A visão dos enfermeiros que trabalham em unidade hospitalar pública

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A VISÃO DOS ENFERMEIROS QUE TRABALHAM EM UNIDADE HOSPITALAR
PÚBLICA SOBRE A SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM
MARIA DAS GRAÇAS UCHÔA*
MARIA MADALENA DEL DUQUI LEMES**
Resumo:
Este trabalho objetivou identificar o conhecimento do enfermeiro sobre a Sistematização da
Assistência de Enfermagem (SAE), através de uma pesquisa descritiva, segundo a
metodologia quantitativa, com 19 enfermeiros, após aprovação pelo Comitê de Ética. A
maioria dos enfermeiros conhece o método de Sistematização da Assistência de
Enfermagem; porém, a mesma não é utilizada devido a diversos fatores: falta de recursos
humanos, rotatividade, quantidade de pacientes, alguns desconhecem o processo e falta de
convivência com a SAE.
Palavras-chave: Enfermagem; Planejamento; Siste matização; Atividades.
*Aluna do 10º período do curso de enfermagem da Universidade Católica de Goiás. Trabalho de
Conclusão de Curso na modalidade de monografia, pesquisa de campo.
**Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Minas Gerais. Enfermeira. Professora
efetiva do curso de enfermagem da Universidade Católica de Goiás.
1-Introdução:
A enfermagem, conforme concebeu Nightingale, “é um conjunto de atividades que
visavam colocar o ser humano doente nas melhores condições para que a própria natureza o
curasse”. Portanto, o indivíduo é o eixo norteador do trabalho da enfermagem no sentido de
que esta atividade constitui um serviço humanitário, centralizado nas atividades de prestar
assistência às necessidades do ser humano, estando este predominantemente no ambiente
hospitalar (Abdellah, 1971).
Os elementos que constituem a natureza do trabalho de enfermagem são o ser
humano como receptor dos cuidados, os agentes que prestam esses cuidados, a finalidade,
os meios para ação e o meio social e ambiental onde ela se processa (Abdellah, 1971).
A prática integrada dos cuidados de enfermagem, com estes três elementos, está
intimamente associada às estruturas sociais das diferentes nações, em diferentes épocas,
determinada por uma formação social específica (Paixão, 1979). Nesse sentido, a percepção
das formas de trabalho da enfermagem, tal como hoje é conhecida e exercitada, passa pelo
conhecimento de sua perspectiva histórica, tanto para a compreensão dos seus deveres
quanto para que o profissional valorize mais sua profissão, como saber que integra a cultura
humana desde os seus primórdios.
Paixão (1979), ao resumir a história da enfermagem, refere-se a três elementos
presentes em seu trabalho: o espírito de serviço (ideal), a habilidade (arte) e a ciência.
Segundo a autora, o espírito de serviço foi o primeiro em ordem de importância porque,
quando a ciência ainda não existia, já havia pessoas que tentavam dar conforto moral e
físico ao doente. A arte foi se formando, permeada por superstições e conhecimentos
empíricos e a ciência veio depois.
O trabalho de enfermagem é basicamente orientado por sentimentos humanitários
que levam à ação em favor dos semelhantes quando estão sofrendo. Nesse sentido, a origem
da enfermagem está situada na figura da mãe. Ela foi a primeira enfermeira. Porém, a
concepção de doença como castigo divino transferiu a responsabilidade do cuidado e da
cura para os sacerdotes e feiticeiros que acumulavam as “funções de médico, farmacêutico
e enfermeiro” (Paixão, 1979, p. 19).
Historicamente a enfermagem passou por diversos processos de transformações
baseados nos contextos sócio -econômicos de cada país; porém, com várias influências.
Estudos vêm mostrando a importância da enfermagem em possuir um corpo de
conhecimento e atitudes que possam resguardar sua autonomia, seu caráter, sua
competência e o seu reconhecimento social. Desses estudos, um refere à Sistematização da
Assistência de Enfermagem (SAE).
Entende-se por Sistematização da Assistência de Enfermagem como um
instrumento de humanização do trabalho do profissional. Vários estudos sobre o assunto,
no Brasil, consideram que este continua a ser um importante tema para a qualificação do
trabalho da enfermagem, para a pesquisa, em vista da oportunidade de ser explorado por
diferentes ângulos e com variados objetivos. Para tanto, é necessário que o mesmo se torne
mais compreendido para que sua importância e sua aplicabilidade se tornem ainda mais
efetivo. Ademais, a ampliação dos estudos sobre o tema poderá sensibilizar os profissionais
de enfermagem para sua importância, uma vez que, apesar de ser conhecido, não é utilizado
de forma efetiva pelos enfermeiros.
Assim, entende-se que as áreas profissionais possuem um conjunto de saberes
identificado, portador de símbolos, valores e crenças que o identificam. Assim, o corpo de
conhecimentos da enfermagem também possui padrões, formas e estruturas características
dessa atividade e que exemplificam os modos particulares de pensar sobre o processo de
cuidar (Cianciarullo, 2001).
O campo de conhecimentos de qualquer área vai sendo lentamente construído e essa
construção reflete no amadurecimento dos profissionais, baseado na prática, na intuição e
nos saberes incorporados de outras disciplinas. A construção do corpo de conhecimentos
depende da reunião e da organização dos resultados obtidos através de investigações,
observações e achados. Esse é o papel da teoria; isto é, os conhecimentos parciais são
reunidos pela criação teórica.
As teorias e os modelos teóricos são, ou deveriam ser, baseados na prática
profissional, no cenário onde se processam as relações profissionais. Como a realidade que
percebemos está sempre sujeita a transformações, as teorias nela baseadas, também são
passíveis de revisões em busca de maior eficiência.
Cianciarullo (2001) afirma que no campo da enfermagem, porém, durante muito
tempo, a prática foi determinada por estruturas de conhecimento alheias ao cotidiano dos
profissionais. A prática era, portanto, condicionada por teorias de enfermagem. A partir da
década de 50, entretanto, iniciou-se um movimento no sentido de desenvolver um corpo de
conhecimentos específico da enfermagem nessa época, “aumentaram as indagações sobre
a natureza da enfermagem e os fenômenos do seu campo, como nomeá-los e, sobretudo,
como organizá-los” (Souza, 2001: 31). Foi na prática que se buscou respostas para essas
indagações.
A prática da enfermagem está centralizada no cuidado e no tratamento dispensados
aos seres humanos. Portanto, a partir dessa época, estes aspectos da atuação dos
profissionais passaram a ser os mediadores da construção do campo teórico dessa profissão
e determinaram “uma nova forma de olhar a realidade afastando-se de forma crítica do
paradigma biomédico” conforme Cianciarullo (2001: 19), o que determinou a ênfase do
cuidado na integridade da pessoa e não na doença.
Os modelos teóricos de enfermagem passaram a apresentar a pessoa como ser biopsico-sócio-espiriritual, holístico. Nesse sentido, o trabalho de enfermagem visa:
Atender às necessidades básicas da pessoa, implementando estados de equilíbrio
e prevenindo desequilíbrios; promover a sua adaptação em quatro modos de se
adaptar; suprir-lhes as demandas de autocuidado e levá-las a se autocuidar; ajudálas a manter, restaurar e promover a saúde, interagindo com as mesmas para o
alcance de metas estabelecidas; ajudá-las a restaurar sua totalidade, seu bem estar
e independência, pela conservação da sua energia, integridade estrutural, pessoal
e social; promover uma interação harmônica da pessoa com o seu ambiente
interno e externo (Souza, 2001: 34-35).
As teorias vêm evoluindo e, ao guiar e aprimorar a prática contribui para a
sistematização da enfermagem no caminho para atingir seus objetivos. A prática, por sua
vez, também se modifica para acompanhar os avanços científicos e tecnológicos, as
mudanças socioculturais e políticas (Souza, 2001).
O processo de enfermagem vem se estabelecendo desde o final da Segunda Guerra
Mundial, no sentido de que o trabalho em equipe determinou a adoção do plano de
cuidados que surge como uma primeira tentativa de implementar o planejamento da
assistência de enfermagem. A partir da década de 60, surgem vários estudos enfatizando os
aspectos interpessoais, intelectuais e científicos do trabalho de enfermagem e já aparecem
referências a processo de enfermagem.
Kenney citado por Rossi (2001) relata os estudos de Ida Orlando que definiu o
processo de enfermagem como a interação entre o comportamento do paciente, a reação do
enfermeiro e as ações da enfermagem destinadas ao benefício do paciente. Kenney também
menciona os estudos de Yura e Walsh que descreveram o processo de enfermagem em
quatro fases: histórico, planejamento, implementação e avaliação.
Apesar do crescimento do interesse por esse método de trabalho, na prática, era
utilizado mais nas escolas, como marco teórico, que nos hospitais. No Brasil, foi
introduzido nas escolas na década de 70 mas, só após a aprovação da Lei do Exercício
Profissional da Enfermagem, em 1986, foram iniciadas as experiências de implantação de
metodologias de assistência e de diagnóstico de enfermagem nas instituições de saúde
brasileiras (Rossi, 2001).
O processo de enfermagem é “uma série de passos (coleta de dados, diagnóstico de
enfermagem, planejamento, implementação e avaliação), que focalizam a individualização
do cuidado através de uma abordagem de solução de problemas” (Rossi, 2001:49).
O
processo
de
enfermagem,
entretanto,
enfrenta
problemas
em
sua
operacionalização em vista da existência de uma prática mecanizada, resultante da
burocratização. Segundo estudos realizados por Ford e Walsh (1995) os enfermeiros
associam o processo de enfermagem o cuidado individualizado sem, no entanto,
compreender seu significado na prática, utilizando-o como uma alternativa para alcançar o
status profissional. A prát ica do processo de enfermagem pressupõe, segundo Rossi (2001),
a adoção de um conjunto de crenças e valores baseados na ênfase no ser humano e no
cidadão.
Uma outra etapa da SAE é o planejamento. O planejamento é um estudo ou plano
detalhado de trabalho. É um sistema de técnicas que têm por objetivo a elaboração de
programas que comportam, não somente a indicação dos objetivos a serem alcançados, mas
também a previsão das diversas etapas de execução. Sem planejamento, os acontecimentos
ficam sujeitos ao acaso, não há rendimento do trabalho, havendo, pelo contrário, perda de
tempo, dos esforços, da energia e dos recursos materiais e financeiros (Daniel, 1981).
A Enfermagem Planejada visa orientar o profissional quanto à elaboração do
planejamento sistemático da assistência de enfermagem composto por ações e decisões
destinadas a programar os cuidados de Enfermagem (Daniel, 1981: 1).
Diante do desempenho profissional do enfermeiro, este se vê na contingência de
executar muitas atividades administrativas, burocráticas e educativas, além das práticas
voltadas para a atenção ao paciente. O excesso de tarefas contribui para aumentar a
distância entre o profissional e o paciente.
O aspecto humano da atenção direta deve ser a mola que impulsiona a
implementação do sistema de enfermagem planejada. O primeiro passo, portanto, é o da
observação direta, pessoal, dirigida e objetiva, tornando-se assim imperativa a aproximação
do enfermeiro com o paciente ou com os indivíduos entregues à sua responsabilidade
(Daniel, 1981).Nessa perspectiva, a moderna literatura de enfermagem tem enfatizado o
planejamento de assistência de enfermagem, apesar de muitos considerarem esta mais uma
tarefa na já pesada carga de trabalho do enfermeiro.
Daniel (1981) afirma que o Plano Terapêutico de Enfermagem é baseado na
utilização do método científico e inclui todas as atividades de planejamento e organização.
Assim, os elementos específicos da enfermagem sistematizada são: a observação, a análise,
a apresentação do problema, a hipótese, a escolha e o teste da solução, a avaliação e o
registro dos resultados.
2- Metodologia:
A metodologia é um ramo da pedagogia que estuda os métodos adequados à
transmissão de conhecimentos. Através deste instrumento, os métodos são expostos,
analisados e avaliados. O método científico, segundo Cordeiro (1997), é o conjunto de
etapas e processos que devem ser seguidos ordenadamente para se conhecer, descobrir,
descrever e predizer fenômenos ou investigar fatos à procura da verdade. É o instrumento
utilizado pela Ciência na sondagem da realidade, mediante um conjunto de procedimentos.
A pesquisa na área de saúde requer a análise dos aspectos estruturais do problema
estudado, numa base empírica, aliada a uma visão subjetiva que permita a compreensão da
realidade humana, por meio da explicação dos fenômenos que constituem a vivência das
relações sociais (Brandão e Bastos, 2001).
A presente pesquisa é do tipo descritiva, segundo os pressupostos da metodologia
quantitativa. Seu objetivo é identificar o nível de conhecimento que o enfermeiro tem a
respeito da sistematização da assistência de enfermagem, em seu local de trabalho.
A população: a população deste estudo compõe-se de profissionais de enfermagem,
enfermeiros, de ambos os sexos que trabalham em uma unidade pública de saúde, no
município de Goiânia, escolhidos aleatoriamente e que concordaram voluntariamente em
participar do estudo.
A amostra do estudo constitui-se de dezenove enfermeiros. Entende-se por amostra
a menor representação de um todo maior (Barros, 1990). Neste estudo calculou-se 25% da
população, ou seja, 19 entrevistados, considerando uma margem de erro de mais ou menos.
Aqueles que participaram não foram identificados, conforme determina a Resolução
196/95 do Conselho Nacional de Saúde. Os profissio nais foram informados sobre a
realização da pesquisa e dos seus objetivos. Foram, então, convidados a participar do
estudo, respondendo a um questionário. Os profissionais que concordaram em participar
deste estudo assinaram o termo de consentimento, onde além de explicar o objetivo do
trabalho e a forma de sua realização, foi firmado o compromisso de manter todos os
entrevistados sob sigilo.
A coleta dos dados: a coleta de dados foi realizada nos meses de abril e maio de 2004. Foi
utilizado um questionário, com perguntas abertas e fechadas. Foi feito um contato inicial
para agendar a entrega do questionário aos enfermeiros para que pudessem respondê- lo.
O tratamento e a análise dos dados: os dados foram tabulados e, após, obtidos os resultados,
procedeu-se à sua interpretação. Segundo Lakatos (1991), a importância dos dados está não
em si mesmos, mas em proporcionarem respostas às investigações. Os resultados
apresentados em forma de tabelas e gráficos. Neste estudo, para a análise dos dados,
observamos os seguintes passos: a codificação, a tabulação e a interpretação dos dados.
3- Apresentação e discussão dos dados
Observamos que, do total de enfermeiros, 15 exercem a profissão há mais de cinco
anos, o que corresponde a 78,9% da amostra. Aqueles que exercem a enfermagem há
menos tempo (4 pessoas) representam 20,1% do total.
Foi observado que, do total de enfermeiros, 18 conhecem a sistematização da
assistência de enfermagem, o que corresponde a 94,7% da amostra. Apenas um profissional
afirmou que não a conhece, o que representa 5,3% do total.
Observamos que 14 enfermeiros afirmaram que a sistematização da assistência de
enfermagem não é utilizada na unidade de saúde onde trabalham, o que corresponde a
73,4% da amostra. Apenas três profissionais afirmaram que esta modalidade de trabalho é
utilizada, o que representa 26,3% do total. Outros não responderam.
No que se refere aos motivos pelos quais não implementam a SAE, foi observado
que, do total de enfermeiros, 12 afirmaram que a sistematização da assistênc ia de
enfermagem não é utilizada na unidade de saúde onde trabalham devido à falta de recursos
humanos, o que corresponde a 57,8% da amostra. Do total, 6 profissionais afirmaram o fato
é devido à rotatividade e quantidade de pacientes, o que representa 31,6% do total. Um
profissional afirmou que se deve à falta de convivência com o processo e também 1
creditou a falta de utilização da SAE ao desconhecimento do processo, representando, cada
um destes, 5,3% do total.
Apresentamos a distribuição dos motivos da importância da SAE, conforme citados
pelos enfermeiros:
•
11 profissionais (57,8%) afirmaram que a SAE melhora a qualidade da assistência;
•
2 profissionais (10,5%) afirmaram que a SAE humaniza o trabalho;
•
2 profissionais (10,5%) afirmaram que a SAE padroniza o trabalho;
•
2 profissionais (10,5%) afirmaram que a SAE traz satisfação pessoal;
•
2 profissionais (10,5%) afirmaram que a SAE facilita o trabalho;
•
1 profissional (5,3%) afirmou que a SAE facilita a transmissão de informações;
•
1 profissional (5,3%) afirmou que a SAE facilita a organização do trabalho e
•
1 profissional (5,3%) afirmou que a SAE facilita a integração da equipe
multidisciplinar.
Os resultados demonstram que os profissionais entrevistados são pessoas experientes,
com vários anos de trabalho e praticamente todos conhecem a Sistematização da
Assistência de Enfermagem. Porém, observou-se que a maioria afirmou que este método
não é utilizado na unidade de saúde onde trabalham.
O conhecimento é um processo dinâmico. Isto significa que conhecer não se limita a
internalização dos conteúdos, dos instrumentos e das estratégias. Nesse sentido,
Cianciarullo (2001:17) afirma que “nas profissões chamadas práticas, o conhecimento é,
está ou deve ficar obrigatoriamente ligado à prática, ao real, ao cenário onde se processam
as relações profissionais”. Assim, não basta aos enfermeiros serem dotados de
conhecimentos teóricos, sem sua vivência sentida e identificada, mas sim, incorporar os
conteúdos à prática de cuidar.
A operacionalização do conhecimento permeia também a ética do trabalho que, de
acordo com Carper apud Cianciarullo (2001:26) “refere-se ao compromisso moral da
enfermeira com o que deve ser feito ou realizado e que objetivos devem ser alcançados,
com ou para o seu paciente”.
Os profissionais participantes desta pesquisa, como foi observado nos dados
coletados, relacionaram os fatores que impedem a utilização do método baseado na SAE
que envolvem questões ligadas à logística do trabalho em enfermagem, como carência de
pessoal e excesso de pacientes, além da rotatividade de pessoal e a falta de “convivência”
com o método.
Rossi & Casagrande (2001), em uma amostragem de estudos cujos resultados
demonstraram que os enfermeiros enfrentam vários obstáculos para uma execução
sistematizada de suas atividades, afirmam que esta prática exige a abertura e a flexibilidade
das organizações, além do profissionalismo, da atitude e da criatividade dos profissionais.
Entre os fatores que interferem na prática sistematizada de enfermagem citam, entre
outras: a quantidade e qualidade dos recursos humanos, a falta de motivação, a
desvalorização da metodologia de assistência, a insuficiente fundamentação científica dos
profissionais, a dissociação entre teoria e a prática do processo de enfermagem.
Comparando essas afirmações com a dos enfermeiros participantes desta pesquisa,
observamos que os problemas são comuns e que a sistematização da assistência ainda
enfrentará um longo caminho até sua efetiva utilização nas práticas da enfermagem.
Os participantes desta pesquisa opinaram sobre a importância da SAE para a prática
da enfermagem: melhorar a qualidade da assistência; padronizar, facilitar e humanizar o
trabalho; trazer satisfação pessoal; facilitar a transmissão de informações, a organização do
trabalho e a integração da equipe multidisciplinar.
Nesse sentido, reafirmam concepções comuns aos profissionais de enfermagem que
utilizam este método, conforme se depreende do trabalho de Melleiro, Fugulin et. al.
(2001), onde esclarecem que a SAE é um instrumento para o desenvo lvimento das
atividades do enfermeiro, através do qual se consegue a evolução do paciente, tem-se uma
informação do mesmo, facilita e analisa suas necessidades humanas, personaliza e
individualiza o paciente. Essas são expressões que demonstram a prática da enfermagem de
qualidade e da organização do trabalho.
4- Considerações Finais:
A sistematização da assistência de enfermagem objetiva a realização de um
planejamento capaz de transformar o trabalho deste profissional em uma resposta eficaz às
necessidades do cliente. A sistematização permite que o universo dessas respostas seja
limitado e discriminado de forma a tornar o trabalho de enfermagem mais específico. A
sistematização provê o profissional de ferramentas essenciais para a regularização e a
padronização do trabalho.
Sua importância é cada vez mais percebida pelos profissionais e pelas instituições
de saúde que, apesar disso, esbarram em questões estruturais para sua implantação. Na
unidade de saúde onde foi realizada a pesquisa, verificamos, por exemplo, que a carência
de pessoal da área é o principal empecilho para sua utilização.
Verificou-se que os enfermeiros acreditam que a sistematização da assistência de
enfermagem constitui um instrumento capaz de aumentar a qualidade do trabalho, através
da melhoria da qualidade da assistência, da humanização do trabalho, da padronização do
trabalho, da satisfação pessoal que provoca, da capacidade de organizar e, por isso, facilitar
o trabalho, da transmissão de informações e finalmente, integração da equipe
multidisciplinar.
Apesar dos profissionais terem afirmado conhecer a SAE, foi possível perceber,
tanto através do instrumento de coleta como na oralidade, a fragmentação de visão do
método. Ou seja, consideram como a SAE, só a prescrição e a evolução. Isso vem
demonstrar que a população em estudo desconhece todo os processos que compõem a SAE.
Neste trabalho, buscamos, a partir da história da enfermagem, identificar qual o
conhecimento que o enfermeiro tem a respeito da sistematização da assistência de
enfermagem, com base numa metodologia quantitativa. Julgamos que o estudo será útil
para os profissionais de enfermagem na medida em que pode despertar o interesse pelo
assunto e, em vista dos dados levantados tentar conscientizar a classe para a importância da
utilização deste processo no desempenho de suas atividades.
A realização do trabalho significou, primeiro um aprofundamento no estudo do
assunto em tela. Em segundo lugar representou uma surpresa verificar que a maioria dos
profissionais não só conhece, mas sabe das vantagens da sistematização que não é aplicada
por motivos alheios a eles, conforme se pode observar.
Nesse sentido, verificamos que os profissionais de enfermagem têm a clara
percepção das dificuldades que impedem a implantação deste processo. Viu-se que os
motivos citados pelos profissionais se devem à questões estruturais da instituição, como a
falta de recursos humanos suficientes. Realmente, a observação das unidades públicas de
saúde brasileiras revela a carência de profissionais de enfermagem, o que dificulta e até
inviabiliza a implantação de programas de qualidade.
As contribuições deste estudo poderão ser tanto sociais como científicos. Os efeitos
sociais se darão no sentido de contribuir para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento
profissional dos enfermeiros. No aspecto científico, a importância reside na contribuição
através de uma síntese bibliográfica e pesquisa de campo, que poderão ser úteis aos que se
dedicam a esse assunto.
Esperamos que este trabalho seja aprofundado numa perspectiva qualitativa para
compreender a percepção que os enfermeiros têm da SAE e incentivar, dessa forma, a
utilização deste processo nas unidades de saúde.
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