FACULDADE REDENTOR - ITAPERUNA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO ANA CLARA MARTINS FONSECA HOSPITAL PSIQUIÁTRICO ITAPERUNA 2015 1 ANA CLARA MARTINS FONSECA HOSPITAL PSIQUIÁTRICO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Graduação de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Redentor – Itaperuna, como requisito parcial para obtenção de Grau em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Artur Rodrigues. Faculdade Redentor – Itaperuna - RJ ITAPERUNA 2015 2 RESUMO Apesar do tema saúde mental ser discutido a muitos séculos, ele tem se mostrado bastante atual. Ainda não se chegou a um consenso geral sobre qual o tratamento certo para doentes mentais, nem o que realmente causa os transtornos psíquicos. Hoje em dia existe uma corrente de estudos muito forte contra a institucionalização dos pacientes mentais em todo mundo. Porém, novos hospitais têm sido construídos em diversos países em uma tipologia totalmente nova, dentro da cidade, com abertura para a comunidade, onde os ditos doentes mentais podem conviver em sociedade, trabalhar e ter momentos de lazer. No Brasil, no início do século XIX, quando houve a institucionalização da psiquiatria, foi forte a influência dos ideais franceses de Pinel e Esquirol, e seu primeiro manicômio já foi concebido dentro dos ideais do movimento NO-RESTRAINT. A primeira lei promulgada foi inspirada nos estudos de Esquirol. O movimento antimanicomial, desde o seu início em 1970 até os dias de hoje, tem ganhado força no Brasil, mas os resultados não tem sido satisfatórios, pois, com a desativação de cerca de 90 mil leitos durante o movimento, restaram apenas 0,34% do necessário, e não existem alternativas de tratamento suficiente para o atendimento de todos os doentes mentais. Esse trabalho se apoia na necessidade de inovação no campo do tratamento psiquiátrico no Brasil. A proposta é oferecer um hospital que em seus aspectos arquitetônicos, conceda um tipo de tratamento diferente, focando na cidadania dos doentes mentais e oferecendo um embasamento para que o paciente possa voltar a viver em harmonia com a sociedade, dentro de sua própria normalidade. 3 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 6 2. JUSTIFICATIVAS ..................................................................................................................................... 8 2.1 - Justificativa temática ........................................................................................................................... 8 2.2 - Justificativa Público alvo ..................................................................................................................... 9 2.3 - Justificativa do local .......................................................................................................................... 10 3. ANÁLISES DO TERRENO E ENTORNO .......................................................................................... 14 3.1 - Local de Intervenção e entorno ....................................................................................................... 14 3.2 - CONDICIONANTES AMBIENTAIS................................................................................................. 15 3.2.1 - Ventilação, insolação e hidrografia.......................................................................................... 15 3.2.2 - Mata e Vegetação ...................................................................................................................... 17 3.2.3 –Topografia .................................................................................................................................... 18 3.3 - CONDICIONANTES URBANOS ..................................................................................................... 19 3.3.1 - Hierarquia viária.......................................................................................................................... 19 3.3.2 - Cheios e Vazios .......................................................................................................................... 21 3.3.3 - Usos e Funções .......................................................................................................................... 22 3.3.5 - Pontos Nodais ............................................................................................................................. 25 4. HISTÓRICO ............................................................................................................................................. 29 4.1 - Século XVI - Renascença: A nau dos insensatos ........................................................................ 29 4.2 - Século XVII - Institucionalização ..................................................................................................... 29 4.3 - Século XVIII - Hospital como instrumento terapêutico ................................................................ 30 4.4 - Século XIX – O “Espaço da mente” ................................................................................................ 35 4.5 - Século XX – Das comunidades terapêuticas à Antipsiquiatria ................................................... 42 4.6 - Século XIX até a atualidade – Breve histórico sobre a psiquiatria no Brasil............................ 44 5. VISITAS TÉCNICAS .............................................................................................................................. 49 5.1 - CAPAAC - Centro de Atendimento Psiquiátrico Aristides Alexandre Campos ........................ 49 5.2 - Clínica Psiquiátrica Villa Verde – Bromélias .................................................................................. 54 6. LEGISLAÇÃO ............................................................................................................................................ 59 6.1 - Uso e Ocupação do Solo. (Decreto Lei 530/88) ........................................................................... 59 6.2 - Portarias .............................................................................................................................................. 59 6.3 - Normas Técnicas ............................................................................................................................... 61 7 .REFERÊNCIAS PROJETUAIS ............................................................................................................... 62 4 7.1 - Referências Específicas ................................................................................................................... 62 7.1.1 - Hospital Psiquiátrico Kronstad – Bergen, Noruega............................................................... 62 7.1.2 - Centro Psiquiátrico Friedrichshafen ........................................................................................ 69 7.1.3 - Comparativo ................................................................................................................................ 76 7.2 - REFERÊNCIAS GERAIS ..................................................................................................................... 79 7.2.1 - Houseunderthe Oaks por Juri Troy Architects ........................................................................... 79 7.2.2 - ÖstraPsychiatry Hospital – White ................................................................................................ 80 8. PROGRAMA DE NECESSIDADES ................................................................................................ 82 9. REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 85 9. 1 - Referências de imagens .................................................................................................................. 88 5 1. INTRODUÇÃO O trabalho apresenta pesquisas teóricas e práticas para justificar a implantação e apoiar o desenvolvimento projetual de um Hospital Psiquiátrico na cidade de Muriaé. O tratamento psiquiátrico no mundo teve início no século XVII com o esvaziamento dos leprosários. Não se sabia o que fazer com os lugares que tinham sido construídos para isolamento dos leprosos, pois a doença estava se extinguindo, e essas construções ficavam fora da cidade. Então, os leprosários passaram a ser utilizados para o abrigo de diversos segregados da sociedade, entre eles, os doentes mentais. O século XVIII foi marcado pelo aspecto humanizado que foi dado aos hospitais. A preocupação com o ser humano se estendeu aos asilos de doentes mentais. Foi nesse século que estudiosos importantes se dedicaram a formular novas teorias para tratamento. Pinel, considerado o pai da psiquiatria, liderou o movimento que retirou as grades e algemas dos manicômios; Esquirol defendia o tratamento moral da loucura e uma maior participação do médico no tratamento; Tuke acreditava que o processo de perda da razão se dava pelo distanciamento que a sociedade estava tomando da natureza, e por isso, acreditava que para recuperar a racionalidade, o doente deveria ficar em um retiro em um ambiente bucólico. No século XIX houve o advento do tratamento organicista, que acreditava que a doença mental vinha de uma lesão no cérebro. Foi um modo de aumentar a aceitação da psiquiatria no ramo dos estudos científicos e como uma das especializações da medicina. O tratamento nessa época era muito voltado para o estudo das doenças, e por isso, o médico, através disso, tinha o poder de fazer a doença desaparecer e reaparecer quando fosse mais conveniente para os estudos. Todo esse sobrepoder do médico deu origem a um esboço do que seria chamado mais tarde de movimento antimanicomial. No século XX foram fundadas as primeiras comunidades terapêuticas, que usavam um tratamento mais humanitário e mais voltado para a reinserção do paciente à sociedade. Apesar disso, alguns hospitais ainda usavam métodos cruéis de tratamento e por isso, o movimento antimanicomial e a antipsiquiatria tomaram força. Alguns países, como a Itália, promulgaram leis que previam que fossem extintos todos os hospitais psiquiátricos do país. É sabido que a descoberta das drogas psicoativas e os movimentos humanistas tem dado força a extinção dos hospitais no Brasil. Porém, a Reforma Psiquiátrica tem mascarado diversos problemas das instituições psiquiátricas. O fechamento, sem assistência ou acompanhamento, de diversos hospitais tem sido justificados por esse 6 movimento. Durante o desenvolvimento desse trabalho foi fechado o hospital que assistia ao município de Muriaé e mais 88 municípios por falta de repasse de verba do governo federal. De acordo com a Portaria nº 1101/GM de 12 de julho 2002, o número certo de leitos é 0,45 para cada 1000 habitantes, e o Brasil tem cerca de 30 mil leitos para toda sua população. Esse trabalho se apoia na necessidade de inovação do tratamento psiquiátrico no Brasil, visto que ele tem se apoiado num movimento que tem perdido força no mundo. E enquanto muitos países têm aberto novos hospitais e novos meios de tratamento, o Brasil tem simplesmente fechado seus hospitais e oferecido um número insuficientes de locais com tratamentos alternativos. O projeto que se apoia nessa pesquisa, terá como base do tratamento a reinserção do paciente na sociedade, trabalhando isso entre os internos, como uma pequena comunidade. O tratamento se dará em duas fases; primeiro, os casos mais graves, ficarão em um espaço interno do hospital, onde poderão ser monitorados mais facilmente; na segunda fase, o paciente será transferido para um módulo externo onde ele poderá viver em uma pequena sociedade com os outros pacientes. Além disso, também haverá os espaços de lazer e trabalho. 7 2. JUSTIFICATIVAS 2.1 - Justificativa temática Segundo dados da OMS (2011) 400 milhões de pessoas no mundo sofrem de algum tipo de doença mental. No Brasil, o número chega a 23 milhões e dentre estes, 5 milhões de nível moderado a grave. Nos últimos anos, durante a reforma psiquiátrica do Brasil, que teve seu ápice na década de 90, (um eco da reforma que ocorreu na Europa e EUA, por volta da década de 70), até hoje, foram desativados cerca de 90 mil leitos em hospitais psiquiátricos (Revista em discussão! 2011). Porém, os princípios do movimento antimanicomial não iam contra os princípios dos hospitais psiquiátricos em sua origem, mas sim, contra a forma como eram tratados os doentes mentais e a forma com que eram feitos os diagnósticos. Por ser uma doença com diagnóstico de cunho subjetivo, o médico psiquiatra tomava o título de “mestre da loucura” e era quem decidia quem seria internado ou não, sem escolha ou participação do doente. Vários outros motivos justificaram o movimento: o advento da psiquiatria organicista, que tratava a doença mental apenas com drogas psicoativas e intervenções físicas; o tratamento desumano dado aos internados; os questionáveis métodos de recuperação, que incluíam eletrochoques e lobotomia; as superpopulações dos hospitais; e o fato de que não havia atividades para que os internos pudessem se recuperar e socializarem entre si, como por exemplo, natação, aulas de artes, esportes, etc; que faziam parte do tratamento, mas não eram utilizadas. Nos tempos atuais, quase vinte anos após o ápice do antimanicomialismo, apesar do movimento ter sido considerado um sucesso, estudos tem indicado um crescimento substancial no número de doentes mentais em nossa sociedade, e a maioria deles é tratada com medicamentos com fortes efeitos colaterais. Angell (2012) levanta um questionamento sobre até que ponto os remédios psicoativos tem relação com o crescimento do número de diagnósticos de doenças mentais. Já Sacks (2009) escreve sobre as virtudes perdidas do hospício, que segundo ele, “ofereciam controle e proteção para os pacientes,” o que era crucial para recuperação. Os bons hospitais ofereciam estabilidade, rotina, tranqüilidade, abrigo, e naturalmente, atividades para que os internos reaprendessem a conviver em comunidade. 8 Nogueira (2005) fala dos princípios de uma personalidade desintegrada, alienada e desamparada, que dá origem à doença mental em diversos níveis. A autora teoriza sobre até que ponto o paciente usa o espaço físico do hospital como seu ego auxiliar para amenizar o sentimento de desamparo. Logo, o espaço e o ambiente tem grande influência na terapia reconstitutiva da personalidade e no retorno de modo realmente saudável do paciente à sociedade. 2.2 -Justificativa Público alvo O hospital será voltado para pessoas que sofrem de doenças mentais de nível moderado a grave, e que a doença as impeçam de ter um convívio social saudável, pessoas a quem os tratamentos alternativos não tenham surtido efeito. O público alvo do hospital será a população dos 11 municípios mais próximos de Muriaé, pertencentes à microrregião de Muriaé, totalizando uma população de 163.996 habitantes, segundo dados do IBGE (2014). O hospital terá capacidade para 74 internações simultâneas, cálculo feito de acordo com a Portaria nº 1101/GM de 12 de julho 2002, que estipula 0,45 leitos para cada 1000 habitantes. Figura 1 – Microrregião de Muriaé Fonte: Blog Professor Marciano Dantas. 9 2.3 - Justificativa do local Nas cidades próximas de Muriaé, na região da Zona da Mata mineira, apenas uma cidade se destaca no tratamento de doentes mentais: é a cidade de Juiz de Fora (a aproximadamente 161,4km de Muriaé). Leopoldina (a aproximadamente 63km de Muriaé), teve recentemente um hospital com 161 leitos fechados por falta de repasse de verbas do governo. Ele tinha um alcance de 89 municípios, com população de 1.292.000 e a partir do fechamento cada cidade que fazia parte do raio de alcance do hospital passou a ser responsável por seus próprios doentes mentais. Dentre as 9 clínicas e hospitais psiquiátricos de Juiz de Fora, 6 foram fechadas nos últimos 3 anos. Um dos principais hospitais, o Dr. Aragão Villar foi interditado em 2013 por órgãos sanitários por falta de condições físicas e de profissionais para o funcionamento do mesmo. Ao todo, temos em Juiz de Fora 345 leitos, sendo 316 espalhados em 3 hospitais especializados, e os outros 29 em hospitais gerais. Nas cidades de Carangola, Cataguases e Viçosa temos ao todo 14 leitos em hospitais gerais. (Dados: CnesWeb) Figura 2 - Microrregiões da Zona da Mata e Numero de Leitos psiquiátricos. Fonte: Blog Professor Marciano Dantas. 10 Em Muriaé há dois hospitais gerais (Casa de Saúde Santa Lúcia e Casa de Caridade de Muriaé – Hospital São Paulo), um hospital especializado em cardiologia (Prontocor Muriaé Ltda) e um hospital de oncologia (Hospital do Câncer de Muriaé – Fundação Cristiano Varella). Não há hospitais nem clinicas especializadas em psiquiatria, como também não tem leitos reservados em nenhum hospital geral. Figura 3 - Rede Hospitalar de Muriaé. Fonte: Google Earth. Editado pela autora. O terreno foi escolhido a partir do entendimento da forma de tratamento que será oferecida pelo hospital. Primeiramente, por ser um hospital de internação, a escolha preferencialmente deveria ser por um terreno dentro da cidade para facilitar o acompanhamento da família dos pacientes, e longe do centro, um local mais tranquilo e com menos trânsito, pois apesar da proposta do tratamento ser com o retorno ao convívio social, isso se dá junto com os outros pacientes. 11 Figura 4 - Fonte: Google Earth. (Editado pela autora). Área de Proteção Permanente Terreno Figura 5 - Vista Sudeste- Foto: Acervo da autora. Figura 6 - Vista Noroeste- Foto: Acervo da autora. 12 Figura 7 - Vista Rua lado Nordeste do Terreno - Foto: Acervo da autora. 13 3. ANÁLISES DO TERRENO E ENTORNO 3.1 - Local de Intervenção e entorno A delimitação da área para análise levou em consideração o terreno em relação à rodoviária da cidade, pois é um ponto de importância para a mobilidade entre as cidades, visto que o hospital será de alcance intermunicipal. Figura 8 - Local de Intervenção e entorno. Fonte: Levantamento Geofísico de Muriaé e Google Earth. Editado pela autora. 14 3.2 - CONDICIONANTES AMBIENTAIS 3.2.1 - Ventilação, insolação e hidrografia A cidade de Muriaé se situa na Zona da Mata mineira, que fica localizada numa área de Mata Atlântica. O clima é tropical, quente e úmido no verão, chegando a temperaturas máximas de 40°, seco e com temperaturas medianas no inverno, com média de 20° com baixo índice de precipitações. Entre os meses de novembro e fevereiro, há alto índice de precipitações, e no lado sul do rio Muriaé há frequentes inundações, sendo a pior dos últimos anos a inundação de 2012, que atingiu todas as cidades por onde passa o rio Muriaé. O vento predominante da região é o Sul-sudeste (SSE), de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). O terreno não sofre com inundações. O projeto deverá levar em consideração medidas para amenizar as altas temperaturas do local e aproveitar a direção do vento predominante. 15 Figura 9 - Hidrografia e Clima. Fonte: Levantamento Geofísico de Muriaé e Google Earth. Informações sobre o clima cedidas pelo INMET. Editado pela autora. 16 Figura 10 - Gráfico climático de Muriaé. Fonte: Muriaé in Wikipédia. Figura 11 - Inundação rio Muriaé em 2012. Fonte: Site Carangola, uma linda cidade, 2015. 3.2.2 - Mata e Vegetação Ao norte há uma região de mata fechada, que é uma Área de Proteção Permanente (APP). No entorno imediato do terreno há uma grande zona permeável com vegetação rasteira, assim como nos canteiros mais ao centro da região analisada. A massa arbórea tem maior concentração logo abaixo da APP e alguns pontos menos concentrados nas zonas residenciais a leste e nos canteiros da rodovia. Ao sul quase não há pontos de vegetação. Do terreno onde será implantado o projeto se tem uma vista para a APP, o que cria um clima agradável e diminui a temperatura local, por isso, o projeto levará em conta a 17 vista para ser aproveitada por todos, construindo assim, na ponta noroeste do terreno um local para uso coletivo. Figura 12 - - Vegetação. Fonte: Levantamento Geofísico de Muriaé e Google Earth. Editado pela autora. 3.2.3 –Topografia O trecho analisado compreende uma área que vai da altitude de 190 m. a. n. m. (metros acima do nível do mar) até 250m. A área com a maior altitude é onde se situa a mata preservada, e o trecho mais baixo é ao sul, mais próximo do rio, se aproximando do 18 centro da cidade, a área mais adensada dentro do trecho analisado. O terreno escolhido tem aproximadamente 8 metros de desnível, variando de 215 m de altitude na extremidade sudeste até 223 m na extremidade noroeste. A parte mais baixa do terreno poderá ser nivelada, mas a topografia da parte noroeste vai ser aproveitada na concepção da forma. Figura 13 - Topografia. Fonte: Levantamento Geofísico de Muriaé e Google Earth. Editado pela autora. 3.3 - CONDICIONANTES URBANOS 3.3.1 - Hierarquia viária O acesso ao terreno se dá por vias locais. O entorno do terreno tem pouco fluxo de veículos, e isso se mostra importante pelo aspecto de refúgio e tranquilidade da proposta 19 projetual. A maior parte das vias do bairro Boa Vista são locais, e no bairro da Gávea há algumas vias coletoras. As vias arteriais ficam relativamente longe do terreno e não interferem diretamente no projeto. Figura 14 - Fonte: Vias Principais. Levantamento Geofísico de Muriaé e Google Earth. Editado pela autora. 20 Figura 15 - Hierarquia Viária. Fonte: Levantamento Geofísico de Muriaé e Google Earth. Editado pela autora. 3.3.2 - Cheios e Vazios No entorno imediato do terreno há poucas construções. Mais ao norte existe uma área de proteção permanente, e a medida que se aproxima do centro vemos um adensamento gradativo. A maior densidade está na margem sul do Rio Muriaé e a oeste, 21 onde fica um bairro residencial. O projeto ficará situado em um local relativamente longe do adensamento, e por isso, o caráter de refúgio poderá ser melhor desenvolvido. Figura 16 - Livre e Construído. Fonte: Levantamento Geofísico de Muriaé e Google Earth. Editado pela autora. 3.3.3 - Usos e Funções A predominância de uso do solo em toda a área analisada é residencial. Porém no entorno imediato ao terreno, nos poucos locais construídos, temos mais construções de 22 uso industrial. A oeste temos um bairro residencial, com poucas construções utilizadas para outros fins. Ao sul temos o bairro mais adensado, que também é residencial em sua maioria, apesar de termos alguns pontos de comércio e algumas poucas instituições. Apenas no centro da área analisada há uma pequena parte com uso comercial. Pelo terreno estar ao lado de uma confecção, o estacionamento ficará entre a confecção e o hospital para que haja um maior isolamento da área industrializada. Figura 17 - Uso do solo. Fonte: Levantamento Geofísico de Muriaé e Google Earth. Editado pela autora. 23 3.3.4 – Gabarito No entorno imediato do terreno temos predominância de prédios de 1 a 3 pavimentos. Já no bairro da Gávea, que fica a leste, há maior número de construções com 2 pavimentos. No bairro da Barra, ao sul, a maioria é de 1 a 4 pavimentos, sendo que alguns chegam a 6. Poucas edificações chegam a 7 pavimentos na área analisada. A ideia inicial do projeto é ser apenas térrea, sendo assim, não influenciará na paisagem urbana. 24 Figura 18 - Gabarito. Fonte: Levantamento Geofísico de Muriaé e Google Earth. Editado pela autora. 3.3.5 - Pontos Nodais Como referência à localização do terreno, temos o terminal rodoviário e o Centro Administrativo Municipal Presidente Tancredo Neves, os Supermercados Sales e 25 Bahamas. Como o hospital é de alcance intermunicipal, é importante ter o terreno próximo à rodoviária para facilitar as visitas dos familiares. Figura 19 - Pontos Nodais. Fonte: Levantamento Geofísico de Muriaé e Google Earth. Editado pela autora. 26 Figura 20 - Terminal Rodoviário. Fonte: Panorâmio. Figura 21 - Centro Administrativo. Fonte: Acervo Pessoal. Figura 22 - Supermercado Bahamas. Fonte: Acervo Pessoal. 27 Figura 23 - Supermercado Sales. Fonte: Acervo Pessoal. 28 4. HISTÓRICO 4.1 - Século XVI - Renascença: A nau dos insensatos Na época do renascimento, muitos mitos gregos foram relembrados, dentre eles, o dos Argonautas - mito que conta a história dos tripulantes da nau Argo, que navegaram os mares em busca do velocíno de ouro – que deu origem a outras alegorias relacionadas a essas embarcações, que levavam seus tripulantes e passageiros em busca de riqueza, ou de suas próprias verdades e seus destinos. Dentre essas alegorias temos a “Nau dos Príncipes e das Batalhas da Nobreza” em 1502 a “Nau das Damas Virtuosas” em 1503 e também houve uma Nau da Saúde. Dentre todas uma se destacou: a Narrenschiff, que simbolizava a Nau dos Loucos, em que os seus tripulantes não sabiam pra onde iam, nem se importavam com isso. Algumas fontes citam que a Nau dos Loucos era uma paródia da Igreja Católica, que era representada na época como a Arca da Salvação. Apesar da representatividade da Nau dos Loucos, que simbolizava muito bem a vida errante e alienada que os insensatos viviam, ela foi a única que não ficou apenas na alegoria. A Nau dos Loucos realmente existiu, e levava a sua carga insana para o alto-mar, ou aportava em cidades diferentes da sua origem. A peregrinação em busca de iluminação individual era comum na época, e não se sabe bem se era essa a função das navegações com os loucos (a busca da cura milagrosa), ou se era pra livrar as cidades deles, ou ambas. Não se acreditava na cura para a loucura, era uma doença mantida no campo do metafísico. Algumas cidades mandavam seus loucos para outras cidades, e assim, quando os navios aportavam e deixavam lá seus passageiros, as pessoas relacionavam o mar com a loucura. E foi assim que surgiu a crença de que as pessoas ficavam loucas em alto-mar, e eram as ondas e a falta de estabilidade que provocavam isso. Algumas pessoas relacionavam a melancolia ao clima úmido de algumas cidades. Depois de algum tempo cada cidade se responsabilizou em cuidar dos seus loucos, e os trancafiavam junto dos criminosos, nas prisões, sem tratamento adequado. 4.2 - Século XVII - Institucionalização Os primeiros asilos para doentes mentais foram os antigos leprosários. Quando a hanseníase regrediu e diminuiu consideravelmente o número de doentes, a doença 29 venérea substituiu primeiramente a lepra como a doença da exclusão. Logo depois, na renascença, os leprosários passaram a abrigar todos os rejeitados da sociedade, como, prostitutas, pobres, incuráveis, vagabundos, e os loucos. Os asilos não tinham a intenção de tratar, apenas abrigara os que não tinham onde ficar e não podiam conviver em sociedade. Neles, as pessoas eram deixadas para morrer e eram cuidadas pelos benemerentes, que acreditavam que iam ganhar o reino de Deus através de suas ações de caridade. (NOGUEIRA, 2005). Os primeiros hospícios foram criados por volta do século XVII. Eram alas em hospitais gerais que cuidavam dos doentes que não tinham condições de se tratar em outros hospitais. Nenhum dos que cuidavam dos loucos nesses lugares tinham qualquer formação ou treinamento no campo da psiquiatria, assim, nenhum deles recebia tratamento adequado. De acordo com Nogueira: Era comum encontrar nas edificações quartos estreitos com pouca circulação de ar, ausência de luz e excessiva umidade. O leito era um tablado preso à parede ou feito de palha espalhada no próprio piso. Este se tornava um depositário de urina e fezes, produzindo um odor insuportável. Normalmente se utilizada uma pedra, como parte do mobiliário, à qual o louco poderia ficar acorrentado. Em uma espécie de concha cavada na própria pedra era depositada a água. Na cela havia uma pequena abertura de comunicação por onde se passavam os alimentos. Também era comum a utilização de grades visando trancafiar os loucos nesses hospitais de exclusão. (2005, pag. 36) A diferença que esses novos hospícios tinham do asilo, era a separação que o doente mental tinha em relação aos outros doentes. No asilo, eles não eram separados em alas como nos hospitais gerais. E assim, a observação das doenças passou a ser mais frequente, e esse foi o primeiro passo para a construção de uma edificação especializada. 4.3 - Século XVIII - Hospital como instrumento terapêutico Até o século XVIII, a prática médica era mantida fora do hospital, e quem a realizava eram as igrejas e instituições de caridade. O hospital começou a ser entendido como um instrumento terapêutico depois do inquérito realizado por Tenon, um médico que visitou hospitais da Europa a fim de reconhecer erros nas construções, pois nessa época eles perceberam que os hospitais não eram bons o suficiente para curar as doenças. Na verdade, o meio hospitalar mais propagava as doenças do que as curava, e foi a partir desse inquérito que começou a se entender a importância que o ambiente hospitalar poderia ter no alcance da cura. 30 Mas os relatos de Tenon pouco falavam sobre aspectos arquitetônicos. Ele se ateve aos números, como diz Nogueira: “Tenon realiza uma descrição funcional da edificação, cujo espaço passa a ser organizado a partir de cifras, abordando dados como o número de doentes do hospital, a relação entre número de doentes e leitos, a área útil do prédio, a extensão e altura das salas, a cubagem do ar que cada doente dispunha, a taxa de mortalidade e cura. Aponta, ainda, uma estreita relação entre fenômenos patológicos e espaciais. Como exemplo cita qual deve ser a relação de vizinhança entre pacientes ara evitar a propagação de doenças no meio hospitalar, qual a melhor localização da lavanderia e o percurso apropriado para a circulação de roupa suja e limpa”. (2005, p.38). A partir dessa época os estudiosos passaram a ver a importância da participação do médico no dia-a-dia hospitalar, e a maioria deles afirmava que a construção do hospital não deveria ser função de um arquiteto, mas sim do médico. O fato de que os hospitais eram um vetor de propagação de doenças foi crucial para a reforma hospitalar do século XVIII. Temos dentro dessa reforma quatro aspectos que foram importantes para a evolução da psiquiatria como é estudada nos dias atuais. Primeiramente, a preocupação foi de anular os efeitos negativos que o hospital tinha sobre as doenças, organizar o hospital a fim de que ele contasse mais com a participação dos médicos, e, com isso evitar a propagação das doenças entre os pacientes e dentro da cidade. A segunda preocupação foi em relação à localização do hospital, o que gerou sua retirada do centro da cidade e a mudança para os arredores. A terceira mudança foi em relação a participação e a capacitação do médico. Até aquele momento, o hospital ficava na mão das obras religiosas e de caridade, e depois dessa reforma, ele passou a ser um espaço de formação médica, onde os doentes podiam ser estudados e assim aumentar o conhecimento que se tinha até então. O quarto aspecto foi o entendimento da psiquiatria como uma especialização da área da medicina, que passou a ser mais reconhecida, aceita e estudada. (Nogueira, 2005). Foi nessa época em que três contemporâneos fizeram estudos de ideologias de como deveriam ser construídos os hospitais que seriam especializados. Philippe Pinel, considerado hoje como pai da psiquiatria, foi o primeiro a idealizar um espaço específico para tratamento da loucura. Além dele, Jean-Étienne Esquirol e Samuel Tuke também fizeram suas idealizações. Os três foram bastante influenciados pelos principios humanistas dos iluministas da Revolução Francesa. 31 O espaço terapêutico proposto por Pinel eliminou todas as formas de contrição que os antigos espaços adaptados dispunham. No desejo de devolver a condição humana do doente, ele, segundo Nogueira: “(...) decidiu retirar as cordas, as correntes, as algemas, as correias que prendiam os loucos, e também intervir no espaço físico do manicômio, com preocupações rigorosamente médicas de diagnóstico e tratamento.” (2005, pag. 44). Pinel defendia que todos os preconceitos teológicos, teóricos ou metafísicos deveriam ficar de lado na hora do diagnóstico do paciente. E como na época pouco se sabia sobre as especificidades dos tipos de doença mental, a organização espacial dos internos era muito importante para o estudo das doenças. Os pacientes deveriam ser separados por peculiaridades do comportamento, e não só separados apenas como “agressivos e não agressivos” como era feito até então. Por esse método, as observações, diagnóstico e principalmente o tratamento seriam mais fáceis. Foi Philippe Pinel quem implementou o movimento NO-RESTRAINT (sem restrição, ou sem limitação). Apesar disso, o movimento não defendia uma total ausência de controle. Em substituição às correntes e algemas, foi adotada a camisa-de-força. Segundo Nogueira: “(...) o manicômio, com a reforma de Pinel, passa a ter duas funções básicas e peculiares: Servir como ambiente privilegiado para observação sistemática do comportamento dos pacientes, com o intuito de refinar o diagnóstico, e também o de assegurar aos pacientes experiencias reais que corrigissem “pedagogicamente” os vícios de sua razão desviada.” (2005, pag. 45). O espaço terapêutico proposto por Esquirol tinha por finalidade maior o tratamento, diferente do proposto por Pinel, que tinha também a finalidade de formular uma nosografia (descrição e classificação das doenças) da loucura. (NOGUEIRA, 2005) 32 Figura 24 - Hospital Psiquiátrico construído dentro de parâmetros dos estudos de Pinel e Esquirol. Fonte: BlogTO. Figura 25 - Hospital Psiquiátrico construído dentro de parâmetros dos estudos de Pinel e Esquirol. Fonte: BlogTO. Esquirol era um dos que defendiam que o hospital psiquiátrico não deveria ser confiado apenas ao arquiteto, mas a participação do médico era crucial nessa etapa também. 33 As ideologias de Esquirol eram muito voltadas ao espaço físico. Ele defendia que os pacientes tinham que ser separados no hospital por aspectos sintomáticos, e que as enfermarias tinham que ser projetadas de acordo com cada tipo de doença mental. [Esquirol] Alertava que estas enfermarias não poderiam ser construídas de forma uniforme, pois cada grupo necessitaria de um tipo específico de alojamento, ou seja, dever-se-ia adequar o espaço às necessidades de cada patologia. Por exemplo, para os furiosos oferecer-se-iam meios de segurança que seriam inúteis e até nocivos ao restante das enfermarias. Já para os convalescentes, o espaço não se deveria diferir em nada de uma casa comum. (NOGUEIRA. 2005, pag. 46). Tanto para Pinel quanto para Esquirol, era clara a necessidade de devolver a humanidade dos doentes mentais e a necessidade de se estabelecer a psiquiatria como uma especialização da medicina. Nesse sentido, os hospitais passaram a serem mais abertos, amplos e arejados, e a participação dos médicos passou a ser essencial em todas as partes do processo de recuperação dos pacientes. O inglês Samuel Tuke acreditava que a doença mental vinha do processo de separação da natureza em que a sociedade se encontrava. Todas as preocupações e ansiedades causavam uma perda da razão, e por esse motivo, ele acreditava que o hospital psiquiátrico deveria estar localizado fora da cidade, em algum lugar agradável e bucólico, que ele denominava como Retiro. Tuke defendia que se o doente convivesse em um local previsível e sem grandes emoções, com um modelo de família patriarcal, onde o médico era a figura mais importante, (não superior) ele reencontraria de volta sua natureza na razão. Um dos aspectos mais importantes do seu trabalho foi o que ele chamou de "tratamento moral". O doente não deveria ser alienado em relação a sua doença, mas ele deveria buscar dentro de si a sua própria cura. Enquanto quase todas as correntes de pensamento pendiam para o tratamento alienista, o tratamento proposto por Tuke era o olhar de um igual, de alguém equivalente, não de alguém superior. E esse olhar faria o doente descobrir dentro de si a sua racionalidade perdida. O doente tinha parte no tratamento, ele não ficava a mercê do alienista. Era conhecido como "o olhar do outro como um espelho". Segundo Foucault, é através desse olhar do outro que o doente toma consciência de sua culpabilidade e passa a buscar a sua liberdade, e assim retornar à razão. Segundo Nogueira: 34 O olhar que Tuke propõe não é o mesmo olhar proposto por Pinel, pois este olhar não atingia o louco diretamente, apenas capturava sua superfície monstruosa, sua animalidade visível, mas comportava uma forma de reciprocidade uma vez que ali o homem não podia ler, como num espelho, o movimento de sua própria queda. (2005, pag. 52). Samuel Tuke ficou à frente da administração de um hospital que foi fundado por seu avó, Willian Tuke, o Retiro de York. A instituição era mantida pela Sociedade Religiosa dos Amigos, também conhecida como Os Quackers. As ideias de Tuke eram fortemente influenciadas por essa religião. Figura 26 - Retiro de York. Fonte: The Retreat in Wikipedia. 4.4 - Século XIX – O “Espaço da mente” O século XIX foi marcado por duas correntes de pensamento: a organicista e a moralista. No tratamento moralista, acreditava-se que a doença mental era um desvio de racionalidade, e que necessitava de um local para o tratamento. Um lugar onde o doente poderia ter a chance de reencontrar a sua razão e ser curado de sua doença. Nessa corrente de pensamento era muito importante o papel do hospital como local terapêutico. 35 No tratamento organicista, a doença era tratada como uma lesão em um órgão, ou a falta de algum hormônio, etc. O problema tinha origem orgânica e o espaço do hospital não ajudaria ou atrapalharia o tratamento que era feito com remédios. Com a visão organicista mais aceita, pelo fato de ser mais cientificamente comprovável, o hospital deixou de ser tomado como um instrumento terapêutico e passou a ser um local de observação, um lugar em que os doentes eram mantidos com tratamentos físicos e através da utilização de fármacos. De fato, nessa época, a psiquiatria passou a ser aceita como uma especialização da medicina, pelo tratamento científico que foi dado às doenças. O hospital passou a ser, não apenas um local para observação, mas também um local de experimentações. Foi nessa época que surgiu a figura do “mestre da loucura”. O “mestre da loucura” era quem detinha o poder de fazer a doença aparecer ou desaparecer quando bem entendesse. O tratamento utilizado na época era formulado para alienar a pessoa doente da doença em si. Ele não era mais parte de si próprio, mas estava a mão, sujeito as vontades do alienista. Segundo Foucault: Todas as técnicas ou procedimentos efetuados no asilo do século XIX − isolamento, interrogatório particular ou público, tratamentos−punições como a ducha, pregações morais, encorajamentos ou repreensões, disciplina rigorosa, trabalho obrigatório, recompensa, relações preferenciais entre o médico e alguns de seus doentes, relações de vassalagem, de posse, de domesticidade e às vezes de servidão entre doente e médico − tudo isto tinha por função fazer do personagem do médico o "mestre da loucura"; aquele que a faz se manifestar em sua verdade quando ela se esconde, quando permanece soterrada e silenciosa, e aquele que a domina, a acalma e a absorve depois de a ter sabiamente desencadeado. (p. 70) O século XIX foi marcado pela construção de diversos hospitais. O primeiro hospício brasileiro, o Hospital Pedro II, foi instituído no ano de 1841. Um dos maiores hospícios da época se localizava em Paris, o Salpêtrière, que era o abrigo de cerca de 4000 mulheres. Ele chegou a ser o maior hospital psiquiátrico da França, era conhecido como “pequeno arsenal”, onde eram depositadas as “mulheres incuráveis, (...) vagabundos, mendigos, indigentes, mulheres caducas, velhas, epiléticas, filhas incorrigíveis e inocentes maltratadas (...)”.(NOGUEIRA, 2005, pag. 54). 36 Figura 27 - Pinel no Hospital de Salpêtrière. Fonte: Hospital de Salpêtrière in Wikipedia. No ano de 1862, Salpêtrière recebeu uma reformulação em uma das alas e foram separados os alienados, os epiléticos e os histéricos. Charcot ficou responsável pela ala das histéricas e dizia que era como “mergulhar em um “museu de patologia vivo” (NOGUEIRA, 2005, pag. 54). A partir daí, Charcot ficou famoso pelos seus estudos. Médicos de toda Europa iam visitar o hospital para conhecer e vivenciar os experimentos dele, em demonstrações do processo de desenvolvimento da patologia em um anfiteatro, dando um aspecto espetacular a isso. Até esse momento histórico nunca se tinha estudado a fundo essa doença. 37 Figura 28 - Charcot apresentando uma de suas lições a um grupo de médicos. Fonte: Wikimedia. Freud visitou Salpêtrière entre 1885-86, durante sua estadia na França, para assistir aos experimentos de Charcot. Foi a partir daí que ele se interessou em elaborar uma teoria sobre as psicopatologias e dedicou grande parte dos seus estudos à histeria. Porém, ele não acreditava que os problemas psicológicos vinham de lesões no cérebro. Até aquele momento, os tratamentos e estudos sobre as doenças mentais não levavam em consideração a fala do paciente, que era considerada vazia de razão e cheia de subjetividade. Foi Freud quem aboliu o olhar e o silêncio através da elaboração de uma metapsicologia. Em uma época em que os psiquiatras se empenhavam para dar à psiquiatria um caráter científico, Freud começou a formular suas teorias imbuídas de subjetividade, o que fez com que inicialmente ela fosse considerada por muitos anticientífica. Segundo Nogueira: A metapsicologia, proposta por Freud, permitiu uma mudança de eixo na estruturação da clínica, onde a fala aparece como uma outra possibilidade de eixo organizador do espaço. (2005, pag. 57). 38 A partir desses estudos, Freud questiona todos os espaços terapêuticos existentes, pois eles não consideravam o paciente em sua individualidade. Ele era considerado um sujeito universal. Sendo assim, elaborou um espaço da mente. Ele acreditava que o mundo interno do paciente regia o mundo externo mediado pela subjetividade, “a “alma” não é um lugar único, ao contrário, ela tem vários lugares.” (NOGUEIRA, 2005, pag. 58). Assim, cada pessoa tem uma percepção diferenciada do mundo exterior, a partir de sua visão do mundo interior. Segundo Nogueira: (...) o que a psicanálise trouxe, com uma certa contundência, é a existência de um sujeito singular, inscrito na sua dimensão de pathos e com múltiplas possibilidades de vivência espacial, que não pode ser fixada. (2005, pag. 57). Nogueira apud Dalgalarrondo: A vivência de espaço de um indivíduo em estado maníaco é a de um espaço extremamente dilatado e amplo, que invade o espaço de outras pessoas. O maníaco desconhece as fronteiras espaciais e vive como se todo o espaço externo fosse seu. O espaço externo não oferece resistência a seu eu. Nos quadros depressivos, o espaço externo pode ser vivenciado como muito encolhido, contraído, escuro e pouco penetrável pelo indivíduo e por outros. Já o indivíduo com quadro paranóide, vivencia o espaço interno como invadido por aspectos ameaçadores, perigosos e hostis do mundo. O espaço externo é percebido como sufocante, pesado, perigoso e potencialmente aniquilador. (2005, pag. 59 apud 2000, pag. 80). Sendo assim, a psicanálise de Freud devolve ao paciente mental a sua subjetividade e dá à sua fala, ignorada até então, um aspecto terapêutico. Foi também no final do século XIX, por consequência do sobrepoder do médico, que apareceu o movimento antimanicomial, que questionava as relações entre médico e paciente. Segundo Foucault: (...) a crise foi inaugurada e a idade ainda mal esboçada da anti−psiquiatria começa quando se desconfiou, para em seguida se ter certeza, que Charcot produzia efetivamente a crise de histeria que descrevia. Tem−se ai mais ou menos o equivalente à descoberta feita por Pasteur de que o médico transmitia as doenças que devia curar.(pag. 71). O movimento antimanicomial tinha por objetivo a retirada dos pacientes dos manicômios. Segundo Nogueira: Havia três razões que sustentavam este movimento: a ideia de que o contato com a vida normal poderia trazer a cura para os doentes; a urgência de reduzir a 39 população dos manicômios superlotados, correlativa à impossibilidade de se oferecer tratamento conveniente a todos os internados; e a elevação crescente dos custos que os manicômios acarretavam aos cofres públicos, devido ao elevado número de internações. (2005, pag. 63). Mas havia também muitas dificuldades a enfrentar antes da abertura dos asilos. O problema de se ter loucos soltos pelas ruas, a perda do contato do paciente com os familiares, o que atrapalhava o retorno dos doentes, e também o fato de que grande parte dos pacientes tinham sido levados ao manicômio por parentes e isso significava que eles não eram desejados no âmbito familiar, e que se voltassem passariam por dificuldades de aceitação social, o que poderia acarretar até na piora de seu estado. A sociedade fora do hospital ainda era considerado perigoso. Tanto o convívio social quanto o convívio familiar, para muitos, poderia trazer uma agravação da situação do doente. Um médico que foi contra o movimento antimanicomial foi Jules Falret, diretor do hospital Salpêtrière em 1890 e presidente da Sociedade Médico-Psicológica. Ele defendia o tratamento moral da loucura proposto por Pinel e Esquirol e que deveria acontecer no ambiente hospitalar. Outro aspecto importante que ele defendia era que, se o manicômio fosse esvaziado dos que eram considerados curáveis para abrir espaço para os crônicos, todo o embasamento de tratamento não faria sentido, pois o tratamento era para aqueles que poderiam ainda ser curados. Apareceram algumas alternativas à devolução do doente ao seio de sua família, como por exemplo, as colônias agrícolas construídas perto dos manicômios. Além de estar perto do hospital, ele ainda poderia trabalhar, e de acordo com Pinel o trabalho não remunerado era uma forma de tratamento, e ajudava o hospital com a alimentação, e permitia a admissão de novos pacientes. 40 Figura 29 - Hospital Colônia de Itapuã. Fonte: Secretaria de Saúde do estado do Rio Grande do Sul. Também houve a idéia de colocar os doentes em casas isoladas, com famílias estranhas que os aceitassem. Os médicos escolhiam famílias que seriam aptas a receber o paciente e eles o controlavam regularmente, permitindo a reinternação se fosse necessário. Falret idealizou um modelo de casas isoladas. De acordo com Nogueira: Propõe que em uma área ampla deveriam ser agregadas casas isoladas e nelas colocadas um número reduzido de pacientes. Era um sistema que permitiria aos insanos uma ampla liberdade de circulação e consciência. Este sistema foi implantado e ficou conhecido na Inglaterra, como Cottage System. A vantagem deste era que ficava assegurada, ao paciente, a sua liberdade da disciplina manicomial mas, ao mesmo tempo, garantia-se a supervisão das condições de vida e o tratamento médico indispensável a ele. (2005, pag. 67) Apesar do sobrepoder dos médicos ter desencadeado o início do movimento antimanicomial, ele não ia contra os hospitais psiquiátricos. Nogueira apud Pessoti. As propostas de desinternação, nos diz Pessotti (1996), não configuravam uma contestação ao manicômio como se ele fosse ineficaz, ou fosse, por algum motivo médico, digno de rejeição e substituição radical por outros sistemas de assistência psiquiátrica. Tanto é assim, que os manicômios continuaram sua trajetória, mudando-se apenas o enfoque doutrinário e a escolha dos métodos de tratamento que, por sua vez, implicaram em mudanças das condições de vida dos alienados, seja ela dentro ou fora do manicômio. (2005, pag. 69). 41 4.5 - Século XX – Das comunidades terapêuticas à Antipsiquiatria O século XX foi marcado por diversas mudanças de pensamentos no âmbito psiquiátrico. Foi nesse século que foram descobertos os remédios psicoativos e que foram inventadas a eletroconvulsoterapia e a lobotomia. Neste mesmo período foram fundadas as primeiras comunidades terapêuticas, e foi quando a antipsiquiatria e a reforma psiquiátrica tomaram força. As primeiras comunidades terapêuticas surgiram nos anos 1950, com Maxwell Jones que propôs um novo modelo de internação. Antes dele, H.S. Sullivan já tinha, em 1929, fundado uma ala experimental no Hospital Sheppard e EnocPratt para tratamento de casos de esquizofrenia agudo em pacientes adolescentes. As comunidades terapêuticas se baseavam no tratamento dentro do âmbito familiar. Só que para isso, o ambiente hospitalar e as relações entre funcionários e pacientes foram repensadas, para que tudo pudesse lembrar uma pequena sociedade ou um grupo familiar. Além disso, a família real do paciente passou a ser incluída no tratamento. Apesar disso, tinha-se conhecimento de que o desequilíbrio racional e emocional do paciente pudesse ter a ver com a relação familiar. Segundo Nogueira: Por considerar o ambiente familiar um possível gerador de conflitos, a comunidade terapêutica trabalhou no fortalecimento psíquico do indivíduo portador de distúrbios afetivos, para que este pudesse resistir ao confronto, tanto no seio de sua própria família, no momento em que este tivesse que retornar, como também para a convivência na sociedade como um todo. (2005, pag. 71) Esse novo modelo de tratamento não suscitou em um novo modelo arquitetônico como fez os estudos de Pinel, Esquirol, Tuke e Falret. Diz Nogueira: Esta é a transformação do lócus da comunidade como espaço da existência, ou seja, alem do potencial curativo atribuído anteriormente ao lugar, a comunidade é um espaço que abriga também a existência (2005, pag. 72). Apesar de todo o caráter humanizado que os projetos no âmbito social receberam após a Segunda Guerra Mundial, alguns hospitais psiquiátricos ainda eram palco de tratamentos desumanos. Além das internações por diagnósticos peculiares (algumas mulheres eram consideradas aptas a internação com diagnósticos de tristeza, por serem feministas, por 42 terem perdido a virgindade antes do casamento, etc), os métodos de tratamento passaram a ser ainda mais cruéis e de eficácia questionável. A lobotomia constava em uma técnica de ruptura do ligamento dos lobos frontais com o resto do cérebro. Inicialmente esse tratamento era aplicado em pacientes com diagnóstico de esquizofrenia e epilepsia, mas com o tempo passou a ser considerada uma cura milagrosa de diversas doenças, como ansiedade e depressão. Apesar de grande parte dos pacientes não saírem vivos da cirurgia, e outra grande parte perder importantes funções cognitivas, o método foi utilizado largamente no tratamento psiquiátrico. Figura 30 - Esquema de lobotomia do lobo frontal com a técnica de "picador de gelo". Fonte: DizionariodellaSalute. Outro método, a eletroconvulsoterapia, foi inventado da observação de que alguns pacientes com esquizofrenia e epilepsia tinham melhora nas alucinações logo após os ataques. Assim, o eletrochoque tinha por finalidade induzir um ataque epilético, e assim diminuir os sintomas das outras doenças. Esse tratamento passou a ser utilizado como método de punição por mal comportamento na maioria dos hospícios, e muitos pacientes não saiam vivos dessas seções. Nos anos 60, dentro desse contexto social, a antipsiquiatria tomou força. Ela põe em contrassenso o poder e o saber médico, a institucionalização da loucura, os métodos de tratamentos, os diagnósticos, enfim, tudo o que se sabia até aquele momento sobre a psiquiatria passou a ser questionável. De acordo com Franco Rotelli: Faz-se necessário repetir algo para nós óbvio, mas desconhecido para muitos: a instituição que colocamos em questão nos últimos vinte anos não foi o manicômio mas a loucura. Discordo daqueles que dividem os dois períodos: o período manicomial do atual, não só por aquilo que obviamente é diferente (surplus de violência, papel da periculosidade social, totalização das pessoas), mas também 43 por aquilo que para nós não mudou: a própria essência da questão psiquiátrica. (1988, pag. 1). Rotelli foi um dos grandes responsáveis pela desinstitucionalização dos hospitais na Itália. Ele foi diretor dos serviços de saúde de Trieste e é atualmente Conselheiro Regional e Presidente da Saúde e Política Social da Região Friuli Venezia, e defende que deve ser dado ao manicômio um novo caráter. O hospital psiquiátrico deve ser um laboratório, um local de labor, onde o paciente possa se despir de sua máscara de identidade estereotipada que se sobrepõe sobre todo o doente mental e assim reencontrar o seu papel na sociedade. Mas, apesar de defender a desinstitucionalização, o caminho a ser percorrido para a desinternação não é tão curto. Segundo Nogueira: (...) em Trieste, a prática da desinternação exigiu que algumas medidas fossem tomadas.(...) retomaram-se as relações com as famílias; levaram os loucos para a cidade; deram alta àqueles que tiveram esta possibilidade; buscaram-se soluções de moradia e de trabalho, realizaram-se festas e reuniões abrindo o manicômio para a cidade. Enfim, o conceito de um espaço ficou substituído pelo conceito de liberdade como terapia. (2005, pag. 73). Os muros que limitavam o interno e o externo ao manicômio não são mais construídos com tijolos e pedras. A noção de limite passa a ser o “Outro”. (2005, pag. 74). No meio do processo de desinternação surge a figura do hóspede. Já que uma das maiores críticas é que o paciente era levado para tratamento contra sua vontade, a figura do hóspede é aquele que entra no hospital quando quer, e também sai quando quer. Não é roubado dele sua identidade social nem sua personalidade jurídica. “Vai-se para dentro porque fora não se encontra respostas à própria angustia, ou simplesmente porque não se encontram relações de suporte para a própria vida.” (NOGUEIRA, 2005). Torna-se crucial nesse contexto, que o arquiteto repense seus conceitos para abrigar a existência humana e o conceito de lar na hora de projetar. “(...) o estudo do inconsciente, através de sua ciência específica, a psicanálise, se faz presente e necessária como instrumental teórico para a realização deste salto qualitativo que estas questões nos colocam.” (NOGUEIRA, 2005). 4.6 - Século XIX até a atualidade – Breve histórico sobre a psiquiatria no Brasil A psiquiatria se constituiu no Brasil no início do século XIX. O primeiro hospital psiquiátrico fundado foi o Hospício Pedro II, em comemoração a maioridade de Dom Pedro 44 II. Inaugurado no dia 5 de dezembro de 1852 e seguia o recém instituído modelo francês. Antes disso os doentes mentais eram internados nas Santas Casas de Misericórdias. Os hospitais que foram construídos depois eram normalmente de arquitetura suntuosa, o que gerou duas interpretações opostas. Segundo Miranda Sá Jr: Os historiadores otimistas os explicavam como sendo fruto da caridade cristã, do desejo de minorar o sofrimento alheio, de solidarizar-se com quem padece uma doença que todos temem. Os pessimistas, por sua vez, atribuem-nos ao desejo de esconder a miséria e a loucura, de aumentar o sofrimento do sofredor. (2007, pag. 157). Figura 31 - Palácio Universitário da UFRJ, antigo Hospício Pedro II. Fonte: Hospicio Pedro II in Wikipedia A primeira lei que regulamentava a assistência aos doentes mentais data do ano de 1852 e foi inspirada pelas idéias de Esquirol. Em 1884 foram instaladas cátedras de psiquiatria nas faculdades de medicina do Rio de Janeiro e Bahia. Isso foi importante para que as doenças mentais fossem tratadas não mais unindo outras enfermidades. As intervenções dos psiquiatras das Santas Casas sofreram grande influência das ideias de Pinel que propunham afastar o louco do que era considerada a fonte de suas loucuras, ou seja, a família, a sociedade e seus hábitos de forma geral. (FERNANDES, 2009). Com a Proclamação da República, o Hospício Pedro II passou a ser chamado de Hospital Nacional dos Alienados e sua administração passou para o estado, que colocou 45 Juliano Moreira na direção. Os hospitais psiquiátricos nessa época passaram a ser um dispositivo de exclusão a todos aqueles que não se encaixavam nos parâmetros sociais da época. Qualquer pessoa que fosse incômoda à família ou ao governo era mandada para ser internado em algum hospital psiquiátrico. Tudo isso sofreu influência da teoria da degenerência, que segundo Fernandes significa: A teoria da degenerescência propunha a higienização e disciplinarização da sociedade além de pregar uma hierarquia social, estando no ápice dela a raça ariana e na base a raça negra (segundo a teoria mais propensa à degeneração por sua suposta inferioridade biológica). Essas idéias ganharam mais força com o agravamento dos problemas sociais na virada do século (necessidade de controle das massas). A questão da ordem, do controle é tomada de grande importância. Pode-se entender, portanto, o porque da ênfase na criação de asilos, eles são espaços de exclusão dos desordeiros. (2009). No início do século XX, o Brasil passou a construir hospitais inspirados nos modelos das colônias agrícolas de Falret. Alguns exemplos são: o Hospital Colônia de Itapuã, no Rio Grande do Sul, a Colônia dos Alienados da Ilha do Governador e a Côlonia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, o Hospital Colônia de Barbacena em Minas Gerais. Figura 32 - Hospital Colônia de Barbacena. Fonte: Blog Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena. 46 Esse último, fundado em 1903 e tinha capacidade para 200 internos. Possuía 16 pavilhões independentes, cada um para uma função específica. Chegou a abrigar 5000 pacientes, e para isso, aboliram as camas e espalhavam palha no chão para que os doentes dormissem ocupando menos espaço. Grande parte dos doentes mentais do país eram enviados em “trens de doidos” para o tratamento em Barbacena. Ele logo se tornou uma referência para a psiquiatria e era procurado por todos os estados brasileiros. Estimase que 70% dos internos do Hospital Colônia não tinham diagnósticos de doenças mentais, mas eram indesejáveis na sociedade e em suas famílias. Nos anos 50, quando o número de internos chegava a 5000 pacientes, e estima-se que em média 16 pessoas morriam por dia, de doença, fome, frio e maus tratos. Ao todo, morreram em torno de 60 mil pacientes, no que ficou conhecido como o Holocausto Brasileiro. Os funcionários e diretores do hospital lucravam com as verbas desviadas, o trabalho não remunerado dos pacientes, e a venda de corpos e órgãos para as faculdades de medicina do país. No ano de 1961, os repórteres Luiz Alfredo e José Franco visitaram o hospital e fizeram a primeira reportagem denúncia sobre o que acontecia no Colônia. No final da década de 70, o médico Ronaldo Simões, depois de ter conhecido Foucault e recebido influências de sua filosofia, denunciou o que acontecia no hospital no III Congresso Mineiro de Psiquiatria. Mas a grande visibilidade se deu realmente quando o psiquiatra italiano Franco Basaglia visitou o Hospital Colônia levado pelo colega mineiro Antonio Soares Simone. Basaglia era diretor do hospital de Trieste, considerado pela OMS como referência no campo da saúde mental. Em 1979, Franco Basaglia estava no Brasil para visitar os hospitais psiquiátricos e ficou perplexo com o que viu em Barbacena. Depois disso ele convocou a imprensa e denunciou o que havia presenciado. O episódio ganhou as manchetes dos jornais do país e do mundo. Com esse fato, o movimento antimanicomial e antipsiquiátrico ganhou ainda mais força e foi iniciada a Reforma Psiquiátrica do Brasil. A Reforma Psiquiátrica previa que fossem extintos o máximo possível de leitos psiquiátricos, e que sejam substituídos por outras formas de tratamento. Segundo MirandaSá Jr: A ABP(Associação Brasileira de Psiquiatria) preparou um Projeto de Lei para estabelecer o que seria um Estatuto do Enfermo Psiquiátrico, que previa a desospitalização progressiva, á medida que fossem instalados serviços de cuidados primários (nas unidades sanitárias), secundários (nas policlínicas e hospitais gerais) 47 e terciários (hospitais especializados e centros de habilitação e reabilitação), todos integrados na rede geral de assistência médica e social (...) (2007, pag. 158). Apesar de conter uma teoria de humanização muito grande, a reforma psiquiátrica brasileira falhou em muitos aspectos. O repasse da verba federal para os cuidados com a saúde mental caíram de 5,7% para 2,6%, e se antes a verba ia toda para os hospitais, ela passou a ser dividida com os outros programas do governo de recuperação dos doentes mentais. Muitos hospitais fecharam as portas por falta de dinheiro, deixando muitos doentes nas ruas, sem ter para onde ir e sem outras opções de tratatamento. A desinternalização se deu antes que fossem disponibilizados outros tipos de tratamento. Desde o início do movimento até os dias de hoje, foram desativados cerca de 90 mil leitos psiquiátricos no Brasil, e agora se tem disponível cerca 0,34% da quantidade que seria necessária. Só nos últimos 3 anos foram desativados cerca de 3 grandes hospitais psiquiátricos na Zona da Mata mineira, não pelos preceitos da lei antimanicomial, mas por falta de repasse de verba, por denúncias de maus tratos e por insalubridade. As desinternações não são acompanhadas por profissionais de saúde. Um dos tratamentos alternativos, o CAPS (Centro de Assistência Psicossocial), em cerca de 1500 centros espalhados pelo Brasil, é considerado insuficiente. Segundo Miranda-Sá Jr: Pode-se crer que os burocratas apoiaram o projeto anarquista porque ele era menos dispendioso e permitia que o poder federal repassasse o encargo para os municípios, livrando-se das responsabilidades que havia assumido desde 1930.(2007, pag. 158). E tem sido assim até os dias de hoje. O fechamento de hospitais, a diminuição do repasse de verba, o pouco caso que se tem feito com os pacientes mentais do país, que traz ainda mais sofrimento para o doente e sua família, tudo isso sendo mascarado e justificado pelo movimento chamado Reforma Psiquiátrica Brasileira. 48 5. VISITAS TÉCNICAS 5.1 - CAPAAC - Centro de Atendimento Psiquiátrico Aristides Alexandre Campos O CAPAAC se localiza no município de Cachoeiro de Itapemirim no estado do Espírito Santo e tem capacidade de internação de 38 pacientes. A instituição funciona como pronto atendimento e também com internação. O setor de pronto atendimento já foi um CAPS (Centro de Assistência Psicossocial) e agora é a ala onde recebem os novos pacientes e onde os casos mais graves ficam em observação, e caso haja necessidade de internação eles são encaminhados para outros hospitais ou são mandados para a ala de internação do próprio hospital. O Centro tem 40 anos de existência e foi fundado inicialmente para tratar tuberculose, já foi centro de tratamento de hanseníase e há 30 anos está no ramo do tratamento psiquiátrico. (Informações cedidas por funcionários locais). De acordo com o site da Secretaria da Saúde do Estado do Espírito Santo: A sua missão é "oferecer assistência de qualidade, em Saúde Mental, com abordagem em Equipe Multidisciplinar, em sistema de internação, além de prestar atendimento de urgência, aos portadores de transtornos mentais". Visa trabalhar dentro de um programa operativo que possibilite atender o paciente na crise, organizar sua vida dentro da comunidade hospitalar, preparando-o e a sua família, através de ações terapêuticas que promovam sua reintegração familiar e social. (2015). O hospital possui centros de recreação, uma pequena quadra de basquete, sala de artesanato, auditório, além dos consultórios, farmácias, etc. O tratamento oferecido conta com a participação da família e quando são realizadas festas, como a festa junina por exemplo, o hospital abre as portas também para a comunidade. 49 Figura 33 - Fluxograma de Setores. Fonte: Arquivo Pessoal. Na entrada do hospital há a sala de espera do pronto atendimento com um posto para recepcionista e uma sala de arquivos. A recepção tem dois banheiros para o público externo. O acesso para a ala de internação e o setor de pronto atendimento se dá pela recepção. A ala de internação é composta por um bloco com pátio central contendo os consultórios, o refeitório dos pacientes, e as enfermarias. O lado dos consultórios tem ligação direta com a ala do pronto atendimento, onde ficam o consultório do psiquiatra, a farmácia, e os quartos de observação. Pelo lado esquerdo da fachada do hospital há o acesso para a garagem, e é por ela que se dá o acesso a alguns dos setores de serviço do hospital, como a cozinha, o almoxarifado, a sala onde se guardam as roupas, a sala de terceirizados, o acesso para o segundo pavimento (onde ficam as salas de administração), a sala da nutricionista, e a sala de manutenção. Ao fundo há o acesso para o setor de terapia, onde ficam as salas de artesanato, auditório, e a pequena quadra de basquetes, que também se tem acesso pela ala de internação. 50 O hospital possui: Entrada Principal: Recepção; 2 banheiros (masculino e feminino); Sala de arquivo; Sala de espera; Consultório do serviço social. Ala de internação: Quartos com banheiro; Refeitório para pacientes; Pequena cozinha para distribuição da comida; Vestiário de técnicos de enfermagem e enfermeiros; Sala de descanso dos enfermeiros; Consultório médico; Consultório psicóloga; Sala diretora; Sala administradora geral; Posto de enfermagem. Jardim. Área de Terapia: Ateliê; Quadra de basquete; Auditório; Sala do supervisor da área; Jardim. Ala de Pronto Atendimento: Consultório do Psiquiatra; Sala de descanso médico; Quartos para observação com banheiro; 51 Farmácia; Posto de enfermagem; Copa. Setor de Serviços Gerais: Almoxarifado; Sala nutricionista; Sala dos terceirizados; Sala do chefe de manutenção; Sala de manutenção; Sala de descanso dos motoristas; Garagem; Sala de administração; Cozinha; Refeitório funcionários; Expedição de rouparia. Figura 34 - Implantação. Fonte: Google Earth. Editado pela autora. 52 Figura 35 - Fachada CAPAAC. Fonte: Arquivo Pessoal. O CAPAAC é localizado dentro da cidade, em um bairro misto (residencial e comercial), com um adensamento médio. Na rua onde ele foi implantado (Avenida Leopoldo Smazaro) há pouco fluxo de carros. O hospital é composto por um átrio interior, como um claustro, que serve como um jardim de contemplação, com alguns bancos para descanso. Figura 36 - Composição Formal planta baixa. Fonte: Google Earth. Editado pela autora. O espaço interno do hospital tem clima agradável, mas não deixa de parecer um ambiente hospitalar. A maioria das paredes são pintadas de branco e verde e só há grades 53 para fechar o refeitório, enquanto não está sendo usado. Os quartos ficam abertos durante o dia. A construção é de alvenaria e a cobertura é de laje com telhado de 8 águas. A composição da fachada consta em um plano retangular horizontal, com a adição de um volume marcando a entrada principal. São dois pequenos pilares de seção circular e cobertura de forma triangular. 5.2 – Clínica Psiquiátrica Villa Verde – Bromélias A clínica psiquiátrica Villa Verde é uma clinica particular que tem quatro unidades e está transferindo duas de suas unidades para uma construção nova. A unidade analisada é a Villa Verde Bromélias, que fica localizada no parque Bromélias em Juiz de Fora. Ela é implantada fora do perímetro urbano e tem aspecto de pousada. O Parque das Bromélias é um local onde há muitos sitios e a clínica é uma das construções mais afastadas da cidade. A estrada por onde se chega nela é pavimentada com paralelepípedos e o hospital é cercado por muros altos. Logo na chegada há uma sacada com vista para as montanhas. Figura 37 - Sacada com vista para montanhas. Fonte: Arquivo Pessoal. 54 Figura 38 - Sacada com vista para montanhas. Fonte: Arquivo Pessoal. Do lado esquerdo está localizada a recepção e a ala administrativa. Ao lado há uma rampa de acesso à ala de internação. A clínica é de alvenaria e a cobertura é de telha. Há predominância de cores fortes e aconchegantes, como o amarelo, laranja, marrom e tetos e pisos internos são de madeira. Há também uma piscina e uma quadra. Figura 39 - Setor de Internação. Fonte: Arquivo Pessoal. O prédio principal é rodeado por espaços verdes e há muitos espaços de lazer e convivência. 55 Figura 40 - Área de Convivência. Fonte: Site Villa Verde JF. Figura 41 - Área verde. Fonte: Site Villa Verde JF. 56 Figura 42 - Espaço de Convivência. Fonte: Site Villa Verde JF. De acordo com o site da Clínica: O Complexo Vila Verde reúne hoje quatro unidades e tem como objetivo o atendimento de pessoas com transtornos psiquiátricos e psicológicos. Todas as unidades contam com um grande número de profissionais, os quais estão em constante aprimoramento, a fim de qualificar os atendimentos prestados aos pacientes e seus familiares. São oferecidos tratamentos para todos os tipos de psicopatologias (depressões, fobias, esquizofrenias, transtornos de humor, transtornos de personalidade) e dependências químicas, seja na prevenção e informação ou no tratamento pontual do paciente. (2015). Não há vizinhança imediata para a clínica, e o entorno tem muita vegetação. O terreno onde o hospital foi implantado tem um grande desnível. A clínica é composta por três blocos. O bloco no nível da entrada é onde se localiza o setor administrativo. Os outros dois blocos que ficam no nível inferior do terreno e abrigam a internação. 57 Setor de administração Setor de internação Piscina Quadra Figura 43 - Implantação. Fonte: Google Earth. Editado pela autora. Figura 44 - Fluxograma. Fonte: Arquivo Pessoal. 58 6. LEGISLAÇÃO 6.1 - Uso e Ocupação do Solo. (Decreto Lei 530/88) Para o projeto do hospital, devemos analisar algumas leis específicas e leis de uso e ocupação do solo da cidade de Muriaé – MG. De acordo o Decreto Lei 530/88, a zona onde está o terreno é a ZR 1 (Zona Residencial tipo 1), e de acordo com o anexo III dessa lei, o tipo de construção é Institucional Tipo 15. (Edificação nova, área do lote maior que 800m², frente mínima de 20m, taxa máxima de ocupação do solo de 65%, coeficiente de aproveitamento de 6. Sobre os afastamentos, frontal: 3,0m; posterior: 2,0m; lateral: 3,0m. E também dita o número de vagas para estacionamento, que é de 1 vaga para cada 100m² construídos). De acordo com o Anexo II do mesmo decreto, a ZR1 pode receber os tipos de institucional 13 e 14, e apenas as Zonas Comerciais 1, 2 e 3 podem receber o institucional tipo 15. Porém, visto que a lei é do ano de 1988 e está defasada, e também levando em consideração o tipo de edificação, a implicação e importância que a implantação passa a ter de acordo o tratamento que será oferecido no hospital, não há um terreno que possa ser utilizado dentro das Zonas Comerciais 1, 2 e 3, pois desde 1988 houve um grande adensamento da área. Portanto será usado para esse trabalho as diretrizes do Anexo III e não as do Anexo II. 6.2 - Portarias A portaria que dita o número de leitos é a Portaria nº 1101 GM, de 12 de junho de 2002. De acordo com a tabela encontrada no parágrafo 3.6: PARÃMETROS RECOMENDADOS LEITOS POR Variação entre as % Número absoluto de ESPECIALIDADE Regiões sobre Necessidade leitos sobre total da total de leitos população Cirúrgica 0,44 a 0,70 14,99 0,44 Clínica Médica 0,67 a 1,13 26,82 0,78 Cuidados Prolongados 0,02 a 0,18 (Crônico) 5,62 0,16 Obstétrica 0,43 a 0,63 9,49 0,28 Pediátrica 0,45 a 062 14,06 0,41 Unidade de Medida Leitos/1.000hab. Leitos/1.000hab. Leitos/1.000hab. Leitos/1.000hab. Leitos/1.000hab. 59 Psiquiátrica Reabilitação Tisiologia Psiquiatria Hospital Dia Fator de Ajuste* TOTAL 0,05 a 0,61 0 a 0,01 0,01 a 0,02 0,01 a 0,02 ----------------------2,07 a 3,38 15,31 4,72 0,43 2,73 5,83 100 0,45 0,14 0,01 0,08 0,17 2,92 Leitos/1.000hab. Leitos/1.000hab. Leitos/1.000hab. Leitos /1.000hab. Leitos /1.000hab. Leitos/1.000hab. O programa de necessidades será feito a partir das exigências da Portaria nº 251/GM, de 31 de janeiro de 2002, que: “Estabelece diretrizes e normas para a assistência hospitalar em psiquiatria, reclassifica os hospitais psiquiátricos, define e estrutura, a porta de entrada para as internações psiquiátricas na rede do SUS e dá outras providências. (...)2.5 O hospital psiquiátrico especializado deverá destinar 1 enfermaria para intercorrências clínicas, com um mínimo de 6m2/leito e número de leitos igual a 1/50 do total do hospital, com camas “Fowler”, oxigênio, aspirador de secreção, vaporizador, nebulizador e bandeja ou carro de parada, e ainda: • sala da curativo ou, na inexistência desta, 01 carro de curativo para cada 03 postos de enfermagem ou fração; • área externa para deambulação e/ou esportes, igual ou superior à área construída. 2.6 O hospital psiquiátrico especializado deverá ter sala(s) de estar, jogos, etc., com um mínimo de 40 m2, mais 20m2 para cada 100 leitos a mais ou fração, com televisão e música ambiente nas salas de estar. 2.7 .Recursos Humanos Os hospitais psiquiátricos especializados deverão contar com, no mínimo: • 01 médico plantonista nas 24 horas; • 01 enfermeiro das 19:00 às 7:00 H, para cada 240 leitos; E ainda: • Para cada 40 pacientes, com 20 horas de assistência semanal, distribuídas no mínimo em 04 dias, um médico psiquiatra e um enfermeiro. • Para cada 60 pacientes, com 20 horas de assistência semanal, distribuídas no mínimo em 04 dias, os seguintes profissionais: • 01 assistente social; 60 • 01 terapeuta ocupacional; • 01 psicólogo; • 04 auxiliares de enfermagem para cada 40 leitos, com cobertura nas 24 horas. E ainda: • 01 clínico geral para cada 120 pacientes; • 01 nutricionista e 01 farmacêutico. (...)” 6.3 - Normas Técnicas Os tamanhos de corredores, banheiros, escadas e demais cômodos seguirão os parâmetros de acessibilidade da NBR 9050/2004 Os cômodos específicos das áreas de medicina, como salas de curativos e postos de enfermagem seguirão as normas da Anvisa. Toda a construção seguirá a legislação de incêndio. 61 7 .REFERÊNCIAS PROJETUAIS 7.1 - Referências Específicas 7.1.1 - Hospital Psiquiátrico Kronstad – Bergen, Noruega O Hospital Psiquiátrico Kronstad foi projetado pela equipe OrigoArkitektgruppe em 2013 e é um exemplo de como a doença mental vem sendo tratada na atualidade em outros lugares do mundo. Cada detalhe do projeto foi pensado para que a estada dos pacientes fosse aproveitada para recuperação de sua saúde mental. O projeto tem área de 12.500m² e conta com muitas áreas verdes de convivência, os andares superiores são mais reservados e é onde fica a ala de internação. E o primeiro andar possui uma policlínica para adultos, além de enfermarias para estadias curtas. Além disso, também foi construída uma praça pública ao norte do edifício para interação da sociedade com o hospital. A fachada é verde e branca, o branco dá a sensação de conforto e estabilidade, e a fachada verde é feita de painéis que lembram o bambu, e dão uma sensação de integração à natureza e tranquilidade. O hospital foi implantado em uma área adensada e fica em frente a uma linha de trem, uma área de alto tráfego e movimentação, tanto de pedestres quanto de automóveis. Porém, o espaço interno consegue trazer um ambiente de refúgio para os pacientes, com a utilização de muita área verde e a ambientação é aconchegante, mesmo sendo utilizados componentes contemporâneos. 62 Figura 45 - Implantação. Fonte: Google Street View. Editado pela autora. Figura 46 - Campo de Futebol. Fonte: ArchDaily Brasil. Figura 47 - Fachada. Fonte: ArchDaily Brasil. 63 Figura 48 - Praça Pública. Fonte: ArchDaily Brasil. Figura 49 - Refeitório. Fonte: ArchDaily Brasil. Figura 50 - Quadra de Tenis e Terraço verde. Fonte: ArchDaily Brasil. 64 Figura 51 - Espaços de Convivência. Fonte: ArchDaily Brasil. Figura 52 - Espaços de Convivência. Fonte: ArchDaily Brasil. Figura 53-Espaços de Convivência. Fonte: ArchDaily Brasil. 65 Figura 54 - Composição formal planta baixa. Fonte: Archdaily Brasil. Editado pela Autora. A planta baixa do hospital é composta de um plano retângular com três subtrações. Gerando pátios para a convivência dos pacientes, e aumentando o aproveitamento da luz natural. Figura 55 - Composição formal volumétrica. Fonte: Google Street View. Editado pela autora. O volume é composto por um paralelepípedo com uma subtração na parte inferior, onde fica a praça pública. E é sustentado por pilares de seção circular inclinados. Na parte superior tem a adição de um paralelepípedo menor. A fachada é composta por um plano 66 branco, com uma área verde, lembrando o bambu. O edifício é horizontal, porém as janelas são em fita vertical, o que dá a impressão do edifício ser mais alto. O térreo tem um recuo na fachada frontal, e no norte do edifício o recuo forma uma praça de uso público. Figura 56– Corte Transversal. Fonte: ArchDaily Brasil. Figura 57 – Corte Transversal. Fonte: ArchDaily Brasil. Os átrios geram jardins em diferentes níveis, aumentando a sensação de calma e formando um abrigo para os pacientes. Os jardins também são utilizados para o convívio entre os pacientes. O hospital é organizado em torno desses três átrios. 67 A localização em área adensada e a entrada em frente alinha de trem gerou a preocupação em fazer um projeto que se voltasse não só para o público interno mas para a cidade em geral. O estacionamento fica no subsolo. Figura 58 - Planta Baixa Térreo. Fonte: ArchDaily Brasil. Figura 59 - Planta Baixa Primeiro Pavimento. Fonte: ArchDaily Brasil. 68 Os cômodos são dispostos ao redor dos átrios e a circulação é facilitada com o reconhecimento dos jardins. Os quartos são dispostos em grupos pequenos, pois assim facilita o monitoramento dos pacientes e aumenta a percepção de individualidade, coisa que seria dificultada caso todos os quartos estivessem dispostos juntos. 7.1.2 - Centro Psiquiátrico Friedrichshafen Figura 60 – Centro Psiquiátrico Friedrchshafen. Fonte: ArchDaily Brasil. O centro Psiquiátrico Friedrichshafen é uma construção anexa ao Hospital de Friedrichshafen. Ele fica localizado na Alemanha na cidade de mesmo nome, e foi projetado pelo grupo Julian Arons, Magdalena Falska, António Henriques, Christian Huber, LeanderMoons, JördisPetzold, Joachim Staudt, Sofia Theodorou. O centro foi inaugurado no ano de 2011 e tem uma área de 3.274,00m². O hospital foi construído sobre um terreno com declividade e seguiu a inclinação, possibilitando entradas em dois níveis diferentes. A construção se fecha em um pátio interior, e as grandes salas de terapia tem relação com o jardim interno pelas paredes de vidro. O ambiente foi projetado para dar a sensação de relaxamento e em quase nada lembra que é um anexo de um hospital. Os dois principais materiais que fora utilizados foram o concreto e a madeira. A utilização desses materiais deu ao ambiente um aspecto agradável e convidativo. 69 Figura 61 - Sala de Terapia. Fonte: ArchDaily Brasil. Figura 62 - Jardim dos pacientes. A fachada interna do hospital se relaciona com o jardim pelos seus painéis de vidro. Isso dá transparência ao conjunto e apesar de ser fechado, deixa a sensação de que o paciente não está preso. Os materiais encontrados na fachada são o vidro, painéis de madeira e o concreto aparente. As áreas de circulação tem contato direto com o exterior pelas paredes de vidro. 70 Figura 63 - Circulação. Fonte: ArchDaily Brasil. Figura 64 – Refeitório. Fonte: ArchDaily Brasil. O refeitório é um exemplo de como foi utilizado o aço e a maneira, criando um ambiente que em nada faz lembrar que se está em um hospital, se assemelhando a uma cozinha residencial, um ambiente agradável. 71 Figura 65 - Implantação. Fonte: Google Earth. O centro psiquiátrico fica em um terreno longe do adensamento da cidade e isso permitiu que o hospital se abrisse também para o exterior. O edifício se relaciona com o exterior através de janelas de vidro, porém, se comparado as aberturas para o interior, a relação com o exterior é pequena. Os fechamentos são através de painéis de madeira emoldurados pelo concreto. Figura 66 - Composição formal volumetria. Fonte:ArchDaily Brasil. Editado pela autora. O projeto arquitetônico é composto de blocos retangulares em volta de um átrio. O segundo andar é o acréscimo de um bloco com um pequeno avanço em relação ao andar inferior. 72 Figura 67 - Composição formal planta baixa. Fonte: ArchDaily Brasil. Editado pela autora. A planta baixa conta com três blocos dispostos em volta do átrio, dois paralelamente e um ortogonalmente. Figura 68 - Fachada. Fonte: ArchDaily Brasil. 73 Figura 69 - Planta Baixa. Fonte: ArchDaily Brasil. Os quartos são dispostos ao longo da fachada externa e as áreas de convivência são abertas para o interior. A circulação acontece de modo simples ao longo desses cômodos, paralelamente a linha de delimitação da fachada. 74 Figura 70 - Planta Baixa. Fonte: ArchDaily Brasil. Os refeitórios são abertos ao exterior com grandes portas de vidro e continuadas em um deck com um local de refeição externo. Eles são conjugados com uma sala de estar e 75 ficam dispostas entre as áreas de circulação, unindo dois setores de internação. Cada quarto é equipado com um banheiro e dois leitos. 7.1.3 – Comparativo Ambos os projetos são voltados para o bem estar do paciente. Buscam uma ambientação agradável, com jardins e usos de materiais que passam a sensação de segurança e aconchego. O primeiro, na Noruega, tem uma área quase quatro vezes maior que o segundo, na Alemanha. Mas ambos têm em sua essência a mesma tipologia arquitetônica. As duas construções tem um espaço no interior, para aproveitamento da iluminação natural. O hospital de Kronstad é organizado em torno de três átrios, e o hospital de Friedrichshafen é disposto em volta de um átrio. Algumas áreas de circulação dos dois tem relação com espaços verdes e são rodeadas por paredes de vidro. Figura 71 - Circulação (Esquerda - Friedrichshafen; direita - Kronstad). Fonte: ArchDaily Brasil. 76 Figura 72 - Refeitório. (Uso de madeira). (Esquerda - Friedrichshafen; direita - Kronstad). Fonte: ArchDaily Brasil. Os dois refeitórios tem a utilização de materiais que causam a sensação de aconchego e tranquilidade e dão um aspecto que difere da maioria dos hospitais, dando um aspecto de lar. Tanto no hospital de Konstrad como no centro de Friedrichshafen foi utilizada a madeira, e grandes painéis de vidro se relacionando com o exterior. Figura 73 - Átrio. (Esquerda - Friedrichshafen; direita - Kronstad). Fonte: ArchDaily Brasil. Os hospitais analisados são dispostos em tornos de átrios, aproveitando a iluminação e ventilação naturais e criando ambientes agradáveis de convívio entre os pacientes. 77 Figura 74 - Planta baixa. (Esquerda - Friedrichshafen; direita - Kronstad). Fonte: ArchDaily Brasil. A disposição dos cômodos é feita em torno das aberturas internas e a circulação acontece de forma simples entre esse esses cômodos. Em algumas partes da construção a circulação acontece ao lado dos jardins. O acesso ao centro psiquiátrico da Alemanha tem relação direta ao acesso do Hospital Geral ao qual ele é agregado. O da Noruega tem relação com a linha de trem que passa em frente ao hospital. Ambos os hospitais usam a madeira no revestimento, porém no revestimento da fachada, o hospital Kronstad tem predominância do branco e verde e o de Friedrichshafen tem painéis de madeira e concreto. O hospital de Kronstad fica em uma área adensada de alto tráfego no centro da cidade, enquanto o Centro Psiquiátrico alemão fica longe do centro e em uma área com poucas construções. 78 7.2 - REFERÊNCIAS GERAIS 7.2.1 - Houseunderthe Oaks por Juri Troy Architects Figura 75 - Houseunderthe Oaks. Fonte: Revista Kaza. Essa casa foi projetada pelo grupo Juri Troy Architects e foi construída na Áustria para uma família que gosta de ter contato com a natureza. Toda madeira utilizada para a construção é do local. Figura 76 - Fachada. Fonte: Revista Kaza. Os aspectos relevantes para a escolha do projeto foram: a integração com a natureza local; o uso dos materiais (madeira e vidro); o aproveitamento da inclinação natural do terreno, a linearidade do projeto e o aspecto de refúgio. 79 Figura 77 - Vista da Varanda. Fonte: Revista Kaza. 7.2.2 - ÖstraPsychiatry Hospital – White O ÖstraPsychiatry Hospital fica na Suécia, e foi projetado pelo grupo White e inaugurado no ano de 2007. O hospital foi projetado para transmitir sentimento de calma e conta com quartos individuais para aumentar a sensação de individualidade do paciente. Ele conta com luz natural, vistas e acesso aos jardins. Figura 78 - Vista para o jardim. Fonte: Arkitektur. 80 Figura 79 - Jardim. Fonte: Architizer. Figura 80 - Área de convivência. Fonte: Architizer. Os aspectos relevantes do projeto são o aproveitamento da luz natural, a arquitetura intimista e pessoal, os materiais utilizados e os jardins. 81 8. PROGRAMA DE NECESSIDADES Para elaboração do programa de necessidades mínimo, foram consultadas as leis e normas que estão citadas no capítulo 6, e usadas as referencias das visitas técnicas. O hospital contará com 74 leitos. 74 leitos sendo divididos em quartos individuais e coletivos; 1 enfermaria com 2 leitos com 12m², constituídas de (camas Fowler, oxigênio, aspirador de secreção, vaporizador, nebulizador e bandeja ou carro de parada) 1 sala de curativo de 9m²; 3 postos de enfermagem de 9m² cada; Refeitórios dos pacientes com 100m²; Recepção; Banheiro masculino e feminino para público externo; Sala de espera; Arquivo. Área para terapia: Área descoberta para deambulação e esportes com área igual ou superior a área construída; Sala de jogos; Sala de ginástica; Sala de Estar / televisão; Ateliê; Sala de dança; Teatro; Consultórios (todos com 9m² cada) Psiquiatra; Assistente social; Terapeuta ocupacional; Psicólogo; 82 Clínico geral; Nutricionista. Setor médico, administrativo e de serviços gerais: Cozinha – 30m²; Sala de descanso médico - 9m²; Copa - 15m²; Farmácia – 15m²; Almoxarifado – 9m²; Sala de terceirizados – 13m²; Sala de manutenção – 9m²; Sala de administração – 9m²; Sala de reuniões – 15m²; Sala de recursos humanos – 9m²; DML; Lavanderia – 15m²; Rouparia; Banheiro funcionários; Vestiário; Recepção de serviço O estacionamento terá uma vaga para cada 100m² construídos. De acordo com a Portaria nº 251/GM, de 31 de janeiro de 2002, um hospital psiquiátrico com 74 leitos deverá contar com os seguintes funcionários relacionados a área de saúde: 01 médico psiquiatra; 01 enfermeiro; 01 assistente social; 01 terapeuta ocupacional; 01 psicólogo; 06 auxiliares de enfermagem; 01 clínico geral; 83 01 nutricionista; 01 farmacêutico. Além de mais 14 funcionários administrativos, e 74 pacientes. Ao todo, teremos em média 102 usuários no hospital. 84 9. REFERÊNCIAS ANGELL, Marcia. A epidemia de doença mental. Revista Piauí. São Paulo. Edição 59, Agosto de 2011. ARBEX, Daniela. Holocausto Brasileiro. Vida, genocídio e 60 mil mortes no maior hospício do Brasil. Editora Geração. 1ª Edição. 2013. 216 pag. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050/2004. Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro. 2004. 97p. BlogTO. Disponível em: <http://www.blogto.com/city/2011/04/nostalgia_tripping_provincial_lunatic_asylum>. Acesso em: Maio de 2015. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária E Abastecimento. Instituto Nacional de Meteorologia. 2012. Brasil. INMET. 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1884/84-GM, de 11 de novembro de 1994. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. coordenação-Geral de Normas. Normas para projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde.Brasília,1994. 136p. BRASIL. Ministério de Estado da Saúde. Portaria n.º 1101/GM de 12 de junho de 2002. BRASIL. Ministro de Estado da Saúde. 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