REVISTA BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA BRAZILIAN JOURNAL OF RHEUMATOLOGY Official Organ of Brazilian Society of Rheumatology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Reumatologia Bimonthly Edition (Publicação Bimestral) Editors (Editores) Coeditors (Coeditores) Max Victor Carioca Freitas Eloísa Silva Dutra de Oliveira Bonfá Paulo Louzada-Junior Hilton Seda Universidade Federal do Ceará, Fotaleza, CE, Brazil Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brazil Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brazil Mittermayer Barreto Santiago Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brazil Ricardo Fuller Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil João Carlos Tavares Brenol Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brazil Editorial Board (Conselho Editorial) Acir Rachid Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brazil Adil Muhib Samara Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brazil Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brazil Gilberto Santos Novaes Maurício Levy Neto Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Milton Helfeinstein Jr. Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Natalino H. Yoshinari Ari Stiel Radu Isídio Calich Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Nílzio Antônio da Silva Carlos Alberto von Muhlen Ivânio Alves Pereira Percival Degrava Sampaio-Barros Cláudia Goldenstein Schainberg Jamil Natour Cláudio Arnaldo Len João Francisco Marques Neto Clóvis Artur Almeida da Silva José Goldenberg Alexandre Wagner S Souza Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brazil Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brazil Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Cristiano Augusto de Freitas Zerbini Hospital Heliópolis, São Paulo, SP, Brazil Daniel Feldman Polak Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Durval Kraychete Escola Bahiana de Medicina e Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, Brazil Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brazil Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brazil Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil José Roberto Provenza Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil Jozélio Freire de Carvalho Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Lais V. Lage Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil Universidade de São Paulo, São Paulo, Brazil Ricardo M. Xavier Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil Rina Dalva P. N. Giorgi Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo "Francisco Morato de Oliveira", São Paulo, SP, Brazil Roger A. Levy Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brazil Rosa Maria Rodrigues Pereira Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Rozana Mesquita Ciconelli Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil Samuel Katsuyki Shinjo Universidade de São Paulo, São Paulo, Brazil Eduardo de Souza Meireles Lilian Tereza Lavras Costallat Eduardo Ferreira Borba Neto Luís Eduardo Coelho Andrade Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil Emília Inoue Sato Luiz Fernando de Souza Passos Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brazil Fernanda Rodrigues de Lima Marcelo de Medeiros Pinheiro Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Fernando Queiroz da Cunha Maria Odete E. Hilário Francisco Airton Castro Rocha Marta Maria das Chagas Medeiros Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brazil Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brazil Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brazil Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM, Brazil Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brazil Sebastião Cézar Radominski Sheila Knupp de Oliveira Simone Appenzeller Universidade de Campinas, Campinas, Brazil Vera Lúcia Szejnfeld Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil Wiliam H. Chahade Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo "Francisco Morato de Oliveira", São Paulo, SP, Brazil International Editorial Board (Conselho Editorial Internacional) Ariel Masetto Juan Manuel Anaya Munther Khamashta Arthur Kavanaugh Luis Javier Jara H Ralph Schumacher Jr Université de Sherbrooke, Sherbrooke, Canada University of California, San Diego, EUA Bernardo Pons Estel Universidad Nacional de Rosario, Rosario, Argentina Claudio Galarza Maldonado Hospital Monte Sinai, Cuenca, Equador Corporación de Investigaciones Biológicas, Medellín, Colômbia Universidad Nacional Autonoma de Mexico, Cidade do México, México Mario Cardiel Instituto Nacional de la Nutrición "Salvador Zubiran", Morrelia, México Ernest Choy Mario Garcia-Carrasco Jordi Antón López Mário Viana de Queiroz José Antonio Melo Gomes Marvin Fritzler King's College, Londres, Reino Unido Hospital Sant Joan de Déu, Barcelona, Espanha Instituto Português de Reumatologia, Lisboa, Portugal Facultad de Medicina, BUAP, Puebla, México Universidade Clássica de Lisboa, Lisboa, Portugal University of Calgary, Calgary, Canadá St. Thomas´ Hospital, Londres, Reino Unido University of Pennsylvania, Philadelphia, EUA Ricardo Cervera Segura Hospital Clinic, Barcelona, Espanha Richard J Wakefield Chapel Allerton Hospital, Leeds, Reino Unido Thomas Dörner Charite Hospital, Berlin, Alemanha Yehuda Shoenfeld Chaim Sheba Medical Center, Tel Aviv University, Tel Hashomer, Israel BSR Office (Secretaria SBR) Rogério Quintiliano Amaral Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 2.466 – conjs. 93-94 CEP 01402-000 São Paulo, SP Fone/fax: 55 (11) 3289-7165 E-mail: [email protected]; [email protected] website: www.reumatologia.com.br Brazilian Journal of Rheumatology is listed in MEDLINE, LILACS, SciELO, Scopus and Index Copernicus database. A Revista Brasileira de Reumatologia é indexada nas bases de dados MEDLINE, LILACS, SciELO, Scopus e Index Copernicus. A RBR é filiada ao International Committee of Medical Journal Editors. Brazilian Journal of Rheumatology (BJR) is an official publication of Brazilian Society of Rheumatology (BSR) in partnership with Elsevier Editora Ltda. and is dedicated to the medical community in Brazil and Latin America. Edited by Brazilian Society of Rheumatology. Published by Elsevier Editora Ltda. © 2011. All rights reserved and protected by law 9.610 - 19/02/98. No part of this publication may be reproduced or transmitted in any form or by any means, electronic or mechanical, including photocopying, recording or any information storage and retrieval system, without permission in writing from BRS and the Publisher. BJR received finnancial support from Fundos Remanescentes da Sociedade Brasileira de Reumatologia and Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq – Edital 68/2010). A Revista Brasileira de Reumatologia (RBR) é uma publicação oficial da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) em conjunto com Elsevier Editora Ltda. distribuída exclusivamente à classe médica do Brasil e da América Latina. Editada por Sociedade Brasileira de Reumatologia. Publicada por Elsevier Editora Ltda. © 2011. Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 - 19/02/98. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, sem autorização prévia, por escrito, da Elsevier Editora Ltda. e da SBR, sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. A RBR recebe auxílio financeiro de Fundos Remanescentes da Sociedade Brasileira de Reumatologia e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq – Edital 68/2010). RJ: Tel.: 21 3970-9300 Fax: 21 2507-1991 SP: Tel.: 11 5105-8555 Fax: 11 5505-8908 Website:www.elsevier.com.br No responsibility is assumed by Elsevier or BSI for any injury and/or damage to persons or property as a matter of products liability, negligence or otherwise, or from any use or operation of any methods, products, instructions, or ideas contained in the material herein. Because of rapid advances in the medical sciences, in particular, independent verification of diagnoses and drug dosages should be made. Although all advertising material is expected to conform to ethical (medical) standards, inclusion in this publication does not constitute a guarantee or endorsement of the quality or value of such product or of the claims made of it by its manufacturer. A Elsevier não assume nenhuma responsabilidade por qualquer injúria e/ou danos a pessoas ou bens como questões de responsabilidade civil do fabricante do produto, de negligência ou de outros motivos, ou por qualquer uso ou exploração de métodos, produtos, instruções ou ideias contidas no material incluso. Devido ao rápido avanço no campo das ciências médicas, em especial, uma verificação independente dos diagnósticos e dosagens de drogas deve ser realizada. Embora todo o material de publicidade deva estar em conformidade com os padrões éticos (médicos), a inclusão nesta publicação não constitui uma garantia ou endosso da qualidade ou valor de tal produto ou das alegações feitas pelo seu fabricante. EM 5384 - Content dedicated to the medical community. Material de distribuição exclusiva à classe médica. INSTRUÇÕES PARA OS AUTORES A Revista Brasileira de Reumatologia (RBR), órgão oficial da Sociedade Brasileira de Reumatologia, foi fundada em 1957 e é publicada bimestralmente. A revista publica artigos originais, artigos de revisão, comunicações breves, relatos de casos e cartas aos editores. A submissão dos manuscritos deve ser realizada online através do site http://www.sgponline.com.br/rbr ou www.reumatologia.com.br/rbr. Uma autorização para publicação do manuscrito deve ser preenchida e enviada online no ato da submissão e uma cópia do documento enviada para a Secretaria da SBR: Secretaria Editorial RBR Revista Brasileira de Reumatologia Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 2.466 – conjs. 93-94 CEP: 01402-000 – São Paulo – SP – Brasil Tel./fax: (11) 3289-7165 e-mail: [email protected] A RBR segue as normas do Uniform Requirements for Manuscripts (URM) Submitted to Biomedical Journals desenvolvidas pelo The International Committee of Medical Journal Editors – ICMJE – fevereiro de 2006). Apresentação dos manuscritos Os manuscritos podem ser submetidos em português ou inglês e devem ser concisos, em espaço dois, com margens de 2,5 cm. No texto, não devem ser empregadas abreviaturas não convencionais, gírias (jargões) médicas ou redação de tipo telegráfico. A citação de medicamentos e produtos farmacêuticos deve ser feita utilizando-se apenas a nomenclatura farmacológica, sem menção do nome comercial. Quando necessário, é possível utilizar abreviaturas convencionais, desde que o seu significado apareça por extenso pelo menos na primeira vez em que forem citadas. Uma autorização para publicação do manuscrito deve ser preenchida e enviada online no ato da submissão e uma cópia do documento enviada para a Secretaria da SBR. Estrutura dos manuscritos As páginas devem ser numeradas em sequência a partir da página do título, incluindo as das tabelas e figuras. Página do título Deverá conter: a) título do artigo; b) o nome completo dos autores e sua titulação mais importante; c) nome do(s) departamento(s) e instituição(ões) a partir da(s) qual(ais) se originou o trabalho; d) nome, endereço e e-mail do autor responsável, para correspondência; e) se pertinente, agências financiadoras; f) se há ou não conflitos de interesses; g) um título resumido em português com no máximo 60 caracteres. Artigos originais Os artigos originais devem ser organizados de maneira a conter: página do título, página de resumo, com palavras-chave, introdução, material e métodos ou pacientes e métodos, resultados e discussão, agradecimentos, declaração de conflito de interesses, referências, tabelas, figuras e legendas das figuras. Os artigos originais não devem exceder 5.000 palavras, incluindo as referências e excluindo-se a página do título, resumo, tabelas e legendas e pode exibir até seis figuras ou tabelas e até 50 referências. Página de resumo Deverá conter os seguintes itens: a) objetivo, métodos, resultados e conclusões, não excedendo 250 palavras; b) três a cinco palavras-chave. Introdução A finalidade desta seção é definir o propósito e as razões para a realização do trabalho; não se recomenda extensa revisão da literatura. Pacientes e métodos ou material e métodos Deve incluir informações suficientes que permitam a reprodução do trabalho e, quando pertinente, a aprovação pelo comitê de ética institucional. Os métodos empregados na análise estatística devem ser sempre citados. Resultados Devem ser claros e concisos. Tabelas e gráficos não devem duplicar informações. Discussão Deve ser concisa, interpretando os resultados no contexto da literatura atual. É conveniente não ultrapassar a metade do número de páginas do trabalho completo. Agradecimentos Apenas às pessoas que contribuíram, por exemplo, com técnicas, discussão e envio de pacientes. Auxílio financeiro deve ser referido na página do título. Referências Deverão ocupar o fim do trabalho, de acordo com a ordem de citação no texto, no qual aparecerão em algarismos arábicos. Nas referências com mais de seis autores, devem ser citados os seis primeiros, seguidos pela expressão et al. Sugere-se a utilização dos programas Reference Manager ou Endnote seguindo-se o estilo “Vancouver”. A estrutura das referências de artigo impresso, trabalho extraído de endereço eletrônico assim como referência de livro é exemplificada abaixo. Os autores devem consultar o NLM’s Citing Medicine para maiores informações sobre os formatos das referências. Artigo de revista (1) Rivero MG, Salvatore AJ, Gomez-Puerta JA, Mascaro JM, Jr., Canete JD, Munoz-Gomez J et al. Accelerated nodulosis during methotrexate therapy in a patient with systemic lupus erythematosus and Jaccoud’s arthropathy. Rheumatology (Oxford). 2004; 43(12):1587-8. Artigo extraído de endereço eletrônico (2) Cardozo JB, Andrade DMS, Santiago MB. The use of bisphosphonate in the treatment of avascular necrosis: a systematic review. Clin Rheumatol 2008. Disponível em http://www.springerlink.com.w10069.dotlib.com.br/ content/l05j4j3332041225/fulltext. pdf. [Acesso em 24 de fevereiro de 2008]. Livro (3) Murray PR, Rosenthal KS, Kobayashi GS, Pfaller MA. Medical microbiology. 4th ed. St. Louis: Mosby; 2002. Tabelas e Figuras Cada tabela ou figura deverá ser apresentada em página individual após as referências, em espaço duplo, com cabeçalho, e numerada em algarismos arábicos. As legendas, também em espaço duplo, deverão ser agrupadas em páginas(s) separada(s). Tabelas e ilustrações devem ser autoexplicativas, incluindo informações suficientes para a sua compreensão sem que se tenha de recorrer ao trabalho. Fotomicrografias devem incluir a escala apropriada. Artigos de revisão Revisões, preferencialmente sistemáticas, podem ser submetidas à RBR. Devem abordar com profundidade um tema de interesse para o reumatologista. Não apresentam estruturação padronizada, prescindindo de introdução ou discussão. Devem apresentar um resumo sem subdivisões, com de 3 a 5 palavras-chave. Os artigos de revisão não devem exceder 6.000 palavras, incluindo as referências e excluindo-se a página do título, resumo, tabelas e legendas e pode exibir até cinco figuras ou tabelas e até 70 referências. Relatos de casos Conter no máximo seis autores. Devem incluir resumo e palavras-chave, sem necessidade de subdivisões. O texto, porém, deve apresentar as seguintes seções: introdução, que deve ser concisa, relato de caso, contendo a descrição e a evolução do quadro clínico, exames laboratoriais, ilustrações e tabelas (que substituem as seções material e métodos e resultados) e discussão, não excedendo 1.500 palavras, incluindo as referências e excluindo-se a página do título, resumo, tabelas e legendas e pode exibir até duas figuras ou tabelas e até 15 referências. Comunicações breves Abordam um ponto ou detalhe específico de um tema, não excedendo 2.500 palavras, incluindo as referências e excluindo-se a página do título, resumo, tabelas e legendas e podem exibir até três figuras ou tabelas e até 25 referências. Não incluem subdivisões, mas devem apresentar resumos, com no máximo 250 palavras e três a cinco palavras-chave. Considerações éticas e legais Segue as normas do Uniform Requirements for Manuscripts (URM) Submitted to Biomedical Journals desenvolvidas pelo The International Committee of Medical Journal Editors ( ICMJE) – fevereiro de 2006. Conflito de interesse A confiança pública no processo de revisão por pares e a credibilidade dos artigos publicados dependem, em parte, de como o conflito de interesse é administrado durante a redação, revisão por pares e a decisão editorial. O conflito de interesse existe quando um autor (ou instituição do autor), revisor ou editor tem relações financeiras ou pessoais que influenciem de forma inadequada (viés) suas ações (tais relações são também conhecidas como duplo compromisso, interesses conflitantes ou fidelidades conflitantes). Essas relações variam entre aqueles com potencial insignificante para aqueles com grande potencial para influenciar o julgamento, e nem todas as relações representam verdadeiro conflito de interesse. O potencial conflito de interesse pode existir dependendo se o indivíduo acredita ou não que a relação afete seu julgamento científico. Relações financeiras (tais como emprego, consultorias, posse de ações, testemunho de especialista pago) são os conflitos de interesse mais facilmente identificáveis e os mais susceptíveis de minar a credibilidade da revista, dos autores, e da própria ciência. No entanto, podem ocorrer conflitos por outras razões, tais como relações pessoais, competição acadêmica e paixão intelectual. Consentimento informado Os doentes têm o direito à privacidade que não deve ser infringida sem o consentimento informado. Identificação de informações, incluindo os nomes dos pacientes, iniciais ou números no hospital, não devem ser publicadas em descrições, fotografias e genealogias, a menos que a informação seja essencial para os propósitos científicos e o paciente (ou responsável) dê o consentimento livre e esclarecido para a publicação. O consentimento informado para este propósito requer que o manuscrito a ser publicado seja mostrado ao paciente. Os autores devem identificar os indivíduos que prestam assistência a escrever e divulgar a fonte de financiamento para essa assistência. Detalhes identificadores devem ser omitidos se não são essenciais. O anonimato completo é difícil de se conseguir, no entanto, no caso de qualquer dúvida, o consentimento deve ser obtido. Por exemplo, mascarar a região ocular em fotografias de pacientes é uma proteção de anonimato inadequada. Se as características de identificação são alteradas para proteger o anonimato, como na linhagem genética, os autores devem garantir que as alterações não distorçam significado científico. Quando o consentimento informado foi obtido, ele deve ser indicado no artigo publicado. Princípios éticos Ao relatar experimentos em seres humanos, os autores devem indicar se os procedimentos seguidos estiveram de acordo com os padrões éticos do comitê responsável por experimentação humana (institucional e nacional) e com a Declaração de Helsinki de 1975, revisado em 2000. Se houver dúvida se a pesquisa foi realizada em conformidade com a Declaração de Helsinki, os autores devem explicar a razão para sua abordagem e demonstrar que o corpo de revisão institucional aprovou explicitamente os aspectos duvidosos do estudo. Ao relatar experimentos com animais, os autores devem indicar se as orientações institucionais e nacionais para o cuidado e utilização de animais de laboratório foram seguidas. Registro de ensaios clínicos Os ensaios clínicos devem ser registrados segundo recomendação da OMS em www.who.int/ictrp/en/. A definição de ensaios clínicos incluem ensaios preliminares (fase I): um estudo prospectivo com o recrutamento de indivíduos submetidos a qualquer intervenção relacionada à saúde (medicamentos, procedimentos cirúrgicos, aparelhos, terapias comportamentais, regime alimentar, as mudanças nos cuidados de saúde) para avaliar os efeitos em desfechos clínicos (qualquer parâmetro biomédico e de saúde, inclusive medidas farmacocinéticas e reações adversas). A revista tem o direito de não publicar trabalhos que não cumpram estas e outras normas legais e éticas explicitadas nas diretrizes internacionais. Financiamento e apoio Os autores devem, também, informar se receberam financiamento ou apoio de instituições como CNPq, CAPES, Fundos Remanescentes da SBR, instituições universitárias, laboratórios, etc. Brazilian Society of Rheumatology (Sociedade Brasileira de Reumatologia) Founded on July 15, 1948 (Fundada em 15 de julho de 1948) Executive Board of Directors for the 2010-2012 Biennium Diretoria Executiva para o Biênio 2010-2012 President (Presidente) Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro, RJ General secretary (Secretária geral) Blanca Elena Rios Gomes Bica, RJ 1st secretary (1ª secretária) Claúdia Goldenstein Schainberg, SP 2nd secretary (2º secretário) Francisco José Fernandes Vieira, CE Treasurer (Tesoureiro) Reno Martins Coelho, RJ Vice-treasurer (Vice-tesoureiro) Manoel Barros Bértolo, SP Scientific director (Diretor científico) Luis Eduardo Coelho Andrade, SP Elected president (Presidente eleito) Walber Pinto Vieira, CE Representatives of PANLAR Representantes junto à PANLAR Fernando Neubarth, RS Maria Amazile Ferreira Toscano, SC Representatives of Ministry of Health Representante junto ao Ministério da Saúde Ana Patrícia de Paula, DF Mário Soares Ferreira, DF Representatives of AMB Representantes junto à AMB Eduardo de Souza Meirelles, SP Gustavo de Paiva Costa, DF Specialist Title Commission Rheumatology Aid Fund to Rheumatology Research and Teaching Conselho do Fundo de Auxílio à Pesquisa e Ensino em Reumatologia Acir Rachid, PR Adil Muhib Samara, SP Antônio Carlos Ximenes, GO Caio Moreira, MG Emília Inoue Sato, SP Fernando de Souza Cavalcanti, PE Fernando Neubarth, RS Flamarion Gomes Dutra, RJ Geraldo Gomes de Freitas, PE Geraldo Guimarães da Gama, MG Hilton Seda, RJ Iêda Maria Magalhães Laurindo, SP João Carlos Tavares Brenol, RS João Francisco Marques Neto, SP Nílzio Antônio da Silva, GO Rubem Lederman, RJ Sebastião Cezar Radominski, PR Wiliam Habib Chahade, SP Epidemiology and Health Economy Commission Comissão de Epidemiologia e Economia da Saúde Coordinators (Coordenadores) Mirhelen Mendes de Abreu, SP Sérgio Candido Kowalski, DF Members (Membros) Carlos Augusto F de Andrade, RJ Eutília Andrade Medeiros Freire, PB Jussara de Almeida L Kochen, SP Marta Maria das Chagas Medeiros, CE Sandra Lúcia Euzébio Ribeiro, AM Comissão de Comunicação Social Media Commission Boletim SBR (SBR Bulletin) Conselho Editorial (Editorial Council) Kaline Medeiros Costa Pereira, SP Marcelo de Medeiros Pinheiro, SP Editores (Editors) Diogo Souza Domiciano, SP Edgard Torres dos Reis Neto, SP Francinne Machado Ribeiro, RJ Colaborador (Collaborator) Plínio José do Amaral, SP Revista Brasileira de Reumatologia Brazilian Journal of Rheumatology Editores (Editors) Max Victor Carioca Freitas, CE Paulo Louzada-Junior, SP Coeditores (Coeditors) Eloísa Silva Dutra de Oliveira Bonfá, SP Hilton Seda, RJ João Carlos Tavares Brenol, RS Mittermayer Barreto Santiago, BA Ricardo Fuller, SP Site Coordinators (Coordenadores) Marcelo Cruz Rezende, MS Maria Roseli Monteiro Callado, CE Werner Tadeu Muller, SP Ethics, Discipline, and Professional Defense Commission Comissão de Ética e Disciplina e Defesa Profissional Coordinators (Coordenadores) Comissão de Título de Especialista Comissão de Reumatologia Pediátrica Coordinator (Coordenadora) Pediatric Rheumatology Commission José Marques Filho, SP Emília Inoue Sato, SP Coordinators (Coordenadores) Members (Membros) Members (Membros) Cláudio Arnaldo Len, SP Alexandre Wagner S Souza, SP Caio Moreira, MG Eutilia Andrade Medeiros Freire, PB Fernanda Rodrigues Lima, SP José Carlos Mansur Szajubok, SP José Tupinambá Souza Vasconcelos, PI Francisco Aires Correia de Lima, DF Mauro Goldfarb, RJ Mauro Waldemar Keisermann, RS Valéria Valim Cristo, ES Members (Membros) Ana Julia Moraes Garcia, PA Ana Karina Soares Nascif, ES André de Souza Cavalcanti, PE Clóvis Artur Almeida da Silva, SP Flávio Roberto Sztajnbok, RJ Ilóite Maria Scheibel, RS Márcia Bandeira, PR Maria Teresa R A Terreri, SP Maria Vitória Pádua de Quintero, MG Cássia Bossi Semmelmann, SP Georges Basile Christopoulos, AL Maria Amazile Ferreira Toscano,SC Paulo Roberto Stocco Romanelli, SP Tatiana Freitas Tourinho, RS Teaching and Medical Education Commission Comissão de Ensino e Educação Médica Members (Membros) Ricardo Machado Xavier, RS Members (Membros) Ângela Luiza Branco Pinto Duarte, PE César Emile Baakline, SP Charles Lubianca Kohem, RS Cristina Costa Duarte Lanna, MG Elisa Martins das N de Albuquerque, RJ José Roberto Provenza, SP Jozélia Rego, GO Luiz Fernando de Souza Passos, AM Maria José Pereira Vilar, RN Samuel Katsuyuki Shinjo, SP Congresses, Journeys, and Events Commission Comissão de Congressos, Jornadas e Eventos Coordinators (Coordenadores) Fernando Neubarth, RS Georges Basile Christopoulos, AL José Roberto Provenza, SP Commission of Relations with Groups of Patients Comissão de Relações com Grupos de Pacientes Coordinators (Coordenadores) Helenice Alves Teixeira Gonçalves, DF Members (Membros) Ana Maria Camargo Gallo, SC Eduardo de Souza Meirelles, SP Elizabeth Andrade Tavares, SE Francisco José Fernandes Vieira, CE Luis Piva Júnior, DF Valderílio Feijó Azevedo, PR Wanda Heloisa Rodrigues Ferreira, RJ Occupational Rheumatology Commission Comissão de Reumatologia Ocupacional Coordinator (Coordenador) Milton Helfenstein Júnior, SP Members (Membros) Anna Beatriz Assad Maia Sandoval, DF Antônio Techy, PR César Augusto Fávaro Siena, SP Mário Soares Ferreira, DF Brazilian BIOBADA Commission Comissão do BIOBADA Brasil Coordinator (Coordenador) David Cezar Titton, PR Members (Membros) Aline Ranzolin, PE André Luiz Shinji Hayata, SP Hellen Mary da Silveira de Carvalho, DF Paulo Louzada-Junior, SP Roberto Ranza, MG Rheumatoid Arthritis Commission Procedures Commission Comissão de Artrite Reumatoide Comissão de Procedimentos Coordinator (Coordenadora) Coordinators (Coordenadores) Licia Maria Henrique da Mota , DF Jamil Natour, SP Andrea B Vannucci Lomonte, SP Luiza Helena Coutinho Ribeiro, SP Monique Sayuri Konai, SP Rita Nely Vilar Furtado, SP Members (Membros) Bóris Afonso Cruz, MG Claiton Viegas Brenol, RS Ivânio Alves Pereira, SC Lucila Stange Rezende Fronza, PR Manoel Barros Bertolo, SP Max Victor Carioca Freitas, CE Nilzio Antônio da Silva, GO Paulo Louzada-Junior, SP Rina Dalva Neubarth Giorgi, SP Rodrigo Aires Corrêa Lima, DF Osteoarthrosis Commission Comissão de Osteoartrose Coordinator (Coordenador) Francisco Airton Castro da Rocha, CE Members (Membros) Antônio Carlos dos Santos Novaes, SP Elda Matilde Hirose Pastor, SP Francisco Saraiva da Silva Júnior, CE Hilton Seda, RJ Ibsen Bellini Coimbra, SP Ricardo Fuller, SP Vasculopathies Commission Comissão de Vasculopatias Coordinator (Coordenador) Roger Abramino Levy, RJ Members (Membros) Adriana Danowski, RJ Adriana Maria Kakehasi, MG Alexandre Wagner S de Souza, SP Andreas Funke, PR Benedito do Espirito Santo Campos, SP Henrique Luiz Staub, RS Isabella Vargas de Souza Lima, BA Jozélia Rego, GO Jozélio Freire de Carvalho, SP Image Commission Comissão de Imagem Coordinator (Coordenador) José Alexandre Mendonça, SP Members (Membros) Andrea B Vannucci Lomonte, SP Cristiane Kayser Veiga da Silva, SP Iêda Maria Magalhães Laurindo, SP Inês Guimarães Silveira, RS Jamil Natour, SP José Carlos Amaral Filho, MS Karine Rodrigues da Luz, SP Simone Appenzeller, SP Verônica Silva Vilela, RJ Lupus Commission Comissão de Lúpus Coordinator (Coordenador) Evandro Mendes Klumb, RJ Members (Membros) Domingos Sávio Nunes de Lima, AM Eduardo Ferreira Borba Neto, SP Elisa Martins das Neves de Albuquerque, RJ Emília Inoue Sato, SP Gilda Aparecida Ferreira, MG João Carlos Tavares Brenol, RS Lilian Tereza Lavras Costallat, SP Luiz Carlos Latorre, SP Maria Fernanda B de Resende Guimarães, ES Mittermayer Barreto Santiago, BA Spinal Commission Comissão de Coluna Vertebral Coordinator (Coordenador) Marcos Renato de Assis, SP Members (Membros) Ari Stiel Radu Halpern, SP Jamil Natour, SP Luíza Helena Coutinho Ribeiro, SP Renê Donizeti Ribeiro de Oliveira, SP Silvio Figueira Antonio, SP Washington Alves Bianchi, RJ Osteomethabolic Diseases and Osteoporisis Commission Comissão de Doenças Osteometabólicas e Osteoporose Coordinator (Coordenadora) Rosa Maria Rodrigues Pereira, SP Members (Membros) Ana Patricia de Paula, DF Cristiano Augusto de F Zerbini, SP Elaine de Azevedo, SP Jaime Sanson Danowski, RJ Laura Maria C de Mendonça, RJ Mailze Campos Bezerra, CE Marco Antonio Rocha Loures, PR Sebastião Cezar Radominski, PR Tatiana Freitas Tourinho, RS Vera Lúcia Szejnfeld, SP Spondiloarthropathies Commission Comissão de Espondiloartropatias Coordinator (Coordenador) Percival Degrava Sampaio-Barros, SP Members (Membros) Members (Membros) Antônio Carlos Ximenes, GO Célio Roberto Gonçalves, SP Eduardo de Souza Meirelles, SP Marcelo Medeiros Pinheiro, SP Mauro Waldemar Keisermann, RS Roberto Ranza, MG Rubens Bonfiglioli, SP Sueli Coelho da Silva Carneiro, RJ Valderílio Feijó Azevedo, PR Adriana Fontes Zimmermann, SC Carolina de Souza Muller, PR Cristiane Kayser Veiga da Silva, SP Eutília Andrade Medeiros Freire, PB Giselle Baptista Maretti, RJ João Francisco Marques Neto, SP Maria Cecília Fonseca Salgado, RJ Maria de Fátima Lobato da Cunha Sauma, PA Maria Teresa Correia Caleiro, SP Pain, Fibromyalgia and Other Painful Syndromes of the Soft Parts Commission SBR – Regionals Comissão de Dor, Fibromialgia e Outras Síndromes Dolorosas de Partes Moles Rheumatology Society of Alagoas Coordinator (Coordenador) Sociedade Amazonense de Reumatologia Roberto Ezequiel Heymann, SP Rheumatology Society of Amazonas Members (Membros) Aline Ranzolin, PE Daniel Feldman Pollak, SP Eduardo dos Santos Paiva, PR Eduardo José do Rozário e Souza, MG José Eduardo Martinez, SP José Roberto Provenza, SP Luiz Severiano Ribeiro, MG Marcelo Cruz Rezende, MS Documentation and Historical Registry Commission Regionais – SBR Sociedade Alagoana de Reumatologia Dra. Janaina Rozendo F dos Santos Dra. Maria do Socorro A de Souza Sociedade Baiana de Reumatologia Rheumatology Society of Bahia Dra. Carla Souza Macedo Sociedade de Reumatologia de Brasília Rheumatology Society of Brasília Dr Rodrigo Aires Correa Lima Sociedade Catarinense de Reumatologia Rheumatology Society of Santa Catarina Dr. Gláucio Ricardo Werner de Castro Sociedade Cearense de Reumatologia Rheumatology Society of Ceará Comissão de Documentação e Registro Histórico Dr. Jose Gerardo Araújo Paiva Coordinator (Coordenador) Rheumatology Society of Goiania Joaquim Jaguaribe Nava Ribeiro, RJ Members (Membros) Célio Roberto Gonçalves, SP Henrique Josef, SP José Eduardo Gonçalves, CE José Knoplich, SP José Marques Filho, SP Lauredo Ventura Bandeira, SP Lipe Goldenstein, BA Systemic Sclerosis Commission Comissão de Esclerose Sistêmica Sociedade Goiana de Reumatologia Dra. Eleusa Fleury Taveira Sociedade Maranhense de Reumatologia Rheumatology Society of Maranhão Dr. Jose Mauro Carneiro Fernandes Sociedade Paraense de Reumatologia Rheumatology Society of Pará Dra. Maria de Fátima Lobato da Cunha Sauma Sociedade Paraibana de Reumatologia Rheumatology Society of Paraíba Dra. Eutília Andrade Medeiros Freire Sociedade Paranaense de Reumatologia Rheumatology Society of Paraná Dra. Marilia Barreto Gameiro Silva Sociedade Pernambucana de Reumatologia Rheumatology Society of Pernambuco Dra. Lílian David de Azevedo Valadares Sociedade Piauiense de Reumatologia Rheumatology Society of Piauí Dra. Joelma Moreira de Norões Ramos Sociedade de Reumatologia do Espírito Santo Rheumatology Society of Espírito Santo Dra. Valeria Valim Cristo Sociedade de Reumatologia do Mato Grosso do Sul Rheumatology Society of Mato Grosso do Sul Dr. Marcelo Cruz Resende Sociedade de Reumatologia do Rio de Janeiro Rheumatology Society of Rio de Janeiro Dra. Francinne Machado Ribeiro Sociedade de Reumatologia do Rio Grande do Norte Rheumatology Society of Rio Grande do Norte Dr. Francisco Deoclécio Damasceno Rocha Sociedade de Reumatologia do Rio Grande do Sul Rheumatology Society of Rio Grande do Sul Dra. Inês Guimarães da Silveira Sociedade Sergipana de Reumatologia Rheumatology Society of Sergipe Dra. Mônica Valeria S. Santana de Vecchi Associação Mato-Grossense de Reumatologia Rheumatology Society Mato Grosso Dr. Vander Fernandes Sociedade Mineira de Reumatologia Rheumatology Society of Minas Gerais Dra. Cristina Costa Duarte Lanna Sociedade Paulista de Reumatologia Coordinator (Coordenador) Rheumatology Society of São Paulo Percival Degrava Sampaio-Barros, SP Dr. Luis Carlos Latorre Brazilian Society of Rheumatology (Sociedade Brasileira de Reumatologia) Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, 2.466 – conjs. 93-94 – CEP (CEP): 01402-000 – São Paulo, SP, Brazil Tel/fax: 55 11 3289-7165 E-mail: [email protected], [email protected] Website:www.reumatologia.com.br BRAZILIAN JOURNAL OF RHEUMATOLOGY REVISTA BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA Official Organ of Brazilian Society of Rheumatology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Reumatologia jan/feb 2011 • Volume 51 • NUMBER 1 jan/fev 2011 • VOLUME 51 • NÚMERO 1 ISSN: 0482-5004 Editorial | editorial 1 4 The Brazilian Journal of Rheumatology over the last ten years – a Scientometrics-based view A Revista Brasileira de Reumatologia nos últimos dez anos – uma visão baseada em Cienciometria Paulo Louzada-Junior, Max Victor Carioca Freitas Original article | Artigo original 7 13 Assessing knowledge on fibromyalgia among internet users Avaliação do nível de conhecimento sobre fibromialgia entre usuários da internet Felipe Azevedo Moretti, Roberto Ezequiel Heymann, Valdecir Marvulle, Daniel Feldman Pollak, Rachel Riera 20 29 Potential drug interactions in patients with rheumatoid arthritis Potenciais interações medicamentosas em pacientes com artrite reumatoide Fabíola Bagatini, Carine Raquel Blatt, Gabriela Maliska, Gunter Voges Trespash, Ivânio Alves Pereira, Adriana Fontes Zimmermann, Bernd Heinrich Storb, Mareni Rocha Farias 40 46 Low prevalence of reactive PPD prior to infliximab use: comparative study on a population sample of the Hospital Geral de Fortaleza Baixa prevalência de PPD reativo prévia ao uso de infliximabe: estudo comparativo em população amostral do Hospital Geral de Fortaleza Maria Roseli Monteiro Callado, José Rubens Costa Lima, Christiane Aguiar Nobre, Walber Pinto Vieira 53 61 Translation into Brazilian Portuguese and validation of the fivepart questionnaire for identifying hypermobility Tradução e validação do The five part questionnaire for identifying hypermobility para a língua portuguesa do Brasil Daniela Aparecida de Moraes, Carlos Alberto Baptista, José Alexandre Souza Crippa, Paulo Louzada-Junior review article | Artigo de revisão 70 75 Assessment measures in systemic lupus erythematosus Medidas de avaliação em lúpus eritematoso sistêmico Eutília Andrade Medeiros Freire, Laís Medeiros Souto, Rozana Mesquita Ciconelli 81 88 The respiratory tract and juvenile rheumatic diseases O aparelho respiratório e as doenças reumáticas da infância e da adolescência Vinicius Domingues, Marta Cristine Félix Rodrigues, Christianne Costa Diniz, Rozana Gasparello de Almeida, Flavio Roberto Sztajnbok case report | relato de caso 97 100 Tropical pyomyositis in a patient with systemic lupus erythematosus and HTLV 1/2 infection Piomiosite tropical em paciente com lúpus eritematoso sistêmico e infecção por HTLV 1/2 Hérica Cristiani Barra de Souza, Barbara Nascimento de Carvalho, Marina Gonçalves Veras de Morais, Guilherme Zager Monteiro, Fabiano Takaaki Emori, Luiz Carlos Latorre 104 106 IgA nephropathy in spondyloarthritis Nefropatia por IgA nas espondiloartrites Daniela Castelo Azevedo, Gilda Aparecida Ferreira, Marco Antônio P. Carvalho editorial A Revista Brasileira de Reumatologia nos últimos dez anos – uma visão baseada em Cienciometria C ienciometria é o estudo dos aspectos quantitativos da ciência enquanto uma disciplina ou atividade econômica. A cienciometria é um segmento da sociologia da ciência, sendo aplicada ao desenvolvimento de políticas científicas. Envolve estudos quantitativos das atividades científicas, incluindo a publicação e, portanto, sobrepondo-se à bibliometria. Nestes últimos dez anos, inúmeros foram os esforços empreendidos pela Sociedade Brasileira de Reumatologia no intuito de se obter melhorias na editoração dos artigos e em aumentar a visibilidade da nossa revista. Dentre eles, está a indexação da revista nas seguintes bases de dados: LILACS, SciELO, Scopus® e Index Copernicus. Atualmente, com a indexação ao PubMed, a nossa visibilidade no meio científico internacional foi ampliada. Dentre esses bancos de dados, o fornecido pelo Scopus® permitiu traçar um perfil cienciométrico da nossa revista nestes últimos dez anos. Antes de analisar os dados da nossa revista, seria importante definir alguns parâmetros utilizados na cienciometria. O primeiro deles é o fator de impacto (FI). O FI foi criado para tentar medir qualidade. A qualidade pode ser estabelecida pré-publicação, com a participação dos revisores realizando peer-review, e pós-publicação, com a computação das citações. Existem dois sistemas de indexação que geram fator de impacto. O mais divulgado é o ISI-JCR®, estabelecido pela base de dados Web of Science®, mantido pela Thomson Reuters®. Ele é calculado segundo o exemplo: Fator de Impacto® = 2010-JCR 4 número de citações em 2009 dos artigos publicados 2007-2008 número de artigos publicados na revista em 2007-2008 Analisando esta fórmula de cálculo, o fator de impacto de uma revista em 2010 dependerá das citações que ocorreram em 2009, referentes aos artigos publicados pela revista no biênio anterior (2007-2008). Assim, se uma revista obteve 140 citações em 2009 (referente aos artigos do biênio 2007-2008), ao dividir pelo número de artigos publicados no biênio 20072008 (por exemplo, 140 artigos), o fator de impacto do ano de 2010 será igual a um. O outro fator de impacto é o SJR, estabelecido pelo sistema de indexação Scopus-SCIMAGO®, mantido pela Elsevier. A medida do fator de impacto do SCIMAGO® é muito semelhante ao do ISI-JCR®, com coeficiente de regressão igual a 0,97. Assim, A RBR será analisada a partir dos dados originados a partir do sistema de indexação do Scopus-SCIMAGO® (www.scimagojr.com), sistema este aberto e gratuito para toda a comunidade científica. Na Tabela 1, estão representados os parâmetros da RBR durante os últimos dez anos (1999-2008). Nesse período, o índice de impacto do SCIMAGO-SJR® da RBR caiu de 0,045 para 0, 031, sendo que nos anos 2004 e 2005 ele foi zero. O total de artigos publicados por ano variou de 53 a 92 artigos, sendo que nos anos de 2001, 2002, 2003 e 2004 não houve indexação. A RBR é um periódico com autocitação pequena. No caso, autocitação é definida em relação à revista e não ao autor. Por exemplo, se um periódico tem 20% de autocitação, significa que em média 20% dos artigos presentes na lista de referências foram publicados pelo mesmo periódico. Em relação ao ano de 2008, ocorreram somente 15 autocitações do total de artigos publicados na RBR, valor bastante reduzido se considerarmos que nesse mesmo ano a RBR citou 1.497 artigos. Assim, o índice de autocitação é de 1%, o que contribui para o baixo Rev Bras Reumatol 2011;51(1):1-6 editorial fator de impacto da revista. Para exemplificar, o Arthritis & Rheumatism tem 10% de autocitação e o Annals Rheumatic Diseases possui 8%. Interessante observar que o FI do Annals aumentou em relação diretamente proporcional ao aumento da autocitação. Em 1999, o Annals apresentava FI igual a 2,07 e autocitação de 1,5%. Em 2008, o FI subiu para 6,67 e autocitação para 16%. A Thomson Reuters® (Web of Science®) e a Scopus® consideram limite de 50% para autocitação, considerando ideal 20% a 30%. Desta forma, devemos estimular os autores a citar artigos anteriormente publicados pela RBR pertinentes ao trabalho científico a ser publicado. Se não valorizarmos o que publicamos, poucos também o farão. O índice cites/doc – 2 years – é calculado da mesma forma que o calculado pelo fator de impacto do JCR do Web of Science® (Tabela 1). O índice da RBR melhorou durante os últimos dez anos, saindo de 0,07 em 1999, obtendo o valor de 0,23 em 2008. A melhora do índice ocorreu pelo aumento do número de documentos citados por ano (cited docs, Tabela 1) na década analisada, chegando a 38 citações em 2008. Possível explicação para esse aumento foi a publicação de consensos de tratamentos pela SBR, durante o biênio 2007-2008. Em uma situação hipotética, caso houvesse a indexação da RBR pela Web of Science®, o fator de impacto ISI-JCR® aproximado seria de 0,20. A Figura 1 mostra o desempenho da RBR durante os anos 2001-2008, mostrando a evolução do SJR, do fator de impacto, número de citações em 2 anos, número de artigos publicados nestes 2 anos (semelhante ao FI do JCR) e o total de citações por ano. O SCIMAGO disponibiliza gratuitamente a inclusão desta figura no site da revista. Na Tabela 2, estão representadas as comparações por ano do índice cites/doc 2 years (número de citações a cada 2 anos/número de artigos publicados no biênio, equivalente ao F­I-JCR-ISI®), entre a revista de maior fator de impacto (Arthritis & Rheumatism), a revista que ocupa a última posição do Quartil 2 (Q2 – Pediatric Rheumatology), a revista que ocupa o primeiro lugar do Q3 (Acta Ruematologica Portuguesa), a revista que ocupa o último lugar do Q3 (International Journal of Rheumatic Diseases) e a Revista Brasileira de Reumatologia que ocupa o primeiro lugar do Q4. A RBR passou a ter indexação a partir de 2006, com aumento progressivo do seu fator de impacto. Caso estivéssemos indexados no Web of Science®, este possivelmente seria o FI-JCR da nossa revista. É interessante observar que revistas recentemente indexadas ao Scopus®, como a Pediatric Rheumatology e a Acta Reumatologica Portuguesa rapidamente alcançaram FI superiores ao da RBR (Tabela 2). Figura 1. Revista Brasileira de Reumatologia Indicador 2001-2008 Valor SJR 0,03 Citações por doc 0,23 Total de citações 47 www.scimagojr.com Tabela 1 Análise da Revista Brasileira de Reumatologia pelo SCIMAGO-SJR, ano base de 2009, biênio 2007-2008 Indicadores 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 SJR 0,045 0,042 0,039 0,041 0,038 0 0 0,031 0,03 0,031 Total de documentos Total de referências Autocitação (3anos) Documentos citáveis (3 anos) 75 53 0 0 0 0 80 92 74 70 1,884 1,441 0 0 0 0 1,756 2,125 1,868 1,497 0 5 0 0 0 0 0 3 9 15 132 196 177 110 46 0 0 65 147 217 Citações / Documento (2 anos) 0,07 0,05 0,02 0 0 0 0 0,05 0,11 0,23 Referências / Documento 25,12 27,19 0 0 0 0 21,95 23,1 25,24 21,39 Documentos citados Documentos não citados % Colaboaração Internacional 8 11 2 2 1 0 0 3 16 38 143 215 208 126 52 0 0 77 156 208 0 0 0 0 0 0 58,75 47,83 21,62 11,43 SJR: SCImago Journal & Country Rank: http://www.scimagojr.com, acessado em 30 de setembro 2010. Rev Bras Reumatol 2011;51(1):1-6 Rev Bras Reumatol 2010;50(6):609-12 editorial Tabela 2. Comparação entre as revistas de maior fator de impacto do quartil 1 (Q1, Arthritis & Rheumatism), do quartil 2 (Q2, Pediatric Rheumatology), do quartil 3 (Q3, Acta Reumatologica Portuguesa), a de menor fator de impacto do quartil 3 (International Journal of Rheumatic Diseases) e a de maior fator de impacto do quartil 4 (Q4, Revista Brasileira de Reumatologia) Journal 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Arthritis and Rheumatism (Q1) 5,37 5,692 6,198 6,900 7,193 8,471 8,461 8,956 8,203 7,698 Pediatric Rheumatology (Q2) 0,00 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,824 Acta Reumatologica Portuguesa (Q3) 0,00 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,161 0,613 International Journal of Rheumatic Diseases (Q3) 0,00 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,255 0,161 0,226 0,264 Revista Brasileira de Reumatologia (Q4) 0,06 0,053 0,018 0,000 0,000 0,000 0,000 0,046 0,109 0,230 Para que este índice aumente, será necessário aumentar o número de citações dos artigos da revista durante o ano de 2010, referente aos artigos publicados no biênio de 2008-2009. Novamente enfatizamos a necessidade de os novos autores da RBR prestigiarem a revista, não só por meio da submissão de artigos originais, mas também citando os artigos publicados na RBR em suas publicações em outros periódicos e na própria RBR. Em continuidade aos valorosos esforços realizados por todos os editores que nos precederam, a nossa meta principal será tentar manter regular a sua periodicidade. Periodicidade é o parâmetro número um para indexação e manutenção de indexação em qualquer base de dados, seja PubMed, Web of Science® e Scopus®. Mantendo a linha editorial prévia, a RBR priorizará artigos originais, limitando a publicação de casos clínicos para 2 a 3 por fascículo. A RBR continuará bilíngue, tanto a submissão quanto a publicação. Além disso, tentaremos 6 reduzir o tempo entre a submissão e a publicação na revista, incluindo o sistema de publicação on-line first. Por fim, gostaríamos de agradecer a confiança depositada, especialmente ao presidente Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro, por este grande desafio de editar a Revista Brasileira de Reumatologia. Paulo Louzada-Junior, MD Max Victor Carioca Freitas, MD Editores-chefe da Revista Brasileira de Reumatologia 2011 REFERENCES REFERÊNCIAS 1. SCImago. (2007). SJR – SCImago Journal & Country Rank, retrieved on September 30, 2010, from http://www.scimagojr.com. Rev Bras Reumatol 2011;51(1):1-6 Artigo original Avaliação do nível de conhecimento sobre fibromialgia entre usuários da internet Felipe Azevedo Moretti1, Roberto Ezequiel Heymann2, Valdecir Marvulle3, Daniel Feldman Pollak4, Rachel Riera5 Resumo Objetivo: Analisar o nível de conhecimento sobre fibromialgia em uma amostra incluindo pacientes, familiares e profissionais de vários estados do Brasil. Métodos: Análise dos resultados de 362 adultos que acessaram o site do Grupo de Apoio à Fibromialgia (www.unifesp.br/grupos/fibromialgia) e responderam a um questionário eletrônico de conhecimento sobre a síndrome. As respostas foram avaliadas em relação a idade, sexo, nível de escolaridade e tipo de interesse no Grupo. Resultados: 92% eram mulheres e 62% haviam completado o ensino superior. O pior resultado foi no domínio “proteção articular e conservação de energia”, seguido pelo domínio “conhecimento sobre medicação”. O melhor resultado ocorreu no domínio “exercícios para fibromialgia”. Houve diferença significativa entre os gêneros, sendo as mulheres responsáveis por um porcentual maior de acertos. O gênero feminino foi responsável por um resultado estatisticamente superior em cinco análises estatísticas (quatro perguntas e um domínio). Conclusões: O estudo sugere a necessidade de um planejamento estratégico para ações educativas sobre fibromialgia no Brasil. Palavras-chave: fibromialgia, educação, conhecimento, internet. [Rev Bras Reumatol 2011;51(1):7-19] ©Elsevier Editora Ltda. INTRODUÇÃO A abordagem educacional é um procedimento de grande relevância no tratamento da fibromialgia.1,2,3 Segundo Cedraschi e sua equipe,4 o processo educativo sobre fibromialgia deve incluir orientações sobre a síndrome, aulas de automanejo dos sintomas, prática de exercícios físicos,5,6 discussões sobre o tratamento medicamentoso e outras abordagens cognitivas e/ ou comportamentais.7 Bodenheimer et al.8 sugerem que os programas educacionais são capazes de gerar redução do uso de medicamentos, do número de visitas ao médico9 e do tempo de internação hospitalar.10 Embora tenha sido possível identificar diversos estudos que sinalizam a importância da educação para o tratamento da síndrome, é relativamente pequeno o conhecimento sobre a eficácia das distintas estratégias educacionais adotadas. Nas pesquisas sobre educação em fibromialgia, geralmente se avaliam aspectos clínicos, como dor, humor e qualidade de vida, mas não é comum que se analise o grau de conhecimento sobre a doença que os pacientes têm ou venham a adquirir com o programa.4 No entanto, esse é um processo extremamente importante, pois o objetivo maior da educação em saúde é a aquisição de conhecimento específico sobre a doença, a fim de auxiliar os pacientes no manejo e enfrentamento das condições crônicas.11 Submetido em 4/3/2010. Aprovado, após revisão, em 12/12/2010. Declaramos a inexistência de conflito de interesse. Comitê de ética nº 0179/08. Universidade Federal de São Paulo – Unifesp. 1. Pós-Graduando do Centro Cochrane do Brasil – Unifesp; MBA em Economia e Gestão em Saúde 2. Professor Doutor em Reumatologia pela Unifesp 3. Professor Doutor da Universidade Federal do ABC – UFABC 4. Professor Doutor da Unifesp – Doutorado em Reumatologia 5. Mestrado pelo Centro Cochrane do Brasil; Pesquisadora do Centro Cochrane Correspondência para: Felipe Azevedo Moretti. Rua Pedro de Toledo, 598, Vila Clementino, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected]. Rev Bras Reumatol 2011;51(1):7-19 13 Moretti et al. Instrumentos capazes de mensurar conhecimentos específicos podem ser úteis nas políticas de saúde pública, pois são marcadores importantes no auxílio às necessidades específicas de determinado grupo ou programa.12 Com esse objetivo, foi aplicado um questionário a respeito de fibromialgia (FKQ),13 desenvolvido na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), como forma de identificar eventuais estratégias de educação para uma população específica: indivíduos que buscam informações sobre saúde na internet. MÉTODOS Inicialmente foi desenvolvido um portal na internet (www. unifesp.br/grupos/fibromialgia) capaz de fornecer orientações sobre fibromialgia e atrair indivíduos interessados no tema. Nesse portal, foi disponibilizada uma versão on-line do questionário FKQ, com o seguinte convite: “teste seu conhecimento sobre fibromialgia”. Antes de seu preenchimento, os indivíduos eram orientados a inserir dados como: sexo, idade, escolaridade, tipo de usuário (paciente, amigo ou parente, profissional interessado em conteúdo científico). Após o preenchimento, o indivíduo recebia um feedback quanto à sua porcentagem de acertos. Os usuários do site também foram incentivados a deixar contribuições por e-mail sobre as reivindicações e necessidades específicas relativas à fibromialgia. Na análise dos resultados, foram considerados os domínios do questionário FKQ: “Conhecimento Geral sobre a Fibromialgia” (Perguntas 1 a 5), “Medicamentos na Fibromialgia” (Perguntas 6 a 9), “Exercícios na Fibromialgia” (Perguntas 10 a 13) e “Proteção Articular e Conservação de Energia” (Perguntas 14 a 18). Os dados foram coletados durante seis meses (de novembro de 2008 a abril de 2009) após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital São Paulo, sob o Protocolo nº 0179/08. Os dados foram armazenados e avaliados por meio do programa estatístico SPSS, versão 2004. Na análise estatística, levou-se em conta a soma dos acertos totais, ou seja, o indivíduo que acertava a resposta toda recebia pontuação equivalente a 1 (um), enquanto aquele que acertava apenas parte recebia pontuação proporcional. Foi analisada também a proporção de acertos e erros relacionada aos dados solicitados (gênero, idade, escolaridade e tipo de usuário). Foram utilizados os seguintes testes estatísticos: qui-quadrado, Mann-Whitney, Friedman, teste de Fisher e teste binomial. RESULTADOS Em um período de seis meses, o site registrou 4.224 acessos, com uma média de 704 acessos por mês. Do total de acessos, 14 362 pessoas responderam ao FKQ e 95 indivíduos enviaram e-mails com sugestões sobre necessidades específicas relativas à fibromialgia. A idade média dos indivíduos que responderam ao FKQ foi de 40 anos. Da amostra estudada, 92% eram mulheres e 8%, homens. Quanto ao nível de escolaridade, 62% tinham ensino superior completo, 36% haviam concluído o ensino médio e 2% haviam completado apenas o ensino básico. Das 329 pessoas que responderam sobre o perfil de interesse no site, 84% eram pacientes, 9% declararam-se amigos ou familiares de pacientes com fibromialgia e 7% afirmaram ser profissionais com interesse científico no Grupo. A Tabela 1 apresenta a frequência de acerto das respostas. Tabela 1 Aproveitamento dos 362 indivíduos conforme as perguntas do questionário Acertos (%) Número Pergunta 2 Quais são os principais sintomas da fibromialgia? 92 3 Além dos sintomas já elencados, escolha mais um que possa estar presente. 92 12 Qual é a melhor maneira de um paciente com fibromialgia se exercitar? 92 14 Qual é a melhor maneira de você conservar sua energia? 90 10 Qual a alternativa correta quanto à atividade física no tratamento da fibromialgia? 89 15 São maneiras corretas de conservar sua energia... 88 5 O que pode acontecer ao paciente devido à fibromialgia? 86 8 Quais são as melhores associações de tratamento para fibromialgia? 86 13 Melhores métodos de reabilitação do paciente com fibromialgia 86 4 O que é necessário para se confirmar o diagnóstico da fibromialgia? 82 11 Qual é a importância dos exercícios para quem tem fibromialgia? 82 18 Assinale uma alternativa correta sobre a fibromialgia. 82 7 São remédios receitados no tratamento da fibromialgia... 79 6 Quais são os medicamentos mais indicados no tratamento da fibromialgia? 78 1 Assinale duas alternativas corretas sobre a causa da fibromialgia. 69 9 Quais os efeitos colaterais mais comuns dos medicamentos usados na fibromialgia? 61 16 Qual é a melhor maneira de proteger as articulações (juntas)? 57 17 Qual é a melhor maneira de proteção articular? 27 Rev Bras Reumatol 2011;51(1):7-19 Avaliação do nível de conhecimento sobre fibromialgia entre usuários da internet A análise estatística mostra maior frequência de acertos nas respostas de participantes do gênero feminino. A maior diferença entre os dois gêneros foi observada na Questão 11, que aborda a importância dos exercícios físicos para a fibromialgia (Tabela 2). Observou-se diferença significativa quanto à escolaridade nas respostas de números 4 (P = 0,008), 10 (P = 0,005) e 14 (P = 0,007), conforme apresentado na Tabela 3. Não foram encontradas diferenças significativas entre “nível médio” e “nível superior” nas análises das respostas às perguntas 4 e Tabela 2 Diferenças significativas na quantidade de respostas corretas de acordo com o sexo Masculino Pergunta 5. Com o passar do tempo, o que pode acontecer ao paciente devido à fibromialgia? 11. Qual a importância dos exercícios para quem tem fibromialgia? 13. Escolha os dois melhores métodos que podem ser utilizados na reabilitação do paciente com fibromialgia. 14. Qual é a melhor maneira de você conservar sua energia? 15. Quais são as outras maneiras corretas de você conservar sua energia? Feminino Acertos n % n % 0 acertos em 2 5 17,9 17 5,1 1 acertos em 2 3 10,7 58 17,5 2 acertos em 2 20 71,4 257 77,4 100,0 Total 28 100,0 332 0 acerto em 1 10 35,7 56 16,9 1 acertos em 1 18 64,3 276 83,1 Total 28 100,0 332 100,0 0 acertos em 2 4 14,3 22 6,6 1 acertos em 2 7 70,0 40 71,4 2 acertos em 2 17 94,4 270 97,8 100,0 Total 28 100,0 332 0 acerto em 1 6 21,4 29 8,7 1 acertos em 1 22 78,6 303 91,3 Total 28 100,0 332 100,0 0 acertos em 2 4 14,3 13 4,8 1 acertos em 2 2 7,1 48 14,5 2 acertos em 2 22 78,6 271 81,6 Total 28 100,0 332 100,0 Valor de P* 0,022 0,013 0,034 0,029 0,32 Teste do qui-quadrado, frequência mais alta de respostas corretas entre as mulheres. Tabela 3 Diferenças significativas na quantidade de respostas corretas de acordo com o nível de escolaridade Escolaridade (nível) Primário Pergunta 4. O que é necessário para se confirmar o diagnóstico de fibromialgia? 10. Indique a alternativa correta quanto à atividade física no tratamento da fibromialgia 14. Qual é a melhor maneira de você conservar sua energia? Rev Bras Reumatol 2011;51(1):7-19 Médio Superior Acertos n % n % n % 0 acerto em 2 2 25,0 7 6,1 7 3,5 1 acerto em 2 3 37,5 35 30,4 41 20,7 2 acertos em 2 3 37,5 73 63,5 150 75,7 Total 8 100 115 100 198 100 0 acerto em 1 2 25,0 18 15,6 11 5,5 1 acerto em 1 6 75,0 97 84,4 187 94,5 Total 8 100 115 100 198 100 0 acerto em 1 3 37,5 15 13,0 14 7,1 1 acerto em 1 5 62,5 100 87,0 184 92,9 Total 8 100 115 100 198 100 15 Moretti et al. 14 (P = 0,066 para questão 4 e P = 0,079 para a questão 14, qui-quadrado). Nas respostas à Questão 4, na comparação do “nível primário” com os outros dois níveis, houve diferença significativa na proporção de 2 acertos em 2 (P = 0,049, teste de Fisher). Quanto às respostas para a pergunta de número 10, não foram encontradas diferenças significativas entre “nível médio” e “nível primário” (P = 0,488, qui-quadrado). Porém, houve diferença significativa na comparação entre “nível superior” e os outros dois níveis (P = 0,002, teste binomial). Por último, na Questão 14 a frequência de acertos no “nível primário” foi significativamente menor do que nos outros dois níveis (P = 0,036, teste de Fisher). Ao comparar a frequência de acertos entre os quatro domínios do questionário, houve diferença significativa pelo teste de Friedman para amostras dependentes (P = 0,001). Houve diferença estatisticamente significante entre todos os domínios. No domínio 3 (Exercícios na fibromialgia), encontrou-se uma frequência de acertos significativamente maior que no domínio 1 (Conhecimento geral sobre a fibromialgia), o qual, por sua vez, teve mais acertos que o domínio 2 (Medicamentos na fibromialgia) e que o domínio 4 (Proteção articular e conservação de energia). Ao comparar a porcentagem de acertos de cada domínio com a variável gênero, encontrou-se diferença significativa no domínio 3. Nesse domínio, o número de acertos do gênero feminino foi significativamente maior em relação ao gênero masculino (P = 0,005, teste de Mann-Whitney ). Nos outros três domínios, não houve diferença significativa entre os gêneros. A partir da análise das mensagens por e-mail, observou-se uma demanda sistemática por maior atenção dos profissionais médicos no contato com o paciente e na busca de informações sobre a doença. Observaram-se ainda manifestações contundentes quanto à falta generalizada de conhecimentos sobre fibromialgia na sociedade. Outro aspecto relevante foram as queixas no campo das medicinas legal e trabalhista. E, entre os tópicos destacados, estão: a dificuldade para se trabalhar nos dias em que as dores estão mais acentuadas, o preconceito dos companheiros de trabalho –que não entendem ou estigmatizam o problema – e as dificuldades enfrentadas nos procedimentos que envolvem o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social). Muitos pacientes também relataram a necessidade de se fazerem outras opções de tratamento, afirmando que as opções atuais não resolvem ou surtem pouco efeito. Além disso, muitos apontaram a falta de divulgação e informação sobre a síndrome, assim como a possibilidade de acesso a terapias alternativas, profissionais mais capacitados e formas de atuação descentralizada e universal. 16 A seguir, foram destacadas algumas frases recebidas por e-mail: • A maioria das pessoas não conhece nada sobre fibromialgia e fica difícil sermos compreendidas, principalmente no ambiente de trabalho. • Divulgar mais a doença, para que as pessoas que não têm possam acreditar em nós. E também para que mais pessoas saibam do que estão sofrendo. • Às vezes, pensam que estamos inventando a doença. O direito ao afastamento remunerado iria ajudar muito. • Mais esclarecimentos sobre a fibromialgia e maior acesso a remédios. • Muitos médicos não reconhecem a fibromialgia como síndrome. Parece que a consideram um modismo e não se habilitam a cuidar ou encaminhar seus pacientes. • A legislação deveria considerar os casos de fibromialgia, porque muitas vezes a pessoa não tem condições de trabalhar. • Direito trabalhista, pois não existe amparo legal junto ao INSS e ninguém finge sentir dor. • Não encontramos reumatologistas em nenhum posto de saúde para fazer o tratamento. Deveria haver um espaço para hidroginástica, entre outras terapias. • Maior cobertura nos tratamentos alternativos, como, por exemplo, hidroterapia e outras coisas benéficas, mas que nem sempre são acessíveis, devido ao alto custo. • Que os profissionais de saúde sejam preparados, que a nossa família seja orientada, pois eles não acreditam que o fibromiálgico tenha tanta dor em vários lugares ao mesmo tempo. • Profissionais para nos atender e diagnosticar com precisão e em tempo hábil. Também é necessário que ampliem nossos direitos trabalhistas. • Abertura de programas alternativos para “cura ou alívio” da fibromialgia, espalhados pelo Brasil. Nota-se que técnicas são criadas por determinados profissionais, porém em grandes centros, sem o alcance da população em geral. • Mais rapidez no agendamento de consultas com profissionais que cuidam dos portadores de fibromialgia. • Os medicamentos são caros e fora de acesso para quem ganha um salário mínimo, dois ou três. O SUS não oferece medicamentos bons para fibromialgia. • Que os convênios médicos reconhecessem a fibromialgia como doença, e não apenas um estresse, e cobrisse os tratamentos alternativos, que hoje são muito caros e inacessíveis. Rev Bras Reumatol 2011;51(1):7-19 Avaliação do nível de conhecimento sobre fibromialgia entre usuários da internet • Informações sobre tratamentos novos, medicamentos, e como encontrar um profissional disposto e esclarecido para nos ajudar. DISCUSSÃO A internet como forma de avaliar o nível educacional e como forma de promoção de saúde já se mostrou uma ferramenta útil e capaz de trazer benefícios para a saúde dos fibromiálgicos.11,12 Esses estudos revelam que usuários de sites (que buscam informações específicas, ou que interagem através da internet) são favorecidos em várias dimensões: melhor relacionamento social, melhora clínica, maior automanejo da doença, maior qualidade de vida, mudanças comportamentais positivas, entre outras. Nesse sentido, estratégias de saúde pública – traçadas a partir de ferramentas como a internet – devem ser estimuladas, tendo em vista seu potencial positivo e outras facilidades como: praticidade, possibilidades de se atingir um contingente populacional maior ou de integrá-los sem a limitação física presencial. A relação de 92% de mulheres e 8% de homens entre os que responderam ao questionário (11 mulheres para cada homem) pode ser explicada pelo fato de a prevalência da síndrome ser bem mais acentuada em mulheres do que em homens. Essa proporção é apontada como de 6 a 10 mulheres para cada homem.14 Sobre a escolaridade da amostra estudada (61,8% com nível superior completo), os dados encontrados também condizem com o que apontam as pesquisas sobre acesso à internet da população brasileira. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indica que o percentual de pessoas que acessam a internet no Brasil cresce conforme o nível de escolaridade. Em levantamento realizado em 2005 sobre o porcentual de pessoas que utilizaram a internet – de acordo com os anos de estudo –, os achados mostram os seguintes grupos: [G1] Sem instrução ou menos de 4 anos de estudo = 2,5% acessam a internet; [G2] 4 a 7 anos de estudo = 10,1% acessam a internet; [G3] 8 a 10 anos de estudo = 22,6% acessam a internet; [G4] 11 a 14 anos de estudo = 42,8% acessam; [G5] 15 anos ou mais de estudo = 76,2% acessam.15 Quanto ao uso de questionários específicos, capazes de mensurar os níveis de conhecimento acerca de uma doença, no caso da fibromialgia os estudos são raros. Após revisão da literatura feita na base eletrônica de dados Pubmed, utilizando os termos “fibromialgia” e “conhecimento”, foram identificados 123 artigos, porém nenhum deles se referia especificamente à avaliação do grau de conhecimento sobre a síndrome. Rev Bras Reumatol 2011;51(1):7-19 Os artigos encontrados avaliavam a percepção sobre a doença e o respectivo impacto sobre a saúde, na visão dos pacientes e familiares.16,17,18,19 O único estudo encontrado utilizando questionário a respeito do conhecimento sobre fibromialgia foi uma dissertação de mestrado da Unifesp, na qual a autora aponta o fato de que, na ocasião, não havia questionários para aplicação em tais casos, ressaltando a importância da construção e da validação do FKQ.13 Os resultados obtidos no presente estudo, no sentido de que os domínios com menor índice de acertos são “Medicamentos na fibromialgia” e “Proteção articular/conservação de energia”, sugerem a criação de estratégias públicas de educação focadas nestes tópicos. No Brasil, estudos revelam falhas na assistência médica e farmacêutica, no que tange à orientação medicamentosa dispensada aos pacientes.20,21,22 Segundo o Guia Para a Boa Prescrição Médica, da Organização Mundial da Saúde (OMS),23 após selecionar o tratamento medicamentoso e preencher a receita, o médico deve informar ao paciente sobre os objetivos a curto (ou a longo) prazo do tratamento instituído, a respeito de como, quando e por quanto tempo o medicamento deve ser tomado; sobre seus benefícios e riscos (interações medicamento-medicamento ou medicamento-alimento, reações adversas, intoxicações) e sobre procedimentos a serem seguidos no caso de efeitos adversos. Arrais et al.20 sugerem que a ausência do farmacêutico nas unidades públicas e privadas é fator crítico para a implementação do uso racional de medicamentos. Ainda apontam que, atualmente, verifica-se a necessidade do resgate das relações médico-paciente e farmacêutico-paciente, como aspecto-chave para a melhoria da qualidade do serviço de saúde, em que a personalização da assistência, a humanização do atendimento e o direito à informação são componentes básicos desse processo. Quanto à elevada frequência de erros no domínio “proteção articular e conservação de energia”, destacam-se, entre os eventuais fatores envolvidos, (a) pequena valorização desse quesito no quadro da fibromialgia (diferentemente do que acontece nos quadros de artrite reumatoide); (b) pouco tempo despendido por médicos e profissionais de saúde para orientarem seus pacientes quanto às atividades de vida diária; (c) má formulação do domínio no questionário. No rol das perguntas com maior índice de acerto, que envolvem sintomas da síndrome e meios de se exercitar, considera-se que um dos possíveis fatores indutores seja a própria percepção dos pacientes sobre os sintomas que apresentam. Considerase ainda que os sintomas de maior prevalência (presentes nas 17 Moretti et al. perguntas) costumam ganhar destaque entre os pacientes, a mídia e os profissionais de saúde, o que favorece o porcentual de acerto. No mesmo sentido, a ampla difusão da importância da atividade física deve induzir maior preocupação quanto a essa prática na prevenção da fibromialgia. A hipótese para o fato de as mulheres apresentarem maior desempenho no teste de conhecimento sobre a fibromialgia gira em torno da prevalência da síndrome, que é bem mais elevada entre elas do que entre os homens.14 Esse fato proporciona maior busca por informações por parte das mulheres e, consequentemente, maior conhecimento acerca da síndrome. Alguns autores sugerem que a incidência de 10% da doença entre os homens e de 90% entre as mulheres pode estar subestimada, e que a distinção entre os gêneros tende a ser importante.24,25 Os homens tendem a apresentar queixas mais relacionadas à autoestima, à autopercepção e ao impacto nos papéis sociais. Além de menor relato de sintomas, o impacto em termos de perda de qualidade de vida é inferior entre os homens, que conseguem preservar melhor nível de funcionalidade. Homens queixam-se menos de distúrbios de sono, fadiga e dor generalizada, o que aumenta o risco de diagnósticos falsos-negativos, uma vez que eles apresentam principalmente um quadro de dor pauciarticular, de características menos subjetivas.26,27 Esses elementos sugerem que programas educativos que disseminem as particularidades dos gêneros podem propiciar maior busca por informações, assim como maior probabilidade de diagnósticos corretos. Os resultados obtidos na análise dos e-mails vão ao encontro dos dados obtidos por Kuahara,28 que salienta a necessidade de ações pontuais, capazes de minimizar os preconceitos e estigmas acerca da síndrome, assim como estratégias que propiciem melhor atenção trabalhista, médica e familiar a essa classe de pacientes. Como implicações para a prática, os autores sugerem o uso de intervenções em cuidados e políticas de saúde pública focadas na conscientização e no aprendizado de pacientes com fibromialgia, principalmente em tópicos como medidas de proteção articular e conservação de energia. Ainda é necessário que se divulgue e aplique o questionário FKQ na prática, bem como que ele seja traduzido e validado em outros idiomas, com o objetivo de padronizar futuros estudos focados no conhecimento dos portadores de fibromialgia sobre a própria doença. Isso permitiria conclusões mais consistentes para direcionar tomadas de decisão e auxiliar profissionais da saúde e pacientes no manejo da doença. 18 REFERences referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. Bennett RM. The Rational Management of Fibromyalgia Patients. Rheum Dis N Am 2002; 28:181-99. Bodenheimer T, Loring K, Holman H, Grumbach K. Patient Selfmanagement of chronic disease in Primary care. JAMA & Archives 2002; 288:2469-75. Sandstrom M, Keefe FJ. Self-management of fibromyalgia: the role of formal coping skills training and physical exercise training programs. Arthritis Care Res 1998; 11:432-47. Cedraschi C, Desmeules J, Rapiti E, Baumgartner E, Cohen P, Finckh A et al. Fibromyalgia: a randomised, controlled trial of a treatment programme based on self management. Ann Rheum Dis 2004; 63:290-6. Marques AP, Matsutani LA, Ferreira EAG, Mendonça LLF. A fisioterapia no tratamento de pacientes com fibromialgia: uma revisão da literatura. 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Objetivo: Quantificar a polifarmácia em um grupo de pacientes com AR e realizar um levantamento sobre o risco de potenciais interações indesejáveis entre os medicamentos utilizados no manejo dessa doença e os fármacos utilizados em enfermidades não crônicas. Métodos: Realizou-se um estudo de coorte com 103 pacientes portadores de AR, atendidos no Componente Especializado da Assistência Farmacêutica/MS, Florianópolis/SC. Os pacientes foram acompanhados mensalmente, por meio de fichas. As interações medicamentosas foram identificadas pelo Drugdex System – Thomson Micromedex® – Interactions. Resultados: Observou-se a presença de polifarmácia em 95,1% dos pacientes e de 19 potenciais interações indesejáveis entre os medicamentos utilizados por 74 pacientes, em média 3,0 ± 1,2 interações/paciente. Todas as potenciais interações estavam relacionadas a metotrexato. Omeprazol foi o principal representante, correspondendo a 29,3% delas, seguido por diclofenaco sódico (17,6%) e dipirona sódica (13,2%). Conclusão: Considerando que este estudo confirma que a polifarmácia é uma prática comum na terapêutica dos pacientes portadores de AR, deve haver maior vigilância acerca de efeitos adversos ou de redução da efetividade de determinados fármacos devido às suas interações farmacológicas. Palavras-chave: artrite reumatoide, interações de medicamentos, polimedicação, antirreumáticos. [Rev Bras Reumatol 2011;51(1):20-39] ©Elsevier Editora Ltda. INTRODUÇÃO A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória crônica, de caráter autoimune, caracterizada por acometimento poliarticular simétrico progressivo e, em alguns casos, por sintomas extra-articulares.1,2 Estima-se que 0,5% a 1% da população mundial seja acometida pela AR, sendo que as mulheres são de três a quatro vezes mais afetadas do que os homens.3,4 A terapêutica ideal varia de acordo com as características individuais do paciente, tais como estágio da doença, sua atividade e gravidade, bem como a resposta a regimes prévios de tratamento.5,6 Atualmente, existem disponíveis cinco classes de medicamentos que beneficiam pacientes com AR: analgésicos, anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), corticosteroides, drogas modificadoras do curso da doença (DMCDs) e agentes biológicos. Devido às comorbidades mais prevalentes com o avanço da idade e na presença de outros fatores de risco, como dislipidemias, diabetes melito, hipertensão, obesidade e osteoporose,7 a prescrição simultânea de medicamentos é frequente. Em paralelo, há também a utilização de medicamentos para tratamentos sintomáticos e/ou a automedicação que podem incrementar ainda mais a quantidade de medicamentos utilizados. Submetido em 7/6/2010. Aprovação, após revisão, em 16/12/2010. Declaramos a inexistência de conflitos de interesse. Comitê de ética nº 193296. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 1. Farmacêutica – Mestranda em Farmácia, UFSC 2. Farmacêutica – Doutoranda em Farmácia, UFSC; Professora do curso de Farmácia, UniSul 3. Estudante – Graduanda em Farmácia, UFSC 4. Médico-Chefe do Núcleo de Reumatologia, UFSC – Doutor em Reumatologia, USP 5. Médica-Assistente do Núcleo de Reumatologia, UFSC – Doutoranda em Ciências Médicas, UFSC 6. Pesquisador Colaborador – Doutor em Engenharia de Produção, UFSC 7. Farmacêutica Professora do Curso de Pós-Graduação em Farmácia, UFSC. Doutora em Ciências Naturais pelo Pharmazeutisches Institut – Universitat Bonn, Alemanha Correspondência para: Mareni Rocha Farias. Universidade Federal de Santa Catarina. Departamento de Ciências Farmacêuticas. Campus Universitário – Trindade. CEP-88040-970. Florianópolis, SC, Brasil. Tel.: 55 48 3721-9567. E-mail: [email protected] Rev Bras Reumatol 2011;51(1):20-39 29 Bagatini et al. A polifarmácia merece atenção especial, pois medicamentos são substâncias químicas que podem interagir entre si e com nutrientes ou agentes químicos ambientais, desencadeando respostas indesejadas ou iatrogênicas.8,9 Embora não exista consenso sobre qual número expresse polifarmácia, muitos autores a definem como a presença de seis ou mais fármacos em associação ou como a administração de maior número de medicamentos do que os clinicamente indicados.10,11 O termo polifarmácia vem sendo amplamente associado a pacientes institucionalizados e idosos, mas pode ocorrer em outros grupos de pacientes portadores de doenças crônicas, como, por exemplo, AR. Desse modo, este trabalho tem como objetivo quantificar a polifarmácia nesse grupo de pacientes e realizar um levantamento sobre o risco de potenciais interações indesejáveis entre medicamentos utilizados no manejo da AR e aqueles utilizados para o tratamento de enfermidades não crônicas. METODOLOGIA Os dados apresentados foram obtidos a partir de um estudo de coorte de pacientes portadores de AR, atendidos por meio do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica/ MS, na Farmácia Escola UFSC/PMF, em Florianópolis/SC, no período agosto de 2008 a fevereiro de 2010. A amostra foi constituída por pacientes adultos de ambos os sexos, portadores de AR, residentes no município de Florianópolis e cadastrados no Componente Especializado da Assistência Farmacêutica/MS para receber os medicamentos adalimumabe, infliximabe, etanercepte (agentes biológicos) e leflunomida (DMCD). Foram excluídos os pacientes que não quiseram ou não puderam participar da pesquisa (20) e considerados perdas aqueles que não assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (4), os que abandonaram o estudo (8) e óbito (1), totalizando uma amostra de 103 pacientes. O período de acompanhamento total incluiu um mês de avaliação inicial e o seguimento mensal por 12 meses. A coleta de dados foi realizada pela autora principal, por meio de entrevistas mensais com os pacientes, no momento da dispensação dos medicamentos, utilizando como instrumento fichas de acompanhamento previamente validadas. As variáveis coletadas foram: sexo, idade, medicamentos utilizados no tratamento da AR e outros medicamentos utilizados no período de estudo com ou sem prescrição médica. Considerando o número máximo de associações utilizadas pelos pacientes, classificou-se como presença ou não de polifarmácia. Neste estudo, polifarmácia foi definida como a presença de seis ou mais fármacos em associação, não 30 importando o tempo de duração. Medicamentos de uso tópico, formulações caseiras e soluções oftálmicas não foram incluídos nessa avaliação. Foram selecionados os fármacos utilizados no tratamento de enfermidades não crônicas para avaliar eventuais interações medicamentosas entre eles e os medicamentos empregados no tratamento da AR. Os medicamentos empregados no tratamento de enfermidades não crônicas foram aqueles utilizados pelos pacientes em qualquer período do estudo e que não possuíam indicação para doenças crônicas. Os medicamentos empregados no tratamento sintomático da AR foram incluídos no grupo de fármacos de enfermidades não crônicas. Os medicamentos foram classificados de acordo com a Classificação Anatômica-Terapêutica-Química (ATC)12 em seus grupos terapêuticos. A classificação ATC é uma classificação internacional recomendada pela Organização Mundial de Saúde, que consiste em classificar os fármacos em diferentes grupos e subgrupos (níveis), de acordo com o órgão ou sistema sobre o qual atuam e segundo suas propriedades químicas, farmacológicas e terapêuticas, podendo os subgrupos chegar até o quinto nível, que corresponde à substância ativa propriamente dita.12 Foram utilizadas as monografias dos fármacos da base de dados Drugdex System – Thomson Micromedex ® – Interactions,13 a fim de verificar o registro de possíveis interações entre os medicamentos destacados anteriormente. Verificou-se associação entre a presença de potenciais interações com as variáveis sexo, faixa etária, presença de polifarmácia e esquema terapêutico, que incluiu o metotrexato, utilizando os testes estatísticos do Qui-quadrado (χ2) e o Teste de Fisher com intervalo de confiança de 95%. As associações que apresentaram potencial de interação foram classificadas e apresentadas de acordo com a gravidade, documentação disponível e início do efeito, conforme a mesma base de dados. Quanto à gravidade, as associações foram classificadas em: contraindicadas, quando a administração concomitante dos fármacos não é recomendada, maiores, quando apresentam ameaça à vida e requerem intervenção médica imediata, moderadas, quando há piora no quadro clínico do paciente, havendo necessidade de alteração da terapia medicamentosa instituída, menores, quando o paciente apresenta alteração no quadro clínico, porém não exige modificação da terapia medicamentosa.13 As evidências científicas disponíveis sobre as interações medicamentosas foram classificadas em: excelentes, quando há ensaios clínicos controlados comprovando a existência da interação medicamentosa, boas, quando há documentação Rev Bras Reumatol 2011;51(1):20-39 Potenciais interações medicamentosas em pacientes com artrite reumatoide A Figura 2 apresenta a frequência percentual dos grupos terapêuticos, utilizados no tratamento de enfermidades não crônicas, no período de estudo. Tratando-se de pacientes portadores de AR, os grupos terapêuticos que apresentaram maior frequência foram os anti-inflamatórios (17,6%), analgésicos (17,6%) e corticosteroides (15,8%). Para esses grupos, os Biológicos monoterapia DMCD monoterapia DMCD + biológicos DMCDs associados 60 50 Nº de pacientes da interação, porém faltam ensaios clínicos controlados, regulares, quando a documentação que comprova a interação é escassa, mas há considerações farmacológicas para ocorrência da interação, desconhecidas, quando não existe documentação na literatura que comprove tal interação medicamentosa.13 Em relação ao tempo previsto para o início dos efeitos adversos, as interações foram classificadas em: rápidas, quando os eventos adversos da interação ocorrem com menos de 24 horas, lentas, quando seus eventos adversos não surgem com menos de 24 horas, não especificadas, quando não está documentado na literatura o tempo de início do surgimento dos eventos adversos após a administração simultânea dos fármacos.13 A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, sob o Parecer nº 103/2008. 49 44 39 40 30 20 - 35 15 37 O sexo feminino representou 89,7% dos pacientes e a faixa etária variou entre 22-83 anos, com mediana de 57,9 anos e média de 57,2 ± 13,0. Na Figura 1 são apresentados os esquemas terapêuticos utilizados pelos pacientes nos tempos 0, 4, 8 e 12 meses de estudo (T0, T4, T8, e T12, respectivamente). Predominaram as combinações de DMCDs (49%, 44%, 39% e 36%, em T0, T4, T8 e T12, respectivamente) e entre DMCD e agentes biológicos (35%, 37%, 35% e 35% em T0, T4, T8 e T12, respectivamente), sendo que o metotrexato esteve associado em aproximadamente 60% dos esquemas terapêuticos. Ao longo do estudo observou-se uma diminuição da associação entre DMCDs e aumento do uso de um agente biológico isolado (de 3% em T0 para 8% em T12) e de DMCD isoladamente (de 15% em T0 para 24% em T12). A associação entre os medicamentos leflunomida e metotrexato foi o esquema terapêutico predominante em todos os períodos da pesquisa. A presença de polifarmácia foi verificada em 95,1% dos pacientes (Tabela 1). O número médio mínimo de medicamentos associados por paciente foi 7,5 ± 3,2 e o número médio máximo 12,2 ± 4,1. Entre os medicamentos utilizados pelos pacientes acompanhados, foram selecionados para a avaliação do risco de interação apenas aqueles empregados no tratamento de enfermidades não crônicas, correspondentes a 105 substâncias ativas diferentes e 19 grupos terapêuticos. Rev Bras Reumatol 2011;51(1):20-39 0- 35 23 24 19 8 10 - RESULTADOS 36 35 3 3 4 T0 T4 T8 T12 Figura 1 Esquemas terapêuticos utilizados pelos pacientes em tratamento para AR. Tabela 1 Presença de polifarmácia, número médio mínimo e máximo de medicamentos utilizados pelos pacientes em tratamento para AR Variáveis Total de Medicamentos Utilizados Frequência ou Média ± DP* 1,836 Média do número total de medicamentos utilizados por paciente 17,8 ± 6,9 Média do número mínimo de medicamentos associados por paciente 7,5 ± 3,2 Média do número máximo de medicamentos associados por paciente 12,2 ± 4,1 Presença de Polifarmácia Sim % (n) 95,1% Masculino 9,2% (9) Feminino 90,8% (89) Não 4,9% Masculino 20,0% (1) Feminino 80,0% (4) * DP: Desvio-Padrão. 31 Bagatini et al. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 1. Anti-inflamatórios e antirreumáticos 2. Analgésicos 3. Corticosteroides 4. Antibacterianos 5. Farmacos para desordens relacionadas a acidez estomacal 6. Fármacos para desordens gastrointestinais funcionais 7. Relaxantes musculares 8. Anti-histamínicos 9. Farmacos para desordens obstrutivas das vias aereas 10.Anti-helmínticos 11.Antieméticos e antinauseantes 12.Preparações nasais 13.Antifúngicos 14.Antidiarreicos, antiinflamatórios intestinais/ agentes anti-infecciosos 15.Psicolépticos 16.Preparações contra tosse e resfriados 17.Antivirais 18.Urológicos 19.Antiprotozoários Figura 2 Frequência percentual dos grupos terapêuticos utilizados no tratamento de enfermidades não crônicas pelos pacientes em tratamento para AR. fármacos mais utilizados foram, respectivamente, diclofenaco sódico (36,4%), paracetamol (43,2%) e prednisona (72,3%). Na literatura consultada, foram encontradas evidências de 19 potenciais interações, todas relacionadas ao metotrexato (Quadro1). As associações medicamentosas que apresentaram potenciais interações foram utilizadas por 74 pacientes, totalizando 205 potenciais interações, uma média de 3,0 ± 1,2 potenciais interações por paciente. Nove pacientes apresentaram apenas uma potencial interação (Quadro 2). A literatura aponta ainda três potenciais interações medicamentosas referentes ao difosfato de cloroquina e outras quatro relacionadas ao metotrexato, sendo que nenhum paciente do estudo relatou utilizar tais associações. A Tabela 2 mostra que, entre as variáveis analisadas, houve apenas correlação positiva entre a presença de polifarmácia e a existência de interações medicamentosas. O omeprazol foi o principal representante para o risco de potenciais interações medicamentosas identificadas no estudo, correspondendo a 29,3% delas, seguido pelo diclofenaco sódico, com 17,6%, e pela dipirona sódica, com 13,2%. Em relação à classificação das potenciais interações identificadas no estudo, 78,9% foram classificadas como maiores, 21,0% apresentaram documentação regular e, em 21%, o início dos efeitos adversos é rápido (Quadro 2). Quadro 1 Distribuição segundo grupo terapêutico, classificação ATC, número de pacientes e possibilidade de interação dos medicamentos utilizados para patologias não crônicas com os medicamentos utilizados no tratamento da AR. Grupo terapêutico Fármacos para tratamento de disfunções relacionadas à acidez Fármacos para tratamento de disfunções gastrointestinais Anti-eméticos e antinauseantes 32 Medicamentos Esomeprazol magnésio Famotidina Lansoprazol Omeprazol Pantoprazol sódico Rabeprazol sódico Cloridrato de ranitidina Bromoprida Domperidona Butilbrometo de escopolamina Mucate de isometepteno Cloridrato de metoclopramida Brometo de otilônio Cloridrato de papaverina Brometo de pinavério Dimenidrinato ATC A02BC05 A02BA03 A02BC03 A02BC01 A02BC02 A02BC04 A02BA02 A03FA04 A03FA03 A03BB01 A03AX10 A03FA01 A03AB06 A03AD01 A03AX04 A04AD Cloridrato de ondansetron A04AA01 Número de pacientes usando associação e presença de potencial interação LEF1 MTX2 CQN3 HCQ4 ABA5 ADA6 ETA7 INF8 RIT9 4 3 0 0 0 1 0 2 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 1 2 0 0 0 1 0 0 0 54 60* 3 5 1 18 8 9 1 2 3* 0 0 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 1 2 0 0 0 1 0 1 0 2 2 0 1 0 0 0 1 0 2 1 0 0 0 0 0 0 0 3 8 0 0 0 3 0 1 0 5 7 0 0 1 6 0 1 0 10 13 2 0 1 5 0 2 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 2 2 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 1 0 2 3 0 0 0 1 0 0 0 3 4 1 0 0 1 0 2 0 Rev Bras Reumatol 2011;51(1):20-39 Potenciais interações medicamentosas em pacientes com artrite reumatoide Antidiarreicos e agentes intestinais anti-inflamatórios e anti-infectivos Fármacos urológicos Corticosteroides Antibacterianos Antimicóticos Antivirais Produtos antiinflamatórios Produtos antiinflamatórios Cloridrato de loperamida A07DA03 1 0 0 0 0 0 0 0 0 Nistatina A07AA02 3 3 0 0 0 0 0 0 0 Racecadotril A07XA04 0 1 0 0 0 1 0 0 0 Cloridrato de fenazopiridina G04BX06 2 0 0 1 0 0 0 0 0 Betametasona H02AB01 9 8 0 0 0 5 0 1 0 Deflazacorte H02AB13 6 4 0 0 0 1 0 2 0 Dexametasona H02AB02 4 4 1 0 0 0 0 1 0 Prednisolona H02AB06 4 6 0 1 0 3 1 0 0 Prednisona H02AB07 62 65 5 6 3 19 7 11 1 Acetonido de triancinolona H02AB08 0 1 1 0 0 0 0 0 0 Amoxicilina J01CA04 10 14* 0 0 2 3 2 0 Amoxicilina + clavulanato de potássio J01CE30 5 3* 0 0 0 0 0 1 0 Azitromicina diidratada J01FA10 14 10 1 0 0 2 2 2 0 Benzatina benzilpenicilina J01CE08 1 2* 0 0 0 1 0 0 0 Cefalexina monoidratada J01DB01 8 8 0 0 0 2 1 0 0 Cloridrato de cefepima J01DE01 1 1 0 0 0 0 0 0 0 Ceftriaxona dissódica J01DD04 1 1 0 0 0 0 0 0 0 Cefuroxima sódica J01DC02 2 1 0 0 0 0 0 0 0 Cloridrato de ciprofloxacino J01MA02 13 19* 0* 2 1 5 2 5 1 Claritromicina J01FA09 2 2 0* 0 0 0 0 0 0 Cloridrato de doxiciclina J01AA02 1 1* 0 0 0 0 0 0 0 Fosfomicina trometamol J01XX01 0 1 0 0 0 1 0 0 0 Sulfato de gentamicina J01GB03 1 1 0 0 0 0 0 0 0 Levofloxacina hemidrato J01MA12 7 5 0 1 0 0 0 3 0 Metronidazol J01XD01 2 1 0 0 0 0 0 0 0 Cloridrato de minociclina J01AA08 1 0 0 0 0 0 0 0 0 Cloridrato de moxifloxacina J01MA14 2 1 0 0 0 0 0 0 0 Nitrofurantoina J01XE01 4 3 0 0 0 0 0 0 0 Nitrofurantoina + sulfametoxipiridazina + fenilzodiamina piridina J01ED20 1 0 0 1 0 0 0 0 0 Norfloxacin J01MA06 9 4 1 0 1 0 0 0 0 Sulfametoxazol trimetoprima J01EE01 3 1* 0 2 0 1 0 0 0 Cloridrato de tetraciclina J01AA07 0 1* 0 0 0 0 0 1 0 Cetoconazol J02AB02 1 1 0 0 0 0 0 0 0 Fluconazol J02AC01 5 3 0* 0 0 2 0 1 0 Aciclovir J05AB01 1 1 0 0 0 0 0 1 0 Oseltamivir phosphate J05AH02 1 1 0 0 0 0 0 0 0 Celecoxibe M01AH01 2 2 0 1 0 1 0 0 0 Cetoprofeno M01AE03 5 3* 1 0 0 1 0 0 0 Sulfato de condroitina + sulfato de glicosamina M01AX25 3 0 1 0 0 1 0 0 0 Diclofenaco potássico M01AB05 1 0* 0 0 0 0 0 0 0 Diclofenaco sódico M01AB05 32 36* 2 3 1 12 3 10 1 Etodolaco M01AB08 1 1* 0 0 0 0 0 1 0 Etoricoxibe M01AH05 3 1 0 0 0 1 0 0 0 Fenilbutazona cálcica M01AA01 2 1* 0 0 0 0 0 0 0 Ibuprofeno M01AE01 6 4* 3 0 0 2 1 0 0 Ácido mefenâmico M01AG01 2 0* 0 0 0 0 0 0 0 Meloxicam M01AC06 5 6 3 0 0 1 1 2 0 Naproxeno sódico M01AE02 M01AX17 M01AC01 M01AC02 3 27 1 3 3* 22* 0* 0* 0 3 1 1 0 1 0 0 1 0 0 0 2 2 0 0 0 3 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 Nimesulida Piroxicam Tenoxicam Rev Bras Reumatol 2011;51(1):20-39 33 Bagatini et al. Carisoprodol Relaxantes musculares Cloridrato de ciclobenzaprina Citrato de orfenadrina Ácido acetilsalicílico Clonixinato de lisina Fosfato de codeína Mesilato de diidroergotamina Analgésicos Metamizol sódico Cloridrato de naratriptano Paracetamol Cloridrato de tramadol Psicolépticos Cloridrato de hidroxizina Agentes Secnidazol antiprotozoários Albendazol Anti-helmínticos Ivermectina Cloridrato de oximetazolina Preparações nasais Cloridrato de fenilefrina Sulfato de pseudoefedrina Acebrofilina Dipropionato de beclometasona Budesonida Hidrobrometo de fenoterol Fármacos para doenças respiratórias Fuorato de fluticasona obstrutivas Fumarato de formoterol Brometo de ipratrópio Sulfato de salbutamol Teofilina Acetilcisteína Preparações para tosse e resfriado Ambroxol Maleato de carbinoxamina Maleato de clorfeniramina Desloratadina Maleato de dexclorfeniramina Anti-histamínicos Cloridrato de epinastina Cloridrato de fexofenadina Loratadina Cloridrato de prometazina M03BA02 M03BX08 M03BC51 N02BA01 N02BG61 N02AA08 N02CA01 N02BB02 N02CC02 N02BE01 N02AX02 N05BB01 9 5 5 5 1 12 2 28 1 38 3 1 6 3 4 3* 1 8 0 27* 1 38 2 2 2 2 0 0 0 1 1 0 0 4 1 1 1 0 0 0 0 1 0 1 1 5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 1 0 0 2 0 1 0 0 2 0 11 0 10 0 2 1 0 0 0 0 1 1 2 0 5 0 0 1 0 0 1 0 4 0 4 0 11 2 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 P01AB07 1 0 0 0 0 0 0 0 0 P02CA03 P02CF01 R01AA05 R01BA03 R01BA03 R03DA R03BA01 R03BA02 R03AC04 R03BA05 R03AC13 R03BB01 R03AC02 R03DA04 R05CB01 R05CB06 R06AA08 R06AB04 R06AX27 R06AB02 R06AX24 R06AX26 R06AX13 R06AD02 3 4 1 5 1 1 2 4 2 1 1 3 2 1 2 1 1 7 1 2 0 1 3 1 1 3 0 1 1 1 2 2 2 0 0 2 2 1* 3 0 0 5 0 1 0 2 2 1 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 2 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 LEF: Leflunomida; 2MTX: Metotrexato; 3CQN: Difosfato de Cloroquina; 4HCQ: Sulfato de Hidroxicloroquina; 5ABA: Abatacepte; 6ADA: Adalimumabe; 7ETA: Etanercepte; 8INF: Infliximabe; 9RIT: Rituximabe * Existência de registro de potencial interação medicamentosa na literatura. 1 DISCUSSÃO Este estudo visa fornecer informações sobre o risco de potenciais interações medicamentosas em pacientes com AR, já que, no Brasil, há escassez desse tipo de registro, principalmente nesse grupo específico de pacientes e de fármacos. Estudos têm demonstrado que combinações de DMCDs são mais efetivas do que a monoterapia,14,15,16 assim como os agentes biológicos são mais efetivos quando combinados aos DMCDs, em particular o metotrexato,17,18,19 o que justifica a estratégia de combinação de DMCDs ou biológicos encontrada na maior parte dos pacientes deste estudo. 34 O número médio mínimo de medicamentos utilizados por paciente neste estudo foi de 7,5 ± 3,2 e o número médio máximo, 12,2 ± 4,1. Em um inquérito realizado sobre a utilização de medicamentos por idosos aposentados, a média de medicamentos utilizados foi 4,1 ± 3,0.20 Já Loyola Filho et al.,21 em 2006, descreveram a prevalência do consumo de medicamentos em 1.598 idosos e o número médio de medicamentos consumidos foi igual a 2,18. A média de medicamentos utilizados e a frequência de polifarmácia em nosso estudo foram superiores aos valores encontrados em outros estudos nacionais,22,23 porém os estudos sobre a utilização de medicamentos e do termo polifarmácia, Rev Bras Reumatol 2011;51(1):20-39 Potenciais interações medicamentosas em pacientes com artrite reumatoide Quadro 2 Distribuição dos medicamentos que apresentaram registro de potencial interação com o metotrexato, conforme número de usuários, severidade da interação, documentação disponível e início dos efeitos. N = 103 pacientes. Número de pacientes que utilizaram a associação com MTX1 Gravidade Evidência Ácido acetilsalicílico 3 Maior Boa Rápido Amoxicilina 14 Maior Boa Demorado Amoxicilina + clavulanato de potássio 3 Maior Boa Demorado Benzatina benzilpenicilina 2 Maior Boa Demorado Cetoprofeno 3 Maior Boa Demorado Diclofenaco sódico 36 Maior Boa Demorado Dipirona sódica 27 Maior Boa Demorado Cloridrato de doxiciclina 1 Maior Boa Rápido Etodolaco 1 Maior Regular Demorado Fenilbutazona cálcica 1 Maior Regular Demorado Ibuprofeno 4 Maior Boa Demorado Naproxeno sódico 3 Maior Boa Demorado Nimesulida 22 Maior Boa Demorado Omeprazol 60 Maior Boa Rápido Sulfametoxazol + Trimetoprima 1 Maior Excelente Demorado Medicamentos Tempo de início dos efeitos Cloridrato de ciprofloxacino 19 Moderada Regular NE2 Pantoprazol sódico 3 Moderada Boa Rápido Cloridrato de tetraciclina 1 Moderada Regular NE2 Teofilina 1 Moderada Boa Demorado MTX: Metotrexato, 2NE: Não Especificado. 1 Tabela 2 Associação entre as variáveis sexo, faixa etária, presença de polifarmácia e esquema terapêutico que inclui o metotrexato com a presença de interação entre fármacos utilizados para o tratamento de doenças não crônicas e aqueles utilizados para o tratamento da AR severa. Variables Sexo Com interação (N = 74) Sem interação (N = 29) Risco Relativo (IC* 95%) 0.92 (0.571.49) 0.7177 0.90 (0.711.14) 0.3898 3.72 (0.6421.58) 0.0214 Masculino 6 3 Feminino 68 26 P-valor Faixa etária < 60 anos 39 18 ≥ 60 anos 35 11 Sim 73 25 Não 1 4 Presença de Polifarmácia Esquema terapêutico para AR que inclui o metotrexato Sim 74 3 Não 0 26 * IC: Intervalo de Confiança. Rev Bras Reumatol 2011;51(1):20-39 - - comumente, estão associados a pacientes institucionalizados e/ ou a pacientes idosos, dificultando a comparação dos resultados obtidos a estudos já realizados. Segundo Prybys et al.,24 (2002), em pacientes idosos o risco de eventos adversos, incluindo interações medicamentosas, aumenta em 13% com o uso de dois medicamentos, em 58% quando esse número aumenta para cinco, elevando-se para 82% nos casos em que são consumidos sete ou mais medicamentos. A polifarmácia está associada ao aumento do risco e da gravidade das reações adversas, de precipitar interações medicamentosas, de causar toxicidade cumulativa, de provocar erros durante a administração da medicação e de reduzir a adesão ao tratamento. Assim, esta se relaciona diretamente aos custos assistenciais, que incluem medicamentos e repercussões advindas desse uso, como, por exemplo, custos de consulta a especialistas, atendimento de emergência e de internação hospitalar.22,25 Os grupos terapêuticos que apresentaram maior frequência foram os anti-inflamatórios (17,6%), analgésicos (17,6%) e corticosteroides (15,8%). Esses grupos e seus representantes são utilizados no tratamento da AR, podendo ainda, nos casos 35 Bagatini et al. mais graves, ser administrados em doses plenas,6,26 o que explica a maior frequência encontrada. É necessário destacar que neste estudo a detecção de potenciais interações medicamentosas baseou-se em uma ferramenta computacional, incluída na base de dados Drugdex System – Thomson Micromedex®,13 que não é capaz de levar em conta aspectos relacionados ao paciente, doses, sequência e horário da administração dos medicamentos, podendo, ainda, superestimar a incidência e o risco de potenciais interações medicamentosas. Todas as potenciais interações medicamentosas encontradas neste estudo estavam relacionadas ao metotrexato. Não foram encontrados, na literatura consultada, registros de potenciais interações entre os medicamentos utilizados no manejo da AR: abatacepte, adalimumabe, etanercepte, infliximabe, leflunomida e sulfato de hidroxicloroquina e os fármacos selecionados.13,27,28 O metotrexato é a terapia inicial mais utilizada em pacientes com AR, exceto em pacientes com doença hepática.26 Apesar de possuir ótimos perfis de eficácia e tolerabilidade, além de baixo custo,29 apresenta eventual interação com outros medicamentos, podendo resultar em toxicidade. No total, foram observados 19 tipos de potenciais interações com metotrexato, sendo 15 delas classificadas como maiores e quatro como moderadas, demonstrando o cuidado que deve ser tomado, tanto na prescrição quanto na dispensação de outros medicamentos aos pacientes que utilizam metotrexato em seus esquemas terapêuticos, bem como a necessidade de orientação ao paciente em relação à automedicação. As interações relacionadas ao metotrexato e classificadas como maiores podem resultar em aumento das concentrações plasmáticas de seu metabólito ativo, potencializando seus efeitos adversos, que incluem leucopenia, trombocitopenia, anemia, hepatoxicidade, nefrotoxicidade e ulcerações em mucosas.1,13,27,28 Verificou-se aumento das concentrações séricas do metotrexato, com sinais e sintomas de toxicidade quando coadministrado a uma variedade de penicilinas, incluindo amoxicilina, benzilpenicilina, mezlocilina, piperacilina, entre outras.30,31 Devido à semelhança estrutural entre as penicilinas e o metotrexato, pode ocorrer inibição competitiva da secreção tubular do metotrexato, aumentando seu tempo de meia-vida.28,32,33 Segundo o Drugdex System – Thomson Micromedex®,13 as tetraciclinas, assim como outros antibióticos orais, podem reduzir a efetividade do metotrexato, por diminuírem sua absorção intestinal ou interferirem na circulação enteropática, inibindo a flora intestinal e suprimindo o metabolismo do fármaco pelas bactérias. Entretanto, outros autores acreditam que 36 as tetraciclinas podem, assim como seus derivados, aumentar as concentrações séricas do metotrexato.27,34,35 A associação de metotrexato, em altas doses, à doxiciclina pode resultar em toxicidade gastrointestinal e hematológica.34 O mecanismo de interação ainda permanece desconhecido, mas acredita-se que esteja relacionado ao deslocamento do metotrexato de seus sítios de ligação em proteínas plasmáticas, competição pela secreção tubular renal ou inibição da síntese renal de prostaglandinas.13,27,34,35 Não foram encontrados registros de potenciais interações entre minociclina e metotrexato, mas, por se tratar de um derivado da tetraciclina, sugere-se que sua associação ao metotrexato seja monitorada. Pancitopenia e mielotoxicidade foram observadas após a administração concomitante de metotrexato e sulfametoxazol + trimetoprima.36,37,38 A literatura sugere que há dois mecanismos de interação: 1) as sulfonamidas podem deslocar o metotrexato de seu sítio de ligação às proteínas plasmáticas ou reduzir sua excreção renal, 2) pode haver inibição aditiva da enzima diidrofolato redutase pelo metotrexato e trimetoprima.36,39 Além de pancitopenia e mielotoxicidade, esta associação pode elevar o risco de anemia megaloblástica devido à capacidade de o metotrexato e as sulfonamidas produzirem uma deficiência de folato através da supressão da enzima dihidrofolato redutase.1,13,27,28 O uso concomitante de metotrexato e ciprofloxacino pode resultar em aumento das concentrações plasmáticas de metotrexato devido à inibição do transporte tubular renal de metotrexato provocada pelo ciprofloxacino.1,13,27,28 Há dois casos relatados de grave toxicidade, devendo-se, portanto, evitar a associação em altas doses de metotrexato e ciprofloxacino.40 O metotrexato e os AINEs, em associação, podem causar uma série de complicações, incluindo toxicidade hematológica e gastrintestinal severa.13,35 Além disso, em pacientes com disfunções renais preexistentes (ou disfunções renais induzidas por AINEs), potencializa-se o risco de desenvolver reações adversas.13,27,28 Essa interação pode ocorrer através de quatro diferentes mecanismos: 1) competição entre o metotrexato e AINEs pela secreção tubular renal, 2) deslocamento do metotrexato, ou de seu metabólico ativo, do sítio de ligação às proteínas plasmáticas, 3) redução do metabolismo hepático do metotrexato pelos AINEs, 4) os AINEs inibem a síntese de prostaglandinas (vasoconstritor dos capilares renais), o que resultará na diminuição do fluxo sanguíneo renal e, consequentemente, na filtração glomerular do metotrexato.41,42 Alguns estudos revelaram que a coadministração de metotrexato, piroxicam, naproxeno, cetoprofeno e ibuprofeno em Rev Bras Reumatol 2011;51(1):20-39 Potenciais interações medicamentosas em pacientes com artrite reumatoide pacientes portadores de AR não afetou o perfil farmacocinético do metotrexato.43,44 Apesar de a administração concomitante de AINEs e metotrexato ter o potencial de causar toxicidade severa, em baixas doses essa associação é considerada bem tolerada, mas devese sempre monitorar estritamente o aparecimento de efeitos adversos graves.13,35 Ainda que a dipirona sódica e o ácido acetilsalicílico sejam classificados como analgésicos, conforme a Classificação ATC, na literatura consultada, seus mecanismos de interação com o metotrexato são comparados com o mecanismo geral dos AINEs.13,27,28,45,46 O principal representante das potenciais interações medicamentosas identificadas foi o omeprazol, correspondendo a 29,3% das interações. Sua interação foi classificada como maior, e o início dos efeitos adversos são rápidos. A utilização concomitante de metotrexato com omeprazol pode aumentar o risco de toxicidade do primeiro,13,27,28,47 pois, conforme Suzuki et al.,48, a coadministração de inibidores da bomba de prótons pode retardar a excreção de metotrexato e potencializar seus efeitos adversos. As concentrações séricas diminuem rapidamente após a interrupção do uso do omeprazol.13,27,28,47 Por isso, pacientes que utilizam essa associação devem fazer um estrito monitoramento, a fim de evitar possíveis danos resultantes da alta concentração de metotrexato no organismo.13,27,28 O que torna a interação entre o pantoprazol e o metotrexato menos grave é o grau de ativação do pantoprazol, segundo o pH do meio. Com um pH de aproximadamente 5, como encontrado nos túbulos renais, o pantoprazol é menos ativo que o omeprazol, inibindo com menor intensidade a secreção tubular do metotrexato.49 Um ensaio duplo-cego, placebo-controlado, realizado com 15 pacientes asmáticos adultos, observou os efeitos do uso concomitante da teofilina e do metotrexato. Oito pacientes receberam metotrexato e sete receberam placebo durante seis semanas. Após esse período, a excreção da teofilina reduziu de 48 para 38,9 mL/hr/kg em pacientes tratados com metotrexato. As concentrações séricas de teofilina devem ser monitoradas quando o metotrexato for introduzido, descontinuado ou alterado.13,50 Os portadores de AR são submetidos a protocolos de tratamento com múltiplos medicamentos e por tempo prolongado, fatores importantes que, quando combinados, podem contribuir para a ocorrência de reações adversas e interações medicamentosas indesejáveis, eventualmente agravando o quadro fisiopatológico já instalado e/ou exigindo a suspensão ou troca do esquema terapêutico. Rev Bras Reumatol 2011;51(1):20-39 É muito importante ressaltar a necessidade da avaliação risco-benefício de cada associação medicamentosa, bem como a adoção de medidas que possam reduzir os efeitos negativos, como, por exemplo, troca de horário de administração dos medicamentos e monitoramento dos efeitos adversos relacionados à associação medicamentosa. A prática da automedicação é uma característica comum entre os pacientes portadores de AR, principalmente na busca pelo controle da dor, expondo-os a maior risco de interações medicamentosas, efeitos adversos e toxicidade, pois o grupo terapêutico que apresentou maior potencial de interação com os medicamentos utilizados no tratamento da AR foram os anti-inflamatórios. Recomenda-se que, para os pacientes com AR, equipes multidisciplinares, seguimento farmacoterapêutico e educação dos pacientes quanto à prática da automedicação poderiam minimizar ou prevenir o risco potencial de reações adversas e interações medicamentosas, contribuindo para o uso racional desses medicamentos e para a melhoria das condições de saúde desses pacientes. References REFERências 1. Pinto MRC, Miguel RCC, Rezende GG. Rheumatoid arthritis treatment. Rev Bras Reumatol 2006; 46(3):219-23. 2. Venables PJW, Maini RN. Clinical features of rheumatoid arthritis. In: Greene JM, editor. UpToDate 161ª ed. 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Métodos: Foram estudados 157 pacientes em uso de infliximabe e 734 outros pacientes sob triagem de infecção tuberculosa, procedentes de diversas clínicas. O PPD foi realizado pela técnica de Mantoux e considerado reator a partir de 5 mm. Resultados: No grupo infliximabe, o PPD foi reator em 13% e, entre os outros pacientes, a reatividade foi de 27% (χ2 = 13; P = 0,0003). Estes foram subdivididos em adultos portadores de doenças crônicas, com 22% de reatividade ao PPD e demais controles com 31% de positividade, demonstrando heterogeneidade de resposta nessa população (χ2 = 7; P < 0,009). No grupo infliximabe, subdividido por patologias, Artrite Reumatoide (AR), Espondilite Anquilosante (EA) e Artrite Psoriásica (AP), observaram-se reatividades dissemelhantes, sendo a reatividade na AR sempre menor (AR x EA: OR = 0,13; IC: 0,03-0,47; χ2 = 12; P = 0,0004) e (AR x AP: OR = 0,16; IC: 0,02-1,04; χ2 corrigido de Yates = 3,6; P = 0,05). O PPD reator em AR (4%) também foi menor quando comparado com o grupo dos usuários crônicos (22%) (OR = 0,16; IC: 0,05-0,49; χ2 = 14; P = 0,0002), mesmo quando reclassificados em quatro subgrupos: reumatologia (OR = 0,19; IC: 0,04-0,72), transplante renal (OR = 0,16; IC: 0,05-0,51), infectologia (OR = 0,21; IC: 0,05-0,75) e outras clínicas (OR = 0,13; IC: 0,04-0,44). Conclusão: A baixa prevalência do PPD reativo nessa população brasileira, principalmente em pacientes crônicos, com pior desempenho em AR, mostrou que o teste tem valor limitado para o diagnóstico de infecção tuberculosa em candidatos à terapia com infliximabe. Palavras-chave: terapia biológica, doenças reumáticas, prevalência, teste tuberculínico. [Rev Bras Reumatol 2011;51(1):40-52] ©Elsevier Editora Ltda. INTRODUÇÃO Estudos de vigilância para o uso de bloqueadores do fator de necrose tumoral (anti-TNF) após sua aprovação em ensaios clínicos demonstraram aumento na incidência de reativação de tuberculose (TB)1,2 sendo recomendado avaliar a presença de infecção tuberculosa latente (ITBL) antes do início da terapia com anti-TNF, através da resposta cutânea ao teste tuberculínico com proteína purificada derivada (PPD), raio X de tórax e história de contato com TB.3 O ponto de corte habitual de 10 mm para a leitura do PPD reativo foi reduzido nesses pacientes para 5 mm, com base nas recomendações publicadas pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos, nos anos 20004 e 2005,5 com o objetivo de erradicar a tuberculose. Esse ponto de corte foi questionado pelo guia da Universidade de São Paulo (USP) Submetido em 5/2/2010. Aprovado, após revisão, em 8/1/2011. Declaramos a inexistência de conflitos de interesse. Comitê de Ética: FR – 243298. Serviço de Reumatologia do Hospital Geral de Fortaleza – HGF. 1. Doutora em Ciências USP (Reumatologia); Preceptora da Residência Médica de Reumatologia HGF 2. Médico epidemiologista; Mestre em Saúde Coletiva pela Unicamp 3. Médica Residente de Reumatologia do Hospital Geral de Fortaleza 4. Professor Colaborador da Faculdade de Medicina da UECE. Chefe do Serviço de Reumatologia do HGF Correspondência para: Maria Roseli Monteiro Callado, Rua Ávila Goulart, 900, Papicu, Fortaleza, CE, Brasil. CEP 60155-290. E-mail: [email protected]. 46 Rev Bras Reumatol 2011;51(1):40-52 Baixa prevalência de PPD reativo prévia ao uso de infliximabe: estudo comparativo em população amostral do HGF em 2006,6 pois o Brasil é um dos países do mundo com TB endêmica, não tendo sido realizado qualquer levantamento epidemiológico que embase essa recomendação. Este estudo tem o objetivo de avaliar a prevalência da resposta ao PPD, em pacientes do Serviço de Reumatologia, prévia ao uso de anti-TNF, comparando o desempenho do teste com os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) atendidos no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), maior hospital da rede pública do estado do Ceará, com uma média mensal de 15 mil consultas ambulatoriais. MATERIAL E MÉTODOS A amostra. Para o universo deste estudo, foram arrolados 1.031 resultados de exames de PPD de 157 pacientes reumatológicos em uso de infliximabe (Casos: Grupo A) e 874 de pacientes usuários do laboratório do HGF que estavam em processo de triagem para infecção tuberculosa (Controles: Grupos B e C), definidos na Tabela 1. O Grupo A é constituído de pacientes consecutivos em tratamento com infliximabe no período de maio/2005 a outubro/2008, portadores de artrite reumatoide (AR), espondilite anquilosante (EA) e artrite psoriárisa (AP). Esses pacientes preenchiam os critérios do Colégio Americano de Reumatologia (ACR) para suas doenças. Todos os pacientes passaram para a medicação biológica após falha dos esquemas terapêuticos convencionais. O teste de PPD foi realizado como pré-requisito ao início da terapia imunobiológica. Os pacientes PPD reagentes receberam profilaxia com isoniazida por seis meses, iniciada 30 dias antes do tratamento. As características dos pacientes do Grupo A encontram-se descritas na Tabela 2. Os Grupos B e C são compostos por pacientes consecutivos, homens e mulheres de todas as idades, vinculados a diversos serviços do HGF, atendidos no ambulatório do hospital e encaminhados ao laboratório com solicitação médica para realizar o teste de PPD no período de janeiro a outubro de 2009. Essa casuística de PPD foi subestratificada para análise, obedecendo aos critérios de grupo ou subgrupo especificados na Tabela 1. A estratificação dos grupos visou agrupar indivíduos com imunidade celular e condições epidemiológicas equivalentes entre si. Coleta de Dados. Foram utilizados os registros do banco de dados do laboratório de patologia clínica do HGF para todos os pacientes deste estudo, com revisão complementar dos prontuários dos pacientes reumatológicos em tratamento com infliximabe no Centro de Infusão de Imunobiológicos do HGF. Desenho do estudo. Esta pesquisa se caracteriza como um estudo descritivo transversal retrospectivo para a avaliação da prevalência de PPD através de banco de dados. Teste Cutâneo da Tuberculina. Duas unidades (0,1 mL) da preparação padrão de PPD RT-23 (Statens Serum Institut – Copenhague, Dinamarca) foram injetadas na Tabela 1 Definição de estratos para análise Grupo A Casos Controles Estrato Definição Casuística infliximabe Casuística submetida ao tratamento com infliximabe. A1 Artrite Reumatoide A2 Espondilite anquilosante A3 Artrite psoriásica Solicitação PPD Diagnósticos segundo critérios do ACR para doenças reumatológicas. Protocolo de triagem B Crônicos Controle formado por adultos com doenças crônicas. Suspeita clínica ou protocolo de triagem B1 Reumato/2009 Subgrupo dos pacientes crônicos, pertencentes ao ambulatório de reumatologia. Suspeita clínica B2 Tx renal Subgrupo dos pacientes crônicos, pertencentes ao ambulatório de transplante renal. Protocolo de triagem B3 Outras Clínicas Subgrupo dos pacientes crônicos, pertencentes aos serviços de neurologia, endocrinologia, gastroenterologia e clínica médica registrados em ambulatórios especializados (por exemplo, esclerose múltipla, diabetes e hepatites). Suspeita clínica B4 Infectologia Subgrupo dos pacientes cronicamente infectados pertencentes ao ambulatório de HIV positivo. Protocolo de triagem C Demais controles Clientes de todas as idades, atendidos nos ambulatórios do HGF nas diversas especialidades médicas (pediatria, clínica médica, cirurgia, ginecologia, obstetrícia etc.), não vinculados aos serviços especiais antes referidos. Suspeita clínica Rev Bras Reumatol 2011;51(1):40-52 47 Callado et al. Tabela 2 Caracterização dos pacientes em uso de infliximabe Características dos pacientes Grupo de estudo (n = 157), n(%) Sexo Masculino 58 (36,9) Feminino 99 (63,1) Idade (anos) * 47 ± 14,7 Masculino 41,1 ± 12,7 Feminino 49,1 ± 15,1 Doença primária AR 90 (57,3) EA 54 (34,4) AP 13 (8,3) PPD prévio ao tratamento Reator 21 (13,4) Não Reator 136 (86,6) *: Média ± desvio-padrão; AR: Artrite Reumatoide; EA: Espondilite Anquilosante; AP: Artrite Psoriásica; PPD: teste tuberculínico com proteína purificada derivada. região intradérmica da superfície volar do antebraço (método Mantoux). A reação foi lida em 72 horas, com o diâmetro transverso em milímetros de induração. O ponto de corte para um teste cutâneo positivo foi aceito como uma área maior ou igual a 5 mm de diâmetro. A avaliação da qualidade do teste de PPD utilizado no HGF (dados não publicados) foi satisfatória, com aplicação, medição e interpretação dos resultados obedecendo às normas do Ministério da Saúde no Brasil, e realizado com o reagente aprovado por esse órgão, que tem aceitação internacional e referência de bom desempenho na literatura.7,8,9 Análise estatística da reatividade ao PPD entre grupos. As análises estatísticas foram realizadas pelo Epi Info 6 versão 6.04d. Para os estudos de comparação, utilizou-se o teste de qui-quadrado (χ2), com vistas ao teste de dissemelhança entre estratos, calculando-se o Odds ratio (OR) com intervalos de confiança (IC) de 95%. Foi considerado o nível de significância de 5% (P ≤ 0,05). Quando necessário, utilizaram-se o χ2 corrigido de Yates e o teste de Fisher para a comparação de grupos com pequenos tamanhos amostrais. RESULTADOS Da amostra inicial deste estudo, houve perda de 140 resultados (16%) referentes aos indivíduos do grupo controle que não compareceram para a leitura do PPD, realizado após solicitação médica ambulatorial, devido à suspeita clínica de TB ou por 48 protocolo de triagem em ambulatório especializado de infectologia (pacientes HIV positivos) e transplante renal. Os 734 resultados remanescentes compõem os Grupos B e C (Tabela 3). O Grupo A, constituído por pacientes reumatológicos em uso de infliximabe, realizou o teste de PPD antes de iniciar a terapia imunobiológica. A prevalência de PPD reativo foi de 24,5% no total do estudo (Tabela 3), sendo menor entre casos (Grupo A: 13%) do que nos controles (soma dos Grupos B e C) (27%) (χ2: 13; P = 0,0003). As chances de reatividade ao PPD nos casos corresponderam a apenas 42% das chances de reatividade entre os controles, variando de 25% a 70% (OR: 0,42; IC: 0,25-0,70; χ2: 13; P = 0,0003). A reatividade ao PPD nos controles, calculada em 27% (Tabela 3), não se apresentou homogênea entre “controles crônicos” de ambulatórios especializados caracterizados na Tabela 1 (grupo B: 22%) e “demais controles” constituídos por clientes de todas as idades, atendidos nos ambulatórios do HGF nas diversas especialidades médicas (pediatria, clínica médica, cirurgia, ginecologia, obstetrícia etc.), não vinculados a serviços especiais para acompanhamento de patologias crônicas (Grupo C: 31%) (χ2: 7; P = 0,009). As chances de reatividade ao PPD no Grupo B corresponderam a 64% das chances de reatividade do grupo C, variando de 45% a 91% (OR: 0,64; IC: 0,45-0,91), caracterizando que existe menor prevalência de PPD reativos nos pacientes crônicos. A subestratificação dos controles crônicos, comparando a prevalência entre os subgrupos B1 a B4, não conseguiu demonstrar dissemelhanças entre eles (χ2: 1,40; grau de liberdade 3; P = 0,70; 9/36/28/97/21/60/12/54). A reatividade ao PPD no Grupo A (Tabela 3) não se apresentou homogênea, quando analisada para os três subgrupos, conforme as patologias envolvidas, (χ2: 14; grau de liberdade: 2; P = 0,0007), sendo calculada em 4% entre os portadores de AR (subgrupo A1), 23% entre os portadores de EA (subgrupo A2) e em 26% entre os portadores de AP (subgrupo A3). As chances de reatividade ao PPD do subgrupo A1 corresponderam a 13% das chances de reatividade do subgrupo A2 (OR: 0,13; IC: 0,03-0,47; χ2: 12; P = 0,0004); e a 16% das chances de reatividade do subgrupo A3, apresentando-se estas últimas com diferença limítrofe para o nível de significância de 5% (OR: 0,16; IC: 0,02-1,04; χ2corrigido de Yates: 3,6; Pexata de Fisher = 0,05). A reatividade ao PPD do subgrupo A1 (Tabela 3) foi menor do que no Grupo B (22%), correspondendo a 16% das chances de reatividade ao PPD nesses controles (OR: 0,16; IC: 0,05-0,49; χ2: 14; P = 0,0002). Tal relação se manteve mesmo quando os controles crônicos foram testados separadamente entre os quatro serviços com pacientes crônicos, não demonstrando dissemelhanças entre si (χ2: 1,4; grau de liberdade: 3; P = 0,70) (Tabela 3). Rev Bras Reumatol 2011;51(1):40-52 Baixa prevalência de PPD reativo prévia ao uso de infliximabe: estudo comparativo em população amostral do HGF Tabela 3 Resultados do PPD na população estudada ≥ 5 mm < 5 mm Total Grupo PPD n (%) n (%) n χ2 P OR Intervalo de confiança (95%) A Casos 21 13% 136 87% 157 - - - - Controles 198 27% 536 73% 734 13 0,0003 0,42 0,25 - 0,70 B+C Controles B Crônicos 70 22% 247 78% 317 - - - - C Demais controles 128 31% 289 69% 417 7 0,009 0,64 0,45 - 0,91 Total 198 27% 536 73% 734 Casos A1 AR 4 4% 86 96% 90 - - - - A2 EA 14 26% 40 74% 54 12 0,0004 0,13 0,03 - 0,47 A3 AP 3 23% 10 77% 13 3,6** 0,05*** 0,16 0,02 - 1,04 Total 21 13% 136 87% 157 AR 4 4% 86 96% 90 - - - - B Crônicos 70 22% 247 78% 317 14 0,0002 0,16 0,05 - 0,49 B1 Reumato/2009 9 20% 36 80% 45 7 0,009 0,19 0,04 - 0,72 A1 B2 Tx renal 28 22% 97 78% 125 12 0,0005 0,16 0,05 - 0,51 B3 Outras Clínicas 21 26% 60 74% 81 14 0,0001 0,13 0,04 - 0,44 Infectologia 12 18% 54 82% 66 6 0,01 0,21 0,05 - 0,75 B4 mm: milímetro; χ : qui-quadrado; P: nível de significância estatística; OR: “Odds ratio”; n: número; *: Adultos crônicos com PPD solicitado pelos serviços de Reumatologia (Reumato/2009), Transplante renal (Tx renal) e Outras Clínicas (Neurologia, Endocrinologia, Gastroenterologia e Clínica Médica); Infectologia (ambulatório de pacientes HIV positivo); AR: Artrite Reumatoide; EA: Espondilite Anquilosante; AP: Artrite Psoriásica; **: χ2 corrigido de Yates; ***: teste de Fisher. 2 DISCUSSÃO A introdução na prática médica da terapia imunobiológica para o tratamento das doenças reumáticas fez com que surgissem diversos casos de TB ativa10 nos países desenvolvidos; e nos estudos de vigilância epidemiológica ficou demonstrada a reativação dessa doença em indivíduos previamente infectados.1,11,12 A Organização Mundial de Saúde estima que mais de um terço da população do planeta esteja infectada com Mycobacterium tuberculosis, com 95% dos infectados vivendo no países em desenvolvimento. Oitenta por cento destes concentram-se em 22 países, entre os quais se encontra o Brasil (15o lugar),13 apresentando uma incidência de 58 casos/100.000 habitantes.14 Façanha et al.15 relataram 18,5% de subnotificação de TB na cidade de Fortaleza, no período de 2000 a 2002. A incidência encontrada para o município foi de 91,87/100.000 habitantes, 58% maior do que a média nacional. Devido à alta prevalência da doença anunciada para o nosso meio, a prevenção da infecção primária ou reativação da ITBL no Brasil nos candidatos ao uso de anti-TNF seguiu as recomendações do CDC americano Rev Bras Reumatol 2011;51(1):40-52 para pacientes imunossuprimidos,5 apesar da ausência de estudos epidemiológicos que indicassem um ponto de corte ideal para o tamanho da reação do PPD em nossa população. Questiona-se, desde então, que a profilaxia instituída a partir de uma induração de 5 mm para o Brasil6 levaria ao excesso de tratamento profilático para TB,16 elevaria ainda mais o custo de tratamento17 desses pacientes e favoreceria o abandono e o surgimento de cepas bacilares multiresistentes.17,18 Este estudo foi realizado após constatação da prevalência de PPD reator prévia ao uso de biológico igual a 13,4% (Tabela 2) entre os 157 pacientes em uso de infliximabe no HGF até outubro de 2008. Questionou-se a possibilidade de haver falhas técnicas na execução do teste, gerando insegurança quanto à efetividade do exame para proteção de ITBL nos pacientes com indicação de terapia biológica. Essa prevalência está abaixo da esperada para uma região endêmica de tuberculose, o nordeste brasileiro, quando se utiliza como parâmetro a afirmativa da OMS, que projeta um valor mínimo de infecção tuberculosa em um terço da população mundial. Embora no Brasil não exista uma faixa de normalidade para a frequência de PPD reagente 49 Callado et al. na população, espera-se encontrar prevalência de PPD reator superior a esses 33% apontados pela OMS, principalmente entre indivíduos com suspeita clínica de TB da população de baixa renda, usuária do SUS. A busca por uma resposta para a baixa frequência de PPD reagente nessa amostra passou por uma revisão da qualidade laboratorial do exame realizado, com a avaliação criteriosa de cada etapa técnica, obedecendo às normas do Ministério da Saúde no Brasil, utilizando reagente padrão ouro nacional,19 com aceitação internacional e referência de bom desempenho na literatura.7,20,21 Portanto, acredita-se que a baixa frequência de PPD reativo não está relacionada a um déficit na qualidade intrínseca do exame. Os autores sentiram a necessidade de conhecer o desempenho real do teste de PPD que estava sendo ofertado à população local, realizando um levantamento dos resultados de PPD nos pacientes do HGF submetidos ao teste durante o ano de 2009. Este estudo, realizado com n amostral suficiente para obtenção de resultados de testes estatísticos conclusivos, identificou prevalências diferenciadas entre casos e controles, e entre subestratificações deles. Reconhecendo como grande a perda de 16% da amostra controle inicial (140/874), admite-se como possível a ocorrência de um viés de seleção que estaria influenciando o resultado final para maior e poderia estar criando a dissemelhança encontrada. Assim, considerando maior probabilidade de resultados negativos entre os indivíduos faltosos, pois se acredita que seriam os usuários sem reação inflamatória epidérmica local que tenderiam a não retornar para a leitura, realizou-se simulação do estudo incluindo os 140 usuários ausentes na qualidade de não reatores, confirmando a dissemelhança encontrada (21/136/198/676; OR: 0,53; IC: 0,31-0,88; χ2 = 6,85; P = 0,008). Pode-se concluir, portanto, que tal viés não prejudicou o estudo. Na literatura, alguns pesquisadores relatam perdas que são dependentes do grupo estudado, como os imigrantes da cidade de Toledo, na Espanha, com 22,2% de indivíduos que não completaram o estudo,22 e trabalhadores da área de saúde no México, com 12,1% de perdas.23 Dependendo da população, a busca ativa desses clientes faltosos deveria ser realizada pela vigilância local, na tentativa de reduzir a disseminação da TB pelos doentes em potencial entre os consulentes que realizaram o PPD. A prevalência de 27% para o PPD reator no grupo controle em 2009 também ficou abaixo das expectativas para uma região endêmica de M. tuberculosis. Os controles deste estudo foram avaliados em subgrupos específicos após se verificar que a população não era homogênea; envolvia indivíduos de todas as faixas etárias com a possibilidade de serem portadores de doenças crônicas, terem realizado o exame por suspeita clínica de TB ou que seguiam protocolo de triagem, como, por exemplo, os pacientes HIV positivos e os renais crônicos. 50 Apesar de todos os esforços para separar e caracterizar essa amostra-controle, o maior índice de positividade do PPD não ultrapassou 31% nos indivíduos de maior risco, subgrupo C, de pacientes com suspeita clínica de TB. Esse subgrupo apresentou-se com prevalência dissemelhante em relação ao subgrupo B (doenças crônicas). Os testes de dissemelhança entre os controles crônicos não evidenciaram prevalências dissemelhantes entre os pacientes com ou sem suspeitas clinicas de tuberculose, com os quatro subgrupos permanecendo com resultados reagentes em torno de 20%. O grupo de casos também foi subdividido por patologias, constatando-se que o subgrupo A1 apresentava comportamento diferente em relação aos subgrupos A2 e A3, ambos com positividade semelhante à positividade do Grupo B. O subgrupo A1, constituído por pacientes com AR, apresentou prevalência de PPD reator de 4%, muito inferior a qualquer dos subgrupos de pacientes crônicos, inclusive dos constituídos por pacientes HIV positivos e dos pacientes submetidos à hemodiálise, que apresentam a resposta aos testes de hipersensibilidade tardia prejudicada, reconhecida em diversos trabalhos da literatura.24,25,26,27,28,29 Dois estudos brasileiros recentes para resposta ao PPD nos pacientes reumatológicos candidatos a terapias imunobiológicas revelaram resposta atenuada ao PPD nos pacientes com AR,16,30 semelhante aos achados internacionais,31,32 que atribuem essa anormalidade a deficiências de imunidade celular nos pacientes portadores dessa patologia. No estudo desenvolvido em 2007, em Recife, a prevalênca de PPD reator no grupo de comparação (33,3%) foi maior que o grupo de AR (14,6%), com diferença estatisticamente significante (P = 0,034); os 48 indivíduos adultos saudáveis selecionados como controles apresentavam história de vacinação com BCG na infância, confirmada pela presença da cicatriz no braço, sendo alguns deles profissionais de saúde que trabalhavam no ambulatório de reumatologia local.16 Laurindo et al.30 demonstraram em São Paulo que a frequência de PPD positivo foi significativamente menor nos pacientes com AR (27%) quando comparados ao grupo controle (58,6%), constituído por indivíduos saudáveis, com idade média de 34 anos, empregados na área administrativa do hospital. Evidencia-se, entretanto, que esses dois trabalhos nacionais apresentam fatores que elevam a frequência populacional de PPD reator, como vacinação prévia33 e/ou trabalhadores da área de saúde incluídos nos grupos controle,34,35 favorecendo as diferenças estatísticas relatadas entre os grupos de comparação. Em um estudo desenvolvido no Peru,36 onde a TB é endêmica e a prevalência da cicatriz do BCG é superior a 80%, o PPD foi realizado em um grupo de pacientes com AR e comparado com voluntários imunocompetentes, pareados por sexo e idade. Foi identificada uma positividade (PPD > 5 mm) Rev Bras Reumatol 2011;51(1):40-52 Baixa prevalência de PPD reativo prévia ao uso de infliximabe: estudo comparativo em população amostral do HGF de 71% no grupo imunocompetente, contra 29% no grupo com AR. Essas discrepâncias de resultados foram associadas à anormalidade da imunidade celular da AR.34 Na Turquia, área onde a prevalência de TB é relativamente elevada e a presença de cicatriz da BCG foi identificada em 90% do universo do estudo, Köker et al.37 relataram uma positividade ao PPD em AR (29,8%) menor do que a encontrada entre pacientes portadores de espondilite anquilosante (65,9%), artrite gotosa (68,8%) e osteoartrite (63%), sem conseguir relacionar com sintoma clínicos de doença. Apesar da baixa prevalência de PPD reator observado na totalidade do presente estudo, nele também se identificam as diferenças relativas entre os estratos encontradas na literatura,16,30,31,32 com a falha de os pacientes portadores de AR reagirem ao PPD. A baixíssima prevalência dos pacientes com AR (4%) poderia ser explicada pela atenuação global da resposta ao PPD nessa casuística. O estudo realizado por Marques et al.16 em outra cidade do nordeste (Recife) também revelou prevalência de PPD reator de 14,6% em AR, índice bem inferior ao encontrado por Laurindo et al.30 em São Paulo (27%). Esses resultados poderiam levar a vários questionamentos, envolvendo características socioeconômicas, genéticas e epidemiológicas dessas amostras populacionais. As prevalências de PPD dos estudos nacionais também foram inferiores às encontradas na Turquia e no Peru, países tidos como tendo condições epidemiológicas para TB equivalentes ao Brasil. A prevalência de um evento numa população corresponde à soma de suas ocorrências. Relativamente à reatividade do PPD, a prevalência corresponde à somatória dos percentuais de indivíduos com infecção tuberculosa com os percentuais daqueles com sensibilização vacinal. Poderíamos explicar as altas prevalências dos exemplos de Turquia e Peru como determinadas pelos níveis de infecção local e influenciadas pela vacina BCG intradérmica, que é indutora de resposta persistente ao PPD.31 Apesar de este estudo não disponibilizar dados sobre história vacinal, pode-se atestar, pela predominância de adultos na população amostral, com o grupo de casos em idade superior a 30 anos, que tais indivíduos nasceram antes de 1976, quando ocorreu a substituição oficial no Brasil da vacina BCG oral (que não faz viragem do PPD) pela vacina BCG intradérmica.33 Pode-se admitir que a resposta positiva ao PPD desses pacientes do HGF evidenciava unicamente a existência de infecção tuberculosa, não se tratando de pré-sensibilização vacinal. E, quanto à baixa frequência de infecção tuberculosa encontrada em nosso meio, através da reatividade ao PPD, reconhecemos a necessidade de se realizarem estudos populacionais que demonstrem a situação epidemiológica projetada pela OMS para o Brasil. Um estudo para avaliar a incidência Rev Bras Reumatol 2011;51(1):40-52 de infecção tuberculosa na cidade de Vitória, entre 178 estudantes de enfermagem que apresentavam cicatriz vacinal, no período de 1997 a 1999, demonstrou uma frequência de resultados positivos (PPD ≥ 10 mm) de 20,3%,32 acrescidos de 21% de estudantes reatores fracos (PPD maior ou igual a 5 mm e menor que 9 mm). A ampliação desse estudo, realizado com 441 acadêmicos de medicina e 218 alunos de economia em 2002,38 obteve 34,4% de reatividade ao PPD (18,4% fortes e 16% fracos) para estudantes de medicina e apenas 13% (6% fortes e 7% fracos) entre os alunos de economia, o que sugere um risco ocupacional para PPD reagente, porém com baixas prevalências, não se mostrando compatível com a situação epidemiológica projetada pela OMS. O acompanhamento da presença de infecção tuberculosa nos pacientes que estão em uso de infliximabe será de fundamental importância para a avaliação desses resultados de PPD. Porém, quaisquer que sejam as prevalências locais encontradas em outros estudos, entendemos que a resposta dos pacientes com AR será sempre inferior, confirmando a limitação do PPD para o diagnóstico de infecção tuberculosa nessa patologia reumática. REFERences referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Keane J. TNF-Blocking agents and tuberculosis: new drugs illuminate an old topic. 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Rev Bras Reumatol 2011;51(1):40-52 Artigo original Tradução e validação do The five part questionnaire for identifying hypermobility para a língua portuguesa do Brasil Daniela Aparecida de Moraes1, Carlos Alberto Baptista2, José Alexandre Souza Crippa3, Paulo Louzada-Junior4 RESUMO Introdução: A hipermobilidade articular (HA) é uma condição clínica hereditária em que há aumento da elasticidade articular em movimentos passivos. Na população em geral, a frequência varia entre 10% e 20%, podendo ser estimada por métodos específicos como o Escore de Beighton, e o The five part questionnaire for identifying hipermobility, um questionário de autoavaliação para a identificação da HA. Objetivos: Validar o The five part questionnaire for identifying hipermobility para a língua portuguesa e determinar sua sensibilidade e especificidade quando comparado ao escore de Beighton no diagnóstico da HA. Métodos: O The five part questionnaire for identifying hipermobility foi traduzido para a língua portuguesa e aplicado em 2.523 universitários brasileiros. A seguir, o escore de Beighton foi aplicado em uma amostra de 394 estudantes selecionados aleatoriamente do primeiro grupo, a fim de estabelecer o diagnóstico de HA. Finalmente, ambos os métodos foram estatisticamente comparados. Resultados: A frequência da HA foi de 37,01% quando avaliada através do questionário de autoavaliação, e 34% com o escore de Beighton. As frequências da doença, quando o questionário de autoavaliação e o escore de Beighton foram aplicados, foram, respectivamente, 43,5% e 44,2% no sexo feminino, e 28,44% e 16% no masculino. A sensibilidade do questionário de autoavaliação foi de 70,9%, e a especificidade, de 77,4%, com área sob a curva ROC (receiver operating characteristic) de 0,786%. Conclusões: A HA é frequente em universitários brasileiros e mais comum no sexo feminino. O questionário de autoavaliação para identificação de HA, traduzido e validado para a língua portuguesa, foi um método efetivo para sua identificação, quando comparado ao escore de Beighton. Palavras-chave: instabilidade articular, estudos de validação, programas de autoavaliação, questionários. [Rev Bras Reumatol 2011;51(1):53-69] ©Elsevier Editora Ltda. INTRODUÇÃO A hipermobilidade articular (HA) é uma condição clínica hereditária caracterizada pelo aumento da elasticidade articular em movimentos passivos e hipermobilidade em movimentos ativos.1,2 Sua prevalência na população em geral varia entre 10% a 20%, diminui com a idade e é mais comum em mulheres do que em homens.3,4,5,6 Existe ainda ampla variação étnica,3,4,7,8 sendo mais frequente em asiáticos e africanos do que em caucasianos.3,4,9 Embora a maioria das pessoas com HA não apresente sintomas,10 nos últimos anos essa patologia tem-se apresentado como uma das principais causas de dor crônica.11 No entanto, muitos pacientes com HA e dor crônica permanecem sem diagnóstico.12 A HA pode estar associada a uma série de sintomas, tanto musculoesqueléticos quanto não relacionados ao aparelho locomotor. A artralgia é um dos sintomas mais frequentes, podendo acometer 31% dos indivíduos.13 Os pacientes apresentam maior frequência de reumatismos de partes moles (tendinites, Submetido em 21/12/2010. Aprovado, após revisão, em 10/1/2011. Declaramos a inexistência de conflitos de interesse. Comitê de Ética nº 11.570/2003. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – FMRP/USP, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. 1. Médica Assistente da Unidade de Terapia Imunológica – Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto – HC/USP; Mestre em Clínica Médica FMRP/USP 2. Professor Adjunto da Universidade de Franca (Unifran); Doutor em Psiquiatria na FMRP/USP 3. Professor do Departamento de Psiquiatria da FMRP/USP; Doutor em Psiquiatria na FMRP/USP 4. Professor da Disciplina de Reumatologia da FMRP/USP; Doutor em Clínica Médica na FMRP/USP Correspondência para: Daniela Aparecida de Moraes. Departamento de Clínica Médica – Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto – USP. Av. Bandeirantes, 3900, Monte Alegre, Ribeirão Preto, SP, Brasil. CEP: 14048-900. E-mail: [email protected]. Rev Bras Reumatol 2011;51(1):53-69 61 Moraes et al. bursites, fasciítes e fibromialgia)14,15 e síndrome da fadiga crônica.16,17 As manifestações extra-articulares associadas são as desordens de ansiedade, como síndrome do pânico e agorafobia,11,18 prolapso de válvula mitral19,20 e disautonomias, além de varizes, prolapsos retal e uterino,15 aumento de elasticidade cutânea (estrias) e da elasticidade palpebral.13 Apesar dos sérios impactos na qualidade de vida dos indivíduos,21 a HA ainda é considerada controversa para muitos reumatologistas, pois testes para sua identificação ainda não fazem parte do exame físico rotineiro. Dessa forma, possivelmente a síndrome de HA é subdiagnosticada e subestimada pela maioria dos reumatologistas.22 O escore de Beighton é o método mais usado para o diagnóstico de HA.1,18,21 Mas, apesar de esse escore ser importante para os estudos epidemiológicos, não constitui uma ferramenta apropriada para autoavaliação. Além disso, o ponto de corte de quatro em nove para a positividade do escore é arbitrário, requer um exame físico de articulações específicas e não leva em consideração a mobilidade prévia do indivíduo. Também exclui a avaliação de locais comuns de hipermobilidade, como pescoço, ombros, quadris e tornozelos, podendo gerar um número significativo de falso-negativos. Na expectativa de superar essa dificuldade, Hakim e Grahame apresentaram, em 2003, o The five part-questionnaire for identifying hypermobility, um questionário com cinco questões autoaplicáveis, no formato SIM/NÃO, em que a presença de, no mínimo, duas respostas “SIM” identificam história prévia ou atual de HA. Até o momento, esse questionário tem sido aplicado apenas na população inglesa, com resultados concordantes com o escore de Beighton. O The five-part questionnaire for identifying hypermobility identificou corretamente 84% dos indivíduos com sensibilidade de 77%-85% e especificidade de 89%.23 Assim, os objetivos deste estudo foram validar o questionário de autoavaliação The five-part questionnaire for identifying hypermobility23 para a língua portuguesa do Brasil, e determinar a sensibilidade e a especificidade do questionário de autoavaliação para a identificação de hipermobilidade articular em relação ao escore de Beighton. MATERIAIS E MÉTODOS Validação do questionário de Hakim & Grahame para a língua portuguesa Tradução do questionário Inicialmente, foram realizadas traduções da versão original em inglês do The five-part questionnaire for identifying 62 hypermobility, representado na Figura 1, para a língua portuguesa, por um tradutor científico e quatro médicos reumatologistas brasileiros com fluência oficial em língua inglesa. As cinco versões obtidas foram comparadas e discutidas pelos cinco tradutores, chegando-se ao consenso de uma versão final comum. Esta, então, foi retrotraduzida de forma independente por outros dois tradutores científicos – um deles de língua nativa – que não tiveram acesso à versão original em inglês. O tradutor de língua nativa escolheu, entre as duas versões retrotraduzidas, a mais adequada. O questionário original foi então comparado com o retrotraduzido pelos cinco primeiros tradutores, constatando-se a fidedignidade existente entre os dois. O questionário obtido em português foi então aplicado (testagem-piloto) a um número reduzido de indivíduos (60 estudantes dos cursos de medicina, psicologia, fisioterapia e terapia ocupacional, da Universidade de São Paulo (USP), campus Ribeirão Preto), a fim de se avaliarem as eventuais dificuldades de compreensão durante a aplicação do instrumento. As sugestões e as dificuldades de entendimento dos participantes deste grupo de testagem-piloto foram levadas em conta na formulação Please mark with a cross the reply you consider correct. 1. Can you now (or could you ever) place your hands flat on the floor without bending your knees? Yes No 2. Can you now (or could you ever) bend your thumb to touch your forearm? Yes No 3. As a child did you amuse your friends by contorting your body into strange shapes or could you do the splits? Yes No 4. As a child or teenager did your shoulder or kneecap dislocate on more than one occasion? Yes No 5. Do you consider yourself double-jointed? Yes No Thank you very much for your collaboration. Please feel free to ask if you do not understand some of the questions. Figura 1 Questionário original de autoavaliação para identificação de hipermobilidade articular, em inglês, criado por Alan Hakin e Rodney Grahame. Rev Bras Reumatol 2011;51(1):53-69 Tradução e validação do The five part questionnaire for identifying hypermobility para a língua portuguesa do Brasil da versão final do questionário, através da colocação de figuras demonstrativas. A versão adaptada foi novamente aplicada a esse grupo-piloto, com total entendimento de todas as questões. Na Figura 2, está representado o questionário aplicado no estudo, com as modificações realizadas após a testagem-piloto. O questionário final contendo as modificações realizadas após a testagem-piloto foi remetido aos autores da escala original, Alan Hakim e Rodney Grahame, na Inglaterra, para apreciação, com total aprovação dessa versão adaptada. Aplicação do instrumento (QUESTIONÁRIO) Na primeira fase do estudo, a versão final do questionário de autoavaliação para identificação de HA traduzida para a língua portuguesa foi aplicada em 2.523 indivíduos, sendo um aluno do ensino fundamental e 2.522 universitários de diversos cursos (609 alunos do 1° ao 4° ano de medicina, e os demais pertencentes aos Perguntas para diagnóstico da Síndrome de Hipermobilidade Por favor, assinale com um X a resposta que considerar correta. 1. Você consegue (ou já conseguiu) colocar as palmas das mãos completamente estendidas no chão sem dobrar os joelhos? (Veja figura) Sim Não 2. Você consegue (ou já conseguiu) dobrar para trás o seu polegar até tocar o seu antibraço? (Veja figura) Sim Não 3. Quando criança você divertia seus amigos contorcendo o seu corpo em posições estranhas OU podia abrir completamente as pernas , como bailarina? Sim Não 4. Quando criança ou adolescente você já deslocou ou o ombro ou a patela (a rótula do joelho) em mais de uma ocasião? Sim Não 5. Você se considera uma pessoa mais flexível que o normal? Sim Não Muito obrigado pela sua colaboração. Sinta-se a vontade para perguntar no caso de não compreender alguma das perguntas. Figura 2 Questionário de autoavaliação para identificação de hipermobilidade articular aplicado no estudo, com as modificações realizadas após a testagem-piloto. Rev Bras Reumatol 2011;51(1):53-69 cursos de enfermagem, psicologia, fisioterapia, terapia ocupacional, direito, química, física médica e fonoaudiologia) da USP, campus Ribeirão Preto, Universidade de Franca (Unifran) e Centro Universitário Barão de Mauá, em Ribeirão Preto. A aplicação do instrumento foi coletiva e conduzida em sala de aula. O tempo médio de aplicação foi de dois minutos. Aplicação do escore de Beighton Na segunda fase do estudo, seis meses após a aplicação do questionário de autoavaliação para a identificação de HA, dos 2.523 participantes, 394 foram selecionados para a realização do escore de Beighton. Esses participantes constituíram uma amostra com variáveis (sexo, idade) representativas às obtidas na primeira fase, e foram selecionados aleatoriamente. Nessa etapa, alguns dos participantes responderam novamente ao questionário de autoavaliação para identificação de HA e, em seguida, foi aplicado o escore de Beighton em local apropriado, sem que o examinador tivesse acesso aos questionários respondidos. Escore de Beighton No escore de Beighton, pacientes recebem um escore numérico de 0 a 9, com um ponto sendo atribuído pela habilidade de executar cada um dos testes que se seguem. Quando se totalizam quatro ou mais pontos, obtém-se o diagnóstico de HA.1,24 Os testes são: 1. Dorsiflexão passiva do 5° metacarpo-falangeano mais de 90°: para cada lado (direito e esquerdo) afetado, temos 1 ponto, podendo totalizar aqui 2 pontos. 2. Opor o polegar no antebraço: para cada lado (direito e esquerdo) acometido, temos 1 ponto, podendo totalizar aqui 2 pontos. 3. Hiperestender o cotovelo mais de 10°: a manobra deve ser realizada tanto à direita quanto à esquerda. Se a medição ultrapassar 10°, temos 1 ponto para cada lado do corpo, podendo totalizar aqui 2 pontos. 4. Hiperestender os joelhos mais de 10°: se a medida ultrapassar 10°, atribuímos 1 ponto para cada lado, podendo totalizar 2 pontos. 5. Colocar as mãos no chão sem dobrar os joelhos: alcançando-se tal objetivo, temos 1 ponto. Cada participante teve, então, sua pontuação alcançada no escore de Beighton quantificada pelo examinador. Os escores de todos os participantes avaliados foram analisados e, posteriormente, comparados aos dados obtidos através do questionário de autoavaliação para identificação de HA. 63 Moraes et al. Análise da comparação entre o questionário de autoavaliação para identificação de hipermobilidade articular e escore de Beighton Considerando-se que o escore de Beighton é uma maneira eficiente de se diagnosticar a HA, objetivou-se estabelecer, para essa população estudada, a sensibilidade e a especificidade do questionário de autoavaliação para o diagnóstico de HA (teste). Os dados do escore de Beighton e do questionário de autoavaliação para identificação de hipermobilidade articular foram inseridos em um programa MedCalc® for Windows Versão 9.0.1.1 (MedCalc Software, Mariakerke, Belgium), visando à confecção de uma curva ROC (receiver operating characteristic), gráfico que pode ser usado como auxílio da avaliação de utilidade de um teste, à determinação do ponto de corte mais apropriado.25 A partir dessa curva, foi possível estabelecer para a população de universitários brasileiros o melhor ponto de corte para o teste (questionário de autoavaliação para identificação de HA). Para a avaliação da concordância das respostas obtidas no questionário de autoavaliação para identificação de HA, de um mesmo participante nas duas fases do estudo, foram utilizados três métodos estatísticos: o Kappa (concordância intragrupo), o coeficiente de correlação de Pearson e o coeficiente de correlação de postos de Spearman.25 O projeto e seu termo de consentimento livre esclarecido foram submetidos ao Comitê de Ética e Pesquisa do HCFMRP-USP, sendo ambos aprovados. Todos os participantes ou seus representantes legais assinaram termo de consentimento livre e esclarecido. RESULTADOS PRIMEIRA FASE Testagem-piloto Sessenta pessoas participaram da testagem-piloto do questionário de autoavaliação para identificação de HA, traduzido para a língua portuguesa. Na aplicação do questionário, 18 participantes tiveram dúvidas relacionadas à execução da manobra da segunda questão “Você consegue (ou já conseguiu) dobrar para trás seu polegar até tocar o antebraço?”. Para melhor entendimento, esta foi então ilustrada. Já a primeira questão, “Você consegue (ou já conseguiu) colocar as palmas das mãos completamente estendidas no chão sem dobrar os joelhos?”, foi ilustrada, por sugestão dos 64 participantes da testagem-piloto, para evitar que dúvidas surgissem no momento da aplicação em grande escala. O questionário final contendo as modificações realizadas após a testagem-piloto foi remetido aos autores da escala original, Alan Hakim e Rodney Grahame, na Inglaterra, para apreciação, com total aprovação desta versão adaptada. Aplicação do questionário final O questionário de autoavaliação final para identificação da HA, traduzido para a língua portuguesa, foi aplicado em 2.523 indivíduos, sendo 2.522 universitários e 1 aluno do ensino fundamental. Todos os participantes responderam às cinco questões. Em relação ao sexo, dos 2.523 participantes, 1.433 (56,79%) eram do sexo feminino, a idade variou dos 17 aos 60 anos, exceto para o participante do ensino fundamental, cuja idade foi de 10 anos (Tabela 1). A maior concentração etária foi observada dos 20 aos 24 anos (1.476 participantes, 58,50%), seguida pelo grupo de 17 a 19 anos (679 participantes, 26,91%). Durante a aplicação do questionário, surgiram dúvidas relacionadas à quinta questão, “Você se considera uma pessoa mais flexível do que o normal?”. Alguns participantes questionaram se ser mais flexível significava ser mais maleável ou não ser radical em suas atitudes. Os que apresentaram Tabela 1 Comparação dos grupos etários e do sexo dos participantes da primeira e da segunda fases do estudo em números absolutos e em números percentuais em relação ao número total de participantes de cada fase Idade (anos) 10 17-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 > 45 Total Número 1°fase (%) / 2°fase (%) 1 (0,03) / 1 (0,25) 679 (26,91) / 80 (20,3) 1.475 (58,46) / 209 (53) 248 (9,82) / 55 (13,95) 74 (2,93) / 16 (4) 26 (1) / 13 (3,29) 8 (0,31) / 8 (2) 12 (0,47) / 12 (3) 2.523 (100) / 394 (100) Sexo feminino 1°fase (%) / 2°fase (%) 0 (0) / 0 (0) 457 (18,11) / 62 (15,73) 794(31,47) / 132 (33,50) 118 (4,67) / 31 (7,86) 40 (1,58) / 10 (2,53) 12 (0,47) / 6 (1,52) 5 (0,19) / 5 (1,26) 7 (0,27) / 7 (1,77) 1.433 (56,79) / 253 (64,21) Sexo masculino 1°fase (%) / 2°fase (%) 1 (0,03) / 1 (0,25) 222 (8,79) / 18 (4,56) 681 (26,99) / 77 (19,54) 130 (5,15) / 24 (6,09) 34 (1,34) / 6 (1,52) 14 (0,55) / 7 (1,77) 3 (0,11) / 3 (0,76) 5 (0,19) / 5 (1,26) 1.090 (43,20) / 141 (35,78) Rev Bras Reumatol 2011;51(1):53-69 Tradução e validação do The five part questionnaire for identifying hypermobility para a língua portuguesa do Brasil esse questionamento tiveram sua dúvida sanada no momento da aplicação. Análise das respostas do questionário Dos 2.523 participantes do estudo, 747 (29,60%) não responderam SIM a qualquer pergunta do questionário de autoavaliação para identificação de HA (368 do sexo feminino e 379 do sexo masculino), enquanto 1.776 (70,39%) responderam SIM a, no mínimo, uma questão. Destes 1.776 participantes, 842 (33,37%) responderam SIM a uma única pergunta (441 do sexo feminino e 401 do sexo masculino) e 934 (37,0%) responderam SIM a duas questões no mínimo, o que, de acordo com os criadores do questionário, estabelece o diagnóstico de HA. A frequência da doença foi de 43,54% no sexo feminino, e 28,44% no sexo masculino. A maioria dos 842 participantes (33,37%) que responderam SIM a uma única questão do questionário, respondeu à questão número 1 (430: 51%), seguidas pelas questões 2 (251: 29,8%), 3 (102: 12%), 4 (35: 4,1%) e 5 (24: 2,8%). Quinhentos e oitenta participantes responderam SIM a duas questões. As combinações de respostas mais encontradas foram 1 + 2 (33%) ou 1 + 3 (31%), e a minoria dos participantes respondeu à combinação 3 + 5 (1,3%) ou 4 + 5 (0,5%). Dos 2.523 participantes, 250 (9,9%) responderam SIM a três questões. Nesse caso, 10 combinações de respostas foram possíveis, porém a mais encontrada foi a combinação 1 + 2 + 3 (49,6%), enquanto as menos respondidas foram 1 + 4 + 5 (0,8%) e 2 + 4 + 5 (0,8%). Dos 2.523 participantes, 90 (3,56%) responderam SIM a quatro questões. Para obtenção de quatro respostas positivas em cada questionário, cinco combinações foram possíveis. A maioria dos participantes desse grupo respondeu à combinação 1 + 2 + 3 + 5 (74,4%). Catorze (0,55%) participantes responderam SIM a cinco questões. Para todos os somatórios de respostas positivas, a maioria dos respondedores tinha entre 20-24 anos, com predominância do sexo feminino. Os participantes que receberam o diagnóstico de hipermobilidade articular através do escore de Beighton, e que eram sintomáticos, foram encaminhados para seguimento em ambulatórios de reumatologia. SEGUNDA FASE Aplicação do Escore de Beighton O exame físico para a elaboração do escore de Beighton foi realizado em 394 participantes escolhidos de maneira aleatória, sendo 253 do sexo feminino e 141 do sexo masculino. A maior parte dos participantes dessa segunda fase tinha entre 17 e 24 anos. Comparando-se à população de 2.523 participantes que respondeu ao questionário de autoavaliação para identificação da HA, constatamos que os dois grupos apresentam características semelhantes em relação ao sexo e à idade (Tabela 1). Os 394 participantes selecionados para a realização do escore de Beighton responderam novamente ao questionário de autoavaliação para a identificação de HA. Os dados obtidos foram comparados com os dados obtidos na primeira fase, e de acordo com a Tabela 2, observamos também semelhanças para o somatório de respostas positivas. Diante dessas análises, conclui-se que as populações da primeira e segunda fases do estudo são semelhantes, e que a aplicação do teste (questionário) e do exame físico (escore de Beighton) para o diagnóstico de HA em uma delas pode ser inferida para a outra. Através do escore de Beighton, dos 394 participantes, 134 (34%) receberam o diagnóstico de HA, sendo 112 do sexo feminino e 22 do sexo masculino. A frequência encontrada foi de 44,26% no sexo feminino e 16% no sexo masculino. Questionário de autoavaliação para identificação de hipermobilidade articular x Escore de Beighton O escore de Beighton foi aplicado a 394 participantes. Após a obtenção dos dados, foi realizada a correlação entre o Tabela 2 Comparação do somatório do número de questões positivas em cada questionário em relação ao sexo: distribuição em números absolutos e percentuais sobre o número total de participantes de cada fase Somatório de questões Zero questão 1 questão positiva 2 questões positivas 3 questões positivas 4 questões positivas 5 questões positivas Total Rev Bras Reumatol 2011;51(1):53-69 Total 1ª fase / 2ª fase 747 (29,6) / 115 (29,18) 842 (33,37) / 23 (31,21) 580 (22,98) / 90 (22,84) 250 (9,9) / 46 (11,67) 90 (3,56) / 16 (4,06) 14 (0,55) / 4 (1,01) 2.523 / 394 Sexo feminino 368 / 63 441 / 72 377 / 67 180 / 37 57 / 11 10 / 3 1.433 / 253 Sexo masculino 379 / 52 401 / 51 203 / 23 70 / 9 33 / 5 4/1 1.090 / 141 65 Moraes et al. Tabela 3 Aplicação do teste (questionário para identificação de hipermobilidade articular) x diagnóstico da doença (escore de Beighton) Questionário positivo Questionário negativo Total Beighton + (%) 93 (59,6) 41 (17,2) 134 Beighton - (%) 63 (40,4) 197 (82,8) 260 Total 156 238 394 Test 100 80 Sensibilidade questionário de autoavaliação para identificação de HA anteriormente respondido e os dados do exame físico. Adotando-se duas ou mais respostas positivas no questionário de autoavaliação para identificação de HA como diagnóstico (teste positivo), dos 394 participantes, obteve-se o teste positivo em 156. Destes, 93 tiveram exame físico compatíveis com a doença, e 63 não compatíveis com a doença. Ainda dos 394 participantes, obteve-se o teste negativo em 238. Nesse grupo, após a realização do escore de Beighton, a doença foi observada em 41 indivíduos, e a ausência de doença, em 197 (Tabela 3). Considerando-se esses dados, constatou-se que a sensibilidade do teste foi 0,69 (93/134), enquanto a especificidade foi 0,75 (197/260). Esses dados foram aplicados a uma Curva ROC, com área de 0,786 sobre a curva (Figura 3). Os dados obtidos, após essa aplicação em relação a sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo (+PV) e valor preditivo negativo (-PV), estão apresentados na Tabela 4. Como é possível observar, o critério que traz maior equilíbrio entre a sensibilidade e a especificidade é o de > 1 questão positiva, como também observado no questionário original de Grahame e Hakim.23 60 40 20 Correlação entre os questionários respondidos por um mesmo participante nas primeira e na segunda fase do estudo Dos participantes da segunda fase do estudo, 211 responderam novamente ao questionário de autoavaliação para identificação de hipermobilidade articular. Com as respostas de um mesmo participante em duas ocasiões distintas, calculou-se a concordância intragrupo (Kappa) para cada uma das cinco questões abordadas no questionário, além do coeficiente de correlação de Pearson e o coeficiente de correlação de postos de Spearman. Observou-se que, para as questões 1 (K: 0,63), 2 (K: 0,7) e 3 (K: 0,65), houve força de concordância boa, enquanto, para as questões 4 (K: 0,57) e 5 (K: 0,48), a força de concordância foi moderada (Tabela 5). 0 0 A HA é uma entidade clínica hereditária extremamente prevalente, e o escore de Beighton é o método mais difundido no mundo para sua identificação. Na tentativa de facilitar o estudo epidemiológico em larga escala da HA, Alan Hakim e Robert Grahame criaram um 66 40 60 80 100 100-especificidade Figura 3 Curva ROC obtida após a aplicação do questionário de autoavaliação para identificação de hipermobilidade articular e o escore de Beighton. Tabela 4 Dados obtidos após a colocação dos dados (teste positivo ou negativo x diagnóstico ou não diagnóstico de doença) em curva ROC Critério DISCUSSÃO 20 ≥0 >0 >1 >2 >3 >4 >5 Sensibilidade (95% de I.C.) 100 (97,1-100) 90,6 (84,1-95,0) 70,9 (62,1-78,6) 36,2 (27,9-45,2) 15,7 (9,9-23,3) 4,7 (1,8-10) 0,0 (0,0-2,%) Especificidade (95% de I.C.) 0,0 (0,0-1,6) 41,7 (35,3-48,4) 77,4 (71,4-82,6) 93 (88,9-96) 99,1 (96,9-99,9) 100 (98,4-100) 100 (98,4-100) +PV 35,6 46,2 63,4 74,2 90,9 100 -PV 88,9 82,8 72,5 68,1 65,5 64,4 Rev Bras Reumatol 2011;51(1):53-69 Tradução e validação do The five part questionnaire for identifying hypermobility para a língua portuguesa do Brasil Tabela 5 Análises estatísticas da correlação das respostas obtidas para cada questão do questionário de autoavaliação, visando à identificação de hipermobilidade articular, aplicado na primeira e na segunda fases do estudo Número da Questão Kappa 1 2 3 4 5 0,63 0,70 0,65 0,57 0,48 Coeficiente de correlação de Pearson 0,6493 0,6954 0,6442 0,4737 0,50 Coeficiente de correlação de postos de Spearman 0,69 0,56 0,70 0,34 0,52 questionário de autoavaliação.23 A utilização de um questionário de autoavaliação poderia representar uma alternativa em situações nas quais o exame físico é impraticável, em especial quando não conta com a avaliação da totalidade das articulações, e não leva em consideração a flexibilidade do indivíduo no passado. Como no Brasil existem poucos estudos publicados sobre HA,26,27 e os realizados avaliaram crianças e contaram com um número menor de participantes, decidimos validar o questionário de autoavaliação para a identificação da HA. Durante a testagem-piloto, na aplicação do questionário, surgiram algumas dúvidas relacionadas à segunda questão, “Você consegue (ou já conseguiu) dobrar para trás o seu polegar até tocar o antebraço?”. Participantes questionaram se o polegar deveria tocar a porção anterior ou posterior do antebraço. Realmente, essa dúvida foi plausível, já que, se tomarmos como referência a posição anatômica, o dobrar para trás poderia levar o respondedor a raciocinar que o polegar deveria tocar a porção posterior do antebraço, quando a pergunta visa avaliar o tocar do polegar na porção anterior do antebraço. Para melhor entendimento, a segunda questão foi então ilustrada. O questionário traduzido para a língua portuguesa e ilustrado foi aplicado em 2.523 participantes, universitários em sua maioria (2.522), com idade variando entre 17 e 60 anos. Tendo em vista essa faixa etária, trata-se do estudo brasileiro com a população mais numerosa já avaliada até o momento, e um dos maiores do mundo, sendo que o maior já realizado e publicado contou com a aplicação do questionário de autoavaliação em 2.600 participantes no Reino Unido.28 Em nosso estudo, a maioria dos participantes (85,36%) era jovem (entre 17 e 24 anos), assemelhando-se à maioria dos estudos realizados nos diferentes países. A frequência de HA encontrada foi de 37%. No estudo de incidência de HA em uma população de gêmeas, obtido através do questionário de autoavaliação, Hakim et al.23,28 Rev Bras Reumatol 2011;51(1):53-69 afirmaram que o instrumento utilizado foi uma boa ferramenta, pelas seguintes razões: primeiro, foi compreensível, simples e não continha ambiguidades; segundo, foi respondido na íntegra por todos os participantes; e terceiro, a sensibilidade e a especificidade dos achados se comportaram naquela população da mesma maneira que na população estudada para a elaboração do método.Em nosso estudo, no entanto, a versão final do questionário gerou dois problemas que não prevíamos. O primeiro foi identificado durante a aplicação e estava relacionado ao significado da palavra flexível, presente na quinta questão, “Você se considera uma pessoa mais flexível do que o normal?”. Realmente, de acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (p. 1.356), flexível pode significar aquele “que se dobra ou curva com facilidade; arquiável, flexo, que revela agilidade, elástico, elegante, fácil de manejar, domável, que se acomoda facilmente às circunstâncias, que é realmente influenciável; dócil, maleável, compreensível, que tem aptidão para diferentes habilidades”. Em verdade, durante a passagem dessa pergunta para a versão em português, não encontramos tradução para a expressão original em inglês double-jointed. A palavra tida como mais adequada para substituí-la na língua portuguesa foi “flexível”, que pode ter vários significados em nosso idioma. O segundo problema, identificado somente durante a aplicação do escore de Beighton, estava relacionado à segunda questão: “Você consegue (ou já conseguiu) dobrar para trás seu polegar até tocar o antebraço?”. Mesmo com essa questão ilustrada, 95 participantes responderam NÃO, mas pontuaram o escore de Beighton no que se refere a essa habilidade (23 com 1 ponto e 72 com 2 pontos). Surge aqui a seguinte indagação: a população brasileira está apta a responder a esse questionário de autoavaliação? Pelo que podemos constatar, mesmo sendo a população estudada composta por alunos do ensino superior, ocorreram interpretações equivocadas. Cogitamos aqui duas hipóteses para justificar esse fato. A primeira é que o questionário pode realmente conter ambiguidades. A segunda tem relação com a dificuldade de compreensão e interpretação da população brasileira. Essa hipótese fica bastante evidente na última questão, que, quando isolada, realmente traria margem a dúvidas, mas que, dentro do contexto das outras quatro questões, tem um significado direcionado para arquiável, flexo, elástico. Na segunda fase, após a aplicação do escore de Beighton, a frequência da HA observada foi de 34%, dado que se aproxima muito do número obtido através da aplicação do questionário de autoavaliação. Os dados relacionados ao questionário de autoavaliação respondido e ao escore de Beighton foram aplicados a uma curva ROC, na qual se observaram os maiores valores de sensibilidade e especificidade simultaneamente, 67 Moraes et al. para a presença de respostas SIM a mais de uma questão. No entanto, em nosso estudo, com uma área de 0,786 sob a curva, a sensibilidade foi de 70,9% (62,1-78,6) e a especificidade, de 77,4% (71,4-82,6), enquanto no estudo de Hakim e Grahame a sensibilidade foi de 83% e a especificidade, de 89%.23 Houve também semelhança em relação à freqüência da positividade das questões respondidas pelos indivíduos hipermóveis em nosso estudo, e também na publicação da criação do questionário. Dos participantes da segunda fase do estudo, 211 responderam novamente ao questionário de autoavaliação para identificação de hipermobilidade articular. Com as respostas de um mesmo participante em duas ocasiões distintas, calculou-se a concordância intragrupo (Kappa) para cada uma das cinco questões abordadas no questionário. Constatou-se que, para as questões 1 (K: 0,63), 2 (K: 0,7) e 3 (K: 0,65), houve boa força de concordância, enquanto para as questões 4 (K: 0,57) e 5 (K: 0,48) a força de concordância foi moderada. O coeficiente de correlação de Pearson também mostrou que os dados estão positivamente correlacionados. Infelizmente, desde que foi descrita, a HA tem sido tratada mais como uma curiosidade do que como uma entidade com significância clínica.29 Porém, atualmente existem numerosas evidências demonstrando que essa entidade pode causar sério impacto na vida dos indivíduos que a têm.21 Apesar de todas as manifestações musculoesqueléticas e não musculoesqueléticas que podem estar associadas à hipermobilidade articular, essa entidade tão comum ainda é considerada controversa por muitos reumatologistas. Tal afirmação pôde ser comprovada em uma pesquisa realizada em 1999, na Inglaterra, onde 92% dos reumatologistas entrevistados acreditavam na hipermobilidade articular como uma entidade clínica, mas apenas 39% a consideravam uma entidade patológica distinta. Muitos, inclusive, não tinham conhecimento sobre sua frequência, critérios diagnósticos ou formas de tratamentos. Cerca de metade dos médicos entrevistados não acreditava no impacto significativo que a hipermobilidade poderia causar na vida dos indivíduos acometidos, ou na associação com outras doenças reumáticas.22 Esses dados revelam a dificuldade que os médicos têm em reconhecer essa entidade em seus pacientes. Também em nosso país, raramente são publicados estudos sobre o assunto, e mesmo diante da alta prevalência, é um tema totalmente esquecido em congressos e jornadas nacionais ou regionais, evidenciando o quanto a HA é negligenciada. Em conclusão, o questionário de autoavaliação para identificação de hipermobilidade articular, traduzido do The five-part questionnaire for identifying hypermobility e validado para a 68 língua portuguesa, revelou-se um método eficaz para o diagnóstico da hipermobilidade articular quando comparado com o tradicional escore de Beighton, conferindo sensibilidade de 70,9% e especificidade de 77,4%. references referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. Beighton PH, Solomon L, Soskolne CL. Articular mobility in an African population. Ann Rheumatic Diseases 1973; 32:413-8. Beighton PH, Grahame R, Bird H. Hypermobility of Joints, 2nd ed. London, Springer-Verlag, 1989. Al-Rawi ZS, Al-Aszawi AJ, Al-Chalabi T. Joint mobility among university students in Iraq. Br Journal Rheumatol 1985; 24:326-31. Larsson LG, Baum J, Mudholkar GS. Hypermobility: prevalence and features in a Swedish population. Br J Rheumatology 1993; 32:116- 9. Jessee EF, Owen DS, Sagar KB. 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[editorial] Rheumatology 2001; 40:485-91. 69 Artigo DE REVISÃO Medidas de avaliação em lúpus eritematoso sistêmico Eutília Andrade Medeiros Freire1, Laís Medeiros Souto2, Rozana Mesquita Ciconelli3 resumo O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica, multissistêmica, de natureza autoimune, de etiologia multifatorial, cujo diagnóstico baseia-se no quadro clínico somado a parâmetros laboratoriais. Este estudo teve como objetivo investigar medidas de avaliação em LES disponíveis na literatura, a partir do método da revisão integrativa de literatura. O levantamento bibliográfico foi realizado por meio de busca por artigos científicos indexados em bancos de dados de ciências da saúde em geral como Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), MEDLINE/Pubmed e Scientific Eletronic Library Online (SCIELO). Utilizaram-se os seguintes descritores: assessment and lupus, quality of life and lupus, damage and lupus, activity index and lupus e patient outcomes and lupus. As publicações selecionadas mostraram três domínios de avaliação da enfermidade: medidas de avaliação de atividade da doença, medidas de avaliação de danos causados pela doença e medidas de avaliação de qualidade de vida. O estudo mostrou que a percepção do estado de saúde e da qualidade de vida dos pacientes, bem como o impacto da doença e de seu tratamento, podem ser melhor avaliados com a utilização das medidas propostas pelos autores. Palavras-chave: lúpus eritematoso sistêmico, avaliação de danos, avaliação de resultados (cuidados de saúde), qualidade de vida. [Rev Bras Reumatol 2011;51(1):70-80] ©Elsevier Editora Ltda. INTRODUÇÃO Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica do tecido conjuntivo, de etiologia multifatorial, que se caracteriza por acometer diversos órgãos e sistemas e apresentar importantes distúrbios imunológicos, com a presença de autoanticorpos dirigidos, sobretudo contra antígenos nucleares, alguns dos quais participam de lesão tissular imunologicamente mediada. Embora possa ocorrer em ambos os sexos e em qualquer faixa etária, tem maior incidência em mulheres (10:1), com pico de incidência em torno de 30 anos.1 Apesar de não se conhecer sua etiologia, admite-se que diferentes fatores, em conjunto, favoreçam o desencadeamento do LES, entre os quais se destacam: fatores genéticos, demonstrados pela maior prevalência de LES em parentes de primeiro e segundo graus; fatores ambientais, especialmente raios ultravioleta, infecções virais, substâncias químicas, hormônios sexuais e fatores emocionais. A interação entre esses múltiplos fatores está associada à perda do controle imunorregulatório, com perda da tolerância imunológica, desenvolvimento de autoanticorpos, deficiência na remoção de imunocomplexos, ativação do sistema de complemento e de outros processos inflamatórios que levam à lesão celular e/ou tissular. As manifestações clínicas do LES são variadas, podendo envolver qualquer órgão ou sistema, isolada ou simultaneamente, em qualquer período da doença. O LES acomete principalmente as articulações, a pele, as células sanguíneas, os vasos sanguíneos, as membranas serosas, os rins e o cérebro. Por ser uma doença multissistêmica, muitas vezes de início insidioso e com apresentação clínica variável, o diagnóstico de LES pode ser difícil, principalmente na avaliação inicial. Nenhuma alteração clínica ou laboratorial, isoladamente, faz o diagnóstico de LES, apesar de algumas dessas alterações serem muito sugestivas de tal enfermidade. Em 1982, o American College of Rheumatology (ACR) propôs os critérios de classificação para LES,2 revisados em 1997.3 O objetivo inicial da elaboração dos critérios foi a uniformização das populações para estudos científicos. No entanto, devido às suas altas sensibilidade Submetido em 30/7/2010. Aprovado, após revisão, em 8/12/2010. Declaramos a inexistência de conflitos de interesse. Departamento de Medicina Interna da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 1. Professor Doutor da Disciplina de Reumatologia da Universidade Federal da Paraíba – UFPB 2. Graduanda em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB 3. Professor Doutor da Disciplina de Reumatologia da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp Correspondência para: Eutília Andrade Medeiros Freire. Av. Cabo Branco, 3524/apto 501B. CEP 58045-110. João Pessoa, PB, Brasil. E-mail: [email protected]. Rev Bras Reumatol 2011;51(1):70-80 75 Freire et al. e especificidade na prática clínica, os critérios são frequentemente utilizados para diagnóstico de pacientes com LES. O controle da atividade da doença é realizado principalmente pelo uso de corticoides e imunossupressores, fármacos que possuem vários efeitos colaterais como hipertensão arterial, diabetes, osteoporose e neoplasias, entre outros. Dessa forma, identificar, e até mesmo predizer, a atividade da doença é de extrema importância para um planejamento adequado do tratamento da doença. Provas sorológicas podem ser utilizadas para a avaliação da atividade da doença, sendo as mais importantes a dosagem de anticorpos anti-dsDNA, níveis de complemento e de seus produtos e os níveis séricos de interleucinas, especialmente IL-6, IL-10 e IL-16. Não há um único marcador sorológico que se correlacione com a atividade da doença em todos os pacientes.4 A prevalência do LES vem aumentando, uma vez que a mortalidade vem diminuindo ao longo dos anos, devido ao desenvolvimento de novas opções terapêuticas, como também pelo surgimento de exames imunológicos e genéticos mais sensíveis e específicos para se realizar um diagnóstico mais precoce. Atualmente, estimativas sugerem um nível de sobrevida em LES de 97% a 80% em cinco anos.5,6 Esse aumento na sobrevida nos leva a considerar a ocorrência de sequela e incapacidade pela própria doença ou pelo tratamento de pacientes com LES, que podem envolver cuidados pessoais, locomoção, destreza, comportamento, comunicação, disposição e outras atividades.7,8,9 Por se tratar de uma doença crônica incurável, o objetivo do tratamento baseia-se na supressão da atividade da doença, que é reversível, como também na prevenção contra o surgimento de danos orgânicos causados pela doença e de efeitos colaterais secundários aos fármacos utilizados, além do controle de comorbidades associadas.10 Durante o acompanhamento clínico do paciente com LES, o médico deve avaliar o indivíduo, buscando responder aos seguintes questionamentos: se houve melhora, piora ou se a doença manteve-se estável; se a presença de dano irreversível deve-se à doença ou ao tratamento instituído; qual a percepção do paciente a respeito de seu estado de saúde e qualidade de vida, uma vez que esta, muitas vezes, difere da percepção do médico.11 Em pacientes que sobrevivem por mais de 10 anos, a causa de morte com frequência não está relacionada com a atividade de doença, e sim com os danos crônicos causados pela doença ou por sua terapêutica.12 Para a descrição do prognóstico em LES, os pacientes devem ser avaliados para a atividade da doença, danos acumulados durante a doença, como também para a qualidade de vida. Diante do exposto, este estudo visou investigar medidas de avaliação de LES disponíveis na literatura. 76 MATERIAL E MÉTODOS Para o presente estudo, optou-se pelo método da revisão integrativa de literatura, que tem a finalidade de reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre determinado tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento do tema investigado,13 visto que possibilita sumarizar as pesquisas já concluídas e obter conclusões, a partir de um tema de interesse. Este método difere da revisão sistemática porque, nesta, são incluídos apenas estudos experimentais, enquanto a revisão integrativa constitui-se num método com abordagem mais ampla, abrangendo estudos experimentais e quase-experimentais, estudos teóricos e empíricos. O processo de elaboração da revisão integrativa cumpre criteriosamente seis etapas: seleção de hipóteses ou questões para a revisão; seleção das pesquisas que irão compor a amostra da revisão; definição das características das pesquisas primárias que compõem a amostra da revisão; interpretação dos resultados; e relato da revisão, proporcionando um exame crítico dos achados.14 O levantamento bibliográfico desta revisão foi realizado por meio de busca por artigos científicos indexados em bancos de dados de ciências da saúde em geral, como Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), MEDLINE/Pubmed e Scientific Eletronic Library Online (SCIELO). Os descritores utilizados na busca foram: assessment and lupus (avaliação e lúpus), quality of life and lupus (qualidade de vida e lúpus), damage and lupus (dano e lúpus), activity index and lupus (índice de atividade e lúpus) e patient outcomes and lupus (resultados do paciente e lúpus). Os critérios de inclusão utilizados para a seleção da amostragem foram: textos disponibilizados na íntegra, através de acesso ao Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES); e atendimento à análise das variáveis contempladas para o estudo (medidas de avaliação). As publicações mais relevantes foram selecionadas e seus dados foram analisados e apresentados de forma discursiva e narrativa. RESULTADOS E DISCUSSÃO Medidas de avaliação de atividade da doença Índices de atividade foram criados com o objetivo de padronizar a avaliação da atividade do LES. Dentre eles, estão o ECLAM (European Consensus Lupus Activity Measurement), o LAI (Lupus Activity Index), o SLAM (Systemic Lupus Activity Measure), o BILAG (British Isles Lupus Assessment Group) e o SLEDAI (Systemic Lupus Erythematosus Disease Activity Rev Bras Reumatol 2011;51(1):70-80 Medidas de avaliação em lúpus eritematoso sistêmico Index). Os três últimos índices se mostraram reprodutíveis, válidos e com boa correlação entre si.15 O índice ECLAM avalia a atividade da doença ao longo do último mês, compreende 15 parâmetros clínicos e laboratoriais, com escores variando de 0 a 10.10 Confiabilidade, validade e sensibilidade na detecção de mudanças foram avaliadas por diversos estudiosos, apresentando boa correlação com outros índices utilizados. O LAI inclui quatro escores para a avaliação global pelo médico e sua opinião quanto à gravidade da doença, achados laboratoriais e tratamento imunossupressor, cuja média varia de 0 a 3. Variações de 0,26 são consideradas alterações para atividade da doença.10 O SLEDAI tem sido utilizado para a avaliação da atividade de doença em vários centros,16 com bons resultados quanto à validade e à reprodutibilidade no Brasil.17 Esse instrumento inclui, em sua avaliação, parâmetros clínicos e laboratoriais, levando-se em conta o órgão acometido. Avalia a atividade da doença com relação aos últimos 10 dias. Escores superiores a 8 indicam doença ativa. Variação de três pontos entre uma visita e outra é aceita como ativação da doença, e variações maiores ou iguais a 12 pontos significam atividade grave.18 No ano de 2000, o SLEDAI foi revisado, dando origem ao SLEDAI2K.19 A modificação proposta incluía a atividade persistente de alguns parâmetros, e não a pontuação desses parâmetros apenas nos casos de início ou recorrência. Gladman et al.19 mostraram que a persistência do eritema, das úlceras mucosas, da alopécia e da proteinúria superior a 0,5 g em 24 horas pode ser usada em trabalhos para a avaliação da atividade da doença, ao comparar o SLEDAI-2K com o SLEDAI original. Uribe et al.20 avaliaram três instrumentos diferentes utilizados para a medição de atividade do LES, a saber, SLAM-modificado, SLEDAI mexicano (Mex-SLEDAI) e SLEDAI-2K modificado (sem os parâmetros sorológicos: anti-dsDNA e complemento sérico), comparando-os com o SLEDAI-2K e com a medida de avaliação global da atividade da doença realizada pelo médico (avaliação global pelo médico). Concluíram que os três instrumentos apresentaram boa correlação com o SLEDAI-2K e com a avaliação global pelo médico. Além disso, o SLEDAI-2K modificado teve a melhor validade discriminativa (capacidade de distinguir pacientes claramente ativos daqueles inativos ou com atividade mínima) e o menor custo entre os três instrumentos avaliados. O índice BILAG também mede atividade clínica no LES e foi desenvolvido de acordo com a análise por intenção de tratar a doença. Esse índice é composto de oito sistemas orgânicos em que não ocorre o cálculo do escore total, e sim de sistemas separadamente. O escore BILAG é calculado para cada um dos Rev Bras Reumatol 2011;51(1):70-80 oito sistemas: sintomas gerais, mucocutâneo, respiratório, cardiovascular, neurológico, musculoesquelético, renal e hematológico, dependendo das características clínicas presentes e do fato de serem novas, agravadas, idênticas ou melhoradas, nas últimas quatro semanas em relação às anteriores, e é representado por letras do alfabeto. O BILAG “A” representa a presença de uma ou mais características graves do LES. O BILAG “B” indica características mais moderadas da doença. O BILAG “C” inclui apenas características sintomáticas leves. O BILAG “D” representa apenas a atividade anterior, sem sintomas atuais causados por lúpus ativo. O BILAG “E” revela que um sistema jamais foi envolvido. Esse é um instrumento compreensível e flexível, adotado como índice transicional, fácil e rápido de ser aplicado.21,22 Medidas de avaliação de danos causados pela doença Devem ser usados, como medida de saúde em portadores de doenças crônicas, instrumentos para a avaliação do índice de danos em sistemas orgânicos, detectando danos ocorridos em pacientes, a despeito de sua causa, e resultantes da atividade da doença ou de sua terapia, como também de comorbidades. Para evitar confusão entre atividade de doença e dano, o sintoma tem de estar presente pelo menos por 6 meses, causando injúria tecidual que resulte em dano orgânico irreversível. Em 1996, foi publicada a validação inicial de um instrumento para a avaliação do índice de danos em LES pelo ACR – Systemic Lupus International Colaborating Clinics/ American College of Rheumatology – Damage Index (SLICC/ ACR-DI).23 Esse instrumento aborda 12 sistemas orgânicos que detectam danos ocorridos nos pacientes, a despeito de sua causa, podendo resultar da atividade da doença ou de sua terapia, como também de doenças intercorrentes como câncer e diabetes. Os danos orgânicos e psíquicos aos quais esses pacientes sobreviventes mais estão submetidos resultam, muitas vezes, em incapacidade física ou mental e deficiências, piorando a qualidade de vida, que tem sido reconhecida como importante indicador do estado de saúde para pacientes portadores de doenças crônicas.24 Medidas de avaliação de qualidade de vida Escalas de qualidade de vida relacionadas à saúde medem alterações na função física, aspectos funcionais, psicológicos e sociais, bem como refletem a percepção pelo paciente de seu estado de saúde.25 O termo “qualidade de vida” (QV) começou a ser utilizado nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, com o intuito de descrever o efeito gerado pela aquisição de 77 Freire et al. bens materiais (tecnologia) na vida das pessoas. Somente alguns anos mais tarde, passou a ser considerado como parâmetro a ser valorizado, com o objetivo de captar avanços nas áreas de educação e saúde. Na literatura médico-social, tem sido relacionado com uma variedade de termos, incluindo satisfação com a vida, autoestima, bem-estar, felicidade, saúde, valor e significado da vida, estado funcional e ajustamento.26 O conceito de saúde é definido pela OMS como a percepção do indivíduo sobre seu bem-estar físico, mental e social, e não meramente como ausência de doença.27 Trata-se de um conceito muito amplo que engloba saúde física, estado psicológico, grau de independência, relacionamento social, crenças, relação com o meio ambiente, ganho financeiro e liberdade. As medidas de avaliação de qualidade de vida relacionada à saúde correspondem a uma avaliação mais limitada de QV, que se refere às dimensões que são específicas e diretamente relacionadas ao estado de saúde. Esse conceito é frequentemente referido na literatura médica como qualidade de vida relacionada a saúde, estado de saúde e estado funcional.27, 28 Embora a sobrevida dos pacientes com LES tenha aumentado nos últimos 50 anos, a qualidade de vida continua a apresentar baixos índices. As medidas de avaliação de danos e de atividade da doença não consideram a perspectiva do paciente em relação à doença e à sua qualidade de vida29 e, nesse sentido, a avaliação de QV mostra-se como um importante parâmetro para medirmos o impacto das doenças crônicas. Medidas fisiológicas dão informações imprescindíveis aos clínicos, mas, com frequência, se correlacionam pouco com a capacidade funcional e o bem-estar, que são aspectos nos quais os pacientes estão mais interessados e familiarizados. A QV deve ser medida em pesquisa clínica, com vistas a observar o impacto da doença como medida qualitativa complementar, na avaliação de práticas clínicas, levando em conta a perspectiva do paciente sempre que envolva a tomada de decisão com relação à sua doença, e em análises econômicas em saúde, as quais estudam o impacto das ações médicas aferidas tanto em termos quantitativos (efetividade e tolerância) quanto em termos qualitativos (qualidade de vida), e suas relações com o consumo dos recursos financeiros.30,31 A maioria dos instrumentos para a avaliação de QV é formada por um número de itens ou questões. Esses itens são agrupados em domínios ou dimensões. Um domínio se refere à área do comportamento ou da experiência que estamos tentando medir. Domínios podem incluir questões sobre funções físicas, emocionais e sociais. Os instrumentos de avaliação de QV podem ser genéricos ou específicos para determinada doença. Os instrumentos genéricos são aplicáveis a uma grande variedade de doenças 78 e populações, em virtude de incluírem aspectos relativos a função, disfunção e desconforto emocional e físico – elementos relevantes à qualidade de vida dos indivíduos em geral. O SF-36 (Medical Outcomes Study 36 – Item Short-Form Health Survey) é um instrumento genérico de avaliação de qualidade de vida, de fácil administração e compreensão.32 É um questionário multidimensional formado por 35 itens, englobados em oito domínios: capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor, estado geral da saúde, vitalidade, aspectos sociais, limitação por aspectos emocionais e saúde mental. Inclui ainda uma questão que se refere ao estado de saúde comparativo atual e de um ano antes, a qual não é incluída no cálculo do escore. Apresenta um escore final de 0 a 100, em que 0 corresponde ao pior estado geral de saúde e 100 ao melhor. Ciconelli et al.33 traduziram e validaram este questionário para a língua portuguesa, sendo posteriormente aplicado em pacientes com Artrite Reumatoide, Lúpus Eritematoso Sistêmico e outras doenças reumatológicas e não reumatológicas. Existe ainda, na avaliação do perfil de saúde genérico, um sistema baseado em preferências, com o propósito de medir estado de saúde, e que produz um escore de utility. A avaliação das medidas de utility em saúde nos orienta sobre as experiências de pacientes associadas à doença ou à terapia, bem como a eficácia, a efetividade, a eficiência das intervenções e os cuidados e o estado de saúde da população em geral. Os escores desses sistemas se baseiam em preferência por estado de saúde, numa escala genérica que considera morte igual a 0,00 e saúde perfeita igual a 1,00. Essa classificação de estado de saúde é genérica e aplicável a todas as pessoas em situações clínicas distintas e na população em geral. Os instrumentos específicos avaliam QV para uma área primária de interesse. Podem ser específicos para determinada doença, para determinada função ou para um problema. Sua característica mais importante é a sensibilidade para detectar mudanças após uma intervenção. Os questionários de avaliação de QV podem ser autoadministrados ou por aplicados por entrevistador. Por motivos socioeconômicos, nos estudos realizados no Brasil a coleta de dados tem sido feita através de entrevista.34,35 Em 2003, foi publicada a validação de um questionário especifico para LES, denominado Systemic Lupus Erythematosus Symptom Checklist (SSC), que se propõe a medir o impacto dessa doença e de seu tratamento em um indivíduo.36 Esse questionário aborda a presença e o impacto de 38 sintomas relacionados a doença e/ou a seu tratamento em uma escala de quatro pontos, onde 0 é o melhor estado, e 4, o pior estado de saúde. Rev Bras Reumatol 2011;51(1):70-80 Medidas de avaliação em lúpus eritematoso sistêmico Foram testadas a consistência interna, a reprodutibilidade e a validade em 87 pacientes com LES, com coeficientes de 0,89, 0,67 e 0,87, respectivamente, indicando índices de correlações satisfatórios nesse questionário. A comparação com outros instrumentos de QV demonstrou correlações moderadas. A responsividade foi testada em 17 pacientes com nefrite lúpica, tratados com ciclofosfamida, no início do tratamento e um ano após, com mudanças significativas em vários sintomas relacionados à doença. Esse questionário foi traduzido e validado para a língua portuguesa por Freire et al. em 2007.37 Leong et al.38 publicaram o desenvolvimento e a validação preliminar na língua inglesa do Questionário Systemic Lupus Erythematosus Quality of Life (SLEQOL). Esse questionário é composto por 40 itens divididos em seis domínios, que são função física, atividade ocupacional, sintomas, tratamento, humor e autoimagem. Em cada domínio, os escores variam de 1 a 7, e, quanto mais altos forem os escores, pior é a qualidade de vida. O escore mínimo é 40 e o máximo é 280. Foi testado em 275 pacientes com LES cuja consistência interna (coeficiente de Cronbach) foi 0,95 e a reprodutibilidade intraobservador foi 0,83. A responsividade foi testada usando como âncora a escala de avaliação global de saúde, que varia de +7 a -7. Esse questionário foi submetido a vários tratamentos estatísticos que demonstraram ser ele mais sensível que o SF-36 às mudanças ao longo do tempo.38 Esse questionário também foi traduzido e validado para a língua portuguesa por Freire, em 2008.39 Ainda recentemente, novos questionários foram desenvolvidos e publicados com enfoque nas necessidades e na qualidadade de vida de pacientes com LES. O Systemic Lupus Erythematosus Needs Questionnaire (SLENQ) possui sete domínios, que avaliam as seguintes necessidades: psicológico/espiritual/existencial, serviços de saúde, informações de saúde, físico, social, vivência diária, situação financeira. Esse questionário demonstrou bons coeficientes de reprodutibilidade e moderadas correlações com o SF-36.40 O Lupus Quality of Life (LupusQol) contém 34 itens, distribuídos em oito domínios, a saber: saúde física, saúde emocional, imagem corporal, dor, planejamento, fadiga, relações íntimas e impacto para outras pessoas. Além disso, revelou-se um instrumento válido para avaliar qualidade de vida.41 Assim como as escalas de qualidade de vida relacionada à saúde fazem parte da avaliação dos resultados relatados por pacientes (patient reported outcomes – Pros) ao longo de uma doença, os instrumentos que medem os sintomas subjetivos e a satisfação com o tratamento também integram essa avaliação. Nas duas últimas décadas, os resultados de medidas de avaliação centradas na opinião do paciente desempenham importante papel no estudo de doenças crônicas. No ACR, o Comitê de Medidas Rev Bras Reumatol 2011;51(1):70-80 de Resultados em Ensaios Clínicos, o OMERACT (Outcome Measures in Rheumatology Clinical Trials), tem reconhecido a importância da mensuração da função e do bem-estar pela perspectiva do paciente como critério para determinar melhora clínica. Em estudos clínicos esses instrumentos de qualidade de vida têm sido usados largamente como objetivo primário, pois atualmente recomendações têm sido feitas no sentido de captarmos a avaliação do próprio paciente acerca de seu estado de saúde, indivíduo que mais interesse tem em sua evolução. CONSIDERAÇÕES FINAIS A percepção do estado de saúde e da qualidade de vida dos pacientes, bem como o impacto de sua doença e de seu tratamento, vêm sendo amplamente reconhecidos como tópicos de pesquisa em estudos clínicos e epidemiológicos. Por essa razão, faz-se necessária a compreensão dessas medidas para seu uso também na prática clínica cotidiana. REFERences referências 1. Danchenko N, Satia JA, Anthony MS. Epidemiology of systemic lupus erythematosus: a comparation of worldwide disease burden. Lupus 2006; 15(5):308-18. 2. Tan EM, Cohen AS, Fries JF, Masi AT, McShane DJ, Rothfield NF et al. The 1982 revised criteria for the classification of systemic lupus erythematosus. Arthritis Rheum 1982; 25(11):1271-7. 3. Hochberg MC. Updating the American College of Rheumatology revised criteria for the classification of systemic lupus erythematosus. Arthritis Rheum 1997; 40(9):1725. 4. Isenberg DA, Colaco CB, Dudeney C, Todd-Pokropek A, Snaith ML. The relationship of anti-DNA antibody idiotypes and anti-cardiolipin antibodies to disease activity in systemic lupus erythematosus. Medicine (Baltimore) 1986; 65(1):46-55. 5. Pistiner M, Wallace DJ, Nessim S, Metzger AL, Klinenberg JR. 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Rev Bras Reumatol 2011;51(1):70-80 Artigo de revisão O aparelho respiratório e as doenças reumáticas da infância e da adolescência Vinicius Domingues1, Marta Cristine Félix Rodrigues2, Christianne Costa Diniz3, Rozana Gasparello de Almeida4, Flavio Roberto Sztajnbok5 RESUMO Distúrbios do aparelho respiratório nas doenças reumáticas que acometem a faixa etária pediátrica não são raros e podem apresentar características clínicas diferentes quando comparados ao quadro clínico de adultos. Este artigo de revisão procura mostrar as principais manifestações do aparelho respiratório, com ênfase no acometimento pulmonar, nas principais doenças reumáticas da infância e adolescência. Palavras-chave: pulmão, doenças reumáticas, criança, sistema respiratório. [Rev Bras Reumatol 2011;51(1):81-96] ©Elsevier Editora Ltda. O acometimento do trato respiratório nas doenças reumáticas na faixa etária pediátrica pode ocorrer em qualquer nível, sendo o acometimento pleuro-pulmonar a manifestação mais frequente. Este ocorre, geralmente, como manifestação da doença primária e, com menos frequência, como efeito adverso de tratamento medicamentoso. Este artigo procura, através de uma revisão de literatura usando as bases de pesquisa bibliográficas LILACS e MEDLINE, fazer uma revisão prática sobre o tema. podemos observar grandes condensações para-hilares, que se modificam rapidamente, e espessamento trabecular interlobar ou interalveolar. O derrame pleural, quando presente, costuma ser serofibrinoso. Questiona-se se essa pneumonite reumática não seria, na verdade, uma manifestação resultante de sinais de insuficiência cardíaca, já que a radiografia de tórax pode revelar sinais de congestão pulmonar secundária a uma cardite grave. Há alguns poucos relatos de edema pulmonar, geralmente unilateral, associado à insuficiência mitral grave, com ou sem ruptura de cordoalha.1-3 FEBRE REUMÁTICA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL As manifestações pleuro-pulmonares na fase aguda da febre reumática (FR) são pouco frequentes. Dentre elas, podemos encontrar a pneumonia reumática e a pleurisia, em que A artrite idiopática juvenil (AIJ) sistêmica é o subtipo mais frequentemente associado a manifestações de vias aéreas. Estas ocorrem em até cerca de dois terços dos casos, geralmente de INTRODUÇÃO Submetido em 8/8/2010. Aprovado, após revisão, em 12/1/2011. Declaramos a inexistência de conflitos de interesse. Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), Setor de Reumatologia Pediátrica e Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. 1. Graduando em Medicina, Universidade Estácio de Sá 2. Médica do Serviço de Reumatologia do IPPMG da UFRJ; Mestre em Pediatria na UFRJ 3. Médica Associada do Serviço de Reumatologia do IPPMG da UFRJ; Mestre em Pediatria na UFRJ 4. Pesquisadora Associada do Setor de Reumatologia do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); Mestre em Pediatria, IFF-Fiocruz 5. Professor-Assistente do Departamento de Pediatria da UFRJ; Médico do Serviço de Reumatologia do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira da UFRJ; Responsável pelo Setor de Reumatologia do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente da UFRJ; Professor-Adjunto de Reumatologia Pediátrica da Unigranrio Correspondência para: Flavio R. Sztajnbok. Rua Bruno Lobo, 50, Ilha do Fundão, Departamento de Pediatria, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). CEP: 21941-912. E-mail: [email protected]. 88 Rev Bras Reumatol 2011;51(1):81-96 O aparelho respiratório e as doenças reumáticas da infância e da adolescência forma oligosintomática e associadas à pericardite ou a outros sinais de atividade de doença.4 Clinicamente, o paciente pode apresentar taquipneia, atrito pleural e estertores. A radiografia pode evidenciar a presença de pleurite, associada ou não a derrame pleural. Alguns pacientes com subtipo poliarticular podem desenvolver pneumonite intersticial e bronquiolite obliterante.5,6 Há relatos de alguns poucos casos em que os pacientes apresentaram hipertensão pulmonar primária, fibrose intersticial difusa do parênquima pulmonar associada à presença de granulomas intra-alveolares e intersticiais, pneumomediastino e hemossiderose pulmonar.7-9 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO JUVENIL As manifestações pulmonares no lúpus eritematoso sistêmico juvenil (LESj) variam em gravidade, desde dor pleurítica discreta até hemorragia pulmonar. São menos frequentes na faixa etária pediátrica do que na população adulta, podendo aparecer como quadro inicial ou durante o curso da doença.10,11 A dor torácica é a manifestação mais frequente, podendo ser de origem musculoesquelética ou apresentar-se como dor do tipo pleurítica, com ou sem a presença de atrito pleural à ausculta e de derrame pleural na radiografia de tórax.10 O derrame pode ser uni ou bilateral e pode haver a presença de autoanticorpos. As frações C3 e C4 do comple­mento geralmente estão diminuídas e a concentração de proteínas é baixa. Derrames pequenos assintomáticos regridem apenas com o uso de anti-inflamatórios não hormonais.10-12 A pneumonite aguda, com presença de infiltrado pulmonar em pacientes com LESj, sugere que a etiologia seja infecciosa. A pneumonia bacteriana ou viral, ambas secundárias ao uso de imunossupressores, deve ser sempre descartada. Entretanto, a síndrome clínica de pneumonite lúpica aguda relacionada à atividade de doença tem sido ­descrita e pode ocorrer em aproximadamente 10% dos casos. É caracterizada clinicamente por febre, dispneia, tosse, hemoptoicos eventuais, infiltrados interstício-alveolares predominantemente basais, hipoxemia e derrame pleural em metade dos casos. O prognóstico da pneumonite aguda lúpica é muito ruim, com mortalidade de até 80% dos casos, caso o início do tratamento não seja precoce.10-13 A pneumonite crônica é infrequente e comporta-se como um quadro de fibrose pulmonar. A queixa mais comum é tosse seca, seguida de dispneia e dor pleurítica recorrente. A doença intersticial pulmonar (DIP) é menos frequente do que em adultos.10-13 Em estudo realizado com crianças portadoras de LESj, a espirometria mostrou-se alterada em 37% dos casos, com predomínio de padrão restritivo, enquanto alterações da capacidade de difusão pulmonar com monóxido Rev Bras Reumatol 2011;51(1):81-96 de carbono ocorreram em 26% dos casos. Este estudo também mostrou que não parece existir correlação entre achados da espirometria com os da tomografia computorizada de alta resolução, presentes em 8% dos pacientes, e com atividade da doença.10 A hemorragia pulmonar aguda pode ocorrer no LESj, traduzindo-se clinicamente pela presença de hemoptise aguda e fazendo-se acompanhar de elevadas taxas de mortalidade (85%). A apresentação clínica e radiológica, os achados histopatológicos e a história natural da hemorragia pulmonar aguda não se distinguem dos observados na pneumonite lúpica aguda, sugerindo que ambas as entidades pertençam ao mesmo espectro da doença lúpica pulmonar. A hipertensão arterial pulmonar (HAP) tem sido reconhecida e descrita no LESj de forma mais frequente.10-12 As manifestações clínicas são dispneia, dor torácica, tosse seca, astenia, edema de membros inferiores e palpitação. O diagnóstico é feito através do ecocardiograma Doppler. Caso o diagnóstico não fique claro ou não tenham sido excluídas as causas secundárias, como, por exemplo, tromboembolismo primário crônico, o cateterismo cardíaco do lado direito e a angiografia pulmonar devem ser solicitados. A disfunção diafragmática, ou “síndrome do pulmão encolhido”, caracterizada por dispneia e dor pleurítica com achados radiológicos de diminuição do volume pulmonar com atelectasias basilares, é descrita no LESj. Miosite como causa da elevação diafragmática foi relatada em cerca de 13% dos pacientes através de radiografia de tórax. A função diafragmática pode ser estudada pela ultrassonografia, estimulação do nervo frênico ou por eletroneuromiografia diafragmática.14 SÍNDROME DO ANTICORPO ANTIFOSFOLÍPIDE A síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAF) em crianças é rara e apresenta características diferentes da doença do adulto, como, por exemplo, ausência frequente de fatores de risco (fumo, anticoncepcional, aterosclerose) e maior incidência de infecção como fator predisponente. 15,16 Os eventos trombóticos relatados são trombose venosa profunda em membros inferiores, embolia pulmonar e complicações trombóticas do sistema nervoso central. A HAP já foi descrita como fenômeno tromboembólico em crianças. Em um estudo multicêntrico de 121 pacientes com SAF primária e secundária, nenhum caso apresentou envolvimento pulmonar.15 Nos pacientes com LESj e síndrome do anticorpo antifosfolipídio secundária, o diagnóstico e o tratamento podem representar um desafio, pois a hemorragia pulmonar pode ser uma manifestação catastrófica da síndrome.17 89 Domingues et al. SÍNDROME DE SJÖGREN A Síndrome de Sjögren (SSj) é rara em crianças e os critérios diagnósticos utilizados em adultos são pouco sensíveis nessa faixa etária.18-20A presença do anticorpo anti-Ro/SS-A está relacionada à maior frequência de manifestações extraglandulares, principalmente doença intersticial pulmonar, com testes de função respiratórios alterados (obstrução das vias aéreas pequenas).21 Na SSj primária, as manifestações pulmonares mais encontradas são tosse, rouquidão e sintomas associados à DIP. Já na forma secundária, a doença de base prepondera, não havendo relatos de diferenças nas manifestações em crianças.18-20 A xerotraqueia e a bronquite “seca” são mais comumente observadas em adultos. O envolvimento das vias aéreas superiores leva a sintomas relacionados com nariz, seios da face e laringe posterior. A tosse seca pode ser confundida por longo tempo com alergia respiratória, asma ou bronquite. Pela raridade em crianças, a maioria dos estudos das manifestações pulmonares refere-se apenas a adultos. DERMATOPOLIMIOSITE JUVENIL Na dermatomiosite juvenil (DMJ) e na polimiosite juvenil (PMJ), as alterações pulmonares podem ocorrer como parte da doença ou advir de efeitos adversos relacionados às drogas utilizadas em seu tratamento.22 A DIP pode ocorrer em até 40% dos pacientes, acometendo igualmente as duas doenças e precedendo o diagnóstico de miosite. Sua presença é um determinante de mau prognóstico da doença, com elevadas taxas de mortalidade.23 A presença do anticorpo anti-Jo1 é descrita como marcador de sua presença, mas estudos apontam sua associação com melhor prognóstico e melhor resposta terapêutica.24 Recentemente, foi descrito um possível novo marcador sorológico para a DIP, chamado KL-6, que consiste em uma glicoproteína produzida por pneumócitos tipo II, agindo como um fator quimiotático para fibroblastos.23 O pneumotórax espontâneo e o pneumomediastino têm sido relatados como uma das complicações da DIP.25 Há relatos de casos de HAP.22,24,26,27 Os testes de função pulmonar mostrarão um padrão restritivo com diminuição da capacidade de difusão.23 A fraqueza dos músculos respiratórios, que ocorre em 4% a 8% dos pacientes com DMJ/PMJ, está presente em quadros mais graves. Os músculos mais afetados são o diafragma, os intercostais e os acessórios. A consequência desse envolvimento pode variar de uma dispneia leve a moderada, com imagem de atelectasia na radiografia de tórax, até insuficiência pulmonar franca. Vários estudos apontam para o fato de que esse acometimento é frequentemente subestimado. Há relatos de hipercapnia por fraqueza do diafragma.22,24,26,27 90 A infecção é uma das complicações potencialmente letais das miopatias. Os fatores responsáveis são: fraqueza dos músculos respiratórios, levando a tosse ineficaz, atelectasia e predisposição à pneumonia bacteriana; dismotilidade esofagiana, levando à pneumonia de aspiração; a própria patogenia da doença, com linfopenia afetando as células T e B e gerando aumento no risco de infecção oportunista. ESCLERODERMIA Os principais órgãos envolvidos na esclerose sistêmica (SSc) são o trato gastrointestinal e os pulmões.28 As complicações pulmonares são as principais causas de óbito, podendo apresentar-se de forma isolada ou associada, e estão listadas na Tabela 1.29,30 Tabela 1 Principais complicações pulmonares da esclerodermia § fibrose intersticial § hipertensão arterial pulmonar § efusões pleurais § pneumotórax espontâneo secundário à rotura de bolhas subpleurais § bronquiectasias § restrição da caixa torácica secundária ao endurecimento da pele e tecido subcutâneo § disfunção diafragmática § pneumonite aspirativa crônica secundária à dismotilidade do esôfago § pneumonite associada às drogas usadas no tratamento, como o metotrexate § neoplasia pulmonar A manifestação pulmonar mais comum da SSc é a fibrose intersticial, menos frequente na doença da criança do que do adulto.28 O pior prognóstico da SSc tem relação direta com gravidade da HAP e coexistência da DIP. O envolvimento pulmonar pode ser diagnosticado em pacientes sem sintomas cardiopulmonares utilizando-se uma combinação de testes não invasivos para a triagem e invasivos para a confirmação. A detecção e a intervenção terapêutica precoces na HAP e na DIP retardam o aparecimento das complicações e diminuem a mortalidade na SSc.31-33 A utilidade da avaliação da presença de anticorpos como fatores de risco ou proteção para as diferentes manifestações pulmonares da esclerodermia é menor na SSc juvenil quando comparada à doença do adulto, já que a presença desses anticorpos é menor naquela faixa etária.34 VASCULITES Nesse grupo heterogêneo de doenças, algumas podem cursar com vasculite pulmonar, principalmente aquelas que acometem vasos pequenos, como arteríolas, vênulas e capilares. Rev Bras Reumatol 2011;51(1):81-96 O aparelho respiratório e as doenças reumáticas da infância e da adolescência Granulomatose de Wegener Vasculite granulomatosa necrotizante de pequenos vasos, evento raro na faixa etária pediátrica, pode acometer os tratos respiratórios superior e inferior. O envolvimento isolado das vias aéreas superiores é raro, mas, quando associado a outros sintomas, é considerado a segunda manifestação mais frequente, e costuma levar o paciente ao médico por se assemelhar a infecções como otite, sinusite, mastoidite, condrite ou pneumonia. Essas manifestações podem conduzir a danos permanentes, como perfuração do septo nasal com deformidade nasal em sela, sinusite crônica, otite crônica com lesão do nervo facial e paralisia facial, surdez de condução, estenoses subglótica e traqueobrônquica – complicações que podem ser encontradas em até 50% das crianças com essa doença.35 O paciente pode apresentar rinorreia, descarga nasal purulenta e/ou sanguinolenta, ressecamento da mucosa nasal com formação de crostas e pústulas, úlceras nasais, epistaxe, otite média, sinusite, hemoptise, dispneia, dor torácica do tipo pleurítica, sinais de obstrução de vias aéreas superiores e laringe, como estridor e rouquidão.36 Muitas vezes, os pacientes vão apresentar febre por infecção secundária. Akikusa et al.37 relataram uma série de casos em que 80% dos pacientes evoluíram com envolvimento pulmonar. Destes, 44% tiveram hemorragia pulmonar e 20%, insuficiência respiratória. A hemorragia pulmonar maciça é a manifestação que mais coloca a vida do paciente em risco. O paciente pode apresentar hemoptise não só por capilarite pulmonar, mas também por embolia pulmonar e trombose de veias profundas. Estudo multicêntrico envolvendo centros de reumatologia pediátrica norte-americanos e canadenses observou que as mais frequentes manifestações clínicas iniciais foram sintomas constitucionais (89,2% dos pacientes), pulmonares (80%), acometimento de vias aéreas superiores (80%) e renal (75,4%). Dentre os sinais e sintomas pulmonares, destacaram-se: respiração curta, tosse crônica, hemoptise e hemorragia alveolar, nódulos, testes de função pulmonar anormais, infiltrados pulmonares fixos, pleurisia e dependência de oxigênio. O acometimento pulmonar mostrou-se grave a ponto de se indicar oxigenioterapia ou prótese mecânica em quase 25% dos pacientes.38 Em relação às vias aéreas superiores, houve envolvimento nasal, sinusite, otite, mastoidite, estenose subglótica, alteração da acuidade auditiva e úlceras orais. A radiografia de tórax pode ser normal ou revelar alterações pulmonares, como atelectasias, nódulos, lesões cavitárias e infiltrados/opacificações pulmonares, além de opacificações pleurais. Estas podem ser confirmadas por meio de tomografia computadorizada. Um estudo tomográfico realizado com 18 crianças revelou a presença de nódulos em 90% dos casos, opacificação com padrão vidro fosco em 52% e opacificação Rev Bras Reumatol 2011;51(1):81-96 do espaço aéreo em 45% dos casos.39 Os exames laboratoriais são inespecíficos, com exceção da presença do anticorpo anticitoplasma de neutrófilos (padrão central, conhecido como c-ANCA), que, quando presente, é altamente específico para o diagnóstico de granulomatose de Wegener. A biópsia de seios nasais mostra tipicamente presença de necrose granulomatosa e inflamação crônica. Síndrome de Churg-Strauss Vasculite granulomatosa que cursa com importante eosinofilia periférica, infiltrado pulmonar transitório, asma grave, sinusite, mono ou polineuropatia, lesões cutâneas e eosinofilia extravascular. A radiografia de tórax pode apresentar infiltrado pulmonar transitório, infiltrado nodular bilateral ou de padrão intersticial, linfonodopatia hilar bilateral e derrame pleural.35,36 Zwerina et al.,40 em revisão sistemática da literatura, reuniram 33 casos da doença em crianças e observaram que, nessa faixa etária, as manifestações cardiopulmonares foram mais frequentes do que em adultos. Embora asma e sinusite apresentassem frequências semelhantes, os infiltrados pulmonares transitórios foram bem mais frequentes na faixa etária pediátrica, acometendo 88% dos casos (59% de adultos), enquanto derrame pleural ocorreu em 12% dos pacientes. Púrpura Henoch-Schönlein É a vasculite mais comum da infância e apresenta manifestações cutâneas, gastrointestinais, articulares, renais e sistêmicas. É uma vasculite leucocitoclástica de pequenos vasos caracterizada pelo depósito de imunocomplexos de IgA. Costuma ser precedida por uma infecção de vias aéreas superiores. Raramente pode cursar com hemorragia pulmonar e pneumonite intersticial.35 Poliangiíte Microscópica Vasculite necrotizante não granulomatosa extremamente rara na faixa etária pediátrica, é considerada uma síndrome pulmão-rim. Acomete vasos de pequeno calibre e tem como principal característica o desenvolvimento de glomerulonefrite rapidamente progressiva e hemorragia alveolar. Os pacientes com acometimento pulmonar podem apresentar hemoptise, pleurisia, dispneia e broncoespasmo. São descritos poucos casos na faixa etária pediátrica, com manifestações constitucionais e pulmonares, que variam de infiltrados focais à hemorragia pulmonar massiva e hemoptise secundária à capilarite alveolar. Os anticorpos p-ANCA (padrão periférico) e c-ANCA podem apresentar títulos elevados.35 91 Domingues et al. Doença de Kawasaki Vasculite necrosante que acomete vasos de pequeno e médio calibre, de etiologia desconhecida, é relativamente comum na infância e pode apresentar uma complicação séria, que é o surgimento de aneurismas coronarianos. O paciente pode apresentar manifestações nas vias aéreas na fase inicial da doença, como tosse, coriza e rouquidão, o que sugere infecção das vias aéreas superiores. Pode ocorrer pneumonite por vasculite nos vasos pulmonares ou secundária ao acometimento cardiovascular (miocardite e endocardite). A radiografia de tórax pode revelar um infiltrado transitório na fase aguda da doença. Algumas crianças podem apresentar reativação da cicatriz do BCG, com acentuação do exantema em torno desta, de causa desconhecida.41 Arterite de Takayasu Embora a etiologia seja desconhecida, em algumas partes do mundo parece haver relação com a tuberculose. Acomete principalmente a aorta e seus ramos principais, sendo que cerca de 50% dos pacientes podem ter envolvimento das artérias pulmonares, embora os sintomas relacionados à arterite pulmonar sejam menos frequentes. O envolvimento pulmonar pode levar a dor torácica, hemoptise, hipertensão pulmonar e dispneia.42 Vasculite Urticariforme Hipocomplementêmica Vasculite leucocitoclástica de etiologia desconhecida, que se caracteriza pela presença de lesões urticariformes recorrentes, purpúricas ou semelhantes a um eritema multiforme, que costumam durar de 24 a 72 horas. Alguns pacientes evoluem com angioedema facial e laríngeo, e com estridor e dispneia. Pode haver acometimento pulmonar em 30% dos casos, apresentando tosse, dispneia e hemoptise.43 Síndrome de Goodpasture Raramente encontrada em crianças e adolescentes, caracteriza-se pela presença de hemorragia pulmonar e glomerulonefrite proliferativa, associadas à presença do anticorpo antimembrana basal glomerular. O paciente apresenta queixas de dispneia, dor torácica, broncoespasmo e hemoptise, acompanhados de sintomas sistêmicos como febre, tremores, sudorese intensa.35,36 Doença de Behçet Doença capaz de acometer vasos de qualquer calibre, tanto arteriais quanto venosos. As artérias mais acometidas são as carótidas, pulmonares, aorta, ilíacas e poplíteas. O envolvimento da artéria pulmonar geralmente ocorre nos ramos proximais grandes, podendo levar a quadros de hemoptise, devido à fístula da artéria 92 com os brônquios e à obstrução venosa. Podem ocorrer, também, infarto pulmonar, hemorragia, derrame pleural, arterite ou venulite pulmonares, estenose brônquica, doença obstrutiva das vias aéreas, bronquite crônica e fibrose. Exames de imagem podem revelar opacidades bem definidas ou de padrão retículo-nodular e perda de volume pulmonar. Pode haver, também, rotura de aneurismas arteriais pulmonares, causando hemoptise, áreas de hemorragia, pneumonia, trombose venosa profunda e embolia.35,36 Policondrite recidivante Doença inflamatória sistêmica que pode acometer a estrutura e, consequentemente, a função das cartilagens, órgãos dos sentidos e os sistemas cardiovascular, renal e nervoso. O paciente pode apresentar condrite auricular, condrite nasal com deformidade do nariz em sela, acometimento da árvore traqueobrônquica com condrite traqueal e/ou laríngea, lesões da aorta, poliartrite inflamatória por envolvimento da sinóvia, costocondrite, perda auditiva neurosensorial, vertigem por disfunção vestibular e inflamação ocular, como conjuntivite, ceratite, episclerite e uveíte. A radiografia de tórax pode revelar a presença de estreitamento traqueal, opacidades secundárias à pneumonia ou à atelectasia induzida por obstrução, aumento da vascularização pulmonar ou edema pulmonar. A radiografia cervical de perfil pode mostrar calcificações da traqueia ou da cartilagem laríngea. A tomografia computadorizada e, em especial, a ressonância magnética permitem maior avaliação das lesões e distinção entre inflamação e fibrose. As provas de função pulmonar podem apresentar graus variados de obstrução inspiratória e/ou expiratória.35,36 DOENÇAS AUTOINFLAMATÓRIAS As doenças autoinflamatórias, também conhecidas como síndromes de febre periódica, são causadas por desordens da imunidade inata herdada ou adquirida. São doenças multissistêmicas caracterizadas por episódios recorrentes de febre e inflamação sistêmica na ausência de infecção e sem produção de autoanticorpos. Podem acometer pele, olhos, articulações, superfícies serosas e outros órgãos internos. No grupo das síndromes hereditárias que cursam com manifestações pleuro-pulmonares, encontramos a febre familiar do mediterrâneo (FFM), a síndrome de febre periódica associada ao fator de necrose tumoral (TRAPS), a síndrome de febre periódica associada à hiperimunoglobulinemia D (HIDS), as síndromes de febre periódica associadas à criopirina (CAPS) e as artrites granulomatosas pediátricas associadas ao gene NOD2 (síndrome de Blau e sarcoidose de início precoce – Early Onset Sarcoidosis). Rev Bras Reumatol 2011;51(1):81-96 O aparelho respiratório e as doenças reumáticas da infância e da adolescência As manifestações das doenças autoinflamatórias no aparelho respiratório podem caracterizar-se pelo acometimento agudo e recorrente dos episódios de inflamação, em que se pode encontrar pleurite estéril autolimitada, manifestação mais frequente, e vasculite pulmonar grave. Os quadros de evolução crônica, geralmente complicações da inflamação não controlada, podem ocorrer na amiloidose pulmonar e nas neoplasias. Pleurite A FFM manifesta-se geralmente na infância, com ataques recorrentes espontâneos ou desencadeados por estresse, imunização ou menstruação, que duram em torno de três a quatro dias, sendo a febre alta e a serosite as principais manifestações. A pleurite estéril é segunda serosite mais frequente após a peritonite e a terceira manifestação clínica mais comum após peritonite e artralgia. A dor torácica pleurítica ocorre em aproximadamente 40% dos casos, geralmente é unilateral e pode estar isolada ou associada à peritonite. Os movimentos respiratórios causam dor, o murmúrio vesicular pode estar diminuído nos casos mais graves e, na radiografia de tórax, podem ser visíveis pequena efusão pleural ou espessamento pleural, em casos recorrentes.44,45 Embora bem mais comum na FFM, a pleurite pode ocorrer também na TRAPS. Os ataques de inflamação podem durar de uma a quatro semanas e se apresentam com febre, dor abdominal, mialgia, exantema, linfadenopatia, conjuntivite, edema periorbitário e dor pleurítica. O tratamento com altas doses de corticosteroide e agentes biológicos como os anti-TNF nem sempre se mostra eficaz. O uso de bloqueadores da IL-1 (anakinra) mostrou-se eficaz em alguns pacientes.46 Vasculite pulmonar A FFM pode estar associada a outras doenças sistêmicas como a púrpura de Henoch-Schönlein, a poliarterite nodosa (PAN) e a doença de Behçet, e, portanto, as manifestações pulmonares vasculíticas dessas doenças podem estar presentes. Embora o acometimento pulmonar seja incomum na PAN, a dispneia grave, a tosse, a hemoptise, a dor torácica e a febre podem ser manifestações clínicas de pneumonia intersticial, fibrose intersticial, bronquiolite obliterante e infiltrado pulmonar.44,47 Amiloidose A amiloidose sistêmica é uma das manifestações mais graves das doenças autoinflamatórias, em especial da FFM, e Rev Bras Reumatol 2011;51(1):81-96 se deve à deposição tecidual dos fragmentos de amiloide sérico A.48 Esses depósitos ocorrem com mais frequência nos rins, trato respiratório, trato gastrointestinal, glândulas adrenais, baço e testículos. Embora a amiloidose ocorra após longo tempo de doença inflamatória não controlada, em alguns casos seu aparecimento pode preceder os ataques febris, um fenômeno relacionado à persistência de um estado de inflamação subclínico, mesmo na ausência de sintomatologia.47 O tratamento profilático com colchicina oral diariamente na FFM é eficaz na prevenção dos ataques e do desenvolvimento da amiloidose, e deve durar a vida toda.45 O controle da inflamação com terapias imunossupressoras ou com uso de imunobiológicos pode ser necessário nos casos refratários.49 A amiloidose ocorre também, com relativa frequência, na CAPS (Síndrome de Muckle-Wells e CINCA/NOMID) e na TRAPS, mas é rara na HIDS.45 A amiloidose traqueobrônquica é a forma mais comum de acometimento do trato respiratório e a sintomatologia clínica varia segundo a localização dos depósitos amiloides ao longo da árvore traqueobrônquica. Neoplasia A ocorrência de mesotelioma de peritôneo e pleura já foi descrita em pacientes com FFM e está associada ao estímulo inflamatório recorrente das membranas serosas.44 Manifestações pulmonares das doenças autoinflamatórias granulomatosas Artrite granulomatosa pediátrica (AGP) é hoje a denominação proposta que engloba duas doenças fenotipicamente idênticas, a Síndrome de Blau, de herança autossômica dominante, e a sarcoidose de início precoce (early onset sarcoidosis – EOS), forma esporádica da doença que tem início antes dos 4 anos. Atualmente, sabe-se que o encontro da mesma mutação no gene NOD2 as identifica como uma mesma doença.50-52 A AGP é caracterizada pela tríade clínica cuja manifestação mais comum é a infiltração granulomatosa não caseosa da pele, sinóvia e olhos (exantema, artrite e uveíte). Embora de ocorrência rara na AGP, já foram descritos casos de pneumonite intersticial, granuloma brônquico e tromboembolismo pulmonar.52-54 O tratamento dos quadros pulmonares associados compreende as mesmas drogas usadas no controle das outras manifestações da doença, como corticosteroides, imunossupressores e imunobiológicos. O uso do metotrexate deve ser evitado, em razão de sua toxicidade pulmonar.52 93 Domingues et al. SARCOIDOSE Doença granulomatosa multissistêmica de etiologia desconhecida, rara na faixa etária pediátrica, manifesta-se histopatologicamente por um infiltrado granulomatoso não caseoso. Acomete principalmente os pulmões e o sistema linfático, mas os granulomas podem estar presentes em quaisquer órgãos. A doença pode apresentar um curso benigno e apresentar remissão espontânea ou evoluir de forma grave. Em geral, apresenta-se com linfonodopatia hilar bilateral, infiltrado pulmonar e lesões oculares ou cutâneas, como o eritema nodoso. Nas crianças com até 4 anos, costuma manifestar-se com uma doença cutânea (78%), articular (58%) e ocular (58%), sem sintomas pulmonares específicos.55 MANIFESTAÇÕES ASSOCIADAS AO TRATAMENTO DAS DOENÇAS REUMÁTICAS O aparelho respiratório não parece ser alvo comum desses efeitos indesejáveis, exceto pela frequência dos quadros infecciosos, principalmente das vias aéreas superiores. Os anti-inflamatórios não hormonais raramente apresentam efeitos adversos associados com o comprometimento do aparelho respiratório. Há relatos de que o ácido acetil-salicílico e a indometacina podem levar ao surgimento de broncoespasmo ou à precipitação de crise de asma.56 Em relação às drogas sintéticas modificadoras da doença, a principal delas associada a efeito adverso é o metotrexate. A toxicidade pulmonar causada por essa droga parece ocorrer principalmente no primeiro ano de uso. Os quadros clínicos são: pneumonite intersticial aguda, fibrose intersticial, bronquiolite obliterante com pneumonia organizada, pleurite, derrame pleural, nódulos pulmonares, edema agudo não cardiogênico e hiperreatividade de vias aéreas. Em adultos, efeitos adversos em pacientes com artrite reumatoide ocorrem em 2% a 7 % dos casos com o uso da droga em doses baixas.57 O uso do metotrexate pode associar-se a quadros de pneumonia, principalmente infecções oportunistas associadas ao Pneumocystis jiroveci.57 Essa droga tem sido bastante utilizada no tratamento de várias doenças reumáticas na infância, mas estudos têm demonstrado que sua toxicidade pulmonar é muito pouco significativa nessa faixa etária.58,59 Cron et al.60 relataram eventual pneumonite induzida pelo uso de metotrexate em uma criança com artrite idiopática juvenil.Schmuling et al.61 estudaram a função pulmonar em pacientes com artrite idiopática juvenil utilizando metotrexate por longo tempo e confirmaram sua segurança. O acometimento pulmonar pela sulfassalazina, outra droga desse grupo, mostrou raros relatos de pneumonite intersticial, fibrose e alveolite em adultos, mas não em crianças.62 94 A suscetibilidade à infecção em pacientes em uso de corticosteroides parece estar relacionada à dose e ao tempo de uso, além, é claro, da imunossupressão associada à doença de base e ao uso concomitante de algum outro agente imunossupressor.63 As drogas citotóxicas podem predispor a quadros infecciosos pulmonares. Recentemente, foram relatados casos de bronquiolite obliterante com pneumonia organizada e pneumonite intersticial em pacientes adultos com doença inflamatória intestinal usando azatioprina.64 Em relação à classe conhecida como agentes biológicos, os principais eventos adversos referem-se ao aumento na frequência de infecções, principalmente no trato respiratório superior. O TNF desempenha importante papel na formação e manutenção de granulomas dentro da resposta imune. Desse modo, o uso de agentes anti-TNF predisporia à disseminação de agentes que lá estariam encarcerados, como micobactérias e fungos. As informações atualmente disponíveis sugerem que essa classe de drogas aumenta o risco para tuberculose, e que a maioria dos casos resulta de reativação de uma infecção prévia. Desconhece-se a contribuição de infecções recentes, mais frequentes nas crianças, para esse fenômeno.65 Mesmo assim, todas as crianças e adolescentes que serão submetidos à terapia com esses fármacos deverão ser previamente avaliados com prova tuberculínica (PT) e radiografia de tórax antes de seu início, para investigação de tuberculose latente ou doença.66,67 Caso a doença ativa seja excluída em pacientes com PT positiva, a terapia com isoniazida por nove meses está preconizada como profilaxia da evolução da infecção latente para doença. Nesses casos, o início da terapia com o agente anti-TNF deverá ser postergado por pelo menos 1 a 2 meses.65 Thavarajah et al.,68 em revisão da literatura, mostraram a associação dos agentes anti-TNF com infecções (micobactérias, bactérias, fungos), nódulos pulmonares, pneumonite crônica e fibrose pulmonar. O rituximabe, anticorpo monoclonal quimérico anti-CD20, parece estar associado ao aumento de infecções virais, com comprometimento pulmonar, uma vez que causa diminuição prolongada do nível das imunoglobulinas séricas, principalmente nas crianças.63 Em relação ao tocilizumabe, anticorpo monoclonal humanizado recombinante que age como antagonista dos receptores de interleucina-6, os relatos de acometimento pleuro-pulmonar referem-se a casos de pneumonia associada às alterações imunes causadas pela droga. Há alguns relatos de pneumonia necrotizante e bronquite aguda, mas o principal foco de infecções é o trato respiratório superior.69 Keane et al.70 não encontraram evidências na literatura de associação de tuberculose com o uso de outros agentes biológicos também de uso corrente, como abatacepte e anakinra. Rev Bras Reumatol 2011;51(1):81-96 O aparelho respiratório e as doenças reumáticas da infância e da adolescência REFERences referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. Oliveira SKF, Azevedo ECL. Febre Reumática. Reumatologia Pediátrica. Rio de Janeiro: Revinter; 2001. Giuliano JS, Sekar P, Dent CL, Border WL, Hirsch R, Manning PB. Unilateral pulmonary edema and acute rheumatic fever. Eur J Pediatr 2008; 167(4):465-7. Anderson Y, Wilson N, Nicholson R, Finucane K. Fulminant mitral regurgitation due to ruptured chordae tendinae in acute rheumatic fever. J Paediatr Child Health 2008; 44(3):134-7. Oliveira SKF, Sant’Anna C, Abdo Neto JA. 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Rev Bras Reumatol 2011;51(1):81-96 relato de caso Piomiosite tropical em paciente com lúpus eritematoso sistêmico e infecção por HTLV 1/2 Hérica Cristiani Barra de Souza1, Barbara Nascimento de Carvalho1, Marina Gonçalves Veras de Morais1, Guilherme Zager Monteiro1, Fabiano Takaaki Emori2, Luiz Carlos Latorre3 RESUMO A piomiosite tropical (PT) é uma doença infecciosa da musculatura esquelética, de etiologia bacteriana, incomum, e muitas vezes associada a situações de imunodeficiência. O envolvimento de musculatura pélvica profunda, como o músculo ilíaco, é uma condição ainda mais incomum. A associação de lúpus eritematoso sistêmico (LES) e PT é pouco relatada na literatura. Como o LES é uma situação de imunodepressão tanto pela doença em si como pelas medicações utilizadas no seu tratamento, esses pacientes tornam-se grupo de risco para o desenvolvimento de infecções, como PT. A infecção pelo HTLV está cada vez sendo mais identificada e associada a patologias nas quais autoimunidade está implicada, como é o caso do LES. Os autores descrevem um caso de PT de localização no músculo ilíaco em paciente portadora de LES, insuficiência renal crônica, em hemodiálise, além de portadora do vírus HTLV 1/2, internada no Hospital Heliópolis, em São Paulo, Brasil. Palavras-chave: piomiosite, lúpus eritematoso sistêmico, vírus 2 linfotrópico T humano, vírus linfotrópico de células T humanas tipo 1. [Rev Bras Reumatol 2011;51(1):97-103] ©Elsevier Editora Ltda. INTRODUÇÃO A piomiosite tropical (PT) é uma doença infecciosa da musculatura esquelética, tendo como principal agente o Staphylococcus aureus. É típica de países em desenvolvimento e de clima tropical, incomum e muitas vezes associada a situações de imunodeficiência. Acomete predominantemente adultos jovens e crianças, com predileção por massas musculares grandes.1-4 É classificada em primária e secundária. A forma primária é devida à disseminação hematogênica favorecida por imunodepressão de base, cujo agente mais implicado é o S. aureus. Já a secundária é por extensão da infecção de estruturas vizinhas, também favorecidas por imunodepressão ou em pós-operatórios, tendo como agentes mais frequentes Escherichia coli e Bacterioides spp.3,4,6 A associação entre LES e PT é pouco relatada na literatura. O LES é uma situação de imunodepressão tanto pela doença em si como pelas medicações utilizadas no seu tratamento. Por conta disso, esses pacientes tornam-se grupo de risco para o desenvolvimento de infecções.7,8 Os autores descrevem um caso de PT de localização no músculo ilíaco em paciente portadora de LES, insuficiência renal crônica, em hemodiálise, portadora do HTLV1/2, como complicação da doença de base. RELATO DO CASO VSF, feminino, 25 anos, procedente do ambulatório de reumatologia do Hospital Heliópolis, em São Paulo, Brasil. Antecedentes pessoais: LES há 6 anos, nefrite há 5 anos, insuficiência renal crônica dialítica (hemodiálise há 4 meses), Recebido em 07/01/2010. Aprovado, após revisão, em 15/11/2010. Declaramos a inexistência de conflitos de interesse. Complexo Hospitalar Heliópolis, São Paulo, SP – Brasil. 1. Médica residente do serviço de Reumatologia do Hospital Heliópolis - Residência Médica 2. Médico residente do serviço de Radiologia do Hospital Heliópolis - Residência Médica 3. Médico Assistente do serviço de Reumatologia e diretor das clínicas médicas do Hospital Heliópolis; Doutor em Epidemiologia pela Faculdade de Saúde Pública da USP Correspondência para: Hérica Cristiani Barra de Souza. CEREDO - Serviço de Reumatologia do Hospital Heliópolis. Rua Caçapava, nº49, Conj. 17. Jardim Paulista, São Paulo, SP, Basil. CEP: 01408-010. E-mail: [email protected]. 100 Rev Bras Reumatol 2011;51(1):97-103 Piomiosite tropical em paciente com LES e HTLV sorologia positiva para HTLV 1/2 detectada há 4 meses, polirradiculopatia desmielinizante crônica diagnosticada por eletroneuromiografia há 4 meses e 2 internações: de 03/01/2009 a 20/01/2009 por pneumonia adquirida na comunidade (PAC) grave e de 04/03/2009 a 01/05/2009 por vasculite cutânea, PAC e sepse por infecção relacionada a cateter com isolamento de S. aureus multirresistente (tratou com vancomicina por 21 dias). Início, há 1 mês, de lesão nodular em face anterior da perna direita com aumento progressivo de volume, dor e eritema local, com piora há 1 semana e surgimento de calafrios, febre e dor em quadril direito que piora à movimentação. Ao exame físico apresentava regular estado geral, mucosas hipocoradas 2+/4+, abdome doloroso à palpação profunda difusamente, sem sinais de irritação peritoneal, atrofia muscular em membros inferiores e superiores, força muscular grau III em membros inferiores e grau IV em membros superiores. Nódulo de aproximadamente 3 cm em região pré-tibial direita e esquerda, amolecido, hiperemiado, quente e doloroso ao toque (Figura 1). A conduta foi a punção do nódulo com saída de conteúdo purulento e envio do material para análise. Após, foi introduzido Clindamicina. O laboratório inicial revelava leucocitose significativa (19.280 células por mm³) com desvio à esquerda, desidrogenase lática de751U/L, urina I com 230.000 leucócitos, urocultura negativa. Sorologia para HIV negativa. A bacterioscopia do conteúdo do abscesso revelou cocos Gram positivos, aos pares, intracelulares, confirmado pela cultura tratar-se de S. aureus multirresistente (sensível à vancomicina), germe também identificado nas amostras iniciais de hemoculturas e cultura de ponta de cateter da hemodiálise. A TC de pelve mostrou sacroiliíte bilateral, coleção em topografia de músculo ilíaco bilateralmente e sinais de osteomielite em sacroilíacas (Figura 2A), achado também presente na ultrassonografia (USG) de abdome realizada em 29/07/2009. Após o resultado da bacterioscopia, foi trocado o antibiótico para vancomicina 1 g a cada 4 dias (dose ajustada para função renal). Com o resultado da USG de abdome e TC de pelve optou-se por drenagem cirúrgica aberta em 29/07/2009, com acesso lateral ao retroperitônio e colocação de dreno A B Figura 1 Presença de abscessos pré-tibiais em paciente com lúpus eritematoso sistêmico e infecção pelo HTLV 1/2. Rev Bras Reumatol 2011;51(1):97-103 Figura 2 (A) TC de pelve. Coleção volumosa em músculo ilíaco bilateralmente e osteomielite de sacroiíacas em paciente com lúpus eritematoso sistêmico e infecção pelo HTLV 1/2. (B) TC de pelve. Aspecto das lesões descritas na Figura 2A; após a drenagem cirúrgica da piomiosite do músculo ilíaco bilateralmente. 101 de Souza et al. túbulo-laminar bilateralmente e encaminhado o conteúdo da coleção para cultura, que também demonstrou a presença de S. aureus multirresistente. Manteve uso do antibiótico por um período de 42 dias, evoluindo com melhora clínica e radiológica progressiva, recebendo alta hospitalar em 04/09/2009, com recuperação clínica satisfatória, culturas negativas e TC pelve com redução significativa da lesão (Figura 2B). DISCUSSÃO A PT é uma patologia grave, que acomete mais frequentemente os músculos da coxa, glúteos e tronco, cuja regra é o acometimento muscular único (60%-70%).9 É possível caracterizar a doença em 3 estágios. O primeiro se apresenta como miosite inicial sem formação de abscesso acompanhado de febre baixa, dor e enrijecimento muscular, porém o diagnóstico raramente é feito nesta fase. No estágio 2 ocorre formação de abscesso intramuscular único ou múltiplo, de localização profunda, em média 10 a 21 dias do início dos sintomas, acompanhado de febre, edema muscular, dor mais localizada e formação de abscesso profundo e aspirado de material purulento. A grande maioria dos pacientes ao diagnóstico encontra-se neste estágio, fato observado na paciente deste relato, que apresentava a forma primária, no estágio 2.4,5,10 Se não tratado adequadamente o paciente pode evoluir para o estágio 3, caracterizado por febre alta, dor acentuada e flutuação dos músculos envolvidos, com sinais de toxicidade podendo evoluir para choque séptico e eventualmente óbito.1,2,5,9 No caso descrito, S. aureus foi isolado em amostras de hemocultura e do conteúdo do abscesso aspirado, concordando com dados da literatura que sugerem que em mais de 90% dos casos este é o agente etiológico, seguido de Streptococcus spp e E.coli. O mecanismo pelo qual ocorre a agressão muscular é através de bacteremia, entretanto menos de 5% dos casos apresentam-se com culturas positivas, sugerindo que tal bacteremia é transitória.1,4,6,9 Dentre os grupamentos musculares mais envolvidos, além dos já citados, há relatos do envolvimento de músculos paravertebrais, cervicais, ilíaco, psoas, piriforme, abdominais, panturrilha, deltóide e bíceps. Apesar de muitas vezes acometer extensas áreas musculares, usualmente não há elevação de enzimas musculares.1,2,9,11 No Brasil há cerca de 2,5 milhões de indivíduos soropositivos para o HTLV 1 e 2, sendo esta patologia endêmica em Salvador, Bahia (1,8% de prevalência).12,13 Estudos sugerem que o HTLV é desencadeador e perpetuador de algumas doenças inflamatórias articulares, uma vez que 102 induz no sistema imune uma resposta proliferativa linfocitária exuberante. Desta forma, tem sido implicado na indução de autoimunidade. Dentre as doenças reumáticas autoimunes associadas a essa infecção destaca-se a síndrome de Sjögren, artrite reumatóide, polimiosite e LES. Carvalho et al.,14 em 2006, relataram em sua casuística que 0,7% dos pacientes com HTLV-1 tinham LES, porém a maioria dos estudos não consegue estabelecer de forma precisa tal associação.No caso da paciente, a co-infecção pelo HTLV foi um fator adjuvante ao LES para a imunossupressão, o que lhe favoreceu uma infecção oportunista. Para auxiliar no diagnóstico da PT, podemos lançar mão de exames de imagem, preferencialmente USG, TC, sendo úteis para localizar o músculo acometido e guiar a punção e a biópsia. Estes devem ser seriados para o acompanhamento da evolução clínica e tratamento.1,2,9,10 No caso descrito, o acometimento do músculo ilíaco foi identificado pela TC de pelve e o volume do abscesso foi confirmado pela ultrassonografia. A terapêutica para a PT é baseada em antibióticos e drenagem do abscesso via percutânea ou cirúrgica. A punção com drenagem cirúrgica parece fundamental na maioria dos casos, para juntamente com a antibioticoterapia evitar a evolução da doença para o estágio 3, onde existe aumento de mortalidade destes pacientes.4 Inicialmente optou-se por terapêutica com antibiótico, postergando a drenagem cirúrgica, por se tratar de uma paciente com risco cirúrgico elevado pelas patologias de base, além do fato de o acesso cirúrgico via lateral pelo retroperitônio também ser tecnicamente difícil. No entanto, houve piora clínica e radiológica e o procedimento cirúrgico foi então realizado com sucesso, mantendo-se ainda antibioticoterapia no pós-operatório. A PT deve ser lembrada como grave complicação em pacientes imunodeprimidos e o início insidioso pode retardar o diagnóstico, o que limita o prognóstico. A suspeita clínica precoce, o diagnóstico por imagem e a terapêutica adequada são decisivos para a evolução satisfatória desses casos. References REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 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INTRODUÇÃO A nefropatia por IgA é reconhecida como a causa mais comum de glomerulonefrite.1-3 A sua prevalência estimada na população geral é de 25 a 50 casos por 100.000 indivíduos.4,5 O quadro clínico mais descrito (40 a 50%) é o de hematúria macroscópica, que poderia estar relacionada a uma infecção das vias aéreas superiores.6 Outra apresentação frequente (30 a 40%) é a de hematúria microscópica em um paciente assintomático.3,6 O diagnóstico definitivo é feito por meio da biópsia renal, em que se observam depósitos de IgA (acompanhados de IgG e C3) no mesângio e, em menor grau, na parede dos capilares glomerulares.2 Estudos recentes mostram que 15% a 40% dos pacientes acometidos evoluirão para insuficiência renal crônica (IRC).7 Em meados da década de 70, casos clínicos da concomitância entre espondiloartrite (EpA) e nefropatia por IgA começaram a ser publicados. Desde então, suspeita-se que os pacientes com EpA possam ser mais acometidos pela nefropatia por IgA que a população geral, e que possa haver um mecanismo etiopatogenético comum entre as duas doenças. Esse envolveria a diminuição da expressão do receptor responsável pela depuração da IgA 1 e de seus imunocomplexos na superfície dos monócitos e dos neutrófilos.8-12 A seguir, descrevem-se quatro casos exemplificando a concomitância entre a nefropatia por IgA e as EpA. RELATOS DE CASO Caso 1 ALN, sexo masculino, encaminhado para o serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da UFMG (HC-UFMG) em 1994, com o diagnóstico de artrite reativa de evolução semelhante à espondilite anquilosante (EA): sacroiliíte grau IV à direita e grau II para III à esquerda,13 pesquisa de Clamydia trachomatis positiva na urina, HLAB-27 positivo, osteoartrite grave em articulação do quadril direito. Havia história de hematúria microscópica intermitente. Constatou-se que a hematúria era de origem glomerular (mais de 80% das hemácias dismórficas), que não havia proteinúria e que a função renal estava preservada. Submetido à biópsia renal em 1999: “glomerulopatia proliferativa mesangial com imunodepósitos glomerulares de IgA”. Um ano após o diagnóstico da nefropatia por IgA foi notada a diminuição da depuração da creatinina na Submetido em 10/6/2010. Aprovado, após revisão, em 15/11/2010. Declaramos a inexistência de conflito de interesse. Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG); Departamento do Aparelho Locomotor e Departamento de Cirurgia, Faculdade de Medicina (FM) da UFMG; Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto da FM da UFMG. 1. Mestranda em Saúde do Adulto da FM da UFMG; Médica especialista em Reumatologia 2. Professores Adjuntos; Doutores da FM da UFMG Correspondência para: Hospital das Clínicas da UFMG. Alameda Álvaro Celso, 175, 2° andar- Serviço de Reumatologia, Ambulatório Bias Fortes- Bairro Santa Efigênia, Belo Horizonte, MG. CEP: 30130-100. E-mail: [email protected] 106 Rev Bras Reumatol 2011;51(1):104-8 Nefropatia por IgA nas espondiloartrites urina de 24 horas (de 130 mL/ min para 68 mL/min), sendo suspenso o uso de anti-inflamatório não esteroidal (AINE), que até então era usado de maneira contínua. Houve recuperação da depuração da creatinina. Ficou sem a medicação por um ano. Mas retornou com dor intensa em quadril, sendo reiniciado o AINE com a proposta de vigilância regular da função renal. Permaneceu com a função renal estável, sem proteinúria, sem hipertensão arterial sistêmica (HAS). Caso 2 UPR, paciente do sexo masculino, em acompanhamento regular no HC-UFMG desde agosto de 1983. Há cerca de seis anos tinha iniciado com quadro de poliartralgia, calor e edema em joelhos, tornozelos e pequenas articulações dos pés, além de esternalgia, intercostalgia, dor em cristas ilíacas e na coluna lombar. A dor era acompanhada de rigidez matinal de 30 minutos. Apresentava, ainda, calcaneodinia e retificação da lordose lombar; índice de Schöber de 3,5 cm e expansibilidade torácica de 5 cm. A radiografia de sacroilíacas mostrava sacroiliíte grau III bilateral13 e tinha o HLA-B27 positivo. Foi feito o diagnóstico de EA e iniciado AINE e prednisona com melhora apenas parcial. Evoluiu com hematúria microscópica intermitente sugestiva de origem renal (cilindros hemáticos) e proteinúria. Submetido à biópsia renal em 1986: “nefropatia por IgA”. Permaneceu com hematúria intermitente, provas inflamatórias elevadas e doença articular ativa. Passou a ter elevação dos níveis pressóricos, aumento gradativo da creatinina sérica com diminuição da sua depuração na urina e proteinúria que chegou a 3 g/24 horas. Evoluiu com IRC não dialítica. Foi suspenso o AINE e prescrito infliximabe. Caso 3 IPS, sexo masculino, em acompanhamento no HC-UFMG desde 1999 com o diagnóstico de EA. Relatava que há quatro anos começou a sentir dor em coluna cervical, torácica e lombar e em articulações coxofemorais, piores pela manhã, com melhora ao longo do dia. Ao exame físico, apresentava retificação da lordose lombar com índice de Schöber de 3,5 cm. A radiografia de sacroilíacas demonstrava sacroiliíte grau III bilateral13 e a de quadril evidenciava osteoartrite avançada. Tinha a pesquisa de HLA B-27 positiva. Foi iniciado AINE com melhora dos seus sintomas articulares. Foi observada hematúria microscópica intermitente, sem proteinúria e sem comprometimento da função renal. Em 2001 foi submetido à biópsia renal que mostrou: “Glomerulonefrite proliferativa mesangial com imunodepósitos predominantes de IgA”. Tem Rev Bras Reumatol 2011;51(1):104-8 se mantido normotenso, com a função renal normal, sem desenvolver proteinúria. Caso 4 LRP, sexo masculino, que recebeu o diagnóstico de EA (sacroiliíte grau IV bilateral,13 lombalgia inflamatória, lesão estrutural grave em quadril direito) e de nefropatia por IgA (hematúria microscópica intermitente e biópsia renal com glomerulonefrite proliferativa mesangial com imunodepósitos de IgA) durante o seu acompanhamento no HC-UFMG nos anos 90. Interrompeu o acompanhamento alguns meses após o diagnóstico. Retornou em 2009 apresentando proteinúria maior que 3 g/24 horas. Desenvolveu insuficiência renal aguda (IRA), tendo sido necessária a realização de hemodiálise. Foi submetido à pulsoterapia com metilprednisolona. Obteve reversão da insuficiência renal. Entretanto, mantém hematúria intermitente e proteinúria. DISCUSSÃO A investigação de manifestações renais nos pacientes acometidos por EpA não tem sido uma recomendação de rotina.14 No entanto, essa possibilidade não pode ser ignorada, como exemplificam os quatro casos acima e a literatura disponível. Esses pacientes tinham uma EpA considerada grave (caso 1, 3 e 4 com osteoartrite de quadril, caso 2 sempre mantendo atividade da doença), com o acometimento predominantemente axial e com a positividade para o HLA- B27. A manifestação que levou ao diagnóstico de nefropatia por IgA foi a mesma nos quatro pacientes: uma hematúria microscópica intermitente. Um deles evoluiu para IRC de forma lenta e progressiva, o outro oscilou a função renal de acordo com o uso de AINE, o terceiro vem mantendo a função renal estável e o quarto desenvolveu uma IRA e proteinúria nefrótica. Essas pessoas demonstram a concomitância da nefropatia por IgA e das EpA. Infelizmente, não há estudos epidemiológicos estimando a prevalência da nefropatia por IgA nos pacientes portadores de EpA. Ainda assim, a possibilidade desse acometimento renal deve ser lembrada. A presença de uma glomerulonefrite por IgA pode alterar o tratamento da EpA, uma vez que o cerne desta é o uso do AINE, uma medicação que pode afetar adversamente a função renal desses pacientes.15 Permanece o questionamento se, de fato, há uma maior prevalência de nefropatia por IgA em pacientes com EpA. Mais estudos sobre o assunto devem ser desenvolvidos. 107 Azevedo et al. references referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 108 Berger J, Hinglais N. Les depots intercapillaires d IgA-IgG. J Urol Nephol 1968; 74:695-5. Galla JH 1995. IgA nephropathy. Kidney Int 1995; 47:377. Floege J, Feehally J. IgA nephropathy: recent developments. J Am Soc Nephrol 2000; 11:2395. DAmico G: The commonest glomerulonephritis in the world: IgA nephropathy. QJM 1987; 64:709-27. 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