21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil AUTOMAÇÃO DA MEDIÇÃO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA PELO MÉTODO DE VAN DER PAW E MEDIÇÃO EM FILMES FINOS DE SnO2-F V. C. Solano Reynoso1, J. V. Careta1, H. A. Aquino1 [1]UNESP – Campus Ilha Solteira, Departamento de Física e Química, Av. Brasil 56 – Centro, CEP 15385-000 Ilha Solteira, SP – Brasil. e-mail: [email protected] RESUMO Na implementação experimental desta técnica utilizamos um criostato de nitrogênio líquido com aquecimento resistivo e termopar tipo J. Foram desenvolvidos: porta amostras; circuito eletrônico para controlar a temperatura da amostra desde 100K até 470K; fonte de corrente constante até 500mA; circuito eletrônico de acionamento de 6 relés para injeção da corrente e 6 para leitura da voltagem; o controle geral da medição o faz um programa elaborado em Labview V8.0; realiza o controle da temperatura do criostato, faz a comunicação com o microcontrolador Atmega328 (Arduino) para acionamento das portas digitais com a seqüência requerida de comutação dos relés; faz a leitura via porta serial dos sinais do termopar e voltagem de multímetros digitais de alta precisão, calcula e armazena os dados. Na medição experimental de filmes finos de SnO2:F(6%) produzidos no nosso laboratório o sistema implementado funciona adequadamente e as medições realizadas são compatíveis dentro dos valores reportados na literatura. Palavras Chaves: Resistividade, SnO2-F, microcontrolador, automação. INTRODUÇÃO A resistividade elétrica de um material de certas dimensões pode ser avaliada a partir da relação geral amplamente conhecida: R A d' (A) Onde, é a resistividade; R é a resistência da amostra; A é a área da seção transversal por onde circula a corrente e d’ a espessura da amostra. A área e a espessura podem ser determinadas com certa precisão, mas a avaliação da resistência R é mais difícil, pois devido à geometria da amostra pode introduzir erros na sua medida direta, ainda que as amostras sejam preparadas cuidadosamente, portanto, isso exige métodos mais específicos de medição. 8179 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil Como uma alternativa para determinar a resistividade de amostras de diferentes formas geométricas, inclusive na forma de filmes finos Van der Pauw, deduziu uma expressão que permite implementar uma técnica de medição para amostras de forma arbitrária que tenha certa espessura uniforme d’. A Figura 01 ilustra uma amostra com um contorno arbitrário com contatos elétricos nos pontos ABCD. Figura 01. Contorno de forma arbitraria com 4 contatos elétricos ABCD. A expressão deduzida por Van der Pauw é dada por(1): Exp d 'R AB , DC Exp d 'RBC , AD 1 R AB , DC VDC I AB e RBC , AD V AD I BC (B) (C) Onde os RAB,CD e RBC,AD são chamadas resistências de transferência; na notação se identifica VDC como a diferença de potencial entre os pontos C e D e IAB a corrente aplicada entre os pontos A e B assinalados na figura 01. Num caso geral, nem sempre é possível determinar a resistividade utilizando diretamente a equação de Van der Pauw. Uma relação simplificada é obtida a partir desta como um caso particular para uma amostra homogênea que possua certa simetria geométrica e seus contatos ôhmicos sejam feitos mantendo esta simetria(2), ver Figura 02. Escolhemos o corte da amostra na forma de um quadrado, assim, podem ser medidos vários valores da voltagem na amostra utilizando o critério de injetar a corrente num dos lados do quadrado e coletar a voltagem nos contatos do lado oposto. A injeção de corrente é realizada trocando os contatos a qual prevê uma seqüência de 8 medições de onde podemos obter um valor médio da voltagem pela relação: 1 VM (V3, 4 V4,3 V1,3 V3,1 V2,1 V1, 2 V4, 2 V2, 4 ) 8 8180 (D) 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil Tabela 01. Seqüência de medição injeta a corrente nos contatos Figura 02. Contorno de uma amostra ABCD de forma geométrica simétrica que tem os 4 contatos 1,2,3,4 I1,2 Mede a voltagem nos contatos V3,4 I2,1 V4,3 I2,4 V1,3 I4,2 V3,1 I4,3 V2,1 I3,4 V1,2 I3,1 V4,2 I1,3 V2,4 Assim, a resistividade ρ (em Ω·cm) da amostra com espessura d ( em cm), pode ser obtido pela relação: d VM ln 2 I Quando a temperatura varia, existe uma relação intrínseca entre (E) o número de portadores de carga e o valor da sua condutividade, também dependerá do tipo de material se é condutor, semicondutor ou isolante. Assim, o objetivo deste trabalho é descrever a implementação da medição e o método de determinação da resistividade em função da temperatura em forma automatizada. MATERIAIS E MÉTODOS. Porta-amostras e fonte de corrente O porta amostras é um acessório muito importante, foi implementado um suporte de teflon circular de 2.8 cm de diâmetro para alocar no dedo frio do criostato; neste, é inserido 4 contatos metálicos que além servem de suporte. A fonte de corrente foi construída baseada no CI LM317, semelhante ao descrito no trabalho(3). A configuração apresentada permite a estabilidade de corrente da ordem de 20 ppm/oC(4). 8181 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil Medição da temperatura. Utilizamos um termopar tipo J de 0.4 mm de diâmetro. O sinal é condicionado com o CI AD594 da Analog Devices(5) com compensação de junta fria, ver figura 03. Para estabilizar e regular a alimentação do CI AD594 foi implementada uma fonte simétrica com os reguladores de voltagem CIs LM7915 e LM7815 de -15V - 0 - +15V dc respectivamente. Com esta fonte de alimentação o condicionador do termopar forneceu a leitura de temperaturas negativas e positivas na faixa de -200oC até 750oC com uma razão de conversão de 10mV/oC. O circuito assim montado mostrou-se satisfatório na medição. Figura 03. Esquema do CI594(5), condicionador de sinal para o termopar tipo J Circuito comutador dos contatos. Para uma dada temperatura na qual a amostra é submetida é necessário fazer a injeção da corrente e coletar a voltagem entre os contatos da amostra o qual da uma seqüência de 8 medições entre os contatos. Este procedimento é realizado por um circuito comutador baseado no uso de relés eletromecânicos. Foi feita uma placa comutadora para injeção da corrente e outra placa comutadora para leitura da tensão; cada placa, é composta de 6 relés tipo normalmente fechado um contato e o outro aberto a ser ativado pelo pulso de um sinal. Temos ainda outro relé para o controle da injeção da corrente; somente após ativar este relé poderá a corrente ser injetado entre os contatos. O esquema da disposição dos relés e o comutador é mostrado na figura 04. 8182 circuito 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil Figura 04: Esquema de interligação dos circuitos dos relés para a comutação Neste esquema, quando se injeta a corrente selecionando dois contatos, a seleção da voltagem sempre será os opostos a estes de tal forma que não existe a possibilidade de injetar e ler a voltagem pelos mesmos contatos. Software e método para a medição: Para o controle da medição automatizada e a análise dos dados coletados da medida mediante um PC foi elaborado um programa em LabView V 8.0 a qual envia os sinais para a ativação dos 13 relés via um microcontrolador; utilizamos o arduino duemilanove que possui 14 entradas e saídas digitais, suficientes para este projeto. 8183 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil Na implementação o programa pede o intervalo de temperaturas para a medição e o intervalo de tempo da coleta dos dados; pede o valor da espessura da amostra e o valor da corrente que será injetada. Na execução, o programa labview realiza a comunicação com o microcontrolador via a porta USB (porta serial); simultaneamente pelas portas COM1 e COM2 são realizadas a comunicação com dois multímetros digitais Analogic DP100 de 5 1/2 dígitos de precisão para a leitura do sinal do termopar e da voltagem da amostra. No início da execução o programa LabView envia um sinal ao sistema de controle da temperatura via uma porta de saída digital do microcontrolador para estabilizar a temperatura no valor inicial. A seguir, o programa envia a palavra chave para ativar a seqüência de pulsos pré programada para ativar os relés para a comutação; após um segundo, é enviado o pulso ao relé que controla a injeção da corrente, nesse instante, é feita uma medição da voltagem e temperatura. Este procedimento é repetido até completar a seqüência das 8 medições necessárias para calcular a resistividade. Entre cada seqüência de ativação dos relés, é executado uma outra para zerar todos os relés. Desta forma evitamos cometer erros nas medidas. Ao ser completada, o programa faze a média das 8 leituras coletadas da voltagem e da temperatura e calcula de imediato o valor da resistividade usando a equação (E), os dados são armazenados na memória e colocados na tela de aquisição para visualização em função da temperatura. É bom frisar que para o LabView fazer a comunicação com o microcontrolador foi elaborado sub rotinas com palavras chaves de comandos as quais são gravadas na memória do microcontrolador. O mirocontrolador é programado para reconhecimento dos comandos enviados pelo Labview, a execução da seqüência de ativação dos reles e outros procedimentos; o programa é feito, compilado e gravado utilizando o software do arduino duemilanove. Os programas desenvolvidos desta aplicação, do LabView e do microcontrolador podem ser solicitados aos autores deste trabalho. Medição do filme fino de SnO2-F. O filme fino deste estudo foi preparado a partir de uma solução de dicloreto de estanho dissolvido em etanol, o flúor foi dissolvido no mesmo para dar 6% na dopagem do óxido de estanho a partir do precursor cloreto de flúor. O filme foi 8184 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil depositado num substrato de vidro pelo método de spray pirólise na temperatura de 400oC. O resultado é um filme transparente com espessura de 1.481 μm com resistência de 48Ω/□ na temperatura ambiente. Esta amostra foi submetida a medição para o teste do sistema implementado em função da temperatura na faixa de 73 K até a temperatura ambiente 0.30 SnO2-F Resistividade [cm]-1 0.25 0.20 0.15 0.10 0.05 0.00 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 Temperatura [K] Figura 06. Resistividade elétrica do filme fino de SnO2-F de 73-310K Na medida mostrada na figura 06 a resistividade elétrica é baixa apresentando porém uma alta condutividade elétrica. O aumento da resistividade quando abaixa a temperatura é típico de uma material condutor ou semicondutor. A grande condutividade deste material pode ser atribuído aos defeitos introduzidos na dopagem e pelo possível tunelamento dos portadores de carga entre os contornos de grãos deste material com morfologia poli cristalina. Conclusões É descrito o desenvolvimento da técnica de medição automatizada da resistividade pelo método de Van der Paw em função da temperatura. O sistema implementado e o programa labview de controle mostraram-se úteis para a medição da resistividade de filmes finos. Permite fazer a leitura direta da resistividade na faixa de temperaturas escolhida. Observamos que a medição experimental para o SnO2-F estiveram dentro do esperado, pelo qual acreditamos na confiabilidade das medições. 8185 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil Referências Bibliográficas 1. L. J. VAN DER PAW, A method of measuring the resistivity and Hall coefficient on lamellae of arbitrary shape, Philips Technical Review, Vol 20, No. 8, pp 220-224, 1958/59. 2. C.E.M. DE OLIVEIRA; M. M. G. DE CARVALHO, Revista de Fisica Aplicada e Instrumentação Vol. 11, no.1, março, 1996. 3. A.J.S. MAURITY, F.R. LUNAS, C.L. CARVALHO, V.C.S. REYNOSO, H.A. DE AQUINO, Construção de um sistema de caracterização das propriedades de transporte de filmes finos pelo efeito Hall, Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 34, n. 1, 1307 (2012) 4. Datasheet LM317 http://www.datasheetcatalog.org/datasheet/ nationalsemiconductor/DS009063.PDF, acesso em 26/10/2013. 5. Datasheet, Analog Devices AD594 http://www.me.psu.edu/rahn/me462/AD594_5_c.pdf, acesso em 26/10/2013. AUTOMATION OF MEASUREMENTS THE ELECTRIC RESISTIVITY IN TEMPERATURE FUNCTION BY VAN DER PAW METHOD AND MEASURES OF SnO2-F THIN FILM ABSTRACT In the experimental implementation of this technique we used a liquid nitrogen cryostat with resistive heating and type J thermocouple. Were developed: sample holder; electronic circuit for to control the sample temperature from 100K at 470K; a constant current source up to 500mA; electronic drive for to trigger 6 relays for current injection and 6 for voltage reading; overall control of the measurement is a computer program developed in Labview V8.0; realizes control of the cryostat temperature, makes communication with the microcontroller Atmega328 (Arduino) for driving the digital ports with the required sequence for switching the relays; reads via serial port of the thermocouple signals and voltage of the high precision digital multimeters; calculates and stores the collected data. In the experimental measurement of SnO2:F(6%) thin films produced in our laboratory, the implemented system, works properly and the measurements are compatible within the values reported in the literature. Key-words: Resistivity, SnO2-F, microcontroller, automation. 8186