empregos

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CLASSIFICADOS
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O ESTADO DE S. PAULO
DOMINGO, 2 DE JUNHO DE 2013
Empregos 3
Reportagem de capa
WERTHER SANTANA/ESTADÃO
Língua
portuguesa
derruba
candidatos
TESTE DO NUBE
G Como foi: um ditado feito com
os candidatos a uma vaga de
estágio. São ditadas 30 palavras
do cotidiano, como "seiscentos",
"escassez", "artificial", "sucesso",
"licença" e "censura"
7,22 mil
foi o total de candidatos
que tiveram testes
analisados em 2012
Pesquisa com aspirantes a estágio mostra
que 28,5% falharam em testes de escrita
Edilaine Felix
ESPECIAL PARA O ESTADO
Conhecer um segundo idioma
ou ter uma experiência internacional são itens importantes
em um processo seletivo, mas
não dispensam o cuidado dos
candidatos com o português.
Dados de uma pesquisa realizada pelo Núcleo Brasileiro de
Estágios (Nube) mostrou que
28,5% de uma amostra de alunos universitários foram reprovados em um teste ortográfico
na primeira fase de seleções de
estágio: um ditado de 30 palavras como “auxiliar” e “exuberância” e “censura”.
Acoordenadora doNube, Yolanda Brandão, revela que, de
7.219 testes avaliados, 2.081 foram reprovados. “Começamos
a receber contatos dos clientes
reclamando que os estagiários
não sabiam escrever. Esse dado
começou a nos preocupar, e decidimos realizar um estudo para identificar essa dificuldade.”
Segundo Yolanda, palavras
que são parte do cotidiano, como “revisão”, “harmonização”
e análise”, foram escritas com
“ç”,sem“h”ecom“z”.Osreprovados no teste erraram mais de
sete palavras do ditado.
Normalmenteaprova gramatical e a redação são a porta de
entrada para as seleções de vagas de estágio. A coordenadora
alerta que, ao ser desclassificado nessa fase, o candidato perde a oportunidade de mostrar
suashabilidadestécnicasecomportamentais. “Saber escrever
e falar é primordial em qualquer processo seletivo.”
O estagiário do Banco do Brasil André Ferreira Sousa, de 28
SEM ENGASGAR
Leitura
Adotar o hábito da leitura é essencial para uma comunicação
eficaz no mercado de trabalho.
Coloque o livro, o jornal, a revista
e a internet no seu dia a dia
Adaptação ao ambiente
Saiba adotar tons diferentes
quando for conversar com um
recrutador e com os amigos nas
redes sociais
Vícios de linguagem
Evite-os. Essas formas são adequadas para conversas informais. Antes de falar, organize o
pensamento e evite a ansiedade
anos, sabe da importância do
“bom português” para o mercado de trabalho. Ele é estudante
de administração de empresas
e participou de muitas seleções
antes de conseguir essa vaga.
Mesmo sem retorno dos testes gramaticais e redações feitas durante os programas de estágio, Sousa procura se atualizar para não derrapar no português. “É muito importante falar
corretamente para conseguir
uma boa colocação profissional. Eu fiz alguns cursos de gramática e também da nova reforma ortográfica para melhorar
meu desempenho”, ressalta.
Sousa não pretende parar de
estudar a língua portuguesa e já
está planejando cursar outro
módulo da nova ortografia. “O
novoacordoé muitodifícil, precisa treinar diariamente, por issoquerofazernovamenteocurso para reforçar”, diz o estagiário, que já traça metas para uma
nova formação universitária:
ciências contábeis.
O estagiário reconhece que
precisacontinuarestudandopara se destacar no próximo vestibular, em concursos e nos testes e entrevistas de emprego
que surgirem. “Sei como é importanteterumaboaapresentação”, diz o estagiário.
28,8%
2.081 candidatos reprovados
Por gênero
HOMENS
ENTRE 14 E 18 ANOS
“Sim, existe uma deficiência
quando assunto é língua portuguesa”, afirma a gerente nacional de recrutamento e seleção
da ManpowerGroup, Lisângela
Melo, ao falar sobre os erros de
português cometidos por jovensnos testes para o preenchimento de vagas de estágio.
Ela esclarece que a redação e
os testes gramaticais aplicados
são uma pré-seleção para verificar a escrita, o vocabulário e o
encadeamentodasideiaseiden-
tificar se o candidato continuará no processo seletivo.
“Ojovemestámenospreparado de uma maneira geral e não é
tão estimulado à leitura”, diz.
Ela destaca que muitos adquiriram uma escrita “resumida”
por causa das redes sociais.
Com isso, cometem erros de
concordância e se perdem na
hora de defender uma ideia.
Mas ela lembra que não é somente no teste que o candidato
é avaliado. “Na entrevista, ele é
mais avaliado ainda, por isso
não basta escrever bem, tem
que falar corretamente para
conseguir a posição.”
Para a gerente da Page Talent, Manoela Costa, a leitura é
mesmo fundamental para uma
comunicação eficiente. “O jovem que lê certamente se sairá
25,0%
ENTRE 19 E 25 ANOS
31,1%
ENTRE 26 E 30 ANOS
30,8%
ACIMA DE 30 ANOS
28,8%
Por nível de estudo
CURSO TECNOLÓGICO
30,0%
CURSO SUPERIOR
28,5%
Por cursos que
mais reprovaram
PEDAGOGIA
50,0%
JORNALISMO
Sousa. Estudante de administração já fez curso para entender nova reforma ortográfica
● Reprovação
“Estávamos preocupados
porque cada vez mais os
candidatos eram
reprovados na primeira
etapa do processo seletivo:
um ditado com 30 palavras
do cotidiano. Encontramos
palavras como 'premiça',
'acrécimo' e ‘conhecidência’,
nos testes de alunos do
quarto ano do ensino
superior”
Yolanda Brandão
COORDENADORA DO NUBE
Viscardi. Aula de português ajudou aluno a se comunicar
gicoedegramática, eeleconfessa que não teve dificuldade.
“Ter feito Kumon de português
me ajudou demais, inclusive no
momento da entrevista de emprego”, acrescenta Viscardi.
O jovem reconhece a importância de uma comunicação
oral e escrita eficiente no ambiente profissional. Para ele, o
hábito da leitura, bastante incentivado nas aulas do Kumon,
é essencial para melhorar o vocabulárioetermais desenvoltura e segurança durante testes e
conversas profissionais.
Enquanto espera por uma
oportunidade de estágio e sem
saber os reais motivos da não
aprovaçãoemalgunstestes,Alexandre Cavalcante de Freitas,
de 22 anos, procura melhorar a
comunicação para não tropeçar
naspalavrasaosecandidatarpara uma nova oportunidade.
Freitas sabe que, para enfrentar as dinâmicas para uma vaga
de estágio, é preciso estar afiado no português. O jovem está
no terceiro ano de ciências da
computação e, atualmente, trabalha como atendente em uma
concessionária de carros, mas
não desiste de uma colocação
em sua área. “Já participei de alguns processos seletivos para
estágio, não aceitei algumas
oportunidadesenãofuiaprovado em outras, mas nunca soube
osmotivosdareprovação”,conta o estudante.
Independentemente de saber o resultado, ele está interessado em se comunicar bem e
em ter um bom texto, por isso
fezcursosdeortografiaegramá-
melhor durante testes de redação e de gramática.”. Ela revela
que a média geral é baixa nos
testes de português. “Percebemos avaliando o teste e também durante a entrevista”, diz.
Manoela acha que o jovem
precisa separar a linguagem informal, as mensagens instantâneas e a agilidade das conversas
nas redes sociais da realidade
do mercado de trabalho.
“O jovem precisa saber como
falar em cada momento. Ele
não pode falar com o sênior da
empresa como fala com os amigos nas redes sociais, tampouco escrever um e-mail nos mesmos moldes”, reforça.
Manoela orienta os jovens a
ficarematentosaosvíciosdelinguagem e aos estrangeirismos.
Ela também enfatiza que as
preocupações com outros requisitos levam os candidatos a
esquecer do mais importante: a
língua portuguesa. Segundo a
consultora da da Page Talent,
isso não quer dizer que os outros atributos sejam dispensá● Avaliação
“Não é somente no teste
escrito como provas,
ditados e redações que o
candidato é avaliado. Na
entrevista, ele é mais
analisado ainda, por isso
não basta escrever bem. A
pessoa tem de falar
corretamente para
conseguir a posição”.
Lisângela Melo
GERENTE DA MANPOWERGROUP
49,0%
MATEMÁTICA
41,4%
PSICOLOGIA
ARQUIVO PESSOAL/DOUGLAS VISCARDI
41,0%
CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO
40,0%
Por cursos que
reprovaram menos
DIREITO
ENGENHARIA ELÉTRICA
NUTRIÇÃO
ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
RELAÇÕES PÚBLICAS
MEDICINA VETERINÁRIA
COMÉRCIO EXTERIOR
26,0%
25,5%
24,5%
20,0%
20,0%
18,0%
17,0%
INFOGRÁFICO/ESTADÃO
tica. “Os cursos me ajudaram a
melhoraraescritaeacomunicação,porissoquerocontinuarestudando”, relata o jovem.
Oportunidades. O Centro de
Integração Empresa-Escola
(Ciee) também vê no dia a dia a
dificuldade que alguns alunos
tem com a língua portuguesa.
“Encontramoscadavezmaiserros graves de português nas redações feitas pelos candidatos
aumavagadeestágio”,dizaanalista de recrutamento e seleção
Lilene Cristiane Ruy.
Os processos seletivos colocam a redação e ditado na primeira fase do processo com o
objetivo de promover o “corte”
dos priores candidatos. “O que
reprova o estagiário para uma
vaga é a redação”, enfatiza.
‘O jovem está menos preparado para o mercado’
Especialistas de RH
confirmam que os erros
de português crescem
nos processos seletivos e
eliminam cada vez mais
26,6%
Por Idade
Preparação. O estudante do
quartoano dematemáticaDouglas Miranda Viscardi, de 21
anos, começou a aprimorar o
português na infância, com aulas de Kumon, um instituto de
ensino que tem como proposta
desenvolver no aluno o gosto
pela leitura e a capacidade de
interpretação de texto.
“Minha mãe me colocou no
Kumonaos cincoanos deidade,
primeiramentenasaulasde matemática e logo depois também
nas de língua portuguesa”. Ele
explica que as aulas, em paralelo com o ensino formal, auxiliaram sua trajetória durante a fase de alfabetização.
No entanto, Viscardi reconhece que estudar a língua pátria não foi válido somente para
a vida acadêmica. “Facilitou
quando comecei a estudar textos mais longos, nas redações
de vestibular, para analisar artigos e também durante os testes
dos processos seletivos para o
mercado de trabalho.”
Hoje, o aluno de matemática
é estagiário no Itaú Unibanco e
revela que teve tranquilidade
paraparticipardasetapasseletivas para a vaga. As fases do processoincluíamredação,testeló-
32,0%
MULHERES
veis nas seleções.
Cursos. A recrutadora do Ciee
Lilene conta que o centro de integração tem 1,5 milhão de estagiários cadastrados, sendo que
60% são do ensino superior. A
A preocupação com a defasagem no idioma, que fez com o
Nube elaborasse o estudo, quer
chamar atenção para a língua
portuguesa. “Os candidatos devemficarmaisatentosao português e não devem achar que são
reprovados porque a selecionadora não foi com a ‘sua cara’”,
orienta Yolanda, do Nube.
O problema, de acordo com
ela, vai muito além de escrever
“isento” com “z” ou “consciência” sem “sc”. “Eles não leem, e,
quanto menos leitura têm,
maiores as chances de a escrita
ser cada vez pior”, explica.
AcoordenadoradoNubealerta: “Os candidatos estão sendo
reprovadosnos testes deportuguês, fiquem atentos, usem as
fontesdeinformaçãoadequadamente a seu favor”.
instituição oferece, desde
2005,cursosparamelhorarodesempenho profissional, como
os de atualização gramatical e
comunicação virtual.
O Nube também proporciona aos estagiários cursos de temas como: falar em público e
regras ortográficas.
Já quem busca acompanhamento individualizado, o Kumon tem o curso de língua pátria. Segundo a coordenadora
de desenvolvimento do material didático da instituição, MarianaChaves,aprocurapelasaulas de português cresceu 71%
nos últimos sete anos.
Ela ressalta que estudar a língua pátria proporciona desenvoltura não apenas na escrita,
mas também na fala. “O material é desenvolvido com exercícios de escrita e leitura, sem
conteúdogramatical,comobjetivo de incentivar a compreensão”, diz Mariana.
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