PESQUISA PESQUISA Embalagens de alimentos Embalagens de alimentos Do lixo quase tudo se aproveita dos para a proteção e a segurança do alimento industrializado. Por outro lado, apesar de existir possibilidade técnica para a reciclagem de determinados materiais como o isopor, por exemplo, eles são considerados não recicláveis por falta de interesse de mercado. Tecnicamente, portanto, a maioria dos materiais hoje utilizados para embalar alimentos pode ser reciclada, mas é necessária a sua absorção pelo mercado. FOTOS IZILDA FRANÇA MATERIAIS DAS EMBALAGENS A maioria das embalagens de alimentos pode ser reciclada. A racionalização do consumo e a implantação de programas de coleta seletiva são ações necessárias para diminuir o desperdício de resíduos sólidos, ainda grande no país. 20 O Brasil produz diariamente cerca de 149 mil toneladas de resíduos sólidos, mas apenas 13,4 mil, ou 9%, são recicladas, segundo o Informe Analítico da Situação da Gestão Municipal de Resíduos Sólidos no Brasil, do Ministério das Cidades. O restante, 135,6 mil toneladas, é destinado a aterros sanitários (32%), aterros clandestinos (59%) ou lançado diretamente nas ruas e terrenos baldios, causando problemas ao meio ambiente e gerando sérios riscos à saúde pública. No entanto, cerca de 35% desse volume poderiam ser reciclados e outros 35%, transformados em adubo orgânico. Com base em informações da ong CEMPRE – Compromisso Empresarial para a Reciclagem –, é possível estimar que o Revista do Idec | Fevereiro 2005 Brasil desperdiça, anualmente, mais de 10 bilhões de reais em resíduos sólidos, descontando o que é reciclado. As embalagens de alimentos representam cerca de dois terços (99.333 toneladas) do volume total de resíduos sólidos produzidos por uma população, o que representa um desperdício anual de R$ 6,3 bilhões, ou seja, 31.640 toneladas de material reciclável (ou reaproveitável), que é descartado. A grande maioria dos materiais utilizados para compor as embalagens de alimentos já possui tecnologia para a sua reciclagem e as pesquisas continuam. A cada dia, novos conhecimentos são adquiridos, visando um reaproveitamento adequado dos materiais utiliza- Plásticos: ● PET – polietileno tereftalato: frascos, garrafas e bandejas para microondas; ● PEAD – polietileno: embalagens longa vida, tampas e outras embalagens plásticas; ● PEBD – polietileno de baixa densidade: sacos para leite, grãos e farinhas; ● PVC – policloreto de vinila: filmes plásticos e embalagens para água, óleo comestível, sucos, etc.; ● PP – polipropileno: caixas plásticas para alimentos, tampas, copos descartáveis transparentes, etc.; ● BOPP – polipropileno bi-direcionado: embalagens de biscoitos e salgadinhos industrializados; ● PS – poliestireno: copos descartáveis, potes para iogurtes, doces e sorvetes, bandejas de supermercado. Neste grupo estão as embalagens de isopor, material atual- mente com baixa disponibilidade para a reciclagem. Papéis: ● Papel branco: papel não reciclado destinado a embalagens de pizzas e sanduíches; ● Papel ondulado: papel pardo destinado a embalagens terciárias; ● Papel parafinado ou resinado: embalam bolos industrializados e panetones. Os papéis resinados não são recicláveis. Metais: Alumínio: empregado na confecção de latas de refrigerantes, sucos, etc.; ● ● Aço: utilizado em latas de conservas, alimentos secos em pó, tampas de frascos de vidro. Vidros: Aplicados em embalagens de conservas, bebidas alcoólicas, condimentos e refratários. Somente os vidros refratários não são recicláveis. ● Embalagens “comestíveis”: A tecnologia de produção de embalagens biodegradáveis existe há mais de 30 anos, mas só recentemente investiram no seu desenvolvimento técnico, o que resultou em estudos que citam materiais como proteína do leite, polissacarídeos e amido. ● Coleta seletiva e responsabilidade D os 5.561 municípios brasileiros, somente 237 (4,3%) possuem programas de coleta seletiva de resíduos sólidos. É importante que a administração pública, especialmente aquela representada pelas prefeituras, inicie um processo de estruturação do maior número de programas de coleta seletiva possível, iniciando pela educação ambiental nas escolas, parcerias com entidades de classes, associações coletivas e estudos para a viabilidade de implantação da coleta. Em princípio, é responsabilidade do Estado a destinação e o tratamento correto dos resíduos sólidos, bem como o desenvolvimento de novas tecnologias que garantam formas eficientes, seguras e baratas de reciclagem. Contudo, em seu trabalho intitulado “Consumo Sustentável”, o Idec defende a existência da “responsabilidade estendida ao produtor” e entende que quem fabrica ou utiliza embalagens como forma de agregar valor a seus produtos também é responsável peRevista do Idec | Fevereiro 2005 21 PESQUISA PESQUISA Embalagens de alimentos la destinação final dessas embalagens no pós-consumo. Isso geraria o interesse da iniciativa privada em desenvolver produtos mais eficientes e com maior potencial de reciclabilidade, além do estímulo natural à pesquisa de novas tecnologias para a reciclagem. Existem vários Projetos de Lei tramitando na esfera federal (Câmara dos Deputados e Senado) relacionados ao tratamento, à destinação e à reciclagem de resíduos sólidos, em especial daqueles resultantes de embalagens, bem como à responsabilidade estendida do produtor. da população, quer pelas doenças que seus acúmulos possam gerar, quer pelo dano que causam ao meio ambiente. Além disso, a coleta seletiva e o reaproveitamento das embalagens não gera somente receita para boa parcela da população carente que vive de recolher materiais nas ruas. Grande parte dos resíduos sólidos, quando reciclados, demanda uma quantidade muito menor de energia elétrica para o seu reprocessamento. Um exemplo disso é a reciclagem do vidro, que gera um produto sem perda de qualidade com menor demanda energética. BENEFÍCIOS DO O PAPEL DO CIDADÃO REAPROVEITAMENTO Se por um lado cabe ao Estado a tarefa de incentivar práticas que levem à eficiência do manejo dos resíduos sólidos, o cidadão deve participar adotando posturas que podem ser classificadas como práticas de cidadania. Cabe ao consumidor não apenas encaminhar os materiais para a reciclagem, mas exigir das empresas embalagens retornáveis e/ou recicláveis. O manejo dos resíduos sólidos deve começar pela escolha do que vai ser consumido, diminuindo desperdícios e comprando somente o necessário. Este é o princípio da não geração. Esse princípio leva à racionalização do consumo e à redução dos resíduos sólidos. Essa ação deve ser praticada por todos os seguimentos da comunidade, inclusive a iniciativa privada (indústria, comércio e serviços), a administração pública e entidades não governamentais. Quando possível, a reutilização (reaproveitamento de material descartado para o mesmo fim ou fim distinto) racional de embalagens auxilia no processo de redução de despejo de resíduos sólidos. Assim, forma-se o polinômio não geração – redução – reutilização – reciclagem, que vem sendo difundido por aqueles cuja intenção é promover a racionalização do uso de materiais sujeitos ao descarte e, talvez, a única maneira de solucionar o problema da falta de espaço para o lixo. Além do desperdício de materiais que podem ser reaproveitados, a questão dos resíduos sólidos envolve também a saúde Símbolos ensinam o que é reciclável Quando fizer suas compras, repare bem nas embalagens dos produtos. Plásticos, alumínios, aço, vidros, papéis possuem desenhos que simbolizam os materiais recicláveis. A tabela abaixo mostra a simbologia das embalagens recicláveis: 22 Embalagens de alimentos Revista do Idec | Fevereiro 2005 Sugestões do Idec E m termos práticos, as sugestões a seguir resumem as ações desejáveis de cada seguimento da sociedade responsável pela administração dos resíduos sólidos no Brasil: condomínio, igreja, local de trabalho, etc.); ● Praticar a limpeza e a separação das embalagens descartadas conforme o material de que são constituídas. Consumidores Iniciativa privada do segmento alimentício ● Assumir uma postura mais consciente ● O produtor deve assumir a responsabiliperante o ímpeto do consumo, dando pre- dade estendida a ele pelas embalagens e proferência a alimentos sem embalagens des- dutos no pós-consumo; ● Desenvolver estudos para identificar necessárias; ● Entre produtos semelhantes embalados novas formas e materiais que favoreçam a em recipientes diferenredução de embalagens tes, dê preferência para em seus produtos; ● Implantar programas aqueles cujas embalagens tenham menor fator de coleta seletiva nas de agressão ao meio amempresas, estimulando a biente. Exemplos: entre participação dos colaboas embalagens de plástiradores através de treico e de vidro, escolha o namentos e, se for adevidro; entre papel e plásquado, com a distribuitico, o papel; ção de prêmios; ● Os filmes plásticos, ● Dar preferência à uticomo os de sacolas de lização de materiais com supermercados, geram maior disponibilidade de enormes problemas para reciclagem. o seu manejo em aterros sanitários. Uma boa forSetor público ● Através de incentivos ma de racionalizar o uso financeiros, estimular a desses materiais é a adopesquisa científica com o ção de sacolas permaApenas 9% do lixo é reciclado. objetivo de encontrar nonentes para o transporte vas formas de reciclagem de compras; ● Para aqueles cujo e novas aplicações aos matemunicípio não possui sistema de coleta, é riais já existentes; ● Implantar programas de coleta seletiva; importante formar organizações que exerçam ● Estimular a participação da comunidade pressão sobre as autoridades públicas, visando a implantação de um programa. Além (pessoa física e jurídica) em programa de codisso, o cidadão pode combinar com o pró- leta seletiva por meio de ações de conscientiprio catador de sua região quais são os mate- zação e, caso seja necessário, conferindo inriais que deve separar; centivos fiscais. ● A lavagem dos materiais a serem separados é de grande importância; Iniciativa privada em geral ● Destinar o material reciclável a um ponto ● Implantar programas de coleta seletiva, de coleta existente em sua cidade; estimulando a participação dos colaboradores ● Sugerir a criação de um projeto de coleta através de treinamentos e, se for adequado, seletiva nas comunidades (bairro, vila, escola, com a atribuição de prêmios. Serviço Uma lista de pontos de coleta seletiva pode ser encontrada no site www.cempre.org.br/serviços. cooperativas pesquisas.php Revista do Idec | Fevereiro 2005 23