TRABALHO DE ESTLÍSTICA DA FRASE De acordo com Othon Garcia, a feição estilística da frase, como é tratada por ele, considera a forma de expressão peculiar a certo autor em certa obra de certa época. Segundo ele, “estilo é tudo que individualiza obra criada pelo homem, com resultado de um esforço mental, de uma elaboração do espírito, traduzido em idéias, imagens ou formas concretas” (GARCIA, 2002, p.122). Rocha Lima trata esta questão da estilística como Estilística Sintática. E para ele, “um dos casos mais notórios de impregnação afetiva da frase é a mudanças de tratamento – com a qual se assinala inesperada mudança de atitude do sujeito falante em relação ao ouvinte” (LIMA, 2002, p.488). O autor Lima coloca a relatividade quanto a questão do tratamento estilístico aos pronomes nas frases, que varia seu estilo movendo, algumas vezes, com a concordância, sendo que o sentido permanece relativo com a construção que o escritor pretende atingir. EX: “Eu sou aquela que, na estação, Depois do abraço arrancado do ultimo instante, Viu desaparecer na portinhola do vagão Meus dois rapazes, Moços, belos, audazes...” (Poema de Maria Eugenia Celso). Explica o autor, que a sintaxe lógica exigiria o possessivo seus: “Eu sou aquela que viu desaparecer seus dois rapazes...”, mas o sentimento de posse que a autora pretende atingir, se realiza com o possessivo da primeira pessoa. “– Sim, eu agora ando bom... e tu, meu Luís, como vamos de saúde?” (Garret). Nota o autor, a discordância de tu e vamos, pois esse vamos, “de flagrante valor estilístico, frisa a cordialidade da nossa pergunta, comunicando a frase um ar de intimidade carinhosa, já preparado, alias, pelo vocativo – meu Luis -, onde o possessivo meu como que movera antecipadamente a sensibilidade do autor” (LIMA, 2002, p. 489). Tanto Celso Cunha como Faraco & Moura tratam da Estilística da frase como figuras de sintaxe. Para Celso Cunha nem sempre as frases se organizam com absoluta coesão gramatical e segundo Faraco & Moura a função da linguagem figurada é provocar uma surpresa no leitor, fazendo-o prestar atenção não só no que o autor diz, mas no como se construiu o texto, essa surpresa decorre der um desvio em relação à linguagem predominantemente informativa. A esse desvio dá-se o nome de figura completa o autor. As figuras de sintaxe são apresentadas por Celso cunha como empenho de maior expressividade que nos leva, com freqüência, a superabundâncias, a desvios, a lacunas nas estruturas frásticas tidas por modelares. Em tais condições, explica o autor que tais construções a coesão gramatical é substituída por uma coesão significativa, condicionada pelo contexto geral e pela situação. Fraco & Mora classificam a figura como um recurso de linguagem que consiste em apresentar uma idéia por meio de combinações incomuns de palavras, sendo que a mesma resulta de um desvio da norma. Para os autores é um erro supor que figuras de estilo ou de sintaxe são exclusivamente do texto literário, pois embora sejam freqüentes na literatura, as figuras podem ocorrer em qualquer situação de comunicação como: EX: a) Na Propaganda: A fera de passar (Texto de publicidade de um ferro de passar roupa). b) Na fala coloquial: Ele está matando cachorro a grito (expressiva uma situação de necessidade, de privação). c) Na imprensa: Sangue novo no Governo (Zero Hora) d) Nas letras de música: Meu cartão de crédito é uma maravilha (Cazuza). Na propaganda há um sentido de chamar à atenção dos clientes, na gíria a linguagem procura diferenciar um determinado grupo e tanto na música como na literatura, a finalidade primordial é atender à necessidade de expressão do autor, afirma Faraco & Moura. Em sua gramática, Celso Cunha compartilha os processos expressivos das figuras de sintaxe como aquelas que provocam particularidades de construção. Para explicar as figuras de sintaxe, ele as explica de forma seqüencial para sem divisão, com exceção da elipse que o autor a subdivide como elipse do processo gramatical e do processo estilístico. Para Faraco & Moura Elipse trata-se de uma figura de construção e uma omissão de palavras que podem ficar facilmente subentendidas, conforme o exemplo abaixo: Toda a cidade parada por causa do calor (Toda cidade estava parada por causa do calor). Celso Cunha aponta outros exemplos de Elipse como processo gramatical, termo que pode ser manifestado pelos seguintes pontos: Sujeito: Ternura sacudiu os ombros, no susto. Ergueu a cabeça, fixou Manuel: - Para onde?- exclamou. (A.M. MACHADO, JT, 135) Verbo (Parcial ou total) Vão os dois em dialogo Peripatético, ele em passo largo, ela no vôo. (C. Drummond de Andrade, CB, 26) Preposição que introduz certos adjuntos: Miguel foi atrás dela, mãos nos bolsos, falando calmo, falando calmo. (Luandino), VVDX, 69). Preposição de antes da integrante que introduz as orações indiretas e as completivas nominais: Tem medo que fique alguém fora da malhada! (Alves Redol, G, 65) Conjunção integrante que: Não cuideis seja a masmorra... Não cuideis seja o degredo... (C. Meireles, OP, 862). Celso Cunha define a elipse também como processo estilístico usada de preferência naqueles tipos de enunciado que se devem caracterizar pela concisão ou pela rapidez: Ex: Subiu a escada. A cama arrumada. O quarto. O cheiro do jasmineiro. E a voz de uma das filhas, embaixo: - Papai! O telefone... – descrição esquemáticas de ambientes e estados de alma. (A.M.Machado, CJ, 119) EX: - Meu dito, meu feito – pensamento condensado, provérbios, ditos. (Machado de Assis, O, I, 634). Para Celso Cunha a Zeugma é uma das formas da elipse. Consiste em fazer participar de dois ou mais enunciados um termo expresso apenas em um deles: EX: Na vida dela houve só mudança de personagens; na dele mudança de personagens e de cenários. (J. Paço D´Arcos, CVL, 249.) Isto é: na dele houve mudanças de personagens e de cenários. Faraco & Moura apontam a Zeugma como a omissão de uma palavra já expressa anteriormente na oração, trata-se de um caso especial de elepse. EX: Nossos bosques têm mais vida Nossa vida no teu seio mais amores (Nossa vida tem mais amores) Faraco & Moura definem Pleonasmo ou Redundância como o emprego de palavras ou expressões de significado semelhante, próximas uma da outra. EX: Vi a cena com meus próprios olhos. Celso Cunha divide o Pleonasmo em vicioso, epíteto de natureza e ainda objeto pleonástico. Exemplos: Fazer uma alocução – o pleonasmo vicioso só de justifica para dar maior relevo, para emprestar maior vigor a um sentimento ou pensamento. EX: Ó mar salgado, quando do teu sal São lágrimas de Portugal (F. Pessoa, OP, 19) – epíteto de natureza usa expressões do tipo céu azul, fria neve, prato verde, mar salgado. Outro elemento ainda abordado por Celso Cunha é o objeto pleonástico definido como um realce ao objeto direto e geralmente ele é colocado no inicio da frase, depois, repeti-lo com a forma pronominal o (a, os, as). EX: As posições conquistara-as umas após outras (C. dos Anjos, M, 163). A figura estilística Hipérbato é definida por Celso Cunha como separação de palavras que pertencem ao mesmo sintagma, pela intercalação de um membro frástico. Fora & Moura já definem Hipérbato como uma figura de construção que designa qualquer tipo de inversão mais violenta que a anástrofe na ordem das orações de um período ou das palavras na oração. Exemplo de Celso Cunha: Da tarde o murmurar se cala (Casimiro de Abreu) (O murmurar da tarde se cala) Exemplo de Fraco & Moura: Essas que o vento vê Belas chuvas de junho! (J. Cardoso, SE, 16). Segundo Celso Cunha e Faraco & Moura, Anástrofe é o tipo de inversão que consiste na anteposição do determinante (preposição+substantivo) ao determinado, e trata-se de uma figura de construção decorrente do desvio da norma de colocação das palavras na frase. Exemplos de Celso Cunha: Vingai a pátria ou valentes Da pátria tombai no chão! (Fagundes Varela, PC, I, 159). Exemplo de Faraco & Moura: Tremia ela muito... (Dinah Silveira de Queiróz) (Ordem direta: Ela tremia muito). Prolepse segundo a gramática de Celso Cunha aponta esta figura que consiste na deslocação de um termo de uma oração para outra que a preceda. EX: Os pastores parece que vivem no fim do mundo (Ferreira de Castro, OC, I, 435). Sínquise é a inversão de tal modo violenta das palavras de uma frase, que torna difícil a sua interpretação, afirme Celso Cunha. Ex: Lícias, pastor – enquanto o sol recebe, Mugindo, o manso armento e ao largo espraia, Em sede abrasa, qual de amor por Febe - Sede também, sede maior, desmaia Entende-se: “Lícias, pastor, enquanto o manso armento recebe o sol e, mugindo, espraia ao largo -, abrasa em sede, qual, desmaia de amor por Febe, sede também, sede maior.” Faraco & Moura definem Assíndeto como uma figura de construção que consiste na supressão de uma conjunção coordenativa entre palavras de uma frase ou entre orações de um período. O gramático Celso Cunha descreve Assíndeto quando acontece quando as orações de um período ou as palavras de uma oração se sucedem sem conjunção de um período ou as palavras de uma oração se sucedem sem conjunção coordenativa que poderia enlaçá-las. Exemplo de Celso Cunha: Vim, vi, venci (Forma esperada: Vim, vi, venci). O Polissíndeto é a repetição intencional de conjunções coordenativas, ligando palavras ou orações de um período, afirma Faraco & Moura. Segundo Celso Cunha essa figura é o contrário do assíndeto, ou seja, é o emprego reiterado de conjunções coordenativas, especialmente aditivas. Exemplo de Faraco & Moura: ...as casas são podres e os homens pobres, e muitos são parados e doentes e indolentes... (Rubem Braga) Exemplo de Celso Cunha: Fui cisne, e lírio, e águia, e catedral! Na gramática de Rocha Lima, o Anacoluto consiste numa desconexão sintática, que se resulta do desvio do plano de construção da frase, iniciando com determinada estrutura, de súbito ela se interrompe e envereda por outro rumo. EX: “Tu que, da liberdade após a guerra, Foste hasteada dos heróis na lança, Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha!...” (Castro Alves). Afirma Lima, que a oração iniciada pelo pronome tu continua, com estrutura diferente, no terceiro verso; dela, na forma originaria, só ficou o sujeito, sintaticamente desligado do resto do período, e, portanto sem função que exercer. O que determina o anacoluto é a colocação, no rosto do período, do elemento de maior relevo psicológico. “Nele se concentra por tal forma o nosso interesse, que não prestamos atenção a regularidade sintática e o deixamos a valer por si, sem ligação com os demais membros da frase. Segundo a gramática de Celso Cunha Anacoluto apresenta a mudança de construção sintática no meio do enunciado, geralmente depois de uma pausa sensível. Faraco & Moura definem Anacoluto como uma figura em que uma ou mais palavras de período não se relacionadas palavras posteriores de acordo com as regras normais da sintaxe. Exemplo Faraco & Moura: No jogo do América contra o Olaria, puxa vida, houve uma briga também comigo no Olaria e me jogaram pedra. (Entrevistas do Pasquim) Segundo as gramáticas de Fraco & Moura e de Celso Cunha Silepse é a concordância que se faz não com a forma gramatical das palavras, mas com o seu sentido, com a idéia que elas expressam. É também chamada de concordância ideológica. Exemplos: São Paulo já está fria nessa época do ano (o adjetivo fria concorda não com o substantivo São Paulo, mas com o termo subentendido cidade) A gramática de Celso Cunha ainda apresentada dentro da figura citada acima a Silepse de número , de gênero e pessoa. Exemplos: Deu-me noticias da gente Aguiar; estão bons (OC, I, 1093) - Imediatamente, pode Vossa Excelência ficar descansado!... (B. Santareno, TPM, 119.) Todos entramos imediatamente (O. Lara Resnde, BD, 25) A aliteração é a repetição de fonemas idênticos ou semelhantes apresenta Faraco & Moura. EX: Fulge um fino Fulgor na face fina (Mario Jubim) Anadiplose consiste no repetir, no inicio de uma oração ou de um verso, a ultima palavra da oração ou do verso, descreve a gramática de Faraco & Moura. EX: Ofendia-vos, meu Deus, é bem verdade, Verdade é meu Senhor, que hei delinqüido, Delinqüido vos tenho, e ofendido, Ofendido vos tem minha maldade (Gregório de Mattos) A gramática de Celso Cunha aponta Anacoluto como uma mudança de construção sintática no meio do enunciado, geralmente depois de uma pausa sensível, como no exemplo abaixo: No berço, pendente dos ramos floridos, Em que eu pequenino feliz dormitava: Quem é que esse berço com todo o cuidado Cantando cantigas alegre embalava? (C. de Abreu, O, 78). Segundo Faraco & Moura Anástrofe ou Inversão trata-se de uma figura de construção decorrente do desvio da norma de colação das palavras na frase – a ordem direta. A anástrofe é uma inversão mais suave que o hipérbato. Exemplo: Tremia ela muito... (Dinah Silveira de Queiroz) (Ordem direta: Ela tremia muito.) O Clímax ou Gradação consiste em apresentar idéias em andamento crescente ou decrescente, por maio de palavras diferentes, de diferentes significados afirma Faraco& Moura. Exemplo: O ar que queima os seus pulmões sadios Férreos, beróicos... (Luiz Aranha) A Comparação ou Símile consiste no confronto de duas realidades, entre as quais se depreendeu alguma semelhança. Por meio desse processo estabelece-se um paralelo entre dois significados. Sendo um dos recursos básico da linguagem, é a figura em que se fundamentam várias outras. Exemplo: Partiu-se meu rosto em chispas Como as estrelas num poço. (Cecília Meireles) De acordo com Garcia, a frase de arrastão é o processo de estruturação de frase exige pouco esforço mental no que diz respeito a inter-relação entre as idéias, satisfaz plenamente quando se trata de situações muitos simples. Por isso, é mais comum na língua falada, em que a situação concreta. EX: Cheguei à porta do edifício, toquei a companhia e esperei algum tempo mas ninguém atendeu, pois já passava das dez horas. Em seguida serão apresentadas algumas figuras de estilo não citadas nas gramáticas anteriores, cujos exemplos e definições estão na gramática de Rocha Lima. Infinitivo Flexionado Para o autor, certos casos de infinitivo flexionado antes se apresentam como exigências da manifestação psíquica e do apelo. EX> “Queres ser mau filho, mau amigo, deixares uma nódoa d’infâmia na tua linguagem?” (Alexandre Herculano). A esse respeito, explica o autor, que a flexão (deixares) não é requerida pela clareza, senão pela ênfase: a intenção de reforçar a presença do sujeito (já presente em queres). A seguir serão abordadas algumas figuras obtidas através da gramática de Rocha Lima, cujos autores anteriores não enfatizaram em suas gramáticas ou não trabalharam estes estilos. A Colocação dos Pronomes Átonos consiste na colocação dos pronomes oblíquos, ressalta o autor sobre a construção do pronome com o verbo, considerando estes como ênclise ou próclise. EX: “Dá-me” (essa construção esconde, de certa forma, o pronome,dando maior ênfase ao verbo. Assim cita o autor João Ribeiro, que explica a ênclise com o imperativo um índice da atitude voluntariosa e atribua a próclise i caráter de delicada insinuação. Segundo Garcia, através dessa questão da interrogação estabelecida pelo autor, aqui se pode destacar o deslocamento do sujeito e do verbo no enunciado, de maneira, e que de certa forma, representa uma comunicação cabível ao sentimento. Com os advérbios e pronomes interrogativos determina-se uma ordem de conformidade. EX: “Que desejas tu?” . Com a locução idiomática colocamos em evidencia o termo pelo qual queremos questionar. EX: “Que é que você deseja?”. Com o desdobramento do pronome pode-se valorizar o interrogativo que. EX: “O que desejas aqui?”. Quando o nosso interesse cai sobre o sujeito temos a faculdade de transpô-lo para o inicio da oração. EX: As crianças como vão? ao invés de, Como vão as crianças?. Para Garcia o Estilo direto, indireto e indireto livre, inclui também o autor dentro dos casos de estilística sintática, os estilos: 1. Estilo direto: que dá a voz a personagem reproduzindo textualmente suas palavras através de verbos dicendi (disse, acrescentou, perguntou, respondeu). 2. Estilo indireto: o autor encaixa no seu próprio discurso as palavras da personagem. 3. Estilo indireto livre: o autor do texto constrói dois períodos dos quais encerram o pensamento do falante. EX: Estilo direto: O delegado, que estava indeciso, perguntou de si para si: “A quem interessará o crime?”. Estilo indireto: O delegado, que estava indeciso, perguntou de si para si a quem interessaria o crime. Estilo indireto livre: O delegado estava indeciso. A quem interessaria o crime? Conclusão Para dar termino a este trabalho, é importante ressaltar que os conceitos são muitos e varia conforme o ponto de vista de analise de cada autor, ao tratar de determinado assunto, pois cada um aborda a maneira que lhe é cabido. Considerando a gramática um aspecto fundamental na aprendizagem da língua portuguesa, entretanto, muito complexa, não se encontra nada limitado aqui. Esse trabalho de pesquisa tem um papel fundamental para a formação do professor de língua portuguesa, pois se tem a oportunidade de aproximar mais com o estudo formais e estilísticos da linguagem, considerando o nível aqui tratado, a frase. BIBLIOGRAFIA CUNHA, Celso – Nova Gramática do português contemporâneo / Celso Cunha, Luiz F, Lindley Cintra. – 3. ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. FARACO & MOURA. Gramática. 19. ed. São Paulo: Ática, 2001. p. 428 – 567. GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 21. ed. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 2002, p.99-146. LIMA. Rocha. Funções da linguagem – Gramática e estilística. In. Gramática normativa da língua portuguesa. 42ed.Rio de Janeiro: José Olímpio, 2002, p.475-492.