Revista Perio Março 2013.indd

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Braz J Periodontol - March 2013 - volume 23 - issue 01
RELAÇÃO ENTRE FENÓTIPO PERIODONTAL FINO E
DESENVOLVIMENTO DE DOENÇA PERI-IMPLANTAR:
AVALIAÇÃO CLÍNICO-RADIOGRÁFICA
Correlation between thin periodontal phenotype and peri-implant disease: a clinical and
radiographic analysis
Priscila Ladeira Casado1, Letícia Ladeira Bonato2, José Mauro Granjeiro3.
1
Pós-doutoranda – PhD em Morfologia; Núcleo de Terapia Celular – Unidade de Pesquisa Clinica e Instituto de Biologia – Universidade Federal Fluminense - Niterói, RJ, Brasil;
2
Mestranda em Odontologia - Universidade Federal Fluminense - Niterói, RJ, Brasil.
3
Doutor em Química - Unidade de Pesquisa Clinica e Instituto de Biologia - Universidade Federal Fluminense - Niterói, RJ, Brasil.
Recebimento: 15/01/13 - Correção: 25/02/13 - Aceite: 06/06/13
RESUMO
A presença de um tecido gengival saudável ao redor dos implantes dentários, com adequada faixa de gengiva
ceratinizada, é um fator primordial não só para a estética, mas para o sucesso em longo prazo. Estudos tem consolidado
a importância do fenótipo periodontal na reabilitação em implantodontia e no risco do desenvolvimento de doença periimplantar (DPI). O objetivo deste estudo foi avaliar se o fenótipo periodontal fino é um fator de risco ao desenvolvimento
de DPI. Material e métodos: 215 pacientes apresentando 754 implantes osseointegrados foram incluídos no estudo.
O critério de exclusão foi: falha dos implantes antes do período de osseointegração. Todos os implantes foram instalados
utilizando a técnica de dois estágios cirúrgicos. Os pacientes foram avaliados quanto ao estado de saúde geral, uso
de medicamento e exame oral, incluindo identificação dos fenótipos periodontal e peri-implantar. De acordo com as
características clínico-radiográficas, os pacientes foram divididos em grupo controle (saúde peri-implantar, n=129)
e grupo DPI (DPI, n=86). As variáveis nominais foram comparadas pelo teste do qui-quadrado. Variáveis contínuas
foram expressas como média e comparadas pelo teste não-paramétrico de Kruskall-Wallis. Valores de p<0.05 foram
considerados significantes. Resultados: Os pacientes do grupo controle diferenciaram significativamente do grupo
doente em relação ao fenótipo periodontal (p < 0,001). Pacientes com fenótipo periodontal fino apresentaram 3,45
mais chances de desenvolver DPI comparados aos pacientes com fenótipo espesso (OR 3,45). No entanto, o fenótipo
peri-implantar não diferenciou o grupo controle do doente (p = 0,26). Conclusão: O fenótipo periodontal fino é um
fator de alto risco ao desenvolvimento de DPI. No entanto, futuros estudos são necessários, considerando os aspectos
biológicos envolvidos no desenvolvimento de DPI associado ao tipo de fenótipo.
UNITERMOS: peri-implantite; periodonto, fenótipo, diagnóstico. R Periodontia 2013; 23:68-75.
INTRODUÇÃO
A utilização de implantes endósseos para a reabilitação
oral de pacientes parcialmente e totalmente edentados
é, atualmente, uma técnica com resultados altamente
previsíveis (Garcés & Escoda, 2004). Estudo retrospectivo de 5
anos, relatou índice de sucesso de 95,57% em 271 implantes
instalados na mandíbula e maxila (Groisman et al., 2001).
No entanto, o Sexto Workshop Europeu de Periodontia em
2008, despertou a comunidade científica para o crescente
aumento do índice de insucesso associado à reabilitação
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com implantes endósseos, o qual está associado à falha na
osseointegração (Block & Kent, 1990; Ismail, 2001; Moheng
& Ferin, 2005).
Estas falhas em implantodontia, de acordo com Lindhe
& Meyle (2008), encontram-se intimamente associadas às
doenças peri-implantares (DPI), definidas como um termo
coletivo para o processo inflamatório nos tecidos ao redor
dos implantes osseointegrados (Albrektsson & Isidor, 1994).
A mucosite peri-implantar foi definida como um processo
inflamatório reversível no tecido mole ao redor de um
implante em função, enquanto que a peri-implantite é um
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processo inflamatório caracterizado por perda óssea adicional
(Salvi et al., 2007).
Dentre os fatores de risco relatados na literatura para
o desenvolvimento de DPI, estão: infecção bacteriana,
sobrecarga oclusal, fatores genéticos e exposição precoce
do implante (Block & Kent, 1990). Pacientes apresentando
diabete não controlada, abuso de álcool e tabagismo também
estão incluídos no grupo de risco para instalação de implantes
dentários (Smith et al., 1992; Bain & Moy, 1993; Weyant,
1994). A história prévia de periodontite (Casado et al., 2011)
tem mostrado ter grande associação com o desenvolvimento
de DPI. No entanto, fatores anatômicos locais característicos
das regiões peri-implantares podem ter associação significativa
com o desenvolvimento da doença (Jovanovic, 1994).
Os tecidos mole e duro ao redor dos implantes
endósseos mostram algumas similaridades com o periodonto.
Contudo, algumas diferenças devem ser consideradas para
um prognóstico previsível, como: a ausência de cemento e
ligamento periodontal na região peri-implantar; a orientação
das fibras colágenas no tecido mole peri-implantar, as quais se
encontram paralelas e não inseridas à superfície do implante;
e a vascularização (Jovanovic, 1994).
A porção coronal do implante, circundada por uma fina
camada de fibras colágenas, possui estrutura vascular mínima.
Esta baixa vascularização é devido à ausência do suprimento
sanguíneo oriundo do ligamento periodontal, que não está
presente ao redor de implantes. Sendo assim, somente os
vasos sanguíneos presentes no periósteo e no tecido gengival
são responsáveis pela vascularização do tecido peri-implantar,
o que afeta diretamente os mecanismos de defesa e a resposta
regenerativa ao redor dos implantes endósseos. Por isso, a
defesa nesta região é feita, basicamente, pelas estruturas
que compõem o selamento biológico peri-implantar: epitélio
juncional, epitélio sulcular e tecido conjuntivo (Donley &
Gillette, 1991). A destruição da integridade da superfície
perimucosa do titânio leva à extensão da bolsa patológica
diretamente ao tecido ósseo, podendo resultar na perda do
implante endósseo (Jovanovic, 1994).
Baseando-se neste fato, diversos relatos consolidaram a
importância da presença de um tecido gengival saudável ao
redor de implantes dentários, com adequada faixa de tecido
ceratinizado, como fator primordial não só para a estética,
mas principalmente para o sucesso a longo prazo (Edel, 1995;
Kan et al., 2005; Fu et al., 2012).
Estudos recentes tem relatado a importância do fenótipo
periodontal na reabilitação em implantodontia (Francischone
et al., 2006). Indivíduos com gengiva saudável de fenótipo
espesso apresentam maior profundidade clínica de sondagem
do que indivíduos com fenótipo fino. Em indivíduos de gengiva
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fina e faixa estreita de tecido ceratinizado, o espaço biológico
de 3 mm torna-se grande para o biotipo gengival, enquanto
que em indivíduos de fenótipo espesso, o espaço biológico
é normalmente respeitado (Francischone et al., 2006). No
entanto, estudos incluindo um grande número de amostras,
caracterização fenotípica padronizada e procedimentos
estatísticos que evidenciem a influência do fenótipo na prática
clínica em implantodontia ainda são necessários.
Baseando-se nos fatores de risco previamente
determinados, na experiência da prática clínica e na possível
associação entre o tipo de fenótipo periodontal e a incidência
de DPI, este estudo objetivou avaliar se o fenótipo periodontal
fino é um fator de risco ao desenvolvimento de DPI. A
caracterização fenotípica ou a identificação de um grupo de
risco associado ao desenvolvimento de doença peri-implantar
poderá influenciar: (1) no planejamento em implantodontia,
selecionando o biomaterial ou técnica cirúrgica específica para
espessamento da gengiva; (2) no trans-operatório, através
da alteração fenotípica durante ou antes da instalação de
implante; (3) e na preservação do paciente após a instalação
de implante, diminuindo os intervalos de avaliação destes
pacientes caracterizados como grupo de risco.
MATERIAL E MÉTODOS
Pacientes
Um total de 215 pacientes, apresentando 754 implantes
endósseos osseointegrados, foram aleatoriamente
selecionados para este estudo. Todos os pacientes foram
recrutados do total de pacientes atendidos no curso de
Pós-graduação em Implantodontia da Universidade Federal
Fluminense e da Universidade Veiga de Almeida durante 1 ano.
Os procedimentos clínicos foram conduzidos de acordo com
as recomendações do Comitê de Ética em Pesquisa de ambas
as Instituições (registro 238/10 e 00706212.9.0000.5243
12/09, respectivamente). O termo de consentimento livre
e esclarecido foi obtido de todos os participantes. Os dados
clínicos gerais obtidos de todos os pacientes são mostrados
na tabela 1. Ficha de anamnese, incluindo hábito tabagista,
histórico médico e uso de medicamento foi preenchida
por todos os participantes. Os critérios de exclusão foram:
falha dos implantes, caracterizada como perda óssea
acima de 2 mm ou perda do implante, antes do período de
osseointegração (3-6 meses após instalação do implante),
doença periodontal ativa. Os critérios de inclusão foram:
possuir pelo menos 1 implante endósseo osseointegrado,
radiografia pós-operatória imediata mostrando o nível ósseo
peri-implantar, como forma de comparar com o nível ósseo
no momento da análise clinica. Todos os implantes foram
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instalados utilizando a técnica de dois estágios cirúrgicos em
locais que previamente apresentaram qualidade e quantidade
óssea favoráveis. Todas as avaliações clínico-radiográficas
foram realizadas por um único avaliador. Todos os pacientes
estavam sob manutenção periodontal/ peri-implantar, sem
qualquer atividade de doença periodontal que pudesse
influenciar na caracterização do fenótipo.
Diagnóstico da Doença Peri-implantar (DPI)
As regiões peri-implantares foram clinicamente e
radiograficamente avaliadas. O exame clínico consistiu
de inspeção visual e palpação, análise da inflamação da
mucosa, edema, profundidade clinica de sondagem (PCS),
sangramento a sondagem e sangramento espontâneo
nas quatro faces (mesial, distal, vestibular, lingual/palatina),
Tabela 1. Dados clínicos gerais avaliados durante a anamnese dos pacientes incluídos na pesquisa.
Controle
n=129
DPI
n=86
p-valor*
OR (IC)**
Doença Sistêmica*
42 (32.5)
21 (24.4)
0.19
0.67 (0.35-1.29)
Diabetes
2 (1,55)
5 (5.81)
0.08
3.92 (0.65-29.94)
Doença Reumática
7 (5,42)
3 (3.48)
0.5
0.63 (0.12-2.81)
Osteoporose
2 (1.55)
0 (0)
0.24
0.00 (0.00-6.14)
Hipertensão arterial
20 (15.5)
10 (11.6)
0.42
0.72 (0.29-1.72)
Doença cardiovascular
3 (2.32)
1 (1.16)
0.53
0.49 (0.52-5.44)
Hipotireoidismo
6 (4.65)
2 (2.32)
0.37
0.49 (0.07-2.76)
Asma
2 (1.55)
0 (0)
0.24
0.00 (0.00-6.14)
Fumantes
13 (10.0)
8 (9.3)
0.06
0.41 (0.15-1.13)
Qualquer medicação
9 (6.97)
5 (5.81)
0.73
0.82 (0.23-2.82)
Anti-hipertensivo
19 (14.7)
9 (10.46)
0.36
0.68 (0.27-1.68)
Antimicrobianos
0 (0)
0 (0)
-----
-----
AINE’s†
5 (3.87)
3 (3.48)
0.88
0.90 (0.16-4.45)
AIE††
4 (3.10)
1 (1.16)
0.35
0.37 (0.02-3.57)
Reposição hormonal
6 (4.65)
3 (3.48)
0.67
0.74 (0.14-3.46)
Antidepressivo
5 (3.87)
4 (4.65)
0.78
1.21 (0.26-5.39)
Parâmetros Avaliados
Condição Médica Geral
Uso de medicamento
† anti-inflamatório não-esteróide; †† anti-inflamatório esteróide; * valor de p considerando o teste do qui-quadrado de Fisher; **OR odds ratio
(chance de risco) IC (intervalo de confiança).
Tabela 2. Classificação do fenótipo periodontal (de acordo com Kao & Pasquinelli, 2002).
Fenótipo Espesso
Fenótipo Fino
Arquitetura plana do tecido mole e do osso
Arquitetura festonada do tecido mole e osso
Tecido mole fibroso
Tecido mole friável e delicado
Faixa larga de gengiva inserida
Faixa estreita de gengiva inserida
Osso subjacente espesso resistente ao traumatismo mecânico
Osso subjacente fino caracterizado por fenestração e deiscência
Reage à doença periodontal com formação de bolsa e defeito
infra-ósseo
Reage à doença periodontal e ao traumatismo com recessão de
tecido marginal
Forma dental quadrada
Forma dental triangular
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índice de placa dicotômico (0 = ausente/ 1 = presente) e
mobilidade do implante. Radiografia periapical, usando a
técnica do paralelismo, avaliou a presença de perda óssea
vertical peri-implantar, através da mensuração da altura óssea
comparada a radiografia inicial tirada imediatamente após
a instalação do implante endósseo. O tipo de plataforma
dos implantes analisados, a região de instalação e o tempo
de osseointegração foram relatados e comparados entre os
grupos. De acordo com as características clínico-radiográficas,
o total de pacientes incluídos na pesquisa foram caracterizados
como tendo saúde peri-implantar (grupo controle, n = 129)
– sem sinais clínicos de inflamação da mucosa peri-implantar
(ausência de sangramento à sondagem, edema e vermelhidão)
ou perda óssea - ou com doença peri-implantar (grupo DPI,
n = 86) – presença de sangramento à sondagem, mucosa
avermelhada e edema e/ou sinais de perda óssea patológica
(acima de 2 mm de perda) em pelo menos uma região.
Avaliação dos Fenótipos Periodontal e Periimplantar
Os fenótipo periodontal e peri-implantar foram avaliados
considerando os aspectos clínicos previamente descritos por
Kao & Pasquinelli, 2002 (tabela 2), sendo divididos em fino ou
espesso. Os mesmos critérios de avaliação foram considerados
no periodonto e no tecido peri-implantar para caracterização
do fenótipo. Na avaliação quanto ao fenótipo periodontal
todos os dentes anteriores foram avaliados. Na ausência
destes, os dentes posteriores foram considerados. Para
caracterização do fenótipo peri-implantar, todos as regiões
peri-implantares foram avaliadas.
Figura 1. Paciente do grupo controle mostrando fenótipo periodontal (seta preta) e periimplantar espessos (seta branca).
Figura 2. Paciente do grupo DPI mostrando fenótipo periodontal (seta preta) e peri-implantar
(seta branca) finos.
Análise estatística
As variáveis nominais foram expressas como frequências
e porcentagens. Para acessar a significância das variáveis
nominais entre os grupos, o teste do qui-quadrado (χ2) de
Fisher foi realizado. Variáveis contínuas foram expressas como
média e desvio padrão. O teste de Kruskall-Wallis foi utilizado
devido à ausência de normalidade na distribuição dos valores
das variáveis após análise por Shapiro-Wilk. Valores de p <
0,05 foram considerados significantes. A análise estatística foi
feita utilizando o software STATA 11.1 (StataCorp, Texas USA).
RESULTADOS
Figura 3. Paciente com fenótipo periodontal fino (seta preta) e fenótipo peri-implantar espesso
(seta branca).
Os resultados clínicos gerais mostraram semelhança entre
o grupo controle e DPI com relação a condição de saúde
geral, uso de medicamentos e hábito tabagista (tabela 1)
(p > 0,05). De acordo com a análise estatística, nenhuma
das condições gerais avaliadas foram consideradas de risco
ao desenvolvimento de DPI (p > 0,05). Dentre os dados
coletados durante o exame clínico-radiográfico da região
peri-implantar (tabela 3), o sangramento espontâneo (p <
0,001), a profundidade clinica de sondagem (p = 0,003) e
o índice de placa (0,002) mostraram ter significante maior
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Tabela 3. Dados obtidos após exame clínico-radiográfico da região peri-implantar.
Exame Peri-implantar
Controle
n=129
DPI
n=86
p-valor
OR (CI)
Sangramento espontâneo**
0.0
0.25±0.29
0.0001*
-----
PCS (mm)**
3.13±2,42
4.85±563
0.003*
-----
Índice de placa**
0.25±0.19
0.48±055
0.002*
Mobilidade do implante
0
5 (5.81)
0.005*
Perda óssea (mm)**
0
2.23±2.55
0.05*
Hexágono Externo
64 (49.6)
50 (58.1)
0.21
1.41 (0.78-2.54)
Hexágono Interno
10 (7.75)
8 ( 9.30)
0.68
1.22 (0.42-3.54)
Cone Morse
48 (37.2)
27 (31.3)
0.38
0.77 (0.42-1.43)
Outros
7 (5.42)
1 (1.16)
0.10
0.21 (0.01-1.70)
Superior
169 (44.3)
190 (50.9)
Inferior
212 (55.7)
183 (49.1)
0.07
1.30 (0.97-1.75)
Período de osseointegração
(meses)**
64.97±50.36
69.5±80.8
0.08
-----
2.59 (2.19-3.00)
Plataforma do Implante†
Região do implante†
* diferença estatisticamente significativa; ** foi utilizado o teste de Kruskall-Wallis devido a distribuição não normal dos valores; † teste qui-quadrado de Fischer
Tabela 4. Resultados da avaliação quanto ao fenótipo gengival nas regiões periodontal e peri-implantar, nos grupos controle e com doença
peri-implantar (baseado em Kao & Pasquinelli).
Controle
n = 129
DPI
n=86
Fino
29 (22,48)
43 (50)
Espesso
100 (77,51)
43 (50)
Fino
53 (17.8)
42 (48.8)
Espesso
76 (58.9)
44 (51.16)
Fenótipo
p-valor*
OR (CI)
0.00002**
3.45 (1.83-6.51)
0.26
1.37 (0.76-2.46)
Fenótipo periodontal
Fenótipo peri-implantar
* valor de p considerando o teste qui-quadrado de Fischer; * *diferença estatisticamente significativa·.
incidência no grupo DPI, assim como a perda óssea (p=0.05)
e a mobilidade do implante (p = 0,005). No entanto, o tipo
de plataforma do implante, a região de instalação e o período
de osseointegração não diferenciaram em relação a incidência
de DPI.
Considerando o fenótipo periodontal, os pacientes do
grupo controle diferenciaram significativamente do grupo
doente (p < 0,001). Pacientes com fenótipo periodontal
fino apresentaram 3.45 mais chances de desenvolver DPI
comparados aos pacientes com fenótipo espesso (OR 3.45).
No entanto, o fenótipo peri-implantar não diferenciou o grupo
controle do doente (p = 0,26).
DISCUSSÃO
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Evidências que falhas ao redor dos implantes tendem a
ocorrer em um grupo específico de pacientes (Ekfeldt et al.,
2001) podem indicar que características intrínsecas individuais,
tais como fatores genéticos, influenciam diretamente no
processo de osseointegração (Santos et al., 2002). A história
prévia de periodontite tem mostrado influenciar o índice
de sucesso em implantodontia (Renvert et al., 2007) e,
pacientes sem história de periodontite apresentam elevado
índice de sobrevida do implante (Zitzmann & Berglundh,
2008). Considerando os possíveis fatores de risco locais,
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relacionados ao periodonto, o fenótipo periodontal tem sido
estudado como forma de esclarecer sua relação direta com
o desenvolvimento de DPI, facilitando ainda a identificação
de possíveis grupos de pacientes susceptíveis a doença
(Francischone et al., 2006; Ronay et al., 2011). Por isso, este
trabalho objetivou avaliar se o fenótipo periodontal fino é um
fator de risco ao desenvolvimento de DPI. Nossos resultados
suportaram evidências da prática clinica em implantodontia
ao encontrar associação significativa entre a doença periimplantar e o fenótipo periodontal fino.
Em implantodontia, a avaliação do tecido gengival é de
fundamental importância para a caracterização do fenótipo
periodontal, contribuindo para a seleção dos procedimentos
cirúrgicos mais seguros e previsíveis na solução de defeitos
no tecido mole peri-implantar. A estética e a presença do
selamento biológico peri-implantar, com adequada faixa
de tecido ceratinizado, são fatores determinantes para
o sucesso dos tratamentos atuais (Francischone et al.,
2006). Por isso, algumas técnicas aplicadas para solucionar
defeitos periodontais, como o enxerto de tecido conjuntivo,
são atualmente utilizadas para tratamento de defeitos de
tecido mole peri-implantar, tais como ausência de tecido
ceratinizado, alteração da papila, perda da espessura de tecido
mole e exposição do componente protético. Contudo, de
acordo com Muller et al. (2000), as características biológicas
dos tecidos peri-implantar e as dificuldades oferecidas
pelo fenótipo periodontal do paciente devem sempre ser
consideradas no planejamento terapêutico.
O aumento expressivo do índice de insucesso em
implantodontia nos últimos anos apresenta relação direta
com o aumento da incidência de doença peri-implantar. Em
2008, Lindhe & Meyle relataram que a mucosite peri-implantar
ocorre em cerca de 80% dos indivíduos, e a peri-implantite
em até 56% dos indivíduos dos sítios implantados. Estes
relatos reforçam a importância de aumentar o entendimento
sobre os principais fatores relacionados ao desenvolvimento
dessa doença ao redor do implante, como forma de prevenção
de futuros fracassos na reabilitação oral.
De acordo com Tolstunov (2006) dois períodos importantes
caracterizam a falha no implante: (1) falhas precoces ou falhas
durante o período de osseointegração que ocorrem durante
o primeiro ano após a inserção do implante e da carga inicial
e, (2) falhas tardias que usualmente ocorrem um ano após
a inserção do implante. No entanto, é importante ressaltar
dois principais pontos: (1) as falhas podem ser conseqüência
de planejamento pré-operatório e execução da técnica de
instalação e, neste aspecto, está a caracterização correta do
fenótipo e identificação da necessidade de alteração local
do biótipo gengival antes da instalação do implante; (2)
considerando que os implantes já estejam osseointegrados,
independente da ocorrência de falha imediatamente após o
período de osseointegração ou nos anos subsequentes, todos
os implantes estão sujeitos ao mesmo ambiente intra-oral
e, portanto, às mesmas condições que possam levar a falha
desde a sua instalação.
As principais causas relacionadas à falha do implante
são: (1) baixa qualidade e quantidade de neoformação
óssea; (2) doenças que afetam o reparo ósseo;
(3) hábitos desfavoráveis tais como bruxismo e tabagismo;
(4) técnica cirúrgica inadequada gerando falta de estabilidade
primária; (5) prótese inadequada; (6) tipo de superfície do
implante; e (7) outros fatores desconhecidos (Tolstunov, 2006).
Considerando que durante a análise clinica geral e oral e a
execução da instalação do implante, os itens de 1 a 6 podem
ser excluídos de forma a minimizar a ocorrência futura de falha,
nos questionamos sobre o que são os fatores desconhecidos.
Estes, na verdade, podem ser subjetivos, tais como fator
genético e alimentação, ou aparentes, detectáveis na clinica
e, dentre estes estudamos o fenótipo periodontal. A principal
questão levantada foi: o tipo de fenótipo periodontal pode
influenciar no desenvolvimento de DPI e possível fracasso na
reabilitação do implante?
Em nosso estudo, 215 pacientes foram avaliados,
possuindo semelhantes características de saúde geral, uso
de medicamentos e hábito tabagista, como forma de excluir
quaisquer desses possíveis fatores como causadores primários
da DPI. O diagnóstico de DPI foi extremamente criterioso,
considerando os aspectos clinico-radiográficos da região
peri-implantar, além do relato do período de osseointegração
excluir qualquer possibilidade de fracasso precoce. Nosso
estudo também considerou uma distribuição homogênea
entre os tipos de implantes nos grupos controle e doente,
como forma de excluir a correlação entre tipo de implante
e DPI. Sendo assim, focamos na avaliação do fenótipo
periodontal e peri-implantar.
Um ponto de extrema importância ao se estudar os
fatores de risco locais relacionados ao desenvolvimento de
DPI é a relação entre causa e conseqüência. Apesar de no
nosso estudo não termos identificado diferença significativa
entre fenótipo peri-implantar fino e DPI, é importante
ressaltar que em regiões com DPI, o fenótipo fino pode ser
uma conseqüência da inflamação instalada na região, a qual
apresenta predomínio de citocinas pró-inflamatórias (Casado
et al., 2013) que degradam a estrutura da matriz extracelular
tornando o tecido gengival clinicamente mais friável e,
por conseqüência, com características de fenótipo fino na
avaliação clinica. Por isso, em nossa análise consideramos
não somente a caracterização do fenótipo peri-implantar, mas
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também do fenótipo periodontal, presente em regiões não
acometidas por DPI, excluindo assim a potencial influência
da resposta inflamatória na mucosa peri-implantar. Nossos
resultados foram altamente significativos ao mostrar que
pacientes com fenótipo periodontal fino apresentam risco
três vezes mais elevado de desenvolver DPI, confirmando
ainda que estudo anterior de Casado (2009) o qual relatou
aumento de risco de DPI em pacientes com fenótipo fino e
afirmou que o fenótipo periodontal espesso atua como um
fator protetor contra o desenvolvimento da DPI.
Curiosamente, observamos em nossos resultados que
nem sempre o paciente com fenótipo periodontal fino
possui fenótipo peri-implantar fino. Este fato se justifica pela
possível mudança de fenótipo que pode ocorrer durante a
manipulação cirúrgica para instalação de implante, ou mesmo
pela aplicação de enxerto conjuntivo subgengival e outras
técnicas de enxertia, capazes de alterar o fenótipo e assim
diminuir a incidência de fenótipo fino ao redor dos implantes.
Evidenciamos em nosso estudo que o fenótipo periodontal
fino é um fator de alto risco ao desenvolvimento de DPI. No
entanto, futuros estudos são necessários, considerando
não somente os aspectos clínicos e físicos que envolvem
a caracterização do fenótipo, mas também a identificação
dos mecanismos biológicos intrínsecos aos fenótipos fino
e espesso que possam estar causando risco ou proteção
ao desenvolvimento de DPI. Sugerimos que a identificação
e até a alteração de fenótipo sejam sempre considerados
na preparação do paciente que receberá o implante, no
planejamento cirúrgico-protético e na intensa proservação
deste paciente, como forma de limitar a influência desse
fator sobre o colapso do tecido peri-implantar.
were evaluated by chi-squared test. Continuous variables were
compared by non-parametric Kruskall-Wallis test. P-value <
0,05 were considered significant. Results: patients from control
and PID groups showed significant difference in periodontal
phenotype incidence (p<0,001). patients with thin periodontal
phenotype showed 3.45 times more chance of developing PID
compared to thick phenotype patients. However, peri-implant
phenotype did not differentiate between groups (p = 0,26).
Conclusion: this periodontal phenotype is a high risk factor
for PID. Futures studies are necessary considering biologic
aspects associated with periodontal phenotype.
UNITERMS: periimplantitis; periodontium, phenotype,
diagnosis.
ABSTRACT
Success rate in implant dentistry is related to the presence
of a healthy mucosae. Periodontal phenotype has been
identified as a possible risk factor for peri-implant disease
(PID). The aim of this study was to evaluate thin periodontal
phenotype as a risk indicator for peri-implant disease
development. Material and methods: 215 patients, presenting
754 endosseos implants, were included in this study. The
exclusion criteria was: implant failure before osseointegration
period. All implants were undergone to two stages surgery
technique. Clinical evaluation included analyses of general
healthy, use of medications and oral evaluation considering
periodontal and peri-implant phenotypes. According to clinic
and radiographical characteristics, patients were divided into
two groups: control (healthy peri-implant tissue, n = 129) and
PID (peri-implant disease tissues, n = 86). Nominal variables
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Braz J Periodontol - March 2013 - volume 23 - issue 01 - 23(1):68-75
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Endereço para correspondência:
Autor correspondente: Priscila Ladeira Casado
Rua Marques de Paraná, 303 – 40 andar – Centro
CEP: 24033-900 – Niterói – Rio de Janeiro – Brasil
Teles.: (021) 2134-5014
E-mail: [email protected]
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