Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 O ENSINO DE ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL EM UMA PERSPECTIVA LÚDICA Adriana Aparecida Silva [email protected] Faculdades Integradas Claretianas Profª Es. Claudia Ap. Hardt da Silva [email protected] Faculdades Integradas Claretianas RESUMO Este artigo tem por objetivo analisar o ensino de Artes Visuais na Educação Infantil e seu caráter lúdico, considerando a nova concepção trazida pelo Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998, v.3), que aponta as Artes Visuais como uma importante forma de expressão e comunicação humana, justificando sua presença no contexto da educação. Inicia com uma pesquisa bibliográfica, por meio da qual pudemos concluir que a maneira como o ensino de Artes foi contemplado nas legislações educacionais, determinou que esta área do conhecimento fosse colocada à parte daquilo considerado enquanto importante para a formação do aluno. Esta pesquisa nos deu suporte para a elaboração do questionário aplicado junto aos professores de Educação Infantil de duas escolas da rede municipal de ensino. A análise das respostas possibilitou constatar ser de fundamental importância o ensino de Artes, nos cursos de formação de professores. Palavras-chave: Artes Visuais. Educação Infantil. Lúdico. Trajetória do ensino de Arte no Brasil Para uma melhor compreensão acerca do ensino das Artes Visuais na Educação Infantil, nesta primeira parte abordaremos a trajetória do ensino de Arte no Brasil, pois as marcas se fazem visíveis na prática pedagógica de muitos professores que atuam com crianças de 3 a 6 anos de idade. A Escola Nacional de Belas Artes, criada por dom João VI após a vinda da Missão Artística Francesa ao Brasil em 1816, é uma referência importante para a compreensão do ensino de arte. A utilização de modelos europeus foi incorporada, valorizando o desenho como cópia fiel desses modelos, dando à arte uma conotação de luxo, somente ao alcance de uma elite privilegiada. O ensino de Arte no Brasil evoluiu de acordo com o momento histórico e a corrente pedagógica vigente, ou seja, a partir dessa época, do ponto de vista metodológico, as aulas de Arte das escolas brasileiras adquirem uma tendência tradicional, com reproduções de modelos propostos pelo professor. O objetivo era que os alunos tivessem coordenação motora, precisão, adquirissem hábitos de limpeza e ordem nos trabalhos que deveriam ser úteis na preparação da vida profissional. Segundo Fusari e Ferraz (1993, p. 27) [...] no ensino e aprendizagem de Arte, na Pedagogia Tradicional, portanto, é dada mais ênfase a um fazer técnico e científico, de conteúdo 114 O ensino de artes visuais na educação infantil em uma perspectiva lúdica reprodutivista, com preocupação fundamental no produto do trabalho escolar, supondo que assim educados os alunos vão saber depois aplicar esse conhecimento ou trabalhar na sociedade. Entre as décadas de 50 e 60, começou-se a notar a influência da Pedagogia Nova, onde o papel do professor era dar oportunidades para que o aluno se expressasse de forma espontânea, direcionando o ensino para a livre expressão. Contrapondo-se à educação tradicional, que era pautada por uma concepção de ensino autoritária, centrada na valorização do produto, a Escola Nova, rompendo com as cópias de modelos, valorizava o processo de trabalho. Contudo, houve uma valorização extrema do processo sem preocupação com os resultados, gerando simplificações nas idéias de autores como John Dewey, Victor Lowenfeld e Herbert Read, que ”acreditavam que a potencialidade criadora se desenvolveria naturalmente em estágios sucessivos, desde que se oferecessem condições adequadas para que a criança pudesse expressar-se livremente” (PCN, ARTE, 1998,p.21), gerando uma banalização do “deixar fazer”. Este princípio espalhou-se pelas escolas, levando inúmeros professores a extremos, onde tudo era permitido, o papel do professor tornou-se irrelevante e passivo, pois, como o objetivo era facilitar o desenvolvimento criador do aluno, não havia nenhum tipo de intervenção, resultando uma descaracterização progressiva da área. A partir da década de 60, houve uma reorientação de pensamento sobre o ensino das artes, vinculadas às tendências do pensamento da época, procurando definir a contribuição específica da arte para a educação do ser humano. No início da década de 70, diversos autores ancorados em John Dewey, foram responsáveis pela mudança de rumo do ensino de arte nos Estados Unidos, como apontam os Parâmetros Nacionais Curriculares de Arte, [...] afirmavam que o desenvolvimento artístico é resultado de formas complexas de aprendizagem e que, portanto, não ocorre automaticamente à medida que a criança cresce; é tarefa do professor propiciar essa aprendizagem por meio da instrução. [ainda, segundo esses autores] as habilidades artísticas se desenvolvem pelas questões que se apresentam ao aluno no decorrer de suas experiências de buscar meios para transformar idéias, sentimentos e imagens em um objeto material. Tal experiência pode ser orientada pelo professor e nisso consiste sua contribuição para a educação no campo da arte. (PCN, ARTE, 1998, p.22) Simultaneamente ao enraizamento da pedagogia tecnicista no Brasil, é assinada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 5.692/71, criando o componente curricular Educação Artística, como tentativa de melhoria do ensino de Arte na educação escolar, determinando que nessa disciplina fossem abordados conteúdos de música, teatro, dança e artes plásticas nos cursos de 1º e 2º graus, passando a compor um currículo que Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 115 O ensino de artes visuais na educação infantil em uma perspectiva lúdica propunha a valorização da tecnicidade e profissionalização. Para Zotti apud Zotti (2004, p. 19), a Educação Artística, bem como os demais componentes curriculares, a partir do parecer 540/77, vinculado à lei 5.692/71, passa a cumprir a ideologia da ditadura militar, “pautada numa visão tecnicista do aprender fazer, do aplicar técnicas e não necessariamente entender esse fazer como produto da ação do homem”. De acordo com Fusari e Ferraz (1993, p. 38), a implantação da Educação Artística como componente curricular não é bem definida, o que pode ser confirmado no parecer citado anteriormente: “não é uma matéria, mas uma área bastante generosa e sem contornos fixos, flutuando ao sabor das tendências e dos interesses”. Nesse sentido, são vários os desvios que comprometem o ensino da arte. É comum as aulas de artes serem confundidas com lazer, as atividades de desenho, colagem, pintura e modelagem sejam entendidas como terapia, descanso das aulas sérias, decoração para datas comemorativas, fazer o presente para os pais, pintar o coelho da Páscoa, preencher desenhos mimeografados como exercícios de coordenação motora e memorizar letras e números. Na década de 80, inicia-se um movimento de organização de professores de arte, com a finalidade de conscientizar e integrar os profissionais, ampliando as discussões sobre o compromisso, a valorização e o aprimoramento do professor, aliando-se aos programas de pesquisas de cursos de pós-graduação, o que faz surgir novas metodologias para o ensino e a aprendizagem de arte nas escolas. Logo após a promulgação da Constituição Federal de 1988, iniciou-se um movimento para a elaboração de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional, aprovada em 20 de dezembro de 1996. No artigo 26, parágrafo 2º da referida lei encontramos que “O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica [educação infantil, ensino fundamental e ensino médio], de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.” No que diz respeito à arte na Educação Infantil, foco de estudo deste trabalho, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) diz que: “tal como a música, as Artes Visuais são linguagens e, portanto, uma das formas importantes de expressão e comunicação humanas, o que, por si só, justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na educação infantil, particularmente.” (1998, p. 85 v.3) Para justificar uma mudança no ensino de Arte na Educação Infantil, o RCNEI (1998) aponta que na prática educativa, a maioria das propostas de Artes Visuais é entendida como passatempo em atividades de desenhar, colorir desenhos mimeografados, modelagem com massinha, decoração para as datas comemorativas, ou como reforço para a aprendizagem de conteúdos de outras disciplinas. Há, ainda, a constatação de que parte dos trabalhos Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 116 O ensino de artes visuais na educação infantil em uma perspectiva lúdica propostos às crianças acaba por ser realizada por adultos, sejam eles os pais ou os próprios professores, partindo do princípio de que o trabalho deve ficar próximo do “perfeito”. O documento oficial para a Educação Infantil (RCNEI, 1998 p. 89 v.3) propõe que ”as Artes Visuais devem ser concebidas como uma linguagem que tem estrutura e características próprias, cuja aprendizagem se dá por meio da articulação do fazer artístico, apreciação e reflexão”, ou seja, a integração entre o fazer artístico, o contato com obras de arte (museus, igrejas, livros, reproduções, revistas, artistas e artesãos regionais, espaços urbanos, etc) e a prática reflexiva, que articula a ação, percepção, sensibilidade, cognição e imaginação, conferem caráter significativo às Artes Visuais. O lúdico como mediador do ensino de artes visuais na educação infantil O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998, p.92 v.3) diz que: Embora todas as modalidades artísticas devam ser contempladas pelo professor, a fim de diversificar a ação das crianças na experimentação dos materiais, do espaço e do próprio corpo, destaca-se o desenvolvimento do desenho por sua importância ao fazer artístico e na construção das demais linguagens visuais (pintura, modelagem, construção tridimensional, colagens). Moreira (2005, p.16), entende por desenho o traço que a criança faz no papel ou em qualquer superfície, e também a maneira como a criança concebe seu espaço de jogo com os materiais de que dispõe, ou seja, a maneira como organiza as pedras e folhas ao redor do castelo de areia, ou como organiza as panelinhas, os pratos, as colheres na brincadeira de casinha, tornando-se uma possibilidade de conhecer a criança através de uma outra linguagem: o desenho de seu espaço lúdico. Antes de aprender a escrever, a criança desenha para comunicar suas sensações, sentimentos, pensamentos, a realidade, e, para justificar suas idéias, Moreira (2005, p. 15) cita a fala de uma criança: “Desenhar é bom para tirar as idéias da cabeça. Porque sempre que a gente tem uma idéia, a gente quer ter ela, brincar com ela, aí a gente desenha ela.” De acordo com Panitz (1999), a criança brinca, desenhando, desenha para brincar, com lápis preto, de cor, com giz, carvão, pincel ou com qualquer outro material. E quando criamos esse espaço lúdico, oferecemos à criança mais uma oportunidade dela desenvolver-se na sua plenitude. Corroborando com a autora, o RCNEI (1998) aponta que é muito importante a relação que a criança estabelece com os diferentes tipos de materiais, primeiro para que adquiram habilidades no uso de diferentes meios de comunicação, depois pela própria exploração sensorial e da utilização em diversas brincadeiras. Nesse sentido, as Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 117 O ensino de artes visuais na educação infantil em uma perspectiva lúdica concepções que o professor tem sobre esta linguagem exercem uma grande influência na escolha e organização das atividades. Neste contexto, Moreira (2005, p.109) relata uma experiência de trabalho com professoras primárias, orientando-as no desenvolvimento de atividades de artes plásticas, onde puderam experimentar o trabalho com pintura a dedo, argila, recorte, construção, dramatização de histórias com bonecos, máscaras e objetos, assim como, reviver algumas brincadeiras infantis. A proposta era descobrir em cada atividade, sua própria relação com os materiais, criando uma experiência viva com eles, ou seja, sujando as mãos com argila ou pintando o rosto, descobrir a repulsa ou o prazer que estas experiências provocavam, e torná-las mais atentas às reações das crianças quando trabalhavam com os mesmos materiais. No relato de uma professora, citado por Moreira (2005, p.117), fica claro a mudança de postura acerca da experiência artística: “Inicialmente me surpreendia repreendendo uma criança quando estava brincando com a tinta. Hoje vejo esta brincadeira como uma expressão muito espontânea na qual até o corpo (os braços, pernas, barriga, cabeça) serve de papel!” Moreira (2005, p.99-100) revela que através de uma atividade com crianças de 5ª série, recomeçou a sua própria atividade com o desenho, e o contato que teve com os lápis trouxe de volta o antigo prazer de brincar com as cores, e ao mesmo tempo, observando como o desenho de seus filhos se desenvolvia, compreendeu o aspecto lúdico do ato de desenhar: [...] a convivência cotidiana com o desenho infantil, fora do ambiente escolar, me possibilitou observar como o desenho interage com os jogos de casinha, com os carrinhos, com a bicicleta e a boneca. Às vezes, aparecendo em intervalos entre jogos mais movimentados, ou dentro da própria brincadeira: nos desenhos feitos com os brinquedos no chão, ou nos brinquedos desenhados no papel. As histórias desenhadas foram me contando sobre suas histórias. Quanto à importância do lúdico na Educação Infantil, Almeida (1984, p.15), diz que os jogos eram uma forma de atividade natural do ser humano, tanto na forma de recrear quanto de educar, já que entre os egípcios, os gregos, os romanos, os maias e até mesmo entre os indígenas, os jogos serviam de meios de transmissão de conhecimentos entre as gerações. No entanto, durante muito tempo, nas civilizações posteriores, os jogos foram negligenciados, principalmente pela escola, que os considerava desprovidos de significação. A pedagogia moderna fez ressurgir a necessidade e a importância dos jogos no processo ensino-aprendizagem, e é com Froebel que se fortalecem os métodos lúdicos na educação. Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 118 O ensino de artes visuais na educação infantil em uma perspectiva lúdica Para Almeida (1984, p.17) a teoria froebeliana foi que realmente determinou os jogos como fatores decisivos na educação das crianças, ou seja, “a melhor forma de conduzir a criança à atividade, à auto-expressão e à socialização seria através dos jogos.” Jean Piaget apud Almeida (1984, p.18) cita em diversas obras, fatos e experiências lúdicas aplicadas com crianças e deixa transparecer claramente seu entusiasmo por esse novo processo: [...] os jogos tornam-se mais significativos à medida que a criança se desenvolve, pois a partir da livre manipulação de materiais variados, ela passa a reconstruir objetos, reinventar as coisas, o que já exige uma “adaptação” mais completa. Essa adaptação que deve ser realizada pela infância consiste numa síntese progressiva da assimilação com a acomodação. É por isso que, pela própria evolução interna, os jogos das crianças se transformam pouco a pouco em construções adaptadas, exigindo sempre mais do trabalho efetivo, a ponto de, nas classes elementares de uma escola ativa, todas as transições espontâneas ocorrer entre o jogo e o trabalho. Acompanhando as etapas do desenvolvimento do desenho, através das mesmas etapas descritas por Piaget apud Moreira (2005, p. 27) em “A formação do símbolo na criança”, o jogo de exercício é caracterizado por Piaget, pela repetição de uma ação pelo prazer que ela proporciona. Ao final de seu primeiro ano de vida, a criança produz as chamadas garatujas, consideradas muito mais como movimentos do que representações, pois a criança faz marcas no papel ou outra superfície, pelo simples prazer que sente ao constatar os efeitos visuais que essa ação produz, sem a intenção de representar. Posteriormente, a criança começa a interpretar suas marcas gráficas e através do desenho faz surgir os primeiros símbolos. Para Moreira (2005, p.32), a garatuja assume, em seguida, um novo aspecto. Começa a adquirir o caráter de jogo simbólico. A criança desenha então para dizer algo, para contar de si mesma, para fazer de conta. É o início da representação. Bomtempo in Kishimoto (2001), cita Piaget (1971): “quando brinca, a criança assimila o mundo à sua maneira, sem compromisso com a realidade, pois sua interação com o objeto não depende da natureza do objeto, mas da função que a criança lhe atribui”. Dessa forma o desenho vai se transformando continuamente, o que era um elefante, dali a instantes pode ser um avião, já que o jogo simbólico implica a representação de um objeto por outro, a atribuição de novos significados a vários objetos, o faz-de-conta. O desenho então, começa a se estruturar como linguagem. O compromisso com a realidade surge quando o desenho passa a jogo de regras, havendo uma busca crescente de que o objeto desenhado se assemelhe ao objeto real. “O uso da cor procura semelhança com a cor real do objeto representado e o espaço se Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 119 O ensino de artes visuais na educação infantil em uma perspectiva lúdica estrutura dentro de regras claras: o que é céu e o que é terra tem lugares definidos.”(Moreira, 2005, p.46) Ainda segundo Moreira (2005), além das características de jogo regulado, percebese também o jogo de construção, pois nessa fase, evidenciando o caráter lúdico, a criança se diverte criando personagens e construindo histórias. O percurso individual da criança no processo de aprendizagem em Artes Visuais, de acordo com o RCNEI (1998, p.91 v.3), [...] pode ser significativamente enriquecido pela ação educativa intencional; porém, a criação artística é um ato exclusivo da criança. É no fazer artístico e no contato com os objetos de arte que parte significativa do conhecimento em Artes Visuais acontece. No decorrer desse processo, o prazer e o domínio de gesto e da visualidade evoluem para o prazer e o domínio do próprio fazer artístico, da simbolização e da leitura de imagens. Nesse sentido, para poder expressar suas idéias integrando percepção, imaginação, reflexão e sensibilidade, as crianças necessitam de vivências significativas, como histórias, fatos do cotidiano, visualização de imagens, como possibilidades de temas para seus trabalhos. Para Albano (2004, p.6) a alfabetização no código visual não tem conseqüentemente, nenhuma relação com atividades decorativas, nem com entretenimento, mas com a ampliação da capacidade de expressão pessoal e leitura do mundo. É atividade da maior seriedade, mesmo que aconteça e, deva acontecer, dentro de um contexto lúdico. Acerca do papel do brincar na cultura contemporânea, Friedmann (2004, p.14) diz que o brincar oferece-nos a possibilidade de que nos tornemos mais humanos, surge como oportunidade para o resgate dos nossos valores mais essenciais como seres humanos e principalmente como possibilidade de resgatar o patrimônio lúdico-cultural nos diferentes contextos socioeconômicos. O RCNEI (1998) trouxe uma importante contribuição para a consciência da importância de resgatar o brincar, no entanto, como afirma Friedmann (2004 p.15): [...] há ainda um bom caminho a ser percorrido no sentido de internalizar os conceitos apresentados no referencial com relação ao brincar para que estes sejam não somente transmitidos, mas também assumidos pelos professores em sua prática junto às crianças. Dentro deste contexto, ainda de acordo com Friedmann (2004, p.16), o brincar precisa ser trazido do espontaneísmo inconsciente à consciência do brincar como linguagem simbólica, essencial ao desenvolvimento do ser humano, passar da idéia do brincar como mais uma atividade à percepção do brincar como atitude lúdica a ser assumida em todas as propostas educacionais, inclusive no ensino das Artes Visuais como apontam os autores citados acima. Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 120 O ensino de artes visuais na educação infantil em uma perspectiva lúdica Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 121 O ensino de artes visuais na educação infantil em uma perspectiva lúdica O Trabalho com artes visuais em duas escolas municipais de educação infantil de Rio Claro/SP A partir da análise da trajetória histórica do Ensino de Artes e das mudanças propostas pelos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, optamos pela realização de um questionário com questões abertas e fechadas a ser aplicado junto aos professores de Educação Infantil de duas escolas municipais de Rio Claro, que, neste artigo serão identificadas como “A” e “B”, com o objetivo de verificarmos se efetivamente houve mudanças na prática educativa relacionada ao ensino de Artes Visuais com crianças de 3 a 6 anos de idade. Como em toda pesquisa, passamos por algumas dificuldades, uma vez que nem todos os professores responderam ao questionário. Na escola “A” foram entregues vinte e três e houve a devolução de apenas dezenove. Já na escola “B”, dos vinte e um professores, apenas onze responderam às questões. Para melhor compreensão de como o ensino de Artes Visuais têm sido realizados atualmente, precisamos investigar a formação inicial dos professores. Abaixo segue tabela indicativa: Formação Inicial Escola “A” Escola “B” Magistério 05 02 Magistério e Pedagogia 13 09 Pedagogia 01 00 Se para ensinar um determinado conteúdo o professor precisa conhecer este conteúdo e os procedimentos mais adequados para promover a construção desse conhecimento, também em Artes é fundamental que o professor saiba Arte e saiba ensinar Arte. Saber Arte implica saber qual sua origem, suas funções, sua história. E saber fazer Arte conhecer através da experiência, no exercício da própria capacidade artística. No entanto, ensinar Arte pressupõe um saber Arte, já que, ao ministrar suas aulas, o professor coloca a sua visão do que a Arte representa para si e para a sociedade, advindo daí a necessidade de conhecer mais sobre o assunto, tanto os professores de Arte, quanto os professores da Educação Infantil que, de acordo com o RCNEI (1998), devem ministrar aulas de Artes Visuais junto às crianças. Porém, conforme Coutinho in Barbosa (2002, p.155), fazer Arte e ensinar Arte, não vai resolver o problema da formação de professores, pois, Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 122 O ensino de artes visuais na educação infantil em uma perspectiva lúdica [...] as faculdades de educação e cursos de Pedagogia não estão ainda preparados para responder atualizadamente à formação dos seus próprios educadores. As referências ao ensino de Arte nessas instituições são em geral de caráter modernista, fundamentadas em uma concepção psicopedagogica, centradas no desenvolvimento da criatividade e da expressão pessoal do aluno. São poucos os cursos de Pedagogia no Brasil que estão procurando sintonizar-se com as recentes propostas de ensino de Arte. No que diz respeito ao tempo de atuação, conforme a tabela abaixo, nota-se que, tanto na escola “A”, quanto na escola “B”, a maioria dos professores atua há mais de onze anos na Educação Infantil: Há menos de 3 anos Entre 3 e 5 anos Entre 6 e 8 anos Entre 9 e 11 anos Há mais de 11 anos Escola “A” Escola “B" 03 04 01 11 03 02 06 Esta informação é significativa, no sentido de que, somente há nove anos foram entregues às escolas, os Referenciais Curriculares para a Educação Infantil, atendendo às determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), servindo de guia para a reflexão de cunho educacional sobre objetivos, conteúdos e orientações didáticas para os profissionais que atuam com crianças de zero a seis anos, colocando em maior evidência as Artes Visuais como conhecimento necessário a ser assimilado ativamente e construído pelas crianças da Educação Infantil. Recentemente, as reflexões acerca do ensino de arte, conforme afirmam Pontes e Pernambuco (2000, p.1), vão no sentido de considerá-la como área de conhecimento e apontam para transformações nos seus fundamentos (metodologia, objetivos, conteúdos, papel do professor e avaliação), relacionando-as à organização da escola em sua proposta curricular. Nessa perspectiva, os RCNEI (1998), ainda de acordo com Pontes e Pernambuco (2000), [...] chegaram às escolas propondo que se observem tanto princípios gerais de organização da escola quanto princípios específicos relacionados aos objetos de conhecimento, mas por seu caráter de referencia geral para educadores, propõe que a relação entre essas duas demandas deverá ser construção de cada unidade escolar. O RCNEI (1998, v.3) propõe que a instituição escolar organize sua prática em torno da aprendizagem em Arte, com objetivos e conteúdos que garantam à criança uma compreensão da Arte como produto da elaboração do pensar, do sentir e do expressar que o ser humano vem desenvolvendo desde os tempos pré-históricos. Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 123 O ensino de artes visuais na educação infantil em uma perspectiva lúdica Segundo afirma Foerste (1996, p.27), foi com a Escola Nova que a Arte foi introduzida “como elemento integrador, principalmente para “ajudar” a fixar conteúdos aprendidos em aulas de “matérias sérias”“. Embora a referência a este acontecimento esteja atrelado à escola primária, na Educação Infantil não ocorreu de maneira diferente. Acreditamos que isto se deve em grande parte a uma compreensão equivocada da obra de Dewey e de seus argumentos sobre “interesses” e “esforços”, quando defende o princípio de interesse como aquele que “reconhece uma identificação entre o fato que deve ser aprendido ou a ação que deve ser praticada e o agente que por essa atividade se vai desenvolver” (Dewey, 1978, p.66). [...] Este equívoco que até hoje persiste, e outras práticas educativas na Arte, se devem em grande parte, à adaptação do pensamento de Dewey feita por educadores brasileiros. (FOERSTE 1996, p.27), Ainda hoje, de acordo com o próprio RCNEI (1998, p.87 v.3), as Artes Visuais têm sido bastante utilizadas como reforço para a aprendizagem dos mais variados conteúdos, sendo comum as práticas de colorir imagens feitas pelos adultos em folhas mimeografadas, como exercícios de coordenação motora para fixação e memorização de letras e números. Afirma, ainda que outra prática corrente considera o trabalho com Artes Visuais com uma conotação decorativa, servindo para ilustrar temas de datas comemorativas. Conforme Foerste (1996, p.43) este caráter “patriótico”, como a organização de eventos festivos e apresentações de números “artísticos” em solenidades cívicas, assumido no ensino de Artes está atrelado [ao] despreparo e, por conseguinte a insegurança dos professores de Arte [e daqueles que necessitam trabalhar com esta área do conhecimento na Educação Infantil], bem como, a fragilidade da própria disciplina no currículo escolar, que recebia orientações difusas e muito amplas, no que diz respeito às linguagens artísticas a serem desenvolvidas nas aulas [...]. Reily (1989, p.39), diz que, pesquisas recentes sobre o papel das Artes na préescola (Almeida) confirmam as informações que tem recebido de um grande número de profissionais (diretores, orientadores pedagógicos, psicólogos e professores) que trabalham em escolas públicas e particulares com essas atividades. Na visão desses profissionais, as Artes têm um lugar fundamental no currículo, funcionando como um importante complemento ao aprendizado pedagógico. As Artes são utilizadas como atividades para acalmar as crianças, onde se percebe muito mais as necessidades do professor do que das crianças, pois muitas vezes quem precisa de um descanso é o professor. Reforça ainda que em muitas escolas, Arte resumese a uma técnica apenas, o desenho, pois as outras causam transtornos, sujeira na sala e implicam remanejamento de vários materiais. Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 124 O ensino de artes visuais na educação infantil em uma perspectiva lúdica Os gráficos abaixo trazem informações acerca das atividades realizadas pelos professores das Escolas “A” e “B”, junto aos alunos nas atividades de Artes Visuais. São informações bastante significativas, pois se comparadas às pesquisas recentes sobre o papel das Artes na pré-escola citado acima, nos possibilita refletir sobre o tipo de conhecimento que vem sendo produzido nas aulas de artes. Gráfico Escola “A” Gráfico Escola B Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 125 O ensino de artes visuais na educação infantil em uma perspectiva lúdica Quanto às atividades ligadas a datas comemorativas, já citadas e que ainda permanecem, no geral são muito dirigidas e muitas vezes preparadas quase exclusivamente pelos professores, com pouca participação das crianças, já que visam um produto final “bonito”. Geralmente são desenhos mimeografados para a criança colorir, utilizados pelos professores desde sua época de curso de magistério, os quais utilizam padrões muito diferentes dos da criança. Observando os gráficos, percebemos que na Escola “A”, 16% (dezesseis por cento) dos professores trabalham com atividades alusivas às datas comemorativas, e na Escola “B” este número aumenta para 36% (trinta e seis por cento). Questionados se durante a formação inicial o ensino de Artes Visuais foi abordado, treze professores da Escola “A” responderam afirmativamente, e, da Escola “B”, apenas três. Na escola “A” seis professores responderam negativamente, e, na Escola “B”, nove professores. Os professores das duas escolas que afirmaram que o ensino de Artes Visuais foi abordado durante a formação inicial, relatam que este ensino se deu no Magistério em aulas de Educação Artística, em que a professora ensinava dobraduras, máscaras, músicas, pastas com desenhos de datas comemorativas, técnicas de desenho e pintura, alfabeto pedagógico e nas aulas de Psicologia, com as fases do desenho infantil. E no curso de Licenciatura em Pedagogia, na disciplina Didática, onde eram abordados os conteúdos dos RCNEI (1998) e o desenvolvimento do desenho e da escrita. Outro item levantado é a aprendizagem de conceitos, ou seja, formas, cores, orientação espacial, esquema corporal, etc. O professor aproveita a situação do desenho espontâneo para ajudar a criança a perceber as cores “corretas” que deveria utilizar como o céu azul, a terra marrom, o sol amarelo, e assim por diante. Embora muito comum esse tipo de interferência no processo gráfico infantil é muito prejudicial, já que o desenho e a pintura são formas não verbais de expressão de sentimentos e relações. Quanto ao desenho espontâneo, os gráficos acima, revelam que na Escola “A” é trabalhado por 84% (oitenta e quatro por cento) dos professores e, na Escola “B”, por 36% (trinta e seis por cento), já o desenho com interferência 74% (setenta e quatro por cento) na Escola “A” e 82% (oitenta e dois por cento) na Escola “B”. De acordo com Galvão (1992, p.61), alguns professores, preocupados com os objetivos e com o significado das atividades propostas às crianças, especificamente no caso das atividades de desenho, trazem conseqüências significativas, ou seja, [...] buscando superar as atividades mecânicas de colorir modelos prontos ou de desenhar a partir de temas aleatórios, os professores procuram estabelecer relações entre as atividades de desenho e as situações vivenciadas pelo grupo ou com os conhecimentos desenvolvidos em outras áreas, evitando que as atividades fiquem “sem sentido”. Desenhar a parte que mais gostou da historia, desenhar a visita ao zoológico, desenhar a Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 126 O ensino de artes visuais na educação infantil em uma perspectiva lúdica lagartixa que encontrou no quintal, desenhar a família, etc. são exemplos de situações que ilustram o desenho seno trabalhado como instrumento para registro de experiências e de conhecimentos e como meio para promover a unidade entre as várias áreas do currículo. Atividades com desenhos mimeografados aparecem apenas nas respostas dos professores da Escola “B”, representando dezoito por cento (18%). Justificando as observações feitas por Galvão (1992, p.60) acerca do empenho de alguns professores em romper com o “tradicional”, empenhando-se em desenvolver um trabalho mais interessante com o desenho e com as artes plásticas em geral, [...] buscam superar as atividades de colorir modelos prontos ou de desenhar a partir de temas sem significado. Superando a idéia de que o desenho se desenvolve pela cópia de modelos, esses professores questionam o uso do mimeografo. Aliás, este é um tema que emerge na maioria dos municípios. Em algumas redes, são os próprios professores que, descontentes, passam a usar cada vez menos os desenhos mimeografados; em outras, o mimeografo é simplesmente proibido, sem que se discutam os princípios que norteiam seu uso. As atividades com colagens e dobraduras que aparecem nos gráficos das Escolas “A” e “B” como atividades realizadas nas aulas de Artes Visuais, sugerem atividades de treino de coordenação motora. Na Escola “A”, quarenta e sete por cento (47%) dos professores realizam atividades com colagens e, na Escola “B”, sessenta e quatro por cento (64%). As atividades com dobraduras são realizadas por sessenta e três por cento (63%) dos professores da Escola “A” e por cinqüenta e cinco por cento (55%) dos professores da Escola “B”. As atividades com releitura de obras de arte representam sessenta e oito por cento (68%) das respostas na Escola “A”, e setenta e três por cento (73%) na Escola “B”. O RCNEI (1998, p.104 v.3), sugere que a oportunidade dada às crianças com objetos e imagens da produção artística, (regional, nacional ou internacional), possibilitam o contato com artistas, enriquecendo seu conhecimento do mudo, das linguagens das artes e deve ainda instrumentá¬las como leitoras e produtoras de trabalhos artísticos. Observamos que dos trinta professores que responderam aos questionários, vinte e um (21) professores participaram de cursos ou oficinas sobre o ensino de Artes Visuais durante a atuação como professor de Educação Infantil. O trabalho com releituras de obras de arte, de acordo com as respostas de sete professores da Escola “A” e de nove professores da Escola “B” é apontado como referência para o trabalho com as crianças. Em outras respostas aparece o ensino de técnicas de pintura, receitas para confecção de tintas e massas de modelar, construção de brinquedos com materiais recicláveis, atividades com Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 127 O ensino de artes visuais na educação infantil em uma perspectiva lúdica jogos, brincadeiras, músicas e apostilas com referências bibliográficas acerca do desenvolvimento do desenho. O RCNEI (1998, v.3) apresenta orientações para o professor quanto à organização do tempo, do espaço, a seqüência de atividades e as atividades permanentes, onde são oferecidas diversas atividades simultâneas, como desenhar, pintar, modelar e fazer construções e colagens, para que as crianças escolham o que querem fazer. No entanto, no que se refere à rotatividade das crianças na realização dessas atividades, apenas um professor da Escola “A“ e dois da Escola “B”, afirmaram oportunizar esse rodízio às crianças. Quatorze professores da Escola “A” afirmam que as atividades permanentes têm ocorrido, entretanto, ao relatarem como estão organizadas, dois professores dizem que utiliza esse momento para complementar conteúdo de outras áreas do conhecimento. Um diz que esse momento ocorre diariamente quando sai para o café, e os alunos escolhem entre livros ou joguinhos no armário. Apenas um professor da Escola “A” e uma da Escola “B”, afirmou utilizar o RCNEI (1998) como recurso de apoio para o trabalho com as Artes Visuais. Na Escola “A” cinco professores, dos dezenove que responderam ao questionário, e que não realizam as atividades permanentes, justificam que é por insegurança quanto à distribuição desses cantos, preferindo trabalhar com uma atividade específica, ou por uma preocupação maior com outras áreas do conhecimento. Evidenciam assim, a grande distância entre a prática docente dos professores nas escolas e as propostas teóricas feitas por pesquisadores nesta área. Na escola “B”, sete professores afirmam que não realizam as atividades permanentes, devido a organização do espaço físico, e um professor atribui a não realização da atividade à quantidade de alunos. Um professor fez uma colocação interessante ao afirmar que falta organização do espaço físico, entretanto que o mesmo pode ser adaptado pelo professor em qualquer situação de aprendizagem, mas tem que abordar outras áreas do conhecimento, contrariando a importância dada às Artes Visuais pelo próprio RCNEI (1998). Os quatro professores que responderam que essas atividades ocorrem, dizem que são organizadas dentro do conteúdo programado para a semana de acordo com os projetos do professor e da escola. Ainda nesta perspectiva, consideramos significativa a informação quanto à freqüência com que ocorrem as aulas de Artes Visuais, nas escolas. Na Escola “A” as aulas ocorrem em sua maioria duas vezes por semana, enquanto na escola “B” as aulas ocorrem mais de três vezes na semana. Quanto ao espaço do lúdico no trabalho com Artes Visuais, o próprio RCNEI (1998, p.107 v.3) diz que o professor poderá imprimir maior qualidade à sua ação educativa ao garantir que o prazer lúdico seja o gerador do processo de produção. Vários foram os Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 128 O ensino de artes visuais na educação infantil em uma perspectiva lúdica professores que disseram oportunizar às crianças espaços para atividades lúdicas, estando ou não relacionadas às Artes Visuais. Na Escola “A” cinco professores mencionaram o trabalho utilizando sucatas, no qual a criança brinca construindo seus próprios brinquedos, dois professores citam o registro gráfico de jogos e brincadeiras. Outros dois professores fazem referência à leitura de obras de arte para estimular a sensibilidade e a imaginação das crianças, que posteriormente ao criarem seus desenhos acabam interpretando os personagens. Atividades como música, teatro, dança, dobradura, técnicas de pintura, brincadeiras no tanque de areia, dia do brinquedo, casa de bonecas, massinha e experiências com tintas, também são citadas, apesar destas não estarem relacionadas às Artes Visuais. Na Escola “B”, três professores responderam que o lúdico é oportunizado nas atividades que garantem a sensibilização, percepção e imaginação, não citando nenhuma atividade específica. No entanto, dois professores mencionaram o registro gráfico de brincadeiras e um professor, a construção de brinquedos utilizando sucatas. Esta breve pesquisa possibilitou-nos perceber o encaminhamento das aulas de Artes Visuais na Educação Infantil, o que ainda permanece enraizado pela sua própria trajetória histórica e o que modificou a partir do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Algumas Considerações Após o RCNEI (1998) ter proposto algumas reflexões no sentido de considerar as Artes Visuais como área de conhecimento e apontar transformações acerca da metodologia, objetivos e conteúdos relacionando-os à organização da escola em sua proposta curricular, esta pesquisa possibilitou-nos observar que, embora possamos identificar o esforço dos professores em realizar um trabalho com Artes Visuais concebendo-o como uma linguagem com estrutura e características próprias, articulando o fazer artístico, a apreciação e a reflexão, garantindo ainda que o lúdico seja o gerador desse processo, concomitantemente existem “compreensões” distorcidas acerca desta área do conhecimento, próprias da sua trajetória histórica. Dessa forma, é de fundamental importância que nos cursos de formação inicial e continuada de professores que atuam ou atuarão na Educação Infantil, haja espaços para diálogos e aprendizagens acerca da Arte, proporcionando, além do contato com os objetos artísticos de diferentes épocas e procedências, o contato com os procedimentos que os constituem, facilitando a leitura e interpretação destes, para que os professores tenham maior segurança ao fazer suas escolhas, adaptando-as aos diferentes contextos. Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 129 O ensino de artes visuais na educação infantil em uma perspectiva lúdica Referências ALBANO, Ana Angélica. Artes Visuais: estética e expressão, Salto para o Futuro/ TV Escola. Disponível em www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/ei/tetxt5.htm Acesso em 17 jun. 2007. ALMEIDA, Paulo N. Dinâmica Lúdica: Jogos Pedagógicos. 4ª ed. São Paulo: Loyola, 1984. BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. MEC/SEF 1998, v. 3. BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: arte. MEC/SEF 3ª ed. Brasília, 2001 v. 6. BOMTEMPO, Edda. A brincadeira de faz-de-conta: lugar do simbolismo, da representação, do imaginário. In: KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001, p.57-71. COUTINHO, R. G. A formação de professores de Arte. In: BARBOSA, Ana Mãe. (Org) Inquietações e mudanças no ensino de Arte. São Paulo: Cortez, 2002 p.15. FOERSTE, Gerda M. S. Arte educação: Pressupostos teórico-metodológicos na obra de Ana Mae Barbosa, 1996, 229 f. Dissertação de Mestrado em Educação escolar Brasileira. Faculdade Federal de Goiás, Goiânia, 1996. FRIEDMANN, Adriana. O papel do brincar na cultura contemporânea. Pátio Educação Infantil. Ano I nº 3: 14-16, dez. 2003/ mar. 2004. FUSARI, M.F.R e FERRAZ, M.H.C.T. Arte na Educação Escolar.São Paulo: Cortez, 1993. GALVÃO, Izabel . Desenho na Pré-Escola: o olhar e as expectativas do professor.. Revista Idéias Fde, v. 14, p. 53-61, 1992. MARTINS, M.C., PICOSQUE, G., GUERRA, M.T.T. Didática do Ensino de Arte: A Língua do Mundo: Poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo; FTD, 1998. MOREIRA, Ana Angélica A. O espaço do desenho: a educação do educador. 10º ed. São Paulo: Loyola, 2005. PANITZ, Synthia. Brincando com desenho: Com diferentes materiais, aluno realiza produção artística. Revista do Professor. Porto Alegre. 15 (57): 11-14, jan./mar. 1999. PONTES, G.M.D. e PERNAMBUCO, M.M.C.A. Arte presente na construção do projeto pedagógico: um relato de caso. In: 23ª Reunião Anual da ANPEd, 2000, Caxambu-MG – Categoria Pôster. REILY, L. Os usos da Arte na Pré-Escola: alternativas. In. Luis Camargo (Org). Arte educação: da Pré-Escola à Universidade. São Paulo: Nobel, 1989, v.1. ZOTTI, Solange Ap. Organização do ensino primário no Brasil: uma leitura da história do currículo oficial. Disponível em http://www.histedbr.fae.unicamp.br/ navegando/ artigos frames/artigo_102.html Acesso em 17 jun. 2007. Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Vol. 1 – janeiro/dezembro de 2008 130