Copyright : Prof. Dr. Herman S. Mansur, 2011 CARACTERIZAÇÃO DE MATERIAIS E INTERFACES Microscopia Óptica: Fundamentos, Teoria e Aplicações Práticas Dra. Alexandra A. P. Mansur Prof. Dr. Herman S. Mansur Sumário • Introdução • Histórico • Fundamentos • Microscopia Óptica • Princípios • Parâmetros • Equipamento • Microscopia de Luz Transmitida Introdução MICROSCOPIA = micro scopio Introdução Microscópios Resolução aproximada(a) Ampliação Fonte Requisito amostra Cristalografia Olho Humano 100m --- Luz Material (Volume) Não Microscópio de Luz 100nm 5~1500x Luz Material (Superfície) polida Não Microscópio eletrônico de varredura -MEV 10nm 100~200,000x Feixe eletrônico Material (Volume) Sim/Não dependendo modelo Filmes finos (espessura ~100 nm) Sim Filmes finos (espessura ~100 nm) Sim Microscópio eletrônico de transmissão – MET 0.5nm 1,000~300,000x Feixe eletrônico Microscópio eletrônico de transmissão de alta resolução – MET 0.1nm 3,000~1,000,000x Feixe eletrônico Microscopia óptica Microscopia Eletrônica de Varredura Microscopia Eletrônica de Transmissão Nanoscopia Fundamentos Radiação Eletromagnética vermelho azul 750 nm violeta 400 nm Comprimento de onda (nm) c = . E= h . = h . c/ Fundamentos Interação Radiação/Matéria: Absorção Quando a radiação atravessa um objeto sua intensidade é atenuada. Este fenômeno decorre da absorção desta radiação provocada por transições energéticas no material, sejam estas nucleares, eletrônicas, vibracionais ou rotacionais Luz Verde Objeto Verde Luz Branca Objeto Branco Luz Branca Luz Branca Objeto Preto Luz Branca Fundamentos Interação Radiação/Matéria: Reflexão A reflexão da luz (e das outras formas de radiação eletromagnética) ocorre quando as ondas encontram uma superfície ou outro limite que não absorve (ou absorve parcialmente) a energia da radiação envolvida e devolve as ondas para fora desta superfície. A luz que chega à superfície é denominada onda incidente e a que deixa a superfície é denominada onda refletida. A reflexão pode ser especular ou difusa. Fundamentos Interação Radiação/Matéria: Refração É a alteração na direção de propagação de um feixe incidente ao passar de um meio de densidade óptica para outro de densidade diferente. Este desvio da direção de propagação depende das diferenças de índice de refração dos meios e do comprimento de onda da radiação. n = velocidade da luz no vácuo = c/v velocidade da luz no meio n1 . sen 1 = n2 . sen 2 Qual é a velocidade da luz : . no vidro . no diamante Fundamentos Interação Radiação/Matéria: Refração Calcule o desvio das radiações limites da região do visível ao passar do ar para o vidro violeta vermelho azul Comprimento de onda (nm) Fundamentos Interação Radiação/Matéria: Difração É a mudança na direção de propagação de um feixe de radiação incidente decorrente da presença de obstáculo no caminho óptico. Esta mudança de direção depende das dimensões físicas do obstáculo, do comprimento de onda da radiação incidente e do ângulo de incidência. Este fenômeno promove a formação de interferências construtivas e destrutivas. Microscopia Óptica Princípio de Funcionamento A microscopia ótica se baseia na possibilidade de formação de imagens ampliadas reais ou virtuais de objetos que são colocados diante de lentes esféricas Microscopia Óptica Princípio de Funcionamento – Microscópio Composto Microscopia Óptica • Aspectos mais importantes: Resolução Contraste Profundidade de campo Distorção Microscopia Óptica Parâmetros: Resolução 1,22 . rd = 2 . n . sen() 2 objetos visualizados com baixa resolução 2 objetos visualizados com alta resolução Microscopia Óptica • Lei de Abbe (Abbe’s Law) rD= resolução pontual; n= índice de refração; =comprimento de onda da radiação; = ângulo da radiação incidente; 1,22 . rd = 2 . n . sen() NA = abertura numérica Baseado na Lei de Abbe qual a faixa de resolução típica para a microscopia ótica? 1,22 . rd = 2 . n . sen() Microscopia Óptica Parâmetros: Ampliação Aumento = altura da imagem/altura do objeto AumentoMO = Aumento da objetiva x Aumento da Ocular Microscopia Óptica Tipicamente, as ampliações das lentes objetivas situam-se na faixa de 4X a 100X. As lentes oculares geralmente oferecem aumentos de 8X a12X, sendo 10X as mais comuns. Portanto, ampliações típicas de microscopia óptica situam-se na faixa de ~40X a ~1000X. Faixa de ampliação útil: 500 x N.A. --- 1000 x N.A. Microscopia Óptica Parâmetros: Contraste Contraste: É o número de tons presentes em uma imagem. Microscopia Óptica • Profundidade de Campo: Dimensão linear máxima entre um plano acima (+) ou abaixo (-) e o plano de foco do espécime observado (pf ou plano focal). Microscopia Óptica Parâmetros: Profundidade de Campo Microscopia Óptica Parâmetros: Profundidade de Campo Importância do preparo da amostra!!!! Calcule a profundidade de campo para cada uma das lentes abaixo. Calcule a profundidade de campo para cada uma das lentes abaixo. Ar Óleo Microscopia Óptica Parâmetros: Aberrações Erros das lentes ou aberrações na microscopia óptica são causados por artefatos resultantes da interação da luz com o vidro das lentes. São dois os tipos principais de aberrações: esféricas e cromáticas Microscopia Óptica Parâmetros: Aberrações Esféricas Estes artefatos ocorrem quanto as ondas de luz que passam através da periferia das lentes não são trazidas para um mesmo foco que as que passam na região mais central da lente e que sofrem apenas ligeira refração quando comparado com o maior grau de refração sofrido pelas ondas que passam nas extremidades. Microscopia Óptica Parâmetros: Aberrações Cromáticas A aberração cromática é um tipo de defeito óptico resultante do fato da luz branca ser composta de diferentes comprimentos de onda. Quando a luz branca passa através de lentes convexas as diferentes radiações são refratadas de acordo com a sua freqüência Microscopia Óptica Parâmetros: Curvatura de Campo Copyright : Prof. Dr. Herman S. Mansur, 2011 Microscopia Eletrônica Solicitações Propriedades Superfície Recobrimento Interface Volume (“Bulk”) Diagrama representativo da caracterização de um material Íon Íon Elétron Fóton Elétron Fóton Superfície Recobrimento Interface Volume (“Bulk”) Diagrama esquemático da interação radiação-partículas com o material Sinais resultantes da interação do feixe de elétrons primários com a amostra. Representação esquemática da interação elétrons-matéria e principais sinais detectados na microscopia eletrônica Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) O equipamento de microscopia eletrônica de varredura possui um feixe eletrônico em foco (feixe primário), que varre a superfície da amostra, produzindo elétrons secundários, elétrons retroespalhados e raios X. Os detectores medem a intensidade do sinal em função da posição (x, y, I) na amostra formando a imagem em um monitor com aumentos de até 300.000X (Pulker, 1987) Limitação da ampliação: Aumentos de até 900.000X – Limite técnico teórico Máximo de 50.000X Usualmente 10.000X-30.000X Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Aplicações: • Metais, cerâmicas, polímeros, semicondutores... • Identificação de fases, constituintes e segregações; • Análise de superfície de fraturas • Caracterização microestrutural em áreas biológicas, engenharia, geologia, semicondutores... Principais características: • Resolução da ordem de 2 a 5 nm • Imagens com diferenciação de composição química • Topografia de picos e vales (profundidade de foco: 3D) • Análise química qualitativa e quantitativa, não destrutiva e com precisão de 1 -2% • Mapa de concentração elementar Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Histórico - Imagem: • 1935 – Knoll fez a descrição da concepção do MEV • 1938 – amostras finas (TEM); 8000X; d = 50nm • 1942 – amostras espessas (MEV); d = 500 nm (MO=100nm) • 1965 – primeiro MEV comercial Avanços: fontes de elétrons; eletrônica; computacional; imagens digitalizadas; desenvolvimento de programas para aquisição e processamento de imagens Dias atuais... Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Histórico – Análise química: • 1913 – Moseley identificou que a frequência emitida pelo raioX característico é função do número atômico do elemento (área 1mm2) • Década de 40 – patente da ideia de microanálise utilizando microscópio óptico para focar a área e feixe de elétrons para excitar uma pequena área (1µm2) • 1949-1951 – Castaing converteu a intensidade do raio-X em composição química pela definição do parâmetro k que é a razão entre a intensidade da radiação emitida por um elemento da amostra (Ii) pela intensidade emitida por um padrão contendo o mesmo elemento (I(i)): k = Ii/I(i) • 1956 – primeira microssonda comercial • Dias atuais: praticamente todo o microscópio eletrônico possui detector de raios-X característicos. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Diagrama representativo de funcionamento do microscópio eletrônico de varredura convencional. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Efeito do Vácuo • É necessário em função do baixo livre caminho médio dos elétrons, comparado com a radiação: se tiver ar presente na câmara os elétrons não chegariam na amostra • Problemas: Amostras com elevada umidade não são estáveis em alto-vácuo. • Soluções: • Retirar a umidade desde de que não destrua a estrutura do material (via química) • agentes quelantes que promovem o escoramento da estrutura através da formação de ligações estáveis Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Distância de Trabalho Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) • Função da estabilidade do feixe • Eletrons de menor energia são mais defletidos que os de maior energia Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) • Spot size = Abertura final = é o tamanho do feixe que incide na amostra • O microscópio não pode resolver detalhes menores que o spot size • É função da corrente do feixe, da distância de trabalho e da aceleração da voltagem Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Interações Elétron-Amostra Modelos representativos das interações atômicas decorrentes da perturbação do material com o feixe primário. Feixe primário Elétrons secundários Elétrons Auger Elétrons retroespalhados Luminescência Catódica Raios X característicos Material Raios X contínuos Raios X fluorescentes Sinais resultantes da interação do feixe de elétrons primários com a amostra. Diagrama esquemático mostrando vários dos efeitos causados pela interação de um feixe de elétrons com um alvo sólido Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Elétrons secundários (SE): • São elétrons da amostra que foram ejetados a partir da interação do feixe primário. • São elétrons de baixa energia (< 50 eV) • Em função da baixa energia são capazes de escapar somente de uma região muito rasa (<0,50µm) da superfície da amostra • Oferecem a melhor resolução de imagem • Este tipo de imagem fornece informações sobre a topografia da amostra: picos são brilhantes e vales são escuros Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Elétrons retroespalhados (BSE): • São elétrons do feixe primário que foram ejetados da amostra após choques aproximadamente elásticos com o núcleo dos átomos que compõem o material • Apresentam elevada energia : 50eV até à tensão de aceleração do feixe • Sua maior energia resulta em um maior volume de interação na amostra (1 a 3 µm), reduzindo a resolução • Este tipo de elétrons fornece informação sobre a composição química: o contraste é resultado das diferenças de número atômico na amostra • Maiores números atômicos retroespalham mais elétrons gerando áreas mais brilhantes nas imagens. • Não permite a identificação dos materiais mas da heterogeneidade da composição Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) (a) (b) Figura.7.15 – Fotomicrografias de ouro em carbono observadas no MEV utilizando (a) SE e (b) BSE. Profundidade de campo: Feixe eletrônico Superfície amostra Profundidade de campo Plano de foco Região em foco Ilustração relativa á profundidade de campo obtida em MEV. Profundidade de campo: Aspectos Importantes na Execução e Interpretação de Resultados de MEV Aumento de E Profundidade de penetração Volume de interação Aumento de Z Variação do volume de interação e profundidade de penetração do feixe de elétrons da amostra com o aumento da energia do feixe (E) e com o aumento do número atômico (Z) dos elementos que compõem a amostra. Raios- X característicos : Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) • É uma análise de espectroscopia • Usualmente está acoplada em microscópios eletrônicos de varredura Sinais resultantes da interação do feixe de elétrons primários com a amostra. Raios- X característicos : Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) Raios- X característicos : Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) Raios- X característicos : Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) Raios- X característicos : Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) Raios- X característicos : Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) Raios- X característicos : Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) 1000 Ca C 900 800 Au P 700 600 500 Si Au 400 Na 300 200 O Al Ca 100 Ca 0 0 P Si Au A Ca 5 • Os picos detectados no espectro indicam os elementos presentes na amostra • A intensidade dos picos estão associados com a concentração do elementoo 10 Raios- X característicos : Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) Accelerating voltage (kV) 15.0 Beam current (nA) 750.000 Magnification 30 Live time 30 Preset Time (s) 30 Elt C O Na Al Si P Ca XRay Ka Ka Ka Ka Ka Ka Ka Int 204.9 39.4 55.2 19.2 121.6 289.8 24.1 Error 2.6136 1.1457 1.3564 0.7990 2.0133 3.1081 0.8968 K 0.5459 0.0582 0.0379 0.0126 0.0846 0.2281 0.0327 1.0000 Kratio 0.2037 0.0217 0.0142 0.0047 0.0316 0.0851 0.0122 0.3732 W% 68.52 12.55 2.52 0.63 3.80 10.55 1.44 100.00 A% 79.97 11.00 1.54 0.33 1.90 4.77 0.50 100.00 ZAF 3.3659 5.7841 1.7812 1.3285 1.2030 1.2389 1.1799 7.2.3.1. Aplicações de Microscopia Eletrônica de Varredura e EDS (a) (b) Figura.7.18. a)Fratura frágil de aço (500x); b) Imagem madeira da planta Switenia macrophylla. Figura.7.19. Fotomicrografia de Inseto (a) (b) Figura.7.20. Olhos compostos de mosca, a) sem danificar; b) danificado pelo feixe (5 kV x 1, 100). Figura.7.21. Papel de filtro, a) 5 kV ; b) 25 kV (x 1400) Figura.7.22. Micrografia de Pó sinterizado, a) 5 kV ; b) 25 kV (x 7200) Figura.7.23. Fotomicrografia de Inseto Figura.7.23. Fotomicrografia dos óvulos de acaro de carpete Hymenolepis dimunata. Figura.7.24. Imagem de elétrons secundários de espuma de poliestireno (a) (b) Figura.7.25. Micrografia de sistemas biológicos; a) hemácias; b) ácaro; c) Streptococcus (c) Figura.7.26. Espectro de EDS de liga Nd-Fe-B utilizado na fabricação de imas permanentes. Copyright : Prof. Dr. Herman S. Mansur, 2011 7.2.4. Microscopia Eletrônica de Varredura Ambiental (MEV-Ambiental) Figura.7.27. Representação esquemática de um microscópio eletrônico de varredura ambiental. Figura.7.27a. Detalhe do sistema de pressão do MEV ambiental 7.2.4.1. Aplicações de Microscopia Eletrônica de Varredura Ambiental a) Amostras não-condutoras Figura.7.28. Imagens de Nitreto de silício (esquerda) e cerâmica convencional (direita) b) Amostras hidratadas Figura.7.29. Imagens de grãos de pólen Figura.7.30. Imagens de cabelo humano com gotículas de água (esquerda) e papel úmido (direita) Copyright : Prof. Dr. Herman S. Mansur, 2011 7.2.5. Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET) imagem Lentes de projeção Lentes objetivas amostra iluminação Figura.7.31. Diagrama representativo do equipamento de microscopia eletrônica de transmissão (MET) Exemplos de aplicações: • Imagens da superfície do material com resolução da ordem de 0,2 nm. • Análise de defeitos, degraus ; • Análise de nanopartículas; • Avaliação de filmes finos e contornos de grão; • Análise de precipitação e recristalização "in situ"; • Identificação de composição de fases. (a) (b) Figura.7.32. Imagem por MET de: a) ultra-estrutura de partículas poliméricas-Látex; b) detalhe ampliação superior (30.000x) Figura.7.33. Imagens de Ultra-estrutura de Tecidos e Células: fibroblasto Figura.7.34. Capilares vasculares – Células sanguíneas vermelhas (vermelho), células endoteliais (azul) e colágeno (laranja) Figura.7.35. Fotomicrografias de microscopia eletrônica de transmissão de interface esmalte, dentina com sistema restaurador composto de polímero (“resina”) e partículas inorgânicas (“carga ou reforço”) 7.2.5.1. Preparação de Amostras para Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET) • Etapas que devem ser cumpridas no sentido de obter amostras (biológicas, poliméricas e compósitos) orgânicas estáveis para observação por MET • Fixação do material, geralmente utilizando glutaraldeído (agente reticulante de moléculas de proteína) e tetróxido de ósmio (estabilizador de membranas). • Desidratação da amostra; • Permeação com resina para polimerização em um bloco sólido. Sem esta estrutura a amostra colapsaria em alto vácuo; • Corte da amostra: utilização de um equipamento ultramicrótomo, para produzir amostras com seção de 15 – 100 nm de espessura. O ultramicrótomo consiste de finas laminas de vidro ou diamante; • As amostras delgadas obtidas são colocadas em reticulados metálicos e recobertas com filme fino polimérico (formvar) para observação no microscópio;