O mal-estar na civilização

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Sigmund Freud
O mal-estar na civilização
Escrito em 1929, às vésperas da quebra da bolsa de Nova York,
O mal-estar na civilização é uma investigação das raízes da
infelicidade humana, do conflito entre instintos e cultura, e de
como a sociedade se impõe sobre o homem. Nele, Freud defende a
ideia de que a civilização poupa os homens das principais fontes de
sofrimento, protegendo-os da natureza e regulamentando os
vínculos que criam entre si, mas, em troca, exige o sacrifício de
suas pulsões. Ao traçar esse embate entre homem e civilização,
Freud definiu seus principais conceitos psicanalíticos – Eu, Supereu, pulsões de prazer e de morte – e modificou definitivamente a
imagem que o homem tem de si mesmo, dando origem à
psicanálise.
Este clássico da sociologia e da antropologia proporciona um
verdadeiro mergulho na teoria freudiana da cultura, segundo a qual
civilização e sexualidade coexistem de modo sempre conflituoso. A
partir dos fundamentos biológicos da libido e da agressividade,
Freud demonstra que a repressão e a sublimação dos instintos
sexuais, bem como sua canalização para o mundo do trabalho,
constituem as principais causas das doenças psíquicas de nossa
época.
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1. Segundo Freud, nada é mais seguro do que o sentimento que o
homem possui acerca do Eu. Como ele se origina?
Quando nasce, o bebê não é capaz de separar o Eu do mundo
exterior, mas alcança essa distinção aos poucos, por meio de diversos
estímulos. Ele percebe que não consegue satisfazer sua vontade de
mamar sempre que deseja, pois essa satisfação não depende apenas
dele. É assim que o Eu se contrapõe inicialmente a um “objeto”
– o peito materno –, algo que se acha “fora” e somente através
de uma ação particular – o grito – aparece. Por meio da dor e do
incômodo, o bebê é estimulado a isolar todas as fontes de desprazer,
distinguindo o que pertence ao Eu do que faz parte do mundo
exterior. (cap. i)
2. Quais são as principais fontes do sofrimento humano? Que
métodos o homem utiliza para evitá-lo?
O sofrimento humano pode ter origem no próprio corpo, no
mundo externo ou nas relações com outras pessoas. Segundo Freud,
o homem pode evitá-lo de diversas maneiras. A primeira é o uso de
entorpecentes que agem sobre o corpo, modificando sua química,
tornando-o insensível à dor e proporcionando prazer. Outra forma é
a meditação, que tem como finalidade a liquidação dos instintos, de
modo que não há sofrimento por não satisfazê-los. O deslocamento
da libido também é uma maneira de afastar a dor: se o homem
busca suas satisfações internamente, ele se torna independente do
mundo exterior. Além disso, o homem também pode se utilizar de
gratificações substitutivas (como a arte, que ofusca a realidade) ou
colocar o amor no centro de sua vida, esperando toda satisfação
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dele. Por fim, outro método utilizado para evitar o sofrimento é o
rompimento com a realidade, compreendida como o único inimigo.
Ao trilhar esse caminho, contudo, o homem enlouquece. (cap. ii)
3. Como Freud define a civilização?
A civilização é definida por Freud como a soma das realizações e
instituições que diferenciam a vida de um homem daquela vivida por
seus antepassados. Ela possui dois objetivos: proteger o homem da
natureza e regulamentar as relações humanas. A civilização não diz
respeito somente ao que é útil para o homem, mas também ao que
parece inútil, como a beleza e a ordem. Outro traço característico é
o cultivo das atividades psíquicas elevadas e a valorização das ideias,
como a religião e a filosofia. (cap. iii)
4. De acordo com Freud, a civilização não existe onde a liberdade
individual predomina. Explique essa afirmação.
Antes de a civilização existir, a liberdade individual predominava,
mas não possuía valor, já que os homens não conseguiam defendêla por estarem sujeitos àquele que fosse fisicamente mais forte. A
força bruta definia quem determinaria as relações humanas por
meio de seus interesses e instintos, fazendo dos mais fracos vítimas
da brutalidade e da arbitrariedade dos mais fortes. Com a evolução
cultural e o surgimento da civilização, as liberdades individuais
passaram a sofrer restrições, mas possibilitaram que os homens
vivessem em grupo. Assim, a maioria, o todo, tornou-se mais forte
do que qualquer indivíduo. (cap. iii)
5. Quais são os dois fundamentos principais da vida em
comunidade?
Os fundamentos da vida em comunidade são a compulsão ao
trabalho, criada pela necessidade externa, e o poder do amor, que no
caso do homem não dispensa o objeto sexual (a mulher), e no caso
da mulher não dispensa aquele a quem deu origem (a criança). (cap.
iv)
6. De que forma se dá o conflito entre a família e a civilização? Por
que a mulher torna-se hostil à vida em comunidade?
A civilização exige que os homens se agrupem em grandes
unidades, enquanto a família consiste em uma unidade pequena,
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que deseja permanecer unida. Assim, a família resiste em ceder o
indivíduo para a comunidade, preferindo se manter isolada do resto
da civilização. A hostilidade das mulheres em relação à civilização
decorre do fato de serem elas as representantes dos interesses da
família e da vida sexual. O trabalho e a vida em comunidade exigem
muito dos homens, obrigando-os a refrear seus instintos e alienandoos de seus deveres como membros de uma família. Desse modo, a
energia e a atenção do homem acabam se centrando em atender
às solicitações da cultura, e a mulher e a família são relegadas ao
segundo plano. (cap. iv)
7. Por que a vida sexual do homem civilizado está gravemente
prejudicada?
De acordo com Freud, a civilização restringe a vida sexual do
indivíduo, determinando que somente o sexo oposto se torne objeto
de seu amor sexual. Assim, define como perversa a relação sexual
entre pessoas do mesmo sexo e proíbe a escolha incestuosa. À
civilização não agrada a ideia do sexo apenas como fonte de prazer,
mas sim como modo de reprodução. Apesar de somente os fracos
sujeitarem-se a uma interferência tão radical em suas vidas sexuais,
o que obriga a sociedade a fechar os olhos para certas práticas, isso
não impede que as restrições exerçam efeitos prejudiciais na vida
sexual dos seres humanos. Assim, para o homem civilizado, o sexo
deixa de ser fonte de sensações felizes, reduzindo sensivelmente seu
papel na busca pela felicidade. (cap. iv)
8. De acordo com Freud, é humanamente impossível cumprir a
máxima “ama teu próximo como a ti mesmo”. Por quê?
Freud afirma não ser possível amar o próximo como a si mesmo
principalmente se o próximo é alguém desconhecido, que não
possui nenhum papel na vida emocional do indivíduo. Se o amor é
disputado por seus familiares, amigos e amantes, seria injusto amar
alguém que não faz parte desse círculo e que não é digno desse
amor. Já que o desconhecido não demonstra nenhuma consideração
em relação ao indivíduo e acaba muitas vezes por prejudicá-lo, é
provável que o indivíduo odeie o desconhecido e direcione seus
impulsos agressivos a ele. (cap. v)
9. Qual é a relação entre a agressividade inata do homem e a
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repressão imposta pela sociedade à sua vida sexual?
A repressão à vida sexual é a solução encontrada pela sociedade
para frear as pulsões agressivas do homem. A humanidade possui
instintos agressivos muito fortes, que perturbam as relações e
ameaçam a sociedade. Dessa forma, a civilização faz o possível para
unir os membros da comunidade por meio da amizade, criando laços
de identificação e fortalecendo vínculos. Para isso, é inevitável que
a vida sexual seja reprimida e que a libido seja direcionada para um
amor fraternal. (cap. v)
10. Para Freud, o comunismo é viável? Por quê?
De acordo com Freud, o pressuposto psicológico do comunismo,
que afirma que a supressão da propriedade privada acabaria com os
conflitos entre os homens, não faz sentido e é inviável. A supressão
da propriedade privada não significa a supressão dos instintos
agressivos, que são inatos ao homem. É uma ilusão crer que sem
a propriedade todos viveriam em harmonia e deixariam de se
maltratar, pois, mesmo antes de a propriedade existir, a agressividade
já reinava entre os homens. (cap. v)
11. Por que Freud afirma que a evolução cultural é a luta vital da
espécie humana?
Ao lado dos vínculos amorosos e fraternais que surgem entre os
indivíduos, fortalecidos pela sociedade, há também o instinto
agressivo, de destruição e hostilidade de um contra todos, o instinto
de morte. Desse modo, para Freud, a evolução cultural apresenta a
luta entre o instinto de vida e o instinto de morte, embate que
corresponde ao conteúdo essencial da vida humana. (cap. vi)
12. De que forma a agressividade é internalizada pelo indivíduo?
A agressividade é internalizada dirigindo-se contra o próprio
Eu, onde é acolhida pelo Super-eu. O Super-eu exerce sobre o Eu
a agressividade que o Eu gostaria de exercer sobre os outros seres
humanos, dando continuidade ao rigor da autoridade da civilização.
(cap. vii)
13. Qual é a relação da renúncia ao instinto com o sentimento de
culpa?
Ao sentir medo do Super-eu, o indivíduo renuncia ao instinto.
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Contudo, isso não evita o surgimento do sentimento de culpa, pois
o desejo de satisfazer aquele instinto persiste. Já que não se pode
ocultar nada ao Super-eu, esse desejo é descoberto e o sentimento de
culpa surge. (cap. vii)
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Leituras recomendadas
Freud, Sigmund. Freud (1930-1936): O mal-estar na civilização e
outros textos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Mezan, Renato. Freud, pensador da cultura. São Paulo: Companhia
das Letras, 2006.
Roazen, Paul. Como Freud trabalhava. São Paulo: Companhia das
Letras, 1999.
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