-95. 13. Couceiro T, TSA et al. Prevalência e influência do sexo, idade e tipo de operação na dor pósoperatória. Rev. Bras. Anestesiol. vol. 59, n. 3, Campinas, may/june, 2009. 14. Uchiyama K, Kawai M, Tani M et al. Gender differences in postoperative pain after laparoscopic cholecystectomy. 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Rev Ass Med Brasil 1998; 44(2): 106-10. | 27 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 GLOMERULOPATIAS PRIMÁRIAS NO AMAZONAS: AVALIAÇÃO DE BIÓPSIAS RENAIS PERCUTÂNEAS DURANTE 20 ANOS AMAZONAS PRIMARY GLOMRULOPATHIES: 20 YEARS KIDNEY PERCUTANEOUS BYOPSIES REVIEW Rebecca Souza Mubarac,* Christiany Moreira Almeida, * Ricardo Sena, * Antônio Duarte Cardoso,** Wilson Seffair Bulbol, **Rolando Vermehren** Resumo Introdução: As glomerulopatias representam importante causa de doença renal em estágio terminal no mundo, porém no Brasil ainda não dispomos de um registro nacional, mas diversas são as tentativas de reunir informações sobre a distribuição e comportamento das doenças glomerulares. Pacientes e métodos: Foram avaliadas retrospectivamente 1.033 biópsias renais durante 20 anos (março de 1993 a abril de 2012), em pacientes internados no Hospital Universitário Getúlio Vargas, em Manaus, Amazonas, Brasil, todas realizadas por meio de agulha e pistola, guiadas por ultrassonografia, sob anestesia local, exceto em crianças e retirados no mínimo dois fragmentos. Desse total, 743 biópsias tiveram diagnóstico de glomerulopatias primárias ou secundárias e essas serão o objetivo de análise deste trabalho. Resultados: A média de idade entre os pacientes foi de 32,78 ± 16,56, variando entre dois e 82 anos, distribuídos entre 630 (61%) mulheres e 403 (39%) homens. A glomerulosclerose segmentar e focal (GESF) foi a doença glomerular primária mais frequente, diagnosticada em 99 pacientes (24,75%), seguida de Lesão Histológica Mínima (LM) em 83 pacientes (20,75%) e Glomerulonefrite Membranosa (GNM) em 70 (17,50%). Conclusão: As informações obtidas a partir deste estudo é uma contribuição importante para o entendimento da prevalência e padrão de Glomerulopatias primárias no Estado do Amazonas. Poderá ser utilizado como fonte de referência para mais investigação em áreas específicas de doenças renais. Abstract Introduction: The glomerulopathies represents an important cause of end-stage renal disease in the world, regardless of several attempts to gather glomerular diseases information on its distribution and behavior, Brazil still don´t have a national registry about this pathologies. Patients and methods: Were evaluated retrospectively 1,033 renal biopsies for 20 years (march 1993 to april 2012), in patients hospitalized at the University Hospital Getúlio Vargas, in Manaus, Amazonas, Brazil, all performed by needle gun, guided by ultrasound under local anesthesia and removed at least two fragments. Of this total, 743 biopsies were diagnosed with primary or secondary glomerulopathy. Results: The patients average age was 32,78 ± 16,56, ranging from 2 to 82, distributed among 630 (61%) women and 403 (39%) men. The focal segmental glomerulosclerosis was the most frequent primary glomerular disease, diagnosed in 99 patients (24,75%), followed by low Histological Injury in 83 patients (20.75%) and Membranous Glomerulonephritis in 70 (17,50%). Conclusion: The information obtained from this study is an important contribution to understanding the primary Glomerulopathies prevalence and pattern in the State of Amazonas with the intention of giving future survey data for specific kidney disease researches.pulse cyclophosphamide terapy. Clinical treatment was initiated with antibiotic therapy and subsequently surgical cleaning. *Médica(o) residente de Nefrologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas, Manaus, Amazonas, Brasil. **Médico assistente do Serviço de Nefrologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas, Manaus, Amazonas, Brasil. | 28 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 GLOMERULOPATIAS PRIMÁRIAS NO AMAZONAS: AVALIAÇÃO DE BIÓPSIAS RENAIS PERCUTÂNEAS DURANTE 20 ANOS Introdução em região subcostal. Retirados no mínimo dois fragmentos. A biópsia renal percutânea tem contribuído como método para diagnóstico das doenças parenquimatosas renais, e também para a classificação das doenças glomerulares e dos mecanismos imunopatogênicos envolvidos. Atualmente, a ultrassonografia auxilia na realização dessas biópsias e permite precisar o local de punção e diagnosticar possíveis complicações.1,2 Após o procedimento, o local puncionado sofria compressão manual durante 10 minutos. Os pacientes permaneceram internados e em repouso absoluto no leito durante 24 horas, sendo que, nas seis primeiras horas, eram mantidos em decúbito dorsal horizontal e a pressão arterial aferida de 1/1hora, com observação constante da cor da urina, em frascos separados. Na semana seguinte à biópsia, foi recomendado As glomerulopatias representam importante repouso relativo. O tempo de internação dos causa de doença renal em estágio terminal pacientes variava de acordo com a presença de no mundo.1 Segundo o Censo da Sociedade hematúria ou a necessidade de compensação Brasileira de Nefrologia, as glomerulopatias clínica da doença de base, mas em média era estão em terceiro lugar (11,4%) entre as causas de 72 horas principalmente após a introdução de doença renal em estágio terminal com da técnica de biópsia realizada por agulha e necessidade de terapia substitutiva renal.3 guiada por ultrassonografia, pois diminui o risco Somente na Região Norte do Brasil existe de complicações e de insucesso na coleta do uma prevalência de 279 pacientes por milhão material. da população de tratamento dialítico,3 sem contar os pacientes que estão em tratamento O procedimento de uma forma geral pode trazer complicações desde hematúria discreta, conservador. hematúria maciça, hematoma perirrenal, O objetivo deste trabalho é identificar o perfil choque hipovolêmico e óbito. Esses dados não das glomerulopatias no Estado do Amazonas no foram avaliados neste trabalho. decorrer de 20 anos de estudo em pacientes internados no Hospital Universitário Getúlio Desse total, 743 biópsias tiveram diagnóstico de glomerulopatias primárias ou secundárias e Vargas, em Manaus, Amazonas, Brasil. essas serão o objetivo de análise deste trabalho. Utilizou-se, para esse fim, a classificação das Pacientes e métodos glomerulopatias da Organização Mundial de Foram avaliadas retrospectivamente 1.033 Saúde. Modificada em 1995 e para Nefrite Lúpica, biópsias renais, incluindo rins nativos e enxertos a classificação da Sociedade Internacional de 4 renais, realizadas durante 20 anos (março de Nefrologia de 2003. 1993 a abril de 2012), em pacientes internados no Hospital Universitário Getúlio Vargas, em Manaus, Amazonas, Brasil. As biópsias, desde o ano 2000, são todas realizadas por meio de agulha e pistola, guiadas por ultrassonografia, sob anestesia local, exceto em crianças que são submetidas à sedação por anestesistas em centro cirúrgico, além da anestesia local. Antes desse período, eram realizadas com marcação por intermédio de radiografias simples e marcação anatômica, a cerca de 4 centímetros da coluna vertebral, As indicações de biópsia foram: síndrome nefrótica, hematúria persistente, glomerulonefrite rapidamente progressiva, nefrite lúpica, doenças metabólicas com alteração renal (proteinúria ou elevação de creatinina) e lesão renal aguda persistente. A análise baseou-se nos seguintes parâmetros: idade, sexo, frequência dos diversos tipos histológicos de glomerulopatias primárias e secundárias (Figura 1). | 29 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Mubarac et al PROTOCOLO DE COLETA DE DADOS NOME IDADE SEXO ANO DA BIÓPSIA DIAS INTERNADOS INDICAÇÃO DA BIÓPSIA QUANTIDADE DE GLOMÉRULOS (MATERIAL SUFICIENTE?) PRESENÇA DE LESÃO RENAL AGUDA ( )SIM ( ) NÃO PRESENÇA DE HEMATÚRIA ISOLADA ( ) SIM ( ) NÃO PADRÃO HISTOPATOLÓGICO ( ) LESÃO PRIMÁRIA ( ) BX NORMAL ( ) INFILTRADO LINFOIDE ( ) NEFRITE TÚBULO-INTERSTICIAL ( ) LESÃO SECUNDÁRIA ( ) MATERIAL INSUFICIENTE ( ) ENXERTO RENAL ( ) NTI + NTA GLOMERULOPATIA PRIMÁRIA ( ) DÇ MEMBRANA FINA ( ) GESF ( ) GLOMERULOESCLEROSE DIFUSA ( ) GN CRESCÊNTICA ( ) GN MEMBRANOPROLIFERATIVA ( ) GN MEMBRANOSA ( ) GN PROLIFERATIVA DIFUSA ( ) GN ENDOCAPILAR ( ) GN PROLIFERATIVA MESANGIAL ( ) LHM ( ) N. C1q ( ) N. IgA ( ) N. IgM ( ) GN CRÔNICA ( ) NÃO CLASSIFICÁVEIS LES (CLASSE 2003) ()I ( ) II ( ) III ( ) IV ( ) IV+V ( ) V ( ) VI LES E SD NEFRÓTICA ( ) SIM ( ) NÃO Figura 1: Protocolo de coleta de dados Todas as amostras de tecido renal foram processadas para microscopia óptica (HE, PAS, prata metanamina e tricrômio de Masson) e imunofluorescência direta, sendo para tal incubadas com soro anti-imunoglobulina humana (IgG, IgA e IgM), antifibrinogênio, anticomplemento (C3, C4, C3b, C3d e C1q) e anticadeias leves (kappa e lambda). Os resultados foram dispostos em tabelas de frequência e expressos como percentagens e como média ± desvio padrão (X ± DP). Resultados Ao longo dos vinte anos de existência do Serviço de Residência Médica em Nefrologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas, foram realizadas 1.033 biópsias renais. Desse total, 863 biópsias (83,54%) foram em rins nativos e 170 biópsias (16,46%) em enxertos renais. A média de idade entre os pacientes foi de 32,78 ± 16,56, variando entre dois e 82 anos, distribuídos entre 630 (61%) mulheres e 403 (39%) homens. | 30 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 GLOMERULOPATIAS PRIMÁRIAS NO AMAZONAS: AVALIAÇÃO DE BIÓPSIAS RENAIS PERCUTÂNEAS DURANTE 20 ANOS Lesões glomerulares primárias foram Membranosa (GNM) em 70 (17,50%). observadas em 400 dos 1.033 casos (38,72%), glomerulopatias secundárias em 343 (33,20%), O lúpus eritematoso sistêmico (LES) foi a outros achados podem ser vistos na Tabela 1. doença mais frequentemente diagnosticada como causa de glomerulopatia secundária Características das glomerulopatias (73,76%); além disso, a classe IV contribuiu primárias podem ser vistas na Tabela 2. A com 24,79% do total das doenças glomerulares glomerulosclerose segmentar e focal (GESF) foi (entre primárias e secundárias), constituindo-se a doença glomerular primária mais frequente, no padrão histológico mais frequente no grupo diagnosticada em 99 pacientes (24,75%), como um todo, e correspondeu a 71,9% dos seguida de Lesão Histológica Mínima (LM) em casos de nefrite lúpica (Tabela 3). 83 pacientes (20,75%) e Glomerulonefrite nf Padrão Histopatológico (%) Biópsia normal6 0,58% Glomerulopatia primária 400 38,72% Glomerulopatia secundária 343 33,20% Infiltrado linfoide 1 0,10% Material insuficiente 46 4,45% Nefrite túbulo-intersticial 22 2,13% Nefrite tubular aguda 42 4,07% Transplante renal 170 16,46% NTI + NTA 3 0,29% Total Geral 1.033 100,00% Tabela1: Achados gerais de todas as 1.033 biópsias renais realizadas ao longo de 20 anos. Gn Primária Doença de Membrana Fina Glomeruloesclerose Difusa Glomeruloesclerose Segmentar e Focal Gn Crescêntica Gn Membranoproliferativa1 Gn Membranosa7 Gn Proliferativa Difusa Gn Proliferativa Mesangial Lesão Mínima8 Nefropatia por C1q Nefropatia por IgA Nefropatia por IGM Não Classificáveis Gn Crônica Gnpd Endocapilar Total Geral nf 1 92 99 23 43 0 11 37 3 41 24 10 30 10 11 (%) 0,25% ,25% 24,75% 5,75% ,50% 17,50% 2,75% 9,25% 20,75% ,00% 6,00% ,25% ,75% 2,50% 2,75% 400 100,00% Tabela 2: Diferenciação entre as glomerulopatias primárias. GN= glomerulonefrite; GNPD= glomerulonefrite proliferativa difusa | 31 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Mubarac et al Tipos Histológicos (OMS) nf Classe I3 (%) 1,19% Classe II 27 10,67% Classe III 10 3,95% Classe IV 182 71,93% Classe V 24 9,49% Classe IV + V 4 1,58% Classe VI 3 1,19% 253 100,00% Total Geral Tabela 3: Distribuição das lesões glomerulares em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico de acordo com a classificação da Sociedade Internacional de Nefrologia de 2003 para nefrite lúpica, em biópsias renais realizadas no HUGV/AM. Discussão mesmo centro, publicado em 2006, quando a GNM era a segunda glomerulopatia primária 16 A biópsia renal é mandatória para o diagnóstico mais prevalente. Atualmente, observamos que etiológico da doença renal e, nos casos das a LM ultrapassa a GNM. Acreditamos que esse glomerulopatias, define os padrões morfológicos aumento de prevalência esteja relacionando da lesão, cujo tratamento poderá ser definido e ao maior número de biópsias renais realizadas nos últimos anos em crianças e isso pode estar guiado.5 associado à melhora no diagnóstico da rede básica O Amazonas é a referência para diagnóstico, de Síndromes Nefróticas e encaminhamento acompanhamento e tratamento das doenças precoce aos serviços de referência. renais na Região Norte do Brasil, onde são realizadas cerca de 50 a cem biópsias renais A frequência de nefropatia por IgA também tem ao ano. A partir do exposto, as glomerulopatias aumentado (6%), quando comparada ao estudo primárias são as mais prevalentes no nosso de 2006 e foi maior do que foi encontrado 8,16 A nefropatia por IgA é estudo (38,72%) semelhante, de forma em Fortaleza (CE). qualitativa e não quantitativa, ao encontrado considerada a glomerulopatia primária mais por alguns autores no Paquistão ao longo de 18 comum em todo o mundo e a baixa prevalência anos de acompanhamento6 e por outros autores no Brasil pode dever-se ao fato de não se fazer biópsias rotineiramente em pacientes com ao longo de 13 anos de acompanhamento.7 hematúria assintomática.8,14-17 Dentre as glomerulopatias primárias, a principal lesão encontrada foi a GESF em 24,75% dos casos, seguida de LM em 20,75%. Diferente das lesões encontradas na literatura, incluindo dados brasileiros, de ser a GESF a mais prevalente, seguida de GNM em segundo lugar e somente em terceiro LM.7-8 Dados europeus de biópsia renal, no entanto, mostram menor prevalência de GESF, fato que sugere predileção racial e étnica.9-15 Notamos uma alteração no padrão das biópsias renais em relação ao estudo realizado no A casuística encontrada neste trabalho mostra que a GESF foi a glomerulopatia primária mais prevalente seguida de LM, diferente da descrição em outros Estados brasileiros, em países europeus, no Paquistão e do que foi encontrado no mesmo centro de estudo. Porém mantemse as causas de glomerulopatias secundárias e a Nefrite Lúpica classe IV continua em destaque. Em conclusão, as informações obtidas a partir deste estudo são uma contribuição importante para o entendimento da prevalência e padrão de glomerulopatias primárias no Estado do | 32 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 GLOMERULOPATIAS PRIMÁRIAS NO AMAZONAS: AVALIAÇÃO DE BIÓPSIAS RENAIS PERCUTÂNEAS DURANTE 20 ANOS Amazonas. Poderá ser utilizado como fonte de referência para mais investigação em áreas específicas de doenças renais. Referências 1. Couser WG. Pathogenesis of glomerular damage in glomerulonephritis. Nephrol Dial Transplant. 1998; 13(1): 10-5. 2. Donovan KL, Thomas DM. Experience with a new method for percutaneous renal biopsy. Nephrol Dial Transplant. 1991; 6: 731-3. 3. Sesso RCC, Lopes AA, Thomé FS, Lugon JR, Watanabe Y, Santos DR. Diálise Crônica no Brasil – Relatório do Censo Brasileiro de Diálise, 2011. J Bras Nefrol. 2012; 34(3): 272-277. 10. Covic A, Schiller A, Volovat C et al. Epidemiology of renal disease in Romania: a 10 year review of two regional biopsy databases. Nephrol. Dial. Transplant. 2006; 21: 419-24. 11. Rychlik I, Jancova E, Tesar V et al. The Czech registry of renal biopsies. Occurrences of renal diseases in the years 1994-2000. Nephrol. Dial. Transplant. 2004; 19: 3040-9. 12. Rivera F, Lopez-Gomez JM, Perez Garcia R. Clinicopathologic correlations of renal pathology in Spain. Kidney Int. 2004; 66: 898-904. 13. Schena FP. The Italian Group of Renal Immunopathology. Survey of the Italian Registry of renal biopsies. Frequency of the renal diseases for 7 consecutive years. Nephrol. Dial. Transplant. 1997; 12: 418-26. 4. Órgão Oficial Trimestral da Sociedade Brasileira de Nefrologia. J Bras Nefrol volume 14. Naumovic R, Pavlovic S, Stojkovic D, BastaXXVII, n. 1, Supl. 1, maio, 2005. Jovanovic G, Nesic V. Renal biopsy registry form 5. Kidney Disease Improving Global Outcomes a single centre in Serbia: 20 years of experience. (KDIGO). Clinical Practice Guideline for Nephrol. Dial. Transplant. 2009; 24: 877-85. Glomerulonephritis. Chapter 2: General principles in the management of glomerular disease. Kidney International Supplements. 2012(2): 156-162; doi: 10.1038/kisup. 2012: 15. 15. Polito MG, Moura LAR, Kirsztajn GM. An overview on frequency of renal biopsy diagnosis in Brazil: clinical and pathological patterns based on 9617 native kidney biopsies. Nephrol Dial Transplant. 2010; 25: 490-496. 6. Rabbani MA, Memon GM, Ahmad B, Memon S, Tahir SA, Tahir S. Percutaneous Renal Biopsy Resultus: a retrospective analysis of 511 16. Cardoso ACD, Kirsztajn GM. Padrões consecutives cases. Saudi J Kidney Dis Transpl. histopatológicos das doenças glomerulares no Amazonas. J Bras Nefrol. 2006; 28: 39- 43. 2012; 23(3): 614-18. 7. Mubarak M, Kazi JI, Naqvi R, Akhter F, Anqvi SAA, Rizv SA. Pattern of renal diseases observed in native renal biopsies in adults in a single centre in Pakistan. Nephrology 2011; 16: 87-92. 8. Queiroz MMM, Silva Júnior GB, Lopes MSR, Nogueira JOL, Correia JW, Jerônimo ALC. Estudo das Doenças Glomerulares em Pacientes Internados no Hospital Geral César Cals (Fortaleza-CE). J Bras Nefrol. 2009; 31(1): 6-9. 17. Bahiense-Oliveira M, Malafronte P. Epidemiologia das glomerulopatias. In: Barros RT, Alves MAR, Dantas M, Kirsztajn GM, Sens YAS editores. Glomerulopatias: patogenia, clínica e tratamento. 2. ed. São Paulo: Sarvier; 2006. p. 55-63. 9. Carvalho E, do Sameiro Faria M, Nunes JPL, Sampaio J, Valbuena C. Renal diseases: a 27year renal biopsy study. J. Nephrol. 2006; 19: 500-7. | 33 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 CISTADENOCARCINOMA SEROSO PAPILÍFERO DE OVÁRIO: RELATO DE CASO SEROUS CYSTOADENOCARCINOMA PAPILIFEROUS OF OVARY Manuel Rios Ruiz, Giovanna Lopes Colares, Sandra Karina Rodriguez Rios, Leonardo Simão Coelho Resumo Apresentamos um caso de uma paciente de 37 anos, oriunda, fumante crônica, multípara, com amenorreia de um ano após o parto, com antecedente de amamentação esporádica que procurou atendimento por apresentar tumoração abdominal de rápido crescimento. Ao exame clínico apresentava dispneia moderada, abaulamento abdominal no abdome inferior, sólida, levemente dolorosa e pouco móvel à palpação. Realizada ultrassonografia pélvica e tomografia abdominal evidenciando uma massa abdominal pélvica, volumosa; os marcadores tumorais B-HCG e CA 125 com valores aumentados. Foi realizada uma laparotomia exploradora evidenciando a presença de uma massa ovariana à direita sendo realizada sua ressecção por histerectomia total, anexectomia bilateral e omentectomia; o resultado do estudo anatomopatológico foi cistadenocarcinoma seroso papilífero. Foi derivada para tratamento e seguimento oncológico com quimioterapia complementar. Palavras-chave: Cistadenocarcinoma, ovário, câncer, marcadores tumorais. Abstract Case report of 37 year-old female patient, chronic smoker, multiparous, with amenorrhea one year after the labor, with antecedent of sporadic breast-feeding that it sought medical care after presenting abdominal fast growth tumor. At the clinical exam it presented moderate dyspnea, abdominal camber in the lower abdomen, solid, slightly painful and relative low mobility. Accomplished pelvic ultrasound and abdominal computer tomography scan evidencing a pelvic abdominal mass, bulky. The tumoral serologic markers B-HCG and CA 125 demonstrated increased values. Exploring laparotomy was accomplished evidencing the presence of ovarian mass on the right being accomplished her resection with total hysterectomy, bilateral anexectomy and omentectomy; the result anatomopathological study was cistadenocarcinoma serous papilifer. Patient was refered for oncologic treatment and complementally chemotherapy. Keywords: Adenocarcinoma cist, ovary, cancer, tumoral markers. Introdução Apesar do carcinoma de ovário ser a segunda neoplasia ginecológica mais comum, é certamente a mais letal; com uma incidência nos Estados Unidos de 15 casos para cada cem mil mulheres entre 50 e 54 anos de idade por ano, 35 casos para cada cem mil mulheres entre 70 a 74 anos; no Brasil, de oito casos para cada cem mil mulheres na Região Sul, dois casos para cada cem mil mulheres na Região Norte e uma incidência mundial de 6,3 casos para cada cem mil mulheres. De 70 a 75% dos casos de câncer de ovário tem diagnóstico tardio; de 6-7% das mulheres no momento do diagnóstico são portadoras de massas anexiais assintomáticas.1,2 Dentro dos fatores de risco temos: períodos ovulatórios prolongados, menarca precoce, menopausa tardia todos relacionados com o número aumentado dos períodos ovulatórios, exposição de asbesto (produtos relacionados como talco que pode estar contaminado com | 34 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 CISTADENOCARCINOMA SEROSO PAPILÍFERO DE OVÁRIO: RELATO DE CASO asbesto) fumo, álcool, fatores alimentares (gordura animal, carne vermelha, café) e fatores hereditários. Dentro dos fatores de proteção temos: a ovulação bloqueada (gravidez, amamentação, uso de anticonceptivos orais), ligadura de trompas, histerectomia. Os grupos etários mais afetados são as maiores de 50 anos e nulíparas. São classificados em três grandes grupos de acordo ao tipo de célula de origem: neoplasias epiteliais (80-90% dos casos), tumores de células germinativas e tumores de células especializadas. Os tumores epiteliais constituem cerca de 90% de todos os tumores malignos, originando-se do epitélio que reveste a superfície externa do ovário, destes os tumores serosos são os mais comuns.1,2,3,4 O cistadenocarcinoma seroso é o mais frequente de todos os tumores malignos do ovário alcançando 35-40%, apresentam um epitélio semelhante ao da tuba uterina que secreta um líquido seroso, com tendência a desenvolver tanto na superfície externa e interna formações papilares, passando a se chamar cistadenocarcinoma seroso papilífero. Podem ser císticos, com áreas sólidas, bilaterais em aproximadamente 50% dos casos podendo alcançar grandes tamanhos. É uma doença de diagnóstico tardio e de alta mortalidade em seus estádios avançados, sendo assintomático em fases iniciais.1,2,3 A ultrassonografia é na atualidade o método propedêutico mais solicitado para o diagnóstico diferencial de tumores pélvicos mesmo com todos os avanços médicos.2,5,6 macroscópico e o exame citológico da cavidade abdominal que inclui a coleta de líquido ascítico e lavado das goteiras parietocólicas e a pelve.2,3,6 Relato de Caso Paciente de 37 anos de idade, sexo feminino, oriunda atendida no ambulatório de Ginecologia do Hospital Santa Júlia, Manaus-AM. Refere emagrecimento progressivo havia dois meses, associado à dor pélvica, constipação, distensão abdominal, náuseas, vômitos e dispneia. Sua história gineco-obstétrica apresentou quatro gestações sendo todos partos normais; menarca aos 11 anos; ciclos menstruais regulares III/30 dias apresentando amenorreia desde seu último parto havia um ano. Última colpocitologia oncótica negativa a malignidade havia dois anos; usuária de anticonceptivo injetável até três meses atrás; tabagista há 17 anos. Ao exame físico se mostra em regular estado geral, lúcida, orientada no tempo e no espaço, levemente hipocorada, dispneia moderada, acianótica, sem linfonodomegalias, com desnutrição moderada. Aparelho respiratório com MV fisiológicos com diminuição no terço inferior do hemitórax à esquerda. Aparelho cardiovascular com RCR, BNF, sem sopros. Abdome globoso, distendido com massa abdominal volumosa localizada no abdome inferior não dolorosa à palpação, pouco móvel com presença de ascite sem irritação peritoneal. A avaliação laboratorial inicial apresenta o hemograma sem alterações; Os tumores ovarianos continuam sendo um funções hepáticas e renais estáveis; marcadores desafio para os ginecologistas porque não tumorais com valores elevados beta hCG de se conseguiu uma redução significativa na 988 mUI/ml e Ca 125 de 125 U/ml. Método de mortalidade provocada por essa doença. Sua imagens; tomografia de tórax: derrame pleural incidência tem diminuído consideravelmente bilateral mais acentuada no lado esquerdo com nas últimas décadas, porém é necessário avaliar atelectasia à esquerda por compressão sem os fatores de risco e proteção para poder sinais de implante pleural. Ultrassonografia de determinar uma possível causa. O tratamento abdome total apresenta massa sólida pélvica do cistadenocarcinoma seroso papilífero é e tomografia computadorizada de abdômen cirúrgico, e requer histerectomia total com mostra massa volumosa em topografia de salpingo-ooforectomia bilateral associada ovário direito com componente sólido e líquido à omentectomia com biópsias peritoneais (Figura1). mediante a qual se realiza o estadiamento | 35 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Ruiz et al Figura 1: Imagem da massa abdominal na tomografia computadorizada de abdome. Realizada toracocentese à esquerda, diagnóstica e terapêutica; e submetida a tratamento cirúrgico mediante laparotomia exploradora realizando-se ressecção de massa tumoral de 618 gramas, medindo 14,5 x 10,5 x 7,0 cm correspondendo ao ovário direito (Figuras 2 e 3), histerectomia total, anexectomia bilateral (salpingo-ooforectomia bilateral) e omentectomia. Presença de discreto volume de líquido ascítico, cuja amostra foi encaminhada para pesquisa de células neoplásicas. Paciente evoluiu satisfatoriamente obtendo alta hospitalar no 4.º DPO. Resultado da pesquisa de líquido pleural e ascítico para células neoplásicas negativo. O laudo anatomopatológico confirmou cistadenocarcinoma seroso papilífero moderadamente diferenciado com extensão capsular. Ausência de comprometimento neoplásico das trompas uterinas, ovário esquerdo e omento. Figura 2: Tumoração ovariana durante a ressecção cirúrgica. | 36 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 CISTADENOCARCINOMA SEROSO PAPILÍFERO DE OVÁRIO: RELATO DE CASO Figura 3: Imagem comparativa do tumor em relação ao tamanho uterino e ovariano contralateral. Discussão pacientes entre 55 e 74 anos, porém ainda não é generalizado.5,6,7 A neoplasia maligna epitelial de ovário é o segundo câncer mais comum do trato genital feminino e a quinta causa de morte por câncer em mulheres. No Brasil, o câncer de ovário ocupa o terceiro lugar entre as neoplasias malignas que acometem os órgãos genitais femininos, sendo raro o aparecimento dela antes dos 30 anos de idade. Apresentam fatores de riscos que se pode identificar por meio da história clínica na suspeita diagnóstica como história de neoplasias individuais e familiares; idade acima de 65 anos, infertilidade e nuliparidade; os contraceptivos orais por mais de quatro anos, gestações múltiplas e amamentação estão considerados como fatores protetores do câncer de ovário.4,5,6 Quando estamos diante de uma paciente suspeita de neoplasia de ovário, devemos iniciar a investigação com uma boa história clínica enfatizando a história familiar, ultrassonografia transvaginal com Doppler e solicitação dos marcadores oncogênicos principalmente o CA 125 e outros como alfafetoproteina e beta-hCG que são menos específicos.6,8 Com os parâmetros de idade, as características ultrassonográficas e valores de CA 125, podemos determinar o Índice de Risco de Malignidade (IRM). A idade avançada é diretamente proporcional ao risco de malignidade com um pico máximo entre 75 e 79 anos. A ultrassonografia é o método propedêutico mais solicitado para O câncer ovariano epitelial, embora tenha diferenciar os tumores pélvicos; determinando ocorrido uma melhora significativa na sobrevida a presença e localização. A complexidade da em cinco anos, não existe nenhum método ultrassonografia está diretamente relacionada à confiável para seu rastreamento; a elevada maior risco de malignidade; sendo considerada mortalidade e a pequena quantidade de casos complexidade, tumor com tamanho maior de 10 de câncer de ovário diagnosticados em estádios cm, presença de partes sólidas em seu interior, iniciais tornam essencial a busca de métodos excrescências papilares, multilocularidade, de rastreamento de identificação precoce septos, bilateralidade, ascite, metástase e de doença. Tem grandes ensaios tratando de alterações de resistência vascular ao Doppler. verificar a eficácia da associação da dosagem do O CA-125 é o marcador tumoral mais usado e CA 125 sérica e a ultrassonografia transvaginal considerado positivo acima de 34U/ml, seu observando uma redução na mortalidade de valor está diretamente proporcional ao risco de | 37 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Ruiz et al malignidade, não deve ser utilizado isoladamente para diagnóstico por ser inespecífico. Ele é mais utilizado no seguimento pós-operatório para descartar recorrência e na monitorização da evolução da doença durante e após tratamento adjuvante. O cálculo do IRM resulta da soma do índice etário (IE) com o índice ultrassonográfico (IU) e com o índice do CA 125 simplificado na seguinte fórmula: IRM = IE + IU + índice do CA-125. A pontuação para o IE é: com menos de 40 anos = 1 ponto; entre 40 e 49 anos = 2 pontos; com 50 ou mais anos = 3 pontos. Para o IU: ausência de critérios de malignidade = 1 ponto; presença de um critério de malignidade = 2 pontos; mais de um critério de malignidade = 3 pontos. Para o índice do CA-125: < de 35U/ml = 1 ponto; entre 35 e 64,9U/ml = 2 pontos; > 65U/ml = 3 pontos. Devendo ser considerados tumores com alto risco de malignidade os que apresentam IRM > de 6 pontos com uma sensibilidade de 76,5% e especificidade de 87,9%.5 Em estágios avançados o tratamento cirúrgico está associado à terapia adjuvante com quimioterapia sistêmica.6 A abordagem cirúrgica videolaparoscópica ainda não é consenso, porque sua manipulação indevida pode mudar o estadiamento e prognóstico, indicando-se para estadiamento em suas fases iniciais. Para tanto, deve-se levar em consideração a experiência, habilidade cirúrgica em videolaparoscopia, o estágio da doença atual e conhecimentos básicos em oncologia.9,10 No relato de caso, a paciente não tinha fatores de risco predominantes para evoluir de forma tão rápida e grave; porém no cálculo do IRM é 7 que indica alto risco de malignidade. Sua faixa etária baixa indica pouco risco de malignidade, porém as características ultrassanográficas e os valores do CA 125 indicam o contrário.5 Pacientes pós-operadas por carcinomas ovarianos devem ser acompanhadas regularmente; além do minucioso exame clínico geral, a ultrassonografia abdominal e pélvica e radiografia de tórax devem ser efetuadas trimestralmente no primeiro ano e cada seis meses nos anos subsequentes. Os marcadores A tomografia computadorizada (TC) do abdome tumorais têm, nessa fase, importante papel, e a pelve com contraste por via oral e venosa pois quando alterados indicam a presença de pode ser usada, ajudando a detectar focos metástases ou recidiva da doença.8 Um consenso de doença intra-abdominal (metástases do National Cancer Institute recomenda uma hepáticas), identificação de linfadenomegalia, história clínica cuidadosa e exame pélvico anual comprometimento de órgãos adjacentes e o em todas as mulheres. Atualmente a tecnologia comprometimento da parede pélvica importante tenta descobrir novos marcadores que possam para definir a viabilidade de tratamento dar valor discriminatório entre mulheres cirúrgico; podendo ser também utilizada a saudáveis e com câncer de ovário.6 ressonância magnética da pelve quando a TC não puder esclarecer o quadro adequadamente. Referências O uso da tomografia por emissão de pósitrons (PET) está sendo avaliada para a detecção dos 1. Gebrim R. Ginecologia Oncológica. Rio de locais em que a doença está apresentando Janeiro: Atheneu Editora, 1999: 358-389. recorrência.6 2. Glauco B. Ginecologia oncológica. Manual O tratamento do cistadenocarcinoma de ovário de Condutas. São Paulo: Fundação Antonio é cirúrgico, em estágios iniciais da doença Prudente, 2010: 37-52. o tratamento totalmente curativo; e requer histerectomia total com salpingo-ooforectomia 3. Freitas F. Rotinas em Ginecologia. 6.ª ed. bilateral associada à omentectomia com Porto Alegre: Artmed Editora, 2011: 478-497. biópsias peritoneais, diafragmática bilateral, das goteiras parietocólicas, do peritônio 4. Ristow CM, Yanamoto CT, Fávalo M. Fatores pélvico e dos linfonodos para-aórticos e ilíacos. de risco e patogênese das neoplasias malignas | 38 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 CISTADENOCARCINOMA SEROSO PAPILÍFERO DE OVÁRIO: RELATO DE CASO epiteliais de ovário. Revista Brasileira de Cancerologia 2006; 52(2): 185-195. 5. Fernandes LRA, Lippi UG, Baracat FF. Índice de Risco de Malignidade para Tumores de Ovário Incorporando Idade, Ultrassonografia e o CA-125. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia 2003; 25(5): 345-351. 6. Cortinhas CF. Tratamento do Câncer de Ovário. Programa de Atualização em Cirurgia. Proaci. Porto Alegre: Editora Artmed, ciclo 6, módulo 1, 2009: 127-150. 7. López-Olmos J, Navarro P. Carcinoma papilar de la superfície serosa del Ovario. Clin Invest Gin Obst. 2002; 29(9): 334-339. 8. Ribeiro L, Barros I, Alvoero L, Branco R, Neto F, Távora I, Coutinho J, Pimentel A. Cistadenocarcinoma do Ovário. A propósito de um caso clínico. Medicina Interna 1995; 2(4): 233-237. 9. Reis RJ, Coelho FA, Zanato AB, Link CA, Maestri D, Edelweiss IA. Videolaparoscopia para o Tratamento de Câncer de Ovário de Baixo Potencial de Malignidade: Quando Indicar? Relato de Caso e Revisão da Literatura. Revista Brasileira de Videocirurgia 2004; 2(2): 79-82. 10. Viscimi F. O tumor de ovário pode ser abordado por Videolaparoscopia? Rev Ass Med Brasil. 2001; 47(4): 279-280. | 39 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 HEPATITE AGUDA INDUZIDA POR PROPILTIOURACIL: RELATO DE CASO PROPYLTHIOURACYL-INDUCED HEPATITIS: CASE REPORT AND LITERATURE REVIEW Vinicius Renan Pinto de Mattos,* Evelyn Santos de Paula,* Mauro Martins Lippi,* Aline Brasil Aranha,* Maria Cristina Tavares da Costa ** Resumo O Propiltiouracil é uma droga amplamente utilizada no tratamento dos distúrbios da tireoide. A hepatite induzida por propiltiouracil se apresenta como uma séria complicação, ainda que rara, e deve ser considerada em todo paciente recebendo essa droga que se apresente com sintomas de disfunção hepática. O quadro clínico pode variar de rápida recuperação após interrupção da droga até hepatite fulminante com insuficiência hepática e morte. Relata-se um caso de hepatite aguda acometendo mulher de 38 anos em uso de propiltiouracil para tratamento de hipertireoidismo. Causas virais, metabólicas e autoimunes foram excluídas. Houve remissão dos sintomas e melhora laboratorial após pronta suspensão da droga. Palavras-chave: Propiltiouracil, Hepatotoxicidade, Hepatite Induzida por Drogas. Abstract Propylthiouracil is a drug widely used in the treatment of thyroid disorders. Propylthiouracilinduced hepatitis presents as a serious complication, although rare, and should be considered in all patients using this drug with symptoms of liver dysfunction. The clinical presentation may range from rapid recovery after discontinuation of the drug to fulminant hepatitis with hepatic failure and death. We report a case of acute hepatitis affecting a 38 years old woman using propylthiouracil as therapy for hyperthyroidism. Viral, metabolic and autoimmune causes were excluded. There was remission of the symptoms and laboratorial improvement after the prompt discontinuation of the drug. Keywords: Propylthiouracil, Hepatotoxicity, Drug-induced Hepatitis. Introdução pneumonite intersticial.1,2,3 A hepatotoxicidade se apresenta como uma séria complicação, O Propiltiouracil (PTU) vem sendo amplamente ainda que rara,2 tendo sido relatada como utilizado no tratamento dos distúrbios da efeito adverso inicialmente em 1947.4 A tireoide desde sua apresentação em 1946.1 hepatite induzida por PTU deve ser considerada Apesar de ter sido utilizado com segurança por em todo paciente recebendo essa droga que muitos anos, diversas reações adversas foram se apresente com sintomas de disfunção relatadas, incluindo agranulocitose, leucopenia, hepática, as quais podem incluir icterícia, dor anemia hemolítica, anemia aplásica, coagulação no quadrante abdominal superior direito, malintravascular disseminada, vasculite cutânea e estar, náuseas, vômitos e anorexia. O quadro de * Médica residente em Ginecologia e Obstetrícia, Hospital Universitário Francisca Mendes. ** Professora de Tocoginecologia da Universidade do Estado do Amazonas. | 40 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 HEPATITE AGUDA INDUZIDA POR PROPILTIOURACIL: RELATO DE CASO hepatotoxicidade por PTU pode variar de rápida recuperação após interrupção da droga até hepatite fulminante com insuficiência hepática e morte.2,3,5-8 Relato de Caso EAL, feminino, parda, com 38 anos, diagnosticada com hipertireoidismo havia cinco anos, em tratamento irregular. Trinta dias antes da admissão hospitalar, iniciou terapia com propiltiouracil (PTU) na dose de 300 mg/dia, evoluindo após cerca de três semanas com quadro de icterícia, colúria, acolia, mialgias, fadiga e astenia. Negava uso de outras drogas, exceto Propranolol na dose de 120 mg/dia. Tampouco apresentava histórico de etilismo, uso de drogas ilícitas, exposição a sangue ou derivados, bem como exposição a outros fatores de risco para hepatites virais. Ao exame físico, apresentavase em regular estado geral, icterícia importante de pele e escleras, exoftalmia com mobilidade ocular intrínseca preservada, tireoide palpável com presença de sopro e frêmito bilateralmente, hepatomegalia discreta e ausência de outros estigmas de hepatopatia crônica. A avaliação laboratorial anterior ao início da terapia com PTU mostrava-se sem alterações. Nova avaliação laboratorial diante do quadro clínico apresentou os seguintes resultados: Aspartato Aminotransferase (AST): 300U/L (VR: 12-38 U/L); Alanina Aminotransferase (ALT): 800UL (VR: 7-41U/L); Fosfatase Alcalina (FA): 613U/L (VR: 35-104U/L), Gamaglutamil Transpeptidase (GGT): 181 (VR: 8-41U/L); Bilirrubinas Totais: 21 mg/dl (VR: 0,3-1,3 mgdl); Bilirrubina Direta: 12 mg/dl (VR: 0,1-0,4 mg/dl); Bilirrubina Indireta: 9 (VR: 0,2-0,9 mg/dl). Por conta do conhecido potencial hepatotóxico do PTU, optou-se pela suspensão da droga, mantendo-se o propranolol (120 mg/dia) para controle das manifestações clínicas da tireotoxicose. Os marcadores sorológicos para hepatite A (anti-HAV Total), hepatite B (anti-HBc IgM, HBsAg) e hepatite C (anti-HCV) apresentaram-se negativos, bem como os testes sorológicos para Citomegalovírus (CMV), Epstein-Barr Vírus (EBV), e o fator antinuclear (FAN). Após suspensão da droga, a paciente apresentou melhora progressiva da sintomatologia e do padrão laboratorial. Foi submetida a tratamento definitivo do hipertireoidismo com radioiodoterapia (I131). Pela boa evolução do quadro recebeu alta hospitalar após período de nove dias de internação, ainda com quadro de astenia, porém com melhora do padrão laboratorial (AST: 221U/L; ALT: 537U/L; FA: 172U/L; GGT: 152 U/L; Bilirrubina Total: 12,59 mg/dl; Bilirrubina Direta: 8,73 mg/dl/ Bilirrubina Indireta: 3,86 mg/dl). Manteve acompanhamento ambulatorial, e no seguimento apresentou remissão dos sintomas, com avaliação laboratorial após quatro meses demonstrando normalização das provas de função hepática (AST: 15U/L; ALT: 26U/L; FA: 152U/L; GGT: 61U/L). Discussão A incidência estimada de hepatotoxicidade associada ao PTU varia de 0,1 a 1,2%.1,9 A maior parte dos eventos tóxicos ocorre de um a três meses após o início da terapia (podendo variar de seis a 450 dias),3,10 com a dose média de 300 mg/dia, tanto em crianças quanto em adultos.10 A fisiopatologia da lesão hepática é controversa. Para uns, a observação da normalização das aminotransferases pela redução da dose de PTU sugere que o efeito tóxico é dose dependente,12 contrariando a assertiva de outros, que sugerem tratar-se de reação imunológica desencadeada por linfócitos sensibilizados pelo PTU.2,3,12 Uma revisão de 1995 põe a hepatite induzida por PTU como uma reação idiossincrática secundária a mecanismos imunológicos, hipersensibilidade, além de toxicidade direta da droga entre as hipóteses patogênicas.13 Durante o tratamento pelo PTU a participação do sistema imunológico pode ser constatada pela presença de anticorpos antinucleares (FAN) e antitireoidianos, reação autoimune que desaparece pela suspensão da droga,1 podendo levar a confusão com hepatite autoimune.1,14 Até 72% dos pacientes com hipertireoidismo podem apresentar elevação de pelo menos uma enzima hepática.9,11,12 A elevação de transaminases parece ser multifatorial, e inclui consumo hepático de oxigênio aumentado, inadequada compensação do fluxo sanguíneo, congestão e redução da produção de ácidos biliares.3,9,12 Mesmo em casos de hipertireoidismo grave, porém as bilirrubinas | 41 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Mattos et al e as aminotransferases apresentam-se 1,15 apenas levemente alteradas. e a elevação de transaminases não necessariamente contraindica o uso de drogas antitireoidianas.11,12 A hepatotoxicidade por PTU tem sido relatada em pacientes tanto com função hepática normal quanto anormal nos testes pré-tratamento, e nenhum fator específico pode identificar o risco de hepatite em um paciente.3,11,16 – ausência de insulto hepático agudo como choque ou sepse; 5 – ausência de evidência de doença hepática crônica; e 6 – ausência de outras drogas administradas, especialmente hepatotoxinas conhecidas.5 Necrose hepatocelular inespecífica é o achado comum da biópsia hepática.12 Baseado na severidade do processo, os achados patológicos podem variar de sinais precoces de Aumento transitório nas enzimas hepáticas inflamação hepatocelular até necrose hepática seguindo o início de tratamento com PTU submaciça.2,3,9,12 ocorre em 15-28% dos casos.9,11 Essas elevações são transitórias, reduzindo com a diminuição No reconhecimento de hepatotoxicidade, o da dose da medicação ao longo do tempo, com PTU deve ser interrompido.3,12 Com terapia os pacientes permanecendo assintomáticos, de suporte, a maioria dos pacientes deve se contradizendo observações prévias de que recuperar. Contudo, a literatura não é clara a hepatite induzida por PTU é evento raro e se a rápida interrupção do tratamento garante comumente severo.11 uma boa evolução do quadro hepático. Deve ser realizado seguimento clínico intensivo, já que a Em 1997, um estudo de revisão analisou 30 disfunção pode progredir mesmo com a suspensão casos relatados de hepatotoxicidade associada da droga.3,12 Não há na literatura registros de ao PTU,12 tendo relatado maior incidência em estudos controlados ou não controlados de mulheres do que em homens, com uma relação tratamento com corticoesteroides para hepatite de 8,3:1. Quando foram comparados pacientes induzida por drogas.12 que sobreviveram e os que morreram, não houve diferença na idade, dose ou meses A avaliação da função tireoidiana deve de tratamento com PTU antes do início do ser realizada com T4 livre (visto que o quadro de hepatotoxicidade. A apresentação T4 total é adversamente afetado pela do quadro é inespecífica,3,12 e varia de hiperbilirrubinemia).3,12 O tratamento da quadros assintomáticos, apresentando apenas doença tireoidiana subjacente impede que a anormalidade ou piora dos testes bioquímicos, tireotoxicose contribua com a deterioração até insuficiência hepática terminal. Na presença clínica.3,12 As opções de tratamento para o de hepatite aguda, a mortalidade pode ser tão hipertireoidismo nesses pacientes é limitada.12 alta quanto 25%.12 PTU está contraindicado por conta do mecanismo desconhecido de hepatotoxicidade e a relatada Anormalidades ou piora dos testes de função recorrência de lesão após reexposição à hepática sugerem o diagnóstico. Contudo, a droga.2,3,12 O tratamento definitivo deve busca por outras potenciais causas de disfunção constituir na terapia com iodo radioativo.12 Na hepática permanece necessária.12 Injúria revisão de Williams e colaboradores, essa forma hepática induzida por drogas consiste em de tratamento foi significativamente associada um diagnóstico difícil e frequentemente de com sobrevivência. Contudo, como o tempo exclusão.1,2 Critérios teóricos e práticos foram médio de tratamento foi maior que a duração da propostos por Hanson em 1984 para auxiliar no sobrevivência dos pacientes que faleceram em diagnóstico de hepatite induzida por drogas. razão da hepatotoxicidade por PTU, os efeitos Os critérios incluiriam: 1 – evidências clínicas positivos do I131 não podem ser firmemente e laboratoriais de disfunção hepatocelular; 2 – estabelecidos com os dados disponíveis, podendo início dos sintomas temporalmente relacionados ter ocorrido viés de seleção dos pacientes. com o início da terapia farmacológica; 3 – Mesmo assim, o tratamento ideal pode ser ausência de evidência sorológica de infecção I131 quando a hepatotoxicidade por PTU foi atual por hepatite A, B ou C, CMV ou EBV; 4 suspeitada. Alternativamente, metimazol tem | 42 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 HEPATITE AGUDA INDUZIDA POR PROPILTIOURACIL: RELATO DE CASO sido utilizado com sucesso após a normalização das enzimas hepáticas.12 Referências 1. Parolin MB, Lopes RW, Telles JE, Ioshii SO, Hajar N. Hepatite Aguda Colestática pelo Propiltiouracil. Relato de Caso. Arq Gastroenterol. 2000; 37: 129-132. 2. Hardee JT, Barnett AL, Thannoun A, Eghtesad B, Wheeler D, Jamal M. Propylthyouracil-induced Hepatotoxicity. West J Med. 1996; 165: 144-147. 3. Gonçalves Júnior JC, Oliveira RA, Carvalho AM, Jorge PT. Hepatite por Propiltiouracil: Apresentação de Dois Casos com Evoluções Diversas. Arq Bras Endocrinol Metab. 1999; 43: 129-133. 4. Livingston HJ, Livingston SF. Agranulocytosis and hepatocellular jaundice. Jama. 135: 422425. 5. Hanson J. Propylthiouracil and hepatitis: Two cases and a review of the literature. Arch Intern Med. 1984; 144: 994-996. 6. Limaye A, Ruffolo PR. Propylthiouracil-induced fatalhepatic necrosis. Am J Gastroenterol. 1987; 82: 152-4. Metab. 2009; 94: 1881-1882. 11. Liaw YF, Huang MJ, Fan KD, Li KL, Wu SS, Chen TJ. Hepatic injury during propylthiouracil therapy in patients with hyperthyroidism – A chohort study. Ann Intern Med. 1993; 118: 424428. 12. Williams KV, Nayak S, Becker D, Reyes J, Burmeister LA. Fifty Years of Experience with Propylthiouracil-Associated Hepatotoxicity: What Have We Learned? Jornal of Clinical Endocrinology and Metabolism. 1997; 82: 17271733. 13. Lee WM. Drug-Induced Hepatotoxicity. N Engl J Med. 1995; 333: 118-127. 14. Maggiore G, Larizza D, Lorini R, Scotta MS, Severi F. Propylthiouracil hepatotoxicity mimicking autoimmune chronic active hepatitis in a girl. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 1989; 8: 547-8. 15. Levy M. Propylthiouracil hepatotoxicity. A review and case presentation. Clin Pediatr. 1993; 32: 25-9. 16. Peter SA. Propylthiouracil-Associated Hepatitis. 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J Clin Endocrinol | 43 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 ESCLEROSE MÚLTIPLA COM REBAIXAMENTO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA: RELATO DE CASO MULTIPLE SCLEROSIS WITH DECREASED LEVEL OF CONSCIOUSNESS: A CASE REPORT Juliana Keth Hidalgo Farina Costa,* Daniel Ribeiro,** Nise Alessandra de Carvalho Sousa,** Monique de Souza Vitoriano,* Giselle Ferreira Benevides,* Clécida Mara Normando Rebouças* Resumo Relatamos o caso de um paciente de 16 anos, do sexo masculino, estudante, natural e procedente de Eirunepé (AM), com diagnóstico de esclerose múltipla(EM). A esclerose múltipla é uma doença crônica, inflamatória, auto-imune e desmielinizante do siste¬ma nervoso central (SNC), que possui grande variedade de sinais e sintomas como manifestação, dependendo da área do SNC que ocorrer a desmielinização, porém manifestação com alteração do nível de consciência não está descrito na literatura, fato ocorrido neste relado. A paciente estava uso de Intérferon Beta 1-A, interrompendo o seu uso por conta própria, e apresentando novo surto, atípico, após duas semanas, caracterizado por rebaixamento do nível de consciência. No exame físico de admissão, apresentava – se com paresia facial e ptose palpebral bilateral, pupilas médio-fixas, força muscular grau III em membro superior direito e grau I em membro superior esquerdo e membros inferiores. Durante a internação, apresentou rebaixamento do nível de consciência, evoluindo para torpor e coma, com discreta resposta apenas ao estímulo doloroso. Foi realizada pulsoterapia com metilprednisolona 1grama ao dia, por cinco dias e iniciado o Intérferon beta 1-B em dias alternados. Após conduta, apresentou melhora progressiva do quadro e, no terceiro dia, houve melhora significativa do nível de consciência, porém permanecendo com ptose palpebral. Houve melhora progressiva do grau de força muscular e no dia da alta hospitalar já deambulava com apoio. No momento, segue em acompanhamento ambulatorial sem novos surtos, permanecendo ptose palpebral parcial à direita. Palavras-chave: Esclerose Múltipla, Estado de Consciência, Neurologia. Abstract We report the case of a 16 year old male student, born and raised in Eirunepé (AM), diagnosed with multiple sclerosis (MS). Multiple sclerosis is a chronic, inflammatory, and autoimmune demyelinating disease of the central nervous system (CNS), which has a wide variety of signs and symptoms of disease manifestations, depending on the area of the CNS demyelination occurs, but with altered manifestation level of consciousness is not described in the literature, this fact occurred case report. The patient was Interferon Beta 1a, interrupting its use on their own, and presenting new outbreak, atypical, after two weeks, characterized by decreased level of consciousness. On physical examination at admission, had - with facial palsy and bilateral ptosis, fixed-medium pupils, grade III muscle strength in the right upper limb and grade I in the left upper limb and lower limb. During hospitalization, showed decreased level of consciousness, progressing to stupor and coma, with only slight response to painful stimuli. Pulse therapy with methylprednisolone 1 gram a day was held for five days and started interferon beta 1b every other day. After conduct, showed gradual improvement and by the third day, there was significant improvement in the level of consciousness, but staying with ptosis. There was progressive improvement in the degree of muscle strength and the day of discharge has walked with support. At the time, follow-up in outpatients with no new outbreaks, remaining partial right ptosis. Keywords: Propylthiouracil, Hepatotoxicity, Drug-induced Hepatitis. * Médicas residentes do Programa de Residência Médica em Neurologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas. ** Neurologistas preceptores do Programa de Residência Médica em Neurologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas. | 44 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 ESCLEROSE MÚLTIPLA COM REBAIXAMENTO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA: RELATO DE CASO Introdução A esclerose múltipla (EM) é uma doença crônica, inflamatória, auto-imune e desmielinizante do siste¬ma nervoso central (SNC). Acomete pacientes jovens, principalmente na faixa etária dos 20 aos 40 anos, que corresponde à fase de maior produtividade dos indivíduos. Possui uma preferência pelo sexo feminino (relação 3 mulheres para 2 homens). O maior número de casos diagnosticados desta doença encontrase nos países da Europa, América do Norte e Austrália, ou seja, nos países temperados, em indivíduos de raça caucasiana.1,2,3 Ainda não existe uma evidência científica de um fator responsável por esta doença. Acredita-se que a EM seja causada por uma combinação de fatores, entre fatores hereditários que na presença de fatores ambientais desconhecidos mas facilitadores da doença e em situações emocionais adversas, favoreçam a ativação do sistema imunológico no sentido deste não reconhecer os seus próprios tecidos e ativar um processo inflamatório na substância branca do sistema nervoso central (reação auto-imune), deste modo, iniciar o processo da EM.3 apresentações clínicas, como primariamente progressiva, secundariamente progressiva e progressiva com surtos.4 Neste relato, descrevemos um caso de esclerose múltipla (EM), com uma evolução atípica, apresentando um surto novo caracterizado por rebaixamento do nível de consciência. Relato de Caso Paciente de 16 anos, do sexo masculino, estudante, natural e procedente de Eirunepé (AM), procurou o serviço de neurologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas, com quadro de hemiparesia e hemiparestesia à esquerda, paralisia do VI nervo craniano à direita, associado a alterações da marcha e do equilíbrio. Relata que já havia apresentado anteriormente dois episódios semelhantes. Em um desses episódios, procurou atendimento médico em Manaus, sendo realizada tomografia computadorizada (TC) de crânio, que não evidenciou alterações. Nesta mesma ocasião, foi solicitada ressonância nuclear magnética (RNM) de crânio para melhor investigação, que Esta doença possui grande variedade de sinais demonstrou alteração do sinal no hemisfério e sintomas como manifestação, dependendo cerebelar esquerdo, associada à acentuação da área do SNC que ocorrer a desmielinização.3 das folias e sulcos correspondentes; lesão Provoca incapacidades funcionais progres¬sivas, heterogênea em hemisfério cerebelar causando grande impacto na vida dos direito, com epicentro na substância branca, portado¬res e de seus familiares.1,2 estendendo-se discretamente ao pedúnculo cerebelar e vérmis adjacentes (Figura 01). A principal forma de evolu¬ção da doença é a Foi iniciado tratamento com corticoide, surto-remissão (EMSR), para a qual se preconiza apresentando melhora significativa em 30 dias, atualmente tratamento medicamentoso com permanecendo apenas ptose palpebral parcial imunomoduladores1,2. Há também outras direita. | 45 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Costa et al Figura 1: RNM de crânio evidenciando alteração do sinal no hemisfério cerebelar esquerdo, com acentuação das folias e sulcos correspondentes, no hemisfério cerebelar direito apresenta l esão heterogênea com epicentro na substância branca, estendendo-se ao pedúnculo cerebelar e vermis adjacente, medindo de 1,7 x 2,7 x 2,5cm. Quando procurou nosso serviço de neurologia, foi realizada internação hospitalar e investigação diagnóstica. Devida à história clínica foi concluído que se tratava do terceiro surto, sendo solicitada nova RMN de crânio (Figura 2), análise do líquor e pesquisa de bandas oligoclonais. O líquor não apresentou nenhuma alteração e a pesquisa de bandas oligoclonais apresentou-se positiva. Na RNM de crânio foram identificadas áreas de encefalomalácia circundadas por gliose nos hemisférios cerebelares, áreas de hipersinal junto ao ventrículo lateral esquerdo, na ponte, hipocampo esquerdo e tálamo direito (Figura 3). Como houve evolução têmporoespacial das lesões, foi confirmado o diagnóstico de Esclerose Múltipla Remitente-Recorrente e iniciado tratamento com Intérferon Beta 1-A. Paciente apresentou melhora do quadro e foi encaminhado para acompanhamento ambulatorial. Figura 2: RNM de crânio (29/11/2009) com lesão hipertensa pericalosa Figura 3: RNM de crânio em Flair (25/11/2010) com lesão hiperintensa em mesencéfalo | 46 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 ESCLEROSE MÚLTIPLA COM REBAIXAMENTO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA: RELATO DE CASO Devido a problemas sociais e por morar no interior, interrompeu o uso do Intérferon por conta própria e, após duas semanas, apresentou novo surto. Este, porém, com uma evolução atípica, caracterizado por rebaixamento do nível de consciência. No exame físico de admissão, apresentava diparesia facial, ptose palpebral bilateral, pupilas médio-fixas, força muscular grau III em membro superior direito e grau I em membro superior esquerdo e membros inferiores. Durante a internação, apresentou rebaixamento do nível de consciência, evoluindo para torpor e coma, com discreta resposta ao estímulo doloroso. Foi realizada pulsoterapia com metilprednisolona 1grama ao dia, por cinco dias e iniciado o Intérferon Beta 1 B em dias alternados. Apresentou melhora progressiva do quadro e no terceiro dia, houve melhora significativa do nível de consciência, permanecendo com ptose palpebral e persistência do déficit motor. Houve progressiva recuperação do grau de força muscular e na alta hospitalar já deambulava com apoio. No momento, segue em acompanhamento ambulatorial sem novos surtos, permanecendo com semiptose palpebral à direita. evoluir marcadamente de modo semelhante aos pacientes com EMPP.5 As manifestações clínicas variam conforme a forma de apresentação da EM. Na forma EMPP, o comprometimento de tratos longos é comum, e o motor é o mais frequente seguido pelo cerebelo. As alterações piramidais estão presentes em até 80% dos pacientes, e a fraqueza está, em geral, relacionada com a mielopatia, primeiro nos membros inferiores, evoluindo de modo gradual para tetraparesia. Na progressão, distúrbios sensitivos alterações cerebelares, síndromes de tronco cerebral, perda visual, disfunção esfincteriana e sexual, além de comprometimento cognitivo podemse desenvolver, demonstrando a evolução da doença no espaço e no tempo.5 Os sintomas iniciais mais frequentes na EMSR foram alterações sensitivas e neurite óptica. A forma EMPS possui seus sintomas iniciais semelhantes a EMSR, pois ela é uma extensão da doença surto-remissão.5 O diagnóstico inicial da EM, principalmente para definir qual a forma, pode ser difícil de ser dado inicialmente, muitas vezes somente DISCUSSÃO conseguimos após acompanhamento de um certo Na história natural da EM dois padrões período da doença. No caso da EMPP é difícil de bem marcados de apresentação inicial são se caracterizar a progressão dos sintomas, que reconhecidos: a forma surto/remissão (EMSR) na maioria dos casos se instala de modo lento, e a forma primariamente progressiva (EMPP). diferente dos surtos que são manifestações A EMPP é caracterizada pela progressão dos agudas. Os exames complementares podem sintomas desde o início sem ocorrência de surtos auxiliar no diagnóstico quando apresentam definidos. Já a EMSR pela ocorrência surtos anormalidades, sendo eles: ressonância nuclear agudos entremeados a remissões clínicas, sendo magnética, análise do líquor e potencial 5 esta a forma inicial da doença mais comum, evocado visual. entre 85 a 90% dos pacientes.5 Realizamos uma busca na literatura atual à Nos pacientes com EMSR, a progressão pode procura de trabalhos que descrevam os sinais e sobrepor-se aos surtos, e a doença se tornar sintomas da EM e sua evolução. Alguns trabalhos 6-8 secundariamente progressiva (EMSP). De internacionais dividem os sinais e sintomas acordo com estudos prévios, mais que 50% iniciais em: piramidais, tronco/cerebelo, dos pacientes EMSR com mais de 10 anos de ópticos, sensitivos e medulares. Trabalhos 9-12 que também estudaram os sinais doença evoluem com progressão secundária. nacionais Os paciente com EMPS são aqueles nos quais a e sintomas iniciais e sua evolução, comparam primeira fase da doença se caracterizou pela com a literatura internacional, mostrando que nítida presença de surtos decorrentes de maior os dados coincidem. Porém em nenhum destes atividade inflamatória, os surtos podem ou trabalhos foi encontrado algum caso descrito não estar presentes, e os pacientes passam a de rebaixamento do nível de consciência, como | 47 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Costa et al paciente apresentado neste artigo. Neurol Scand 1972, 48:19-46. O paciente relatado apresentava evolução típica de EM, conforme descrita na literatura pela forma surto/remissão, porém com a suspensão do tratamento apresentou um novo surto de forma atípica, caracterizado por rebaixamento do nível de consciência. 7. Bauer HJ. Problems of symptomatic therapy of multiple sclerosis. Neurology 1978, 28:8-20. Com este relato concluímos que existe uma grande variedade da gravidade de alguns surtos e a importância de se fazer diagnósticos diferenciais com outras patologias que caracterizam-se por comprometimento da consciência, como por exemplo, encefalomielite disseminada aguda (ADEM).13,14,15 8. Kuroiwa Y. Nationwide survery of MS in Japan. Neurology 1975, 25:845-851. 9. Tilbery, C.P; Felipe, E; Baldauf, C.M; Peres, M.F.P. Esclerose múltipla: análise clínica e evolutiva de 214 casos. Arq. Neuro-Psiquiatr. 1995, vol.53, n.2, pp. 203-207. 10. Lana-Peixoto MA, Lana-Peixoto MI. Is multiple sclerosis in Brazil and Asia alike? Arq Neuropsiquiatr 1992, 50:419-425. 11. Callegaro D. Contribuição do estudo clínico evolutivo da esclerose múltipla: análise de 120 1. Noseworthy JH, Lucchinetti C, Rodriguez M, pacientes. Tese de Doutorado, Faculdade de Weinshenker BG. Multi¬ple sclerosis. 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Acta | 48 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 HÉRNIA DE SPIEGEL: RELATO DE CASO SPIEGEL´S HERNIA: A CASE REPORT Rebeca Aparecida dos Santos Di Tommaso,* Rubem Alves da Silva Neto,* Priscila Cavalcanti Ballut,* João José Corrêa Bergamasco,* Marcelo Henrique dos Santos,** Tikara Hagiwara*** Resumo Hérnia de Spiegel é um defeito raro da parede abdominal, com protrusão por meio da linha semilunar. É de interesse cirúrgico pelo quadro clínico vago de queixas abdominais, com elevado risco de encarceramento e estrangulamento. Tradicionalmente é tratada com hernioplastia anterior com aproximação da musculatura e reforço com tela de polipropileno, sendo a técnica laparoscópica uma alternativa ao procedimento cirúrgico aberto. O presente trabalho visa relatar dois casos de pacientes com diagnóstico de hérnia de Spiegel operadas no Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas pela técnica tradicional. Palavras-chave: Linha de Spiegel, hérnia de Spiegel, hernioplastia anterior. Abstract Spiegel´s hernia is a rare abdominal wall defect, presenting itself as a protrusion through the semilunar line. It is surgical interest because of its high incarceration and strangulation risk. Traditionally, repair consists on open anterior hernioplasty, using direct muscle approximation and polypropylene mesh. Laparoscopic technique is an alternative to the open procedure. This paper aim to report two Spigelian hernia cases treated with the traditional technique in the Getúlio Vargas University Hospital General Surgery Department. Keywords: Spigelian line, Spigelian hernia, anterior hernioplastia. Introdução A hérnia de Spiegel ocorre por meio da fáscia de Spiegel, que é composta da camada aponeurótica entre o músculo reto medialmente e a linha semilunar lateralmente; estendendose da extremidade no nono arco costal até o tubérculo púbico, sendo mais estreita na porção superior e se alargando abaixo da linha transversal umbilical, assumindo a forma de uma meia-lua.1,2 Quase todas as hérnias de Spiegel ocorrem na linha arqueada ou abaixo dela. A ausência de fáscia do reto posterior pode contribuir para uma fraqueza inerente nessa área. São hérnias em geral interparietais, com o saco herniário dissecando posteriormente a aponeurose do músculo oblíquo externo, não sendo possível palpar o anel herniário.1 O orifício herniário se localiza lateralmente à borda externa do músculo reto, mais frequentemente em uma área compreendida entre duas linhas paralelas: a linha interespinhosa (entre as espinhas ilíacas anteriores superiores) e outra linha transversal, traçada seis centímetros acima.2 *Residente em Cirurgia Geral da Universidade Federal do Amazonas. ** Residente em Cancerologia Cirúrgica da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Amazonas. ***Cirurgião assistente do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas. | 49 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 HÉRNIA DE SPIEGEL: RELATO DE CASO O objetivo deste trabalho é relatar dois casos de Hérnia de Spiegel operados no Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas. hepática, em tratamento regular de suas comorbidades; tendo realizado procedimento cirúrgico para correção de prolapso vaginal. Negava história familiar e pessoal de hérnias da parede abdominal. Ao exame físico, evidenciado abdome globoso, flácido, assimétrico pelo Relato de Caso 1 abaulamento em região de flanco e fossa ilíaca Paciente do sexo feminino, 47 anos, encaminhada direita, de consistência fibroelástica e móvel à nossa instituição após diagnóstico de hérnia à palpação; sem visceromegalias ou falhas de Spiegel; evoluindo havia três anos com dor aponeuróticas palpáveis. Procurou atendimento em região de flanco e fossa ilíaca à direita, tipo de urgência, onde realizou ultrassonografia surda, que melhorava com o repouso. Um ano de abdome a qual não evidenciou nenhuma e meio após o início do quadro álgico iniciou alteração. Por persistência e piora progressiva abaulamento em região de flanco e fossa ilíaca do quadro clínico a paciente realizou tomografia direita, com aumento progressivo dele associado de abdome e pelve a qual diagnosticou hérnia à piora da dor aos esforços físicos. Portadora de Spiegel. de hipertensão arterial sistêmica e esteatose Foto 1: TC de abdome evidenciando presença de falha aponeurótica, com conteúdo de alça intestinal no interior do saco herniário. A paciente foi submetida à hernioplastia de parede abdominal, tendo sido evidenciado no intraoperatório falha aponeurótica de 10 cm de extensão com volumoso saco herniário contendo alças de intestino delgado e epíplon. Realizado, após abertura de saco herniário, o embricamento dele com fio absorvível; aproximação da falha aponeurótica com fio inabsorvível e reforço dela com tela de polipropileno. A paciente evoluiu sem intercorrências, recebendo alta no 2.º dia pós-operatório. | 50 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Di Tommaso et al Foto 2a: Isolamento e abertura de saco herniário, evidenciando o seu conteúdo. Foto 2b: Embricamento do saco herniário com aproximação de falha aponeurótica. Foto 2c: Aspecto final após fixação de tela de polipropileno. Relato de Caso 2 Paciente do sexo feminino, 62 anos, encaminhada à nossa instituição após diagnóstico de hérnia de Spiegel; evoluindo havia oito meses com dor em região de flanco esquerdo com irradiação para região lombar ipsilateral, tipo surda, intermitente; associada a náuseas. Relatava ainda abaulamento em região de fossa ilíaca esquerda à manobra de Valsalva. Apresentava melhora do quadro ao repouso e piora dele aos esforços físicos. Portadora de hipertensão arterial sistêmica, em tratamento regular; tendo realizado colecistectomia e apendicectomia prévias. História pessoal de herniorrafia umbilical havia seis meses. Ao exame físico, evidenciado abdome globoso, flácido, simétrico, sem visceromegalias ou massas palpáveis, porém, à manobra de Valsalva, evidenciava-se abaulamento discreto em região de fossa ilíaca esquerda, mas sem falha aponeurótica palpável ao exame físico. Procurou atendimento de urgência, onde realizou tomografia de abdome e pelve a qual evidenciou solução de continuidade no músculo transverso abdominal, na fossa ilíaca à esquerda, na altura da linha semilunar, por onde ocorria insinuação da gordura pélvica, com saco herniário de 3,7 x 2,9 cm; evidenciou ainda diástase dos músculos retos abdominais ao nível da cicatriz umbilical, por onde ocorria insinuação de gordura intra-abdominal. A paciente foi submetida à hernioplastia de parede abdominal, tendo sido evidenciado no intraoperatório falha aponeurótica de 3 cm de extensão com saco herniário pequeno contendo apenas epíplon. Realizado, após abertura de saco herniário, o embricamento dele com fio absorvível; procedido então aproximação da falha aponeurótica com fio inabsorvível e reforço dela com tela de polipropileno. A paciente evoluiu sem intercorrências, recebendo alta no 2.º dia pós-operatório. Foto 3a: Dissecção e isolamento de saco herniário. Foto 3 b: Aspecto final após o reparo da fragilidade da parede abdominal com tela de polipropileno. | 51 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 HÉRNIA DE SPIEGEL: RELATO DE CASO DISCUSSÃO sensibilidade do exame físico.8,9 Os sintomas e sinais mais comuns são dor abdominal e Hérnia de Spiegel consiste em uma protrusão abaulamento na porção lateral do abdome de saco peritoneal, órgão ou gordura pré- inferior, com massa palpável e dolorosa.10 O peritoneal por meio de um defeito, congênito ou exame físico isolado falha em estabelecer o adquirido, na aponeurose de Spiegel. Também diagnóstico em mais de 50% dos casos.11 conhecida como “hérnia ventral lateral”, “hérnia anterolateral” ou hérnia por meio do O diagnóstico diferencial deve ser feito com tendão conjunto”.3,4 hematoma de músculo reto abdominal, seroma e abscesso abdominal; entidades menos comuns Hernias de Spigel são entidades raras, como fibroma, lipoma, sarcoma e hemangioma constituindo 0,12-2% de todas as hérnias da de parede abdominal.4 parede abdominal. Adrian van der Spiegel foi o primeiro a definir a linha semilunar, também O diâmetro do colo herniário é geralmente de conhecida como linha de Spiegel. Em 1764, 0,5-2 cm, podendo resultar em obstrução e Klinklosch descreveu pela primeira vez a hérnia encarceramento; sendo a hérnia diagnosticada como entidade clínica, nomeando de “hérnia da durante cirurgia de urgência.12 O conteúdo do linha de Spiegel”.5 saco herniário pode conter omento, intestino delgado, colón, apêndice, bexiga, mais Na maioria dos casos é uma hérnia adquirida, raramente ovário e divertículo de Meckel.4,9 ocorrendo principalmente em adultos entre 40 e 70 anos, afetando ambos os lados (direito Ultrassonografia e tomografia computadorizada e esquerdo) de maneira semelhante, sendo evidenciam o local exato do defeito herniário, discretamente mais frequente em mulheres.4,5 seu tamanho, sua extensão, o conteúdo, além A etiologia da hérnia de Spiegel está associada de informações importantes para a escolha à teoria vascular, na qual o prolapso dessas da melhor abordagem cirúrgica.8 A tomografia hérnias por meio da aponeurose do músculo computadorizada é considerada a ferramenta transverso seria pelos orifícios dos vasos e diagnóstica de maior sensibilidade.13,14 nervos perfurantes na linha semilunar; associada à teoria do defeito musculoaponeurótico com Após o diagnóstico da hérnia de Spiegel, o fragilidade nas aponeuroses dos músculos tratamento cirúrgico se faz necessário em transverso e oblíquo interno do abdome, onde consequência das complicações associadas diversos fatores que aumentam a pressão à entidade, como encarceramento e intra-abdominal ou causam deterioração da estrangulamento (21-33%).15 As opções cirúrgicas parede abdominal são considerados fatores de reparo da hérnia de Spiegel podem ser tanto predisponentes (obesidade mórbida, distúrbios pela técnica aberta como laparoscópica. A do colágeno, múltiplas gestações, ganho ou hernioplastia aberta apresenta baixa morbidade perda ponderal importante, doença pulmonar e mortalidade, baixa recorrência, porém associacrônica).3,6 se à maior incisão e dissecção da área afetada para completa correção do defeito. É ainda a Pode ainda estar associada à presença de orifícios técnica de escolha em casos de complicações e anormais na aponeurose do músculo transverso cirurgia de urgência.4,8,16 para passagem da artéria epigástrica inferior e seus ramos, predispondo à fragilidade.7 Trauma A técnica laparoscópica pode ser realizada tanto e defeito congênito por desenvolvimento intra-abdominal como extra-peritoneal, sendo anormal da parede abdominal também estão a intra-abdominal reservada para os casos de envolvidos na etiologia dessas hérnias.6 múltiplas cirurgias na mesma intervenção.4,8,16 A hénia de Spiegel é uma entidade rara entre O diagnóstico inicial é difícil pela variedade de as hérnias da parede abdominal, de diagnóstico sintomas inespecíficos, o pequeno tamanho da muitas vezes difícil; porém demanda tratamento herniação, a localização interparietal e à baixa cirúrgico imediato após seu diagnóstico em vista | 52 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Di Tommaso et al do índice de complicação a ela associado. O tratamento cirúrgico aberto é uma abordagem factível, com baixas taxas de recidiva e de morbimortalidade. REFERÊNCIAS 1. Malangoni MA, Rosen MJ. Hérnias. In: Townsend CM, Beauchamp RD, Evers BM, Mattox KL. Sabiston: Tratado de cirurgia. A base biológica da prática cirúrgica moderna. 18.a ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. p. 1085-1107. 2. Speranzini MB, Deutsch CR. Hérnias da parede abdominal anterior. In: Speranzini MB, Deutsch CR, Yagi OK. Manual de diagnóstico e tratamento para o residente de cirurgia. São Paulo: Atheneu Editora, 2009. p. 635-642. Rare? Puzzling diagnosis? Chirurg. 1982; 53: 314-317. 12. Montes IS, Deysine M. Spigelian and other uncommon hernia repair. Surg Clin N Am. 2003; 83: 1235-1253. 13. Coulier B. Multidetector computed tomography features of linea arcuata (arcuateline of Douglas) and linea arcuata hernias. Surg Radiol Anat. 2007; 29: 397-403. 14. Bennett D. Incidence and management of primary abdominal wall hernia: umbilical, epigastric and spigelian. 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Os autores apresentam um caso de amiloidose laríngea em uma paciente de 42 anos cujo sintoma era rouquidão progressiva havia dez anos, discutindo sobre as principais características da doença que, se diagnosticada e tratada precocemente, poderá evitar comprometimento grave de vias aéreas. Palavras-chave: Amiloidose, Cirurgia, Laringectomia. Abstract Amyloidosis occurs in less than 1 percent of the larynx benign diseases. Affects approximately 5-10 per million per year, with up to 20% of these cases involving the Head and Neck zone. The larynx is the most commom local. A larynx amyloidosis case report in a 42 years old female patient reffering progressive hoarseness for 10 years. Discussion is made about the disease caractheristics to promove an early diagnose and to avoid acute airway compromisse. Keywords: Amyloidosis, Surgery, Laringectomy. Introdução A amiloidose consiste em uma doença ainda de origem desconhecida, na qual ocorrem depósitos extracelulares de proteína fibrilar insolúvel (amiloide).1 Pode acometer diferentes tecidos e se apresentar de forma isolada ou sistêmica. Cerca de 5-10 casos por milhão de pessoas são diagnosticadas por ano, 20% deles são de Cabeça e Pescoço,2,3 sendo a laringe o principal órgão acometido. Há descrição de 300 casos de amiloidose de laringe na literatura entre 1877 e 1990 no mundo.3 Relato de Caso MS, sexo feminino, 42 anos, natural e procedente de Manaus, relata que havia dez anos apresentou ruptura de cordas vocais evoluindo com rouquidão e piora progressiva. Afirma ter procurado assistência, porém sem melhora clínica. Há aproximadamente um ano apresentou infecção de vias aéreas superiores com agravamento do quadro, sendo então encaminhada à Fundação Centro de Controle de Oncologia do Amazonas. Na ocasião negou disfagia, dispneia e outras alterações. Paciente não apresenta história de tabagismo ou etilismo e afirma ter realizado retirada de cisto no dorso havia quatro anos. Ao exame físico apresentava-se em bom estado geral, eupneica e normocorada, sem edemas e com boa perfusão capilar periférica. As auscultas pulmonar e cardíaca não apresentaram * Residente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCECON). **Cirurgião de Cabeça e Pescoço e preceptor da Residência de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCECON). ***Médica assistencialista do Hospital Pronto-Socorro João Lúcio Pereira Machado. ****Acadêmica de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). | 54 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 AMILOIDOSE DE LARINGE alterações. Ao exame da região cervical, ausência de abaulamento, sem turgência em jugulares, ausência de linfonodomegalias. Realizado videolaringoscopia (Figuras 1 e 2), que demonstrou presença de lesão infiltrativa acometendo a hemilaringe direita, com presença de fixação da corda vocal ipsilateral (lesões polipoides no bordo livre), sendo realizada biópsia para esclarecimento diagnóstico. Figura 1: Imagem da lesão à videolaringoscopia. Figura 2: Imagem da lesão à videolaringoscopia. Ao exame histopatológico da biópsia de corda vocal, foram evidenciados fragmentos de laringe revestidos por epitélio escamoso estratificado parcialmente desgarrado, sem evidências de alterações displásicas. No tecido subepitelial destacou-se a presença de tecido conjuntivo frouxo, mixoide de aspecto elástico, com vasos congestos e raras células do infiltrado inflamatório. A coloração de vermelho-congo foi positiva para depósito no tecido subepitelial. Os achados foram então sugestivos de amiloidose laríngea (Figura 3). Figura 3: Microscopia da lesão. | 55 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Filho et al Ao exame imuno-histoquímico, evidenciou-se a deposição subepitelial de material amiloide positivo para a coloração vermelho-congo (Figura 4) e refringente sob a luz polarizada, achados consistentes de amiloidose. Figura 4: A lesão positiva para vermelho-congo. A paciente foi submetida à laringectomia parcial ocorreu sem intercorrência e ela se encontra supracricoide, com retirada da epiglote, pela em seguimento ambulatorial. infiltração dela (Figuras 5 e 6). O pós-operatório Figura 5: Intraopertório. | 56 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 AMILOIDOSE DE LARINGE A B Figura 6: Produto de laringectomia parcial: a) visão anterior, b) visão posterior. Discussão A amiloidose corresponde a menos de 1% das lesões benignas encontradas na laringe e raramente está associada à doença sistêmica. Acomete a faixa etária de 40 a 60 anos predominando no sexo masculino em uma proporção de 3:1.1 As regiões mais acometidas da laringe são: falsas pregas (55%), ventrículo laríngeo (36%), espaço subglótico (36%), pregas vocais (27%), pregas ariepiglóticas (23%) e comissura anterior (14%).4 O sintoma mais comum é a disfonia progressiva,2 podendo ocorrer também a disfagia, dispneia, sensação de corpo estranho e até hemoptise,1 geralmente relacionado a localização. sendo a via endoscópica a mais utilizada, salvo em casos mais invasivos que produzam obstrução da via aérea, sendo necessária a realização de laringectomia parcial ou total. O tratamento clínico com radioterapia ou corticosteroides tem sido considerado ineficaz.1 Optou-se pela laringectomia parcial supracricoidea pelo grau de infiltração e os sintomas relatados pela paciente. Durante o procedimento cirúrgico, decidiu-se pela retirada de epiglote em razão do acometimento dela pela doença. O prognóstico é bom por se tratar de uma doença benigna e sem relato comprovado de malignização, porém as taxas de recidiva são elevadas, com necessidade de várias abordagens cirúrgicas. Em uma série com 22 pacientes, 45 % tiveram de ser submetidos a múltiplas exéreses.8 Amiloidose laríngea é uma doença benigna, de Macroscopicamente se apresentam como edema crescimento lento, porém pode causar risco subepitelial difuso sem alteração de mucosa de morte ao obstruir as vias aéreas. De fácil (mais comum) ou como nódulos amarelos, não tratamento quando diagnosticado precocemente ulcerados e com depósitos subepiteliais.5,6,7 e de bom prognóstico, lembrando sempre que Tem como diagnóstico diferencial os pólipos a forma sistêmica, apesar de raramente estar de pregas vocais, cistos de retenção das associada ao acometimento laríngeo, deve ser falsas cordas vocais, laringocele, os tumores sempre investigada. laríngeos benignos e malignos e as doenças Referências granulomatosas.1,7 O diagnóstico é feito a partir do histopatológico. A proteína amiloide, quando em contato com o corante vermelho-congo e sob luz polarizada produz uma birrefringência verde-maçã característica da doença. O tratamento da doença localizada é cirúrgico, 1. Bastos AS et al. Amiloidose laríngea primária: Revisão bibliográfica e um caso relatado. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia 2004; 70(1): 133-136. 2. Jacques TA et al. Head and Neck manifestation amyloidosis. 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Otolaryngol Head Neck Surg. 1992, 106(4): 372377. | 58 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 GRANULOMA GLÓTICO POR TUBO DE MONTGOMERY GLOTTIC GRANULOMA AFTER MONTGOMERY TUBE Andra Aleixo Aguiar* Lubyanka Ferreira Pereira Custódio* Márcia dos Santos da Silva,*Renato Telles de Souza,**Fernando Luiz Westphal***José Corrêa Lima Neto*** Resumo O granuloma em prega vocal é um processo inflamatório inespecífico constituído por tecido de granulação geralmente localizado no processo vocal da cartilagem aritenoide. Vários fatores contribuem para a etiopatogenia do granuloma, mas esta continua indeterminada, tais como: abuso vocal, doença do refluxo laringo-faríngeo (RLF) e intubação endotraqueal. Quando nenhuma causa é evidenciada considera-se como idiopática. Neste trabalho, relatamos o caso de um paciente com granuloma em prega vocal após uso de tubo de Montgomery para correção de estenose traqueal. Palavras-chave: Granuloma, glote, laringe, estenose traqueal. Abstract The glottic granuloma is a nonspecific inflammatory process consisting of granulation tissue usually located in the arytenoid cartilage vocal process. Several factors contribute to the granuloma pathogenesis, but this is still undetermined. The main factors are: vocal abuse, disease laryngopharyngeal reflux (LPR) and endotracheal intubation. When no evident cause is determined it is classified as idiopathic. A case report about glottic granuloma appearance after Mountgomery tube use for tracheal stenosis treatment. Keywords: Granuloma, glottis, larynx, tracheal stenosis. Introdução porção cartilaginosa.4 Os granulomas da laringe são afecções orgânicas relativamente raras, que apresentam um quadro clínico e patológico bem definido.1 Existem ainda controvérsias sobre sua nomenclatura, etiopatogenia, classificação e tratamento. Entre os diversos fatores etiológicos responsáveis pelo aparecimento dos granulomas laríngeos, destacam-se: a intubação endotraqueal, o refluxo gastroesofágico, os traumatismos laríngeos externos, o fonotraumatismo e a origem idiopática.2,3 Existem dois tipos de granulomas: os inespecíficos (geralmente associado aos fatores etiológicos supracitados) e os específicos (causados por doenças como tuberculose, sarcoidose, paracococidioidomicose, sífilis, granulomatose de Wegener, doença de Crohn etc.).2,5 É importante investigar, durante o exame clínico do paciente, sobre história de intubação endotraqueal, abuso vocal e sintomas de refluxo laringo-faríngeo por esses serem os principais fatores envolvidos na etiopatogenia dos granulomas laríngeos. Neste trabalho, relatamos o caso de um paciente que, após intubação endotraqueal prolongada, evoluiu Em geral ocorrem na porção posterior das pregas vocais, frequentemente na ou acima da *Médica residente de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas. **Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas. Mestre em Otorrinolaringologia. ***Médico assistencial do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Getúlio Vargas. | 59 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 GRANULOMA GLÓTICO POR TUBO DE MONTGOMERY com estenose traqueal tendo a necessidade de colocação de tubo de Montgomery para manter as vias aéreas pérvias. Após dois anos com o tubo de Montgomery evoluiu com granuloma em prega vocal. A análise histopatológica do material coletado na cirurgia foi compatível com nódulo fibroso de pregas vocais. Cerca de um ano após a intervenção cirúrgica foi realizada nova broncoscopia que verificou epiglote e cordas vocais normais; traqueia de Relato de Caso aspecto normal com presença de 90% de luz Paciente do sexo masculino, 43 anos, foi pérvia. encaminhado ao Serviço de Otorrinolaringologia Atualmente, dois anos depois da microcirurgia pelo achado sugestivo de granuloma glótico de laringe, o paciente está assintomático e durante broncoscopia para controle de tubo apresenta videolaringoscopia sem evidência de de Montgomery. O paciente relatou história recidiva do granuloma glótico. de meningite bacteriana, havia cinco anos, e necessitou de intubação endotraqueal Discussão prolongada. Como complicação desta, evoluiu com estenose traqueal sendo então submetido Estudos descrevem o granuloma laríngeo à colocação de tudo de Montgomery para a relacionado à intubação endotraqueal por conta correção da estenose. Após dois anos, quando de fatores como: as intubações prolongadas e foi submetido à broncoscopia para controle do traumáticas, a utilização de tubos traqueais tubo de Montgomery, foi visualizada uma lesão de maior diâmetro, as elevadas pressões no volumosa, obstruindo toda a região glótica, o interior dos balonetes dos tubos traqueais, que impossibilitou a retirada do tubo (Figura principalmente nas anestesias que utilizam 1A). óxido nitroso, e a inadequação dos planos de sedação.3 Além disso, possíveis movimentações cervicais do paciente são capazes de deslocar o tudo traqueal permitindo o atrito dele com a mucosa da laringe e da traqueia. Movimentos involuntários de deglutição, respiração e de fonação também são responsáveis por traumatizar a mucosa das vias aéreas por meio da compressão causada pelo tubo durante esses movimentos, além de dificultar a cicatrização da laringe por segunda intenção, o que em último estágio determina a formação do granuloma.6,7 Esses eventos podem explicar a causa de formação do granuloma nesse paciente. Figura 1: A – Granuloma glótico visualizado por broncoscopia. B – Laringe após exérese do granuloma visualizada por microscópio cirúrgico. C – Peça cirúrgica. Histologicamente essas lesões têm aspecto de granulomas piogênicos, formados por tecido de granulação, com edema e infiltrado inflamatório crônico, neovascularização e fibrose, recoberto por epitélio escamoso.5,8 Após confirmação da lesão sugestiva de granuloma glótico, por meio da videolaringoscopia, o paciente foi submetido à microcirurgia de Alguns fatores são descritos como predisponentes laringe com retirada dela (Figura 1B). para formação do granuloma: sexo feminino, idade adulta, anemia, desnutrição, hipotensão, No quinto dia de pós-operatório, o paciente infecção respiratória, entre outros.6,9 realizou nova broncoscopia na qual foi observada perviedade das vias aéreas possibilitando a O diagnóstico é feito pela história clínica, exame retirada do tudo de Montgomery. otorrinolaringológico e videolaringoscopia.2,5 | 60 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Aguiar et al De aspecto marrom-amarelado, pediculados, localizam-se nas pregas vocais ou na porção medial da cartilagem aritenoide, podem situarse em outras regiões da laringe e na traqueia em áreas de contato com o tubo ou nas bordas da traqueostomia.6 geralmente proposta para os casos mais volumosos ou que acometem ambas as pregas vocais.11,12,15 Isso é possível pela interrupção do fator causal, o que contribui para a baixa recorrência comparada aos granulomas de origem não relacionada à pós-intubação.11 Regridem, em geral, após a descanulação e em algumas ocasiões exigem exérese endoscópica. Pelo fato de as lesões se posicionarem na comissura glótica posterior, a voz, em muitos casos, é pouco comprometida, uma vez que podem não impedir a coaptação glótica.3 Alterações de qualidade da voz e dispneia podem estar presentes quando se trata de um granuloma volumoso.10 Outros sintomas como sensação de globus faríngeo, tosse e pigarro podem constituir o quadro clínico. No caso apresentado, como o paciente estava com o tubo de Montgomery, não apresentava dispneia ou disfonia e a lesão foi um achado incidental durante a broncoscopia. Dessa forma, o paciente evoluiu satisfatoriamente após a microcirurgia de laringe com remoção do granuloma glótico, uma vez que foi cessado o estímulo com a retirada do tubo de Montgomery. A mesma fisiopatologia envolvida no surgimento do granuloma glótico pós-intubação endotraqueal prolongada pode ocorrer em pacientes que são submetidos à colocação de tudo de Montgomery, uma vez que o atrito dele com o epitélio de revestimento da mucosa da laringe e da traqueia podem gerar compressão e traumatização dela. 3. Martins RHG, Dias NH, Santos DC, Fabro AT, Braz JRC. Aspectos clínicos, histológicos e de microscopia eletrônica dos granulomas de intubação das pregas vocais. Rev Bras Otorrinolaringol. 2009; 75: 116-22. 4. Pontes PAL, De Biase NG, Gadelha MEC. Clinical evolution of laryngeal granulomas: treatment and prognosis. Laryngoscope. 1999; 109: 289-94. Os estudos dividem bem a conduta em relação ao tipo de granuloma, apesar de ainda serem controversos quando relacionados aos granulomas idiopáticos e aos que apresentam como fator desencadeante o abuso vocal e o refluxo gastroesofágico. Nestes, mesmo o tratamento sendo direcionado para os fatores contribuintes, a regressão do granuloma nem sempre é possível e as recidivas pós-cirúrgicas são frequentes.11,12 Recentemente foram descritas boas experiências desses casos refratários com o uso de toxina botulínica, injeção intralesional de corticoide e remoção cirúrgica seguida de radioterapia imediata.11,13,14 Referências 1. Pinto JA, Simon SP, Júnior SNS. Granulomas inespecíficos da laringe. Rev Bras Otorrinolaringol. 1993; 59: 253-6. 2. Lemos EM, Sennes LU, Imamura R, Tsuji DH. Granuloma de processo vocal: caracterização clínica, tratamento e evolução. Rev Bras Otorrinolaringol. 2005; 71: 494-8. 5. Dieguez FSM, Barbosa MVC, Almeida AAR, Souza VA. Granuloma laríngeo: relato de caso. Rev Científica da FMC. 2010; 5: 15-18. 6. Coelho MS, Stori Jr. WS. Lesões crônicas da laringe pela intubação traqueal. J Pneulmol. 2001; 27: 68-76. 7. Porto AJS, Alves SN. Granuloma pósentubação. Rev Bras Anestesiol. 1989; 39: 4345. 8. Tsuji DH, Sennes LU, Bohadana SC, Imamura R, Cahali R. Exérese cirúrgica associada à injeção Nos casos relacionados à intubação orotraqueal de toxina botulínica como novo tratamento do prolongada pode-se observar sua regressão granuloma de processo vocal. Revista eletrônica espontânea por meio da fonoterapia exaustiva de ORL. 2002; 6: 21-24. ou ainda resolução após remoção cirúrgica, | 61 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 GRANULOMA GLÓTICO POR TUBO DE MONTGOMERY 9. Santos P, Afrassiabi A, Weymuller E. Prospective studies evaluaing the standard endotracheal tube and a prototype endotracheal tube. Ann Otol Rhinol Laringol. 1989; 98: 935-940. 10. Yilmazer C, Sener M, Yilmaz I. Bilateral giant posterior laryngeal granulomas with dyspnea: a rare complication of endotracheal intubation. Anesth Analg. 2005; 101: 1881-1882. 11. De Biase N, Master S, Pontes P, De Biase S. Granuloma Posterior da Laringe: Evolução Após Injeção de Botox. 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Pouco conhecida e dificilmente diagnosticada, aumentando assim a morbidade e mortalidade caso não seja instaurado precocemente o tratamento adequado com antibioticoterapia. Discorremos sobre um paciente do sexo masculino, 34 anos, com quadro de febre, calafrios que evoluiu com dor em região cervical posterior. Tomografia de tórax com múltiplas lesões pulmonares, trombose venosa em veia jugular interna à direita e em membro inferior direito, sendo o quadro clínico compatível com a síndrome de Lemierre. Apresentou significativa melhora após tratamento com antibióticos. Palavras-chave: Síndrome de Lemierre, trombose venosa, injúria pulmonar. Abstract Lemierre syndrome (LS) is a rare disease wich affects basically young people, characterized by fever, neck pain and respiratory symptoms, these coming from thrombophlebitis of the internal jugular vein secondary to oropharyngeal infection caused by Fusobacterium necrophorum, an anaerobic pathogen, which promotes a continuous source of bacteremia concomitant with septic pulmonary embolism and in other organs. Unheard of and difficult to de diagnosed, thereby with high morbidity and mortality if an appropriate treatment with antibiotic therapy is not initiated early. Case report over a male patient, 34, with fever, chills that envolved with pain in the posterior cervical region. Thorax tomography with multiple pulmonary lesions, venous thrombosis in the internal jugular vein to the right and the right lower limb and and the clinical presentation compatible with Lemierre syndrome. Patient presented significant improvement after treatment with antibiotics. Keywords: Lemierre syndrome, venous thrombosis, pulmonary injury. * Médicos residentes de Clínica Médica do Hospital Universitário Nilton Lins. ** Médico infectologista e preceptor da Residência de Clínica Médica do Hospital Universitário Nilton Lins. *** Médico neurologista e preceptor da Residência de Clínica Médica do Hospital Universitário Nilton Lins. **** Interno do 6.º ano de Medicina da Universidade Nilton Lins. | 63 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 MÚLTIPLOS FENÔMENOS EMBÓLICOS PULMONARESE PERIFÉRICOS SECUNDÁRIOS À TROMBOFLEBITE DE VEIA JUGULAR INTERNA: UM RELATO DE CASO DE SÍNDROME DE LEMIERRE Introdução pelo interior do Amazonas e tabagismo (cinco maços/ano). Síndrome de Lemierre, também conhecida como necrobacilose, é uma complicaçcão potencialmente fatal, caracterizada por uma tríade clássica, de infeccção orofaríngea, trombose de veia jugular e sepse embólica. A mortalidade é de 90% nos pacientes acometidos. É uma condição rara, com um número de casos relatados de um por milhão a cada ano. A incidência é maior em adultos jovens, entretanto pode ocorrer em todas as faixas etárias.1 O agente etiológico mais frequente é o Fusobacterium necrophorum, havendo casos descritos de infecção por Staphylococcus aureus,2 Porphyromonas spp.3 e Streptococcus pyogenes.4 Uma minoria manifesta a tríade ou evidência de trombose de veia jugular ao exame.5 Portanto, a apresentação clínica pode variar consideravelmente, envolvendo uma infecção primária, a qual pode incluir febre, odinofagia e edema, associada à tromboflebite, dor pleurítica, hemoptise, dispneia ou artralgia, resultando em tromboembolismo séptico.6 À admissão, apresentava-se com palidez cutâneo mucosa, taquidispneia, febre (40ºC) e pressão arterial de 140 x 100 mmHg. Ao exame físico, foi notada lesão endurecida em região cervical posterior direita com sinais flogísticos, além de expansibilidade torácica e murmúrio vesicular diminuídos à direita, com estertores crepitantes em base. Seus exames laboratoriais demonstraram hiperglicemia, hipocalemia, leucocitose com desvio à esquerda e elevação das provas inflamatórias. O raio x de tórax evidenciou opacidade heterogênia em base pulmonar direita. Foi então iniciado tratamento empírico com Ceftriaxona e realizada pesquisa de BAAR no escarro. No terceiro dia pós-admissão, ainda apresentava persistência dos sintomas clínicos e episódios de diarreia, evoluindo com cervicalgia à direita. Foram solicitadas culturas microbiológicas e troca do antibiótico para Ciprofloxacino e Clindamicina. Também foram realizadas USG da região cervical, que evidenciou lesão Relato de Caso hiperecoica em veia jugular interna direita Paciente do sexo masculino, 34 anos, admitido no sem contiguidade. Posteriormente realizouServiço de Clínica Médica após procurar unidade se tomografia de tórax, onde foram vistas de urgência apresentando quadro de dispneia, opacidades arredondadas, moderadamente dor torácica, ventilatório dependente, turvação bem marginadas, com densidades de partes visual e astenia intensa. Havia duas semanas moles, medindo 3,2 cm no maior diâmetro, anteriores aos sintomas respiratórios, informou correspondendo a focos circunscritos de tecido início do quadro com febre, temperatura anormal, caracterizando nódulos e áreas axilar de 39ºC, associado a calafrios, sendo, à radioluscente central em alguns nódulos com época, medicado com sintomáticos. Realizou cavitações (Figuras 1A e 1B). Foi-nos entregue o também teste para detecção de malária com resultado da pesquisa de BAAR: as duas amostras resultado negativo. Antecedentes pessoais e foram negativas. Iniciadas, então, investigações comorbidades, relatou diabetes mellitus tipo adicionais, incluindo pesquisa para neoplasia. II, não insulino-dependente, viagem recente | 64 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Pontes et al 1A 1B 1C Figuras: 1A: Tomografia de tórax: opacidades arredonadas, moderadamente bem marginadas, medindo 1,8 cm de diâmetro, caracterizando nódulos de localização esparsa bilateral. 1B: Tomografia de tórax: nódulos marginados cavitados, de localização difusa, predominantemente subpleural, medindo até 3,2 cm no diâmero maior ao corte axial. 1C: Tomografia de tórax: opacidades marginais de contornos irregulares, medindo 2,1 x 1,7 cm, de localização apical no lobo superior direito e 2,7 x 2,2 cm, de localização no segmento basal anterior do lobo inferior direito. Não obstante a terapêutica instituída, no sétimo dia de internação, ainda persistia a febre alta e quadro séptico seguido de queda dos índices hematimétricos, necessitando de transfusão de concentrado de hemácias (duas unidades). Evoluiu ainda com lesão endurecida A e dor intensa em membro inferior direito. Foi realizado Eco Doppler venoso, que evidenciou trombose venosa em sistema tibial profundo e poplíteo distal, além de trombo em jugular interna direita (Figuras 2A e 2B), mesmo com o uso de heparina profilática. B Figura 2A: Eco Dopler venoso de membro inferior direito: trombose em sistema tibial profundo e poplíteo distal. Figura 2B: USG de região cervical: trombo em jugular interna direita. Agregando a evolução dos sinais e sintomas apresentados, corroborou-se a hipótese de Síndrome de Lemierre, por conta da trombose de jugular associada à embolia séptica pulmonar e periférica, o paciente foi questionado sobre a ocorrência de amigdalite no início do quadro, porém não recordava. Nenhum microrganismo foi isolado nas hemoculturas. No 8.º dia de internação, foram trocados os antibióticos em curso por Meropenem e vancomicina. A partir de tal medida, houve melhora progressiva e rápida do quadro clínico e laboratorial, sendo mantido o tratamento com Meropenem, estendido para 21 dias e associado, então, a metronidazol oral. A anticoagulação foi suspensa por falta de evidências que comprovem seu benefício. Os episódios de hiperglicemias foram corrigidos | 65 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 MÚLTIPLOS FENÔMENOS EMBÓLICOS PULMONARESE PERIFÉRICOS SECUNDÁRIOS À TROMBOFLEBITE DE VEIA JUGULAR INTERNA: UM RELATO DE CASO DE SÍNDROME DE LEMIERRE com medidas dietéticas e insulinização plena conforme protocolo hospitalar baseado no esquema basal-bolus. O controle hidroeletrolítico e da função renal foram realizados com correção adequada quando necessário. Os níveis pressóricos mantiveram-se estáveis, sem variações significativas. o uso da penicilina. Porém, nos anos 90, houve um aumento do número de casos, atribuídos ao uso indiscriminado de antibióticos.10,11 Uma série de casos foi utilizada para comparar diferentes definições, sendo rejeitada a puramente microbiológica. A melhor opção foi um híbrido de critérios clínico e microbiológico, A tomografia computadorizada de tórax após com evidência de lesões metastáticas o curso de antibióticos mostrou redução nos pulmões e/ou outros sítios, além de das cavitações pulmonares e a USG Doppler tromboflebite venosa de jugular interna, sendo evidenciou recanalização em veia jugular que alguns autores não requerem o isolamento interna direita. O abcesso em membro inferior do Fusobacterium sp para o diagnóstico.12 direito foi drenado, não sendo coletada amostra para cultura. Após completado A maioria dos casos ocorre em adolescentes e o curso da antibioticoterapia, o paciente adultos jovens, saudáveis e sem comorbidades, recebeu alta hospitalar, permanecendo com com manifestações clínicas que incluem febre antibioticoterapia oral por seis semanas. alta e calafrios, alterações respiratórias e astenia. Nosso paciente encontra-se dentro da faixa etária classicamente envolvida nessa Discussão do Caso síndrome, porém não era previamente hígido, A Síndrome de Lemierre, descrita pela primeira sendo portador de diabetes mellitus tipo II não vez em 1900, por Courmont e Cade, por meio insulino-dependente e tabagista. Entretanto, de um caso de sepse grave após uma infecção existem alguns relatos na literatura de amigdaliana, é mais comumente causada por pacientes com essa síndrome e portadores de 13 um anaeróbio Gram negativo não formador comorbidades. de esporos, o Fusobacterium necrophorum. As fusobactérias são bacilos Gram negativos Em 97% dos casos há embolia séptica para anaeróbios obrigatórios que fazem parte da o pulmão e para outros lugares, podendo flora normal do trato respiratório superior, gerar inclusive artrite séptica e osteomielite. genital feminino e gastrointestinal. Por conta Existem casos descritos de abscessos hepáticos, dos abscesos necróticos produzidos pelo trombose do seio cavernoso e infarto cerebral 14 Fusobacterium necrophorum, a condição passou relacionados à síndrome. a ser conhecida como necrobacilose.7 O diagnóstico pode ser feito por meio de A principal divulgação da síndrome foi feita tomografia computadorizada de tórax, que por André Lemierre, em 1936, em uma revisão demonstra opacidades bilaterais e ainda de mais de vinte casos de sepse pós-faringite, derrames pleurais pequenos com possibilidade destacando a tromboflebite séptica como de detecção de cavitação, ou por ecografia característica da doença, secundária a uma simples ou ainda por Duplex Scan, que pode 15 infecção por anaeróbios na região da cabeça demonstrar trombose e sua extensão. O caso ou pescoço, complicada com embolização relatado demonstra na tomografia de tórax séptica de órgãos a distância, por disseminação múltiplas opacidades marginadas bilaterais, subpleurais, algumas hematogênica.8 Apesar de o evento inicial ser predominantemente mais frequentemente atribuído a uma faringite, com cavitações. Associado às opacidades também pode ser associado à mastoidite, lesões pulmonares, foi visto trombose em sistema dentárias ou ainda a outro sítio que não cabeça tibial profundo e poplíteo distal, no Eco Dopler venoso de membro inferior direito e trombo em e pescoço.9 jugular interna direita vista na USG de região Na era pré-antibiótica, apresentava uma grande cervical. Caracterizando, então, múltiplos mortalidade, diminuindo consideravelmente com fenômenos embólicos pulmonares e periféricos, | 66 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Pontes et al secundários à tromboflebite de veia jugular interna. O diagnóstico deve ser iniciado pela identificação do microrganismo por hemocultura, o que nem sempre é conseguido. O Fusobacterium sp. é difícil de ser identificado e se confunde com Bacteroides sp. Frequentemente é encontrado associado com outros patógenos (33% dos casos). Entretanto, existem outros agentes etiológicos como Streptococcus sp., Bacteroides sp., Peptostreptococcus sp. No paciente do caso relatado, não foi identificado nenhum microrganismo. Isso pode dever-se ao uso prévio de antibióticos, bem como a não solicitação de hemoculturas anaeróbias.16 O tratamento é baseado em antibioticoterapia com cobertura para anaeróbios, com duração mínima de quatro semanas. Os mais preconizados são os betalactâmicos resistentes à betalactamases, metronidazol ou clindamicina. Outros tratamentos, como a ligadura ou excisão da veia jugular acometida, são raros. Atualmente a anticoagulação ainda é controverso, por não haver evidências científicas de estudos controlados e randomizados, em que se baseie essa recomendação.17,18 Síndrome de Lemierre é uma doença rara e potencialmente fatal. Nós relatamos esse caso para conscentizar os profissionais de saúde a respeito dessa síndrome e suspeitá-la em pacientes com febre, dor cervical e manifestaçãoes respiratórias, que posteriormente mostram sinais de doença sistêmica. As culturas foram negativas, mas não são imperativas para o diagnóstico. O rápido diagnóstico e tratamento adequado são fundamentais, previnindo a consequente morbidade e mortalidade. Referências 1. Shah SA, Ghani R. Lemierre’s syndrome: a forgotten complication of oropharyngeal infection. J Ayub Med Coll Abottabad. 2005; 17(1): 30-33. 2. Boga C, Ozdogu H. Lemierre syndrome variant: staphylococcus aureus associated with thrombosis of both the right internal jugular vein and the splenic vein after the exploration of a river cave. 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Postgrad Med J. 1999; 75: 141-4. | 68 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 SCHWANNOMA GÁSTRICO MIMETIZANDO GIST: UM RELATO DE CASO GASTRIC SCHWANNOMA MIMICKING GIST: A CASE REPORT Gerson Suguiyama Nakajima,* Rubem Alves da Silva Neto,** Marcos Vinícius Monteiro Lins de Albuquerque,** João José Corrêa Bergamasco,** Mônika Maya Tsuji Nishikido,*** Diego da Costa Matos*** Resumo Schwannomas são tumores benignos mesenquimais de células nervosas, os quais acometem mais comumente os nervos cranianos e periféricos, porém podem acometer também o aparelho digestivo, sendo o estômago o local mais comum no trato gastrintestinal. Este relato descreve o caso de uma paciente de 44 anos, com queixas de epigastralgia e pirose retroesternal, portadora de uma massa em topografia de fundo gástrico, visibilizada em endoscopia digestiva alta e tomografia computadorizada, sugestiva de Tumor Estromal Gastrointestinal (GIST). Foi submetida a uma gastrectomia parcial, com excisão total da tumoração a qual foi encaminhada para estudo anatomopatológico e complementado pelo estudo imuno-histoquímico, que revelou ser tumor mesenquimal, de origem nervosa, compatível com Schwannoma. Palavras-chave: Neurilemoma, neoplasias gastrintestinais, imuno-histoquímica. Abstract Schwannomas are benign mesenchymal tumors of nerve cells, which most commonly affect the cranial and peripheral nerves, but can also affect the digestive tract, and the most common site in the gastrointestinal tract is stomach. A 44 years old female patient case report presenting epigastric and retrosternal heartburn, with a mass in the topography of the gastric fundus, visualized on endoscopy and CT, suggestive Gastrointestinal Stromal Tumor (GIST). She underwent a partial gastrectomy with excision of the tumor, which was sent to pathology and complemented by an immunohistochemistry study that revealed a nervous origin mesenchymal neoplasy, consistent with Schwannoma. Keywords: Neurilemmoma, gastrointestinal neoplasms, immunohistochemistry. Introdução como neurilemomas, são mais raros no trato gastrointestinal; quando encontrados, o Tumores mesenquimais do aparelho digestivo sítio mais comum também é o estômago e são neoplasias de células do tecido conjuntivo sua incidência compreende 0,2% de todos os representados pelos Tumores Estromais tumores gástricos e 4% de todos os tumores Gastrointestinais (GIST), leiomiomas, gástricos benignos.2,3 leiomiossarcomas e schwannomas.1 Os schwannomas que acometem o estômago Dentre estes, o GIST é o tumor mesenquimal normalmente são originários das células do mais comum no estômago, com incidência de plexo de Auerbach.4 Geralmente são benignos 60-70%. Os schwannomas, também conhecidos e assintomáticos; quando sintomáticos, as * Professor associado do Depto. de Clínica Cirúrgica/FMUFAM; coordenador da disciplina Cirurgia do Aparelho Digestório, Órgãos, Anexos; supervisor da Residência de Cirurgia Digestiva do HUGV. ** Médico residente de Cirurgia do Aparelho Digestivo do HUGV. *** Médico(a) residente de Cirurgia Geral do HUGV. | 69 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 SCHWANNOMA GÁSTRICO MIMETIZANDO GIST: UM RELATO DE CASO principais queixas são: hemorragia digestiva alta e massa palpável abdominal.5 Sua característica macroscópica é de uma massa exofítica surgindo da parede gástrica, semelhante a neoplasias como GIST, leiomiomas ou leiomiossarcomas, sendo desafiador o diagnóstico pré-operatório.6 O diagnóstico definitivo inclui o exame imunohistoquímico, positivo para proteínas S100 e Proteínas Ácidas Fibrilar Glial (GFAP) e negativo para CD 117, produto do gene c-KIT.3,7,8 genitor faleceu por neoplasia pulmonar e sua progenitora de neoplasia de bexiga. Negou etilismo ou tabagismo. Admitida no Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas/Ufam, com a queixa de epigastralgia, apresentando-se em bom estado geral, normocorada, eupneica, hidratada, anictérica. Ao exame físico especial o abdome encontrava-se plano, flácido, timpânico e discreta dor abdominal à palpação O objetivo deste trabalho é relatar o caso profunda de região epigástrica. de paciente portadora de lesão expansiva em fundo gástrico, sugestiva de GIST, sendo Na endoscopia digestiva alta, foi verificada tratada cirurgicamente e que evoluiu de forma lesão polipoide sugerindo ser de localização satisfatória, porém o resultado do imuno- submucosa, endurecida à palpação com pinça, histoquímico foi de schwannoma benigno. medindo 3 cm; evidenciada espessamento tênue de mucosa antral, além de enantema com áreas de friabilidade. Sua hipótese diagnóstica foi Relato de Caso de Tumor Gástrico Estromal (GIST). Realizada Paciente de 44 anos, sexo feminino, natural biópsia, que caracterizou o diagnóstico de de Amambai/MS e procedente de Manaus/ gastrite crônica inespecífica e ausência de AM. Iniciou, em março de 2013, um quadro de malignidade no local. epigastralgia, pirose retroesternal e náuseas principalmente relacionados à ingestão O estudo propedêutico foi complementado pela tomografia computadorizada de abdome alimentar. que evidenciou lesão expansiva nodular de Era portadora de diabetes mellitus tipo 2, densidade de partes moles com realce pósnegando outras comorbidades. Foi submetida contraste, situada em topografia da porção a quatro cirurgias previamente: fistulectomia anterossuperior da grande curvatura gástrica, anal, dois partos cesáreos e uma laqueadura projetando-se para a luz, medindo 3,8 x 3,0 cm tubária. Na história familiar, relatou que seu (Figura 1). Figura 1: Tomografia computadorizada evidenciando tumoração na porção anterossuperior do estômago. | 70 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Nakajima et al Com o diagnóstico de lesão expansiva em fundo gástrico e hipótese diagnóstica de GIST, indicou-se o tratamento cirúrgico. O inventário da cavidade abdominal evidenciou tumoração em parede anterior do estômago, próximo ao fundo, na grande curvatura, que acometia transmuralmente a região (Figura 2); observouse a presença de pequeno linfonodo, com aspecto macroscópico benigno, de aproximadamente 0,5 cm distante de 1,0 cm da tumoração. Figura 2 Foto do intraoperatório demonstrando a tumoração em fundo gástrico. Realizou-se a gastrectomia parcial “em cunha” com grampeador linear, envolvendo ambas as paredes (anterior e posterior) na grande curvatura, excisando-se totalmente a lesão expansiva (Figura 3). Ressecção linfonodal. Figura 3 Peça cirúrgica: aspecto macroscópico: peça fechada e aberta respectivamente. | 71 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 SCHWANNOMA GÁSTRICO MIMETIZANDO GIST: UM RELATO DE CASO O pós-operatório seguiu sem intercorrências e a paciente obteve alta hospitalar no quinto dia pós-operatório. podem ser semelhantes em modalidades de imagem preliminares. É necessário diferenciar entre schwannomas gástricos de outros tumores mesenquimais pela disparidade de O laudo anatomopatológico evidenciou seu potencial maligno. GISTs, que são tumores neoplasias de células fusiformes, com gastrointestinais mesenquimais mais comuns, margens cirúrgicas livres, compatível com foram recentemente demonstrados que têm GIST; complementado pelo exame imuno- alto potencial de transformação maligna. histoquímico que apresentou evidências da Os schwannomas, no entanto, permanecem expressão para proteína S100 e proteína quase uniformemente benigno e raramente são ácida fibrilar glial (GFAP), consistentes com o sintomáticos.10 diagnóstico de schwannoma benigno. O exame anatomopatológico do linfonodo não mostrou Embora o diagnóstico definitivo de schwannomas gástricos seja determinado pelo exame malignidade. anatomopatológico e imuno-histoquímico, exames como endoscopia digestiva alta, Discussão tomografia computadorizada e outros métodos de estudo podem ser úteis em fornecerem Schwannomas ou neurilemomas são tumores informações limitadas sobre o tumor.7 mesenquimais de células fusiformes, que se originam a partir de qualquer nervo que A diferenciação entre schwannoma gástrico tenha uma bainha de células de Schwann. No e GIST pode ser difícil no pré-operatório. Ao trato gastrointestinal, os GISTs constituem exame tomográfico apresenta-se principalmente o maior grupo de tumores mesenquimais, como massa submucosa do estômago, bem enquanto schwannomas são raros e encontrados circunscrita, com características distintas principalmente em idosos (com idade média com realce de contraste homogêneo ou de 58 anos), mostrando uma ligeira predileção heterogêneo sem sinais de necrose, calcificação feminina.7 Representam apenas 0,2% de todos os ou degenerações císticas, em contraste com o tumores gástricos, e envolvem principalmente a GIST.7,11 submucosa e muscular própria.2 A transformação maligna do schwannoma gástrico é muito rara, No exame endoscópico podem-se identificar sendo documentados na literatura, apenas oito lesões submucosas, com ou sem ulceração, comunicações.7 e ser útil na determinação da sua localização e caracterização. Estudos endoscópicos e Apresentam crescimento lento e exofítico e são de imagem podem determinar o diagnóstico normalmente assintomáticos. Por esse padrão de provável de schwannoma, mas não pode crescimento indolente, esses tumores são, com distingui-la de outras neoplasias mesenquimais; frequência, descobertas incidentais via exames por isso, o diagnóstico conclusivo é de imagens como tomografia computadorizada e histopatológico e complementado pelo estudo ressonância nuclear magnética ou endoscopias.2 imuno-histoquímico.9 Quando sintomáticos, podem causar desconforto abdominal, dor ou sintomas digestivos, assim A origem histológica dos tumores mesenquimais como a paciente deste relato. Uma massa do trato gastrointestinal foi apenas recentemente palpável também pode estar presente quando esclarecida por meio de procedimentos imunoo tumor é volumoso e exofítico; em casos de histoquímicos. Positividade forte para a proteína ulceração profunda, hemorragia digestiva alta S-100 e GFAP, além de coloração negativa para também pode estar presente.7-10 CD117 (c-Kit) caracterizam os schwannomas.3,8 Esses tumores possuem um excelente prognóstico O diagnóstico diferencial e subsequente após a ressecção cirúrgica completa da lesão, manejo dos tumores submucosos gástricos não havendo necessidade de se realizar grandes são efetivamente difíceis. GISTs, leiomiomas, ressecções, pelo comportamento benigno do leiomiossarcomas, schwannomas e outros | 72 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Nakajima et al tumor. A taxa de recorrência é praticamente nula.9 No presente caso, a paciente foi submetida à gastrectomia parcial “em cunha”, excisandose totalmente a lesão expansiva, com margem de segurança, a qual se obteve a confirmação diagnóstica de schwannoma gástrico, uma patologia rara e eminentemente benigna, com um excelente prognóstico em longo prazo. Referências 1. Miettinen M, Lasota J. Gastrintestinal stromal tumors – definition, clinical, histological, immunohistochemical, and molecular genetic features and differential diagnosis. Virchows Arch. 2001; 438(1): 1-12. Benign schwannoma of the gastrointestinal tract: a clinic pathologic and immunohistochemical study. Hum Pathol. 1988; 19(3): 257-64. 9. Reta JAV, Terrazas JMS, González ET, Murga RF, Guerrero ALV, Guerrero ARV, González GAG. Schwannoma gástrico. Reporte de un caso. Asociación Mexicana de Cirugía Endoscópica 2010; 11(2): 103-6. 10. Alvarez JF, Ben-David K. Gastric Schwannoma: A rare find. 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O objetivo deste estudo foi relatar o caso clínico de paciente do sexo masculino, com 68 anos de idade apresentando hérnia inguinal direita com achado intraoperatório de hérnia de Amyand, operado no Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas, Manaus, Amazonas. Palavras-chave: Hérnia, inguinal, apêndice. Abstract Amyand’s hernia is a rare surgical disease which has very difficult diagnosed in the pre operatory, defined as when the vermiform appendix is inside a inguinal hernia sac. Case report of a 68-yearsold male patient, operated by the Getúlio Vargas University Hospital in Manaus-Amazonas General Surgical departament, diagnosed on pre operatory like right inguinal hernia, which eventually turned out to be Amyand’s hernia in surgery. Keywords: Hernia, inguinal, appendix. Introdução Relato de Caso A hérnia de Amyand, descrita por Claudius Amyand no ano de 1735, caracteriza-se pela presença de apendicite aguda no interior do saco herniário inguinal.1-2 Esse epônimo vem sendo empregado, mesmo naquelas situações em que o apêndice cecal encontra-se normal.3 A incidência do apêndice normal dentro do saco herniário é estimada em aproximadamente 1% pela literatura.1-2 Paciente do sexo masculino, 68 anos, aposentado, natural e procedente de Manacapuru (AM), procurou o ambulatório de cirurgia geral queixando-se de abaulamento inguinal à direita havia dois anos, com aumento progressivo, associado a dor local com irradiação para coxa direita nos últimos seis meses. Ao exame físico apresentava abaulamento inguinoescrotal de moderado volume, irredutível e com impossibilidade de palpação de anel inguinal externo. A seguir relatamos o caso de um paciente no qual foi encontrado o apêndice cecal aderido ao saco herniário, durante herniorrafia inguinal eletiva. Após a inguinotomia para realização de herniorrafia, durante a dissecção e abertura do saco herniário oriundo do anel inguinal interno, observou-se a presença do apêndice cecal no seu interior (Figura1). * Médico residente de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas. ** Médico assistente de Cirurgião Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas. *** Médico residente de Cirurgia do Aparelho Digestivo do Hospital Universitário Getúlio Vargas. **** Acadêmica de Medicina do 6.º ano da Universidade Federal do Amazonas. | 74 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 HÉRNIA DE AMYAND: RELATO DE CASO Figura 1: Apêndice cecal em saco herniário. Realizado fechamento do saco herniário após apendicectomia incidental. E posteriormente, o reparo da parede posterior com a técnica de Bassini e colocação de tela de Marlex à Lichtenstein. Paciente apresentou evolução clínica satisfatória, recebendo alta hospitalar no segundo dia de pós-operatório. No acompanhamento ambulatorial, paciente encontra-se sem queixas ou intercorrências. Discussão O apêndice no saco herniário pode estar normal ou comprometido.3 sexo masculino.5 Os casos com apendicite aguda apresentam manifestações clínicas variáveis, dependentes da extensão do processo infeccioso apendicular e da presença ou não de contaminação peritoneal. Nos casos típicos encontramos um doente portador de hérnia inguinal irredutível, com quadro de escroto agudo, com celulite ou abscesso na região inguinal, ressaltandose, entretanto, que no exame físico palpatório não identificamos sensibilidade dolorosa localizada no ponto de McBurney. O diagnóstico diferencial é feito com hérnia estrangulada ou encarcerada.2-5 O diagnóstico dessa enfermidade é feito sempre 5 A presença do apêndice cecal dentro do saco na mesa de cirurgia durante o ato operatório. herniário inguinal é uma ocorrência rara. Na Se estiver normal recomenda-se redução da 2 literatura a incidência está ao redor de 1%.1-2 víscera e tratamento do saco herniário. O Mais raro e excepcional é a ocorrência de caso apêndice será retirado se: o paciente autorizar; de apêndice complicado com apendicite aguda facilitar o tratamento da hérnia; para evitar dentro do saco herniário. Na literatura essa apendicite aguda pós-operatória por isquemia apendicular, ao se liberar esse órgão; houver incidência varia entre 0,13 e 0,1%.1-4 possibilidade de o apêndice estar comprometido A hérnia de Amyand pode afetar qualquer faixa por causa da estase, sobretudo das hérnias 3 etária (6 semanas – 88 anos) é mais comum no antigas. | 75 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Diniz et al A literatura também recomenda a apendicectomia por meio da inguinotomia e, quando não houver contaminação intracavitária, deve-se realizar o reparo da hérnia no mesmo tempo cirúrgico.1 Além da raridade desse tipo de hérnia, achamos importante o seu relato, pois, embora o apêndice estivesse normal no caso apresentado, a lembrança da associação entre a hérnia inguinal direita estrangulada e a apendicite aguda, orientam os médicos na sua correta conduta terapêutica dessa emergência cirúrgica. Referências 1. Cunha HAV, Sugahara RD, Castilho MV. Hérnia de Amyand. Rev Col Bras Cir. [periódico na internet] 2009; 36(3): 279-280. 2. Anagnostopoulou S, Dimitroulis D, Troupis TG, Allamani M, Paraschos A, Mazarakis A, Nikiteas NI, Kostakis A. Amyand’s hernia: A case report. Word J Gastroenterol. 2006, ago; 12(29): 47614763. 3. Alcino, LS. Hérnias. 2.ª ed. São Paulo: Editora Roca, 2006. 4. Salles VJA, Bassi DG, Speranzini MB. Hérnia de Amyand. Rev Col Bras Cir. [periódico na Internet] 2006, set-out; 33(5): 339-340. 5. Henriques ASN, Oliveira Júnior RNR, Siqueira WM, Alves CMR. Hérnia de Amyand: Relato de Caso. Rev Para Med. 2013, abr-jun; 27(2). | 76 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 TRATAMENTO CIRÚRGICO DE CORPO ESTRANHO NO BRÔNQUIO PRINCIPAL ESQUERDO FOREIGN BODY SURGICAL TREATMENT IN THE LEFT MAIN BRONCHUS Fernando Luiz Westphal,* Luís Carlos de Lima**José Corrêa Lima Netto*** Ricardo Augusto Monteiro Cardoso****Lincoln José Trindade Martins***** Resumo Os corpos estranhos de vias aéreas são difíceis de manejar e acarretam risco de morte iminente. Podem causar insuficiência respiratória aguda e/ou alterações crônicas nas vias aéreas inferiores, tais como fístulas ou hemoptise. A aspiração de corpos acomete comumente crianças e adolescentes, porém, em certas ocasiões, pode ocorrer também com adultos, especialmente idosos, mas em menor escala. Sem diagnóstico específico, o tratamento eficiente da doença depende da rápida identificação de possível hipoxemia, febre, leucocitose ou infiltrados pulmonares. Pode evoluir para traqueobronquite, atelectasia e infecções pulmonares. Relatamos um caso de corpo estranho em um paciente adulto, do sexo masculino, que foi atingido por dois projéteis. Um desses projéteis atingiu o nariz, perfurando a cavidade nasal e o palato duro, alojando-se na cavidade oral, após foi broncoaspirado. O projétil ficou alojado no brônquio principal esquerdo. Palavras-chave: Corpos estranhos, broncoscopia, pulmão/lesões. Abstract The foreign bodies in the airway may be difficult to manage and they are a serious risk to the patient’s life. They may cause acute respiratory insufficiency and/or chronicle alterations in the airway, such as fistula or hemoptysis. Bronchoaspiration usually happens in newborns, infants and teenagers, although it also may occur in adults, specially the elderly, it happens in a smaller scale. Without a specific diagnose, the efficient treatment depends on a quick hypoxemia recognition, fever, leukocytosis and pulmonary infiltration. It may progress to traqueobronchitis, atelectasis and pulmonary infection. It’s described the case of an adult patient, male, which has been shot twice. One of those bullets hit the patient’s nose, went through the nasal cavity and the hard palate and fell into the oral cavity, then was aspirated. The bullet was lodged in the left main bronchus. Keywords: foreign bodies, broncoscopy, lung/injury. Introdução A aspiração de um corpo estranho é um acidente potencialmente grave e que pode levar a óbito. Nos estágios iniciais da doença, o paciente pode apresentar engasgos, taquipneia e tosse. Após a fase inicial, tem início a fase de apresentação das complicações, tais como: pneumonia, atelectasia e abcessos pulmonares. Dependendo do grau de alojamento do corpo estranho nas vias aéreas, o procedimento *Professor-adjunto da Universidade Federal do Amazonas. **Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Getúlio Vargas. ***Médico assistente do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Getúlio Vargas **** Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Amazonas. ***** Acadêmico de Medicina da Universidade Nilton Lins. | 77 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 TRATAMENTO CIRÚRGICO DE CORPO ESTRANHO NO BRÔNQUIO PRINCIPAL ESQUERDO padrão, a broncoscopia, pode não ser a via mais eficaz para a remoção do objeto, sendo necessário outro tipo de intervenção cirúrgica. Apresentamos um caso de aspiração de projétil de arma de fogo que foi removido por toracotomia associada a broncoscopia rígida. A seguir relatamos o caso de um paciente no qual foi encontrado o apêndice cecal aderido ao saco herniário, durante herniorrafia inguinal eletiva. Relato de Caso Relatamos um caso de corpo estranho de difícil manejo em um paciente adulto, do sexo masculino, vítima de tentativa de homicídio, no qual foi alvejado com dois tiros, em que um dos projéteis atingiu seu nariz, perfurando o palato duro e atingindo a orofaringe, sendo, então, broncoaspirado (Figura 1). Este ficou alojado no brônquio principal esquerdo, quando o normal seria alojar-se no direito, por conta da sua anatomia mais retílinea. O outro projétil transfixou o hemitórax direito com o desenvolvimento de hemotórax, que foi tratado com pleurostomia intercostal fechada (Figuras 2A e 2B e Figura 3). A remoção por via endoscópica não foi possível por conta dos danos causados pelo projétil à cavidade oral do paciente e também à maneira que esse corpo estranho oclusor estava aderido ao brônquio, impedindo seu deslocamento. Para a remoção do corpo estranho, o paciente foi submetido a uma toracotomia posterolateral direita com abertura da traqueia ao nível da carina e remoção do corpo estranho. Paciente evoluiu sem complicações recebendo alta no 7.º dia de internação. Figura 1: Seta indicando o orifício de entrada do projétil em face. | 78 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Westphal et al Figura 2A: Raio x de tórax evidenciando projétil em brônquio fonte esquerdo e dreno de tórax direito. Figura 2B: Tomografia computadorizada revelando projétil em brônquio fonte esquerdo. Figura 3: Fratura do seio maxilar direito e osso nasal. | 79 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 TRATAMENTO CIRÚRGICO DE CORPO ESTRANHO NO BRÔNQUIO PRINCIPAL ESQUERDO Discussão A aspiração de um corpo estranho é um acidente potencialmente grave e que pode levar morbidade e a óbito.1 De acordo com o conselho de segurança nacional dos EUA, a osbtrução das vias aéreas, por objetos orgânicos ou inorgânicos, entre 2005 e 2007, foi responsável por 3.700 óbitos, principalmente de crianças e idosos.2 Os objetos com alto teor de óleo em sua composição podem causar grave inflamação da mucosa, além de acúmulo de tecido de granulação.3 Características que também podem ser observadas na presença prolongada de objetos enferrujados, pontiagudos, metálicos (como o projétil relatado no caso) e cápsulas de medicamentos.3 Corpos estranhos têm a tendência de se alojar no brônquio fonte direito, graças as suas características anatômicas: mais calibroso, vertical e curto que o esquerdo.1 Entretanto, como no caso apresentado, objetos podem ingressar e ficar alojados no brônquio fonte esquerdo, dependendo da posição na qual o paciente estava no momento do evento aspirativo. O relato mais antigo relacionado de uma broncotomia para a remoção de um corpo estranho ocorreu em 1759.4 Já a endoscopia relacionada à remoção desses corpos ocorreu pela primeira vez em 1897; desde então, graças as suas melhorias ao longo do tempo, a broncoscopia vem sendo considerada o procedimento padrão-ouro para análise e remoção de corpos invasores das vias aéreas.5 A radiografia, tomografia computadorizada e a ressonância magnética auxiliam o diagnóstico de aspiração de corpo estranho, mostrando o objeto, identificando áreas de aprisionamento aéreo, pneumotórax, aéreas de hiperinsulflação e atelectasia.6 A avaliação das imagens deve ser feita com cuidado. Certos autores indicam que 65% das crianças que foram submetidas ao raio x apresentaram resultados normais; porém quando submetidas à broncoscopia, por conta de outros indicadores, foram encontrados corpos estranhos em suas vias aéreas.7 Em alguns casos, quando objetos estão alojados no brônquio, ocorrem mudanças no posicionamento das estruturas mediastinais, que se deslocam em direção às vias aéreas não obstruídas durante a expiração.8 A broncoscopia rígida provê uma maior margem de segurança, recomendando seu uso tanto para crianças quanto para adultos.9 O broncoscópio rígido permite uma determinação mais precisa das possíveis lesões e obstruções das vias aéreas, permite ventilação da via aérea afetada e maior eficiência na retirada dos corpos estranhos, tendo em vista o seu maior calibre.10 Entretanto, o princípio usado na maioria dos casos de remoção de corpos estranhos não pôde ser aplicado nesse paciente, pois o projétil causou fratura do osso maxilar direito e extrosão traumática de quatro dentes da arcada dentária superior, logo a inserção e manejo do equipamento durante o procedimento de retirada do corpo estranho poderiam concorrer para a extensão dos danos. Outro fato importante é que a broncoscopia flexível poderia remover o corpo estranho, porém, pela fragmentação e a forma como o projétil estava alojado, tornaram o manejo do corpo estranho via broncoscopia flexível, difícil, podendo causar grandes danos à árvore brônquica e ao paciente. Em ocasiões nas quais o corpo estranho não pode ser deslocado por meio da broncoscopia, recomenda-se a realização de uma toracotomia seguido de uma broncotomia para retirada do objeto que obstrui o brônquio.11 A quantidade de casos que requer esse tipo de procedimento mais extensivo varia entre 0,3 a 4% dos casos de aspiração de objetos.12 Antes da execução da cirurgia, convém testar a manipulação de um objeto similar fora do corpo, assim o risco de fragmentação ou locomoção indesejada é minimizado. O planejamento antecipado da abordagem ao objeto oclusor do brônquio é fundamental, pois quanto maior for o número de tentativas, maior será o risco da ocorrência de algum tipo de complicação (como edema, perfuração, pneumotórax).3 Um projétil não é facilmente fragmentado, logo, foi indicada a remoção na primeira tentativa. | 80 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Westphal et al A tática operatória da abordagem da traqueia terminal, carina e brônquios fontes seguem as seguintes recomendações. Traqueia terminal, carina, brônquio fonte direito e terço proximal do brônquio fonte esquerdo devem ser abordados por acesso transtorácico direito. Os dois terços distais do brônquio fonte esquerdo devem ser abordados por toracotomia posterolateral esquerda. 5. Dixit S, Agarwal R, Kumar N, Verma RK, Krishna V, Sahini JL. Management of tracheobronchial foreign bodies experience of cardiothoracic deparment of cardiology institute. Indian J Thorac Cardiovasc Surg. 2011; 12(6): 34-35. Referências 10. Benedict JW, Wood TE, Wood DE. Endoscopic diagnosis of thoracic disease. In: Sellke FW, Nildo P, Swan son S editors. Surgery of the Chest. 8th ed. Philadelphia: Saunders Elsevier; 2008. p. 65. 6. Bittencourt PF, Camargos PA, Scheinmann P, de Blic J. Foreign body aspiration: clinical, radiological findings and factors associated with its late removal. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. A abordagem realizada para extração do corpo 2006; 70(5): 879-84. estranho nesse caso foi por meio da toracotomia posterolateral direita, com abertura da carina 7. Metrangelo S, Monetto C, Meneghini L, Zadra e brônquis fontes, observando-se uma boa N, Giusti F. Eight years’ experience with foreing exposição destes. body aspiration in children: what is really important for a timely diagnosis? J Pediatr Surg. Finalizando, corpos estranhos alojados no 1999; 34(8): 1229-31. brônquio principal esquerdo são uma ocorrência rara e que pode gerar consequências graves 8. Baharloo F, Veyckemans F, Francis C, Biettlot como bronquiectasia e atelectasia. Constatado MP, Rodenstein DO. Tracheobronchial Foreign o corpo estranho nas vias aéreas, por exames Bodies: presentation and management in de imagem ou endoscopia, deve-se realizar children and adults. Chest. 1999; 155(5): 1357imediatamente a sua retirada. Quando o objeto 62. oferecer risco à integridade da parede brônquica, pela sua mobilização, a toracotomia seguida de 9. Weissberg D, Schwartz I. Foreign Bodies In uma broncotomia deve ser realizada, visando a The Tracheobronchial Tree. Chest. 1987; 91(5): melhora no prognóstico desse paciente. 730-3. 1. Mahmood M, Imam S, Patel H, King M. Foreign Body Aspiration of a Dental Bridge in the Left Mainstem Bronchus. Case Reports in Medicine, vol. 2012, article ID 798163, 4 pages, 2012. doi: 10.1155/2012798163. 2. Wilcox SR, Ribeiro VS, de Menezes Filho, Nadel ES, Brown DF. Foreign Body Aspiration after High-Speed Trauma. J Emerg Med. 2009; 37(4): 411-4. 3. Gonçalves MEP, Cardoso SR, Rodrigues AJ. Corpo Estranho em Via Aérea. Pulmão RJ. 2011; 20(2): 54-58. 11. Doody DP. Foreign Body Aspiration. In: Grillo HC. Surgery of the Trachea and Bronchi. Ontario: BC Decker, Inc; 2004. p. 712. 12. Singh JK, Vasudevan V, Bharadwaj N, Narasimhan KL. Role of Tracheostomy in the management of foreign body airway obstruction in children. Singapore Med J. 2009; 50(9): 871. 4. Dolan RV, Sanderson DR, Payne WS. Bronchotomy For Removal Of Foreign Body. Report Of Its Use After External Penetrating Trauma Chest. Annals of Thoracic Surgery. 1971; 12(6): 655-659. | 81 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 TIMOLIPOMA, UMA MASSA MEDIASTINAL GIGANTE:RELATO DE CASO THYMOLIPOMA, A GIANT MEDIASTINAL MASS: A CASE REPORT Fernando Luiz Westphal,*(Te Sbct), Luiz Carlos de Lima,* José Corrêa Lima Netto,** Michel de Araújo Tavares*** Ricardo Augusto Monteiro Cardoso**** Resumo O timolipoma é um tumor benigno raro do timo, localizado no mediastino anterior e que, geralmente, cursa com quadro de tosse, dispneia e dor torácica, no entanto pode ser assintomático. Apresentamos um caso de um paciente com 37 anos, do sexo masculino, com uma massa mediastinal volumosa, descoberta incidentalmente por radiografia simples de tórax. A única queixa era sensação de entalo na garganta à noite. A ressonância nuclear magnética revelou uma lesão expansiva de densidade similar à de tecido adiposo no mediastino anterior com extensão para o terço médio e inferior do hemitorax direito. O paciente foi submetido a uma esternotomia, permitindo completa exérese da massa. O diagnóstico foi confirmado pelo exame histopatológico. Palavras-chave: Timolipoma, mediastino, esternotomia. Abstract Thymolipoma is a rare benign tumor of the thymus, located in the anterior mediastinum and that usually attends with coughing, dyspnea and thoracic pain, however, may be asymptomatic. Case report of a 37 year-old male with a bulky mediastinal mass, which was incidentally discovered on chest radiography. The only complaint was throat compressed felling at night. Magnetic resonance imaging revealed an expansive lesion with a fat tissue similar density in the anterior mediastinum extending to the middle and lower third of the right hemithorax. The patient underwent a sternotomy, allowing complete mass excision. The diagnosis was confirmed by histopathology. Keywords: Thymolipoma, mediastinum, sternotomy. Introdução Passou a ser denominado timolipoma após proposta de Hall (1949).2,3,5,7 É responsável O timolipoma é uma rara neoplasia benigna por 2-9% dos tumores de timo, pode acometer do mediastino anterossuperior,1,2 composta qualquer faixa etária e não há diferenças de de tecido tímico e tecido adiposo maduro, incidência entre gêneros.3,8 Apresentamos o envolvidos por uma cápsula.3 No mundo inteiro, caso de um paciente com um tumor gigante, foram relatados menos de cem casos.4 Foi timolipoma, tratado por uma esternotomia descrito pela primeira vez havia quase cem anos longitudinal mediana completa. como lipoma do timo, por Langer (1916).2,3,5,6 *Cirurgião torácico, doutor em Medicina, Universidade Federal do Amazonas. Título de especialista pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica. ** Cirurgião Torácico e Doutor em Bases Gerais da Cirurgia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho *** Médico radiologista da Universidade Federal do Amazonas. **** Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Amazonas. | 82 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 TIMOLIPOMA, UMA MASSA MEDIASTINAL GIGANTE:RELATO DE CASO Relato do caso inferior do hemitórax direito. À ressonância nuclear magnética (RNM) evidenciou-se lesão Homem de 37 anos procurou serviço médico por expansiva nas porções inferior e terço médio apresentar sensação de compressão na região mediastinal com hipersinal de contornos superior do tórax mais perceptível no período lobulados, mantendo íntima relação com a noturno, mas sem sintomas respiratórios. À parede lateral do coração e o diafragma ao radiografia de tórax observou-se uma opacidade corte coronal (Figuras 1 e 2) e ao corte axial ocupando o mediastino anterossuperior e a região (Figura 3). 1 2 Figuras 1-2: Ressonância magnética na sequência ponderada em T2 no plano coronal. 3 Figura 3: Ressonância magnética na sequência ponderada em T2 no plano axial. | 83 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 Westphal et al A massa possuía áreas de tecido compatíveis com tecido adiposo, alternadas com de tecido de partes moles, tendo como consequência cobalamento do terço inferior do pulmão direito e compressão cardíaca. Apresentava diminuição quase total do murmúrio vesicular (MV) no terço inferior direito. O paciente foi submetido à esternotomia longitudinal mediana completa com ressecção da massa mediastinal com extensão para o terço inferior do hemitórax direito (Figura 4). Evoluiu bem no pós-operatório, com alta no 5.º DPO. Na visita de controle pós-operatório o paciente relatou anisocoria à direita, consequente à provável manipulação do plexo simpático, na porção superior do hemitórax. Figura 4: Timolipoma ressecado por esternotomia longitudinal mediana. Observam-se os cornos tímicos no ápice da lesão (seta). Discussão Seu crescimento é bem lento, fazendo com que o paciente não apresente sintomas por muitos Em um indivíduo normal, o timo apresenta, ao anos, sendo diagnosticado incidentalmente,10 nascer, 10 a 35 gramas e atinge seu peso máximo o que justifica o paciente do caso não ter durante a puberdade, 20 a 50 gramas, sofrendo apresentado sintomas, além da sensação de atrofia e substituição por tecido fibroadiposo peso. O paciente só passa a apresentar sintomas após a puberdade. Atinge cerca de 5 gramas se o tumor está suficientemente grande para no idoso. A causa de formação do timolipoma comprimir alguma outra estrutura adjacente, ainda não é completamente conhecida. Existem desde vias aéreas a pulmões e coração.3,11 várias teorias para explicar sua patogênese, a mais aceita diz que o tecido tímico é substituído As queixas do paciente podem ser vagas relacionadas à compressão como tosse, por tecido lipídico maduro.3,9 dispneia e desconforto torácico, ou a sinais | 84 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.13. n.1 jan./jun. - 2014 TIMOLIPOMA, UMA MASSA MEDIASTINAL GIGANTE:RELATO DE CASO de invasão, como paralisia diafragmática (por acometimento do nervo frênico), rouquidão (por acometimento do nervo laríngeo recorrente), dispneia (relacionada a derrame pleural) e até síndrome da veia cava (dilatação das veias cervicais, edema de membros superiores, cianose e pletora facial, em função de obstrução da veia cava superior causando diminuição do seu fluxo). Nos exames de imagem, a lesão apresentou características de gordura e foi realizado diagnóstico diferencial com outros tumores como lipossarcoma, lipoma, teratoma, timoma, carcinoma tímico, carcinoide tímico, cisto tímico, linfoma e o restante dos tumores de mediastino anterior. Alguns desses tumores podem apresentar carcterísticas radiológicas semelhantes ao timolipoma: alargamento mediastinal e velamento de grandes áreas pulmonares à radiografia simples de pulmão, lesão de baixa densidade à TC e de hipersinal em T1 e em T2 à RNM, compatíveis com tecido adiposo.12 Considerando seu caráter não invasivo, crescimento extremamente insidioso, localização em mediastino anterior, ausência de sinais e sintomas significantes, e imagem bastante sugestiva; nossa principal hipótese diagnóstica foi timolipoma. O diagnóstico foi confirmado após a cirurgia, por meio da histopatologia da peça cirúrgica, já que a biópsia é mandatória.3 À histolopatologia, encontrou-se “ilhas” de tecido tímico escassas, envovidas por grande quantidade de tecido adiposo maduro, característico de timolipoma. O único tratamento é a ressecção completa do tumor. O acesso cirúrgico depende de cada tumor e de cada paciente; nesse caso, por se tratar de um tumor muito extenso, descartouse a abordagem toracoscópica. Dentre as abordagens cirúrgicas, optou-se por uma esternotomia longitudinal mediana completa pela sua alta facilidade de dissecção do mediastino, ao invés da toracotomia anterolateral direita (cujas indicações são ressecções pulmonares, esofagectomia total e lobectomias medianas) e toracotomia posterolateral direita (cujas indicações são ressecções pulmonares, algumas cirurgias mediastinais, esofágicas, diafragmáticas, de aorta e de terço distal da traqueia, brônquio fonte direito e raiz do brônquio fonte esquerdo). Em conclusão, os tumores mediastinais benignos podem acarretar sintomas compressivos que são tratados prontamente com ressecção cirúrgica como demonstrado no presente caso, salientando que a esternotomia longitudinal mediana é uma incisão adequada para ressecção de tumores volumosos de mediastino. Referências 1. Sirpal YM, Chadha SK, Banarjee AK. Thymolipoma a rare mediastinal tumour-report of two cases and review of literature. Indian J Cancer 1995; 32(1): 23-6. 2. 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