Instrumentos de invocação dos espíritos dos antepassados. Marracuene, 1955. Arquivo fotográfico da Missão Antropológica de Moçambique (1986-1956) O processo de diagnóstico: A invocação do espírito dos antepassados (chicuembo) O processo de diagnóstico: A invocação do espírito dos antepassados (chicuembo) Ndlopfu ou N~Ehôpfu. Banco em forma de elefante onde o ñanga Mafumo se sentava quando possuído pelo chicuembo vandzau. Marracuene, 1955. Colecção Etnográfica da Missão Antropológica de Moçambique (1936-1956) Chamado para avaliar a situação do paciente, o Ñanga começa por tentar ganhar a confiança deste e da sua família no sentido de perceber o contexto familiar e social do doente o que lhe dá, em simultâneo, a possibilidade de o ir observando. Esta observação preliminar é o preâmbulo de um conjunto de procedimentos que conduzem o Ñanga ao diagnóstico e que podem passar por várias processos consoante a gravidade da situação. Existem dois processos básicos, o da adivinhação (ku-hlahluba) com recurso a instrumentos auxiliares de diagnóstico e o do cheiro (kufemba). O uso de um destes processos não excluí em absoluto o outro e, o paciente, no decurso da consulta pode ser sujeito aos dois. O primeiro guia o questionário ao paciente e familiares; o segundo, permite ao Ñanga identificar o que está a fazer mal ao doente cheirando o corpo deste. Para ambos se torna necessário invocar e espírito dos antepassados (chicuembo) já que deles depende, em última instância, a resolução do problema. Assim, após observação preliminar importa invocar o chicuembo (ku-bikela) e para tal se torna necessário o uso de instrumentos e adereços propiciadores dos espíritos que se pretendem invocar e que devem ser usados e guardados separadamente para garantir a sua eficácia. O espírito vandau potencializa a capacidade de identificação do mal através do cheiro, sendo que o Ñanga enquanto possuído por este, vai cheirando o doente, por vezes com ajuda da cauda de animal (Mutchira) e ao cheirar a parte afectada espirra e abana a cauda para deitar fora o mal que encontrou. Por sua vez, quando dominado pelo espírito vanguni evidencia a capacidade de diagnosticar e circunscrever o mal de modo a poder neutralizá-lo e prescrever as formas do seu tratamento. Espírito vandau ou espírito vanguni De acordo com o manuscrito do Ñanga da Matola, Artur Murimo Mafumo trabalhava com dois chicuembos: o chicuembo vandau e o chicuembo vanguni, sendo que os instrumentos e adereços propiciadores do espírito vandau eram o banco Chitshamo e o banco Ndlopfu (elefante) simples, o colar de Mungamázi e os colares de missangas brancas e vermelhas, as Timbambas (faixas enfeitadas com cauris para pôr em torno da cabeça, do tronco ou da cintura), as N’hunguvana (cabacinhas para guardar os medicamentos), a Mississi (cabeleira de fio algodão pintada de vermelho), o Ndjiti (pano grande, estampado, que põe pelas costas). Como instrumentos e adereços propiciadores do espírito vanguni: o Ndlopfu (elefante) com penas na cabeça, a Shibalessa (espingarda), a Wissa (moca), a Chiéma (machadinha), a Gócha, o Ntcheha (pano branco que põe pelas costas) e o Palu (pano cinzento de xadrez , com barra vermelha, que põe nos joelhos). Instrumentos de invocação dos espíritos dos antepassados. Colecção Etnográfica da Missão Antropológica de Moçambique (1936-1956) Ndlopfu ou N~Ehôpfu. Desenho e descrição. Marracuene, 1955. Manuscritos da Colecção da Missão Antropológica de Moçambique (1936-1956)