TÉCNICA CIRÚRGICA PARA TRACIONAMENTO DE DENTES

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE ODONTOLOGIA
TÉCNICA CIRÚRGICA PARA TRACIONAMENTO DE
DENTES ANTERIORES IMPACTADOS: RELATO DE CASO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
JENNIFER SCHULTZ SILVA
Santa Maria, RS, Brasil
2015
TÉCNICA CIRÚRGICA PARA TRACIONAMENTO DE DENTES ANTERIORES
IMPACTADOS: RELATO DE CASO
JENNIFER SCHULTZ SILVA
Trabalho de Conclusão de Curso em Odontologia, da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM, RS),
como requisito obrigatório para obtenção do grau de
Cirurgião-Dentista
Orientador: Prof. Jorge Abel Flores
Santa Maria, RS, Brasil
2015
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências da Saúde
Curso de Odontologia
A Comissão Examinadora, abaixo assinada,
aprova o Trabalho de Conclusão de Curso
TÉCNICA CIRÚRGICA PARA TRACIONAMENTO DE DENTES
ANTERIORES IMPACTADOS: RELATO DE CASO
elaborado por
JENNIFER SCHULTZ SILVA
como requisito para obtenção do grau de
Cirurgião-Dentista
COMISSÃO EXAMINADORA:
___________________________________________________
Jorge Abel Flores, Dr.
(Orientador)
___________________________________________________
Marta Dutra Oliveira Machado, Dra.
____________________________________________________
Aléxsandra da Silva Botezeli Stolz, Dra.
____________________________________________________
Gustavo Adolfo Terra Quesada, Dr.
(Suplente)
Santa Maria, novembro de 2015.
Agradeço a esta instituição pela excelência em ensino, o que me orgulha muito em fazer parte
desta história. Ao professor Dr. Jorge Abel Flores, pelo companheirismo, dedicação e
confiança. A família, pelo apoio, pelos esforços e compreensão. Assim compartilho esta
vitória com todos vocês. Muito obrigada!
RESUMO
Trabalho de Conclusão de Curso
Programa de Graduação em Odontologia
Universidade Federal de Santa Maria
TÉCNICA CIRÚRGICA PARA TRACIONEMENTO DE DENTES ANTERIORES
IMPACTADOS: RELATO DE CASO
AUTORA: JENNIFER SCHULTZ SILVA
ORIENTADOR: JORGE ABEL FLORES
Data e Local da Defesa: Santa Maria, novembro de 2015
Dentes anteriores impactados representam cerca de 1 a 2% dos pacientes ortodônticos e
possui etiologia multifatorial. A retenção de dentes anteriores permanentes pode gerar
repercussões estéticas, funcionais e psicossociais. Uma das principais condutas terapêuticas
frente a este problema é o tracionamento ortodôntico cirúrgico. O tratamento ortodôntico
envolve a abordagem de alterações da oclusão. Na transição da dentição mista para a
permanente, poderão ocorrer impacções dentárias, que constituem um problema
frequentemente encontrado na clínica ortodôntica. É considerado dente impactado aquele
impedido de erupcionar cujo homólogo esteja erupcionado há pelo menos seis meses, com
formação radicular completa. Um dente impactado pode ser submetido a vários métodos de
tratamento, sendo que a conduta orto-cirúrgica é a que fornece melhor prognóstico estético e
funcional. Este caso clínico apresenta o tracionamento de dois dentes anteriores impactados
através da melhor forma encontrada para o caso, disponível na literatura.
Palavras-chave: Dente Impactado. Ortodontia. Tracionamento Ortodôntico. Dente não
erupcionado.
ABSTRACT
SURGICAL TECHNIQUE FOR IMPACTED ANTERIOR TEETH TRACTION:
CASE REPORT
Impacted anterior teeth represents about 1-2% of orthodontic patients and have a
multifactorial etiology. The retention of permanent anterior teeth can produce aesthetic,
functional and psychosocial effects. One of the main therapeutic forward ducts to this
problem is surgery orthodontic traction. Orthodontic treatment involves approach occlusion
changes. In the transition from mixed to permanent dentition, dental impactions may occur,
which are a problem frequently encountered in clinical orthodontics. It is considered impacted
tooth that prevented erupt whose counterpart is erupted for at least six months with complete
root formation. An impacted tooth may be subjected to various methods of treatment, and the
ortho-surgical approach is the one that provides better aesthetic and functional prognosis. This
case presents the traction of two anterior teeth impacted by best way found in the event,
available in the literature.
Keywords: Impacted Teeth. Orthodontics. Orthodontic Traction. Erupcion Failure.
LISTA DE ANEXOS
ANEXO A – SEQUÊNCIA CLÍNICA.................................................................... 23
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA.................................................... 9
RELATO DO CASO CLÍNICO................................................................................ 12
DISCUSSÃO DO CASO........................................................................................... 15
CONCLUSÃO............................................................................................................ 17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................ 18
FIGURAS.................................................................................................................... 21
ANEXO.........................................................................................................................23
9
INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA
Os casos de dentes anteriores impactados ocorrem em 1 a 2% dos pacientes ortodônticos e
possui etiologia multifatorial. O diagnóstico diferencial é realizado por exame clínicoradiográfico, quando ocorre diferença na cronologia de erupção (REAL et al., 2002). O exame
radiográfico é fundamental para concluir o diagnóstico, pois além de fornecer sua relação com
os órgãos adjacentes, comprova a presença do dente impactado, localizando-o dentro do osso
maxilar. Para determinar a posição vestíbulo-lingual pode-se utilizar a técnica de Clark
(CAPPELLETTE et al., 2008). Outras imagens podem ajudar a determinar a exata posição do
dente impactado e complementar o diagnóstico, como as radiografias oclusais, panorâmicas,
telerradiografias em norma lateral e frontal e ainda a tomografia computadorizada (MAAHS,
2004).
Recentemente
foi
introduzida
na
odontologia
a
tomografia
volumétrica
computadorizada (Cone Beam). Este tipo de exame permite a imagem das estruturas
anatômicas em três dimensões, possibilitando mais detalhes e informações. Este exame
fornece a localização exata de dentes inclusos e estruturas adjacentes, o que permite um
planejamento mais seguro e preciso com relação à movimentação ortodôntica, além de
fornecer importantes informações da condição radicular (GARIB et al., 2007; MARTINS, et
al., 2009).
Um dente decíduo que permaneça em posição além de seu tempo normal de esfoliação,
devido ao não desenvolvimento ou ao retardo do desenvolvimento do sucessor é considerado
um dente retido (BECKER, 2004). A retenção de dentes anteriores permanentes podem gerar
repercussões estéticas, funcionais e psicossociais. Uma das principais condutas terapêuticas
frente a este problema é o tracionamento ortodôntico cirúrgico. Os dentes mais
frequentemente retidos são os terceiros molares superiores e inferiores, seguidos dos caninos
superiores permanentes (PETERSON, 1998) e então, dos incisivos centrais permanentes
(SILVA FILHO et al., 1997).
Inúmeros fatores etiológicos podem determinar uma impacção dentária, os quais são
classificados como locais ou sistêmicos. Os locais são: fenda alveolar, anquilose do decíduo,
dentes supranumerários ou alguma barreira mecânica, dilaceração radicular, trauma do dente
decíduo, rizólise anormal do dente decíduo, retenção prolongada do decíduo, falta de espaço
no arco dentário, rotação do germe do dente permanente, patologias nos processos
odontogênicos, hereditariedade, fechamento antecipado do ápice radicular e irrupção dos
caninos nas regiões de fissuras palatinas, agenesia do incisivo lateral permanente
(CONSOLARO, 2010) ou ainda perda prematura do dente decíduo com a consequente
10
formação de osso e/ou gengiva fibrosa sobre o germe do permanente (TANAKA et al., 2000).
As causas etiológicas sistêmicas são fatores genéticos, doenças febris, deficiências
endócrinas, pressão muscular anormal, falta de vitamina D, disostose cleidocraniana e
iatrogenias locais (PURICELLI, 1987).
A conduta frente a um dente impactado pode ser conservadora com o reposicionamento e a
manutenção do dente em boca ou não conservadora com a remoção cirúrgica (SILVA;
TOSTES, 2009). O reposicionamento destes envolve normalmente uma combinação de
desafios cirúrgicos, periodontais e ortodônticos. No entanto, o ortodontista deve tentar todos
os meios possíveis para salvar o dente antes de indicar sua remoção (MAGNUSSON, 1990).
Sendo que o tratamento orto-cirúrgico, o mais utilizado pelos cirurgiões dentistas, é o que
fornece melhor prognóstico estético. Em pacientes jovens, cujos dentes retidos apresentam
força eruptiva e formação incompleta da raiz, pode-se considerar o tratamento cirúrgico
conservador. Este consiste na eliminação dos tecidos gengival, ósseo e pericoronário que
recobrem a coroa do elemento dentário retido, tendo por finalidade facilitar a erupção dentária
espontânea. Esta opção de tratamento é indicada nos casos de inclusão favorável, e é
necessário que haja espaço suficiente para sua erupção no arco (GAETTI-JARDIM et al.,
2012). Porém, o dente impactado pode levar até três anos para atingir o plano oclusal e, a
remoção extensa do tecido mole e osso mucoperiosteal subjacente podem afetar o prognóstico
periodontal, o contorno gengival e a aparência do dente (BECKER, 2002).
O tracionamento orto-cirúrgico do dente impactado pode ser feito através da colagem de
brackets (CONSOLARO, 2003), diretamente aos dentes retidos e o com a aplicação da força
ancorada a aparelhos fixos ou removíveis. Os aparelhos removíveis apresentam desvantagens
como emprego de força intermitente e dependência da cooperação do paciente quanto ao uso
do aparelho e troca dos elásticos. A ancoragem em aparelhos fixos oferece maior controle,
efetividade da força aplicada e minimiza efeitos indesejáveis, entretanto, estes ainda podem
ocorrer (CAPPELLETTE et al., 2008).
Caso não se opte por nenhum tratamento para o dente impactado, poderão ocorrer sequelas,
tais como: mau posicionamento lingual ou vestibular do dente impactado; migração dos
dentes vizinhos e perda do comprimento do arco; absorção interna; formação de cisto
dentígero; absorção radicular externa do dente impactado e dentes vizinhos; infecção
(particularmente nos casos de erupção parcial); dor referida (SHAFER et al., 1993;
SHASHIKIRAN; KUMA; REDDY, 2006).
Após o diagnóstico, a conduta poderá ser, segundo CAPPELLETTE (2008), nada a fazer se
o paciente assim o desejar, sendo indicado o acompanhamento para controlar o aparecimento
11
das possíveis sequelas desta condição, citadas no parágrafo anterior; extração do dente
impactado e fechamento do espaço com movimentação ortodôntica, ou extração do dente
impactado e restabelecimento da oclusão por meio de prótese. Segundo PROFIT (1993),
autotransplante do dente impactado oferece índices de sucesso consideravelmente baixos.
BISHARA (1976) sugere exposição cirúrgica e tracionamento do dente impactado até a
posição de oclusão e PURICELI (1987) sugere apicotomia seguida de tracionamento
ortodôntico.
O tratamento orto-cirúrgico tem se mostrado bastante eficiente principalmente quando bem
diagnosticado e realizado por meio de técnica adequada (MAGNUSSON, 1990). O
profissional e o paciente devem estar cientes das vantagens e riscos do tratamento, como a
necrose pulpar do dente, reabsorções do dente impactado e dos seus vizinhos, perda do tecido
de suporte, retração gengival, anquilose alveolodentária e a necessidade de um longo tempo
de contenção (TURPIN, 1995). Antes da exposição cirúrgica do dente impactado, deve-se
iniciar o tratamento ortodôntico com o objetivo de abrir espaço no arco dentário para
acomodar o dente a ser tracionado e nivelar e alinhar os dentes até o uso de um fio rígido para
impedir movimentos indesejados como a intrusão de dentes adjacentes (CAPPELLETTE,
2008). A exposição cirúrgica é realizada com o intuito de colocar um acessório no dente
impactado para posterior tracionamento. A literatura relata inúmeros dispositivos que podem
ser empregados para esta finalidade. A técnica da laçada com fio ortodôntico adaptado a
região cervical do dente foi muito utilizada, contudo, foi desestimulada em virtude da
necessidade de extensa remoção óssea para sua realização e estimular a reabsorção cervical
externa. A transfixação que consiste em fazer uma pequena perfuração na coroa dental para
transfixar o fio ortodôntico, também foi desencorajada em decorrência da necessidade de
posterior tratamento restaurador e dos possíveis danos pulpares como pulpites e reabsorção
interna (FOURNIER, 1982; CONSOLARO, 2003; BECKER, 2004;). Atualmente a técnica
mais utilizada é a colagem direta por ataque ácido e resina no dente impactado de brackets,
ganchos, botões ou fios (BISHARA, 1992). Esta apresenta como vantagem a necessidade de
menor remoção de tecido ósseo, limitada a uma área suficiente para acomodar a base do
acessório ortodôntico (ORDEGAARD, 1997).
Este trabalho tem por objetivo apresentar o caso de uma paciente que apresenta dois dentes
permanentes impactados na região anterior da maxila e que foi submetida à cirurgia de
remoção dos elementos decíduos e acesso aos elementos permanentes para colagem de
brackets com finalidade de guia para seu correto posicionamento na arcada.
12
RELATO DE CASO CLÍNICO
Paciente do sexo feminino, 12 anos de idade, acompanhada de sua avó, procurou a clínica de
Odontopediatria da UFSM, queixando-se da necessidade de tratamento ortodôntico e de que
dois dentes decíduos ainda não haviam esfoliado no caso os elementos 51 e 53. Pela
radiografia panorâmica foi diagnosticada a presença dos elementos 11 e 13 inclusos (figura
1).
Na anamnese foi constatado que a paciente não possuía nenhuma doença que pudesse atrasar
ou impedir qualquer tratamento sugerido. Ao exame clínico observou-se a presença em boca
dos elementos 51 e 53 em sua posição normal e do elemento 12 posicionado com a face
mesial voltada para o palato (figura 3).
No exame radiográfico periapical da região anterior da maxila não foi possível identificar
corretamente os dentes inclusos, portanto foi requisitada a radiografia panorâmica de topo.
Como no exame panorâmico não foi possível identificar a posição exata dos elementos
tridimensionalmente,
a
paciente
foi
encaminhada
para
realização
de
tomografia
computadorizada.
Através da tomografia computadorizada pode-se perceber que o elemento 11 estava mais
inclinado para a região palatal e o 13 mais vestibularizado, provocando saliência no tecido
gengival.
Por estar impedindo a erupção normal dos outros elementos dentários, e haver a
possibilidade de recuperar o espaço e prevenir a instalação de problemas oclusais mais graves,
foi preconizada a realização de intervenção cirúrgica. Concluído o diagnóstico, a avó
responsável pela paciente foi informada da necessidade da intervenção e o tratamento
procedeu-se com o consentimento da mesma.
Todo o procedimento foi realizado na clínica de cirurgia da UFSM, com a paciente
mostrando-se colaborativa, o que facilitava o atendimento. A sequência dos procedimentos foi
iniciada com a assepsia extraoral da face com algodão umedecido em Povidine Antisséptico
Tópico e seguida da higiene de lábios, bochechas, gengiva e palato, além dos próprios
elementos dentários visíveis com uma gaze umedecida em clorexidina 0,12%. Na sequência, a
aplicação de anestésico tópico benzocaína na região em que seria inserida a agulha da seringa
carpule. As anestesias utilizadas foram infraorbitárias do lado esquerdo e direito, região de
papilas e nasopalatina, além de anestesias infiltrativas na região de canino direito até incisivo
central esquerdo com o anestésico mepivacaína.
13
A incisão com lâmina 15 teve inicio no lado distal do canino decíduo, contornando-o pela
face vestibular e passando por trás do volume gengival provocado pela não irrupção do
elemento 13 até a distal do incisivo central decíduo contornando-o pela face vestibular até sua
face mesial (figura 4). Depois de completa a incisão, foi feita a sindesmotomia primeiramente
no elemento 51 seguido pelo elemento 53 e suas remoções com auxilio de fórceps. Após
remoção dos elementos decíduos, a visualização do osso palatino foi completa com auxilio de
afastadores para provocar o deslocamento de tecidos moles do elemento 12 até a região
mesial do 21 (figura 5). Em seguida foi feito a remoção óssea com auxílio de cinzel no local
indicado para a visualização do dente 11 e 13. Com isso, obtivemos a visualização do
impactado 11 e a seguir aplicação de ácido fosfórico em sua superfície palatina, seguida por
aplicação de adesivo Single Bond e fotopolimerização. A colagem do braquet na superfície
tratada foi feita com auxílio de resina composta para mantê-lo estável e fio de aço conectado
para futuro tracionamento ortodôntico e fotopolimerização novamente. O tratamento com
ácido fosfórico e adesivo Single Bond foi feito da mesma maneira no canino permanente
direito, agora visível, e colagem de braquet com resina composta foi feita em sua superfície
vestibular.
Foi feita a colagem de braquets auxiliares nos elementos 14 e 21 com resina composta após
o mesmo tratamento prévio de suas superfícies.
Em seguida, o reposicionamento dos tecidos e sutura em pontos simples com fio de sutura
número 4.0 – VICRYL.
Durante todo o procedimento fazia-se uso de soro fisiológico a 0,9% para remoção de
possíveis detritos. Após a cirurgia, foi prescrita medicação analgésica (Novalgina – uma
gota/kg de 4/4 horas por três dias).
A consulta do pós-operatório foi realizada uma semana após a cirurgia na clínica de cirurgia
da UFSM, e também uma semana após a cirurgia foi feita a ativação do aparelho ortodôntico
fixo pelo ortodontista. Avaliou-se a paciente e foi constatada boa cicatrização dos tecidos.
No exame clínico de acompanhamento, após três meses desde os procedimentos cirúrgicos,
foi observado completo reparo ósseo alveolar e dos tecidos na região onde os elementos
decíduos estavam situados, e considerável movimentação positiva ortodôntica dos elementos
que estavam inclusos (figura 7).
Um ano e meio após o procedimento cirúrgico, a paciente não evidenciava alteração
coronária, radicular ou periapical em nenhum dos dentes envolvidos no processo do
tratamento (figura 8). O aspecto da estrutura óssea e seios maxilares também se apresentava
dentro dos padrões normais. A paciente autorizou a utilização das imagens deste trabalho,
14
assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A). Até o término deste
trabalho a tomografia computadorizada não havia sido disponibilizada para exibição.
15
DISCUSSÃO
Da mesma forma que a presença do dente impactado, o tracionamento mecânico também
pode provocar alguns danos. Uma complicação frequente do tracionamento é a possibilidade
do dente não se mover devido à anquilose (Kajiyama, 2000), o que não foi o caso desta
paciente. Além disso, o movimento de um dente impactado envolve risco de desvitalização,
descoloração, reabsorção radicular externa, injúrias aos dentes adjacentes, perda óssea
alveolar, recessão gengival, aumento de coroa clínica e problemas de sensibilidade dentária.
Essas complicações resultam em um aumento do tempo de tratamento, problemas estéticos e,
às vezes, perda do elemento dental (Graber, Swain, 1984; Wreakes, 1979), porém no caso
clínico não foi constatada nenhuma complicação.
De acordo com Andrade, Lacerda (1996) e Van Gool (1973), o tracionamento ortodôntico é
a melhor opção de tratamento de dentes não erupcionados, mesmo frente à dilaceração.
Porém, o tratamento cirúrgico para tracionamento ortodôntico deve ser o mais conservador
possível e, de preferência, em campo fechado, permitindo que os dentes tracionados tenham
coroas clínicas praticamente normais, livres de recessões gengivais e com gengiva inserida
quando o dente estiver no plano oclusal (Andrade, Lacerda, 1996).
Vieira et al.(1997) relataram o caso de tracionamento de incisivo central superior direito
permanente retido por odontoma em uma paciente do sexo feminino de 8 anos, com auxílio de
aparelho ortodôntico removível. O uso de aparelhos removíveis durante o tracionamento pode
permitir a movimentação do dente retido sobre as raízes dos dentes contíguos, evitando
reabsorções radiculares e facilitando sua movimentação. O tracionamento com aparelhos
removíveis pode ser realizado com sucesso, desde que bem planejado através da atuação
multidisciplinar. Porém, após consideração do caso da paciente deste relato clínico tomou-se a
decisão de fazer uso de aparelho fixo, já que seria mais seguro para o tratamento e assim não
depositando a responsabilidade maior para a paciente. Na erupção normal, a coroa do dente
passa através da lâmina própria. A ligação dental à lâmina própria é reforçada por fibras que
estiram dentro da gengiva até a borda do osso alveolar e pelo feixe de fibras circulares na
gengiva livre (Shicher, 1966). Geralmente, dentes que erupcionam numa posição mais alta no
alvéolo tendem a ter uma coroa clínica maior (Lundberg, Wennstrom, 1988; Maynard,
Ochsenbein, 1975). É importante, para o dente em erupção, emergir o mais próximo da crista
alveolar e da lâmina própria, com epitélio gengival livre e inclinação axial aproximadamente
normal (Kajiyama, 2000). A tração em direção para frente e para baixo do incisivo impactado
pode causar a erupção do dente para fora da gengiva inserida, e isso não é recomendado. Para
16
evitar a exposição do dente impactado em uma posição gengival alta, é usualmente necessário
tracioná-lo para o lado palatal, para direcioná-lo dentro dos tecidos periodontais, assim que
irromper na crista do osso alveolar e margem gengival (Kajiyama, 2000). Vermette et al.
(1995) notaram que a técnica cirúrgica tem muito a ver com a recessão gengival. A superfície
do esmalte é coberta pelos remanescentes do órgão do esmalte, e estas células são conhecidas
por produzir inserção epitelial (Boyd, 1982; Provenza, Seibel, 1986). Pode ser que expondo a
coroa do dente precocemente, isso conduza à perda do órgão do esmalte ligado à inserção
epitelial, e esta perda pode resultar em recessão gengival. Quando a ferida cicatrizar, por volta
de uma semana, a tração ortodôntica deve começar (Kajiyama, 2000).
Para o caso onde se emprega fio ortodôntico no nível cervical da coroa, tem-se uma
intervenção mais radical com o deslocamento de um amplo retalho muco periostal e grande
osteotomia para permitir a colocação do fio de aço. Segundo McBride (1979) tal atitude
poderia provocar danos periodontais se não houvesse recolocação do retalho cobrindo a área
operada, e de acordo com Cruz e Silva (1994) também possível anquilose ou reabsorção
devido a grande exposição radicular que ocorre com a eliminação do tecido periodontal. A
outra desvantagem é a perda de inserção gengival e a falta de controle da direção de aplicação
de força, o que dificulta guiar o dente para posição desejada. Silva Filho et al. (1994)
relataram que a técnica mais apropriada para permitir o tracionamento ortodôntico desses
elementos impactados seria a colagem do acessório ortodôntico na coroa do dente, uma vez
que a abertura óssea seria mais conservadora. Porém uma colagem ideal exige a secagem
completa da superfície de esmalte para garantir o bom condicionamento ácido e fixação da
resina.
Baseado nesses autores, optamos por utilizar a técnica de colagem por ser menos danosa ao
procedimento, para o qual obtivemos resultado satisfatório.
Quando o dente encontra-se muito alto, esse procedimento é questionável posto que a
colagem torna-se difícil e a perda do acessório durante o procedimento ortodôntico de
tracionamento exige uma nova intervenção cirúrgica. Por essa razão a paciente deve
permanecer com consultas frequentes e tratamento com aparelho ortodôntico fixo.
17
CONCLUSÃO
Com a realização do presente caso pode-se concluir que um tratamento eficaz depende não
apenas de uma correta avaliação diagnóstica, mas também de um estudo clínico detalhado do
caso em particular, considerando que a literatura relata diferentes opiniões de profissionais a
respeito e diversos métodos de abordagem para cada caso específico de pacientes com
elementos dentários anteriores superiores impactados. Portanto, a satisfação do paciente, bem
como o sucesso clínico só é possível quando o profissional envolvido conhece as formas de
tratamento e analisa o melhor momento para uma intervenção.
18
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21
FIGURAS
Figura 1. Radiografia Panorâmica inicial.
Figura 2. Radiografia Panorâmica final (18 meses apos procedimento cirúrgico).
22
Figura 3. Aparência clínica inicial.
Figura 4. Incisão.
Figura 5. Visualização dos elementos.
Figura 6. Final da cirurgia.
Figura 7. Três meses de pós-operatório.
Figura 8. 18 meses de pós-operatório.
23
ANEXO A – SEQUÊNCIA CLÍNICA
Figura 1. Situação inicial.
Figura 2. Profilaxia com clorexidina.
Figura 3. Anestesias locais.
Figura 4. Incisão.
Figura 5. Exodontia do elemento 51.
Figura 6. Exodontia do elemento 53.
Figura 7. Afastamento dos tecidos.
Figura 8. Visualização dos elementos.
24
Figura 9. Aplicação de ácido fosfórico
no 11.
Figura 11. Fotopolimerização do 13 após
mesmo procedimento do 11.
Figura 10. Colocação de um braquet
com resina após adesivo single bond.
Figura 12. Término do procedimento
com mucosa já suturada.
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