MANIFESTO A Incontornável Necessidade de Imediata Retomada do Desenvolvimento A extrema gravidade da situação econômica do país já não pode ser ignorada. A indústria caminha a largos passos para a estagnação, as vendas do comércio declinam rapidamente, a inadimplência atinge níveis dificilmente superados no passado e, o que é mais grave, o desemprego atinge níveis inaceitáveis. É, sem dúvida, falsa a acusação de que o Governo optou pelo neoliberalismo. A doutrina neoliberal afirma, de fato, que basta garantir os equilíbrios fundamentais da economia ( cambial, fiscal e monetário) para que o desenvolvimento se siga automaticamente. O novo Governo tem, pelo contrário, repetidamente afirmado que a volta ao crescimento acelerado depende de ação ampla e sistemática do Poder Público. Comete, todavia, grave erro que, se não corrigido, determinará a perpetuação da crise presente com mais uma Década Perdida para a economia brasileira. O desenvolvimento constitui processo acelerado de crescimento com objetivo de eliminar o atraso econômico. Sua própria rapidez gera tensões e desequilíbrios, nos segmentos cambial, fiscal e monetário, que devem ser mantidos sob controle com adoção, quando necessário, de medidas de exceção. Ou se deverá lembrar que Stiglitz, recentemente agraciado com Prêmio Nobel de Economia, afirmou, exprimindo não sua opinião, mas a dominante entre especialistas, que contrariamente às dúvidas do período anterior: “nos princípios dos anos 90 havia largo consenso de que taxas baixas e estáveis de inflação eram objetivos desejáveis para países em desenvolvimento, embora taxas moderadas de inflação – até 40% ao ano – não fossem necessariamente prejudiciais ao crescimento” ? Vinte anos de neoliberalismo levaram o Brasil, não só à semi – estagnação econômica, como a graves desequilíbrios cambial , fiscal e monetário, expresso este último nas elevadíssimas taxas de juros vigentes no país. Desequilíbrios que, por terem adquirido caráter estrutural, só poderão ser corrigidos por medidas de grande profundidade que significam, em última análise, a pronta adoção de política de desenvolvimento, cujos resultados imediatos serão , todavia, o agravamento desses desequilíbrios. Comete, assim, o Governo erro fundamental ao condicionar a retomada do desenvolvimento à prévia consecução dos equilíbrios cambial, fiscal e monetário, dado que estes só poderão ser obtidos, de forma segura e permanente, no contexto de crescimento acelerado da economia. Em outras palavras, sem ser neoliberal o Governo se deixou enredar no “curtoprazismo “ da visão neoliberal. A excessiva insistência nas reformas fiscal e previdenciária fazem parte do mesmo erro. O 2 aumento das receitas públicas, gerado pela volta ao crescimento acelerado, reduziria drasticamente as atuais dificuldades nesses dois setores. Em sentido oposto, no contexto de recessão como a presente, qualquer solução será inevitavelmente provisória e incompleta. Os críticos da posição vêm pedindo a imediata retomada do desenvolvimento sem, contudo, assumir a responsabilidade de reconhecer, de público, que as medidas por eles propostas terão como consequência o agravamento, a curto prazo, dos desequilíbrios cambial, fiscal e monetário. Com a eventual necessidade da adoção de medidas emergenciais, como o controle de câmbio, renegociação da dívida interna e elevação da carga fiscal. Fica, assim, o país preso numa armadilha de subdesenvolvimento: de um lado, Governo que reconhece a importância da retomada do desenvolvimento, mas condiciona esta à correção dos desequilíbrios de curto prazo e, de outro, seus críticos que exigem a volta imediata ao crescimento acelerado sem, contudo, reconhecer que, como consequência, num primeiro momento, serão agravados os desequilíbrios cambial, fiscal e monetário. Omissão que explica e justifica a insistência do Governo (que não deseja assumir sozinho o ônus desse agravamento) em manter sua posição conservadora. O COFECON assume a responsabilidade de romper o impasse defendendo a imediata adoção de medidas destinadas a arrancar o país da recessão e recolocá – lo na trilha do crescimento acelerado reconhecendo, ao mesmo tempo, que a curto prazo isso resultará no agravamento dos desequilíbrios cambial, fiscal e monetário, com eventual necessidade de serem adotadas de medidas emergenciais. O COFECON afirma ser esse o risco a ser assumido pelo Governo. Cabe a este denunciar a grave situação em que o país foi colocado por vinte anos de neoliberalismo, convocando os brasileiros a aceitarem o período dos sacrifícios indispensáveis para o país voltar ao rápido crescimento. Resultado que já registramos no passado e que foi recentemente obtido por países em condições econômicas significativamente inferiores às nossas. À Oposição cabe reconhecer a inevitabilidade de fase de sacrifícios e apoiar o Governo nas medidas duras e difíceis que se fizerem necessárias. Dos que defendem a imediata retomada do desenvolvimento, se espera o reconhecimento de que não estão propondo saída fácil para o país não devendo, portanto, o Governo ser criticado, mas sim apoiado, ao adotar as penosas medidas que nos trarão de volta ao desenvolvimento econômico. Manifesto aprovado pela Plenária do Conselho Federal de Economia, em sua 557a Sessão Plenária – Rio de Janeiro, 2 de agosto de 2003.