Fisioterapia_2003 - Faculdade Montenegro

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- NÚMERO
2 - MARÇO / ABRIL DE 2003
Fisioterapia
- VOLUME
Brasil
o
ano 4 - n 1
Fisioterapia Brasil
a
tlântica
e d i t o r a
Janeiro / Fevereiro de 2003
ISSN 1518-9740
Laserterapia
• No tratamento de úlceras cutâneas venosas crônicas
• No tratamento das algias por disfunção temporomandibular
Estimulação elétrica
Melhora da performance muscular e redução do
perímetro abdominal
Hidroterapia
Efeitos fisiológicos da imersão e do exercício na água
Pediatria
Efeitos da fisioterapia neonatal sobre a freqüência cardíaca
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4
- NÚMERO
2 - MARÇO / ABRIL DE 2003
Fisioterapia
- VOLUME
Brasil
o
ano 4 - n 2
Fisioterapia Brasil
a
tlântica
e d i t o r a
Março / Abril de 2003
ISSN 1518-9740
Lombalgia
•Prevalência da lombalgia em praticantes de ginástica
Cinesioterapia
•Dança do ventre e terapia da dismenorréia
Respiratório
•Análise da bioimpedância corporal em portadores de DPOC
•Propriedades e transporte do muco respiratório
Saúde pública
•Nível de estresse na Polícia Militar
Laserterapia
•Laser HeNe no tratamento de feridas
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- NÚMERO
3 - MAIO / JUNHO DE 2003
Fisioterapia
- VOLUME
Brasil
o
ano 4 - n 3
Fisioterapia Brasil
a
tlântica
e d i t o r a
Maio / Junho de 2003
ISSN 1518-9740
Acupuntura
Tratamento por acupuntura associada à cinesioterapia
Pulmonar
•Avaliação espirométrica de crianças portadoras
de respiração bucal
•Alterações no consumo de oxigênio após transplante cardíaco
Traumatologia
•Reeducação neuromuscular após reconstrução do LCA
•Neuropatia suparescapular em jogadores de voleibol
Postura
•Alterações posturais e discrepância dos membros inferiores
•Calçados ocupacionais e arco plantar: influência na postura
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- NÚMERO
4 - JULHO / AGOSTO DE 2003
Fisioterapia
- VOLUME
Brasil
o
ano 4 - n 4
Fisioterapia Brasil
a
tlântica
e d i t o r a
Julho / Agosto de 2003
ISSN 1518-9740
Gravidez
Análise da marcha de gestantes
Ortopedia
• Análise prospectiva em enfermaria de ortopedia
• Avaliação da entorse de tornozelo
• Tratamento da capsulite adesiva
Biomecânica
Adaptação na marcha após reconstrução do LCA
Laserterapia
Análise de fibras colágenas após irradiação com laser HeNe
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- NÚMERO
5 - SETEMBRO/OUTUBRO DE 2003
Fisioterapia
- VOLUME
Brasil
o
ano 4 - n 5
Fisioterapia Brasil
a
tlântica
e d i t o r a
Setembro / Outubro de 2003
ISSN 1518-9740
Esportes
Prevalência de lombalgia em capoeiristas do Rio de Janeiro
Escoliose
Mensuração da gibosidade em escoliose
Tratamento da escoliose por alongamento muscular
Eletroestimulação
Adaptação da fibra muscular após eletroestimulação
Hidroterapia
Tratamento da fibromialgia
Postura
Disfunção da ATM e postura corporal
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- NÚMERO
6 - NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2003
Fisioterapia
- VOLUME
Brasil
o
ano 4 - n 6
Fisioterapia Brasil
a
tlântica
e d i t o r a
Novembro / Dezembro de 2003
ISSN 1518-9740
Neurologia
• Assimetria inter-hemisférica e aprendizagem
• Estudo electromiográfica da facilitação
neuromuscular proprioceptiva
Traumato
• Hidrocinesioterapia e fratura de calcâneo
• Síndrome da hiperpressão patelar lateral
• Reconstrução do ligamento cruzado anterior
Respiratório
Análise da capacidade vital lenta e inspirações fracionadas
Osteopatia
Fisiopatogenia das enxaquecas
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Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 6 - novembro / dezembro de 2002
Fisioterapia Brasil
Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro)
Editores associados
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Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa)
Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (Univ. Federal de São Carlos - UFSCAR – São Paulo)
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Grupo de assessores
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Revisão
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Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 6 - novembro / dezembro de 2002
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Fisioterapia Brasil
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Índice
(vol.4, nº1 janeiro/fevereiro 2003 - 01~xxx)
EDITORIAL
Avanços acadêmicos .................................................................................................................................................................................... 04
ARTIGOS ORIGINAIS
Efeitos terapêuticos da fisioterapia neonatal sobre a freqüência cardíaca em recém-nascido pré-termo com
hemorragia periventricular-intraventricular, Luiz Carlos de Abreu, Mário Cícero Falcão, Adriana Gonçalves de Oliveira,
Paulo Hilário Nascimento Saldiva ................................................................................................................................................................... 06
Estudo comparativo sobre a propensão de quedas em idosos institucionalizados e não-institucionalizados
através do nível de mobilidade funcional, Antonio Vinicius Soares, Fábio Marcelo Matos, Luiza Helena Laus, Simone Suzuki ......... 13
Lesão
medular: prática
estudo do potencial evocado como recurso prognóstico e comparação entre o tratamento de
Fisioterapia
estimulação elétrica neuromuscular e fisioterapia convencional, Beatriz de Oliveira Peixoto, José de Oliveira Ávila,
Silvana Maria Blascovi-Assis, Elizabeth Maria Aparecida Barasnevicius Quagliato ....................................................................................... 18
Avaliação da escala de medição da locomoção independente funcional em pacientes com traumatismo
cranioencefálico e escala de coma de Glasgow menor ou igual a oito, Sérgio Nogueira Nemer, Jefferson B. Caldeira,
Liane M. M. Abreu, Leandro M. Azeredo, Cátia M. Coimbra, Cláudia S. Geraldo, Luis R. Santos, Iracema C. Seródio,
Jordan Brust, Juliani Goulart, Monclar Polycarpo, Soraya T. Machado, Marcela B. Azeredo, Léa K. Ferreira, Paulo S. Reis,
Ricardo Gago, Cláudia A. Savedra, Lúcio A. Mendonça, João Márcio Garcia, Paulo César Pereira de Souza ................................................ 26
Laser arseneto de gálio (Ga-As) no tratamento das algias provocadas pela disfunção temporomandibular:
um estudo piloto, Fabiana Serafim, Rita de Cassia Clark Teodoroski ...................................................................................................... 33
O tratamento fisioterapêutico de úlceras cutâneas venosas crônicas através da laserterapia com dois
comprimentos de onda, Karina Gramani Say, Raquel Calvo Gonçalves, Ana Claúdia Muniz Rennó, Nivaldo Antonio Parizotto ....... 40
Estudo comparativo do uso da eletroestimulação na mulher associada com atividade física visando a melhora
da performance muscular e redução do perímetro abdominal, Alexsander Roberto Evangelista, Nilton Petrone Vilardi Jr.,
Ginástica Laborativa
José da Cunha Rocha, Camila de Souza Furtado, Bruno Mazzioti de Oliveira Alves ...................................................................................... 50
REVISÕES
Efeitos fisiológicos da imersão e do exercício na água, Fátima A. Caromano, Mário Roberto F. Themudo Filho,
Juliana Monteiro Candeloro ............................................................................................................................................................................. 61
Métodos McKenzie vs. Williams: Uma reflexão, Thiago Vilela Lemos, Jean Luis de Souza, Marcelo Marcos Medeiros Luz.............. 67
ESTUDO DE CASO
O método isostretching nas disfunções posturais, Danielle Parada Beloube, Simone Ruiz Mota da Costa,
Edson Alves de Barros Junior, Rosemary J. D. P. Oliveira .............................................................................................................................. 73
RESUMOS DE TRABALHOS. ............................................................................................................................................................ 76
NORMAS DE PUBLICAÇÃO. ............................................................................................................................................................ 78
EVENTOS. ................................................................................................................................................................................................. 80
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Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 6 - novembro / dezembro de 2002
Editorial
Avanços acadêmicos
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Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva
* Editor científico de Fisioterapia Brasil
Pós Doutorado na UFRJ
Professor de mestrado recomendado
pela CAPES
Em um de meus primeiros editoriais observei que a formação da massa
critica, as publicações cientificas e a existência de periódicos para escoamento
dessas produções formavam um conjunto que otimizava o crescimento de
qualquer profissão no meio científico. Cerca de três anos após o citado
editorial, já assistimos a consideráveis avanços e conquistas nesses setores.
Na área da formação de massa critica, o recente credenciamento do
Doutorado em Fisioterapia da UFSCAR, o credenciamento do curso de
mestrado em fisioterapia da UNIT e a iniciativa da Universidade Castelo
Branco em lançar o primeiro mestrado de fisioterapia no Rio de Janeiro
representam importante passo. Na esfera dos cursos de especialização, a
consolidação dos cursos Lato Sensu oferecidos pela Atlântica Educacional
co-irmã da Atlântica editorial, em parceria com a Universidade Castelo Branco,
também aponta para importante contribuição no segmento acadêmico e
merece atenção. Graças a sua proposta pedagógico-científica diferenciada e
inovadora, os cursos de Pós-graduação oferecidos pela Atlântica Educacional
preparam os seus alunos para o exercício das diferentes especialidades
praticadas sob a ótica da moderna fisioterapia baseada em evidências, não
esquecendo, entretanto, a contingência dos fatores biopsicogênicos e a
contextualização da antropologia médica na ambiência da relação terapeuta/
paciente. A reestruturação dos cursos de pós-graduação organizados pela
Atlântica Educacional prevê, ainda, nos moldes dos “MBAs”, que a prática
profissional do pós-graduando não esteja tão somente limitada à assistência
dos seus pacientes. Surge a idéia de que o fisioterapeuta deve estar preparado
para as tarefas de planejamento, organização e funcionamento de serviços,
clínicas e hospitais. A inserção de disciplinas da área de gestão de negócios e
marketing nos cursos de pós-graduação contemplará os requisitos para que
a proposta citada se efetive. O incentivo à investigação cientifica e a inclusão
dos alunos de pós-graduação em diretórios de pesquisa do CNPq têm sido o
objetivo perseguido pela direção acadêmica da empresa.
Por fim, outro aspecto importante que surge como indicativo de
crescimento profissional está no número de trabalhos de brasileiros aprovados
para participar do Congresso Mundial da WCPT (Physical Therapy World
Confederation), principal evento cientifico em nossa área, e que esse ano
ocorrerá no mês de junho em Barcelona. Incentivei os meus orientandos de
Doutorado a cumprir a determinação do curso a que estão vinculados, qual
Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 6 - novembro / dezembro de 2002
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seja, a de enviar trabalhos para Congressos Internacionais. O Rio de Janeiro,
pela primeira vez, comparece ao congresso em Barcelona, com inúmeros
trabalhos, fato que atesta que a cidade caminha para a conquista de importante
posição no cenário acadêmico do país.
A revista Fisioterapia Brasil também exerceu papel de capital importância
no crescimento da fisioterapia, levando para todo o país as publicações de
trabalhos científicos gerados pela nossa massa critica. Neste ano de 2003, a
revista ganhará ainda mais ressonância e responsabilidade, pois atravessará
fronteiras e abrirá um centro editorial na Espanha, tornando-se o primeiro
periódico brasileiro em língua espanhola a ser distribuído para toda a
península ibérica. Que o crescimento da Fisioterapia Brasil possa continuar
espelhando o crescimento da nossa área.
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Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Artigo original
Efeitos terapêuticos da fisioterapia neonatal sobre
a freqüência cardíaca em recém-nascido pré-termo com
hemorragia periventricular-intraventricular
Therapeutic effects of the physical therapy newborn on the
heart rate in newborn pre-term with periventricularintraventricular hemorrhage
Luiz Carlos de Abreu*, Mário Cícero Falcão**, Adriana Gonçalves de Oliveira***, Paulo Hilário Nascimento Saldiva****
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*Professor do Curso de Fisioterapia da Universidade Anhembi Morumbi e Centro Universitário FIEO (UNIFIEO), Programa de Pósgraduação Strictu Sensu em Reabilitação da UNIFESP/EPM, ** Pesquisador do Berçário Anexo da Faculdade de Medicina da USP, ***
Medica do Berçário do Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros e do Berçário do Hospital Público de Diadema, **** Professor
Titular do Departamento de Patologia da FMUSP
Palavras-chave:
Estabilidade
hemodinâmica,
fisioterapia neonatal,
freqüência cardíaca e
recém-nascido.
Resumo
A função primária do sistema cardiovascular é de levar sangue para os tecidos,
fornecendo os nutrientes essenciais e removendo os produtos finais do metabolismo
das células. O coração atua como uma bomba, dado que, ao contrair, gera a pressão
necessária para deslocar o sangue ao longo das seqüências dos vasos sangüíneos. A
freqüência cardíaca (FC) é uma variável biofísica importante para aferir a integridade
do coração como bomba, bem como determinar o débito cardíaco do recém-nascido e
sua estabilidade hemodinâmica. Na HPIV, como fator inicial, há uma perda de sangue
e redução de volume sangüíneo, com conseqüente diminuição do débito cardíaco e
pressão arterial. A fisioterapia neonatal demonstrou ser um procedimento terapêutico
adequado para o tratamento dos recém-nascidos de baixo peso (controle) e prematuros
com HPIV. Houve redução progressiva da freqüência cardíaca, sendo que após a 3ª
sessão clínica ocorreu estabilidade hemodinâmica e da FC nos recém-nascidos prematuros
de baixo peso com HPIV e sem HPIV (grupo controle).
Artigo recebido em 9 de julho de 2002; aprovado em 15 de novembro de 2002.
Endereço para correspondência: Prof. Dr. Luiz Carlos de Abreu, Rua dos Otonis, 842 Vila Clementino 04025-002 São Paulo SP, E-mail:
[email protected]
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
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Abstract
Key-words:
Haemodynamic stability,
physiotherapy, heart
rate and premature
newborn.
The primary function of the cardiovascular system is to supply blood to the tissues
along with essential nutrients and removing the final products of the metabolism of the
cells. The heart acts as a pump, since its contractions generate the necessary pressure to
deliver blood to the extent of the vessels. The heart rate (HR) is an important biophysical
variable to access the integrity of the heart as a pump, to determine the cardiac output
of the newborn and its haemodynamic stability. In peri- intraventricular hemorrhage
(P-IVH), initially a blood loss overcomes and blood volume decreases resulting in decreased
cardiac output and fall of the arterial pressure. Physiotherapy has been demonstrated
to be an appropriate therapeutic procedure to the treatment of the premature newborn
with low body weight in the presence or not of P-IVH. Such treatment progressively
reduces heart rate. After the 3rd clinical session heart rate and haemodynamic stability
were achieved either in the premature newborn with low body weight in the presence or
not of P-IVH.
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Introdução
A função primária do sistema cardiovascular é de levar
sangue para os tecidos, fornecendo os nutrientes essenciais
e removendo os produtos finais do metabolismo das células.
O coração atua como uma bomba, dado que, ao contrair,
gera a pressão necessária para deslocar o sangue ao longo
das seqüências dos vasos sangüíneos.
O sistema cardiovascular participa também da regulação
da homeostasia corporal, através da regulação da pressão
arterial, da entrega de hormônios reguladores e da
temperatura corporal, bem como nos casos de ajustes
homeostáticos em estados fisiológicos alterados, tais como:
hemorragias, doenças pulmonares e alterações posturais.
Na Hemorragia Periventricular-Intraventricular (HPIV),
como fator inicial, tem-se uma perda de sangue e redução
de volume sangüíneo, com conseqüente diminuição da
pressão arterial. Quando o volume de sangue diminui, a
pressão arterial sistêmica também diminui, logo o débito
cardíaco também diminui. Também há diminuição do retorno
venoso e diminuição da pressão atrial direita.
A freqüência cardíaca (FC) é uma variável biofísica
importante para aferir a integridade do coração como
bomba, bem como de determinar o débito cardíaco do
recém-nascido e sua estabilidade hemodinâmica
Manter a FC em níveis fisiológicos no recém-nascido é
contribuir para a integridade do sistema cardiovascular,
pulmonar e principalmente neurológico, pois além de ofertar
nutrientes adequados aos tecido e dele remover os catabólitos,
também evita a variação da pressão arterial, que é o produto
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do débito cardíaco e resistência periférica total, sendo sua
variação um dos principais fatores causais da Hemorragia
Periventricular-Intraventricular (HPIV).
Na HPIV temos um extravasamento de sangue na região
subependimária, sendo a forma mais comum de hemorragia
intracraniana e constitui a principal característica no recémnascido pré-termo [1-5].
O sítio de origem da HPIV é a matriz germinal
subependimária [7]. A hemorragia originária do plexo coróide
ocorre em aproximadamente 50% dos recém-nascidos com
HPIV.
A fisioterapia neonatal é um procedimento realizado pelo
fisioterapeuta no período neonatal, que compreende o
manuseio da parte motora (região apendicular) e pulmonar
do recém-nascido, iniciando pelo procedimento
fisioterapêutico motor, seguido do procedimento
fisioterapêutico pulmonar, e terminando com o procedimento
fisioterapêutico motor [8,9,4,5,7]. Estes procedimentos
devem ser monitorizados antes, durante e após cada sessão
clínica de fisioterapia neonatal.
A fisioterapia neonatal visa promover a estabilidade
hemodinâmica do recém-nascido, pois sua variação resulta
em picos de pressão ao longo do sistema circulatório e no
recém-nascido, principalmente no prematuro e pré-termo.
A pressão arterial é do tipo passiva, logo colabora para a
ruptura dos vasos sangüíneos, sendo a principal causa da
HPIV.
No intuito de contribuir para a melhora nos resultados
do tratamento desta moléstia neurológica, utilizou-se a
fisioterapia neonatal para o tratamento da hemorragia
8
periventricular-intraventricular do recém-nascido pré-termo
com < 2.000g.
Revisão de literatura
O sítio de origem da HPIV é a matriz germinal
subpendimária [7], sendo caracterizada por lesão hemorrágica
na matriz germinativa subependimária, geralmente em nível
de cabeça do núcleo caudado e menos freqüentemente no
núcleo caudado ou tálamo, podendo se difundir por meio
do sistema ventricular, passar pelas aberturas laterais do IV
ventrículo (forâmen de Mangedie e Luschka) e coletar-se
na fossa posterior.
Avery [10] relata que os casos sobreviventes de HPIV
freqüentemente apresentam seqüelas neurológicas, sendo
mais comum a hidrocefalia progressiva.
A variação da pressão arterial promove insulto “hipóxicoisquêmico” à matriz germinal, que sofreria por ocasião da
instabilidade da pressão, levando a HPIV.
A patogênese da HPIV é claramente multifatorial. Em
geral, no recém-nascido pré-termo ocorre uma combinação
desses fatores no determinismo da lesão [11-14]. A
patogênese relaciona-se a regulação do fluxo sangüíneo e da
pressão no leito intravascular da matriz germinal. Particular
importância pode ser atribuída à flutuação do fluxo
sangüíneo cerebral, ao aumento ou à diminuição do referido
fluxo e ao aumento da pressão venosa cerebral.
Para a classificação da HPIV usa-se o método diagnóstico
da ultra-sonografia transfontanela, por ser um procedimento
de baixo custo e fácil manuseio à beira do leito
[2,8,3,11,12,13,14,15], sendo o diagnóstico baseado na
presença de hemorragia na matriz germinal, na quantidade
de sangue nos ventrículos laterais e no envolvimento
hemorrágico cerebral, bem como na dilatação ventricular
[1]. A classificação da HPIV se faz utilizando-se da técnica
de ultra-sonografia transfontanela [16], sendo sua
classificação realizada pelo comprometimento do sistema
ventricular e a presença de sangue no interior dos ventrículos
e suas adjacências, conforme segue: Grau I - hemorragia da
matriz germinal; Grau II - hemorragia intraventricular com
tamanho ventricular normal; Grau III - hemorragia
intraventricular com dilatação ventricular; e Grau IV hemorragia intraventricular com hemorragias
parenquimatosas.
No século passado, alguns pesquisadores demonstraram
o beneficio da fisioterapia nos recém-nascidos. Porém,
somente neste século que parece ser possível quantificar
estes benefícios pelos instrumentais tecnológicos disponíveis.
Parker [17] afirma que a realização de fisioterapia
pulmonar por longo período de tempo, aumenta a
instabilidade dos recém-nascidos e o consumo de energia
metabólica.
Fletcher [18] confirma os achados de Parker [17],
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
relatando que o manuseio excessivo e técnicas vigorosas de
fisioterapia pulmonar, podem agravar o quadro patológico
do recém-nascido, quando realizadas sem critérios para
preservação da fisiologia normal. Estas técnicas devem ser
realizadas com sutileza, evitando o aumento do gasto
energético do recém-nascido e sua variação de temperatura
corporal.
Santos [19] relata que o uso de técnicas de fisioterapia
pulmonar em recém-nascido de baixo peso e prematuro,
promoveu a diminuição da resistência das vias aéreas e
melhorou a complacência pulmonar, em pelo menos 70
minutos após os procedimentos técnicos de fisioterapia
pulmonar.
Abreu [8] relata que a fisioterapia pulmonar em recémnascido pré-termo, aumenta a instabilidade hemodinâmica
somente quando realizada por longo período e por
profissionais não habilitados. Os procedimentos de drenagem
postural no manuseio de recém-nascidos associados com a
posição de “Trendelembur g”, resulta em aumento da
instabilidade hemodinâmica do recém-nascido, aumentando
a pressão intracraniana, culminando em maior instabilidade
hemodinâmica e aumento na probabilidade de instalação e
agravamento da HPIV.
Abreu & Oliveira [4], realizando estudo em recémnascidos prematuros e de baixo peso, demonstraram que a
fisioterapia neonatal é um procedimento terapêutico
adequado para manter a freqüência cardíaca estável, tanto
no grupo com HPIV como no grupo sem HPIV, todos com
peso < que 2000g.
Objetivos
Analisar o impacto da fisioterapia neonatal sobre a
freqüência cardíaca em recém-nascidos prematuros e de
baixo peso com Hemorragia Periventricular-Intraventricular
(HPIV).
Metodologia
Casuística e método
A população estudada consistiu em 70 recém-nascidos
prematuros com peso < 2,000g, cujo parto se deu no Hospital
do Servidor Público Estadual - Francisco Morato de
Oliveira, divididos em dois grupos, dos quais 32 no grupo
com HPIV e 38 no grupo sem HPIV.
O conceito de prematuridade foi o adotado pela
Organização Mundial de Saúde [20]: “pré-termo é o que
nasce com menos de 37 semanas completas (menos de 259
dias)”.
A idade gestacional foi calculada com base na data
confiável da última menstruação, nos dados do exame
obstétrico e da ultra-sonografia por ocasião do
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
acompanhamento pré-natal. Após o nascimento, utilizou-se
o método de Capurro et al. [21], realizado entre a 6ª e 24ª
hora de vida, no serviço de Neonatologia, para determinação
da idade gestacional. Esta avaliação foi realizada pela equipe
neonatal.
O peso foi expresso em gramas, sendo avaliado na sala
de parto, em todos os casos, logo após o nascimento. Para
análise das variáveis foram considerados os seguintes
intervalos, em peso-grama:
- 500g até 1.000g
- 1.000g até 1.500g
- 1.500g até 2.000g.
Para a realização dos procedimentos de fisioterapia
neonatal, utilizou-se o oximetro de pulso para verificar a
variável freqüência cardíaca.
A freqüência cardíaca foi definida como número de vezes
em que o coração realizou um ciclo completo, num período
de um minuto e expressa em batimentos cardíacos por
minuto (bpm).
- Bradicardia: foi definida como a diminuição da FC
abaixo de 60 batimentos/minuto por mais de 20 segundos,
durante a realização das técnicas de fisioterapia;
- Taquicardia: foi definida como o aumento da FC acima
de 200 batimentos/minuto por mais de 20 segundos [14];
- Fisioterapia Neonatal: foi definida como os
procedimentos realizados nos recém-nascidos, na parte
motora (região apendicular) e pulmonar, iniciando pelo
procedimento fisioterapêutico motor, seguido do
procedimento fisioterapêutico pulmonar e terminando com
o procedimento motor [8, 9,4,5,7].
No diagnóstico da HPIV, usou-se a classificação de
acordo com Papile et al. [16].
Foram excluídos 32 recém-nascidos pré-termo que
apresentaram anomalias congênitas, síndromes genéticas,
hidropisia ou infecção congênita com manifestações clínicas,
bem como óbito antes do 4º dia de vida. Aplicaram-se técnicas
de fisioterapia neonatal [22,8,3] ainda dentro da UTI
neonatal, após estabilização hemodinâmica, acompanhando,
terapeuticamente, todos os recém-nascidos, tanto no grupo
com HPIV (N = 32), como nos sem HPIV (N = 38) e o
seu desenvolvimento após alta da unidade de terapia intensiva
neonatal para a Unidade de Cuidados Intermediários.
Estes grupos de recém-nascidos foram divididos em um
grupo de recém-nascidos pré-termo com HPIV e outro
grupo de recém-nascidos pré-termo sem HPIV. O tratamento
fisioterapêutico foi realizado após o 4º dia de vida, sendo
que a freqüência cardíaca foi aferida 1 minuto antes das
sessões clínicas de fisioterapia neonatal e, novamente, após
5 minuto da realização das sessões clínicas de fisioterapia
neonatal.
9
Cada recém-nascido foi submetido a 3 sessões clínicas
de fisioterapia neonatal diariamente, com intervalos de 2
horas entre as sessões clínicas de fisioterapia e com duração
de, no máximo, 20 minutos cada uma (somente tempo efetivo
da terapia, não considerando os preparativos, exame físico,
exames de diagnóstico por imagem quando realizados,
mensuração das variáveis estudadas de acordo com o
protocolo de estudo).
Foram usadas as seguintes técnicas de fisioterapia para
o tratamento dos recém-nascidos deste experimento:
Procedimentos de fisioterapia neonatal
1 - Técnicas de Fisioterapia Pulmonar
(respiratória)
Aplicaram-se as técnicas de fisioterapia pulmonar descrita
por Domingues [22] e Abreu [6,7,5,1,2,3,4]: drenagem
postural para ápice, base e parte medial e lateral do pulmão;
vibratoterapia mecânica e manual na caixa torácica;
percussão torácica para desobstrução; estimulação
diafragmática; padrão ventilatório passivo, passivo-assistido
e ativo-assistido; terapia expiratória manual passiva (TEMP).
Para realização da vibratoterapia mecânica, utilizou-se
um vibrador mecânico da marca Yoki, com um condensador
de intensidade de cabeçote plástico pequeno de 1cm de
raio, realizando a terapêutica nas regiões basais, mediais e
apicais, bilateralmente, sendo utilizado o tempo de 1 minuto
para cada região anatômica, totalizando 6 minutos de terapia
total com este equipamento. Tal procedimento foi realizado
na região anterior e posterior. Ainda, utilizou-se a técnica de
drenagem postural associada com a percussão torácica com
as falanges distais e mediais dos dedos indicador e médio
bilaterais, durante 30 segundos por região anatômica e
ântero-posterior.
2 - Técnicas de fisioterapia motora
- Estimulação proprioceptiva: Realizou-se movimentos
coordenados de distal para proximal, com estabilização das
articulações de tornozelo, joelho e quadril, quando em
membros inferiores; de punho, cotovelo e ombro, quando
em membros superiores, tanto para articulações como para
músculos esqueléticos, numa freqüência de 30 movimentos
por sessão clínica de fisioterapia.
- Cinesioterapia passiva para membros inferiores
e superiores: Realizou-se a movimentação passiva dos
membros dos recém-nascidos, flexo extensão, abdução,
adução, rotação lateral e medial e prono-supinação.
- Massoterapia: Realizou o deslizamento da camada
poiciloterma do recém-nascido, a partir da região distal para
proximal do membro, promovendo também o retorno
venoso da região tratada.
10
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Resultados
Tabela 4 - Recém-nascidos pré-termo com peso ao nascer < 2.000g,
segundo a ocorrência de hemorragia periventricular-intraventricular e a
variável freqüência cardíaca, antes do tratamento e depois do tratamento
com fisioterapia pulmonar e motora.
Para análise dos resultados foram utilizados testes de
análise de variâncias e testes não paramétricos, levando-se
em conta a natureza das distribuições dos valores ou a
variabilidade das medidas efetuadas. Foram aplicados os
seguintes métodos estatísticos:
- Teste c2 (qui-quadrado) da razão das verossimilhanças
e teste exato de Fisher, quando se estudou a associação
entre o grupo com HPIV com fisioterapia neonatal e o grupo
controle, sem HPIV;
- Quando se considerou a divisão dos dados em dois
grupos de estudos, a variável peso foi comparada por meio
do teste de comparação de variância de Levene, de
comparação das médias pelo t de Student e variáveis não
paramétricas de Mann-Wihitney;
- Para comparação da variação média da freqüência
cardíaca, ao longo das sessões clínicas e dos grupos de
estudos, ajustou-se um modelo de análise de variância com
medidas repetidas. A suposição de modelos foi verificada
por meio de uma análise de resíduos [23] e a adoção da
correção de Greenhouse-Geiser.
Análise estatística
SESSÃO
CLÍNICA
SIM
Pré
NÃO
Pós
Pré
Pré
Pós
Pós
1ª Sessão
2ª Sessão
3ª Sessão
Figura 1 - Gráfico de procedimentos de sessões clínicas de fisioterapia
pré-atendimento e pós-atendimento: impacto sobre a variável freqüência
cardíaca.
Freqüência Cardíaca (Pós-Pré)
Médias
Estatística
Observou-se a ocorrência de HPIV em 70 recémnascidos (RN), com menos de 37 semanas de gestação e
com peso ao nascer inferior a 2000g, nascidos no Hospital
do Servidor Público Estadual de São Paulo. Desses, 32
apresentaram HPIV.
Tabela 1 - Exame diagnóstico por ultra-sonografia transfontanelar, em
recém-nascidos com < 2000g, em porcentagem de diagnóstico da HPIV.
Sessão de Fisioterapia
Tabela 2 - Níveis descritivos associados aos testes de WILCOXON para
amostras dependentes para comparação dos desempenhos dos recém-nascidos
entre as sessões de fisioterapia.
Variável
Sessões
sem HPIV
com HPIV
Tabela 3 - Níveis descritivos das comparações de médias entre as sessões
clínicas de fisioterapia para os grupos com e sem HPIV.
Grupos
Sessão 1
Sessão 2
Sessão 3
Discussão
Observou-se a freqüência de HPIV em recém-nascidos
prematuros com peso igual ou inferior a 2.000g (< 2,000g),
sendo que a incidência foi de 45,7% na população estudada
(tabela 1), a qual consistiu em recém-nascidos prematuros
assistidos pelo Serviço de Obstetrícia do Hospital do Servidor
Público Estadual “Francisco Morato de Oliveira” e
encaminhados ao Serviço de Neonatologia.
Os dados encontrados nesta pesquisa, quanto à
freqüência da HPIV (tabela1, 45,7%), são coincidentes com
os da literatura, principalmente com os dados relatados por
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Volpe [11-14], que nos expõem a incidência de 34 a 49% de
HPIV, além de McMenamin et. al., que relatam a incidência
de 39% na população estudada .
Realizou-se o exame diagnóstico, por meio da técnica
ultra-sonográfica transfontanelar, a partir do 4º dia de vida
do recém-nascido. Na tabela 2 mostra-se o nível descritivo
dos testes não-paramétricos aplicados à variável FC. Com a
finalidade de controlar a significância global desses testes,
aplicando-se a técnica de Bonferroni (que são intervalos de
confiança que permite analisar os dados estatísticos com
5% de possibilidade de erro), foram consideradas
significativas às diferenças, cujos os níveis descritivos foram
inferiores ou igual a 0,006. Conclui-se que na variável FC,
no grupo sem HPIV, a sessão 3 difere-se das sessões 1 e 2,
e no grupo com HPIV a sessão 1 difere das sessões 2 e 3.
Isto se dá pela diferença pré-pós em cada sessão clínica de
fisioterapia.
Para a análise da evolução da variação da FC média
(pré-pós) ao longo das sessões clínicas de fisioterapia (figura
1), observou-se o benefício dos procedimentos clínicos
fisioterapêuticos, através do nível descritivo, evidenciando
o efeito de interação entre sessão clínica de fisioterapia e o
grupo com ou sem HPIV, sendo utilizado a correção de
Greenhouse-Geisser de p = 0,014.
Outrossim, na análise dos dados da tabela 3, conclui-se
que a evolução da variável FC não difere entre os grupos
com ou sem HPIV ao longo das diferentes sessões de
fisioterapia. Já na tabela 4, observa-se que há diferenças
significativas (estatísticas) na evolução da variável FC, ao
longo das sessões clínicas de fisioterapia 1 e 3, no grupo
sem HPIV, e nas sessões 2 e 3 do grupo com HPIV. Ainda,
a variável FC no grupo com HPIV, quando comparamos a
variável pré com a variável pós em cada sessão clínica, temos
na 1ª sessão um aumento no número de batimentos
cardíacos do recém-nascido; a partir da 2ª sessão há um
decréscimo, sem significância estatística, e na 3ª sessão clínica
um decréscimo com significância estatística de 0,001 pela
análise de Bonferroni, mostrando a interação entre a
realização de fisioterapia e o comportamento da variável
FC.
No grupo sem HPIV, ainda na tabela 4, observamos
que esta variável se difere em todas as sessões, sendo que
há um aumento ao término da 1ª sessão clínica de fisioterapia
e uma diminuição ao longo das 2ª e 3ª sessões, todas com
significância estatística de 0,001 pela análise de Bonferroni
e correção de Greenhouse-Geisser.
Considerando-se que os recém-nascidos do grupo sem
ou com HPIV apresentaram uma evolução na FC média ao
final da 1ª sessão clínica, não se observa diferença
significante. Porém, ao término das três sessões clínicas diárias
de fisioterapia, há uma queda da FC, sendo significativa do
ponto de vista estatístico e clínico. Isto evidencia uma
melhora no quadro hemodinâmico do recém-nascido, após
11
o uso terapêutico da fisioterapia, diminuindo a instabilidade
cardiovascular, fato que, por si só, diminui a probabilidade
de aumento da manifestação da HPIV no grupo controle e
ruptura dos vasos sangüíneos cerebrais no grupo com HPIV,
justificando a intervenção fisioterapêutica neonatal em
recém-nascidos prematuros, de baixo peso e também
naqueles acometidos com distúrbios neurológicos, tal qual a
HPIV.
Do ponto de vista clínico, a fisioterapia mostrou
contribuir com a diminuição da variável FC (figura 1),
havendo melhora clínica do recém-nascido após as três
sessões de fisioterapia.
Conclusões
1- A fisioterapia neonatal demonstrou ser um
procedimento adequado para o tratamento de recém-nascido
de baixo peso e prematuro;
2- A fisioterapia neonatal contribuiu para a redução
da freqüência cardíaca nos recém-nascidos pré-termo e
prematuros com ou sem Hemorragia PeriventricularIntraventricular.
Agradecimentos
À FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo, pelo apóio financeiro e material para a
realização desta pesquisa e a Dra Lucy Dualibi Casanova,
ex-chefe do Serviço de Neonatologia do Hospital do
Servidor Público Estadual Francisco Morato de Oliveira,
pela seção do espaço para o desenvolvimento desta pesquisa
nos anos de 1996 a 1998.
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Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
13
Artigo original
Estudo comparativo sobre a propensão de quedas
em idosos institucionalizados e não-institucionalizados
através do nível de mobilidade funcional
Comparative study about propensity for falling
in institutionalized and non-institutionalized elderly people
regarding their functional mobility level
Antonio Vinicius Soares*, Fábio Marcelo Matos**, Luiza Helena Laus***, Simone Suzuki***
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*Fisioterapeuta (ACE-SC), Especialista em Cinesioterapia Neuro-sensório-motora (PUC-PR), Professor da ACE, IELUSC e FURB-SC,
**Fisioterapeuta (ACE-SC), Especialista em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica (ACE-SC), Professor da FURB-SC, ***Acadêmicas de
Fisioterapia da FURB-SC
Palavras-chave:
Idosos, quedas,
institucionalização.
Resumo
As quedas representam um motivo de preocupação para idosos, pois podem acarretar
incapacidade física e perda da independência. Idosos institucionalizados são na grande
maioria fragilizados, podendo desta forma, aumentar a suscetibilidade à quedas. Estudos
sobre as quedas tornam-se necessários a fim de se buscar meios mais efetivos para
minimizar sua incidência. O objetivo da pesquisa foi avaliar a propensão à quedas em
idosos institucionalizados e não-institucionalizados, através do nível de mobilidade
funcional. Utilizou-se o teste “Timed Up & Go” para avaliar o nível de mobilidade funcional
de 53 idosos institucionalizados e 53 não institucionalizados. Quanto maior o tempo de
realização, em segundos (s), maior o risco de quedas. Os dados coletados foram analisados
estatisticamente, obtendo-se as médias e desvio padrão de ambos os grupos. Aplicou-se
o teste t (Student) para avaliar a significância dos dados. O grupo dos idosos nãoinstitucionalizados obteve uma média de 8,84 segundos, e o grupo dos idosos
institucionalizados 20,09 segundos. No grupo de idosos institucionalizados 65,38%
realizaram o teste em menos de 20s, 23,08% entre 20 e 29s e 11,54% em tempo superior
a 30s. No grupo dos idosos não institucionalizados, 100% dos indivíduos obtiveram um
desempenho de menos de 20s. Uma proporção significativa do grupo de idosos
institucionalizados, que apresentou médio e alto risco de quedas. Medidas preventivas
fazem-se necessárias para reduzir a exposição destes idosos aos fatores de risco.
Artigo recebido em 11 de julho de 2002 e aprovado em 15 de novembro de 2002.
Endereço para correspondência: Prof. Antonio Vinicius Soares, Depto Fisioterapia – FURB-SC, Rua Antonio da Veiga, 140, 89012-900 Blumenau
SC, Tel: (47) 321-0243, E-mail: [email protected]
14
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Abstract
Key-words:
Elderly people, falls,
institutionalize.
Falling plays an important role as a motive for worrying among elderly people, as it
can result in physical handicaps and loss in independence. Institutionalized elderly people
are on the most part fragile who in such a way increase their susceptibleness to falling.
Studies regarding their falling have become a necessity so that we can seek more effective
means to minimize the incidence rate. The purpose of this study has been to evaluate
the propensity for falling among institutionalized and non-institutionalized elderly people
regarding their functional mobility level. The “ Timed Up & Go “ test was apllied to
evaluate the functional mobility level of 53 institutionalized and 53 non-institutionalized
elderly people. The greater time period applied, in seconds (s), is greater the risk of falls.
The collected data have been analyzed statistically, arriving at average and standard
deviation for both groups. Test t (Student) was applied to evaluate the meaning of the
collected data. The results showing the non-institutionalized elderly group got an average
rating of 8.84 s, and the institutionalized elderly group got 20.09 s. In the institutionalized
elderly group 65.38% performed the test in less than 20 s, 23.08% between 20 and 29
s, and 11.54% greater than 30 s. In the non-institutionalized group, 100% of the individuals
performed the test in less than 20 s. A meaningful proportion of the institutionalized
elderly group, displayed medium and high-risk of falls. Preventive measures should be
taken to reduce the
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Introdução
Com o avanço da medicina e a melhoria na qualidade
de vida, a expectativa de vida e número de pessoas que
atingem a terceira idade tende a aumentar progressivamente.
O envelhecimento é um acontecimento decorrente de
múltiplos fatores e atinge os diversos sistemas do organismo,
alguns precocemente e outros tardiamente. É importante
ao se tratar de envelhecimento, diferenciar o envelhecimento
fisiológico (senescência), do envelhecimento acelerado por
patologias (senilidade).
Nem todas as pessoas chegam à velhice no mesmo
estado, umas são mais vigorosas, mais autônomas e mais
desenvolvidas do que outras, que não conseguem conservar
o seu dinamismo [1]. Assim sendo, alguns idosos estão mais
suscetíveis que outros à diversas condições patológicas. Um
idoso sensibilizado por qualquer enfermidade é um idoso
seriamente propenso às quedas, especialmente as que levam
a alterações da mobilidade, equilíbrio e controle postural.
As quedas representam uma importante preocupação
para indivíduos idosos, pois podem acarretar lesões de
gravidades variáveis. Quanto maior a idade, torna-se mais
significativo o risco para as quedas, em virtude do
envelhecimento encontrar-se em estágios mais avançados.
Diversas alterações normais do envelhecimento podem
estar relacionadas à ocorrência de quedas: no sistema
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nervoso ocorre a diminuição do número de neurônios,
diminuição da velocidade de condução nervosa [2] e
diminuição do tempo de reação [3]; no sistema sensorial
ocorre diminuição da acuidade visual e auditiva [4],
diminuição da sensibilidade tátil [5] e no aparelho locomotor
ocorre diminuição da massa óssea, ampliando o risco de
fraturas [6], aumento da rigidez articular e diminuição da
força muscular [2]. Ocorrem ainda alterações do equilíbrio
(aumento da resposta a uma perturbação e aumento da
oscilação) [7,8,9]; da postura (hipercifose torácica e
inclinação do tronco para frente) [10] e da marcha
(diminuição da amplitude dos passos) [5].
Diversos fatores podem contribuir para a ocorrência
de uma queda: fatores intrínsecos (alterações normais do
envelhecimento, uso de medicamentos ou ainda diversas
patologias, como hipotensão, Parkinson, demência,
depressão, comprometimentos visuais, neuropatia diabética,
deformidades dos pés, artrose) [4,5,11,12,13,14,15,16];
fatores ambientais (insegurança no banheiro, objetos no
chão, iluminação inadequada) [12,17] e ainda fatores
sociodemográficos, como é o caso da institucionalização.
A institucionalização representa um fator de risco para
quedas por denotar um caráter de atenção e suporte à
idosos fragilizados na grande maioria. Mesmo que o idoso
institucionalizado não esteja fragilizado por algum distúrbio
orgânico, muitas vezes ele está pelo isolamento e até mesmo
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
15
Tabela I – Médias, Desvios Padrão e Variâncias do Tempo de Realização do TUG (em segundos).
Idosos não-institucionalizados (Grupo A)
Idosos institucionalizados (Grupo B)
8,84 s
2,05
4,22
20,09 s
11,77
138,44
Média
Desvio Padrão
Variância
pelo abandono. Além disso, o grau de inatividade física
tende a ser alto, o que contribui ainda mais para a propensão
de quedas, por acelerar o curso do envelhecimento
[12,18,19].
O presente estudo teve como objetivo geral, avaliar a
propensão à quedas em idosos institucionalizados e não
institucionalizados, através do nível de mobilidade
funcional; e como objetivos específicos, mensurar o tempo
de realização do teste de mobilidade funcional em ambos
os grupos, verificar a proporção de idosos em subgrupos
de baixo, médio e alto risco de quedas, comparando os
resultados de ambos os grupos.
A realização da pesquisa possibilita a aquisição de dados
consistentes acerca da predisposição à quedas, permitindo,
assim, uma abordagem preventiva mais direcionada às
necessidades individuais dos idosos. As quedas representam
a principal causa de acidentes em idosos, podendo levar a
incapacidade física e até mesmo a morte. Desta forma,
torna-se importante sua prevenção, eliminando-se os fatores
de risco, afim de evitar que o idoso possa tornar-se
dependente devido a complicações. A dependência, por
sua vez, pode desenvolver uma série de alterações físicas
e psicológicas e elevar ainda mais a propensão às quedas,
gerando assim um ciclo vicioso.
Material e métodos
A amostra foi constituída de 53 idosos institucionalizados
(casas de repouso de Blumenau) e 53 não
institucionalizados (PROAP-FURB). Foram selecionados
idosos capazes de caminhar a uma distância de 10 metros,
com ou sem equipamento auxiliar à marcha, mas sem
assistência de outra pessoa e capazes de seguir instruções.
Para a coleta de dados foi utilizado o teste “Timed Up &
Go” (TUG), uma cadeira com braços, um cronômetro e
uma ficha para anotação dos dados. O teste avalia o nível
de mobilidade funcional, mensurando, em segundos, o
tempo gasto por um indivíduo para levantar de uma cadeira,
andar uma distância de 3 metros, dar a volta, caminhar
em direção a cadeira e sentar novamente. Nenhuma
assistência é dada ao indivíduo para a realização da tarefa.
No início do teste ele parte de uma posição inicial, onde
suas costas estão apoiadas no encosto da cadeira e seus
membros superiores repousando nos braços da cadeira. Ele
é instruído que na palavra “vá”, realize o teste. É necessário
que o idoso pratique uma vez para se familiarizar com o
teste [20,21].
Através do tempo gasto para a realização do teste,
verifica-se a propensão à quedas, sendo que quanto maior
o tempo, maior o risco [22].
Os dados coletados foram analisados estatisticamente,
onde obteve-se as médias e desvio padrão de ambos os
grupos. Aplicou-se o teste F para análise da variância e o
teste t (Student) para avaliar a significância dos dados. Cada
grupo foi dividido ainda em 3 subgrupos: menos de 20 s
(baixo risco), 20 - 29 s (médio risco) e 30 s ou mais (alto
risco) [20].
Resultados
Verificou-se, com a realização do teste TUG, uma média
do tempo de execução de 8,84 s no grupo dos idosos não
institucionalizados e 20,09 s no grupo dos idosos
institucionalizados. Os testes F e t (Student) comprovaram
as diferenças entre as variâncias e as médias para um nível
de significância de 5%.
O tempo requerido para completar o teste é fortemente
correlacionado ao nível de mobilidade funcional, sugerindo,
portanto, um maior nível de mobilidade nos idosos não
institucionalizados. O nível de mobilidade funcional
mensurado através do tempo de realização do teste TUG,
está correlacionado com a propensão e ocorrência de quedas
em idosos [22].
Obser vou-se ainda, no grupo de idosos
institucionalizados, que 65,38% realizaram o teste em menos
de 20 s, 23,08% realizaram entre 20 e 29 s e 11,54%
realizaram o teste em tempo superior a 30 s (tabela I e
gráfico 1). No grupo dos idosos não institucionalizados,
100% dos indivíduos obtiveram um desempenho de menos
de 20 s (tabela I e gráfico 2).
Discussão
Os idosos que realizam o teste em menos de 20 segundos
tendem a ser muito independentes, enquanto idosos que realizam
o teste em mais de 30 segundos tendem a ser muito mais
dependentes, sugerindo, portanto, um maior risco de ocorrência
de quedas. Idosos que realizam o TUG entre 20-29 segundos
estão localizados na zona de risco intermediária [20].
Comparando-se os resultados obtidos, verifica-se um
16
Gráfico 1 – Grupos de acordo com o tempo de realização do TUG em
idosos institucionalizados.
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
abrangentes. E ainda, o emprego do teste TUG como rotina
de avaliação, por ser um teste clínico prático para a
deter minação do nível de mobilidade funcional e,
conseqüêntemente, revelando-se como um teste preditivo à
quedas em idosos.
Referências
Gráfico 2 – Grupos de acordo com o tempo de realização do TUG em
idosos não-institucionalizados
maior nível de mobilidade funcional em idosos não
institucionalizados, em relação aos idosos institucionalizados.
A institucionalização é apontada como um dos fatores
de risco para quedas [12,17]. Idosos institucionalizados em
geral são idosos fragilizados por diferentes enfermidades
[18] e muitas dessas enfermidades estão correlacionadas
com a diminuição da mobilidade e alteração do equilíbrio e
controle postural, contribuindo para um risco maior de
quedas.
O asilamento pode acarretar a marginalização, o isolamento
e a inatividade física dos idosos envolvidos, causando
repercussões físicas e psicológicas. Tais repercussões podem
influenciar a mobilidade e, conseqüêntemente, contribuir para
uma maior propensão a quedas [18,19].
Conclusão
Os resultados demonstraram que idosos
institucionalizados possuem uma maior probabilidade de
sofrer quedas, por apresentarem uma maior média de tempo
de realização do teste, indicando um menor nível de
mobilidade funcional. Isto demonstra a necessidade de uma
abordagem preventiva, minimizando a exposição dos idosos
a fatores de risco.
Sugere-se a realização de uma pesquisa envolvendo
idosos da comunidade não participantes de atividades sociais
(como o PROAP), obtendo, possivelmente, dados mais
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17
18
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Artigo original
Lesão medular: estudo do potencial evocado
como recurso prognóstico e comparação entre
o tratamento de estimulação elétrica neuromuscular
e fisioterapia convencional
Medullar lesion: study of evoked potentials like e a prognostic
recourse and comparison between electrical stimulation
treatment and convencional physical therapy
Beatriz de Oliveira Peixoto*, José de Oliveira Ávila**, Silvana Maria Blascovi-Assis***, Elizabeth Maria Aparecida
Barasnevicius Quagliato**
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*Ms Beatriz de Oliveira Peixoto, Doutoranda do Depto de Neurologia Faculdade de Ciências Médicas/UNICAMP, Coordenadora do
Curso de Fisioterapia Universidade Paulista UNIP/Sorocaba, **Departamento de Neurologia FCM/UNICAMP, ***Universidade
Paulista UNIP/Sorocaba, Universidade Presbiteriana Mackenzie
Palavras-chave:
Tetraplegia, paraplegia,
potencial evocado
sômato-sensorial,
estimulação elétrica
neuromuscular, fisioterapia
convencional, avaliação
ASIA.
Resumo
Este estudo avaliou o diagnóstico e o prognóstico de pacientes com lesão medular
através do potencial evocado sômato sensorial (PESS), avaliação ASIA (classificação
neurológica da lesão medular e medida de independência funcional (FIM) e escala de
deficiência) e avaliação fisioterápica. O efeito da estimulação elétrica neuromuscular
(EENM) foi comparado ao tratamento fisioterápico convencional (FC). Foram
estudados 19 pacientes com lesão medular, com idade de 16 a 50 anos e de ambos os
sexos, que foram divididos em 2 Grupos: Grupo A - EENM - 09 pacientes paraplégicos
e tetraplégicos pertencentes ao Programa de Estimulação Elétrica Neuromuscular
(PEENM) e Grupo B - FC - 10 pacientes paraplégicos e tetraplégicos pertencentes
ao Programa do Tratamento Fisioterápico Convencional (PFC). Os dados foram
submetidos à análise descritiva através de tabelas de freqüência e medidas de posição
e dispersão. Para comparar os dois grupos em relação às variáveis da avaliação ASIA,
foi utilizado o teste t de student. Para comparar os dois grupos com relação às
variáveis categóricas da avaliação fisioterápica, foi utilizado o teste Exato de Fisher.
O nível de significância adotado foi de 0,05. A análise estatística revelou uma melhora
Artigo recebido em 31 julho de 2002; revisado em 15 de janeiro de 2003; aprovado em 25 de janeiro de 2003
Endereço para correspondência: Profª. Beatriz de Oliveira Peixoto, Av. Afonso Vergueiro, 1810/33 B – 18040-000 Sorocaba SP, E-mail:
[email protected]
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
19
nas respostas das avaliações ASIA, avaliação fisioterápica tanto no PEENM e PFC,
sem diferença entre os mesmos. Em relação ao PESS, o paciente que mostrou potencial
evocado normal obteve maior progresso na medida de independência funcional (FIM)
e escala de deficiência ASIA em comparação com os outros pacientes. Estas análises
levaram à avaliação da viabilidade de um Programa de Estimulação Elétrica
Neuromuscular como complemento do Programa de Fisioterapia Convencional em
pacientes com lesão medular na fase crônica. A avaliação da ASIA e avaliação
fisioterápica complementaram, no diagnóstico e prognóstico de pacientes com lesão
medular. O tamanho da amostra residual impediu que se avaliasse estatisticamente o
papel de um resultado do PESS normal no prognóstico dos pacientes, embora
empiricamente esse pareça ser o caso.
Abstract
Key-words:
Somatosensory evoked
potentials, physiotherapy,
neuromuscular electrical
stimulation, and spinal
cord injury.
We evaluate herein diagnosis and prognosis in patients with traumatic medullary
injury in their chronic phase treated with neuromuscular electric stimulation and
compared with other similar patients who underwent conventional treatment. These
patients were evaluated by somatosensory evoked potentials, the ASIA scale for
medullary trauma (neurological classification of medullary lesion and functional
independence measure and deficiency scale) and physical therapy-oriented clinical
evaluation. Evoked potentials were correlated with prognosis in both groups of patients,
irrespective of their treatment. This was done by following up 19 paraplegic and
tetraplegic patients of both sexes divided into two groups: 9 patients undertook the
experimental Neuromuscular Electric Stimulation Program (EENM) and 10 patients
underwent our standard physical therapy treatment (PFC). Data so obtained were
submitted to descriptive analysis by frequency tables and position and dispersion
measures. The EENM and PFC groups were compared by Student’s t Test. Categorical
variables were compared by means of Fisher’s Exact Test. In all cases a 0,05 level of
significance was adopted as norm. This statistic analysis revealed an increase both in
ASIA scores and an inprovement in the clinical evaluation in both groups irrespective
of the treatment employed. As for the somatosensory evoked potentials, the only
patient with normal responses obtained the widest improvement in functional
indepencence measure evaluation. These analyses showed that EENM gives results
similar to those of PFC in the treatment of chronic medullary injury. The rather
reduced size of the remaining group did not permit the statistical evaluation of a
normal somatosensory evoked response in the prognosis, even though it seems
empirically that it seems to be a prognostic indicator.
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20
Introdução
Até recentemente, o tratamento de pacientes com lesão
medular estava restrito à prevenção de danos à medula
espinhal, limitando o tratamento fisioterápico à reabilitação
intensiva. Com o aumento da expectativa de vida dos
pacientes com lesão medular, o processo de reabilitação
desviou-se da preocupação de sobrevivência para a melhoria
da qualidade de vida e o aumento da independência
funcional. A promoção e a atenção à saúde dos pacientes
com lesão medular, englobam medidas restauradoras,
preventivas e de reabilitação visando preservar, restaurar
ou desenvolver funções, quer motoras ou sensitivas, com a
intenção de recuperar e compensar os fatores que acarretam
perda ou diminuição do bem-estar destes pacientes.
A evolução dos pacientes portadores de lesão medular,
assim como as respostas destes ao tratamento fisioterápico,
são freqüentemente imprevisíveis. As funções sensitivas,
motoras e funcionais preservadas abaixo do nível da lesão
apresentam padrões variáveis de recuperação. Os padrões
da avaliação ASIA para classificação da lesão medular
espinhal fornecem nomenclatura referente ao nível da lesão
e à função remanescente, permitindo, além do diagnóstico,
uma expectativa prognóstica, através do nível de atividade
e função, estado cognitivo, disfunção psiquiátrica existente,
motivação do paciente e sistemas de apoio social [1].
Nos últimos anos tem havido uma crescente utilização
dos procedimentos eletrodiagnósticos para avaliação de
pacientes. Isso se deve em parte ao desenvolvimento e
melhora na instrumentação eletrônica, que tem tornado
possível testar o estado funcional de músculos, nervos e
sua interação com o sistema nervoso central. Isso permite
a documentação de como essas estruturas funcionam no
estado normal e como elas mudam devido a fatores genéticos,
lesões e doenças. As avaliações eletrodiagnósticas podem
ajudar o clínico a estabelecer um diagnóstico do paciente e
auxiliar o fisioterapeuta na reabilitação.
O potencial evocado sômato-sensorial (PESS) ou resposta
sensorial evocada é a atividade elétrica do sistema nervoso
gerada como resposta ao estímulo da via sensitiva. Essa
resposta tem origem nos nervos periféricos, percorrendo a
medula espinhal, o tronco cerebral, em nível subcortical e o
córtex sensitivo primário, na dependência do estímulo
empregado e da escolha dos parâmetros para registro [2].
Sendo assim o PESS vem sendo usado como método de
avaliação para registro de estímulos dos nervos desde a
extremidade dos nervos na extremidade inferior até o
cérebro de sujeitos normais e pacientes com patologias da
medula espinhal [3-12].
Por outro lado, a estimulação elétrica neuromuscular
(EENM) tem se mostrado útil para substituição dos
movimentos de membros paralisado. Desta forma, passou
a ser usada com a finalidade de reeducação muscular,
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
prevenção de atrofia, redução temporária da espasticidade
e redução das contraturas e do edema [13].
Em programa de exercício induzido, a EENM se
caracteriza por aumentar o diâmetro, a força e a excitabilidade
do músculo do quadríceps, bem como a capacidade de
trabalho dos pacientes [14-17].
Estudos no músculo do quadríceps, constataram que a
combinação de exercícios passivos e EENM obteve melhores
resultados em relação as intervenções fisioterapêuticas usado
isoladamente [18]. A estimulação elétrica tem sido usada
para auxiliar a fase de oscilação da marcha em pacientes
com lesão medular e hemiplégicos, assim como para gerar a
fase de duplo apoio, a estabilidade em pacientes hemiplégicos
e a postura correta em pacientes com lesão medular [19]. A
partir desses estudos a literatura mostra que a estimulação
elétrica passou a ser difundida nos tratamentos de pacientes
com lesão medular [20-22].
Conhecendo a importância do diagnóstico e prognóstico
correto no início do tratamento fisioterápico, assim como o
uso da EENM no tratamento de reabilitação, o propósito
deste estudo foi verificar a evolução inicial destes pacientes,
através da avaliação ASIA, FIM, avaliação fisioterápica e o
exame do potencial evocado quando submetidos ao
Programa de Estimulação Elétrica Neuromuscular e
Programa Fisioterápico Convencional.
Objetivos
- Avaliar o exame do potencial evocado sômato-sensorial
como recurso de determinação para o prognostico na
reabilitação em pacientes portadores de lesão medular
submetidos aos programas de EENM e Fisioterapia
Convencional
- Avaliar a evolução dos pacientes participantes aos
Programa de Estimulação Elétrica Neuromuscular e
Programa de Fisioterapia Convencional.
Material e métodos
Tratou-se de um estudo analítico, desenvolvido no
Laboratório de Potenciais Evocados e Ambulatório de
Ortopedia do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP) e Clínica de Fisioterapia
da Universidade Paulista (UNIP) Campus Sorocaba, no
período de 6 meses. Os critérios de inclusão foram: lesão
do neurônio motor superior acima do nível T12, tempo de
lesão superior a um ano, integridade da via de neurônio
motor inferior, músculos com boas propriedades contráteis,
autorização do médico responsável, condições psico-sociais
satisfatórias e foram considerados fatores de exclusão: sinais
radiológicos de osteoporose, fraturas recentes, sinais de
degeneração ósteo-articular, presença de doenças metabólicas
e inflamatórias.
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Os pacientes foram informados oralmente e por escrito
dos benefícios e riscos dos procedimentos, segundo o parecer
do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências
Médicas/UNICAMP.
Tais pacientes foram divididos em 2 grupos: Grupo A –
9 pacientes pertencentes ao PEENN e Grupo B - 10
pacientes pertencentes ao PFC. Todos os pacientes foram
submetidos ao: exame do potencial evocado sômato-sensorial,
avaliação fisioterápica, avaliação ASIA (classificação
neurológica da lesão medular e medida funcional
independente (FIM) e escala de deficiência ASIA), sempre
pelo mesmo investigador, de acordo com os protocolos préestabelecido, sendo que o exame do potencial evocado foi
realizado pelo médico responsável e acompanhado pelo
mesmo investigador.
Registro dos potenciais evocados
O potencial evocado foi registrado usando-se
equipamento Nihon-Kohden Neuropack – 4 Mini e gravado
em disco magnético e em papel, para análise posterior. Foi
empregada estimulação de corrente constante e uma onda
quadrada de 0,1-0,5 ms de duração e corrente de 1 a 20
mA. O registro foi feito através de eletrodos localizados
conforme o sistema internacional 10/20, usado em
eletroencefalografia: para registro de PESS de membros
inferiores, foi feita estimulação de cada um dos nervos
tibiais posteriores, junto ao maléolo medial, e foi empregado
um eletrodo ativo em Cz, com referência em Fz; para
registro de PESS de membros superiores era estimulado o
nervo mediano, no punho, e foram registradas as respostas
em ponto de Erb ipsilateral, com referência em clavícula
contralateral, sobre a apófise espinhosa da sétima vértebra
cervical, com referência em Fz, e em córtex sensitivo
primário contralateral (C3' ou C4', conforme o caso), com
referência em Fz. A impedância foi mantida abaixo de 5
kW, a amplitude do sinal da tela foi de 2,50 mV/div., o
tempo de análise de 50 ms, e as medidas foram feitas em 2
amostras da média de 500 respostas, superpostas para
assegurar a consistência do registro. Após o término do
tratamento dos programas: PEENM e PFC, o potencial
evocado sômato-sensorial realizado no início dos programas
foram analisados e divididos em 3 tipos: PEAU Potencial
Evocado Ausente; PEAN – Potencial Evocado Anormal e
PEN - Potencial Evocado Normal
Avaliação fisioterápica
Foi elaborada para este estudo, baseada na avaliação de
pacientes com lesão medular23 A avaliação foi aplicada antes
e após o PENM e PFC.
As variáveis categóricas estudadas foram: edema, escara,
amplitude articular da cintura escapular (AACE), amplitude
21
articular cotovelo (AAC), amplitude articular punho e mão
(AAPM), amplitude articular coxo-femoral (AACF),
amplitude articular joelho (AAJ), amplitude articular tornozelo
e pé (AATP), tônus muscular (TM) e movimento voluntário
(MV).
Avaliação ASIA – classificação neurológica da lesão
medular, medida funcional independente (FIM) e escala de
deficiência.
Os padrões da avaliação ASIA representam o conjunto
de dados mais precisos e confiáveis e foram endossados
pela Sociedade Médica Internacional de Paraplegia (IMSOP)
como padrões Internacionais recomendados, sendo
utilizados como base de dados para avaliação de pacientes
portadores de lesão medular [1]. A avaliação neurológica
ASIA, favorece vários indicadores do dano neurológico,
como: nível neurológico, nível sensitivo e nível motor.
As variáveis contínuas estudadas foram índice ASIA
motor (IAM), índice ASIA sensibilidade toque (IAST) e índice
ASIA sensibilidade dolorosa (IASD), medida funcional
independente (FIM).
Grupo A - Programa de estimulação elétrica
neuromuscular
Um modelo de estimulador elétrico portátil de dois
canais, foi usado neste estudo. Os parâmetros de
estimulação foram CT: 33%, freqüência 25 Hz, duração
de pulso 300ms, intensidade 0 a 150 V (carga 1 KW). Os
pacientes foram atendidos com intervalo de uma semana,
num total de aproximadamente dez sessões, sempre no
mesmo horário, com intervalo de uma semana, durante o
período de 3 meses, ou até manter a extensão do joelho
por 20 minutos durante o exercício. O grupo estimulado
foi o músculo quadríceps femoral. O paciente com bom
equilíbrio de tronco e com força de membros superiores
suficiente para manter o peso do corpo em andador pelo
tempo de 15 minutos foi considerado apto para iniciar o
treino de marcha. Estes foram atendidos em um total de
aproximadamente 10 sessões, sempre no mesmo horário,
com intervalos de uma semana, durante o período de 3
meses. Nessa fase foram estimulados os músculos
quadríceps femoral e fibular, com 02 canais estimulando
os extensores do joelho - aplicação do estimulo no músculo
do quadríceps (estabilizadores do joelho) e 02 canais
estimulando o nervo fibular (contração do grupo muscular
responsável pelos movimentos de flexão e eversão do pé).
Grupo B – Programa do tratamento
fisioterápico convencional
Os pacientes foram atendimento duas vezes por semana,
sempre no mesmo horário, durante um período de 6 meses,
22
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
através de um programa de cinesioterapia visando ganhar
flexibilidade, amplitude muscular e força muscular,
restaurando e facilitando os movimentos ativos na
musculatura disponível e desenvolvendo funções,
melhorando condições físicas e psíquicas, visando sempre a
prevenção de deformidades. Foram aplicados exercícios de
fortalecimento muscular, manutenção de amplitude de
movimento e facilitação dos movimentos ativos na
musculatura disponível, alongamento, transferências,
preparação para marcha (posição ortostática), e finalmente
treino de marcha com órtese. Durante todo o tempo os
pacientes recebiam orientações sobre cuidados e benefícios
do atendimento.
O treino de Marcha iniciava na barra paralela, com órtese,
onde foram realizados os primeiros passos, sempre com a
ajuda do terapeuta. Estando o paciente apto a andar
passávamos ao andador.
Avaliação fisioterápica - comparando os dois
grupos com relação às variáveis categóricas
Para as variáveis edema, escaras e movimento
voluntários, observou-se nos dois grupos, redução na
porcentagem de pacientes com edema e escara da primeira
para a segunda avaliação e um aumento na porcentagem
de pacientes com movimento voluntário na segunda
avaliação (Tabela II).
Para as variáveis edema, escara e movimento voluntário
foram testadas as proporções de SIM para os Grupos de
EENM e FC.
Tabela II – Diferença obtida das variáveis categóricas testadas em
proporções referentes à primeira e segunda avaliações, do Grupo A –EENM
e Grupo B – FC.
Primeira avaliação
Segunda avaliação
Resultados
Houve homogeneidade quando comparamos os dois
grupos estudados na primeira avaliação, nas variáveis
ordenáveis: idade, tempo de lesão, medida funcional
independente (FIM), tônus muscular, índice ASIA Motora,
Índice ASIA Sensibilidade (toque), Índice ASIA Sensibilidade.
(Testes de Mann- Whitney)
Avaliação ASIA – Comparando os grupo A –
EENM e grupo B – FC
Para comparar a diferença da segunda para a primeira
avaliação para cada variável em cada grupo, foi realizado o
Teste t de student.
Através dos testes realizados, verificou-se que não houve
diferença estatística significativa entre os dois grupos em
estudo com relação às variáveis: FIM – medida funcional
independente, IAM – índice ASIA motora, IAST – índice
ASIA sensibilidade toque, IASD – índice ASIA sensibilidade
dolorosa (Tabela I).
Como se pode observar, para as variáveis FIM e IAM
o grupo FC apresentou média superior ao grupo EENM.
Já o grupo EENM apresentou média das variáveis IAST e
IASD superior ao grupo FC.
N = número de pacientes
Para as variáveis AACE -amplitude articular da cintura
escapular, AAC - amplitude articular do cotovelo, AAPM
- amplitude articular do punho e mão, AACF - amplitude
articular coxo femoral, AAJ - amplitude articular do
joelho, AATP - amplitude articular tornozelo, observouse que para ambos os grupos, em todas as articulações, a
análise estatística mostra a mesma porcentagem de
pacientes com bloqueio da primeira para a segunda
avaliação ou aponta redução na porcentagem de pacientes
com bloqueio da primeira para a segunda avaliação
(Tabela III).
Para as variáveis AACE, AAC, AAPM, AACF, AAJ e
AATP foram testadas as hipóteses de com bloqueio para
os grupos EENM e F.C.
Tabela III - Diferença obtida das variáveis categóricas com bloqueio
referentes à primeira e segunda avaliações, do Grupo A –EENM e Grupo
B – FC.
Primeira avaliação
Segunda avaliação
Tabela I - Comparação das variáveis contínuas referentes ao Grupo A –
EENM e Grupo B – FC
Variáveis
Média
DP
Média
DP
p.valor
FIM – medida funcional independente, IAM – índice ASIA motora, IAST –
índice ASIA sensibilidade toque, IASD – índice ASIA sensibilidade dolorosa
D.P. – desvio padrão
N = número de pacientes, AAC - amplitude articular do cotovelo, AAPM amplitude articular do punho e mão, AACF - amplitude articular coxo
femoral, AAJ - amplitude articular do joelho, AATP - amplitude articular
tornozelo e pé.
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Avaliação do exame de potencial evocado e
escala de deficiência ASIA
Os resultados das variáveis do Potencial Evocado
Periférico (membro superior) e Potencial Evocado Central
(membro superior e inferior) com a Escala de Deficiência
ASIA referentes aos 19 pacientes do Grupo A e Grupo B,
mostraram que:
- 18 pacientes apresentaram Potencial Evocado Central
do Membro Inferior Ausente, mantendo a mesma Escala
de Deficiência ASIA após 6 meses do PEENM e PFC
(Tabela IV e Tabela V).
- O paciente (6) foi o único paciente que apresentou
o PESS normal apresentando uma mudança na Escala
de Deficiência ASIA após 6 meses do PEENM e PFC
(Tabela V).
23
pacientes do grupo A – EENM e grupo B – F.C. (Tabela VI
e Tabela VII)
Observa-se que o paciente nº 6 do grupo B - FC foi o
único paciente que apresentou o potencial evocado normal
e maior diferença da primeira para a segunda avaliação com
relação a pontuação de ganho funcionais quando
comparados aos demais pacientes (FIM) (Tabela VII).
Tabela VI - Potencial Evocado e a diferença da variável FIM, referente
aos pacientes do Grupo A – EENM.
Tabela IV - Grupo A - Potencial Evocado e Escala de Deficiência ASIA.
Paciente Potencial Evocado Sômato-sensorial Escala de Deficiência
ASIA
Avaliação Avaliação
Tabela VII - Potencial Evocado e a diferença da variável FIM, referente
aos pacientes do Grupo B – FC.
Tabela V - Grupo B - Potencial Evocado e Escala de Deficiência ASIA.
Paciente Potencial Evocado Sômato-sensorial Escala de Deficiência
ASIA
Avaliação Avaliação
Normal
Normal
Anormal
Normal
Normal
Normal
Normal
Normal
Normal
Normal
Normal
Normal
Normal
Ausente
Anormal
Normal
Ausente
Normal
Normal
Normal
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Normal
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Avaliação do exame do potencial evocado
quanto à avaliação da medida funcional
independente (FIM)
Os resultados do Potencial Evocado e a diferença da
primeira e segunda avaliação, quanto à avaliação da medida
funcional independente (FIM), mostrou que houve um
aumento da medida funcional independente em todos os
Discussão
É interessante verificar que, mesmo partindo de pacientes
selecionados por apresentarem quadro evolutivo estável,
dentro da fase crônica de lesão medular, decorridos apenas
seis meses de atendimento, ambos os grupos apresentaram
pontuação aumentada nas diversas escalas empregadas para
avaliar a evolução funcional.
Não conseguimos encontrar diferenças significativas de
evolução entre os dois grupos, o que sugere fortemente que
tal evolução parece decorrer da continuidade do atendimento
de reabilitação, e não apenas do tipo de tratamento. Tanto o
PEENM e PFC apresentaram benefícios para os pacientes,
sendo que, o uso da EENM na prática da terapia dos
pacientes com lesão medular pode complementar o
24
tratamento de FC, oferecendo ao paciente melhores chances
de recuperação no atendimento de reabilitação.
A avaliação ASIA, medida funcional independente (FIM),
escala de deficiência e avaliação fisioterápica complementam
no diagnóstico de pacientes com lesão medular.
Os resultados mostraram que houve uma correlação do
exame do PESS e a avaliação ASIA, quando verificamos
que o único paciente que apresentou o PESS cortical normal
teve pontuação melhor que a de seus companheiros com
potenciais evocados corticais ausentes na medida funcional
(FIM).e na escala de deficiência ASIA a partir de 6 meses
de acompanhamento. Este achado constitui-se um ponto
significativo quanto à determinação de prognóstico. A
presença da resposta evocada cortical à estimulação do nervo
tibial posterior indica a preservação – ao menos parcial –
da via sômato-sensorial correspondente. Esse fato importante
não havia sido detectado pela avaliação clínica ou fisioterápica
anterior ao início do estudo. Nessas condições, o registro
dos potenciais evocados sômato-sensoriais mostrou-se útil
tanto no diagnóstico da natureza da lesão medular como no
estabelecimento de um prognóstico mais favorável.
Conclusão
1 – Não houve diferença significativa quando
comparamos o Grupo A – EENM e Grupo B –F.C em
relação as variáveis FIM, IAM, IAST e IASD.
2 – Houve redução de edema e escara nos dois grupos,
além de uma redução do bloqueio da amplitude articular e
redução do tônus muscular dos pacientes do Grupo A –
EENM e Grupo B – FC.
3 – Tanto nos grupos de EENM e FC, houve diferença
significativa da independência funcional quando comparamos
a primeira com a segunda avaliação para as variáveis FIM.
4 – Quanto à utilidade do registro dos potenciais evocados
sômatos-sensoriais no prognóstico, o único paciente a
apresentar potenciais evocados sômatos-sensoriais centrais
normais foi também o mesmo a apresentar os maiores
aumentos na medida funcional independente (FIM), no índice
ASIA motora (IAM) e também apresentou mudanças na
Escala de Deficiência ASIA.
O trabalho com os pacientes de lesão medular continua
sendo um desafio aos profissionais da área da saúde.
Portanto novos estudos tornam-se necessários para
proporcionar um futuro mais digno para estes pacientes.
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Faculdade de Engenharia Elétrica, Campinas SP 1995.
25
26
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Artigo original
Avaliação da escala de medição da locomoção independente
funcional em pacientes com traumatismo cranioencefálico e
escala de coma de Glasgow menor ou igual a oito
Evaluation of functional independent motion mensuration scale
in patients with traumatic brain injury and Glasgow coma scale
in less or equal eight
Sérgio Nogueira Nemer*, Jefferson B. Caldeira**, Liane M. M. Abreu**, Leandro M. Azeredo**, Cátia M. Coimbra**,
Cláudia S. Geraldo**, Luis R. Santos**, Iracema C. Seródio**, Jordan Brust**, Juliani Goulart**, Monclar Polycarpo**,
Soraya T. Machado**, Marcela B. Azeredo**, Léa K. Ferreira**, Paulo S. Reis**, Ricardo Gago**, Cláudia A. Savedra**,
Lúcio A. Mendonça**, João Márcio Garcia***, Paulo César Pereira de Souza****
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*Fisioterapeuta, Pós-graduado em neurofisiologia pelo IBMR, Professor de fisioterapia em UTI da Universo, Professor do curso de Pós-graduação
em fisioterapia cárdio-respiratória da Universo (módulo: ventilação mecânica), Professor do curso de pós-graduação em fisioterapia pneumofuncional da Universidade Castelo Branco (módulo: paciente neurológico crítico), Chefe da equipe de fisioterapia e rotina da ventilação mecânica do
Hospital de Clínicas de Niterói, ** Fisioterapeutas do Hospital de Clínicas de Niterói, *** Neurocirurgião do Hospital de Clínicas de Niterói, ****
Chefe da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital de Clínicas de Niterói
Palavras-chave:
Idosos, quedas,
institucionalização.
Resumo
Os pacientes com traumatismo cranioencefálico e escala de coma de Glasgow < 8
(TCE grave) possuem indicação para ventilação mecânica invasiva e, geralmente,
apresentam incapacidade funcional importante. Grande parte, infelizmente, só inicia a
marcha em casa, passando o período de internação praticamente no leito. O objetivo
deste trabalho é avaliar a evolução da Escala de Medição da Locomoção Independente
Funcional (FIM) em pacientes com TCE grave na fase hospitalar, utilizando a fisioterapia
motora precoce desde a internação na UTI. Foram avaliados 30 pacientes com TCE
grave, submetidos à fisioterapia motora precoce no leito, iniciando a postura ortostática
e a marcha com o auxílio do fisioterapeuta, sempre que possível, ainda na UTI. A FIM
avaliou a marcha e o subir e descer escadas, apresentando a graduação mínima em 2 e
a máxima em 14. O tempo de avaliação foi de 30 dias após o desmame, sendo a FIM
mensurada durante a internação. Os pacientes que foram à óbito (3 pacientes) e que
permaneceram em estado vegetativo (5 pacientes) durante a internação foram excluídos
do estudo. O valor inicial da FIM foi 2 para todos os 22 pacientes avaliados. Porém, até
o trigésimo dia após o desmame, a FIM variou de 3 a 14 (7,36 ± 2,32), P = 0,0002 -
Artigo recebido em 10 de setembro de 2002; aprovado em 15 de dezembro de 2002.
Endereço para correspondência: Sérgio Nogueira Nemer, Rua Miguel de Frias, 95, Bloco B/101, Icaraí, Niterói – RJ, E-mail: [email protected]
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
27
Wilcoxon Test. Com os resultados obtidos, podemos concluir que a fisioterapia motora
precoce proporcionou melhora bastante significativa na locomoção independente
(avaliados pela FIM) em pacientes com TCE grave, sendo essencial para o tratamento
na fase intra hospitalar.
Key-Words:
Traumatic brain
injury, early motor
physiotherapy, FIM.
Abstract
Patients with Traumatic Brain Injury and Glasgow Coma Scale < 8 (severe TBI)
have indication to invasive mechanical ventilation and generally present important
functional incapacity. Unfortunately, the majority of these patients begin to walk
only at home, spending the period of internment practically in bed. The aim of
this study is to evaluate the development of the Functional Independent Motion
(FIM) mensuration scale in patients with severe TBI in hospital phase, using early
motor physiotherapy since the admission to the Intensive Care Unit (ICU).
Thirty patients with severe TBI undergoing early motor physiotherapy in bed
were evaluated, starting the orthostatic posture and walking with the help of the
physiotherapist as often as possible, yet in ICU. The FIM evaluated their walking
and their going upstairs and downstairs, presenting the minimum score in two and
the maximum in fourteen. The length of evaluation was thirty days after the weaning,
while the FIM was measured during the period of internment.
The patients that died (three patients) and those who stayed in vegetative state
(five patients) over the period of internment were excluded from the study. The
initial score of FIM was two for all of the 22 patients evaluated, but, until the
thirtieth day after the weaning, the FIM varied from 3 to 14 (7,36 ± 2,32), P =
0,0002 – Wilcoxon Test.
With the obtained results, we may conclude that the early motor physiotherapy
enabled significant improvement in independent motion (evaluated by FIM) in
patients with severe TBI, being essential for the treatment of these patients in
hospital phase.
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Introdução
Os pacientes vítimas de traumatismo cranioencefálico
(TCE) são a quarta principal causa de mortalidade nos
Estados Unidos nos últimos 40 anos, enquanto que entre
as pessoas de 1 a 45 anos se encontram em primeiro lugar
[1]. A mortalidade dos pacientes vítimas de TCE está em
torno de 40% e não está limitada somente aos países
desenvolvidos, sendo o TCE bastante presente em todo o
mundo [1]. Infelizmente, mais da metade das mortes por
TCE ocorre no local do trauma, sem tempo hábil para
reanimação [1]
A faixa etária mais atingida está entre os 15 aos 24 anos
[2]. Nas crianças com menos de 5 anos apresentam a
○
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○
freqüência é relativamente elevada. Já nos idosos de meia
idade, geralmente constituem uma baixa freqüência. Por
outro lado, os idosos com mais de 60 anos mostram uma
elevação na incidência de TCE, provavelmente associada à
quedas da própria altura [1].
As lesões encefálicas são responsáveis por cerca de 60%
das internações hospitalares [3]. Na admissão na emergência
ou na UTI, o primeiro passo é avaliar a Escala de Coma de
Glasgow, pois quando ela encontra-se menor ou igual a 8,
constitui indicação de via aérea artificial e ventilação
mecânica, objetivando não somente a proteção das vias
aéreas, como também a regulação adequada dos gases
sangüíneos. A hipóxia e a hipercapnia contribuem para
aumentar a pressão intra craniana (PIC), através do aumento
28
do fluxo sangüíneo cerebral (FSC), enquanto a hipocapnia
reduz o FSC e, conseqüentemente, a PIC. Porém, a
hipocapnia abusiva (PaCO2 < 25 mm Hg) pode provocar
isquemia cerebral, aumentando a mortalidade [4] e a
morbidade, provocando hipóxia tecidual cerebral [5].
A Escala de Coma de Glasgow foi designada para avaliar
a gravidade do coma em conseqüência ao inchaço cerebral,
portanto não deve ser utilizada em pacientes comatosos
que não apresentem lesão cerebral aguda. Pacientes com
escala de coma de Glasgow entre 3 a 4 geralmente evoluem
com óbito, estado vegetativo ou incapacidade grave,
enquanto que entre 4 a 6, evoluem com incapacidade
moderada e entre 6 a 7, geralmente evoluem com
incapacidade leve ou boa recuperação [6].
A Escala de Medição da Locomoção Independente
Funcional (FIM) mensura a evolução da locomoção em
relação à marcha e ao subir e descer escadas, sendo um
valioso instrumento para a avaliar a recuperação da
locomoção, em pacientes com lesões cerebrais
traumáticas ou não.
Material e métodos
O estudo foi realizado entre o período de fevereiro de
1999 a janeiro de 2002, inicialmente na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) do Hospital de Clínicas de Niterói e
posteriormente em suas dependências. Avaliamos 30
pacientes consecutivos, vítimas de traumatismo
cranioencefálico, com escala de coma de Glasgow menor
ou igual a 8 e, como preconiza a literatura, todos foram
entubados e ventilados de forma invasiva. Todos os
pacientes avaliados tiveram a PIC monitorizada ao menos
nos 5 primeiros dias após o TCE, sendo a mensuração
suspensa somente após 48 horas de normalidade (valores
inferiores a 15 mm Hg). A fisioterapia motora foi iniciada
no segundo dia após o TCE, mesmo na presença de
hipertensão intracraniana (HIC), desde que se evite
manobras tipo “valsalva” [7], não se provoque a tosse
durante a aspiração traqueal ou que não se realize a técnica
de “bag squeezing” [8] e, principalmente, se mantenha o
bom senso, não há elevações significativas na PIC durante
a fisioterapia. Na fase aguda, os pacientes eram submetidos
à fisioterapia motora, com pelo menos as seguintes
condutas básicas: rotação de quadril, mobilização escapular
em decúbito lateral, mobilização passiva de membro
superior (mantendo alinhamento da cabeça umeral na
cavidade glenóide, a fim de evitar microtraumatismos
devido à provável plegia e hipotonia), mobilização passiva
de membros inferiores, posicionamento adequado no leito,
entre outras condutas direcionadas para cada caso
específico. A fisioterapia respiratória foi realizada com pelo
menos as seguintes condutas: vibração e compressão
torácica associada à mudanças de decúbito, aspiração de
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
secreções (sem estimular a tosse), entre outras direcionadas
para cada caso específico. A fim de evitar elevações na
PIC, maior consumo metabólico e de oxigênio, todos os
pacientes foram mantidos sedados com escala de Ramsey
em 6, ao menos nos 3 primeiros dias após o TCE. Durante
e após o desmame, as condutas fisioterapêuticas foram
gradativamente intensificadas, assim como a postura
sentada no leito e fora dele.
Após o desmame ter sido finalizado, os pacientes foram
estimulados a readquirir o equilíbrio sentado no leito,
mesmo que ainda se encontrassem inconscientes. A postura
ortostática precoce também foi estimulada, tendo como
pré-requisitos os seguintes critérios: estabilidade
hemodinâmica e controle de tronco e cabeça. A marcha
com o auxílio do fisioterapeuta foi tentada mesmo nos
pacientes que ainda se encontravam pouco cooperativos,
tendo como pré-requisito o êxito em adquirir a postura
ortostática com auxílio, algum controle no apoio do passo
e na sustentação do peso unilateral ao menos no lado sadio
[9]. Os pacientes que obtiveram recuperação mais rápida
do coma foram submetidos à marcha com auxílio ainda
na UTI (com cuidados como a adequada transferência de
peso, travamento do joelho, etc), enquanto os demais foram
iniciar os primeiros passos somente nos quartos.
A FIM foi inicialmente mensurada em todos os
pacientes que não permaneceram em “estado vegetativo”
após o desmame, sendo o valor inicial situado em 2 (auxílio
total para deambular e para subir degraus ou incapacidade
mesmo com auxílio). Dos 30 pacientes inicialmente
avaliados, 8 foram excluídos do estudo, pois 3 foram à
óbito e 5 permaneceram em “estado vegetativo”.
Quadro I - Escala de Coma de Glagow
Resposta Verbal
Nenhuma
Sons incompreensíveis
Palavras inadequadas
Confuso
Orientado
1
2
3
4
5
Abertura Ocular
Nenhuma
À dor
À fala
Espontaneamente
1
2
3
4
Resposta Motora
Nenhuma
Extensão anormal
Flexão anormal
Retirada
Localiza
Obedece
1
2
3
4
5
6
Total = soma dos 3 componentes
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
29
Quadro II - Escala de Medição da Locomoção Independente Funcional (FIM) adaptada [10]*
Locomoção - marcha:
Sem ajudante:
7 – Independência completa. Paciente caminha com
segurança uma distância mínima de 50 metros sem
qualquer auxílio.
6 – Independência modificada. Paciente caminha uma
distância mínima de 50 metros, mas usa órteses ou
próteses, muletas ou um andador; demora mais tempo que
o necessário ou há considerações de segurança.
5 – Paciente caminha independentemente distâncias breves
(mínimo de 17 metros), com ou sem dispositivos.
Com ajudante:
5 – Supervisão: Paciente requer supervisão, indicações ou
estímulos para percorrer pelo menos 50 metros.
4 – Auxílio com contato mínimo: Paciente executa 75% ou mais dos
esforços da locomoção para percorrer ao menos 50 metros.
3 – Auxílio moderado: Paciente executa de 50 a 74% dos esforços
da locomoção necessários para percorrer ao menos 50 metros.
2 – Auxílio máximo: Paciente executa 25 a 49% dos esforços da
locomoção necessários para percorrer ao menos 17 metros.
Necessita auxílio de somente uma pessoa.
1 – Auxílio total. Paciente executa menos de 24% dos esforços, ou
requer auxílio de duas pessoas ou não caminha.
Escadas:
Sem ajudante:
7 – Independência completa: Paciente sobe e desce com
segurança ao menos um nível de escada (12 a 14 degraus),
sem depender de corrimão ou qualquer tipo de apoio.
6 – Independência modificada: Paciente sobe e desce ao
menos um nível de escada, mas necessita de apoio lateral,
corrimão ou muletas; demora mais tempo que o necessário
ou há considerações de segurança.
5 – Paciente sobe e desce 4 a 6 degraus independentemente
com ou sem dispositivos. Demora mais tempo que o
necessário ou há considerações de segurança.
Com ajudante:
5 – Supervisão: Paciente requer supervisão, ou que lhe forneça
indicações para subir ou descer um nível de escada.
4 – Auxílio com contato mínimo: Paciente executa 75% ou mais
dos esforços necessários para subir e descer um nível de escada.
3 – Auxílio moderado: Paciente executa de 50 a 74% dos esforços
necessários para subir e descer um nível de escada.
2 – Auxílio máximo: Paciente executa 25 a 49% dos esforços
necessários para subir e descer 4 a 6 degraus. Necessita de auxílio
de somente uma pessoa.
1 – Auxílio total: Paciente executa menos de 25% dos esforços, ou
requer auxílio de duas pessoas, ou não sobe e desce 4 a 6 degraus
ou é carregado.
* Adaptação: a locomoção em cadeiras de rodas não foi considerada.
Resultados e análise estatística
Tabela 1 - Principais características e evolução da FIM nos 22 pacientes avaliados.
Paciente Glasgow APACHE II
Nº
Idade
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
19
28
22
24
44
20
36
24
23
37
38
22
38
20
34
24
20
25
23
21
20
39
7
3
6
8
4
5
6
6
5
5
6
5
5
5
5
6
4
5
8
7
7
7
18
17
17
13
21
20
21
23
22
21
14
14
14
16
8
18
16
15
11
12
12
21
PIC
15
15
9
8
21
15
12
15
22
23
13
25
23
23
18
14
21
20
18
12
10
10
Dias em
VM.
Marcha
19
14
11
7
16
7
33
12
10
14
8
13
7
7
12
7
10
7
23
10
9
23
7
3
5
7
3
4
6
5
6
7
6
2
2
2
2
6
2
2
7
7
7
7
Escadas FIM
5
1
3
7
1
2
2
2
2
2
2
1
1
1
1
2
1
1
7
5
2
3
12
4
8
14
4
6
8
7
8
9
8
3
3
3
3
8
3
3
14
12
9
10
Dos 30 pacientes avaliados, 8 foram
excluídos do estudo, pois 3 foram à óbito
e 5 permaneceram em estado vegetativo,
ao menos durante a internação. Entre os
22 pacientes que permaneceram no estudo,
a idade variou de 19 a 44 anos (27,31 ±
7,95), o APACHE II (Acute Physiology and
Chronic Health Evaluation) encontrado na
internação variou de 8 a 23 (16,54 ± 4,09).
A Escala de Coma de Glasgow variou de 3
a 8 (5,68 ± 1,30). A PIC nas primeiras 48
horas variou de 8 a 25 mm Hg (16,45 ±
5,21). O tempo em ventilação mecânica
variou de 7 a 33 dias (12,68 ± 6,67).
O valor inicial da FIM para todos os
pacientes avaliados foi 2 (1 ponto para cada
locomoção – respectivamente, marcha e subir
e descer escadas), pois após o desmame,
nenhum paciente era capaz de ao menos
manter-se em postura ortostática sem auxílio.
30
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Avaliamos a elevação da FIM durante 30 dias após o
desmame e analisamos através do teste de Wilcoxon,
mostrando a melhora da locomoção nos pacientes avaliados,
partindo do valor inicial em 2 até o valor alcançado no
trigésimo dia após o desmame. Após um mês de fisioterapia
motora diária, a FIM variou de 3 a 14 (7,36 ± 2,32). Todos
os 22 pacientes conseguiram alguma evolução na marcha. 6
pacientes tiveram a FIM em 3 (aqueles que só conseguiram
deambular com bastante auxílio, executando cerca de 25 a
49% dos esforços para percorrer ao menos 17 metros e não
conseguiram subir e descer escadas). Dois pacientes
alcançaram a graduação máxima, ou seja, 14 e obtiveram
alta hospitalar deambulando, subindo e descendo escadas
independentemente. De acordo com o Teste de Wilcoxon,
houve evolução bastante significativa na marcha dos pacientes
avaliados, com P = 0,00002.
A tabela I relaciona os 22 pacientes que permaneceram no
estudo, onde a Escala de Coma de Glasgow foi avaliada ainda
na emergência. A PIC mencionada foi a média do primeiro
dia de internação. Os dias em ventilação mecânica (dias em
VM) foram contados desde a admissão na UTI, até a
descontinuação definitiva da ventilação. O resultado da FIM é
a soma da pontuação em caminhar com o subir e descer
escadas, após no máximo 30 dias do desmame.
Discussão
Os pacientes vítimas de traumatismo cranioencefálico
com Escala de Coma de Glasgow menor ou igual a 8, são
classificados como TCE grave [6] e, portanto, são os que
apresentam piores prognósticos em relação à sobrevida e à
recuperação.
A HIC geralmente inibe os médicos, a indicarem a
fisioterapia e aos fisioterapeutas para realizarem a fisioterapia
motora. Muitas vezes, apenas uma simples fisioterapia
respiratória é realizada, objetivando manter as vias aéreas
pérveas. Os pacientes são mantidos em decúbito dorsal por
tempo prolongado e quase estáticos. Ficam nesta posição
por tempo indeterminado. No entanto, o decúbito dorsal
predispõe à atividade reflexa anormal, devido à influência
dos reflexos tônicos cervicais e labirínticos [11], enquanto a
imobilidade no leito predispõe à rigidez articular, aderências
capsulares, trombose venosa, pneumonias, entre outras
alterações musculoesqueléticas, que associada à ossificação
heterotópica (bastante comuns em pacientes com TCE,
principalmente nos que permaneceram em coma por mais
de quatro semanas [12]) e a miosite ossificante levam à
grande dificuldade de recuperação após a fase aguda. Como
citado no início deste estudo, a fisioterapia motora pode ser
realizada sem maiores complicações, desde que se evite
manobras que aumentem a pressão intra torácica, ou que
dificultem o retorno venoso ao coração, ou que restrinjam
a drenagem venosa cerebral ou, principalmente, não seja
realizada com bom senso. Portanto, não há motivos para
permitir que qualquer paciente permaneça estático no leito
ou que não seja colocado em decúbito lateral. Para isto,
basta manter a coluna cervical alinhada, sem compressão
da veia jugular, que a drenagem venosa cerebral se dará
normalmente, sem repercussões sobre a PIC. O
posicionamento em decúbito lateral sobre o lado afetado,
reduz a espasticidade pelo alongamento de toda região lateral
do tronco [11], devendo ser enfatizado. A postura sentada
geralmente é adotada muito tardiamente e a ortostática,
muitas vezes, somente quando o paciente já está em casa.
Uma outra falha grave à alguns profissionais de terapia
intensiva, é que eles têm como objetivo apenas a alta da
UTI, sem se incomodar como o paciente vai voltar para a
sociedade. É essencial que qualquer paciente vítima de lesão
cerebral seja colocado em postura ortostática o mais precoce
possível, mesmo que ainda esteja inconsciente [13]. Entre
Evolução da locomoção em três pacientes
Fig. 1 - Paciente em coma (Glasgow 3).
Fig. 2 - Paciente ainda inconsciente,
treinando equilíbrio de tronco.
Fig. 3 - Paciente deambulando
com auxílio.
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Fig. 4 - Paciente em coma (Glasgow 7).
Fig. 5 - Paciente deambulando.
os vários benefícios em adquirir a postura ortostática,
podemos citar: redução da ocorrência de contraturas,
redução da espasticidade em membros inferiores, possível
redução nos períodos de inconsciência em pacientes
comatosos, menor temor ao deambular, melhora da
circulação, colaborando para evitar escaras, melhora da
função da bexiga, melhora do desempenho motor e
realização de tarefas do dia a dia [13]. No entanto, para
termos uma marcha bem sucedida, é necessária alguma
cognição [14, 20], equilíbrio [15,20], visão e sensação
preservada de posição articular [16,20], força [17,20],
velocidade [18,20], resistência [19,20], entre outros prérequisitos, motivos pelos quais os 5 pacientes que não
recuperaram satisfatoriamente o nível de consciência, foram
excluídos do estudo.
Nosso objetivo é mostrar que a fisioterapia motora
precoce é essencial e indispensável para uma plena
recuperação e retorno às atividades. De acordo com Janet
K. Freburger, a fisioterapia rotineira em pacientes com
acidente vascular cerebral está diretamente relacionada com
a redução dos custos e com aumento da probabilidade de
alta hospitalar [21].
Outras escalas de avaliação, como a Escala de Barthel,
podem ser ingratas em determinadas situações numa análise
global, pois o controle da bexiga e esfincteriano muitas vezes
Fig. 7 - Paciente em coma (Glasgow 7)
31
Fig. 6 - Paciente subindo escada com auxílio.
independem da fisioterapia na fase aguda, o que levaria uma
classificação mais baixa. O inconveniente que ocasionalmente
ocorre ao avaliar pacientes com escala de coma de Glasgow,
subestimando seus resultados em alguns pacientes com
acidente vascular cerebral, como exemplo, por já serem
afásicos (por lesões antigas) e não apresentarem resposta
verbal, não aconteceu em nosso estudo, pois todos os
pacientes eram previamente sadios. A FIM é restrita para a
locomoção, sem avaliar atividades da vida diária. Porém
avalia uma das funções mais importantes, que quando não
reconquistada pode levar à serias conseqüências psicológicas.
A FIM tem sido utilizada não só para avaliar pacientes
neurológicos, como também em programa de reabilitação
cardíaca, sendo apontada como o melhor preditor para a
alta hospitalar destes pacientes [22].
Conclusão
A fisioterapia motora precoce deve ser realizada em todos
os pacientes vítimas de TCE, mesmo que eles se encontrem
na fase aguda e com HIC, bastando apenas usar o bom
senso, para não elevar a PIC de forma significativa.
A postura sentada deve ser adotada o mais rápido
possível, mesmo que o paciente ainda se encontre comatoaso.
O ortostatismo deve ser também realizado o mais cedo
Fig. 8 - Paciente treinando equilíbrio de tronco.
Fig. 9 - Paciente deambulando com auxílio
pelo CTI
32
possível, constituindo a seqüência para uma marcha precoce.
A marcha deve ser enfatizada diariamente, mas para isto é
lógico que necessitamos de alguma colaboração por parte
do paciente. O subir e descer escadas com auxílio deve ser
também enfatizado e não possui como pré-requisito uma
deambulação independente, sendo motivo para gerar auto
confiança ao paciente. Tanto a marcha e o subir e descer
escadas em pacientes hemiparéticos, devem ser realizados
somente por profissionais familiarizados com estas condutas
e com total domínio da situação, a fim de evitar-se acidentes
e novos traumatismos.
De acordo com os resultados obtidos, podemos concluir
que a fisioterapia motora precoce proporcionou aumento
bastante significativo na independência da locomoção
(marcha e subir e descer escadas), sendo essencial e
indispensável desde a terapia intensiva até a alta hospitalar,
para que se possa ter uma boa e rápida recuperação até que
se dê continuidade à fisioterapia domiciliar.
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Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
33
Artigo original
Laser arseneto de gálio (Ga-As) no tratamento das algias
provocadas pela disfunção temporomandibular:
um estudo piloto
Gallium-arsenide laser (Ga-As) in the treatment of pains
provoked for the temporomandibular disorder: a piloty study
Fabiana Serafim*, Rita de Cassia Clark Teodoroski**.
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*Fisioterapeuta, Mestranda em Ciências do Movimento Humano da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC),
**Fisioterapeuta, Professora do Curso de Fisioterapia da Unisul, Mestre em Ciências do Movimento Humano da UDESC
Palavras-chave:
Laser, disfunção
temporomandibular,
dor.
Resumo
Esta pesquisa tem por objetivo principal analisar as alterações ocorridas na dor
articular provocada pela disfunção temporomandibular, após tratamento com laser
arseneto de gálio (Ga-As). A amostra foi composta por três sujeitos do sexo feminino,
portadores de disfunção temporomandibular, tendo como sintoma principal a dor bilateral
na região das articulações temporomandibulares. Os sujeitos foram submetidos a 10
sessões de terapia à laser, sendo realizadas uma vez ao dia, de forma ininterrupta. O
tipo de laser utilizado foi o Ga-As 904 nm com uma potência de saída de 5 J/cm² . Os
instrumentos utilizados para a coleta e análise dos dados foram: ficha de avaliação
contendo dados da disfunção e exame físico, ficha de evolução contendo uma escala
análoga visual da dor e a avaliação da amplitude de movimento articular sem dor.
Como resultado, a pesquisa demonstrou aumento na amplitude de movimento de abertura
da boca, lateralidades e protrusão. A dor nas articulações temporomandibulares, principal
objetivo de discussão deste trabalho, obteve melhora considerável, perdurando essa
analgesia por 20 dias após a terapia. Conclui-se com este estudo que a terapia com laser
Ga-As mostrou-se eficaz no tratamento da dor articular provocada pela disfunção
temporomandibular, além de melhorar as amplitudes de movimento articular
comprometidas com a disfunção.
Artigo recebido em 1 de novembro de 2002; aprovado em 5 de janeiro de 2003.
Endereço para correspondência: Fabiana Serafim, Rua Jaú Guedes da Fonseca 135/401, Coqueiros 88080-080 Florianópolis SC, Tel: (48) 9122
5613, E-mail: [email protected]
34
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Abstract
Key-words:
Laser, temporomandibular
disorders, pain.
This research has for main objective to analyze the occured alterations in articulate
pain provoked for the temporomandibular disorders after treatment with gallium-arsenide
laser (Ga-As). The sample was composed for three citizens of the feminine sex, carrying
of temporomandibular disorders, having as main symptom bilateral pain in the region
of the temporomandibulares joints. The citizens had been submitted the 10 sessions of
therapy to the laser, being carried through a time to the day, of uninterrupted form.
The type of used laser was Ga-As 904 nm with a power of exit of 5 J/cm². The
instruments used for the collection and analysis of the data had been: evaluation fiche
contend datas of the disorders and physical examination, and the evolution fiche contend
a visual analogue scale of the pain and the evaluation of the excursion of articulate
movement without pain. As result, the research demonstrated increase in the excursion
of opening movement of the mouth, lateral and protrusive excursions. Pain in the
temporomandibulares joints, main objective of this work, got considerable improvement,
lasting this reduction of pain 20 days after the therapy. It is concluded with this study
that the therapy with Ga-As laser revealed efficient in the treatment of articulate pain
provoked for the temporomandibular disorder, besides improving the amplitude of
movement to articulate engaged with the disorder.
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Introdução
O termo disfunção temporomandibular é utilizado de
uma maneira genérica para definir inúmeras desordens que
afetam as articulações temporomandibulares, os músculos
da mastigação, e as estruturas associadas [1].
As seguintes manifestações são consideradas sintomas
clássicos da disfunção temporomandibular (DTM): ruídos
na articulação da mandíbula (crepitação ou estalido);
limitação dos movimentos e/ou desvios dos movimentos
da mandíbula; dor a nível da articulação temporomandibular
e/ou dos músculos mastigatórios [2,1,3,4,5].
O diagnóstico da disfunção não é fácil e estima-se que
mais de 70% dos indivíduos saudáveis têm ao menos um
sinal de disfunção temporomandibular, mas somente 5 a
7% procuram tratamento [1,2]. A maioria dos casos de
disfunção temporomandibular é visto em mulheres na faixa
de 20 a 50 anos de idade [6].
Há vários anos que não existe um fator etiológico único
que possa se responsabilizar pela disfunção
temporomandibular [5]. Uma combinação entre maloclusão,
tensão emocional, estresse, ansiedade e fatores psicogênicos,
resultando espasmos musculares que levam à disfunção
temporomandibular é admitida [7]. As dores que são
atribuídas às disfunções da articulação temporomandibular
e aos músculos da mastigação podem ser classificadas como
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dor intra-articular, espasmo muscular, dor intra-articular
combinada com espasmos musculares e dor reflexa [8].
O laser é indicado para os quadros dolorosos da
disfunção temporomandibular, para melhorar a função
mastigatória (quando se encontra um quadro de inflamação,
reduz-se esta e obtém-se melhora da abertura da boca) e
nos processos inflamatórios intra-articulares [9].
Cabe ressaltar que os resultados com a terapia à laser de
baixa potência se contradizem em estudos diferentes, pois
dependem muito dos métodos e características de aplicação.
Há claramente uma necessidade de investigar parâmetros
eficientes que nos levem a resultados fidedignos.
Em 1988, Bezzur, Habets e Hansson [10], encontraram
uma melhora total da dor, em 80% dos pacientes com
disfunção temporomandibular artrogênica após ter recebido
terapia à laser de baixa potência por um período médio de 6
dias. Este estudo demonstrou também que além de ser eficaz
em um curto período de tempo, os resultados do tratamento
à laser foram mantidos após um ano.
Hansson [11] relata uma diminuição rápida da inflamação
intraarticular da articulação temporomandibular de 5
pacientes após a aplicação do laser infravermelho.
Bertolucci e Grey [12], testaram a eficácia do laser
arseneto de gálio (904 nm) para tratar pacientes com
diagnóstico de disfunção temporomandibular com
degeneração na articulação temporomandibular. Os autores
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
concluíram que a terapia à laser forneceu uma diminuição
maior da dor que o tratamento placebo.
Conti [13], obteve resultados positivos na diminuição da
dor causada pela disfunção temporomandibular miogênica
com o uso do laser Ga-Al-As (arseneto de gálio e alumínio)
com potência de 4 J/cm² uma vez por semana durante 3
semanas. Ele ainda sugere pesquisas utilizando potência maior
e maior freqüência de aplicações.
Pinheiro et al. [14] testaram lasers de diodo (632,8; 670
e 830 nm) por 12 aplicações (2 vezes por semana) em
pacientes sofrendo de desordens maxilofacial como dor na
articulação temporomandibular, neuralgia do trigêmio, dor
muscular, inflamação, e hemangiomas pequenos). Pinheiro
et al. utilizaram nesta pesquisa 2,5 J/cm² de dose concluindo
que o laser é uma ferramenta importante e traz muitos
benefícios para o tratamento de muitas desordens da região
maxilofacial. Em 1998 utilizou como dose 1,8 J/cm² com o
mesmo experimento concluindo que a terapia à laser de
baixa potência é uma ferramenta eficaz e é benéfica para o
tratamento de muitas desordens maxilofaciais.
O objetivo desse estudo é analisar as alterações ocorridas
na dor articular provocada pela disfunção temporomandibular
após tratamento com laser Ga-As e verificar a influência desta
na amplitude de movimento articular.
Material e métodos
A amostra incluiu três sujeitos do sexo feminino que
apresentavam sintomas crônicos de disfunção
temporomandibular, principalmente dor bilateral nas
articulações temporomandibulares, estando em uma faixa
etária de 25-45 anos. A amostra foi formada pela técnica de
amostragem não probabilística intencional sendo esta
encaminhada para o serviço de fisioterapia do CEFIDUDESC (Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos
da Universidade do Estado de Santa Catarina) por cirurgiões
dentistas da Grande Florianópolis.
Para melhor análise dos resultados da pesquisa, foi
elaborada uma ficha de avaliação onde constavam: dados
de identificação e anamnese do paciente; um questionário
sobre os dados da disfunção; tabelas a serem preenchidas
com o exame físico incluindo a palpação muscular, articular
e óssea, testes específicos para disfunção temporomandibular
e análise da dor na dinâmica articular. A ficha de avaliação
completa foi preenchida na primeira sessão, sendo que apenas
o exame físico, incluído nesta ficha, foi repetido ao final do
tratamento e também 10 e 20 dias após o término do
mesmo. É importante ressaltar que todos os instrumentos
utilizados neste estudo passaram por um processo de
validação de clareza e de conteúdo.
Uma ficha de evolução diária foi elaborada, servindo de
referência para análise da evolução da terapia no dia em
que a mesma era aplicada, sendo também repetida 10 e 20
35
dias após o término do tratamento. Esta ficha continha
uma escala análoga visual da dor apresentada por Frampton
apud Kitchen & Bazin [15] que expõe os números de 0 a 10
(“0” representa dor nula e “10” dor máxima) e permite ao
paciente expressar um valor para sua dor, marcada antes e
5 minutos após cada sessão terapêutica, tempo sugerido por
Conti [13], em fichas separadas.
Ainda na ficha de evolução, uma tabela de avaliação dos
graus de mobilidade mandibular sem dor, antes e 5 minutos
após a aplicação do laser era preenchida. Constavam nela
as medidas de abertura, lateralidade para a esquerda,
lateralidade para a direita, protrusão e retrusão.
O grau de mobilidade mandibular sem dor foi mensurado
através de uma régua milimetrada de plástico. Conforme
Steenks e Wijer [5], na determinação da amplitude do
movimento de abertura da boca, a sobremordida vertical é
somada à distância medida entre os incisivos. Na
determinação da amplitude do movimento durante a
protrusão, ainda de acordo com o mesmo autor, a
sobremordida horizontal é medida nas faces labiais dos
incisivos superiores e inferiores. Na determinação da
amplitude dos movimentos laterais, o examinador se orienta
pela linha mediana da maxila e pelo prolongamento desta.
O equipamento utilizado para o tratamento da disfunção
temporomandibular nesse experimento foi o laser arseneto
de gálio da marca KLD, regime de emissão pulsada com
comprimento de onda de 904 nm, densidade de potência
média de 120 mW/cm², e cor infravermelha (invisível). O
tempo de aplicação é calculado de forma automática pelo
aparelho. Instrumentos necessários ao trabalhar-se com laser
são óculos com lentes especiais para proteção contra os
raios laser.
Os pacientes foram esclarecidos quanto à presente
pesquisa e assinaram um termo de consentimento onde
mostraram estar de acordo em participar da mesma. Foram
também investigadas contra-indicações quanto ao uso do
laser e, confirmado que o paciente estava apto para a
terapêutica à laser, imediatamente foi iniciado o tratamento.
Orientações foram dadas para que os pacientes não
utilizassem medicamentos analgésicos ou antiinflamatórios
no decorrer do estudo.
Foi realizada a limpeza da área a ser tratada através de
algodão embebido em álcool etílico a 70%, a fim de um
maior aproveitamento da radiação [6].
A forma de aplicação do laser arseneto de gálio foi
pontual mantendo um ângulo de 90º entre a caneta aplicadora
do aparelho e a superfície irradiada [19] (Fig. 1). Os locais
irradiados com laser foram marcados com uma caneta
hidrográfica e incluiram 5 pontos na região da articulação
temporomandibular (inclusive linha articular) (Fig. 2) e os
locais de dor à palpação sugeridos no exame físico (sendo
repetidos esses mesmos pontos em todas as sessões),
utilizando 5 joules/cm² de dose do aparelho baseado no
36
artigo de Conti [13]. Ainda segundo este autor, a boca deve
ficar em leve abertura quando for irradiada a linha articular
para permitir uma ótima penetração articular.
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
O Quadro 2 demonstra a evolução da amplitude de
movimento articular do sujeito B. Nota-se um acréscimo
de 0,5 cm na medida de abertura máxima da boca ao final
do estudo e 0,2 cm para a protrusão. A retrusão como no
caso anterior não obteve ganhos, já a lateralidade para a
direita e a lateralidade para a esquerda obtiveram ganhos
de 0,3 e 0,4 cm respectivamente.
Quadro II – Análise da amplitude de movimento mandibular sem dor do
sujeito B
Figura 1 – Foto da Forma de aplicação
FONTE – Dados do autor
Fonte: Dados do pesquisador
Ao analisar o Quadro 3 percebe-se um aumento
significativo no abertura máxima da boca de 1,7 cm do
sujeito C, sendo que a protrusão obteve um ganho de 0,2
cm não sendo verificado aumento na retrusão. As
lateralidades para a direita e para a esquerda aumentaram
respectivamente 0,6 e 0,5 cm.
Figura 2 – Foto dos Locais de aplicação do laser
FONTE – Dados do autor
Quadro III – Análise da amplitude de movimento mandibular sem dor do
sujeito C
Resultados
O sujeito A (Quadro 1) iniciou o tratamento com 2,7 cm
de amplitude de abertura máxima da boca terminando com
4,4 cm de abertura 20 dias após o término da terapia. A
protrusão obteve um ganho de 0,1 cm que se manteve até 20
dias após o término da terapia sendo que na retrusão não se
observou aumento. Já as medidas de lateralidade para a direita
e lateralidade para a esquerda obtiveram um ganho de
respectivamente 0,3 e 0,2 cm verificados ao final do estudo.
Quadro I - Análise da amplitude de movimento mandibular sem dor do
sujeito A
Fonte: Dados do pesquisador
Fonte: Dados do pesquisador
O gráfico 1 ilustra evolução do quadro álgico do sujeito
A que iniciou a primeira sessão sentindo grau 8 de dor
nas articulações temporomandibulares, passou para zero
na segunda sessão, voltou ao grau 8 no início da terceira
sessão que caiu para 3 ao término desta. Posteriormente,
na quarta sessão, o sujeito referiu dor grau 5 que se
manteve ao término dessa mesma sessão, sendo que na
5ª sessão houve um decréscimo considerável da dor para
grau zero. Na 6ª sessão, porém, houve recidiva da dor
para grau 3 passando para zero ao final da mesma. A
resolução definitiva da dor se deu na 7ª sessão que se
manteve até a última sessão.
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Gráfico I - Análise subjetiva da dor durante o tratamento do sujeito A
37
Gráfico IV - Análise subjetiva da dor na avaliação e em três reavaliações
dos 3 sujeitos.
nº de sessões
Fonte: Dados do autor
O gráfico 2 ilustra a evolução do quadro álgico do sujeito
B que iniciou o tratamento com grau 10 de dor, finalizando
a primeira sessão com grau de dor 8. Na segunda sessão
não referiu algias nas articulações temporomandibulares,
porém houve recidiva da dor na 3ª sessão onde referiu grau
5 antes e após a terapia. A resolução do quadro álgico nas
articulações temporomandibulares deu-se na 4ª sessão sem
recidivas até o término do tratamento a laser.
Gráfico II - Análise subjetiva da dor durante o tratamento do sujeito B
nº de sessões
Fonte: Dados do autor
O gráfico 3 ilustra a evolução do quadro álgico nas articulações
temporomandibulares do sujeito C onde iniciou o tratamento
fisioterápico com grau 6 de dor passando para 4 na primeira
sessão. Os valores inicial e final da primeira sessão se mantiveram
na segunda sessão, observando uma diminuição do quadro álgico
na terceira sessão que passou para grau 4 como valor inicial e 2
ao final da terapia. Esses últimos resultados se mantiveram na
quarta sessão. À partir da 5ª sessão houve uma melhora definitiva
da dor que permaneceu em zero até a última sessão realizada.
Gráfico III - Análise subjetiva da dor durante o tratamento do sujeito C
nº de sessões
Fonte: Dados do autor
Fonte: Dados do autor
Discussão
O exame de mobilidade articular sem dor foi
imprescindível para o acompanhamento da evolução dos
sujeitos da amostra pelo fato de ser um dado quantitativo e
não subjetivo, portanto, mais fidedigno.
Os sujeitos A e C iniciaram com 2,7 e 2,1 cm de
amplitude de abertura máxima da boca respectivamente,
valores esses considerado abaixo da normalidade de
acordo com Steenks e Wijer [5], que consideram uma
abertura de 3,5 a 4,5 cm como normal. Esses mesmos
sujeitos obtiveram um aumento nessa amplitude que
passou a ser de 4,4 cm e 3,8 cm ao final de 20 dias após
o tér mino do tratamento, ou seja, passaram a ter
amplitudes de abertura da boca normais. O sujeito B
iniciou a terapia com 4,5 cm, valor considerado normal,
e mesmo assim obteve um acréscimo de 0,5 cm ao término
das avaliações.
Os valores mensurados de lateralidades e protrusão
obtiveram ganhos de amplitude. O padrão de normalidade
é de aproximadamente 1 cm para protrusão e 1 cm
aproximadamente para laterotrusão [5].
Observa-se, ao analisar os valores de retrusão, que não
houve variação deste valor nos casos apresentados. A
retrusão fica em torno de 0,6 cm, e as restrições a este
movimento não são devidas às estruturas ósseas da
articulação, mas sim às formadas por tecido conjuntivo
fibroso, à musculatura (em especial, ao músculo pterigóideo
lateral) e ao sistema neuromuscular [5].
É possível afirmar que a diminuição da dor nos casos
apresentados contribuiu para o aumento da amplitude de
movimento.
Muitos trabalhos tecem comentários sobre os possíveis
mecanismos de ação analgésica envolvidos na fotoestimulação
com laser e entre os mecanismos discutidos estão as ações
centrais e locais [17].
Entre as ações locais estão relatos como o proposto
38
por Colls apud Borges et al. (1996) [16], em que o laser
atuaria pela redução da inflamação, e conseqüentemente na
algia, por meio da reabsorção de exsudatos e favorecendo a
eliminação de substâncias algogênicas. Propõe ainda que
haveria uma elevação do limiar de dor dos nervos periféricos,
interferindo na transmissão do estímulo nervoso.
Outra explicação proposta pelo autor supracitado é a
possibilidade de uma manutenção do gradiente iônico da
membrana celular, o que evitaria sua despolarização devido
ao aumento de adenosina trifosfato (ATP), que favoreceria
a expulsão de sódio mediante o mecanismo da bomba de
sódio/potássio. Assim, pode-se inferir que o laser pode atuar
como um fator estabilizador do potencial de membrana em
repouso (hiperpolarização), que dificulta a transmissão do
estímulo doloroso local.
Villaroya-Aparicio et al. [18], admitem que o contato
e a absorção da carga fotônica da irradiação laser em
deter minadas zonas do org anismo provoca uma
estimulação das fibras grossas táteis que provocaria um
bloqueio da transmissão dos estímulos dolorosos por
fibras finas.
Os mecanismos gerais ou também denominados centrais
podem estar envolvidos, como sugerido por Smith-Agreda
apud Borges et al. [16], na analgesia proporcionada pelo laser
de baixa intensidade. Segundo ele, o laser pode atuar
estimulando por ação reflexa a produção de proópiomelanocorticotropina e das endorfinas cerebrais que
bloqueariam a dor.
A dor também é com freqüência tratada com a
aplicação da fonte de laser em pontos-gatilho ou pontos
de acupuntura e isso sugere que o tratamento laser tem
algum efeito terapêutico nos pontos-gatilho
músculoesqueléticos subjacente e pode ajudar a resolver
a condição patológica [20]. A terapia a laser de baixa
intensidade melhora a microcirculação local e pode
também melhorar o aporte de oxigênio nas áreas de triggerpoints e ao mesmo tempo pode remover os produtos
residuais [17]. A nor malização da microcirculação
interrompe o círculo vicioso da origem da dor e seu
desenvolvimento [17].
Em alguns valores, como na abertura e protrusão dos
sujeitos B e C e lateralidade para direita de B e lateralidade
para a esquerda de C, houve um acréscimo após o término
das avaliações, onde se pôde evidenciar o efeito cumulativo
do laser. Este efeito é visto também na analgesia
proporcionada pelo laser a longo prazo que proporcionou
o alívio da dor nos três sujeitos crônicos que vinham
sofrendo com a dor nas articulações temporomandibulares
há anos.
Conti [13] cita em seu artigo que a maior vantagem de
se continuar testando o laser para o tratamento das
disfunções temporomandibulares são sua característica nãoinvasiva e seu caráter inofensivo.
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Conclusão
Conclui-se com este estudo, que procurou analisar as
alterações ocorridas na dor provocada pela disfunção
temporomandibular após tratamento com laser arseneto de
gálio (Ga-As), que o laser mostrou-se eficaz na analgesia
articular da referida disfunção.
Os sujeitos tratados apresentaram melhora do quadro
álgico nas articulações temporomandibulares, em média na
5ª sessão realizada, não havendo reincidência dos sintomas
álgicos até 20 dias após o término da terapia.
A analgesia provocada pelo laser permitiu um aumento
de amplitude de movimento articular importante na maioria
das amplitudes de movimento propostas, melhorando,
conseqüentemente, as várias funções prejudicadas pela
disfunção, dentre elas a mastigação.
Sugere-se, para outros trabalhos que tenham interesse
em aprofundar as pesquisas em laser aplicado à disfunção
temporomandibular, que se realize um trabalho abrangendo
um número maior de sujeitos como amostra. Um grupo
placebo também seria interessante, a fim de desmistificar o
efeito placebo do laser. As potências e dosagens poderiam
ser as mesmas ou tentadas novas. Também seria interessante
um estudo comparativo com o laser He-Ne para a analgesia
da disfunção temporomandibular.
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39
40
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Artigo original
O tratamento fisioterapêutico de úlceras cutâneas
venosas crônicas através da laserterapia com dois
comprimentos de onda
Physiotherapeutic treatment of chronic venous ulcers
by lasertherapy with two wavelenghts
Karina Gramani Say*, Raquel Calvo Gonçalves**, Ana Claúdia Muniz Rennó***, Nivaldo Antonio Parizotto****
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*Fisioterapeuta, Aprimoramento em Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia pelo Hospital de Base de São José do Rio Preto - FAMERP/
FUNFARME, Estagiária do Laboratório de Avaliação e Intervenção em Ortopedia e Traumatologia da UFSCar, **Fisioterapeuta, Especialização em
Fisioterapia Respiratória pela Santa Casa de São Paulo, Docente em Fisioterapia Aplicada a Cardiologia e Pneumologia do Centro Universitário
Unicapital, Estagiária do Laboratório de Atividade Física Adaptada da USP - São Paulo, ***Fisioterapeuta, Especialização em Fisioterapia Cárdiorespiratória – UFSCar, Mestranda do programa de Pós-graduação em Fisioterapia - UFSCar, ****Fisioterapeuta, Mestre Ciências Fisiológicas - FMRP
–USP, Doutor em Engenharia Elétrica – UNICAMP, Docente da disciplina de graduação de Fisioterapia Geral I, Supervisor de estágio
profissionalizante em Fisioterapia Geral
Laboratório de Eletrofototermoterapia, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos – UFSCar – São Carlos – SP.
Este trabalho é uma parte do projeto de pesquisa - trabalho de graduação 2 - (2000) apresentado como parte dos requisitos para
obtenção do título de fisioterapeuta, junto à Coordenação do curso de Fisioterapia da UFSCar (título: A atuação do laser de baixa
intensidade nos processos cicatriciais de úlceras cutâneas de diferentes etiologias). Orientador: Nivaldo Antonio Parizotto
Palavras-chave:
Laserterapia de baixa
intensidade, úlceras
crônicas, comprimento
de onda, fisioterapia.
Resumo
As úlceras são responsáveis por um alto índice de morbidade e mortalidade, gerando
situações de difícil manejo, tanto para os indivíduos acometidos quanto para seus
familiares, além dos altos custos econômicos decorrentes dos cuidados com curativos e
com internações. Dentro deste contexto, é crescente o interesse em se descobrir e
desenvolver meios de tratamento para as úlceras crônicas. Associado ao tratamento
padrão como bandagens compressivas, elevação do membro, curativos e repouso, a
laserterapia de baixa intensidade vem sendo empregada como um recurso fisioterapêutico
capaz de apresentar resposta efetiva na cicatrização de tecidos. Objetivando comparar
a eficácia do laser de diferentes comprimentos de onda no tratamento dessas feridas, o
presente estudo investigou e acompanhou quatro pacientes durante período de 12 a 37
semanas. Dois dos sujeitos foram submetidos a aplicação de laser HeNe (632,8 nm),
enquanto os outros dois a terapêutica com laser AsGa (904 nm). Os resultados, avaliados
através de registro fotográfico e mensuração da área da ferida, revelaram progresso da
cicatrização, revelando ser o laser AsGa mais eficaz no tratamento dessas lesões.
Artigo recebido em 10 de novembro de 2002; aprovado em 20 de novembro de 2002
Endereços para correspondência: Karina Gramani Say, rua São José, 409 Centro 14010-160 Ribeirão Preto SP, Tel: (16) 635-9834/ 274-9885/ 9715-4614
UFSCar, Laboratório de Eletrotermofototerapia - Departamento de Fisioterapia/Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto,Via Washington Luís, km 235 - CP 676 13565-905 São Carlos SP, Tel: (16) 260-8630
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
41
Abstract
Key-words:
Low intensity
lasertherapy, chronic
ulcers, wavelength,
ulcer repair, venous
wounds.
The wounds are responsible for a high index of morbidy and mortality, resulting in
difficult situations for the patients and their parents, beyond high costs with cares and
internment. In this context, there is a growing interest to discover and develop ways of
treatment for ulcers. In association to traditional treatments as nursing care, elevated
limb end rest, the low intensity lasertherapy have been used as a physiotherapeutic resource
that shows an effective answer is scaring process. The aim of this study is evaluated the
efficacy of different wavelength laser treatment of the chronic ulcers. This paper describe
the treatment applied in four patients during a period of twelve to thirty seven weeks.
Two individuals were treated with HeNe (632,8 nm), while the others were submitted to
AsGa ( 904 nm) laser irradiation. The results were measured by the analysis of wound
area and photographic record, showed that both groups had an improvement in the
healing process, being, however, the AsGa better than HeNe laser in the treatment of
this ulcers.
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Introdução
Os processos ulcerativos cutâneos são fatores de grande
importância e interesse para os profissionais de saúde. Além
de serem responsáveis por um alto índice de morbidade e
mortalidade, ocasionam situações de difícil manejo para
seus portadores e familiares. A abordagem a uma ferida
não cicatrizada é um desafio interdisciplinar, que deve
contar com a participação de médicos, enfermeiras,
nutricionistas e fisioterapeutas, a fim de proporcionar o
melhor tratamento e permitir uma melhor qualidade de
vida ao indivíduo.
A cicatrização de feridas é um processo complicado,
interativo e integrativo, que envolve atividade celular e
quimiotática, com liberação de mediadores químicos
associados a respostas vasculares [2]. É composta por uma
seqüência de eventos que culmina no total fechamento da
derme lesionada, sendo o reparo constituído pelas fases
de inflamação, re-epitelização e contração, e
remodelamento da matriz [3,4]. Assim, é preciso buscar a
melhor compreensão dessa complexa cascata do evento
cicatricial, para o entendimento de uma possível falha nesse
processo e dos fenômenos fisiopatológicos que tendem a
dificultá-lo.
Além dos altos índices de mortalidade e morbidade
decorrentes das úlceras, o interesse em tratá-las deu-se
também pela observação de casos em que a anormalidade
no processo de cicatrização dificultava o progresso no
programa de reabilitação, a obtenção de resultados positivos
com a terapia, o retorno ao trabalho e as atividades de lazer
e até mesmo ao convívio social.
Alguns protocolos vêm sendo utilizados para o
tratamento das lesões cutâneas. Entre eles podemos citar as
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bandagens compressivas, os curativos, procedimento de
elevação do membro e repouso para o paciente, sendo esse
o tratamento padrão que, com exceção de uma ou outra
técnica acrescentada, sofreu pouca alteração nos últimos
vinte anos [5].
Nos últimos anos a Fisioterapia vem se destacando como
um meio eficaz e de grande importância para o tratamento
das úlceras, apesar de sua participação ainda ser pequena
em algumas equipes. Seu objetivo primordial na intervenção
no processo ulcerativo, concentra-se na promoção da redução
do período de sua cicatrização, tornando possível um retorno
mais rápido do indivíduo à sociedade e às suas atividades
rotineiras.
Dentre os recursos fisioterapêuticos ganha destaque o
laser (um acrônimo de Light Amplification of Stimulated
Emission of Radiation) de baixa intensidade, uma modalidade
que apresenta resposta mais efetiva frente a outros recursos
utilizados em clínica como o Ultra-som terapêutico e a
estimulação elétrica [2] na remodelação de tecido
cicatriciais. Desse modo, a laserterapia tem sido a escolha
terapêutica, particularmente nos caso de cronicidade, numa
ampla variedade de etiologias como úlcera tróficas,
varicosas, diabéticas e de pressão [6].
Laserterapia de baixa intensidade
A Laserterapia tem tido uma ampliação na sua utilização
nas últimas três décadas na Europa Ocidental e na Rússia
e nos últimos dez anos nos EUA e Canadá [7]. Seu êxito
deve-se às particularidades de respostas que induz nos
tecidos, como redução de edema, diminuição do processo
inflamatório, aumento da fagocitose, da síntese de colágeno
e da epitelização [6,7].
42
Os estudos estão focalizando diversas células envolvidas
no processo cicatricial, em uma tentativa de elucidar os
mecanismos biológicos pelas quais a irradiação de laser
de baixa intensidade pode estimular o processo
regenerativo. A maioria dos efeitos registrados diz respeito
à proliferação de células, principalmente fibroblastos [8,9].
Usando fibroblastos embrionários, Boulton [3] observou
um aumento na multiplicação celular seguida da irradiação
com o recurso do tipo Hélio-Neônio (HeNe).
Porém, a proliferação não é o único meio pelo qual a
laserterapia pode acelerar o processo cicatricial [6]. A
radiação pela modalidade de HeNe estimula a produção
de colágeno pelos fibroblastos [10,13], podendo aumentar
essa síntese em até quatro vezes o normal.
A laserterapia com HeNe parece também participar
do processo de modificação de fibroblastos em
miofibroblastos, células diretamente envolvidas na
contração do tecido de granulação, mostrando-se capaz
de promover, portanto, aceleração nesse evento [14].
Passarella et al. [19] estudaram o efeito do recurso
tipo HeNe na produção de ATP, usaram para tanto
mitocôndrias de ratos e as fotoestimularam, observando,
então, um aumento de 70% na síntese de Adenosina
Trifosfato. Isso faz surgir à hipótese de que a estimulação
de laser HeNe e Arseneto de Gálio (AsGa) induziria o
aumento de retículos endoplasmáticos rugosos, que
conseqüentemente ocasionariam um aumento do número
e do tamanho das mitocôndrias irradiadas [16]. Segundo
alguns autores, a estimulação através de tal terapia levaria
a mudanças na cadeia respiratória, propondo que seus
componentes seriam fotoaceptores e cromóforos, prontos
a absorverem luz de determinados comprimentos de
onda, sendo essa uma explicação para o aumento na
síntese de ATP.
Um componente muito importante do processo de
reparo tecidual é o sistema imune. Estudos registram
que culturas de linfócitos humanos irradiados com laser
HeNe, apresentaram aumento na capacidade de
fagocitose, incremento da superfície de contato, bem
como no que diz respeito à afinidade do organismo
invasor pelo linfócito. Conclui-se, deste modo, que a
estimulação por tal modalidade eleva a aptidão em
exter minar microorg anismos estranhos por um
acréscimo na atividade dos linfócitos, atingindo, assim,
efeito antibacteriano de modo anti-séptico. Outro relato
[20] que vem reforçar essa idéia, observou que após
várias aplicações, pacientes tratados com tal terapia
produziram uma nor malização completa de suas
respostas imunes, através de análises de frações
diferentes do complemento sérico, imunoglobulinas e
anticorpos circulantes.
Uma melhora na vascularização pode também ser
esperada mediante a laserterapia, já que esse recurso atua
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
sobre o esfíncter pré-capilar gerando sua abertura
constante, elevando, assim, o processo de reparação,
aumentando a capacidade de cicatrização do tecido
conjuntivo, assim como a neofor mação de vasos
sangüíneos a partir dos já existentes [21].
Quanto ao poder de penetração do laser de baixa
intensidade, estudo comprova que o tipo HeNe, de
comprimento de onda 632,8 nm, penetra em todos os
tipos de pele, utilizando neste trabalho exemplares de
derme humana de até 19 mm. Além disso, mostrou-se
que tecidos granulares possuem propriedades óticas
diferentes, sendo que a penetração de luz neles é de 2.5
vezes maior do que no normal, se comparando a espessura
por causa da diferença histológica da estrutura.
As pesquisas em laboratório, portanto, indicam efeitos
notáveis da laserterapia sobre a atividade da maioria das
células envolvidas no processo cicatricial.
Surge como relato da aplicação de tal recurso em
humanos o estudo de Mester [17], no qual foram irradiados
120 feridas de difícil cicatrização com laser HeNe, obtendose como resultados 875 úlceras totalmente curadas e
fechadas em um período de 12 a 16 semanas, 160 com
considerável melhora e apenas 85 sem mudanças
consideráveis. Kahn (1984) descreve, ainda, a boa evolução
clínica de 2 pacientes com feridas abertas, tratadas com
essa mesma modalidade terapêutica, resposta similar foi
encontrada por Gogia [8], no atendimento também a 2
indivíduos com úlceras crônicas realizado por Arseneto
de Gálio (AsGa).
Pesquisa em pacientes portadores de lesões dérmicas
de membro inferior [24], verificou que o tratamento
executado com maior êxito, ou seja, realizado em menor
período sem recidivas, e com redução ou ausência de
complicações associadas, foi aquele que se deu com a
técnica padrão associada à terapia de laser de baixa
intensidade; dos atendidos, 70% obteve cura e 30%
apresentou quadro de melhora. O grupo tratado apenas
com os procedimentos clínicos, resultou em valores de
38% de cura, 48% de melhora e 14% de não
recuperação.
Há na literatura controvérsia a respeito dos tipos de
laser mais indicados no tratamento de úlceras cutâneas e
escassez quanto aos seus parâmetros, sendo necessário,
assim, determinar os valores ideais dos parâmetros de
intensidade, comprimento de onda, potência, fato esse
que justifica a realização desse trabalho.
Objetivos
O presente trabalho objetiva a análise comparativa
da eficácia e atuação do Laser de baixa intensidade nos
comprimentos de onda de 632,8 nm (HeNe) e 904 nm
(AsGa), no tratamento de pacientes portadores de
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
úlceras cutâneas de diversas etiologias, discutindo os
resultados em cada caso.
Metodologia
Foram investigados e acompanhados 4 pacientes
portadores de úlcera cutâneas venosas. Dois pacientes
foram submetidos à aplicação de laser tipo HeNe e os
outros dois foram submetidos aplicação do tipo AsGa. Os
demais procedimentos realizados nesse estudo foram
executados do mesmo modo para ambos os grupos. A
divisão ocorreu de forma aleatória, já que não existem
publicações sobre o melhor tipo de laser relacionado a
qualidade da lesão dérmica.
O atendimento aconteceu no ambulatório de
Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos, por
pessoal capacitado, consistindo o mínimo de atendimentos
totalizados em 12 e o máximo em 37 semanas.
Primeiramente ocorreu uma avaliação clínica geral dos
indivíduos, com anamnese e exame físico, mediante ficha
elaborada especificamente para este trabalho.
O processo ulcerativo foi avaliado através de
protocolo e ficha específicos, na qual foram analisados
aspectos como tamanho, profundidade, presença de tecido
de granulação e/ou epitelização, odor, coloração, data
do último desbridamento, dentre outros. Realizou-se
também registro fotográfico, como recurso para mensurar
a evolução do quadro, através de uma máquina fotográfica
Dental Eye II, Yashica, com lente de aproximação macro
e filme asa 100 colorido.
Foram utilizados nesse estudo dois equipamentos :
Aparelho Laser tipo AsGa - Physiolux Dual, com
comprimento de onda de 904 nm, com temporizador de
energia de 1-20 J/cm2 , potência de 25W(pico) +/- 10%,
potência média de 11 mW, com regime de emissão pulsado
em 2000 Hz, duração de pulso de 200 ns. Aparelho Laser
HeNe Physiolux, com comprimento de onda de 632,8
nm (vermelho visível, com temporizador de energia de
1 a 9 J/cm2 , potência de 3,6 mW).
Método
Após avaliação sistêmica e local, foi aplicado o termo de
consentimento livre e esclarecido e, de posse da aceitação,
realizou-se o registro fotográfico do processo ulcerativo antes
do início do tratamento.
Os atendimentos ocorreram três vezes por semana,
consistindo da aplicação de laser HeNe ou AsGa, conforme
o grupo que o sujeito estava inserido, e aplicação de exercícios
para estimular o retorno venoso, procurando melhorar as
condições de circulação sangüínea, respeitando-se o nível
de dor de cada paciente, não sendo a execução do mesmo
obrigatória para a participação no trabalho.
43
A dosagem pré-estabelecida segue recomendações de
Mester [17], que relata 4 J/cm2 a intensidade ótima para
tratamento de feridas abertas.
A aplicação deu-se na borda da úlcera, em tecido são,
distante um centímetro da borda e repetido a cada 2 cm de
intervalo, além disso, se o diâmetro da ferida era maior que
três centímetro, realizou-se irradiação do modo varredura,
sobre à área ulcerada.
A avaliação local quanto às condições da lesão dérmica
foi realizada na primeira sessão da semana, além de
semanalmente, para melhor acompanhamento. O registro
fotográfico ocorreu no mínimo três vezes, consistindo de
uma foto antes do início do atendimento, uma no meio do
período pré-determinado e outra no final deste tempo ou
assim que ocorreu a cicatrização do processo.
Os pacientes foram atendidos por um período de 12 a
37 semanas, dependendo da data de adesão ao tratamento.
Os indivíduos foram liberados das sessões anterior ao
intervalo acima determinado em caso de finalização do
processo cicatricial, manifestação do desejo de abandono
do projeto por parte do paciente ou complicação de saúde
que excedeu a atuação do profissional de fisioterapia. Foram
realizadas aproximadamente 12 sessões por mês,
considerando-se faltas e feriados. O caso I totalizou 26
sessões de laserterapia. O caso II 38 sessões na feriada
tratada desde o início do atendimento. O caso III somou
51 atendimentos e o caso IV totalizou 36 sessões de
aplicação de laser.
Protocolo
Dentro do protocolo proposto, as úlceras foram
avaliadas semanalmente. Utilizou-se dois comprimentos de
onda do aparelho de fototerapia, o de HeNe (HélioNeônio) de 3,6 mW de saída, 632,8 nm de comprimento
de onda, na dose de 4 J/cm2 , e do AsGa (Arseneto de
Gálio), com 11 mW de saída, 904 nm de comprimento de
onda, na mesma dose.
Os exercícios indicados eram de alongamentos da região
comprometida (por exemplo isquiotibiais e tríceps sural,
na maioria dos casos), buscando a manutenção ou ganho
de amplitude de movimento, bem como, os realizados
para melhoria das condições da circulação e,
conseqüentemente, de aporte sangüíneo e melhora das
condições nutricionais locais.
Os sujeitos foram instruídos quanto aos cuidados
básicos de limpeza e higiene do local da lesão cutânea, e
receberam informações sobre métodos de prevenção de
novas úlceras, dependendo da etiologia em questão.
O estudo contou com 4 pacientes portadores de úlceras
cutâneas de etiologia venosa. A mensuração da área da
ferida foi feita através da simples multiplicação dos valores
de largura e comprimento.
44
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Resultados
Procedimento baseado em estudo estatístico, que revela
a íntima correlação entre a medida simples e planimétrica,
indica que a primeira é também uma indicadora confiável
para avaliar o progresso do quadro ulcerativo [15]. Como
a amostra de sujeitos desse estudo é reduzida, não foi
realizado teste estatístico, de modo que optou-se por relato
de cada caso, com o intuito de demonstrar a evolução
separadamente.
Os relatos de casos foram estruturados contando com a
anamnese de cada paciente, presentes os seguintes tópicos
dispostos de modo discursivo; (1) sexo; (2) idade; (3) história
pessoal; (4) antecedentes familiares; (5) tipo, tamanho e
localização anatômica da úlcera; (6) história da moléstia atual;
(7) tratamentos realizados atualmente, os anteriores e seus
resultados; (8) medicamentos usados; (9) atividades de vida
diária executadas e as prejudicadas; (10) presença de dor.
Apresenta-se ainda gráfico de evolução da área de cada úlcera
durante o período de tratamento.
Relato de caso I
J.F.P, sexo masculino, 37 anos, hipertenso, não-tabagista,
obeso, portador de úlcera cutânea venosa crônica, localizada
em maléolo medial esquerdo, com 1 cm de comprimento e
0,5 cm de largura, profundidade rasa, oriunda de picada de
inseto na região que provocou coceira local há 7 anos. A
história familiar revela pais portadores de úlceras venosas
crônicas e diabetes.
O paciente não faz uso de nenhum medicamento
atualmente e não realizava consulta clínica há 8 meses na
data da avaliação inicial. Costumava ingerir pequenas
quantidades semanais de bebida alcóolica, porém, quanto à
alimentação, não apresentava nenhum tipo de restrição.
A história pregressa dos processos ulcerativos incluíam
tratamentos através de diversos tipos de pomadas
(antibióticos) ao longo dos 7 anos, com resultados pequenos,
mas nenhuma causando cicatrização. As úlceras eram
tratadas apenas com lavagens do local cerca de 3 vezes por
dia, com água corrente e sabonete. O paciente dizia não
sentir dores em situação alguma, porém relatava ser a ferida
causa de sua ausência do trabalho de comerciante.
Os MmIi (Membros Inferiores) revelavam encurtamento
de cadeia posterior, acentuado em Tríceps Sural do lado
esquerdo, o que diminuía a amplitude dos movimentos de
flexo-extensão de tornozelo. A coloração das pernas era
arroxeada em lugares variados com diversas varizes visíveis.
O paciente foi submetido ao tratamento com laserterapia
de baixa intensidade de AsGa, totalizando 26 sessões. A
evolução da úlcera durante esse período pode ser observada
na figura 1.
Figura 1 - Gráfico de evolução da área da úlcera em maléolo medial esquerdo
durante os meses de Março à Junho.
De acordo com a figura 1, pode ser observado uma
redução na área da úlcera a partir da sexta sessão de
atendimento, com progressão positiva do quadro nas 12
subseqüentes, culminando na total cicatrização da ferida,
após mais 7 sessões, perfazendo um total de 14 semanas.
Assim, a úlcera finalizou o seu processo de cicatrização em
26 sessões de laserterapia
Relato de caso II
I.F.F, sexo feminino, 78 anos, hipertensa, não-tabagista,
apresentou úlcera venosa há 2 meses, localizada em região
de dorso de pé esquerdo, com 2,0 cm de comprimento por
1,5 cm de largura, de profundidade rasa. A história pregressa
revelava feridas semelhantes em MmIi em diferentes lugares
ao longo dos últimos 5 anos, sempre oriundas de pequenos
traumas, com episódio de internação por essa causa.
Os antecedentes pessoais indicavam hipertensão arterial,
com realização de cateterismo há 5 anos. A paciente possuíua
familiares maternos portadores de úlceras cutâneas.
Entre os medicamentos usados encontrava-se prescrição
para tratamento de hipertensão arterial, uso de Cataflan (a
cada 6 horas) e Neosaldina (a cada 6 horas) por conta
própria. A alimentação restringia apenas carne suína.
Figura 2 - Gráfico de evolução da úlcera em dorso do pé esquerdo de Agosto à
Novembro de 2000.
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
45
A história pregressa dos processos ulcerativos incluía
terapia por laser de baixa intensidade tipo vermelho, nessa
instituição, resultando em cicatrização em todas os casos.
A úlcera era tratada com curativos diários, precedidos
por lavagem do local com água e sabão, feitos com pomada
(antibiótico) e cobertos com gaze e faixa. Paciente realizava
visitas mensais ao médico cardiovascular e clínico geral.
I.F.F. relatava dores freqüentes no membro acometido,
impossibilitando permanência de longos períodos em pé,
dificultando a deambulação (resultava em claudicação).
A úlcera localizava-se em maléolo lateral esquerdo, os
MMII revelavam encurtamento de cadeia posterior,
principalmente Tríceps Sural, o que diminuía a amplitude
dos movimentos de flexo-extensão de tornozelo. Era visível
em ambos membros inferiores varizes e pequenos pontos
enegrecidos.
Observa-se uma progressão positiva para a redução da
área da úlcera do início do tratamento em agosto, até o final
do mês de outubro, num período de 24 sessões para a
aplicação da laserterapia. É importante ressaltar que a partir
de 27 de setembro, a paciente iniciou um tratamento de
injeções de antibioticoterapia, para a qual teve reação alérgica,
piorando desde então o estado geral da úlcera no dorso de
pé, com aparecimento de nova ulceração em maléolo lateral.
A paciente foi submetida ao tratamento com laserterapia
de baixa intensidade de infravermelho, durante os meses de
agosto à dezembro de 2000, totalizando 38 sessões da ferida,
que foi tratada desde o início do atendimento. A evolução
da úlcera durante esse período apresenta-se documentada
no gráfico da figura 4.
A paciente iniciou tratamento com laserterapia no mês
de Agosto, de úlcera presente em dorso de pé direito.
Durante dezesseis atendimentos houve regressão do
quadro com diminuição da área da ferida. No mês de
Outubro, de acordo com orientação médica, I.F.F passou
a submeter-se a aplicações semanais de Antibióticos via
intramuscular. Houve, no entanto, reação alérgica ao
medicamento com piora do processo ulcerativo já existente
e abertura de um novo em maléolo lateral esquerdo.
O tratamento deu continuidade com então duas úlceras,
sendo que ambas passaram a responder de forma positiva
à terapêutica laser, com redução de área lesada em maléolo
lateral nas dezessete sessões seguintes, e total cicatrização
da ferida em dorso de pé em mais quatorze atendimentos.
Figura 3 - Gráfico de evolução da úlcera em maléolo lateral de Outubro à
Dezembro.
Figura 4 - Gráfico de evolução da área da úlcera em dorso do pé direito durante
os meses de Julho à Dezembro.
Relato de caso III
A paciente ZS, de 66 anos, do sexo feminino, portadora
de enfisema e bronquite, não diabética e nega hipertensão,
apresentava úlcera varicosa na região dorsal do pé direito, no
início do tratamento com 3,5 cm de comprimento e largura
de 1,5 cm superior e 2,5cm inferior. A úlcera surgiu a partir
de uma coceira e abriu há 3 meses não fechando mais. O pé
sempre inchava, sentia muita dor, em pontadas. Dormia mal
à noite, e sentia muita dor para andar e subir escadas.
Não existia antecedentes familiares e era a primeira vez
que ocorre um processo ulcerativo.
Utilizava medicamentos como Aminofilina ( 1x ao dia /
a noite) e realizava Inalação (5 ml de soro fisiológico, 3
gotas de Berotec e 6 gotas Atrovent). Realizava curativo no
posto de saúde diariamente e lavava com sabão e água
morna. Já havia realizado tratamento anterior com
Neomicina e Bacitracina (todas as noites).
A úlcera apresentava secreção transparente e a impedia
de realizar as atividades domésticas devido a dor. Dor a
inversão do pé, ao redor do maléolo medial e o pé
apresentava-se sempre edemaciado e melhorou com o
exercício de Buerger, orientado para ser efetuado em casa
diariamente.
A paciente foi submetido ao tratamento com laserterapia
de baixa intensidade de HeNe, durante os meses de julho à
novembro de 2000. A evolução da úlcera durante esse
período apresenta-se documentada no gráfico da figura 8.
Nota-se a redução na área da úlcera após 7 sessões de
atendimento, ocorrendo uma estabilização do estado da
46
Figura 5 - Gráfico de evolução da área da úlcera em lateral de perna direita
durante os meses de Julho à Dezembro.
ferida nas próximas 12 sessões. A partir do mês de setembro,
o quadro tornou a apresentar uma progressão positiva, com
decréscimo da área no período das 10 aplicações
subseqüentes, com a finalização do processo cicatricial nas
22 sessões que se seguiram. A paciente permaneceu,
portanto, 20 semanas sob tratamento, considerando-se 2
feriados e 7 faltas durante esse período, totalizando, assim,
51 atendimentos. O registro fotográfico deixa explícito o
histórico da evolução.
Relato de caso IV
O paciente AG, de 54 anos, sexo masculino, tabagista,
não sabia se era diabético, pois nunca tinha realizado
exame para essa verificação, negava ser hipertenso.
Apresentava úlcera cutânea há 7 anos no mesmo local,
que abriu após trauma durante jogo de futebol, com
coceira posterior no local. Há um ano a ferida atingiu o
tamanho que possuía na avaliação. Localizava-se em
região lateral de perna direita.
O paciente utilizou várias pomadas para tratamento
anterior como a Cortiderme. Realizava curativo em casa e
realizava lavagem do local com sabão neutro e soro
fisiológico. Na data da avaliação, tinha parado de trabalhar
há um mês devido à ferida. Fazia uso de analgésicos como;
Tadilak (1 comprimido a cada 6/6 horas) há cerca de um
mês com grande alívio para a dor, e de Tirido (1 comprimido
a cada 6/6 horas) com reduzido alívio da dor.
A análise da figura 11 revela lenta redução da área da
ferida decorridas 26 sessões, existindo decréscimo acentuado
dos valores no último mês de tratamento com mais 10
atendimentos.
Discussão
O objetivo deste estudo foi a análise da eficácia e atuação
do Laser de baixa intensidade nos comprimentos de onda
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
de 632,8 nm (HeNe) e 904 nm (AsGa), no tratamento de
pacientes portadores de processos ulcerativos cutâneos
venosos crônicos.
Apesar do número reduzido de sujeitos não permitir
uma análise estatística significante, não se pode ignorar a
importância clínica dos resultados obtidos em úlceras de
caráter crônico, já abordadas anteriormente, ineficaz por
diferentes métodos terapêuticos.
O registro fotográfico e a mensuração da área da ferida
indicam que na maioria dos casos houve progressão no
sentido de cicatrização, obtendo resultados não alcançados
em tratamentos pregressos, haja visto os índices finais
presentes em quadros como os de feridas com idade de 7
anos (relatos I e III).
É difícil comparar os nossos resultados com os
encontrados na literatura [17], pela metodologia não ser a
mesma, pois a maioria dos trabalhos os pacientes foram
submetidos a aplicação de laser apenas duas vezes por
semana, e neste trabalho os sujeitos foram atendidos em 3
sessões semanais.
Este estudo demonstra que apesar da pequena amostra,
o laser AsGa é capaz de fornecer bons resultados no
tratamento desse tipo de úlcera, mostrando-se
aparentemente mais eficaz para terapia dessas feridas.
Porém, o laser HeNe também conseguiu bons resultados.
O que vem confirmar a literatura, na qual também não há
um consenso do melhor tipo de laser para o tratamento
de feridas crônicas.
Lundeberg e Malm [12] analisaram 42 pacientes com
úlceras venosas crônicas em membro inferior, dividindo-os
em dois grupos; o primeiro recebeu curativos e aplicações
de laser AsGa, com 904 nm de comprimento de onda, pico
de potência de 10 W, regime de emissão pulsado de 3800
Hz, potência média de 4 mW, e o segundo grupo, que era
um grupo placebo, recebia curativos e aplicações de
laserterapia com o mesmo aparelho, porém sem emissão
de luz. Os pacientes foram atendidos por 12 semanas, sendo
feita aplicação de laser perpendicularmente na área da ferida,
por 10 minutos com intensidade de 1,96 J/cm2. Neste
trabalho não foi encontrada diferença significativa entre os
dois grupos em nenhum estágio do estudo a respeito da
evolução da cicatrização. Porém os próprios autores relatam
que estes resultados podem ser devido ao tipo de laser
utilizado, a dosagem e a duração da irradiação, que podem
não ter sido suficiente, ao intervalo no tratamento e o estágio
que as feridas se apresentavam. Estes mesmos autores
também relatam que as úlceras crônicas são as primeiras
áreas onde o efeito do laser de baixa intensidade foi
investigado e, particular mente, evidenciou-se que
intensidades desse tipo de laser entre 1-5 J/cm2 provoca um
aumento na produção de fibroblastos humanos, bem como
a estimulação produção de procolágeno tipo I e III pelo
RNA mensageiro.
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
47
Em outro estudo, Lundeberg e Malm [12] analisaram 46
pacientes com úlceras venosas de membro inferior, sendo
divididos em um grupo controle, que recebia os curativos e
terapia placebo de laser HeNe, e o outro grupo recebia
curativos e laser HeNe de comprimento de onda de 632,8
nm, emissão contínua e intensidade de 4J/cm2 . Os pacientes
foram atendidos 2 vezes por semana, durante 12 semanas.
Nesse estudo não foi constatada diferença significativa entre
os dois grupos. Porém, ressaltam que estudos experimentais
sugerem que o laser HeNe auxilia no tratamento de tecido
cicatrizável e a irradiação estimula a elasticidade desse tecido;
além disso, que os benefícios da dosagem correta de HeNe
na estimulação de fibroblastos já foram relatados por diversos
autores, mas a dosagem errada pode levar a coagulação do
tecido irradiado, o que justifica a continuidade dos estudos na
determinação de todos os parâmetros necessários para a
terapia correta e eficaz.
Sabe-se também que há muitas controvérsias a respeito
do tempo de aplicação e da intensidade da terapia por laser
de baixa intensidade. Num estudo em ratos, Longo et al
acharam que a aplicação do laser de AsGa por 5 minutos
aumenta significativamente o reparo das feridas, entretanto
a aplicação por 10 minutos reduz o avanço do reparo, tanto
macroscopicammente como histologicamente.
Ainda é difícil indicar o comprimento de onda ideal para
o tratamento de feridas crônicas, apesar do grupo de laser
tipo AsGa haver obtido melhores resultados, não se pode
desconsiderar o progresso alcançado por 2 pacientes do
grupo HeNe, visto que trabalhos mostram excelente resposta
para cicatrização, através deste tipo de irradiação.
Outro ponto a ser discutido e que merece maiores
estudos, é o fato de que nesse trabalho as sessões de
aplicações de laserterapia foram três vezes por semana
ininterruptamente e obteve-se bons resultados. Entretanto,
Gonçalves (1997) traz uma outra questão, pois em seu
trabalho ela sugeriu um intervalo entre as aplicações para
acompanhar e promover a síntese de colágeno, tendo ótimos
resultados com esse procedimento. Mas no nosso estudo as
sessões de aplicações foram ininterruptas e os resultados de
cicatrização também foram alcançados.
Neste estudo não puderam ser constatados resultados
que direcionassem a otimização de um comprimento de
onda do laser de baixa intensidade para uma etiologia
específica de úlcera [22].
Foto 1 - Foto da úlcera antes do início do tratamento – Maléolo Medial
Esquerdo
Foto 2 - Foto do término do tratamento – cicatrização completa- Maléolo
Medial Esquerdo
Foto 3 - Foto de antes do início do tratamento – Dorso do pé esquerdo
Foto 4 - Foto do término do tratamento – sem a cicatrização completa – Dorso
do pé esquerdo
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Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Foto 5 - Foto de antes do início do tratamento – Dorso do pé direito
Foto 6 - Foto do término do tratamento – a cicatrização completa – Dorso do pé
direito
Foto 7 - Foto de antes do início do tratamento – Lateral de perna direita
Foto 8 - Foto do término do tratamento – sem a cicatrização completa – Lateral
de perna Direita
Considerações finais
De acordo com os resultados e discussão, recomendase, portanto, a continuação dos estudos, a fim de que a
análise final dos dados obtidos sejam mais significativos.
Com base nos dados e nas observações clínicas, o presente
estudo sugere que a atuação do laser tipo AsGa revela-se
mais eficaz no processo de cicatrização das feridas. Não se
pode, no entanto, provar cientificamente que a diferença nos
comprimentos de onda seja a causa de tal resposta, visto a
variação de potência existente entre os dois aparelhos, sendo
de 3,6 mW para o de HeNe, com onda medindo 632,7 nm,
e de 11mW para o de AsGa com onda de 904 nm.
A proposta de investigação acerca da eficácia de
determinado comprimento de onda em relação a potência
exige tempo maior de estudo, grupos de sujeitos maiores,
úlceras de etiologias variadas, a fim de determinar se há
um parâmetro que isoladamente influenciaria o processo
cicatricial, ou se existiria um conjunto de fatores que
otimizariam tal fenômeno.
Nesse trabalho a amostra de sujeitos foi pequena, mas
não se pode ignorar os bons resultados obtidos em feridas
crônicas e recidivantes, que não tinham alcançado sucesso
com outro tipo de terapia.
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Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Artigo original
Estudo comparativo do uso da eletroestimulação
na mulher associada com atividade física visando
a melhora da performance muscular e redução
do perímetro abdominal
Comparative study of the use of eletroestimulation
in the woman associated with physical activity seeking
the improvement of muscle performance and reduction
of abdominal perimeter
Alexsander Roberto Evangelista*, Nilton Petrone Vilardi Jr.**, José da Cunha Rocha ***, Camila de Souza Furtado ****,
Bruno Mazzioti de Oliveira Alves*****
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*Graduando em fisioterapia da Universidade Estácio de Sá-UNESA (RJ), **Sub-Reitor da área de Saúde da Universidade Estácio de SáUNESA (RJ) e Diretor da Clínica R9 (Fisiotaquara), ***Diretor Geral do Curso de Fisioterapia da Universidade Estácio de SáUNESA (RJ), ****Coordenadora das Clínicas da Universidade Estácio de Sá e Mestrando em Engenharia Biomédica COPPE-UFRJ,
*****Coordenador da Clínica R9 (Fisiotaquara)
Palavras-chave:
Eletroestimulação, média
freqüência, perímetro
abdominal, adipômetro.
Resumo
Este artigo descreve o tratamento realizado em 15 voluntárias de uma população
de conveniência que se propuseram à melhora no aspecto estético e na performance
do músculo abdominal, moradores do bairro Penha Circular, no Rio de Janeiro-RJ. As
aplicações foram realizadas nas residências de 10 voluntárias, sendo 5 voluntárias
participando somente do programa de eletroestimulação, 5 participando da
eletroestimulação mais os exercícios aeróbicos controlados por um personal trainer e as 5
últimas participando somente do programa de exercícios aeróbicos, todas com o mesmo
professor de Educação Física. O trabalho objetivou proporcionar uma diminuição do
perímetro abdominal, e possivelmente proporcionar a manutenção da qualidade e
quantidade do tecido muscular no reto abdominal, com a utilização da eletroestimulação
neuromuscular com corrente de média freqüência. As voluntárias detalhavam total
Artigo recebido em 15 de dezembro de 2002; aprovado em 15 de janeiro de 2003.
Endereço para correspondência: Alexsander Roberto Evangelista, Rua Grão Magriço, 72/101 Penha 21020-110 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 3884
9914/9921 8990, E-mail: [email protected]
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
51
constrangimento com a gordura localizada na região infra-abdominal, desta maneira
voluntariamente se submeteram a uma avaliação constituída de perimetria abdominal,
com uso de trena antropométrica, e aferição com uso do adipômetro. Para a elucidação
do estudo de caso, os autores fizeram uma revisão da literatura de autores emblemáticos
nos aspectos descritos na revisão. Em virtude dos resultados alcançados ao final do
trabalho, o relato de caso apresentado mostrou que tais resultados mostraram-se favoráveis
ao uso da eletroestimulação neuromuscular na terapêutica para manutenção na qualidade
muscular e possível perda de tecido adiposo em região abdominal.
Abstract
Key-words:
Electroestimulation,
medium frequency,
abdominal perimeter,
adipometer.
This article describes the treatment accomplished in 15 volunteers of a population
of convenience that intended to the improvement of aesthetic aspect and in performance
of abdominal muscle, in residents of the neighborhood Penha Circular, in Rio de Janeiro
RJ. The applications were accomplished in the 10 volunteers residences, being 5 volunteers
participating of the eletroestimulation program, 5 participating in eletroestimulation
more aerobic exercises controlled by personal trainner and the last 5 only participating
of the program of aerobic exercises. The work aimed to provide a decrease of the
abdominal perimeter, and possibly to provide the maintenance of quality and amount
of muscular tissue, with the use of the neuromuscular eletroestimulation with current
of medium frequency. The volunteers detailed total embarrassment with the located fat
in the infra-abdominal area, this way voluntarily they submitted the constituted evaluation
of abdominal perimeter, with use of tape measure antropométrica, and gauging with
use of the adipometer. For the elucidation of the case study, the authors made a revision
of the literature approaching the necessary concepts for the understanding of the
physiology of the fat tissue, as well as the therapeutic aspects of electrotherapy. Because
of the results reached at the end of the work, this study case showed that such results
were favorable to the use of eletroestimulation of muscle nerve in the therapeutics for
maintenance of muscular quality and possible loss of fat in the abdominal area.
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Introdução
Os programas de fortalecimento muscular são
procedimentos importantes e muito utilizados na clínica
fisioterápica. Estes surgem da necessidade de se restabelecer
as funções normais de um músculo quando este apresenta
sua força diminuída. Além da reabilitação muscular, existem
outros motivos para se produzir uma hipertrofia muscular,
como por exemplo, o fator estético, ou para a melhora no
rendimento de um determinado esporte.
A estimulação elétrica neuromuscular (NMES) é a
aplicação de corrente elétrica para eliciar uma contração
muscular. A NMES tem sido, ao lado da cinesioterapia, um
dos recursos mais amplamente utilizados na clínica
fisioterapêutica para se produzir for-talecimento e hipertrofia
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muscular, especialmente a partir da metade dos anos 70,
após o ocidente tomar conhecimento dos estudos
desenvolvidos pelo médico r usso Yakov Kots. Na
Universidade de Montreal, em 1976, os atletas da delegação
russa foram observados usando a estimulação elétrica, além
dos exercícios voluntários, como forma de fortalecimento
muscular. Em 1977, Kots visitou a Concórdia University (Montreal),
onde apresentou os resultados de suas pesquisas sobre os efeitos
da estimulação elétrica no aumento de força muscular em atletas
de elite. Isto deve-se ao fato de que a estimulação elétrica
neuromuscular podia produzir ganhos de força que eram de
30 a 40% maiores do que aqueles produzidos pela contração
voluntária máxima do músculo [1,2].
Embora os protocolos experimentais de Kots não fossem
documentados e seus resultados nunca puderam ser
52
reproduzidos no ocidente, seus relatos contribuíram para
que os pesquisadores do mundo todo reconhecessem o
potencial dessa técnica e ampliassem os estudos em relação
à estimulação elétrica e o fortalecimento muscular. Os
estudos desenvolvidos a partir de então parece dar suporte
a afirmação de que a estimulação elétrica neuromuscular
pode fortalecer músculos normalmente inervados, tanto em
sujeitos sadios, quanto naqueles que sofrem de vários tipos
de distúrbios onde estejam presentes fraqueza e atrofia
muscular [2].
Tendo em vista a necessidade constante da melhora do
aparelho muscular assim como do aspecto estético de toda
a região abdominal, e também da implementação de novas
terapêuticas para o tratamento das diversas afecções
encontradas, identificamos a necessidade de realizar esta
pesquisa com o objetivo de elucidar os efeitos proporcionados
pela estimulação elétrica neuromuscular na musculatura
abdominal, e também de promover uma técnica capaz de
recuperar a parede abdominal, tanto na fisiologia da
contração muscular, quanto no aspecto estético com relação
a uma possível redução da massa adiposa, através da
contração muscular abdominal. E para viabilizar esta técnica,
como um recurso para o tratamento de discrepâncias em
região abdominal, optou-se pelo uso da eletroestimulação
através da corrente russa, que por ser uma corrente de média
freqüência, e, segundo Sivini & Lucena [3], causaria menor
desconforto aos voluntários envolvidos na pesquisa,
proporcionando a utilização de um nível maior de
amperagem e conseqüentemente melhor resposta muscular.
Snyder-Mackler et al. [4], relataram que se deve encorajar o
paciente a utilizar a mais alta intensidade tolerável, pois existe
uma relação linear entre a força ganha e a intensidade da
contração estimulada.
Revisão bibliográfica
A pesquisa bibliográfica deu ênfase aos aspectos
histoquímicos, bioquímicos e fisiológicos e aspectos
eletrofisiológicos.
Aspectos histoquímicos
Segundo Foss & Keteyian [5], com o exercício se poderia
conseguir uma contribuição significativa para a solução do
problema da obesidade com o uso de programas de baixa
intensidade capazes de desenvolver a “aptidão metabólica”
de uma maneira menos extenuante, mais segura, mais
interessante, e menos enfadonha que os programas
tradicionais de treinamento aeróbico de endurance.
Os adipócitos, ou células gordurosas (adiposas)
aumentam em número (hiperplasia) até o início da
adolescência. Aumentam também de tamanho (hipertrofia),
durante toda a vida, pois os adipócitos ser vem de
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
reservatório de energia. A falta de exercício e o excesso de
comida podem estimular sua formação. Assim sendo, a
obesidade constitui uma combinação do número de
adipócitos e de seu conteúdo lipídico. As pessoas obesas
possuem um número maior de células gordurosas que
contêm um volume de lipídios maior que seus equivalentes
magros. Nos adultos, apresentando alterações no peso
corporal de aproximadamente 9 kg observadas durante um
período de três a quatro meses, parece que a maior parte
do aumento é devida ao maior armazenamento nos
adipócitos preexistentes. Entretanto, se for permitido um
aumento contínuo de peso, parece haver um mecanismo de
gatilho que irá permitir a ocorrência de hiperplasia dos
adipócitos [6].
Segundo Galbo [6], os profissionais da saúde e os
professores de educação física deveriam considerar
seriamente que:
1. A prevenção da obesidade resulta em maior sucesso
que o tratamento. Isso é particularmente verdadeiro durante
a pré-adolescência. A evidência sugere que o excesso de
comida durante esse período pode causar hiperplasia dos
adipócitos (um aumento no número de células gordurosas),
preparando, assim, o terreno no qual a obesidade poderá
crescer e florescer.
2. O exercício mantém baixo o conteúdo gorduroso total
do corpo e pode reduzir o ritmo de acúmulo das células
adiposas.
3. Se uma determinada ingestão alimentar não permite
uma redução ponderal, neste caso a atividade física terá de
ser aumentada para produzir um equilíbrio energético
negativo.
4. Devem ser escolhidas atividades que exigem um
dispêndio de energia em longo prazo, porém, e ao mesmo
tempo, dentro das capacidades físicas e das habilidades do
indivíduo.
5. Os hábitos de vida são desenvolvidos precocemente
e, assim sendo, quanto mais cedo são iniciados os programas
de controle, tanto melhor.
Algumas pesquisas científicas foram realizadas sobre o
efeito de correntes elétricas nos músculos [1,7]. Estas
pesquisas se concentraram principalmente em dois aspectos:
- Aumento da força muscular e
- Endurance do músculo reto abdominal.
Sendo desta forma a conseqüência para perda de tecido
adiposo.
Aspectos bioquímicos
Segundo Galbo et al [6], a insulina produz um aumento
na captação celular de glicose, resultando em redução de
seus níveis sangüíneos. Além dessa função, a insulina inibe
também a liberação de glucagon pelo fígado e a liberação
de ácidos graxos pelo tecido adiposo. Por sua vez, o glucagon
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
produz efeitos exatamente opostos, mobilização de glicose
a partir do fígado por meio da gliconeogênese e mobilização
dos ácidos graxos a partir dos adipócitos (células adiposas).
Durante o exercício físico, no qual tanto a glicose quanto os
ácidos graxos são necessários como combustíveis
metabólicos, foi mostrado que o glucagon aumenta e a
insulina diminui. Esta é uma testemunha bioquímica de que
esforço o muscular induzido eletricamente pode provocar
esta mobilização, já que a EENM tem de 30 a 40% mais
eficácia do que a contração voluntária [1,8].
Metabolismo de gordura
Se o corpo tiver uma boa reserva de carboidratos (CHO),
este será o combustível preferencial, o que é muito
importante durante a atividade intensa, uma vez que nestas
condições só o CHO pode ser oxidado rapidamente e suprir
a energia que o músculo pede. Um atleta demora mais a se
cansar porque queima gordura numa faixa muito maior, o
que mantém o seu nível de glicogênio muscular adiando a
fadiga. Como a gordura estocada é desidratada e produz
mais energia do que o CHO, é a maneira ideal de estocar
energia, pois ocupa pouco espaço (o glicogênio é muito
hidratado) e produz mais energia por grama. O exercício
aumenta a concentração plasmática de epinefrina e de outros
hormônios, ativando betarreceptores dos adipócitos e
estimulando a lipase, que quebra o triglicerídeo em 3 AGL e
1 glicerol. Em descanso, 70% dos AGL liberados na lipólise
são ligados novamente ao glicerol e formam novos
triglicerídeos nos adipócitos. Durante o exercício moderado,
esse processo diminui, ao mesmo tempo em que a lipólise
aumenta, elevando assim o nível sangüíneo de AGL [9,10].
Uma vez no plasma os AGL ligam-se à albumina, a
quantidade de AGL no sangue diminui à medida que a
intensidade do exercício aumenta [11,6].
Comparando dois níveis de exercício, um a 25 e outro a
65% do VO 2 máx., a 25% queima mais gordura
proporcionalmente, mas a 65% queima mais quantidade
absoluta de gordura [9,10,11].
Os MCT (triglicerídeos de cadeia média) são mais
facilmente transportados e colocados dentro da mitocôndria.
Sua oxidação é apressada quando consumidos junto com
CHO. Possuem duas desvantagens, não se pode ingerir mais
de 30g sem que se apresente desconforto e diarréia, e o
consumo combinado com CHO aumenta a secreção de
insulina, o que diminui a oxidação de gordura [12,13].
Se existe pouco O2 devido à intensidade do exercício, a
energia precisa vir da glicose, uma vez que a gordura não
pode ser metabolizada sem O2. Os hormônios liberadores
de AGL (epinefrina, glicocorticóides) permanecem ativos 2
ou 3 horas após o exercício. A epinefrina impede que o
nível insulínico suba muito em resposta à glicemia sangüínea.
É por isso que não se engorda comendo muito carboidratos
53
até 3h depois do exercício, pois todo CHO vai repor o
glicogênio. A glicose vai pro glicogênio muscular e a frutose
vai pro hepático [12,13].
Durante o sono liberamos GH, que é glicocorticóide,
por isso no período de recuperação noturna após a execução
de atividade, o corpo é sustentado quase que 100% com
gordura. O nível de insulina não aumenta durante o exercício,
e permanece assim após 2 ou 3 horas mesmo com o
consumo de bebida carboidratada. O índice glicêmico de
um alimento representa a magnitude da elevação da glicose
sangüínea que ocorre após sua ingestão [12,14].
Gordura: A gordura armazenada representa a fonte mais
abundante de energia potencial. Essa fonte comparada aos
outros nutrientes é quase ilimitada. Existe alguma gordura
armazenada em todas as células, porém, seus maiores
fornecedores são os adipócitos - células gordurosas
especializadas para a síntese e ar mazenamento de
triglicerídeos - elas compreendem cerca de 90% das células.
Depois que os ácidos graxos se difundem para dentro da
circulação, eles são entregues aos tecidos ativos onde são
removidos do tecido adiposo e assim são transferidos para
os músculos (particularmente as fibras de contração lenta)
onde a gordura é desintegrada e transformada em energia,
dentro das mitocôndrias, para poderem ser utilizadas como
combustível. Dependendo do estado de nutrição, treinamento
do indivíduo e duração da atividade física, de 30% a 80%
da energia para o trabalho biológico derivam das moléculas
adiposas intra e extracelulares. 1 MOL de gordura é capaz
de produzir 142 ATP [11].
Aspectos fisiológicos
Aumento de força muscular
Muitas pesquisas foram realizadas, buscando conhecer
o efeito de correntes elétricas nas fibras musculares. Os
estudos se concentram em duas hipóteses principais [12]:
- Aumento da força muscular,
- Mudança no tecido muscular
Se o atleta, por alguma razão, não é capaz de executar
uma contração muscular voluntária, isto pode ser realizado
com o auxílio de EENM [8].
Com a EENM determina-se que a modulação do nervo
motor alfa e não o neurônio é despolarizado, como no caso
do movimento ativo. Esta forma artificial de despolarização
torna possível, em teoria, ativar todas as unidades motoras
simultaneamente. Sob condições normais, o músculo pode
ativar de 30-60% de suas unidades motoras dependendo da
extensão do treinamento [1]. Contudo, pode ser observado
que à medida que a intensidade da corrente aumenta, a
contração aumenta em força [15].
Robinson et al. [16], citam que durante uma contração
muscular voluntária, as unidades motoras são recrutadas de
54
uma maneira dessincronizada, isto é, unidades motoras não
são todas ativadas no mesmo instante no tempo.
Andrews et al. [8], explicam que uma razão para a EENM
ser mais eficaz aos pacientes do que apenas exercícios,
residem na diferença nos padrões de recrutamento e de
acionamento (disparo) entre a eletroestimulação e as
contrações musculares voluntárias. Já no início de uma
reabilitação, o treinamento típico com exercícios
normalmente envolve um peso mais baixo, para evitar o
estresse excessivo da articulação lesionada. Desta forma as
fibras tipo IIb seriam recrutadas apenas com esforço
suplementar, segundo o princípio do tamanho de Henneman,
portanto, seriam poucos os efeitos do treinamento em virtude
deste exercício. Comparando-se o treinamento com a
EENM, os efeitos podem ser positivos, visto que a
articulação pode ser estabilizada e o trabalho de força pode
ser realizado isoladamente, mesmo num período recente
pós-cirúrgico [8]. Esta afirmação apóia-se na inclinação de
Starkey [2] que relata que a EENM estimula os nervos
motores de grande diâmetro do tipo IIb a se contraírem
antes das fibras do tipo I, é fácil concluir que o vigor da
contração aumenta, considerando-se que as fibras do tipo
IIb são capazes de produzir mais força [1,17].
Quanto ao aumento de massa muscular com a prática
de EENM, possuímos pouquíssimas informações, mas é
marcante o aumento de força em indivíduos diferentes, em
estudos selecionados. Separando alguns destes estudos, a
média de ganho de força devido a EENM aparenta ser em
torno de 20% em aproximadamente um mês [16].
Hoogland [12], confirma a importância da estimulação
elétrica no ganho de força quando define alguns benefícios
extras:
- Consegue-se ativar 30% a 40% a mais das unidades
motoras com a corrente elétrica de média freqüência que
nos exercícios comuns e os tratamentos convencionais. Pois
com a estimulação elétrica ocorre a modulação do nervo
motor alfa e não despolarização do neurônio, como no
movimento ativo, tendo assim, características de
despolarização artificial tornando possível ativar todas as
unidades motoras simultaneamente [1].
- Aumento de força em curto prazo.
- Melhor qualidade de a estabilidade articular durante a
fase de imobilização.
As afirmações citadas por Hoogland [1], podem
corroborar para os aspectos eletrofisiológicos, definindo uma
hipótese que não está completamente resolvida, apesar de
muitos estudos científicos. Contudo, as reuniões de estudos
extensas sobre este assunto e experiência de vários autores
podem definir provisoriamente que o aumento de força
induzido eletricamente pode ocorrer [1,7,16]. Se pelo
aumento da secção transversa ou por mecanismos neurais
ainda não está completamente resolvido. Se o paciente, por
qualquer razão, não é capaz de tensionar seletivamente os
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
músculos que são em princípio saudáveis, isto pode ser feito
com o auxílio de corrente elétrica [18].
Variação metabólica na utilização da EENM
(Eletroestimulação neuromuscular)
A EENM pode ser considerada de 30 a 40% mais eficaz
que a contração voluntária na ativação de unidades motoras
[1]. Porém, a EENM pode ter o mesmo efeito que a
contração muscular voluntária no que diz respeito o aumento
temporário no metabolismo muscular [18,15].
Podemos afirmar que a interrupção do fluxo sangüíneo
pode ser uma das causas que levam o músculo a fadiga,
devido a evidente perda de suprimento nutritivo. Portanto,
Currier [15] demonstra que a corrente elétrica pode
aumentar o fluxo sanguíneo em 20% após 01 minuto de
sua aplicação e perdurou 05 minutos após. Com relação ao
aumento da corrente sanguínea podemos deduzir que
haverão conseqüências associadas de aumento de combustão
de oxigênio, dióxido de carbono, ácido lático e outros
produtos metabólicos, bem como aumento de temperatura
e de fluxo sanguíneo local [8]. Isto, portanto, pode colaborar
com a discussão sobre a variação metabólica, dando a idéia
de que a contração induzida eletricamente, pode ter a
vantagem do suprimento sangüíneo se comparado com a
contração voluntária [15].
Sabe-se que o exercício tem como fonte energética
primária o sistema de trifosfato de adenosina e fosfocreatina
(ATP-PC), o qual fornece energia rapidamente durante
contrações musculares máximas. A utilização da fosfagenase
é esgotada em 10 a 15 segundos, o reabastecimento dura
22 segundos e o reabastecimento completo deste composto
pode ocorrer em 2 minutos [19].
Este aspecto bioenergético faz necessário um constante
entendimento dos parâmetros de modulação, para evitarmos
resultados indesejáveis, visto que as fibras podem ser
selecionadas preferencialmente para o trabalho [1,15]. O
que significa dizer que a escolha da fibra para o trabalho
isoladamente, fenômeno que a freqüência de pulso permite
[1], deve estar inteiramente ligada ao tempo de repouso off
e contração on respeitando o tempo hábil para a ressíntese
de ATP e seus respectivos substratos energéticos [2,19].
São necessários estudos “laboratoriais” para pesquisarmos
mais especificamente quais os efeitos da EENM na variação
metabólica. A variação metabólica vai depender do tipo de
fibra que será trabalhada, portanto, quando trabalhamos
fibras do tipo IIb por exemplo, o volume de mitocôndrias e
a concentração enzimática mitocondrial encontra-se reduzida
[20,21,22], isto nos leva ao entendimento que sustentações
prolongadas podem levar a fadiga mais facilmente [16,18,23].
Desta forma, o tempo de repouso deve ser um tanto quanto
mais longo sendo mais comumente usado 10 segundos para
contração e 60 segundos para o repouso [19]. Portanto, vale
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
55
salientar que Evangelista et al [24], otimizaram tempos bem
menores de repouso em fibras tipo I, logrando resultados
favoráveis.
funcional ou estrutural devido à estimulação elétrica.
Fadiga muscular
Os métodos de avaliação utilizados nesta pesquisa estão
embasados cientificamente por autores que justificam o
mesmo num estudo de cadáveres dissecados (método direto).
Estes estudos foram realizados e padronizados pela
Antropometric Standardization reference (ASRM) [17,27].
Pollock et al. [27] avaliam o método de três dobras
cutâneas (tricipital, supra íliaca, abdominal, coxa, peitoral)
como viável para avaliação do sexo feminino adulto, onde é
padronizado pela ASRM até a data de hoje. Valendo lembrar
que não existe o melhor método, porém para cada grupo e
situação deve-se estudar a melhor adequação [17,27].
Para perimetria do abdômen empregamos a trena
antropométrica Medical, e utilizamos o método de Pollock et
al. [17,27], onde medimos 2 cm abaixo da cicatriz umbilical,
da esquerda para direita. Na realização da mensuração, passase a trena no voluntário e a marcação do perímetro será
numa inspiração seguida de apnéia.
Para a verificação do percentual de gordura utilizamos
o protocolo de Pollock [27,36]. Este método tem
matematicamente 88% de margem de acerto se comparado
com método direto (dissecação de cadáver). O cálculo utiliza
a seguinte equação: DC:1.0994921-0.0009929(X2).+
0.0000023(X2)² - 0.0001392(X3) onde X1= Ó DC Peitoral,
abdominal e coxa; X2= Ó DC Tríceps, Supra-íliaca e coxa e
X3=idade em anos [17,27].
Para a Dobra Cutânea (Supra Ilíaca) utilizamos o método
Pollock [27], onde se marca uma linha da axila até a crista
ilíaca, marcando com o polegar, gira-se a mão no sentido
horário e faz a pega supra ilíaca.
Para a Dobra Cutânea Tricipital mede-se da cabeça do
úmero até o olécrano, fazendo a marcação do terço médio
(mesoumeral). Nesta marcação faz-se a prega no sentido
vertical [27].
Para a Dobra Cutânea da coxa, faz-se a prega com o
avaliado na posição ortostática, com os braços ao lado do
corpo, com os pés separados (10 cm), a dobra localiza-se na
distância média entra dobra inguinal e a borda proximal da
patela, no momento da aplicação o avaliado deverá estar
com o joelho ligeiramente flexionado. O peso do segmento
deverá ser sustentado pelo membro oposto [27].
Para a dobra abdominal é determinada paralelamente ao
eixo longitudinal do corpo, aproximadamente a dois centímetros
a direita da borda lateral da cicatriz umbilical [27].
A grande discussão fica por conta da eficácia da
eletroestimulação no tratamento da musculatura abdominal
e conseqüente melhora na performance muscular. Segundo
Hoogland [1], os objetivos da teoria incluem: manter a
qualidade e quantidade do tecido muscular, recuperar a
tensão muscular, aumentar ou manter a força muscular,
Fadiga muscular como conseqüência de contrações
voluntárias é bem conhecido, mas é um fenômeno complexo
e não completamente compreendido. Inicialmente ela é
devido à extinção do glicogênio muscular e da glicose
sangüínea disponível com outras limitações bioquímicas.
Alguns autores colocam como importante prática clínica à
observação do tempo de repouso e o tempo de contração.
Brasileiro et al. [19,23], citam que o esgotamento da
fosfagenase é de 10 segundos e para que haja tempo
suficiente para reposição de fosfagenase é necessário o tempo
de 60 segundos, mas alguns autores afirmam que este tipo
de contração não é suficiente para depledar todo estoque
de ATP-CP e que a exaustão não pode ser atribuída a
concentrações criticamente baixas de fosfagenase [25].
Evangelista et al. [24] apresentam resultados que corroboram
para esta discussão, com tempo de 12 segundos de contração
e 12 segundos de repouso, se observou resultados mais
rápidos no que concerne o tempo total de aplicações. É
importante se frisar que estes podem não ser fatores únicos
para desencadeamento de fadiga. No final, a taxa da utilização
de oxigênio também é importante [11]. Fadiga a contrações
submáximas é controlada pela variação de unidades motoras
particulares envolvidas. Contrações prolongadas
demonstram um recrutamento maior de unidades motoras
para manter a mesma força muscular conforme a fadiga
ocorre [18]. Seria desta forma esperado que a estimulação
elétrica dos músculos via o nervo motor levasse a uma fadiga
muscular relativamente rápida, já que um conjunto fixo de
unidades motoras é estimulado com as fibras fásicas de
disparo rápido selecionadas preferencialmente. Esta
ocorrência foi demonstrada por Currier & Mann [15], que
demonstrou que a fadiga muscular devido à estimulação
elétrica era maior que devido à contração voluntária
isométrica de igual intensidade. O grau de duração da fadiga
aparenta ser diretamente relacionado com a duração da
estimulação elétrica. Os autores encontraram evidências da
persistência da fadiga por períodos curiosamente longos após
a aplicação do protocolo terapêutico de estimulação elétrica
em indivíduos saudáveis. A recuperação completa foi
atrasada por até 24h, e em alguns casos, 48h [18].
A fadiga após o exercício, incluindo o exercício induzido
eletricamente, pode ser um estímulo necessário para o
fortalecimento muscular, mas se a estimulação de um
músculo já fadigado é danoso ou não, ainda não se sabe. A
possibilidade de risco devido à estimulação elétrica funcional
(FES) também foi considerada por Stokes & Cooper [26],
mas parece não haver nenhuma evidência de qualquer dano
Avaliação e tratamento
56
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
aumentar o fluxo sangüíneo no músculo. Porém o aumento
de força muscular com eletroestimulação pode ser alcançada
em pouco tempo e este fortalecimento se dá artificialmente
[1,16].
É importante também salientar que esse reforço muscular
evita um processo de desgaste biomecânico que pode
incorrer de prejuízos anátomo-funcionais, levando em
consideração que os exercícios abdominais comprometem
os discos intervertebrais quando realizado de forma
inadequada[28], e a eletroestimulação minimiza estes erros
ou quase os anula [8]. Andrews et al [8], cita com muita
propriedade que a eletroestimulação de média freqüência
tem a capacidade de recrutar maior número de fibras que a
contração voluntária, sendo assim a eletroestimulação é capaz
de produzir resultados mais eficazes que apenas exercícios
isolados.
Materiais e métodos
Na avaliação das voluntárias, buscamos métodos que
cercassem com propriedade todas as possibilidades de
confirmação dos resultados de nossa pesquisa.
Foram selecionadas 15 voluntárias, saudáveis, com idade
entre 30 e 45 anos (denominados gr upos A, B, C,
respectivamente) moradores da região metropolitana da
cidade do Rio de Janeiro, profissionais liberais, moradoras
do bairro da Penha Circular, na cidade do Rio de JaneiroRJ.
Antes e após o tratamento as pacientes foram submetidas
a uma avaliação constituída de perimetria abdominal,
aferição das dobras cutâneas supracitadas, peso corporal e
estatura.
Para a realização do tratamento as voluntárias foram
posicionadas em uma maca, em decúbito dorsal, onde foram
realizados limpeza prévia da região do abdômen com álcool
e algodão para fixação dos eletrodos auto-adesivos. Utilizouse quatro canais, sendo um canal colocado na porção
DC
Perimetria
Tabela I – Resultados voluntários grupo A
proximal das duas faixas musculares do reto-abdominal, outro
canal na porção distal do mesmo músculo, e os dois últimos
canais nos músculos oblíquos e transversos do abdômen.
A corrente russa foi empregada para a estimulação
muscular utilizando-se o aparelho de eletroestimulação
Endophasys-Râ, fabricado pela KLD Biosistemas Ltda, que
possui uma corrente alternada de média freqüência com
um pulso senoidal. As quinze voluntárias foram distribuídos
em três grupos eqüitativos, e para a realização do trabalho
foi utilizado o seguinte protocolo:
- No Grupo A, utilizou-se somente a eletroestimulação,
com a modulação da freqüência portadora de 2.500 Hz,
freqüência modulada de 30 Hz, fase (ciclo) de 50%, tempo
de contração de 13 seg. e repouso de 13 seg., por um tempo
total de estimulação de 20 minutos, numa intensidade (mA)
confortável e suficiente para proporcionar contração visível.
- No Grupo B, foi realizada a eletroestimulação com os
mesmos parâmetros de modulação do grupo A, entretanto
foram acrescentados exercícios aeróbicos (lambaeróbica &
spinning) e todas as voluntárias eram orientadas pelo mesmo
professor.
- No Grupo C, não foi realizada a eletroestimulação, e
somente os exercícios aeróbicos (Lambaeróbica e Spinning),
orientação idem grupo B.
O trabalho foi realizado três vezes por semana, durante
seis semanas. Nenhum dos voluntários receberam dieta
alimentar, sendo sobremaneira, orientadas a evitarem os
excessos.
Os voluntários foram atendidos em suas residências e
todas as sessões de eletroestimulação havia um interrogatório
sobre as atividades físicas ora citadas pelas voluntárias.
Resultados
A aplicação da metodologia descrita no capítulo anterior
resultou nos números apresentados nas tabelas abaixo,
obtidos em duas etapas do tratamento:
Intensidade
Idade
Estatura
Peso
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
57
exercícios aeróbicos
DC
Perimetria
Intensidade
Idade
Estatura
Peso
Tabela II – Resultados voluntários grupo B
DC
Perimetria
Intensidade
Idade
Estatura
Peso
Tabela III – Resultados voluntários grupo C
OBS.: Os exercícios aeróbicos, foram efetuados todos os
dias da semana com todos os voluntários do grupo B e C com
um Personal Trainer. São eles: lambaeróbica em 20 min e 15
min spinning, nenhuma outra atividade física era desenvolvida.
4
1-B =3,6
3
2-B=3
2
3-B=3,5
1
4-B =3
0
3
2,5
1-A= 3
2
2-A =2
1,5
3-A =3
1
4-A =3
0,5
5-A =2
0
5
Diferença de %
Gráfico I - Grupo A
As observações dos gráficos a seguir, mostram a
comparação dos resultados numericamente descritos nas
tabelas anteriores. Estes gráficos visam caracterizar
matematicamente a diferença da perda na quantidade geral
de percentual gorduroso, verificados antes do início do
trabalho e ao final do mesmo, quantificado pela técnica
desenvolvida por Pollock et al. [17,27].
5-B = 3
Diferença de %
Gráfico II - Grupo B
2
1-C = 2
1,5
2-C = 1
1
3-C = 0,2
4-C = 0,4
0,5
5-C = 0,3
0
Diferença de %
Gráfico III - Grupo C
58
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Os gráficos (nr. 1, 2, 3) da verificação da diferença dos
resultados da dobra cutânea mostram que no grupo B, onde
houve a associação da eletroestimulação com atividade física,
a diferença entre o valor obtido antes do início do trabalho
e o valor verificado ao final do mesmo foi maior. E o gráfico
do grupo A mostra a maior eficácia do trabalho realizado
somente com a eletroestimulação, em relação ao trabalho
realizado somente com a atividade física do grupo C.
Estes gráficos visam elucidar matematicamente a
diferença da diminuição de perímetro abdominal, verificados
antes do início do trabalho e ao final dos mesmos,
quantificados pela técnica desenvolvida por Pollock et
al.[17,27].
5
4
1-A = 4
3
2-A = 4
2
3-A = 5
4-A = 4
1
0
5-A = 3
Diferença de %
Gráfico IV - Grupo A
6
5
4
1-B = 5
2-B = 6
3
3-B = 4
2
4-B = 2,8
1
0
5-B = 5
Diferença de %
Gráfico V - Grupo B
2
1-C = 2
1,5
2-C = 0,5
1
3-C = 0,2
4-C = 0,5
0,5
0
5-C = 0,6
Diferença de %
Gráfico VI - Grupo C
Os gráficos (nr. 4, 5, 6) da verificação da diferença dos
resultados da perimetria abdominal mostram que no grupo
B, onde houve a associação da eletroestimulação com
atividade física, a diferença entre o valor obtido antes do
início do trabalho e o valor verificado ao final do mesmo
foi relativamente maior. E o gráfico do grupo A mostra a
maior eficácia do trabalho realizado somente com a
eletroestimulação, em relação ao trabalho realizado somente
com a atividade física do grupo C.
25
20
15
Protocolo A
Protocolo B
10
Protocolo C
5
0
Gráfico VII
Discussão
Os resultados do tratamento nestes voluntários não
podem ser considerados como absolutos. Eles podem ajudar
a divulgar experiências clínicas entre fisioterapeutas que
atuam utilizando técnicas de eletroestimulação. Podem gerar
hipóteses para serem investigadas em pesquisas futuras,
fornecer material para o ensino da profissão, motivar a
prática profissional, e auxiliar a formular parâmetros e guias
de práticas clínicas [24].
Este trabalho reveste-se da importância de se analisar o
aspecto físico dos voluntários envolvidos na pesquisa com
o objetivo de implementar uma técnica de tratamento que
possibilite a melhora da performance da musculatura
abdominal e de uma possível intervenção no tecido adiposo
situado na parede abdominal.
A análise dos dados da perimetria permitiu concluir que,
a despeito da diversidade do aspecto físico dos voluntários
envolvidos na pesquisa, o trabalho realizado com o uso de
eletroestimulação reduziu medidas pelo encurtamento do
reto abdominal em sua dimensão longitudinal, de forma
mais significativa. Tal fato ficou evidenciado nos resultados
das tabelas Ia e 1b, entretanto os dados mostrados na tabela
1b, e representados no gráfico “protocolo x diminuição na medida
de perímetro abdominal” nos levam a entender que o grupo
que utilizou a eletroestimulação associando com exercícios
físicos do tipo aeróbico apresentou melhores resultados
quanto à diminuição da perimetria abdominal.
Por outro lado, o acompanhamento dos resultados
obtidos pelo adipômetro, representados nas tabelas 1a, 1b, e
1c, levou à conclusão de que existiu também redução no
percentual de gordura com o uso da eletroestimulação. No
grupo B, onde houve a associação da eletroestimulação com
a atividade física, a diminuição do percentual de gordura foi
mais significativa. Mas há que se ressaltar que os resultados
obtidos no grupo A, em relação ao grupo C, mostraram que
o uso da eletroestimulação (unicamente) foi mais eficiente
na diminuição do percentual de gordura que a realização de
exercícios aeróbicos numa mesma academia com mesmo
professor, realizado sem a associação de eletroestimulação.
Além disto, a avaliação subjetiva e o acompanhamento regular
dos avaliados mostrou melhora no tônus e trofismo da
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
musculatura abdominal.
O estudo apresentado mostrou resultados favoráveis que
justificam seu uso na fisioterapia desportiva e dermatofuncional, pois não só a estrutura muscular obteve benefícios,
o que poderia indicar uma grande ação nas preparações
físicas para o desporto, como também o tecido adiposo foi
influenciado, revelando importante recurso para coadjuvar
os tratamentos estéticos.
Conclusão
Mesmo na falta de dispositivos precisos de avaliação,
foi possível, usando alguns conhecimentos da
cineantropometria, avaliar a melhora satisfatória no quadro
de flacidez que os voluntários apresentavam, e o tratamento
pôde reduzir medidas pelo encurtamento do reto abdominal.
E usando o adipômetro foi possível observar a diminuição
do percentual de gordura nos grupos eletroestimulados num
período menor que aquele realizado somente com exercícios.
Fato este que foi considerado muito importante, pois foi
capaz de evidenciar rápida melhora do aspecto estético e
funcional da musculatura abdominal, pois houve também
aparente melhora do tônus e trofismo muscular abdominal.
Podemos considerar importante, a observação da grande
incidência de relato de dores lombares naqueles que
praticaram exercício, e nenhum relato dos voluntários que
só participaram da eletroestimulação.
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61
Revisão
Efeitos fisiológicos da imersão e do exercício na água
Physiological effects of immersion and the practice of exercise
in the water
Fátima A. Caromano*, Mário Roberto F. Themudo Filho**, Juliana Monteiro Candeloro
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*Profa Dra, coordenadora do curso de fisioterapia da USP, ** Fisioterapeutas
Este artigo é o segundo de uma serie de 3 artigos. O terceiro e último artigo será publicado na edição de março/abril de 2003.
Palavras-chave:
Imersão, fisiologia,
fisioterapia.
Resumo
A água é um meio muito diferente do ar. Ao ser inserido neste novo meio o organismo
é submetido a diferentes forças físicas e, em conseqüência, realiza uma série de adaptações
fisiológicas. O objetivo desse texto é fornecer elementos para o fisioterapeuta
compreender as adaptações orgânicas desencadeadas a partir da imersão do corpo na
água e durante a prática de exercícios físicos.
Abstract
Key words:
Immersion,
physiology, physical
therapy.
The water is a way very different from the air. When being inserted in this new one
the organism is submitted to different physics forces and in consequence it accomplishes
a series of physiologic adaptations. The objective of this text is to supply elements for
the physiotherapist understand the organic adaptations unchained by the immersion of
the body in the water and during the practice of physical exercise.
Artigo recebido em 1 de setembro; aprovado em 1 de outubro de 2002.
Endereço para correspondência: LAFI–REACOM (Laboratório de Fisioterapia e Reatividade Comportamental), Rua Cipotânea, 51, Cidade
Universitária da USP, Campus São Paulo -Curso de Fisioterapia da FMUSP, 05360-000 São Paulo SP
62
Respostas fisiológicas decorrentes da
imersão
Respostas cardiovasculares durante
a imersão
No que diz respeito às respostas cardio-circulatórias à
imersão, temos duas situações diferentes a considerar:
1. Como vários autores demonstraram, imediatamente
após a imersão, como conseqüência da ação da pressão
hidrostática, 700 ml de sangue são deslocados dos membros
inferiores para região do tórax, causando um aumento no
retorno venolinfático, e ocasionando um aumento de 60,0%
do volume central. A pressão intratorácica aumenta de 0,4
mmHg para 3,4 mmHg e a pressão no átrio direito aumenta
de 14,0 mmHg para 18,0 mmHg. A pressão venosa central
aumenta de 2,0 a 4,0 mmHg para 3,0 a 16,0 mmHg, sendo
que a pressão arterial pulmonar aumenta de 5,0 mmHg no
solo para 22,0 mmHg em imersão. O débito cardíaco
(volume sangüíneo x a freqüência cardíaca) aumenta de
30,0 a 32,0%, associados a uma diminuição de
aproximadamente 10 batimentos por minuto ou de 4,0 a
5,0 % da freqüência cardíaca em bipedestação no solo [15].
2. Parte das alterações cardiocirculatórias decorrentes
da imersão são atribuídas ao reflexo de mergulho, que inclui
bradicardia, vasoconstrição periférica e desvio de sangue
para órgãos vitais. O reflexo de mergulho ocorre em
situações significativamente diferentes, como molhar a face,
imergir o corpo com a cabeça fora da água e imersão total
com apnéia. Nos homens é conseqüência da interação e
competição de vários fatores mecânicos e neurais [6].
Efeitos da imersão no sistema respiratório
As alterações na função respiratória são desencadeadas
pela ação da pressão hidrostática de duas maneiras diferentes
[5,7,8]:
- aumento de volume central;
- compressão da caixa torácica e abdome.
O centro diafragmático desloca-se cranialmente, a
pressão intra-torácica aumenta de 0,4 mmHg para 3,4
mmHg; a pressão transmural nos grandes vasos aumenta
de 3,0 mmHg a 5 mmHg para 12 mmHg a 15 mmHg.
Essas alterações, por sua vez, aumentam o trabalho
respiratório em 65,0 %. A capacidade vital sofre uma
redução de 6,0 % e o volume de reserva expiratória fica
reduzido de 66,0 %. A alteração da capacidade pulmonar
se deve essencialmente à compressão sofrida pela pressão
hidrostática [8].
Um estudo de Agostoni et al. [8] demonstrou que em
imersão com água até a região cervical, o volume de reserva
expiratório fica reduzido, em média, de 1,86 litros para 0,56
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
litros e a capacidade vital ficou reduzida em torno de 9,0 %
do valor encontrado em terra, reduzindo sua “circunferência
torácica” em aproximadamente 10,0 %.
A média da pressão atuando sobre a parede torácica,
durante a imersão até o pescoço, no final de uma expiração
espontânea, é de 21,0 cmH 2 O. A pressão na parede
abdominal, com imersão em água até imediatamente abaixo
do diafragma, é de 12,0 cmH2O [8].
Efeitos da imersão no sistema renal
A resposta renal à imersão inclui o débito urinário
aumentado (diurese) com perda de volume plasmático, sódio
(natriurese), perda de potássio (potassiurese) e supressão de
vasopressina, renina e aldosterona plasmática. A imersão em
água fria potencializa esta resposta. O papel da diurese de
imersão é usulamente explicado como um forte mecanismo
compensador homeostático, para contrabalançar a distensão
sofrida pelos receptores pressóricos cardíacos [4].
A atividade simpática renal diminui devido a uma
resposta vagal causada pela distensão atrial que, por sua
vez, aumenta o transporte tubular de sódio, com diminuição
de aproximadamente um terço da resistência vascular renal.
A excreção de sódio aumenta, acompanhada de água livre,
causando o efeito diurético da imersão. A função renal é
largamente controlada pelos hormônios renina, aldosterona
e hormônio antidiurético. A aldosterona controla a
reabsorção de sódio nos túbulos distais, atingindo um máximo
após três horas de imersão. Outro fator importante é a
regulação do peptídeo atrial natriurético (ANP) que é
suprimida em 50% de sua função no solo, após a imersão.
Acompanhando as alterações no controle renal, ocorrem
alterações em alguns neurotransmissores do sistema nervoso
autônomo – catecolaminas (sendo as mais importantes, nesse
caso, a epinefrina, a norepinefrina e a dopamina) –, que
agem regulando a resistência vascular, a freqüência cardíaca
e a força de contração cardíaca e são ativadas logo após a
imersão [4,5].
Esses mecanismos são amenizados com o tempo de
imersão, mas em situação terapêutica, de aproximadamente
uma hora de imersão, os efeitos persistem depois de várias
horas após a imersão [4].
Respostas durante a prática de exercícios
em imersão
Metabolismo energético aeróbico
Durante o exercício dinâmico na água, de leve a
moderada intensidade, a maior parte da energia usada para
sustentar a atividade física é suprida pelo metabolismo
aeróbico (fosforilação oxidativa).
Em virtude das diferentes propriedades físicas da água,
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
os fatores que determinam o custo energético do exercício
na água são diferentes daqueles em terra, pois a força de
flutuação reduz o peso do corpo, diminuindo o gasto
energético, uma vez que elimina o gasto de energia
necessário para deslocar o corpo contra a gravidade. Por
outro lado, a viscosidade da água aumenta o gasto energético
necessário para realizar movimentos e deslocamentos.
Assim, o dispêndio de energia na água depende menos da
energia utilizada para superar o arrasto, tornado-se
dependente do tamanho, posição do corpo, velocidade e
direção do movimento. Na água fria, uma grande
quantidade de energia pode ser necessária para manter a
temperatura corporal. Os estudos que compararam o gasto
energético de atividades similares na terra e na água,
demonstraram uma grande variedade de respostas e, assim,
o gasto pode ser igual, maior ou menor na água do que na
terra, dependendo da atividade, profundidade de imersão
e velocidade do movimento [9,10].
Algumas atividades físicas merecem ser discutidas em
detalhes:
Ciclismo – Costill [11] observou que exercícios em
bicicleta, com o sujeito em imersão até o pescoço, com 50
revoluções por minuto, em água a 25oC, exigiu de 33 a 42%
mais energia do que o exercício com bicicleta na mesma
taxa de trabalho em terra, com o ar a 24oC. Craig e Dvorak
[12] realizaram experimentos similares a 30oC e 35oC e não
encontraram diferença no dispêndio energético e respostas
cardiorespiratórias.
Caminhada, trote e corrida - Evans et al. [13] estudaram o
dispêndio de energia durante a caminhada em duas
velocidades e durante o trote em três velocidades,
percorrendo uma piscina a 31oC, com água pela cintura. A
capitação de oxigênio foi maior nas duas atividades, em
todas as velocidades, do que o mesmo exercício realizado
em esteira ergométrica. Foi necessária da metade a um
terço da velocidade para caminhar ou trotar na piscina no
mesmo nível de gasto energético. Dos vários estudos
produzidos nessa linha de pesquisa, pode-se concluir que,
quanto maior a imersão menor o gasto energético nas
atividades de caminhar e trotar, e que este gasto varia em
função da descarga de peso e resistência oferecida pela
água [9].
Bishop et al. [14] compararam as respostas fisiológicas à
corrida em imersão, com cada participante utilizando um
colete de flutuação, com as respostas à corrida em uma
esteira rolante no mesmo nível percebido de esforço. Os
participantes exercitaram-se numa intensidade preferida para
uma corrida de treinamento de 45 minutos. Os graus de
esforço percebido (GEP) não diferiram nos dois modos de
exercício. O consumo de oxigênio médio foi de 1,97 l/min
e 2,68 l/min e a freqüência cardíaca máxima de 122 bpm e
157 bpm, respectivamente. Os autores concluíram que o
63
custo metabólico da corrida em imersão, com um colete de
flutuação, a uma intensidade preferida de esforço, é menor
que a corrida na esteira ergométrica.
Hitchie & Hopkins [15] compararam o dispêndio de
energia durante a corrida em imersão, sem um aparelho de
flutuação e a corrida em esteira durante 30 minutos, em
ritmo intenso, com corredores treinados. O consumo de
oxigênio médio, expresso em relação ao peso corporal foi
de 49 ml/Kg/min, durante a corrida na água e de 53 ml/
kg/min durante a corrida na esteira. Os autores concluíram
que a intensidade se mostrou suficiente para melhorar o
consumo de oxigênio sendo, portanto, uma forma eficaz de
treinamento.
A intensidade da corrida em imersão aumenta
diretamente com a velocidade. O estabelecimento da relação
entre velocidade e gasto energético ou com as medidas
relacionadas ao gasto (freqüência cardíaca, esforço
percebido), fornece indicadores para prescrição individual
do exercício de corrida na água [9].
Subir e descer degrau (stepping) – Esta atividade realizada
em água de aproximadamente um metro de profundidade,
exige menos energia que o mesmo exercício em terra – 17 a
20% menos [9]. A freqüência cardíaca e os níveis de esforço
percebido também são menores, certamente em função da
ação da flutuação diminuindo a descarga do peso corporal.
Exercícios de calistenia - O gasto energético vai depender
do grupo muscular exercitado, da direção do movimento (a
favor ou contra a força de flutuação), da velocidade do
movimento, do tempo de duração da atividade e da associação
ou não de acessórios (bóia, palmar, pé-de-pato). De forma
geral, e excetuando os exercícios de relaxamento, o gasto
energético para realização de exercícios de calistenia é maior
na água do que em terra, podendo atingir o dobro do valor,
e sendo suficiente para produzir efeito de treinamento
aeróbico [16].
Natação - O gasto energético, medido pelo consumo de
oxigênio aumenta linearmente em função da velocidade,
apesar do fato da resistência ao movimento através da água,
aumentar com o quadrado da velocidade. Há grandes
diferenças no custo energético, dependendo do estilo do
nado e do nível de habilidade do nadador. Essas diferenças
tornam difícil a previsão do gasto energético da natação
mas, de forma geral, o custo em energia da natação de uma
dada distância, é de aproximadamente quatro vezes o custo
da corrida da mesma distância [17,18].
Metabolismo energético anaeróbico
O metabolismo anaeróbico em músculos esqueléticos
ativos ocorre quando a demanda de energia excede a taxa
de suprimento por meio de metabolismo aeróbico. Isto
ocorre mais freqüentemente no início do exercício e durante
períodos de alta intensidade. O produto final metabólico da
64
glicólise anaeróbica é o ácido láctico (lactato) e a mensuração
de seu acúmulo no sangue é, muitas vezes, usada como um
indicador da quantidade de metabolismo anaeróbico que
ocorreu durante o exercício. O ácido láctico dissocia-se em
íons de hidrogênio, aumentando a acidez das células
musculares e do sangue, causando hiperventilação e, em
altos níveis, a fadiga [19].
Frangolias et al. [20], compararam as respostas de
lactato sangüíneo durante 42 minutos de corrida em
imersão e corrida em esteira, numa intensidade igual ao
limiar ventilatório. Para os primeiros 14 minutos de
exercício, as respostas de lactato foram similares. Entre os
minutos 21 e 42 o lactato sangüíneo diminuiu mais no
exercício na água (25%) que em terra (12%), indicando
que a entrada de lactato no sangue foi menor ou sua taxa
de remoção foi maior durante estágios avançados da
corrida na água.
Circulação
A resposta cardiovascular ao exercício na água é diferente
daquele em terra. A freqüência cardíaca tende a permanecer
inalterada em repouso e durante exercícios de baixa
intensidade, mas diminui nos níveis de intensidade mais altos
de exercício submáximo e máximo, em comparação com
exercícios em terra [21].
A relação da freqüência cardíaca e do gasto energético,
durante o exercício na água com relação ao exercício na
terra, é de particular importância, porque a freqüência
cardíaca é comumente utilizada para descrever e regular a
intensidade metabólica do exercício. É comum observar que
a freqüência cardíaca, às vezes, é maior durante exercícios
na água, em comparação com seu similar no solo. Esta
resposta é, em parte, dependente da temperatura da água.
Durante exercício de leve a moderada intensidade, em
imersão com a cabeça fora da água, em temperatura
termoneutra (31oC a 33oC), a freqüência cardíaca não é
diferente daquela durante o mesmo exercício em terra, no
mesmo nível de gasto energético [22].
A profundidade da água também afeta a freqüência
cardíaca durante o exercício ereto, sendo que durante o
exercício aeróbico na água, a freqüência cardíaca é de 8 a11
bpm mais baixa com água na altura do tórax, do que com
água pela cintura pélvica [9].
Ventilação
Apesar das alterações que ocorrem a partir da imersão,
a ventilação em repouso, o volume corrente e a freqüência
respiratória não se alteram [21].
Durante exercícios submáximos a ventilação é a mesma
que durante exercícios em terra no mesmo nível de gasto
energético. Diferentes temperaturas de água (18oC a 33oC)
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
têm pouco efeito [23]. Durante exercícios em níveis máximos
de esforço, comparados com exercícios em terra, exceto
para bicicleta, tendem a serem inferiores, embora a
porcentagem de saturação de hemoglobina com oxigênio
sejam semelhantes.
Regulação da temperatura
A regulação da temperatura corporal durante o exercício
na água é diferente a do ar, porque a evaporação de suor, o
principal meio de dissipação de calor durante o exercício no
ar, não ocorre na água, e a perda ou ganho de calor por
convecção e condução é muito maior na água.
Durante exercício no ar, a temperatura central do corpo
aumenta na proporção direta da intensidade do exercício
(porcentagem da captação de oxigênio), mas é dependente
da temperatura ambiente entre aproximadamente 5oC e 30oC
a 35oC. Durante exercícios na água, o efeito da intensidade
do exercício sobre a temperatura central é o mesmo. Mas
há uma faixa maior de temperatura ambiente, para as quais
a temperatura central não é afetada pela temperatura
ambiente. Dependendo da temperatura da água, a
temperatura central do corpo pode alterar-se. Durante o
exercício, a temperatura da água necessária para evitar uma
elevação na temperatura central durante atividades
prolongadas varia de 17 o C a 34 o C, dependendo da
quantidade de exercício e da composição corporal da pessoa,
principalmente da porcentagem de gordura corporal [12].
Shedahl et al. [24] constataram que mulheres obesas,
que pedalaram em bicicleta a 405 da capitação máxima de
oxigênio, não tiveram nenhuma alteração da temperatura
retal durante 90 minutos de atividade em água a 20oC, 24oC
e 28oC. Mulheres magras tiveram uma queda progressiva
na temperatura retal nas duas temperaturas mais baixas e
nenhuma alteração na temperatura mais alta. O tremor
elevou o gasto energético das mulheres magras nas duas
temperaturas mais baixas.
Sistema endócrino
As alterações hormonais decorrentes da imersão
persistem durante todo o exercício.
Adaptações ao treinamento físico na água
As diferentes respostas fisiológicas ao exercício de média
a alta intensidade, tanto em água quanto em terra, poderiam
resultar em diferentes graus de adaptação a períodos
repetidos de exercício (treinamento).
Entretanto, o treinamento na água merece algumas
considerações:
As adaptações circulatórias são diferentes quando
compara-se ambas as situações. Na água a sobrecarga
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
cardiorespiratória é maior e a filtração renal também.
Adaptações no tecido hematopoiético tornam-se
questionáveis.
- Em temperaturas elevadas, a sobrecarga do volume
do coração e os estímulos para adaptações hipervolêmicas,
em comparação ao treinamento realizado em água fria,
poderiam afetar as alterações metabólicas e cardiovasculares
do treinamento.
- Na água fresca, a elevação amenizada da temperatura
corporal central e redução no fluxo sangüíneo da pele
poderiam alterar as adaptações metabólicas,
ter moreguladoras e cardiovasculares, que estariam
respondendo, em parte, às alterações térmicas. Alguns
estudos procuraram responder sobre a intensidade dessas
variações de oxigênio [25].
Avellini et al. [26] compararam as respostas do
treinamento em bicicleta em terra (22oC) e em bicicleta
na água, em temperatura termoneutra (32oC) e em água
fria (20 oC), por um período de 4 semanas, 5 dias por
semana, uma hora por dia, a 75% da captação máxima
de oxigênio. Durante o treinamento, as freqüências
cardíacas dos dois grupos que treinaram na água foram
significativamente mais baixas (160 e 150 bpm) do que
no grupo que treinou em terra (170 bpm), mas os
consumos de oxigênio máximo foram os mesmos, sendo
seu aumento de 13 a 15%. Os autores concluíram que
a adaptação da captação máxima de oxigênio ao
treinamento na água e em terra, com a mesma
intensidade metabólica, foram iguais, ainda que a
freqüência cardíaca de treinamento diferenciasse em até
20 bpm. As melhoras na captação máxima de oxigênio
medidas na esteira foram menores do que as melhoras
medidas no cicloergômetro, indicando que as adaptações
foram, em parte, específicas do exercício na bicicleta.
Como as freqüências cardíacas foram diferentes nos
três grupos, mas a captação de oxigênio máxima foi a
mesma, os resultados indicam que a freqüência cardíaca
não é uma boa referência quanto ao estímulo de
treinamento fornecido pelo exercício. Um estudo similar,
realizado por Shedahal et al. [27], tendo como
participantes jovens idosos, chegou às mesmas
conclusões.
Young et al. [28] estudaram o efeito do treinamento
em água quente (35oC) e fria (20oC), sobre a melhora na
captação máxima de oxigênio em adultos jovens. Os
participantes treinaram em bicicleta num ergômetro
estacionário, imersos até o pescoço, durante 60 minutos,
dias por semana, durante 8 semanas, no mesmo nível de
captação máxima de oxigênio (60% da captação máxima
de oxigênio máxima atingida em exercício na bicicleta).
Durante o treinamento, a freqüência cardíaca e a
temperatura central (retal), respectivamente, do grupo
que treinou em água quente foram, em média, 27bpm e
65
15oC mais altos do que o grupo que treinou em água
fria. A captação máxima de oxigênio aumentou em 13%
para ambos os grupos. O treinamento aumentou a
capacidade oxidativa do músculo a um grau semelhante
em ambos os grupos, e o volume sangüíneo não se alterou
significativamente em qualquer dos grupos. Os resultados
do estudo sugerem que as temperaturas cutânea e central
do corpo não afetam a adaptação metabólica e
cardiovascular do treinamento na água. A alteração no
volume plasmático e sangüíneo pode ter ocorrido em
razão da supressão da liberação de vasopressina, renina
e aldosterona, durante o exercício na água. Como as
freqüências cardíacas dos dois grupos durante o
treinamento diferiram por mais de 25 bpm, os resultados
do estudo reforçam a conclusão de que as freqüências
cardíacas de treinamento são um mau indicador das
adaptações metabólicas ao treinamento. Uma
desvantagem do treinamento em água fresca é que ele
não melhora a tolerância ao calor.
Lieber et al. [29], Michaud & Brennan [30] e Brennan
& Michaud [31] estudaram os efeitos do treinamento de
corrida, na captação máxima de oxigênio, em adultos
jovens e de meia idade, sedentários. O treinamento da
corrida em imersão foi eficaz para aumentar e manter a
captação máxima de oxigênio, além do desempenho em
corrida. Indivíduos não treinados, que efetuaram 16 a
36 minutos de corrida com intervalos, em imersão, a 63
a 82% da freqüência cardíaca máxima, 3 dias por semana,
durante 8 semana, aumentaram a captação máxima de
oxigênio de corrida em esteira e na água em 10,7 e 19,6%,
respectivamente.
Dois trabalhos avaliaram os efeitos de exercícios de
calistenia na água. Minor et al. [32] estudaram os efeitos
de exercícios calistênicos em imersão até o tórax, em
sessões de uma hora, 3 dias por semana, por 12 semanas,
em pacientes com artrite reumatóide ou osteoartite.
Durante o período de atividade, a freqüência cardíaca
variou de 60 a 80% da freqüência cardíaca máxima. A
captação máxima de oxigênio aumentou em 19 a 20%.
Ruoti et al. [33] estudaram o efeito de um programa
de exercícios na água sobre a resistência muscular, a
composição corporal e a capacidade de trabalho aeróbico,
em 12 homens e mulheres idosos. A captação máxima de
oxigênio durante a caminhada na esteira aumentou em
15%, a porcentagem de gordura corporal não alterou de
forma significativa, a freqüência cardíaca em repouso
diminuiu em 7%, a freqüência cardíaca durante
caminhada na água, em velocidade padrão, diminuiu em
20% e a resistência dos músculos dos braços e ombros
aumentaram em 11 e 35%, respectivamente. Os autores
demonstraram que exercícios calistênicos constituem um
meio eficaz para melhorar a função cardiorespiratória e
a capacidade de trabalho físico do idoso.
66
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Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
67
Revisão
Métodos McKenzie vs. Williams: uma reflexão
McKenzie vs. Williams methods: A reflexion
Thiago Vilela Lemos*, Jean Luis de Souza**, Marcelo Marcos Medeiros Luz***
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*Graduando do 8° período de Fisioterapia da UCG (Universidade Católica de Goiás) e Especializando em Acupuntura, Goiânia, Goiás,
**Fisioterapeuta, Especialista, Mestre, Doutorando, Professor da UNIT (Universidade do Triângulo Mineiro), Uberlândia, Minas Gerais,
***Fisioterapeuta, Especialista, Doutorando, Professor e Coordenador da FESURV (Fundação do Ensino Superior de Rio Verde) – Rio
Verde, Goiás
Palavras-chave:
Dor na coluna
lombar, métodos
McKenzie e Williams.
Resumo
Neste artigo foram analisados dois tratamentos para dores na coluna lombar
biomecanicamente opostos. Os métodos Williams e McKenzie são usados por mais de
três décadas por fisioterapeutas em todo mundo. Existem algumas teorias e explicações
biológicas, mecânicas e fisiológicas sobre a ação dos métodos, mas não existem pesquisas
científicas com credibilidade sobre tais tratamentos. Por ser uma das patologias
musculoesqueléticas mais importantes e comuns da década, surge a necessidade de
novas pesquisas e maior incentivo a fisioterapia baseada em evidencias.
Abstract
Key-words:
Low back pain,
Williams and McKenzie
methods.
On this article were analyzed two treatments for the low back pain that are
biomechanical opposite. Williams and McKenzie methods are used more than three
decades by therapists from all around the world. There are some theories and explanations
about the biological, the mechanic and physiology of the action on the methods, but
there are no scientific proves with credibility about those treatments. Because it is one
of the most important and common musculoskeletal pathologies of the decade, appear
the necessity to have new researches and more incentive to the physical therapy bases
on evidences.
Artigo recebido em 1 de setembro de 2002; revisado em 1 de dezembro; aprovado em 15 de janeiro de 2003.
Endereço para correspondência: Thiago Vilela Lemos, Rua 4, nº 590/300 Ed. Odessa Setor Oeste, 74110-140 Goiânia GO, Tel: (62) 223-8067/
9972-5555, E-mail: [email protected]
68
Introdução
O homem tornou-se o único animal da sua espécie a
locomover em postura ereta, utilizando apenas dois
membros. Sofrendo, assim, uma série de adaptações
fisiológicas durante sua evolução [1]. Essas alterações ficaram
mais acentuadas nos últimos séculos, após a revolução
industrial, em que o homem passou a trabalhar utilizando o
corpo como uma alavanca e adotando a posição sentada
para a maior parte das atividades de vida diária. Durante
esses anos, aumentaram os distúrbios músculoesqueléticos
através da utilização incorreta da biomecânica humana, nos
quais destacam-se as lombalgias, que acometem
principalmente os trabalhadores [2]. As lombalgias são
responsáveis por perda de 13,2 dias de trabalho por ano e
63% das licenças médicas em trabalhadores braçais [3]. No
Brasil as doenças da coluna são a primeira causa no
pagamento de auxílio-doença e a terceira causa de
aposentadoria por invalidez. A lombalgia é a principal
responsável por grande parte dos afastamentos temporários
ou definitivos de trabalhadores [4]. O conhecimento
referente as lombalgias tem crescido, mas não na mesma
velocidade em que tem custado para a sociedade ou seus
pacientes.
A lombalgia aparece comumente entre homens acima
de 40 anos e com maior prevalência em mulheres entre 50
e 60 anos [5]. O quadro em geral aparece durando em
média de 1 à 7 dias, tornando-se muitas vezes repetitivo ao
longo dos anos, fazendo com que se torne crônico, como
observado em indivíduos na terceira idade, que relatam o
primeiro sintoma cerca de 20, 30 e 40 anos atrás, bem
como inúmeras seqüências de tratamentos [12].
Aproximadamente 80% da população adulta é afetada
significadamente pela dor lombar. Destes acometimentos,
44% estavam melhores em duas semanas, 86% em um
mês, e 92% em dois meses, sendo que apenas 8% sofria de
dor por mais de dois meses. Mas as chances de reincidências
são de 90%, onde 35% desenvolvem para uma dor lombar
acompanhada de irradiação para os membros inferiores
[2,4,7,15,17].
O diagnóstico da dor lombar em muitos casos mantêmse obscuro, pois há grande dificuldade em obter um resultado
preciso. A identificação exata do tecido envolvido é
praticamente impossível. Mesmo com toda tecnologia, vários
casos ficam com diagnóstico inadequados e incertos. Além
de uma pesquisa ter demonstrado, que muitos pacientes
com dores lombares por mais de seis semanas, nunca foram
se quer pedidos para retirarem o vestuário, quando
examinados pelos seus médicos [8]. Curiosamente, vários
estudos relatam com freqüência, não existirem relação em
alguns sintomas de lombalgias e achados radiológicos, assim
como alguns achados radiológicos deveriam apresentar a
sintomatologia, que não aparece [9]. É um fato que vem
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
sendo presenciado por vários fisioterapeutas na prática
clínica, não havendo explicações concretas. Isso levou alguns
autores a desenvolverem técnicas e métodos práticos e
específicos de diagnóstico.
Anatomicamente a coluna lombar é localizada na parte
inferior, compreendida pelo tórax e pelo quadril. É formada
por cinco vértebras, que possuem características próprias.
Possuem o corpo volumoso, sendo seu diâmetro transverso
maior que no sentido antero-posterior. O forame vertebral
é triangular, os pedículos são curtos e nascem na parte
superior do corpo. Os processos transversos se posicionam
posteriormente e superiormente com um tubérculo
acessório e outro mamilar. As facetas articulares superiores
são côncavas e dispõem no sentido póstero-medial, enquanto
as facetas inferiores são convexas no sentido antero-lateral.
Os processos espinhosos são longos, largos e horizontais
[4].
A quinta vértebra lombar (L5) possui uma diferenciação
em seu corpo vertebral, sendo mais alta anteriormente. Isso
se deve a maior descarga de peso aplicada posteriormente
ao corpo da vértebra. Essa alteração afasta as facetas
articulares inferiores da quinta vértebra. As estruturas
lombares sofrem pressão permanente, decorrente da postura
assumida, fazendo com que a região lombar (3ª vértebra
lombar), seja o centro de gravidade do corpo humano [10].
O suporte e a estabilidade da coluna lombar são feitos
pelas facetas articulares, pelos ligamentos, discos
intervertebrais, fáscias e aponeuroses toracolombares (grande
dorsal, serrátil posterior inferior, oblíquos internos,
abdominais transversos) e pelos outros músculos que
estabilizam dinamicamente a coluna [1,4,10,19].
Entre as vértebras, existe um disco que consiste de um
anel fibroso e um núcleo pulposo. Fazem parte do complexo
articular entre as duas vértebras. O disco intervertebral
lombar é abundantemente inervado, recebendo ramos
nervosos comunicantes cinzas dos ramos ventrais e dos
nervos sinuvertebrais. Essas terminações nervosas são
encontradas na superfície lateral e dentro do anel fibroso
[11]. Biomecanicamente, em uma flexão lombar, a porção
anterior do disco é comprimida, enquanto a posterior é
liberada. Na extensão ocorre o oposto, a parte posterior é
comprimida enquanto a anterior é liberada. O núcleo
pulposo normal move diferentemente do núcleo degenerado
e anormal. Essa é uma afirmação que não deve ser
generalizada. Em particular, discos gravemente degenerados
geralmente aumentam a tensão posterior durante a extensão.
Entretanto, em cerca de 35% dos discos, a extensão levou a
uma redução da tensão, presumindo-se que o arco neural
proteja o anel posterior da pressão mecânica [13].
Dois graus de extensão aumentam os picos de tensão
em 33% dos discos intactos e em 43% nos “discos
degenerados”. As respostas mecânicas sobre os discos são
variáveis. A extensão lombar diminuía os picos de tensão
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
anular posterior em cerca de 40%. Interessantemente não
observaram qualquer evidencia de que a extensão para trás
resultava na migração anterior de material nuclear, enquanto
desloca-se posteriormente na flexão [14].
Outros autores contradizem por meio de novas pesquisas,
colocando que a flexão juntamente com a tração podem
produzir melhores efeitos fisiológico e terapêuticos. Sendo
que o espaço do disco posterior aumenta em altura,
diminuindo a protusão do disco e reduz a estenose. Os discos
projetam-se e degeneram para a concavidade de uma curva
e para o lado da extensão, lordose ou flexão lateral. A flexão
alonga o ligamento amarelo para reduzir a estenose, aumenta
o transporte de metabólicos para o disco, abre as articulações
apofisárias e reduz a tensão no disco posterior, e que na
extensão o núcleo ou anel projeta-se posteriormente para o
canal vertebral [19].
Diante de tantas pesquisas controversas, questiona-se
bastante a metodologia utilizada, sendo que para chegar a
estas conclusões são utilizados discos e colunas cadavéricas.
As pressões aplicadas são externas e até mesmo as formas
para atingir a degeneração do disco são muito artificiais. Até
que ponto estas pesquisas seriam fidedignas ou confiáveis!
As dores lombares podem ser causadas por uma infinidade
de patologias, disfunções e desarranjos da coluna. As principais
causas são as instabilidades vertebrais, a hérnia discal,
espondilose lombar, reabsorção isolada do disco (processo
cicatricial), estenose do canal espinhal, disfunções mecânicas,
aderência de tecidos moles e de raízes nervosas, degeneração
articular (osteoartrite), artrite reumatóide, osteófitos, traumas,
esforços repetitivos, curvaturas anormais da coluna, entre
outros acometimentos [1,4,10,11,17,19].
Com o alto e crescente índice das dores lombares, várias
técnicas diferentes de tratamento foram criadas. Entre os
tratamentos desenvolvidos, destacam-se dois autores, o
fisioterapeuta Robin McKenzie, graduado pela Faculdade
de Fisioterapia da Nova Zelândia, que desenvolveu seu
método por volta de 1956. E o ortopedista de Dallas, Dr.
Paul Williams, que desenvolveu seu método em 1937 e,
posteriormente, em 1974, escreveu um livro para o público
leigo, sendo depois adotado pela classe médica [4,17,20].
O Dr. Robin McKenzie acreditava que as lombalgias
tinham três mecanismos responsáveis pela causa da dor. A
Síndrome de Postura, causada por uma deformação
mecânica dos tecidos moles adjacentes aos segmentos
vertebrais. A Síndrome de Disfunção, causada por um
encurtamento ou aderência tecidual, devido a má postura
ou por contratura do tecido fibroso-colágeno, desenvolvido
após um trauma. E o terceiro e último mecanismo, a
Síndrome de Desarranjo causada por um deslocamento do
disco intervertebral. O tratamento é desenvolvido em grande
parte pela extensão, sendo que a flexão também poderia ser
incorporada, de acordo com o mecanismo da lombalgia e
com a fase do tratamento. O método tem como principal
69
explicação as desordens biomecânicas causadas por posturas,
exercícios ou atividades inadequadas. Causando,
posteriormente, alterações estruturais da coluna lombar.
Sendo que através dessas, o tratamento será conduzido para
a alteração específica.
McKenzie possui vários subsídios científicos em seu
método, nos quais apresentam alguns fatores predisponentes
a lombalgia. O primeiro fator, a postura sentada, que durante
poucos minutos leva a uma retificação lombar, relaxando a
musculatura, sendo que o peso será mantido pelos estruturas
ligamentares. A pressão intradiscal também aumenta nesta
posição, assim como a lombar cifosa, diminuindo logo que
volta a lordose fisiológica. O segundo fator é a perda da
extensão. Estudos em 1972 e 1979 indicaram,
respectivamente, que 75% e 86% dos pacientes com dor
lombar apresentavam perda da extensão. O terceiro fator
refere-se ao número de flexões. De acordo com o estilo de
vida ocidental e as adaptações dos ambientes humanizados,
o ser humano está perdendo o hábito de fazer extensões
perfazendo as flexões [17].
Com outra visão, o Dr. Paul Williams desenvolveu seu
método, observando que a maioria dos pacientes que
apresentavam dores lombares crônicas, possuíam alterações
degenerativas esqueléticas secundárias a lesões dos discos
intervertebrais. Também acreditava que o homem forçava
seu corpo para se manter ereto, levando a uma deformação
da coluna, redistribuindo o peso pelo corpo nas
proximidades dos discos intervertebrais da coluna cervical
e lombar. Essa permanência do homem em pé, aumentaria
a lordose lombar, comprimindo a parte posterior do disco
(L1 a S1), acelerando o processo degenerativo. Utiliza como
princípio do tratamento, exercícios de flexão da coluna e
quadril. Com o propósito de reduzir a dor e estabilizar o
tronco, desenvolve ativamente os músculos flexores e alonga
passivamente os músculos extensores lombosacros. Williams
dá muito enfoque na questão da inclinação posterior da
pelve, sendo essencial para obter ótimos resultados no
tratamento [4,20,22].
Avaliações da pelve através das atividades dos músculos
eretores da coluna testados em diferentes inclinações,
concluíram que na inclinação anterior há maior solicitação
que na inclinação posterior [21]. EMG durante atividades
similares aos exercícios de flexão de Williams, demonstraram
atividades mínimas na flexão do tronco, enquanto nas
extensões do tronco houveram atividades máximas da
musculatura paraespinhal em todos os níveis vertebrais. A
única pesquisa por outro autor encontrada especificamente
nas flexões de Williams, chegou ao resultado que a inclinação
pélvica pode apresentar considerável alteração na tensão da
musculatura da região lombar e sacral. Sendo que a inclinação
posterior da pelve minimiza a atividade da musculatura
lombosacra, através da EMG e ocorre em conjunto o seu
alongamento. Concluindo que se a intenção terapêutica for
70
minimizar a atividade lombar e sacral, a inclinação anterior
da pelve deve ser evitada [22].
Diante de tantas pesquisas concluídas e resultados
controversos, ainda permanecem interrogações quanto ao
movimento mais indicado terapeuticamente e
fisiologicamente, para a integridade e reabilitação da coluna
lombar. Seria a flexão responsável pelos benefícios
fisiológicos e a extensão pelos benefícios biomecânicos? Qual
seria a aplicabilidade de cada movimento sobre os problemas
lombares?
Método McKenzie
Pelo método de Robin McKenzie, a coluna vertebral
possui curvaturas que foram determinadas através de um
processo de adaptação da evolução humana. Com o intuito
de absorver os choques e permitir maior flexibilidade. A
dor lombar, segundo McKenzie, é causada pela tensão
muscular ou estiramento dos ligamentos e outros tecidos
moles. Isso geralmente ocorre com a manutenção dos maus
hábitos posturais, excesso de flexões e posições relaxadas,
ou seja, qualquer posição onde a coluna lombar tende a
retificar-se. Outras causas comuns que podem ocorrer são
as forças externas aplicadas na coluna, provocando tensão
nas estruturas, levantamento de objetos excessivamente
pesados e posição curvada enquanto se trabalha. Entre todas
esta causas, a posição sentada de forma incorreta representa
a maior causa de dor lombar.
Segundo McKenzie, as protusões do disco intervertebral
são uma conseqüência do estiramento excessivo do ligamento
que envolve o disco, causando perda da capacidade de
estabilização, gerando o deslocamento do disco.
Durante o movimento de flexão, McKenzie acredita que
o núcleo do disco desloca posteriormente, a pressão no disco
aumenta e o sistema ligamentar posterior fica tensionado. Na
extensão o anel posterior fica protuberante (fisiologia normal),
o disco desloca anteriormente, reduz a pressão no IV disco
intervertebral e o sistema ligamentar fica relaxado. McKenzie
apresenta a flexão e a má postura sentado, como os maiores
responsáveis pelos casos de protusões, fissuras, rupturas,
tensões, estiramentos e compressões das estruturas da coluna
lombar.
O próprio método possui sua forma de diagnóstico. Existe
uma anamnese onde é colhida a história da lesão. É realizado
um exame objetivo e, posteriormente, são feitos testes dos
movimentos, confirmando o diagnóstico mecânico. Em caso
de haver irradiação da dor durante os testes, o teste
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
neurológico também é efetuado. Lembrando que, segundo
Mckenzie, a dor lombar pode ser uma síndrome de postura,
disfunção ou desarranjo.
De acordo com o diagnóstico, o tratamento segue princípios
conforme o acometimento. No caso de uma síndrome de
postura, o tratamento será a correção postural, numa disfunção
de flexão utiliza-se o princípio da flexão, disfunção da extensão
o princípio da extensão, no desarranjo posterior o princípio da
extensão, no desarranjo anterior o princípio da flexão e na
aderência nervosa o princípio de flexão. Outros casos, como a
articulação sacrilíaca e do quadril, são utilizados métodos não
abordados neste trabalho.
Nas fases mais avançadas do tratamento, é introduzida a
flexão com a finalidade de reorganizar o colágeno, que é
depositado de forma desordenada no anel fibroso. McKenzie,
através do seu método, segue as três fases do processo de
recuperação do disco, que são: o processo natural de cura, o
mecanismo auto-selante e a recuperação cartilaginosa.
Em alterações do disco por laceração anular, é seguido por
um processo de cura natural. O encravamento de vasos
sangüíneos, através da placa terminal do corpo vertebral,
promove a formação de novo tecido de granulação. Com a
contração da cicatriz invasora, a disfunção desenvolve dentro
do seguimento intervertebral. Quando for aplicado suficiente
estresse mecânico à coluna, o tecido cicatricial fibrótico tende
a fragmentar-se, repetindo-se o ciclo [23].
Também existe um mecanismo auto-selante dentro do disco
que aparece pouco tempo depois da lesão. Os discos lesionados
através da parede anular, foram submetidos a testes por carga
de compressão. O auto-selamento ocorre durante os primeiros
ciclos de carga por um fluxo de material nuclear para dentro
da fissura. Os discos parecem voltar ao comportamento de
compressão normal após poucos ciclos de carga. Isso demonstra
a rapidez com que se pode instalar uma recuperação temporária,
antes que se complete uma recuperação a longo prazo pela
formação de tecido cicatricial fibroso [26]. McKenzie argumenta
que, num distúrbio posterior, a execução de exercícios de
extensão passiva repetidos pode dar início a um fenômeno de
auto-selamento.
Pesquisas avaliaram os efeitos da imobilização, da
mobilização ativa e passiva sobre as articulações do joelho de
coelhos, que continham cartilagens danificadas como resultado
de fratura intra-articular. Concluiu que o movimento passivo
contínuo, da fratura intra-articular cirurgicamente fixado,
durante pelo menos uma vez por semana após a lesão, induz à
regeneração da cartilagem ao invés da substituição por tecido
fibroso. Além disso, ele descobriu que a cartilagem se regenerasse
até a normalidade e não era encontrada nenhuma artrite póstraumática seis meses após a lesão [27].
McKenzie argumenta que a execução regular de
exercícios de extensão passiva no distúrbio posterior, pode
acentuar a qualidade ou melhorar a natureza dos tecidos
curativos no anel posterior.
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
71
Método Williams
Os exercícios de flexão de Williams são bastante utilizados
para o tratamento de grande variedade de problemas
lombares. Em muitos casos o método é utilizado quando a
causa da desordem ou as características não são bem
compreendidos por fisiatras e fisioterapeutas.
Constantemente os exercícios são ensinados com
modificações próprias dos terapeutas [22]. Qualquer
modificação dos exercícios devem ser feitos sob muita
consideração da ação muscular, porque os exercícios que
violam o mecanismo de inclinação posterior da pelve, podem
ser suficientes para prolongar os sintomas clínicos [20]. Os
exercícios em geral visam o fortalecimento dos músculos
abdominais, glúteos e o alongamento de parte da cadeia
posterior.
Todos os exercícios de Williams são acompanhados de
flexão do quadril, gerando tração dos músculos ísquio-tibiais
que levam a retroversão pélvica. Este movimento é
conhecido por contra-nutação. O movimento de flexão é
limitado pela tensão exercida sobre as estruturas do arco
posterior (cápsula e ligamentos da articulação interapofisária,
ligamentos amarelo, interespinhoso, supraespinhoso e o
ligamento vertebral comum posterior).
Williams tem contradições próprias em seu método. Por
exemplo, em um dos seus exercício básicos, o indivíduo toca
o pé com as mãos. Ao mesmo tempo ele condena a flexão
do corpo em pé para tocar o chão. É o mesmo exercício,
mas com postura diferente.
Discussão
A lombalgia, por se tratar de uma patologia que acomete
praticamente todas as pessoas, pelo menos uma vez na vida,
gera grandes dúvidas sobre as suas causas, diagnósticos,
tratamentos e profilaxias. Apesar de já existirem várias causas
definidas, ainda permanecem casos obscuros. Existem várias
técnicas de tratamento fisioterapêutico, mas poucas obtêm
ótimos resultados. Por isso, existe uma grande variação de
protocolos utilizados. Bons resultados são obtidos quando a
lombalgia tem sua causa definida e os métodos específicos
são aplicados. Mas ainda mantêm-se as questões levantadas
em todos os momentos pelos fisioterapeutas e estudiosos
do assunto: num caso de dor lombar, qual o método mais
indicado para o tratamento, Williams ou McKenzie? Seria
correto aumentarmos a lordose lombar ou retificá-la?
Devemos fazer flexão ou extensão?
Biomecânicamente os dois métodos são contraditórios.
Ou seja, Williams acredita que a coluna lombar deve ser
retificada, diminuindo a lordose lombar, fortalecendo glúteos,
músculos abdominais e alongando parte da cadeia posterior.
Enquanto McKenzie preser va a lordose como fator
indispensável para a harmonia da coluna. É diferente o
objetivo de cada método. Um retifica e o outro lordosa, um
se preocupa bastante com o núcleo e o outro com a
musculatura.
Se levarmos como base o índice raquidiano de Delmas
e a fórmula R= N²+1, onde R é a resistência da coluna e N
é o número de curvaturas, chega-se à conclusão que o
método McKenzie é pertinente. Já se levarmos em conta
que a dor lombar seria causada por um encurtamento das
estruturas da cadeia posterior, conclui-se que o método
Williams também é pertinente.
Em casos de protusão discal ou mesmo leve
deslocamento do núcleo pulposo dentro do disco, o método
McKenzie seria o mais indicado biomecanicamente. Sendo
que este método não se baseia apenas em extensões de
tronco. Existe todo um procedimento a seguir, até que a
extensão tenha início. Mas como explicar os terapeutas que
obtêm resultados com Williams em protusões discais? Seria
devido ao alongamento dos ísquios durante a sessão, levando
a nutação pélvica e posteriormente um aumento da lordose
lombar? Estaria aí o benefício deste método? Ou sua atuação
está apenas no alongamento de parte da cadeia posterior e,
conseqüente, afastamento das fibras anulares posteriores?
Quando a dor lombar é causada por encurtamento da
cadeia posterior, também denominada de síndrome da
disfunção por McKenzie, ambos os métodos possuem
embasamento. Lembrando que nesta síndrome (disfunção
de flexão) McKenzie trata através das flexões. Analisando
as alterações teciduais produzidas pelas flexões de Williams,
este caso seria o mais indicado para este método.
Um método que já vem sendo utilizado por mais de seis
décadas e ainda não possui resultados comprovados
cientificamente. Seria devido a ausência de conhecimento
científico do método? A questão da dor lombar ser
autolimitante teria relação com as melhoras na aplicação
dos métodos? É uma questões que deve ser sempre
levantada quando se fala em tratamentos para a coluna
lombar. E nos casos após o tratamento com excelentes
72
resultados e os achados radiológicos permanecem da mesma
forma. Seria um processo de dessensibilização?
A dor lombar ainda é pouco estudada, pouco se sabe
sobre suas causas e muito menos sobre seus tratamentos.
Métodos desenvolvidos há décadas ainda despertam
insegurança em vários fisioterapeutas que os aplicam. E
muitos que aplicam com segurança, não sabem explicar as
alterações biomecânicas e ou fisiológicas ocorridas.
Por se tratar de um problema que afeta toda a sociedade
e principalmente a ativa, faltam mais investimentos em pesquisa,
visando estabelecer comparações e paralelos entre métodos
pré-existentes. A classe fisioterápica necessita mais do que
ninguém de dados confiáveis, podendo, assim, surgir novas
formas de tratamento baseados em evidencias. Existe a
necessidade de surgir cada dia mais o fisioterapeuta pesquisador.
Comprovando cientificamente tratamentos, que vem sendo
criados e incorporados à nossa realidade indiscriminadamente,
sem antes testar por meio de pesquisas suas aplicabilidades.
Referências
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Editora Manole 2001.
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Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
73
Estudo de caso
O método isostretching nas disfunções posturais
The isostretching method in postural dysfunctions
Danielle Parada Beloube*, Simone Ruiz Mota da Costa*, Edson Alves de Barros Junior**, Rosemary J. D. P. Oliveira***
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*Graduandas em Fisioterapia UNIP – Ribeirão Preto, ** Professor do curso de graduação em Fisioterapia UNIP – Ribeirão Preto, Mestre
em Bioengenharia – USP – Ribeirão Preto, ***Prof. do curso de fisioterapia da UNIP - Ribeirão Preto, responsável pela disciplina de
metodologia do trabalho científico, mestre em educação de metodologia do ensino - UFSCAR
Palavras-chave:
Disfunções posturais,
isostretching.
Resumo
O exagero das curvaturas vertebrais podem resultar em alterações posturais, como
hipercifose, hiperlordose e escoliose. Neste trabalho aplicou-se a técnica isostreching,
para tratamento de dois pacientes, um do sexo masculino e outro do sexo feminino,
portadores de escoliose idiopáticas e hipercifose. Após o tratamento, verificou-se através
de uma avaliação fotográfica e radiológica melhora postural, melhora nas retrações
musculares e diminuição dos graus escolióticos e cifóticos.
Abstract
Key-words:
Postural dysfunctions,
isostretching.
Excessive vertebral curvatures may result in postural alterations, such as
hyperkyphosis, hyperlordosis, and scoliosis.In this study, the isostretching technique was
applied to treat two patients, one male and one female, whith idiopathic scoliosis and
hyperkyphosis. After the treatment, a photographic and radiological assessment showed
postural And muscular retraction improvement and cowed degrees of scolisis and
kyphosis.
Recebido em 23 de agosto de 2002; aprovado em 15 de dezembro de 2002.
Endereço para correspondência: Simone Ruiz Mota da Costa, Rua Bernardino de Campos 690/81, 14015-130 Ribeirão Preto SP, Tel: (16) 6354130, E-mail: [email protected]
74
Introdução
Os desvios posturais acometem grande parte dos
adolescentes em fase de crescimento. É imprescindível que
as crianças e adolescentes que se encontram em fase de
crescimento sejam conscientizados a terem bons hábitos
posturais e que desenvolvam sua consciência corporal [1,2].
A boa postura é um bom hábito que contribui para o bem
estar do indivíduo. A estrutura e função do corpo
proporcionam todas as potencialidades para obter e manter
a boa postura [3,4].
Para o tratamento dessas disfunções é importante que
o método cinesioterapêutico utilizado, possibilite a realização
de alongamento, fortalecimento muscular, bem como
conscientização postural. O método isostretching preenche
esses requisitos, pois e uma técnica de ginástica postural
global.
A técnica de isostretching visa principalmente o reforço
pelos exercícios apropriados nas diferentes estruturas
musculares, dando a prioridade a musculatura profunda
que em grande parte mantém a coluna vertebral [5].
O método trata:
• Sobre a consciência pelo despertar a imagem mental
e o conhecimento do seu corpo pela correção dos
exercícios.
• A mobilidade pelos alongamentos musculares, o
movimento do quadril e do diafragma.
• A tonicidade, a forca, pelo auto crescimento e pelas
contrações isométricas.
O controle respiratório, o domínio das sensações da
posição, são as bases do isostretching, acrescentando um
intenso trabalho muscular.
Objetivo
O objetivo deste trabalho foi analisar através de avaliação
fotográfica e radiológica os efeitos do método isostretching
nas disfunções posturais da criança e do adolescente.
Material e método
Foram atendidos na clinica escola da UNIP-Ribeirão
Preto, 2 pacientes sendo o paciente (A), do sexo masculino
com 12 anos e paciente (B), feminino com 11 anos,
portadores de escoliose idiopática, e hipercifose.
Inicialmente os pacientes eram avaliados utilizando uma
ficha de avaliação padrão, onde foram obtidas todas as
informações necessária para que pudéssemos concluir as
alterações e desvios da coluna vertebral.
A seguir, realizou-se avaliação postural fotográfica, nas
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
posições, anterior, posterior, perfil e perfil e com o tronco
fletido para avaliação das retrações das cadeias musculares.
Foram realizadas radiografias da coluna torácica e lombar
em posição ortostática nas incidências AP, Perfil, Inclinação
lateral a direita, Inclinação lateral a esquerda, para serem
avaliados os ângulos escolióticos e cifóticos, esta avaliação
foi realizada pela medida do ângulo de Coob. O grau do
núcleo de crescimento das apófises ilíacas foi avaliado pelo
índice de Risser, analisados em exames radiológicos do
quadril.
A partir das avaliações, deu-se início ao tratamento
fisioterapêutico, utilizando-se a técnica de isostretching,
descrita por Redondo & Redondo (2000). No paciente A
foram realizadas 46 sessões e no paciente B 32 sessões, as
sessões duravam 45 minutos, realizadas duas vezes por
semana. Durante o período do trabalho, os pacientes
permaneceram ausentes de qualquer outro tratamento
fisioterapêutico.
A aplicação da técnica consistiu em 3 posturas na posição
em pé, 2 posturas na posição sentada e 2 na posição deitada
sendo que para alguma delas foram utilizados bastão (1,20m)
e bola (2 kg).
A postura era mantida o tempo de uma longa
expiração, ao mesmo tempo que se realizava o auto
crescimento do tronco é uma contração isométrica dos
músculos.
Ao final do tratamento, foram realizadas novas fotográfias
e novos exames radiológicos para comparação das
disfunções posturais pré-tratamento.
Resultados
Os resultados foram obtidos através dos exames
radiológicos e de analise da retração das cadeias musculares
através de fotografias.
Paciente A
No inicio do tratamento apresentou uma escoliose
torácica de convexidade para direita sem evidencia de
componentes rotacionais com grau de curvatura da
escoliose com cerca de 8°, no final do tratamento
apresentou uma regressão do grau da curvatura da
escoliose para 2º para a curvatura torácica este paciente
apresentava uma hipercifose de 53°, no final do tratamento
regrediu para 38° (fig. 1 e 2).
O paciente B, no início do tratamento apresentava
escoliose lombar de convexidade esquerda de 11°, no final
do tratamento manteve 11° de curvatura, para curvatura
torácica este paciente apresentava hipercifose torácica de
45°, no final do tratamento o ângulo da cifose torácica
regrediu para 20º (fig. 3 e 4).
Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 1 - janeiro / fevereiro de 2003
Figura I - Paciente A
Avaliação radiológica do paciente A
no final do tratamento.
Figura II - Paciente A
Avaliação radiológica do paciente A
no início do tratamento.
Figura III - Paciente B
Figura IV - Paciente B
Avaliação radiológica do paciente B
no final do tratamento.
Avaliação radiológica do paciente B
no início do tratamento.
Os resultados obtidos pela avaliação fotográfica, demonstrou melhora
da retração das cadeias musculares nos dois pacientes. (fig. 5,6,7 e 8).
Figura V - Paciente A
Figura VI - Paciente A
75
Conclusão
As alterações posturais da coluna vertebral
ocorrem com grande incidência na população.
Os períodos de pré-adolescência e adolescência
são de maior risco, portando são períodos em
que o tratamento deve ser enfatizado.
O isostretching que é uma técnica ginastica
postural global, que atua tanto na correção
postural como na consciência da postura tornase um instrumento de grande valor no
tratamento destas alterações.
Analisando–se os resultados radiológicos dos
pacientes, e os resultados posturais podemos
concluir que a técnica do isostretching pode ser
utilizada para o tratamento das disfunções
posturais da adolescência .
Deve-se considerar que a pequena
amostragem do trabalho apresentado não o torna
definitivamente conclusivo, novas investigações
com maior número de casos e acompanhamento
por um período maior, devem ser realizados a
fim de determinar o valor do Isostretching para
tratamento das alterações posturais da coluna
vertebral do adolescente. Devemos considerar
também que os graus escolióticos apresentados,
não são considerados de grande gravidade,
porém as melhoras obtidas para curvatura
cifótica são animadoras.
Agradecimentos
Agradecimentos ao Setor de Radiodiagnóstico
da Clínica Documenta (Ribeirão Preto), pela ajuda
na interpretação das imagens radiográficas.
Referências
Figura VII - Paciente B
Figura VIII - Paciente B
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Fundamentos e técnicas. 1ed. São Paulo:
Manole 1998:524.
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coluna. Piracicaba-SP: Skin, 2001.
76
Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 6 - novembro / dezembro de 2002
Resumos de trabalhos e congressos
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Lucia Salomão Granja, Aline Cristina
Piratello, Daniela Aparecida Biasotto
Universidade de Mogi das Cruzes,
E-mails: [email protected],
[email protected]
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Fortalecimento do músculo masséter na síndrome de Down
O indivíduo portador de Síndrome de Down possui uma alteração genética,
causada por um cromossomo extra numérico, mais precisamente o cromossomo
21, determinando a Trissomia 21. Felizmente, esse cromossomo abriga um
número reduzido de genes se comparado com os outros e, por essa razão, a
Síndrome de Down é compatível com a vida. Essa alteração é responsável por
um aumento acentuado da produção de proteínas, acarretando modificações
na química do organismo, gerando uma série de alterações, dentre elas a
hipotonia muscular generalizada, que, por sua vez, atinge também a musculatura
mastigatória. Devido ao pequeno número de pesquisas publicadas, que
relacionam a Síndrome com a função mastigatória e mais precisamente com o
fortalecimento do músculo masséter, desenvolveu-se este estudo, que teve como
objetivo comparar a atividade eletromiográfica pré e pós-tratamento dos
músculos masséteres e temporais durante o repouso, mastigação isotônica e
mordida isométrica bilateral. Participou deste estudo uma voluntária, sexo
feminino, 21 anos de idade, portadora de Síndrome de Down e, como critério
de inclusão, considerou-se o nível cognitivo, já que havia a necessidade de um
perfeito entendimento dos movimentos a serem realizados. Os traçados
eletromiográficos coletados foram verificados pelo sistema de aquisição de
sinais, através do programa Software Aqdados e analisados pelos valores de
RMS (Root Mean Square), que corresponde aos valores numéricos do traçado
eletromiográfico registrado, expresso em microvolts (mV). Na análise dos
traçados eletromiográficos pré-tratamento, foi constatada uma maior tensão
durante o movimento mastigatório em músculos temporais anterior direito e
esquerdo, associada a um processo de descoordenação dos músculos masséteres
direito e esquerdo. Baseando-se nesses dados, desenvolveu-se um tratamento
constituído por eletroestimulação funcional (F.E.S.) nos músculos masséteres
direito e esquerdo, com a intensidade variando entre 46 a 68% (média-57%)
em masséter direito e 46 a 70% (média–58%) em masseter esquerdo, sendo
esses valores proporcionais a sensibilidade da voluntária. Simultâneo a
eletroestimulação, foi realizado o relaxamento da porção anterior dos músculos
temporais direito e esquerdo através da massoterapia. Com base nos resultados
obtidos pode-se sugerir as seguintes conclusões: no movimento de mastigação
bilateral simultânea, não houve diferença na análise quantitativa do padrão
eletromiográfico dos músculos estudados, porém diferenças qualitativas foram
observadas. Obteve-se uma maior simetria muscular e homogeneidade do sinal
eletromiográfico, justificando a melhora da função mastigatória. Observou-se,
Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 6 - novembro / dezembro de 2002
77
ainda, que a eletromiografia de superfície não foi satisfatória para a detecção da
hipotonia, sugerindo, baseado nos resultados, que os músculos estudados não se
apresentavam hipotônicos, mas com um processo de descoordenação que,
possivelmente, pode ser suprido com um extenso treinamento fisioterapêutico.
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Marilúcia Souza Vieira
Docente do curso de fisioterapia,
Universidade Iguaçu UNIG,
campus V Itaperuna
Endereço para correspondência:
Rua Mário Carpenter, 61/303
Pilares 20755-060 Rio de Janeiro,
E-mail: [email protected]
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O papel do fisioterapeuta no processo de inclusão das crianças
com deficiência sensório-motora
Este trabalho parte da preocupação da autora no que se refere ao processo de
inclusão escolar de crianças portadoras de deficiência sensório motora. A política
inclusiva escolar está em discussão e sua legislação ainda é foco de grandes
controvérsias, sua implantação é longa e lenta e faz-se mister a preparação de todos
profissionais envolvidos com o processo. Há necessidade de estimular todo o
potencial destes sujeitos, através das bases neuropsicomotoras, atividades físicas e
pedagógicas, possibilitando-lhes um melhor ajuste de suas limitações viabilizando,
desta forma, o processo de aprendizagem.
O fisioterapeuta tem papel de extrema relevância neste contexto, porém sua
participação ainda é pouco explorada no que diz respeito a pratica pedagógica no
cotidiano escolar. Sua atuação ainda é limitada a prática fisioterápica tradicional. É
necessário buscar uma política educacional de integração; aonde o papel do
fisioterapeuta seria o de propiciar meios de reabilitação física para que eles pudessem,
de alguma forma, participar do meio escolar. Entretanto, também é necessário que
estas crianças sejam estimuladas de forma que suas habilidades neuropsicomotoras,
tais como lateralidade, tônus, equilíbrio, consciência corporal, coordenação global e
fina, possam fluir através de atividades lúdicas, facilitando a captação dos estímulos
e a sua percepção do meio. A atuação do fisioterapeuta no contexto pedagógico
proporcionaria um melhor direcionamento dos profissionais da educação, no que
diz respeito as deficiências encontradas e um melhor entendimento sobre as limitações
que possam ser encontradas nestes sujeitos, facilitando, desta forma, a preparação
dos conteúdos programáticos visando o processo de inclusão escolar.
Em trabalho fisioterápico desenvolvido numa escola pública estadual do noroeste
do Rio de Janeiro (Centro de Integração de Pessoas Portadoras de Necessidades
Especiais - CIPNE), sendo nossa clientela em maior número de crianças, adolescentes
e adultos, com variados graus de deficiências motoras, baixa visão, encefalopatias,
surdez, hipoacusia, estamos observando significativa melhora das crianças, nas quais
realizamos um trabalho em conjunto com atividades pedagógicas, sendo estas
divididas em salas de recursos, informática especial, oficina de linguagem de sinais e
outros recursos didáticos pedagógicos. O nosso objetivo é fazer com que estes
indivíduos possam participar de salas de aula regulares, sem que haja o estigma da
deficiência, possibilitando a eles condições de exercer o seu direito constitucional
de freqüentar a escola e adquirir conhecimentos.
78
Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 6 - novembro / dezembro de 2002
Normas de publicação Fisioterapia Brasil
A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com
periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e
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também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet)
assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros
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autores já aceitem estas condições.
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(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical
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especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo
em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International
Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org,
na versão atualizada de outubro de 2001.
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções
da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/
e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto
não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao
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O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
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recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por
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Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4
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Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito,
itálico, sobrescrito, etc; a biblio-grafia não deve conter mais que
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versem sobre investigação, clínica, diagnóstico, terapêutica e
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Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
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Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato
Excel/Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas
(formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em PowerPoint, Excel, etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão
o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade,
concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
3. Revisão
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas
relacionadas à Fisioterapia, ao encargo do Comitê Científico,
bem como remetida espontaneamente pelo autor, cujo interesse
e atualidade interessem a publicação na revista.
Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos
artigos originais.
4. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com
maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem
observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive
realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com
condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas
do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e
figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser
editados em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
5. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
6. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista.
Caso estejam relacionados a artigos anteriormente
publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de
se publicar a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em
processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de
formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman
(English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto,
tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para
cada tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas,
e com qualidade ótima (qua-lidade gráfica – 300 dpi). Fotos e
desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo,
introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão
e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do
resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words).
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,
zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio
Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 6 - novembro / dezembro de 2002
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artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o
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participado do trabalho o suficiente para assumir a
responsabilidade pública do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unica-mente nas
contribuições essenciais que são: a) a concepção e
desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a
redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante
de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão
que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente
as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na
obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a
participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa
também não é suficiente.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words/
Resumem, Palabras-clave)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no
máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200
palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e
espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem,
metodologia, análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
(ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para tanto
deverão utilizar os termos utilizados na lista de cabeçalhos de
matérias médicas (Medical Subject Headings – MeSH do Index
Medicus ou, no caso de termos recentes que não figurem no
MeSH, os termos atuais).
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5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colabo-radores, auxílio
financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de
laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo,
antes as referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais
de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro
(se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico),
ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano
da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd
ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou
itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o
Index Medicus, na publicação “List of Journals Indexed in Index
Medicus”.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S et al. Expression and
localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, cola-boradores, auxílio
financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de
laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo,
antes as referências, em uma secção especial.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Jean-Louis Peytavin
Atlantica Editora
Rua da Lapa, 180/1103
20021-180 - Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164
E-mail:
[email protected]
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Calendário de eventos
E-mail: [email protected]
http://www.respiremelhor.com.br
2003
28 a 30 de maio
VI COFIL - Congresso de Fisioterapia de Lavras
Lavras - Minas Gerais
Informações: (37) 9108-2996
E-mail: [email protected]
Fevereiro
24 a 28 de fevereiro
International Society for the Study of the Lumbar Spine
2003 Annual Meeting
New Delhi, India
Shirley Fitzgerald
Tel: 416-480-4833 / Fax: 4l6-480-6055
Email: [email protected]
23 a 28 de fevereiro
27º Congresso Internacional de Saúde no TTrabalho
rabalho
Foz do Iguaçu - Paraná
Informações: (41) 353-6719
Site: www.icoh.org.sg
Março
Março
20 a 22 de março
Congresso Brasileiro de Osteoporose
Hotel Intercontinental, Rio de Janeiro
e-mail: [email protected]
28 e 29 de março
I Congresso de Fisioterapeutas Acupunturistas
Em busca da Saúde Coletiva
Uberlândia – Minas Gerais
Promoção:Sociedade Brasileira de Fisioterapeutas
Acupunturistas (Sobrafisa)
Informações: www.cbesaude.com.br
Abril
10 a 12 de abril
I o Congresso Internacional de Fisioterapia e II o
Simpósio Brasileiro sobre o diagnóstico cinesiológico
funcional
Centro de Convensões do Porto Mar-Fortaleza-CE
Informações: (85)3094.0464
30 de abril a 4 de maio
Interfisio 2003
Barra Bonita, São Paulo
E-mail: [email protected]
Tel: (11) 9159-8592 André
Junho
7 a 12 de junho
World Confederation for Physical Therapy
14th International Congress and 15th General
Meeting
Barcelona, Espanha
Informações: www.wcpt.org
E-mail: [email protected]
12 a 14 de junho
International TTrauma
rauma Congress
Durban, South Africa
Dr George E Dimopoulos
Tel: +27 31 2612018 / Fax: +27 31 261 7321
Email: [email protected]
18 a 21 de junho
Physical Therapy 2003: Annual Conference &
Exposition of the American Physical Therapy
Association
Washington, DC
Informações: www.apta.org
2004
Fevereiro
24 a 28 de fevereiro
International Society for the Study of the Lumbar Spine
2004 Annual Meeting
Porto, Portugal
Shirley Fitzgerald
Tel: 416-480-4833 / Fax: 4l6-480-6055
Email: [email protected]
Março
Maio
23 e 24 de maio
III Encontro Multidisciplinar do Respirador Bucal
São Pedro - São Paulo
Informações: 19 - 3446-3446
21-26 de março
8th Congress International Federation of Manipulative
Therapy
International Convention Centre
Cape Town, South Africa
Informações: www.uct.ac.za/depts/pgc/
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Índice
(vol.4, nº2 março/abril 2003 - 81~152)
EDITORIAL
O nosso protesto, Marco Antonio Guimarães da Silva ............................................................................................................................. 83
ARTIGOS ORIGINAIS
Análise da bioimpedância corporal em portadores de DPOC: uma visão para o diagnóstico
cinesiológico funcional, Denise da Vinha Ricieri ................................................................................................................................... 85
Análise quantitativa da marcha no idoso institucionalizado, Flávia Maria Campos de Abreu,
Rodrigo Quintão Lopes, Cristiane Gabriel, Wendel Barbosa, Estélio Henrique Martin Dantas ..................................................................... 92
Fisioterapia prática
A equivalência da dança do ventre à cinesioterapia na terapêutica da dismenorréia primária,
Thaís Soares Munguba Cardoso, Ana Paula Cardoso Batista Paes Leme ....................................................................................................... 96
Proposta fisioterapêutica para abordagem intensiva do infarto agudo do miocárdio,
subgrupos I e II, segundo classificação de Killip e Kimball, Leonardo Cordeiro de Souza .................................................. 103
Nível de estresse na Polícia Militar, Rafael Cusatis Neto, Jaqueline Louise Martins Lima .......................................................... 108
A prevalência de lombalgia em mulheres praticantes de ginástica em academias esportivas,
Karynne Grutter Lisboa Lopes dos Santos, Marco Antônio Guimarães da Silva ......................................................................................... 117
REVISÕES
Movimento na água, Fátima Caromano, Maiza Ritomy Ide ................................................................................................................ 126
Propriedades físicas e transporte do muco respiratório, Renata Claudia Zanchet .................................................................. 129
Distribuição anatômica e significância funcional do trato iliotibial, Aline Santos de Maman,
Ginástica
Laborativa
Leila
de Albuquerque
Feijó Fonseca ................................................................................................................................................................. 133
Estudo do efeito ultra-sônico na consolidação óssea, Alexsander Roberto Evangelista, Camila de Souza Furtado,
Nilton Petrone Vilardi Jr., Bruno Mazziotti de Oliveira Alves ..................................................................................................................... 139
ESTUDO DE CASO
O uso do laser HeNe (632,8 nm) no fechamento de feridas, Fernanda Ishida Corrêa, Fernanda Sbruzzi Prado,
Cláudia Mara Miranda, Adélia Pinto Gibier de Souza, João Carlos Ferrari Corrêa ................................................................................... 144
NORMAS DE PUBLICAÇÃO. ............................................................................................................................................................. 149
EVENTOS. .................................................................................................................................................................................................. 151
Com esta edição, o cd-rom da coleção completa da revista: anos 2000 / 2001 / 2002
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Fisioterapia Brasil
Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP - São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa)
Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (Univ. Federal de São Carlos - UFSCAR – São Paulo)
Prof. Dr. Paulo Sérgio Siebra Beraldo (Coord. Mestrado Sarah Kubitschek – Brasília)
Grupo de assessores
Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro)
Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná)
Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro)
Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador)
Dra. Luci Fabiane Scheffer Novaes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro)
Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia)
Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná)
Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo)
Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro)
Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
Dr. Gordon S. Cummings (Langley-Estados Unidos)
Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro)
Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro)
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Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro)
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revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
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Editorial
O nosso protesto
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Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva
* Editor científico de Fisioterapia Brasil
Pós Doutorado na UFRJ
Professor de mestrado recomendado
pela CAPES
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A idéia deste editorial já estava preconcebida, quando, na madrugada do
dia 19 de março, chega a noticia de que o Iraque havia sido invadido pelo “
exército aliado” .
Pretendia falar sobre os novos rumos da fisioterapia baseada em
evidencias e sobre o convite a mim formulado pela ‘World Confederation of
Physical Therapy’ –WCPT- para que ministrasse curso sobre o tema no
Congresso Mundial de Barcelona. Entretanto, a visualização e leitura de
notícias sobre este covarde e hipócrita ato invasor, tão assepticamente
enquadrado pelas cenas televisivas, apesar de ocorrer há milhares de
quilômetros daqui, não diminui a intensidade de nossa revolta e acaba por
nos impedir de desenvolver qualquer tema que não se relacione ao fato.
Quase que hipnóticamente se é levado a expressar de alguma forma a
repugnância ao massacre totalmente injustificável. Sabe Deus que demônios
da pior espécie possuíram os responsáveis pela invasão e os fizeram realizar
as suas mais cruéis vontades.
O povo Iraquiano, além de ter sido obrigado a conviver por décadas
sob o jugo de um cruel tirano, terá agora o constrangimento e dor de ver
a sua soberania destroçada e seus filhos assassinados e mutilados pelos
temíveis Tomahawk, enviados pelos “senhores da guerra” , invasores não
menos cruéis.
Bem nos ensina o dito: “A ignorância é prima da maldade.” O poder
que a primeira possui pode ser mais nefasto e arrasador do que mil bombas.
Desse modo, torna-se assustador perceber que, enquanto parte do mundo
se põe estupefata frente à ação agressora, outra parte parece que faz a
sesta, como que dormindo meio acordada e se locupletando voluptuosamente
com o sofrimento e aniquilamento alheio. Anestesiados pela mídia, pela
falta de informação, pela mentira e pela cultura do consumo, essas pessoas
assistem a um assassinato em massa como quem vê uma partida de
vídeogame. Refiro-me a uma boa parcela do povo americano que parece
considerar positiva esta guerra, apoiando-a como um ato de justiça, ainda
que ela venha a custar, como conseqüência imediata, a vida de milhares de
civis iraquianos, e, como resultado secundário, a paz do próprio povo
americano, que, a partir de agora, se sentirá inseguro fora de seu país e até
mesmo dentro dele.
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
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Por forças circunstanciadas ao objeto de estudo da fisioterapia, o
fisioterapeuta vê-se na obrigação, em algumas situações, de atender e
promover a recuperação funcional de pacientes amputados e portadores
de seqüelas oriundas de traumas violentos. Aqueles que em sua vida
profissional tiveram oportunidade de atender pacientes mutilados por guerras
e conflitos sabem dimensionar, talvez melhor do que ninguém, o grande
sofrimento imposto aos que conseguem sobreviver. Estamos, pois, todos
nós, cristãos e não cristãos, que prezamos a vida humana, de luto por todo
este ato de injustiça, covardia e hipocrisia, a que somos obrigados a assistir.
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Recomendações a nossos leitores e autores
Recebemos cada semana inúmeros trabalhos e agradecemos todos os autores pela confiança em nossa revista.
Para agilizar o processo de avaliação, recomendamos a todos seguir atenciosamente as normas de publicação,
especialmente no que se refere às referências (numeração na ordem de aparição no texto, redação na norma
Vancouver), e aos dados dos autores (nomes e sobrenomes completos, titulação, endereço completo).
Muitos autores enviam fotos e ilustrações, mas com resolução insuficiente para impressão gráfica.
Recomendamos enviar as fotos por Internet em arquivo separado, com resolução mínima de 300 dpi no formato
TIFF. Caso contrário, é melhor enviar pelo correio as fotos originais, que serão devolvidas após escaneamento.
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Artigo original
Análise da bioimpedância corporal em portadores de DPOC:
uma visão para o diagnóstico cinesiológico funcional
Analysis of body impedance in COPD patients for functional
kinesiologic diagnostic
Denise da Vinha Ricieri
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Fisioterapeuta (UEL/PR), Mestre em Fisioterapia Cárdio-Respiratória (UNIT - MG), Doutoranda em Biomecânica Respiratória
(UNICAMP - SP), Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba - PR)
Palavras-chave:
Doença pulmonar obstrutiva
crônica, impedância,
composição corporal.
Resumo
Num estudo retrospectivo, as variáveis obtidas através da bioimpedância corporal (BIC)
em portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e de Hipertenção arterial
sistêmica (HAS) foram comparadas, avaliando a aplicação dos resultados no acompanhamento
clínico do DPOC. Foram consultados 37 prontuários, sendo 23 de portadores de DPOC e
14 de portadores de HAS, organizados em quatro grupos: (a) GERAL, com todos os
portadores de DPOC; (b) DPOC/NHAS: componentes do grupo GERAL sem HAS
associada; (c) DPOC/HAS: componentes do grupo GERAL com HAS associada; (d) HAS:
portadores de HAS sem associação a pneumopatias. Através da BIC foram obtidos a reatância
(Xc), bioresistência (R), massa magra (MM) e taxa metabólica basal (TMB), e foram
calculados o coeficiente de impedância corporal (CIC) e índice de massa corporal (IMC).
Os resultados (p < 0,05) mostraram: (1) MM menor nos grupos DPOC; (2) comportamento
inverso entre IMC e R, e entre CIC e R; (3) menores valores de Xc nos grupos DPOC; (4)
valores crescentes para Xc e CIC nos grupos DPOC, respectivamente: DPOC/NHAS,
GERAL e DPOC/HAS; (5) Xc como única variável que se diferenciou em todas as
comparações que envolveram os grupos DPOC. Tendo em vista os resultados alcançados,
concluiu-se que a avaliação pela BIC pode ser aplicada ao portador de DPOC como rotina
complementar, em que o progresso clínico pode ser quantificado pelo: 1) aumento nos
valores de Xc e CIC; 2) redução dos valores de R; 3) aumento da MM e 4) adequação do
IMC entre 19 a 25 kg/m2.
Artigo recebido em 9 de agosto de 2002; revisado em 15 de fevereiro de 2003; aceito em 28 de fevereiro de 2003
Endereço para correspondência: Rua Nodiran Gonçalves Cordeiro, 34/casa 1, Bairro Uberaba 81550-510 Curitiba PR,
E-mail: [email protected]
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Abstract
In a retrospective study, we compared variables from total body impedance (BIC) in
chronic obstrutive pulmonary disease (COPD) and systemic blood pressure (SBP) patients,
making evaluation about application this values in clinical accomplishment for COPD
patients. Was consulted 37 data registers, 23 COPD patients and 14 SBP patients, divided
in four groups: (a) GERAL, for all COPD patients; (b) DPOC/NSBP, for GERAL group
components without SBP association; (c) DPOC/SBP, for GERAL group components
with SBP association; (d) SBP, for SBP patients without pulmonar disease. From boby
impedance (BI) was obtained reactance (Xc), bioresistence (R), lean mass (LM) and basal
metabolism rate (BMR), and calculated body impedance rate (BIR) and body mass index
(BMI). The results (p < 0,05) shown: (1) COPD groups presents lower values for LM; (2)
inverse behavior between BMI and R, and between BIR and R; (3) lower values for Xc
in COPD groups; (4) crescent values for Xc and BIR in COPD groups, in order: DPOC/
NSBP, GERAL e DPOC/SBP; (5) Xc as only one variable different in all comparations
that involved COPD groups. By the results aimed, we concluded that BIC evaluation can
be applied in COPD patients as a complementary element, where clinical progress can be
quantified by: 1) increase in Xc and BIR values; 2) decrease for R values; 3) LM increase
and 4) BMI fitting between 19 to 25 kg/m2.
Key-words:
Chronic obstrutive
pulmonary disease,
iimpedance, body
composition.
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Siglas utilizadas no texto
f: ângulo de fase
GIBI: grupo integrado em bioimpedância
PI max: pressão inspiratória máxima
AVD: atividade da vida diária
HAS: hipertensão arterial sistêmica
R: bioresistência
BIC: bioimpedância corporal
IMC: índice de massa corporal
TBW: água corporal total
CIC: coeficiente de impedância corporal
LIC: líquido intracelular
TMB: taxa metabólica basal
DPOC: doença pulmonar obstrutiva crônica
MG: massa gordurosa
Xc: reatância
GAE: ganho aeróbico efetivo
MM: massa magra
Z: bioimpedância
Introdução
A bioimpedância vem sendo aplicada desde 1940, quando
foi relatado o uso da impedância elétrica no estudo da relação
do eletrocardiograma e dos sons cardíacos [1]. A utilização
mais conhecida deste tipo de tecnologia está na avaliação
do volume sistólico, débito cardíaco e estudo do ciclo cardíaco
pela bioimpedância torácica [2,3,4,5]. Mas foi somente na
década de 80 que o uso da impedância para avaliação da
composição corporal foi corroborado pela comparação da
técnica com métodos tradicionalmente utilizados para este
fim [6,7]. Desde então, novos rumos se deram ao
aproveitamento dos equipamentos e dados fornecidos pela
análise da bioimpedância corporal (BIC).
Em substratos homogêneos, a aplicação de uma corrente
elétrica gera uma força de oposição à passagem do fluxo,
denominada bioresistência ou resistência biológica (R),
inversamente proporcional à condutividade ou condutância
do meio. Se no substrato existirem estruturas com
comportamento funcional de condensadores ou capacitores,
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haverá outra fonte de oposição, virtual, denominada reatância
(Xc). O fundamento biofísico da BIC é a aplicação de uma
corrente elétrica alternada, de baixa amplitude e alta
freqüência, em um substrato orgânico. Sendo o corpo humano
um meio não-homogêneo, as membranas celulares compõem
a típica estrutura de capacitores elétricos, com suas camadas
fosfolipídicas não-condutoras (dielétrico), envolvidas por meios
altamente condutores (LIC e LEC) na forma de dipolos
(princípio da eletroneutralidade). Assim, quando uma corrente
elétrica é aplicada a um segmento corporal em freqüência
previamente estabelecida e dita crítica (que induz à máxima
Xc), a oposição à passagem do fluxo elétrico é gerada por R
e Xc, cuja resultante vetorial é denominada Z [8].
A publicação, em 1989, do trabalho de Zarowitz e Pilla
[9] relacionando positivamente valores de Xc, R e f em
pacientes críticos comparados a sadios, e induzindo à
discussão da utilização prognóstica dos resultados da técnica
em terapia intensiva, abriu novos horizontes para sua
utilização na prática clínica. A relação entre Z e R foi então
pesquisada especificamente na biologia humana, sendo
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
comprovado que seus valores absolutos eram
estatisticamente iguais [10]. No tecido medular renal, através
de variações no hematócrito e em concentrações salinas,
comprovou-se que variações na Z são determinadas
principalmente por mudanças na concentração iônica do
LEC [11]. Ao estudar a Z em eritrócitos humanos, sob
diferentes freqüências de corrente elétrica e temperatura,
foi demonstrado um aumento acentuado na capacitância
da membrana celular aos 37ºC, sugerindo uma transição no
comportamento bioquímico, para esta temperatura [12].
Tecidos frescos, de mesma origem, coletados em órgãos
saudáveis e com tumores malignos, mostraram aumento da
condutância na membrana celular dos tecidos malignos, nos
quais o metabolismo é acentuadamente maior[13]. Em
hepatócitos submetidos a edemas osmóticos induzidos, o
aumento da condutância da membrana celular foi
relacionado à ativação de canais pré-existentes [14].
A BIC baseia-se no fato de que a Z está relacionada ao
volume corporal total, como um condutor [15]. Dessa
maneira, tanto Z como R possuem valores maiores na massa
gordurosa anidra, comparativamente à massa biologicamente
ativa (MM), que contém praticamente toda água corpórea
com eletrólitos, portanto altamente condutiva e com baixa
R [16]. Os equipamentos para avaliação da composição
corporal através da BIC (BioDynamics, Maltron e RJL)
registram os valores primários de R e Xc, a partir da
freqüência elétrica crítica, já conhecida para tecidos biológicos
(50 kHz). Os valores derivados de MG, TBW e TMB,
fornecidos pelos equipamentos, têm sua precisão discutida,
embora já tenham sido objeto de pesquisas em diferentes
situações e fisiopatologias [7,17,18,19]. Se por um lado, a
análise da MG pela BIC pode ser superestimada em alguns
casos [20], por outro lado, os valores de oposição real e
virtual ao fluxo elétrico mostram-se fidedignos em todas as
situações, mesmo quando os dados antropométricos do
paciente foram alterados propositalmente [21]. Somente com
valores de Xc e R, acrescidos de operações matemáticas
simples, podem ser obtidas informações relativas ao
balanceamento hídrico intra e extra-celular, estado
nutricional, valor preditivo da evolução clínica do paciente
e eficácia do tratamento, a curto prazo [18,22,23].
A BIC foi também amplamente estudada em terapia
intensiva [8,15,22,23]. No Brasil, um grupo multicêntrico
de profissionais da saúde (Grupo Integrado em
BioImpedância – GIBI)1 pesquisou e elaborou um banco
de dados central sobre comportamento de variáveis da BIC
em diferentes condições fisiopatológicas e clínicas [23,24,25].
Pesquisas mostraram que situações que alteram o
conteúdo hídrico corporal, relação entre exercícios
extenuantes e síndrome inflamatória, ação de drogas que
interfiram na variação do fluxo iônico ou nos canais e bombas
da membrana celular, situações de liberação de radicais
oxidantes, quimioterapia e radioterapia, além de outras situações
87
clínicas, apresentam repercussões diretas nas variáveis da BIC
[5,7,9,10,15,16,22,24]. Dentre as situações que alteram o
conteúdo hídrico corporal pode-se citar pós-operatórios de
cirurgias cardíacas, com e sem circulação extra-corpórea,
desidratação e processos dialíticos, enquanto a isquemia tecidual
e a isquemia seguida de reperfusão podem exemplificar as
situações de liberação de radicais oxidantes. Além disso, tais
pesquisas discutem como interpretar essas repercussões e
quando utilizá-las a favor da conduta terapêutica.
Em portadores de DPOC, os relatos sobre a utilização
da BIC restringem-se aos trabalhos da equipe de Schols
[19]. Inicialmente o grupo confirmou a validade da técnica
na avaliação da composição corporal nessa classe de
pacientes [19]. Posteriormente, discutiu as relações entre
tolerância ao exercício, espirometria, MM e IMC, antes e
após programas de reabilitação [26]. Um estudo piloto da
equipe GIBI demonstrou a possibilidade da existência de
um padrão no comportamento de Xc e CIC, norteador de
condutas e acompanhamento clínico [25].
O objetivo deste estudo foi comparar, num estudo
retrospectivo, os valores de Xc, R, CIC e IMC em portadores
de DPOC e em portadores de HAS, avaliando a existência de
associação dos resultados com a fisiopatologia, a clínica e o
benefício gerado do uso da técnica como exame complementar
na rotina do acompanhamento clínico do DPOC.
Material e métodos
O estudo apresentado caracteriza-se por ser um estudo
retrospectivo em que foram avaliados os registros de
avaliação inicial dos prontuários fisioterapêuticos de 37
pacientes adultos de um serviço de atendimento ambulatorial
de fisioterapia cárdio-respiratória.
Foram consultados 58 prontuários, tendo sido selecionados
todos aqueles que apresentassem informações completas para
avaliação de bioimpedância corporal (BIC). Assim, a amostra
foi composta pelos prontuários de 23 portadores de DPOC
e 14 portadores de HAS, entre 25 e 74 anos de idade. Entre
os pneumopatas havia 13 pacientes que apresentavam HAS
em associação à doença pulmonar, tendo sido considerados
como um sub-grupo à parte no momento das comparações.
Assim, os prontuários foram divididos em quatro grupos,
de acordo com os critérios da Tabela I e as comparações
realizadas estão descritas na Tabela II.
Tabela I - Comparações realizadas entre os grupos clínicos analisados.
Grupo n
Critério
GERAL 23 Portadores de DPOC
DPOC/NHAS (n=10): Portadores de DPOC sem
associação a HAS
DPOC/HAS (n=13): Portadores de DPOC com associação
HAS
14
a HAS
Portadores de HAS primária sem associação a pneumopatias
Coordenado pelo médico intensivista Prof. Dr. João Augusto Máttar (SP).
1
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88
Tabela II - Comparações realizadas entre os grupos clínicos analisados
GERAL (n=23)
DPOC/NHAS (n=10)
DPOC/HAS ( =13)
GERAL
-
DPOC/NHAS
X
-
DPOC/HAS
X
X
-
HAS (n=14)
X
X
X
Para o grupo de hipertensos foram considerados portadores
de pressão arterial sistólica superior a 150 mmHg e/ou
pressão arterial diastólica superior a 100 mmHg, ao repouso.
Para a avaliação da composição corporal através da BIC
foi utilizado o monitor de composição corporal BioDynamics
(modelo 310 – versão 3.1). Os testes foram feitos com os
paciente deitados em decúbito dorsal, sendo os quatro
eletrodos posicionados nas extremidades direitas do membro
superior e inferior, nos seguintes pontos anatômicos: (1) na
distância média entre os processos estilóides de rádio e ulna;
(2) na cabeça do III metacarpo; (3) na distância média entre
os maléolos medial e lateral; (4) na cabeça do III metatarso.
Através da BIC foram obtidos, entre outros, Xc e R (em
ohms), massa magra (MM) e taxa metabólica basal (TMB).
Para calcular o coeficiente de impedância corporal (CIC) e
do índice de massa corporal (IMC) foram aplicadas as
fórmulas padronizadas por Máttar [11], apresentadas a seguir.
Tabela IV - Análise estatística realizada entre os grupos pela aplicação do
teste “t de Student”. Somente as variáveis com diferenças estatísticas significativas
estão relacionadas.
GERAL (n=23)
DPOC/NHAS
DPOC/HAS
HAS (n=14)
R>emDPOC
CIC>emGeral
IMCeMM>DPOCHAS
Idade>Geral
XceCIC>HAS
MM > DPOC HAS
Idade>DPOC
Xc e CIC > HAS
-o-o-o-o-o-
Xc e CIC > HAS
DPOC/NHAS (n=10) -o-o-o-o-oDPOC/HAS (n=13)
-o-o-o-o-o-
Legendas: >, maior; NS, não-significativo.
Discussão
O uso da análise de bioimpedância no estudo da
composição corporal humana vem crescendo nas últimas
duas décadas por representar um recurso não-invasivo,
portátil, rápido e barato para a medida da composição
corporal [27]. No âmbito clínico sua aplicabilidade é eclética,
tendo sido investigada nas situações mais evidentes de
alteração da água corporal total, como em doentes renais
crônicos submetidos à hemodiálise [28], em casos de
obesidade [29], em alterações da postura de exame e natremia
[30], e na associação da função da glândula tireóide em
indivíduos saudáveis [31]. Basicamente, o maior atrativo
2
CIC = (Xc/R) x 1000
IMC = Peso (kg)/Altura (m)
para a implementação do uso clínico do exame encontra-se
no baixo custo e na precisão envolvida, em que os resultados
Os dados antropométricos, como peso em Kg e estatura
oferecidos representam argumentos clínicos para o controle
em metros, foram coletados imediatamente antes de cada
e acompanhamento do paciente.
teste de BIC e todas as recomendações técnicas foram
O espectro de aplicação clínica é vasto. Além contribuição
respeitadas para a aplicação dos testes.
para
avaliação nutricional e física do paciente [32], o uso
A análise estatística foi feita pela aplicação do teste “t de
fisioterapêutico
da técnica pode ser maximizado, bastando
Student”, considerado o intervalo de confiança de 95% (p<0,05).
para tal que o exame seja validado em cada perspectiva de
sua utilização. A literatura relata restrições de uso apenas
Resultados
em distúrbios hídricos graves, como em portadores de
insuficiência renal, desidratação, edemas de grandes
Os dados coletados em cada grupo foram organizados
proporções e durante período gravídico, uma vez que a
na Tabela III. Os resultados do tratamento estatístico
validade da predição de MM e TBW pela impedância é
encontram-se apresentados na Tabela IV.
altamente dependente da distribuição de água nos líquidos
Tabela III - Resultados gerais, sumarizados por grupo de observação. A tabela contém a média estatística
intra e extra-celular [33].
encontrada ± desvio-padrão (M ± DP).
Para entender seu aproveitamento
GERAL
DPOC/NHAS
DPOC/HAS
HAS
como recurso no acompanhamento
N
23
10
13
14
diagnóstico e/ou clínico do paciente
Idade (anos)
68 ± 9,1
71,5 ± 6,1
69 ± 10,6
52,5 ± 12,9
submetido à intervenção fisioterapêutica,
IMC (Kg/m2)
23,2 ± 4,9
22,8 ± 1,4
29,8 ± 5,7
25 ± 4,4
é preciso conhecer que três
MM (Kg)
51,9 ± 8,4
50,6 ± 3,7
59,7 ± 7,3
47,5 ± 9,9
comportamentos básicos, entre as
Xc (ohms)
48 ± 7,7
47 ± 5,3
48 ± 7,4
59 ± 8,3
R (ohms)
479 ± 50,2
514 ± 40,6
453 ± 46
501 ± 96
variáveis da BIC, são encontrados em
CIC
105 ± 15,1
88,1 ± 8,7
106 ± 12,8
122,5 ± 17
relação à homeostase corporal. De
TMB (cal/dia)
1579 ± 257,4
1538 ± 113,5
1816 ± 221,7
1443,5 ± 299,3
acordo com Máttar [21], para condições
Legendas: GERAL, portadores de DPOC moderada a grave; DPOC NHAS, parte do grupo DPOC que
normais, ou em estados de homeostase
não apresenta HAS associada; DPOC HAS, parte do grupo DPOC que apresenta HAS associada; HAS,
compensada, os valores encontrados
portadores de HAS leve a moderada; IDADE, média da idade em cada grupo; IMC, média do índice de
para Xc são mais altos do que aqueles
massa corporal; MM, média encontrada da massa magra nos grupos; Xc, média da reatância; R, média
encontrados em situações de
da bioresistência; CIC, média do coeficiente de impedância corporal, calculado por (Xc/R)x1000, expresso
em números absolutos; TMB, média da taxa metabólica basal encontrada nos grupos locais.
desequilíbrios agudos e crônicos,
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quando a Xc varia de acordo com a compensação sistêmica
da condição clínica. Da mesma forma, os valores para R
são mais baixos na homeostase compensada, e variam de
acordo com o conteúdo hídrico corporal nos desequilíbrios
agudos e crônicos. O CIC, como resultante relativa dos
valores de Xc e R, apresenta reduções de seus valores em
desequilíbrios crônicos compensados, e variações atípicas
em desequilíbrios agudos descompensados [8].
Observando os resultados obtidos neste estudo para o
comportamento dos valores médios para CIC (p < 0,05),
constatou-se: (a) uma relação direta, quando a variação do
CIC foi acompanhada por variações em Xc; e (b) inversa,
quando a variação foi acompanhada de alterações em R.
Nas comparações onde Xc e R variaram em conjunto (p <
0,05), foi encontrada semelhança estatística para CIC. Em
ordem crescente, os valores médios para CIC foram
encontrados nos grupos: DPOC/NHAS, GERAL, DPOC/
HAS e HAS, respectivamente.
A Xc pode ser entendida pela analogia das membranas a
capacitores, em meio condutor aquoso, e reflete o
desempenho dinâmico da estrutura e massa biologicamente
ativa dessas membranas [1,2,9,10,21,22,23] e, em muitas
situações, varia independentemente da R [8]. Embora seu
significado clínico não esteja totalmente esclarecido e
interpretado, é cada vez mais evidente sua relação ao estado
de fluidez da membrana celular, à dinâmica bioquímica para
manutenção da homeostase e sua capacidade de armazenar
energia. Neste estudo foram encontrados valores para Xc
em portadores de DPOC em todos os subgrupos
considerados (GERAL, DPOC/NHAS e DPOC/HAS)
menores que os valores encontrados em hipertensos
(p<0,05). Porém, ao comparar somente portadores de
DPOC e suas sub-classes entre si, os valores de Xc foram
equivalentes. Assim, por estarem classificados no grupo de
distúrbios crônicos compensados, as variações de Xc e R
em portadores de DPOC foram proporcionais entre si,
gerando CIC com valores menores, porém não-atípicos. Nas
análises realizadas, não houve variação significativa de Xc
somente na comparação GERAL x DPOC/HAS.
Corroborando achados literários, as variações dos valores
encontrados para R, neste estudo, estiveram na razão direta
do conteúdo hidroeletrolítico corporal e da massa
biologicamente ativa (MM), e na razão inversa da massa
gordurosa (MG) e IMC [8,9,11,15,16,26]. Observou-se uma
relação positiva entre a MM e comportamento de R em
portadores de DPOC e seus sub-grupos. O menor peso de
MM foi encontrado no grupo DPOC/NHAS, quando
comparado aos grupos GERAL e DPOC/HAS, gerando,
por decorrência, a maior R e o menor CIC. Porém,
estatisticamente, essas diferenças foram significativas
somente entre R e CIC (GERAL x DPOC/NHAS) e entre
MM e IMC (GERAL x DPOC/HAS e DPOC/NHAS x
DPOC/HAS). Mais uma vez, o comportamento inverso
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89
89
entre R e IMC tornou proporcional os valores do CIC, nas
comparações onde a MM era maior.
Schols et al. [26] analisaram a tolerância ao exercício em
pneumopatas, antes e após um programa de reabilitação
cárdio-respiratória, tomando por referencial a MM,
espirometria e distância percorrida no teste de caminhada
de 12 minutos. De acordo com os autores, melhores
correlações foram encontradas entre aumento da MM e
aumento da distância percorrida no teste de 12 minutos
(tolerância ao esforço) que entre índices espirométricos e o
teste de tolerância. Este achado induz, particularmente ao
fisioterapeuta, a focalização no ganho da MM como o
próximo alvo das pesquisas em programas de reabilitação
respiratória para DPOC graves. Pode-se aventar a hipótese
de que os treinamentos musculares, com valores precisos
de MM avaliados pelo exame de BIC, podem vir a se tornar
indicadores úteis para o raciocínio fisioterapêutico sobre a
condição funcional neste tipo de pacientes.
Ainda com esta perspectiva de aplicação da BIC, pode
ser citado, como exemplo de aplicabilidade direta, o estudo
de Neder et al. [34], que relata um ganho aeróbico efetivo
(GAE) na maioria dos portadores de DPOC avaliados, após
um programa de reabilitação que incluiu: fisioterapia
respiratória, atividades educacionais, orientação nutricional
e psicológica, reeducação funcional para conservação de
energia nas AVD, relaxamento e controle respiratório. O
grupo de pesquisadores concluiu que o GAE ocorreu
sobretudo nos pacientes mais jovens, eutróficos, com
lactacidose de exercício precoce e menor acometimento
pulmonar basal, e que o GAE associou-se ao aumento do
IMC e da PImáx, com redução significativa da dispnéia de
esforço. A partir da evidência da associação direta entre
aumento do GAE e IMC, variável facilmente decomposta
em MM e outros componentes pela BIC, e entre GAE e
PImáx, variável relacionada diretamente com ganho de força
muscular, é possível que se possa tomar o caminho inverso
na Fisioterapia, pesquisando-se programas de reabilitação
onde a medida da BIC possa estar diretamente relacionada
com a melhoria dos indicadores sintomatológicos e clínicos.
Quando Saroea [35] afirmou que “programas de exercícios
físicos melhoram a performance, constroem resistência e melhoram a
função cardíaca”, não foi específico sobre quanto tais
programas podem recuperar as funções cárdio-pulmonares
em DPOC. Através da BIC é possível passar-se à
mensuração clínica de quanto esta construção de resistência
e melhoria da performance, induzida pela prescrição
fisioterapêutica de exercícios em programas de reabilitação
está relacionada à Xc, R, MM ou CIC.
A BIC emerge como técnica complementar de
acompanhamento clínico na avaliação de pacientes sob
acompanhamento fisioterapêutico, cujos testes
tradicionalmente realizados, como espirometria, limiar
anaeróbico e GAE, não tenham alcançado índices de
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
90
significância estatística, mas cuja melhora clínica global tenha
sido auto-relatada de modo subjetivo. Nos estudos acima
mencionados, comparações entre Xc, R e CIC poderiam
oferecer interpretações relevantes, sob a ótica
fisioterapêutica, também naqueles pacientes mais instáveis
e/ou de maior faixa etária.
Diante do cenário apresentado, a aplicação da BIC como
método não-invasivo interpretativo de funções celulares tem
futuro promissor na aplicação fisioterapêutica, apesar de
sua história ainda recente. Em pouco mais de vinte anos de
pesquisas, os principais benefícios foram demonstrados
principalmente na terapia intensiva e na medicina desportiva,
mas a possibilidade do uso em outras especialidades depende
apenas da identificação mais precisa de sua contribuição,
enquanto exame complementar.
Conclusão
9.
10.
11.
12.
Concluiu-se que a análise pela impedância corporal pode
ser aplicada ao portador de DPOC como exame de rotina,
comparativo, no qual o progresso clínico pode ser
quantificado, principalmente através de: (1) aumento em
Xc e CIC; (2) redução da R; (3) aumento da MM e (4)
adequação dos valores de IMC na faixa entre 19 a 25.
Não obstante, são necessárias investigações em
populações maiores para melhor definir o perfil da
contribuição diagnóstica exata do exame para a práxis clínica
do fisioterapeuta.
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26/03/03, 13:30
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
92
Artigo original
Análise quantitativa da marcha no idoso institucionalizado
Quantitative gait analysis in institutionalized elderly
Flávia Maria Campos de Abreu*, Rodrigo Quintão Lopes**, Cristiane Gabriel**,
Wendel Barbosa**, Estélio Henrique Martin Dantas***
○
○
○
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○
*Mestrado em Ciência da Motricidade Humana/PROCIMH/Universidade Castelo Branco (UCB-RJ), Laboratório de Biociências
da Motricidade Humana (LABIMH/UCB-RJ), Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC/Fisioterapia-Barbacena-MG),
**Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC/Fisioterapia-Barbacena), ***Mestrado em Ciência da Motricidade Humana/
Universidade Castelo Branco (UCB-RJ), Laboratório de Biociências da Motricidade Humana (LABIMH/UCB-RJ),
Bolsista de Produtividade em Pesquisa (CNPq)
Resumo
Este artigo tem como objetivo esclarecer os resultados de um estudo quantitativo
de marcha, realizado com dez idosos institucionalizados escolhidos aleatoriamente, dando
prioridade à cadência, à amplitude de passos à direita e à esquerda, à amplitude da
passada e à largura da passada. As fases e subfases da marcha também foram observadas,
contudo, com menos ênfase. Os resultados obtidos são relevantes, à medida que fornecem
uma visão geral de como estes idosos locomovem-se na instituição e como a sua marcha
é alterada em relação às pessoas mais jovens.
Palavras-chave:
Marcha, idosos.
Abstract
The aim of this work was to clarify the results of a quantitative study of gait, in
ten institutionalized, randomized elderly people, giving priority to cadence, amplitude
and width of steps to right and left. The gait phases had been also observed, however,
with less emphasis. The results are excellent, according to the supply of a general
vision of as these people move in the institution and as their gait is modified in
relation to younger people.
Key-words:
Gait, elderly.
Artigo recebido em 21 de novembro de 2002; aceito em 15 de fevereiro de 2003.
Endereço para correspondência: Flávia Maria Campos de Abreu, Rua Lino Armond, 339/401 São Sebastião 36202-318 Barbacena MG,
Tel: (32) 3331 1884/9105 7282, E-mail: [email protected]
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Introdução
A marcha é definida como maneira ou estilo de andar.
Um dos atributos da marcha normal, em comparação com
a maioria dos padrões patológicos de marcha, é a ampla
latitude de velocidades de marcha segura e confortável que
são disponíveis. Assim, uma descrição do padrão de marcha
de um indivíduo ordinariamente inclui a velocidade de
locomoção (metros por segundo) e o número de passos
completos por unidade de tempo (passos por minuto); isto
é também chamado de cadência, bem como outras
características do padrão de marcha [1].
A marcha é dependente da capacidade de vários órgãos,
especialmente o sistema neurológico, músculo-esquelético e
cardiovascular. Na ausência de doença coronariana,
insuficiência cardíaca ou descondicionamento grave, o débito
cardíaco não deveria ser um fator limitante na marcha usual.
Entretanto, em homens idosos, a velocidade usual está
fortemente associada ao condicionamento físico [2]. As
alterações sensoriais podem também influenciar a marcha,
principalmente no tocante à acuidade visual e sensibilidade
plantar, fatores esses também associados a quedas [2].
O ato de andar é o principal meio de independência do
homem e é através dele que fazemos nossas atividades
corriqueiras, como ir à padaria, ao açougue, como vamos à
escola, etc. Como toda atividade automática que
executamos, a marcha também apresenta determinadas
características como: cadência; velocidade; largura de passada;
amplitude dos passos à direita; amplitude de passos à
esquerda e amplitude da passada como um todo (do pé
direito ao direito novamente).
Outra característica da marcha humana é a sua divisão
em fases: fase de apoio e fase de balanço e subfases; golpe
de calcanhar, pé-plano, calcanhar-fora, e dedos-fora [1]. À
medida que envelhecemos nosso corpo sofre mudanças que
influenciarão em todos estes componentes levando à
alteração do nosso padrão de marcha.
Materiais e métodos
Foram escolhidas, aleatoriamente, dez pessoas, sete mulheres
e três homens, maior número de mulheres, devido ao seu maior
número na instituição, não importando altura, peso, doenças
associadas, contusões ou consciência mental, com idade variando
de 55 a 82 anos. Também não houve nenhum paciente cuja
diagnose sobre qualquer doença que interferisse na marcha,
fosse previamente conhecida. A única exigência foi que todos
andassem descalços durante um minuto.
Foi usada fita métrica comum para a medição da largura,
amplitude de passos à direita e à esquerda e amplitude da
passada (pé direito ao pé direito), sendo a mesma fita utilizada
para todas as medições assim como a mesma pessoa foi
responsável por todas as medições. Uma única pessoa
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também foi a responsável pela contagem do número de
passos por minuto (cadência) de todos os pacientes, sendo
utilizado um relógio comum, marca Seiko, com cronômetro,
que foi monitorado por outra pessoa. Esta por sua vez
indicava o tempo de encerramento da contagem.
Para a medição dos passos foi utilizado talco na sola dos
pés dos idosos e as medidas foram realizadas entre a quinta e a
sétima pegada, evitando desta forma, a fase de aceleração, em
que os passos são mais lentos e menores, a largura foi medida
através da distância entre a Va articulação metatarsofalangeana
direita e a Va articulação metatarsofalangeana esquerda. A
distância total percorrida não foi medida, sendo assim, a
velocidade foi obtida utilizando: o número de passos vezes o
tamanho em metros destes passos, dividido pelo tempo gasto
de um minuto para todos os pacientes.
Foi priorizada, neste trabalho, a medida do tamanho dos
passos, bem como sua largura, além da velocidade da
marcha, as fases e subfases foram analisadas sem fotos,
vídeo ou qualquer outro equipamento acessório. As marchas
patológicas encontradas foram identificadas medidas e citadas.
Todas as pessoas fizeram o mesmo trajeto, que era plano e
sem ondulações ou obstáculos. Todos os idosos foram
orientados a andar normalmente, sem aumentar ou diminuir
a velocidade. Foi utilizada marcação do chão com fita adesiva
para delimitar o local da partida.
Resultados
Foram realizadas medições em relação à amplitude dos
passos, amplitude da passada, largura da passada e cadência.
A idade dos pacientes variou de 55 a 82 anos, média de
62,7 anos. Em relação à medida da cadência foram
encontrados os seguintes resultados: Considerando como
cadência normal a média dos estudos de Winter, Murray e
Ferrandez [3] (106,3 passos por minuto) temos:
A população de homens (30% do total) apresentou
cadência média inferior à dos estudos (84 passos por minuto).
Destes homens 66,7% apresentaram cadência média de 68
passadas por minuto, ou seja, 25,2%, abaixo do previsto. A
população de mulheres (70% do total) apresentou cadência
média também inferior à dos estudos (91,7 passos por
minuto), ou seja, 13,5% abaixo da média. Do grupo de
mulheres estudado apenas uma (14,2%) apresentou cadência
acima da média (131 passos por minuto), apenas uma
(14,2%) apresentou cadência na média (106 passos por
minuto), o restante apresentou cadência alterada. O resultado
geral de medida da cadência apresentou uma média de 89,4
passos por minuto, 15,9% abaixo do previsto.
O comprimento dos passos na população masculina e
feminina segundo média dos estudos de Winter, Murray e
Ferrandez [3] (0,56 m) mostra:
Nos homens a média do comprimento dos passos é de
0,46 m (17,45% menor que a média dos estudos). Destes
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homens apenas um (33,3% do total) apresentou marcha
superior à média (0,76 m). O restante apresentou média
bem inferior (0,34 m). Nas mulheres a média de
comprimento foi de 0,34 m (39,29% abaixo da média). Destas
mulheres nenhuma apresentou comprimento superior ao
da média. Na soma de homens e mulheres a média é de
0,34 metros, ou seja, 39,2% a menos que o previsto.
A amplitude da passada em relação à média dos estudos
de Winter, Murray e Ferrandez [3], 1990 (1,12 m) nas duas
populações é:
Nos homens a média foi de 0,45 m, portanto 59,8%
menor que o previsto, de todos os homens apenas um
apresentou passada superior à média (1,26 m). Nas mulheres
a média foi de 0,71 m, 20,4% menor que a média dos estudos
e 36,6% maior que a média dos homens. No geral temos
0,76 m, 32% menor que o previsto.
Em relação à largura não foram encontrados estudos
comparativos, desta for ma mostraremos apenas os
resultados:
Na população de homens foi encontrada uma média de
0,22 m, sendo que não houve nenhum valor extremamente
alto ou baixo dentre os pacientes. Nas mulheres a média foi
de 0,17 m (22,7% menor que os homens) também variando
da mesma forma.
A velocidade foi medida multiplicando-se o número
de passos vezes a distância do passo e dividindo-se pelo
tempo. Os resultados foram comparados com a média
dos estudos de Winter, Murray e Ferrandez [3] (1,2 m/s)
Desta forma temos:
Nos homens a média encontrada foi de 0,58 m/s, 51,6%
menor que o previsto, já nas mulheres a média foi de 0,52
m/s, 56,7% menor que a média dos estudos. Em
comparação entre homens e mulheres, os homens
apresentaram média 10,3% maior que as mulheres. A
média geral encontrada foi de 0,73 m/s, 39,1% menor
que o previsto.
O número de marchas patológicas encontrado foi baixo,
apenas uma pessoa do sexo masculino apresentou marcha
característica de Parkinson, 10% da população total.
mais curtos, mas com freqüência maior para chegar à
mesma velocidade. Embora a diminuição da velocidade
na marcha do idoso ocorra desta maneira, em
compensação o aumento dessa velocidade é resultado
tanto do aumento da cadência como da amplitude [3].
Desta forma, através destes dados observamos que não
ocorre alteração nas variações intencionais de velocidade
com o passar dos anos.
A marcha nos idosos apresenta algumas alterações
fisiológicas que promovem a diminuição da amplitude e
consequentemente da velocidade, assim temos: velocidade
diminuída das marchas rápida e livre, embora a capacidade
de aumentar voluntariamente a velocidade da marcha
livre para a rápida per maneça; diminuição do
comprimento e progressão do passo; diminuição discreta
da força para elevação; largura da passada de 2,5 a 10
cm; rotação pélvica de 8 a 12 graus [4].
Em homens idosos, a velocidade usual e máxima da
marcha está fortemente relacionada com o
condicionamento físico [4], isto indica que alto nível de
atividade física pode manter o condicionamento e a
velocidade usual da marcha, assim um estilo de vida ativo
mantém a força muscular e estimula o equilíbrio
garantindo a qualidade da marcha.
As alterações sensoriais podem alterar a marcha,
principalmente a visão e a sensibilidade plantar [2]. A
maior necessidade de controle motor durante a marcha
surge na fase de apoio unipodal, que se apresenta
diminuída nos idosos e representa 74 a 80% do ciclo da
marcha, já a fase de apoio bipodal é altamente preditiva
da velocidade e do comprimento de cada passo [2].
Relacionando os dois achados, conclui-se que a fase de
apoio bipodal é maior nos idosos [2].
Pessoas idosas solicitadas a aumentar a velocidade das
passadas fazem-na à custa do aumento da freqüência, já
pessoas jovens aumentam o comprimento das passadas [2].
Outras modificações achadas são a perda do balanço normal
dos braços, diminuição da rotação pélvica e do joelho,
cadência diminuída e aumento da altura de cada passo [2].
Discussão
Conclusão
A análise da marcha é um processo complexo e muitas
vezes subjetivo, desta for ma, muitas variações são
encontradas de um estudo para o outro. O ritmo de
diminuição da velocidade é da ordem de 1 a 2% por
década, até os sessenta anos de idade; mais tarde, o declínio
da velocidade varia entre 7% por década e 16% por
década no sexo masculino [3].
A redução da velocidade da marcha é conseqüência
da diminuição da amplitude e não da cadência,
comparando-se pessoas idosas com jovens que caminham
com igual velocidade, nota-se que as primeiras dão passos
A metodologia, a coleta de dados, os recursos usados e
os resultados apresentados neste trabalho mostram-nos uma
visão quantitativa da marcha, pois foi dada ênfase na medição
da cadência, da passada, dos passos da largura dos passos e
da velocidade. Desta forma podemos concluir que os idosos
institucionalizados apresentaram uma média inferior à de
outros estudos, em relação à marcha de idosos, eles se
locomovem mais devagar, com cadências menores, passos
e passadas menores. Através deste trabalho pudemos
perceber também, que o índice de prevalência de marchas
patológicas foi muito baixo, apenas 10%.
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Referências
1. Smith LK. A postura em pé e a marcha. Cinesiologia clínica
de Brunnstrom. São Paulo: Manole; 1997. p. 478-480.
2. Paixão CM, Heckmann M. Distúrbios da postura
marcha e quedas. In: Freitas EV. Tratado de
Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro:
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95
Guanabara Koogan; 2002. p. 627-628.
3. Olney et al. Alterações de postura e marcha. In: Pickles
B et al. Fisioterapia na terceira idade. Vila Mariana:
Santos; 2000. p. 86-96.
4. Kauffman T L. Treinamento da marcha. Manual de
reabilitação geriátrica. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2001. p. 305-311.
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Artigo original
A equivalência da dança do ventre à cinesioterapia
na terapêutica da dismenorréia primária
Equivalence of belly dance to kinesiotherapy in primary
dysmenorrhea therapy
Thaís Soares Munguba Cardoso*, Ana Paula Cardoso Batista Paes Leme**
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*Bacharel em fisioterapia, **Bacharel em fisioterapia, professora da disciplina Fisioterapia aplicada à ginecologia e obstetrícia da Universidade
Católica do Salvador (UCSAL) e do Instituto Adventista de Ensino do Nordeste (IAN)
Palavras-chave:
Dismenorréia, fisioterapia,
cinesioterapia, dança
do ventre.
Key-words:
Dysmenorrhea, physical
therapy, kinesiotherapy,
belly dance.
Resumo
Escritos demonstram que há 10 séculos a.C. já existiam relatos a respeito da perda sanguínea
vaginal com dor. Hoje, estudos revelam que isto é real para 90% das mulheres. Este desconforto
ultrapassa o âmbito pessoal, alcançando proporções sócio-econômicas. Com o intuito de avaliar
se a cinesioterapia pode minimizar sintomas da dismenorréia, realizou-se um estudo exploratório
com mulheres que apresentam esta queixa e que são alunas de academias de Dança do
Ventre da cidade de Salvador, Bahia, Brasil. Os resultados indicaram que a grande maioria
das praticantes apresentou um alívio não apenas quanto à dor pélvica, mas também nos
inúmeros sintomas incômodos associados a este período catamenial. Relacionando a
contribuição desta dança de origem oriental para a redução da dismenorréia e a semelhança
entre os seus principais movimentos e os utilizados na fisioterapia, demonstra- se a
possibilidade de contribuição da cinesioterapia para o alívio do desconforto menstrual.
Abstract
Ancient texts have shown that 10 centuries before Christ there were already reports
talking about the painful vaginal blood lost. Today, studies reveal that this is actually a
reality for 90% of women. This disconfort surpass the personal esphere, reaching socialeconomic proportions. In order to see if the cinesioterapy can really reduce drastically the
symptoms of dysmenorrhea, a study was carried out with women presenting this complain
and who were also Belly Dancers in the city of Salvador, Bahia, Brazil. Results have
indicated that most of the dancers showed a relief, not only regarding pelvic pain, but also
in all others unconfortable symptoms associated to this period of time. Relating the
contribution of the Arabic Dance to the dysmenorrhea, and its similarities in what concerns
the dance’s main movements and those used in physical therapy, a possibility of contribution
from the cinesioterapy to the relief of the menstrual disconfort is demonstrated.
Artigo recebido em 13 de janeiro de 2003; aceito em 15 de fevereiro de 2003.
Endereço para correspondência: Thaís Soares Munguba Cardoso, Alameda Filemon Andrade, 95/701-B - 40100-060 Salvador BA,
E-mail: [email protected]
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Introdução
Historicamente, em 1400 a.C., a mulher menstruada era
isolada por sete dias e qualquer um que a tocasse seria
considerado imundo, conforme pode ser verificado no Antigo
Testamento da Bíblia. Os escritos de Susruta AyurVeda, dos
antigos hindus, 10 séculos a.C., relatam a perda sanguínea
vaginal com dor. Hipócrates considerava a menstruação
dolorosa como decorrente de obstrução cervical e estagnação
do fluxo menstrual [1]. No tratado de Plínio, intitulado
“Historia Naturalis”, 23 a.C., o autor descreve o fenômeno
da menstruação e como era interpretado pela cultura da
época. Acreditava-se que a mulher menstruada tornava o
vinho azedo, as sementes secas, as lâminas de aço cegas, o
ferro e o bronze oxidados e até faziam com que as abelhas
abandonassem a colméia ao seu toque. Quase em todo o
mundo a mulher menstruada era isolada e afastada da
produção de alimentos. Sorano, 98-138 d.C., da cidade de
Éfeso, descreveu o quadro clínico da dismenorréia pouco
diferente da observada atualmente [2].
Percebe-se que a influência das tradições e das crenças
sócio-econômicas levou a menstruação a ser associada a
um quadro negativo [2]. Isso é fato para quase 90% das
mulheres, justamente aquelas que sofrem de dismenorréia (a
cifra geralmente citada é de pouco mais de 50%; a incidência
depende do modo como foi realizado o estudo e das idades
analisadas [3]), expressão esta cuja etimologia vem do grego e
significa alteração, anomalia (dys) do fluxo (rhoia) mensal
(men). Por isso o termo assumiu na medicina, de modo
consensual, o significado de menstruação dolorosa [4]. A
maioria das mulheres sente algum desconforto durante a
menstruação (molime menstrual [5,6]), seja na esfera genital
ou no âmbito extra- genital. Porém, quando estes fenômenos
são mais expressivos e incapacitam a mulher para o
desempenho das suas AVDs, diz- se que há dismenorréia [4].
De acordo com o Instituto Paulista de Pesquisa de
Mercado, 1981, 65% das brasileiras entre 18 e 40 anos
sofrem de cólicas menstruais [5]. Estima-se que 140 milhões
de horas são perdidas anualmente, sendo a causa mais
freqüente de absenteísmo ao trabalho/escola entre mulheres
jovens [7]. Como as mulheres constituem pelo menos 42%
da força de trabalho, cerca de 600 milhões de horas/ano de
trabalho serão perdidas nos Estados Unidos se não for
realizado um tratamento eficaz. O cálculo de horas perdidas
somam, anualmente, alguns bilhões de dólares [4]. Sem contar
as perdas econômicas adicionais desconhecidas devido à
diminuição da produtividade [5,7]. Cerca de 10%-15% das
mulheres apresentam tal grau de desconforto que ficam
incapacitadas durante 1-3 dias a cada mês [3,7,8].
A dismenorréia assume cada vez maior importância,
sendo o problema mais comum de todos os distúrbios
ginecológicos em mulheres em idade fértil. A dismenorréia
primária (há outras nomenclaturas para este termo: intrínseca,
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essencial, idiopática, funcional, espasmódica) é definida como
uma hipogastralgia tipo cólica ocorrendo no princípio da
menstruação na ausência de qualquer doença pélvica
identificável. Esta dor no baixo ventre (aguda, em cólica ou
enfadonha e constante) pode irradiar- se para a região
lombar ou parte superior das coxas [9]. Este período doloroso
origina- se por volta de 6 meses a 3 anos após a menarca,
quando se dá início aos ciclos ovulatórios e a função normal
do corpo amarelo. Está presente em quase 50% das
mulheres, em algum momento de suas vidas reprodutivas
e, é responsável por 5-10% das faltas ao trabalho [4]. A
dor, em geral, surge nas primeiras horas do início da
menstruação, piorando à medida que o fluxo menstrual se
avoluma durante os 2-3 primeiros dias do ciclo catamenial.
As dores espásticas são intermitentes, podendo irradiar para
a região lombar e membros inferiores. Náuseas, vômitos,
fadiga, febre, cefaléia, diarréia e fotofobia são comuns
estarem associados [3,10,11,12,13,14,15].
A falta de atenção quanto aos elevados índices de
prevalência e a morbidade substancial da dismenorréia
freqüentemente levam ao tratamento inadequado do problema.
Apesar de ter sido relatada e estudada por mais de 100 anos,
foi somente nos últimos 25 anos que várias linhas de pesquisa
juntaram- se a fim de delinear a fisiopatologia destes complexos
sintomas. Nos últimos anos tem crescido o número de
pesquisas e estudos a respeito da cólica menstrual e de sua
etiofisiopatologia, assim como o avanço no tratamento
farmacológico. Contudo, as mulheres têm se tornado cada
vez mais dependentes das medicações e, conseqüentemente,
de seus efeitos colaterais. Tudo isto justifica a expansão do
conhecimento nesta área tão nova da fisioterapia: à ginecologia.
A discussão a respeito das formas fisioterapêuticas que
amenizem o desconforto e estado doloroso da mulher
dismenorréica é significativamente escassa. E quando o tema
é mencionado, os autores se dividem quanto à modalidade
da abordagem. Alguns autores indicam um trabalho de Ondas
Curtas realizado no meio do ciclo menstrual, outros
estudiosos condenam esta prática por ainda não se ter
material suficiente que confirme os reais efeitos de aparelho
eletroterápico no Sistema Reprodutor Feminino. Para outros,
o ideal é o uso do TENS ou da corrente interferencial para
combater a dor abdominal e a lombar. Existe ainda um grupo
de profissionais que defende a massoterapia associada à
cinesioterapia ativa para fortalecimento da musculatura
abdominal e lombar.
Diante de todas estas abordagens, qual o valor real da
cinesioterapia então? Por que a cinesioterapia tem sido
empregada como uma forma de tratamento para este
distúrbio? Quais os benefícios que estes exercícios específicos
podem trazer à mulher neste período doloroso? O objetivo
deste trabalho é, através de um estudo empírico, verificar
se a cinesioterapia pode representar uma alternativa
terapêutica para a dismenorréia.
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Quadro teórico
Como curiosidade anatômica, o fornecimento sanguíneo
arterial ao trato reprodutivo é via artérias ilíacas internas
esquerda e direita. As veias retornam o sangue via vasos
ilíacos internos e, então, para a veia cava inferior. O Sistema
Linfático é bastante desenvolvido nesta área. O músculo
uterino é inervado pelo Sistema Nervoso Autônomo via
plexos pélvicos e ambos eferentes parassimpático (S2-S4) e
simpático (T10-L1) são encontrados [16].
A causa da dismenorréia primária está relacionada ao
crescimento da produção de prostaglandinas (principalmente
a PGF2 alfa), que atinge um pico nos primeiros dois dias da
menstruação. As mulheres com dismenorréia primária têm
concentrações significativamente maiores destes ácidos
graxos insaturados no endométrio, em lavagens endometriais
e no fluido menstrual em relação às normais [9]. O
endométrio, sob a ação da progesterona na segunda metade
do ciclo, torna-se secretor e produz prostaglandinas, que
são liberadas das células endometriais degeneradas quando
os níveis de progesterona caem (início do sangramento
menstrual). Esta substância, que estimula a contração dos
músculos lisos, atua no miométrio ao promover a passagem
de cálcio da membrana celular endometrial para os
elementos de contração da fibra muscular; provocando
aumento da contratilidade uterina e da vascularização,
isquemia e subseqüente dor. No útero, a síntese de
prostaglandinas ocorre no endométrio, mas seus receptores
localizam- se predominantemente no miométrio.
Tanto a PGE1 quanto a PGF2 estimulam o aumento da
amplitude e freqüência das contrações uterinas [4]
(contrações miométricas podem ultrapassar 400 mmHg,
durar 90 segundos e ter menos de 15 segundos de intervalo
entre elas). Além disso, elas agem como potencializadoras
da sensação dolorosa através da sensibilização das
terminações nervosas, intensificando a sintomatologia.
Quando caem na circulação sanguínea, essas prostaglandinas
podem levar ao aparecimento de sintomas sistêmicos, como
náuseas, cefaléia, vômitos, fadiga e diarréia
[1,2,10,17,18,19,20]. Os fatores psicológicos e emocionais
são importantes na reação individual da paciente à dor. Não
sendo estes a causa da dismenorréia, mas bem podem ser
conseqüência do sofrimento imposto pela mesma [7,9].
De modo simples, a cinesioterapia é um tratamento feito
por meio de movimentos, tendo por objetivo prevenir
seqüelas, eliminar ou melhorar estados patológicos do ser
humano. E isso se dá com a aplicação de movimentos
direcionados e agrupados em métodos especializados [21].
Na fisioterapia, os exercícios utilizados para o tratamento
da dismenorréia são todos aqueles que podem envolver a
região pélvica; utilizando os movimentos de inclinação pélvica
anterior e posterior, as rotações para a frente e para trás e
as inclinações laterais (pelve elevada e deprimida) [22,23,24].
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Podendo ser realizados de inúmeras formas, tais como: em
decúbito, sedestação, agachada, em ortostase; utilizando
materiais de auxílio, como as bolas suíças. Há também uma
atenção direcionada aos alongamentos e à respiração. Todas
estas possibilidades são percebidas nitidamente na Dança
do Ventre [25,26] (dança oriental que nasceu como expressão
da origem da vida por meio de movimentos e ondulações
no ventre). Em linhas gerais, esta dança define-se por alguns
princípios básicos do movimento, um deles é justamente o
pélvico [26]).
Encontra- se com freqüência na literatura tratamentos
medicamentosos, alternativos (homeopatia, acupuntura, uso
de bolsas quentes- termoterapia, técnicas de relaxamento),
cirúrgicos e eletro- analgésicos. Quanto à atividade física, o
que se tem, é que esta deve ser encorajada, primariamente,
para divergir os interesses da paciente e desviá- la do
problema [9] (fator psicológico).
Há relatos de que a atividade física regular diminui a
intensidade das cólicas menstruais, abranda o mal estar e
melhora o equilíbrio hormonal devido à liberação de
substâncias como a endorfina. E os movimentos pélvicos
especificamente, permitem uma irrigação sanguínea mais
abundante nesta região, assim como massageia os órgãos
internos, deixando- os mais relaxados.
Estudos isolados mostram outras causas para a dismenorréia.
Não sendo os distúrbios ginecológicos descritos como a
dismenorréia secundária nem o aumento da prostaglandina
referido como causa principal da dismenorréia primária:
- Espasmos na região dos músculos abdominais, tóraxicolombares e pélvicos provocam dores na região da pequena
bacia antes e durante a menstruação de algumas mulheres.
Supõe- se que estes espasmos que se localizam na região
das zonas reflexas do aparelho genital repercutam neste e
provoquem dores, sendo possível que pela mesma via reflexa
exerçam-se influências hormonais. Proposta de tratamento:
restabelecimento do equilíbrio músculo- esquelético através
de massagens; calor; mobilizações dos músculos pélvicos,
abdominais, dorsais, nádegas e assoalho pélvico [27,28].
- Disfunção mecânica nas vértebras, particularmente nos
segmentos T10-L2 e S2-S4 pode causar uma diminuição na
mobilidade espinhal, podendo afetar os nervos simpáticos
que suprem as vísceras pélvicas, gerando a dismenorréia
como resultado da vasoconstrição. Tratamento proposto:
manipulação destas vértebras a fim de aumentar a mobilidade
espinhal, aperfeiçoando o suprimento sanguíneo pélvico
através da influência dos nervos autônomos, osteopatia,
quiropraxia e manipulações fisioterapêuticas [28].
Material e métodos
Trata-se de um estudo exploratório realizado através de
um inquérito conduzido com mulheres praticantes de Dança
do Ventre em seis academias da cidade de Salvador, Bahia,
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Brasil. Para a coleta de dados foi utilizado um questionário
padronizado, auto-aplicável e explicativo, composto por
31 perguntas objetivas, simples, diretas e de fácil
compreensão.
Considerou-se dismenorréia como sendo a dor pélvica
ligada à menstruação e esta foi avaliada por variáveis
com base em uma escala analógica com intensidade
variável de 0 a 10. São estas: Tente quantificar sua dor de
cólica menstrual.Na escala de 0 à 10, quão intenso você diria que
é o seu desconforto? (0 significa que não sente cólica alguma; 10
indica dor insuportável e incapacitante). Marque com um círculo
o nº que julga mais adequado ao seu caso e Agora sim, deve
marcar um nº de 0 à 10, baseando-se no desconforto menstrual
que você sente nos dias de hoje (período em que é praticante da
Dança do Ventre). A pergunta seguinte pretende confirmar
as afirmações relatadas anteriormente pelas participantes:
Você considera que houve uma diminuição na intensidade da cólica
menstrual após a sua entrada na Dança do Ventre?
Os quesitos: Você se considera bem informada em relação ao
assunto: menstruação?; Você costuma ficar tensa e receosa (com medo
da dor) quando o seu período menstrual está se aproximando? e Você
se considera uma pessoa nervosa, ansiosa ou preocupada? possuem
um valor psicológico maior.
A população foi composta utilizando-se os seguintes
critérios de inclusão: mulheres que possuem ciclos
ovulatórios, dismenorréicas, cujo desconforto seja de
suposta origem primária. Os quesitos: Você menstrua?, Está
fazendo uso de anticoncepcional oral (pílula)?;Você costuma sentir
cólica quando seu período menstrual chega?; Caso tenha ido ao
médico, por acaso ele mencionou ter encontrado alguma explicação
para a sua cólica? (Ex: Endometriose, mioma uterino, presença
de DIU, infecção ou inflamação pélvica, malformação etc); Você
já sofreu alguma cirurgia ginecológica? e Qual? servem para
rastrear a população de estudo e classificá- la como inclusa
ou não para a realização da pesquisa. Os questionários
foram distribuídos por duas professoras de Dança do
Ventre (ambas com sete anos de atuação na área) às suas
respectivas alunas, ao final de cada aula, no período de
20/09 a 19/10 deste ano de 2002. Estas foram
devidamente orientadas a salientar a importância de
tranqüilidade para o preenchimento correto do
questionário, esclarecendo que este seria usado para
compor a base de dados do estudo. Estes cuidados
reforçam as próprias infor mações já descritas no
questionário. O tempo médio gasto pelas alunas para o
preenchimento deste variou de cinco a dez minutos.
Os questionários tiveram os seus dados processados e
analisados com o auxílio do programa EPIINFO 2002. Todo
participante forneceu consentimento após esclarecimento
dos propósitos da investigação e o anonimato e a confidência
das informações foram mantidas nos registros dos dados.
Todos os membros da pesquisa foram instruídos quanto
aos dispositivos e às responsabilidades éticas do estudo.
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99
Resultados
Das 82 mulheres entrevistadas, 31 foram excluídas por
não fazerem parte dos critérios de inclusão adotados: 14
participantes não apresentavam a cólica menstrual; 10 faziam
uso de anticoncepcionais hormonais orais (AHO); 04
possuíam comprovadamente dismenorréia secundária; para
02 houve erro de preenchimento e em 01, a aluna não
menstruava. Os dados a seguir referem-se às 51 mulheres
que fazem parte deste estudo.
A idade das participantes variou de 13 a 38 anos. O
tempo de prática da Dança do Ventre alternou entre 01
mês a 07 anos. A quantidade semanal de horas de prática
diversificou entre 01 hora a 20 horas. A menarca destas
mulheres variou dos 08 a 16 anos.
24 (47,1%) participantes realizam outro tipo de atividade
física. Predominaram aquelas que faziam ginástica 12
(23,1%) e musculação 10 (18,9%). A dor da cólica costuma
vir antes do sangramento em 37 (72,5%) mulheres. 11
(21,6%) avaliadas relatam que esta dor costuma durar
minutos; 30 (58,8%), horas e 10 (19,6%), dias.
Para 30 (58,8%) mulheres, a dismenorréia não altera o
curso normal das suas atividades da vida diária. 32 (62,8%)
tiveram outros sintomas associados à cólica propriamente
dita: 19 (37,34%) tiveram dor de cabeça em primeiro lugar
e 8 (15,23%), náusea, em seguida.
Das pesquisadas, 40 (78,43%) consideraram que houve
uma redução da cólica menstrual após a entrada na Dança
do Ventre. 10 (19,61%) não perceberam alteração alguma e
1 (1,96%) percebeu um aumento na intensidade deste
desconforto.
Quanto aos outros sintomas de âmbito extra- genital que
podem estar presentes neste período, das 32 (62,75%)
mulheres que responderam possuir um ou mais destes, 19
(59,37%) delas julgaram ter havido melhora.
21 (41,2%) mulheres relatam terem procurado um
médico para tratarem o seu incômodo menstrual. 30 (58,8%)
costumam tomar alguma medicação específica para a cólica;
destas, 32 (63,3%) fazem uso de remédios prescritos por
médicos. As medicações mais tomadas são: Ponstan, 13
(25,8%) e Buscopan, 10 (18,9%)- marca comercial. 17
(34%) participantes fazem uso de técnicas alternativas a
fim de amenizar o desconforto menstrual.
50 (98%) mulheres nunca sofreram algum tipo de cirurgia
ginecológica (caso a intervenção tenha sido para o processo
de parto, foi interpretado como “não” para a pergunta Você
já sofreu alguma cirurgia ginecológica e “sim” para Você já viveu a
experiência do parto?). 7 (13,7%) já viveram a experiência do
parto: 5 (78,55%), cesárea e 2 (21,45%) parto normal. Destas,
44 (85,7%) negam algum alívio na intensidade da cólica
menstrual após o procedimento.
Na família de 44 (86,3%) participantes há outras mulheres
dismenorréicas. 45 (88,2%) consideram- se bem informadas
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com relação ao assunto menstruação. 15 (30,2%) costumam
sentir- se receosas com a idéia do período menstrual
aproximar-se. 33 (64,7%) consideram- se ansiosas, nervosas
ou preocupadas.
Discussão
De acordo com os resultados obtidos após a análise da
pesquisa, verificou- se que, dos 82 questionários totais, a
grande maioria das mulheres sofre de dismenorréia, já que,
além das 51 participantes analisadas, outras 12 também
sofrem deste desconforto: 04 mulheres possuem
comprovadamente dismenorréia secundária e 08 faziam uso
de AHO. É importante salientar as 44 (86,3%) participantes
possuem parentes que também apresentam cólica menstrual.
Estes fatores são válidos a fim de demonstrar o quanto é
relevante a prevalência da dismenorréia.
21 (41,2%) participantes consideram que este problema
altera o curso normal das suas atividades. Mesmo que se
manifeste em graus de dor e em períodos de tempo variáveis,
verifica- se que a cólica não interferirá somente no
desempenho pessoal de cada mulher, mas também na
sociedade como um todo, como já foi descrito anteriormente
a respeito da influência sócio- econômica desta questão.
Na prática, o diagnóstico de dismenorréia é feito se a
mulher procura alívio para a sua dor, consultando um
médico ou automedicando- se[9]. É necessário notificar que
destas 51 mulheres, apenas 21 (41,2%) chegaram a procurar
um médico para falar dos seus incômodos. Este fator não é
suficiente para afir mar que estas mulheres sejam
necessariamente dismenorréicas primárias. É importante
lembrar que além dos inúmeros fatores que podem levar a
uma dismenorréia secundária, há a hipótese de que disfunções
mecânicas nas vértebras e espasmos musculares em regiões
específicas também podem provocar um quadro
sintomatológico idêntico à dismenorréia propriamente dita.
Estes dois últimos fatores não foram correlacionados com
nenhuma pergunta presente no questionário.
30 (58,8%) participantes fazem uso de medicação
direcionada ao desconforto sentido. Este fato, talvez, possa
mascarar os dados quanto à intensidade da cólica, sua
provável diminuição e seu tempo de permanência. Sem
contar que pode fazer parte das recomendações o uso da
medicação, antes mesmo da mulher sentir algum
desconforto. 17 (34%) mulheres lançam mão de algumas
técnicas alternativas com o intuito de trazer um certo alívio
para a cólica menstrual.
Seria interessante uma pergunta que tratasse do período
em que a participante começou a sentir o desconforto
menstrual após a menarca, uma vez que os autores
consideram que um dos pontos importantes para a
dismenorréia ser considerada primária, é o tempo em que
estes incômodos se originaram. Num apanhado geral, os
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estudos consideram que no período de seis meses até três
anos, os ciclos ovulatórios e a função normal do corpo lúteo
já iniciaram a sua atividade.
33 (64,7%) informantes se consideram pessoas nervosas,
ansiosas ou preocupadas. Embora os elementos psicológicos
não pareçam fundamentais, têm um papel importante. O
dado emocional pode comprometer a resposta à
menstruação, fazendo com que um processo normal possa
assumir características patológicas; já que é possível que
fatores psicogênicos possam modular os sinais noreceptivos
periféricos dolorosos, influenciando na resposta à dor [1,4,9].
Alguns estudos correlacionam que as principais candidatas
para o grupo de dismenorréia são: mulheres jovens, com
antecedentes de uma personalidade ou emocional instáveis
ou que apresentam algum trauma nos primeiros períodos
menstruais, decorrente, talvez, da falta de conhecimento do
significado e da normalidade da função menstrual [7].
24 (47,1%) mulheres realizam outro tipo de atividade
física, o que pode levar ao questionamento do valor singular
da Dança do Ventre. É certo que qualquer uma das atividades
citadas é de cunho cinesiológico, abordando o corpo como
um todo, priorizando algumas o fortalecimento, outras o
alongamento, enquanto outras o condicionamento etc.
Outro aspecto a ser considerado é a linha que demarca
o mal- estar normal (molime menstrual) e a dismenorrréia
verdadeira. Quase todas as mulheres sentem algum
desconforto abdominal no início da menstruação em ciclos
ovulatórios. Geralmente, essa dor leve em cólica diminui
logo após o início do fluxo menstrual e não impede a mulher
de desenvolver suas atividades diárias [9]. Diferenciar estes
sintomas menstruais normais da dismenorréia é difícil,
porque quantificar a dor é algo subjetivo e estabelecido
individualmente baseando- se na incapacidade produzida. A
escala visual analógica de dor também permanece na
avaliação e conceito pessoal, refletindo o que o paciente
considera como dor insuportável e incapacitante [10]. Não
se pode, portanto, adotar estes dados como objetivos ou
sendo verdades absolutas.
É interessante supor que o fato do questionário ser autoaplicável e explicativo pode proporcionar, talvez, um número
maior de possibilidade para falhas, se comparado a um
questionário aplicado por alguém experiente e bem
preparado, colhendo respostas com um mínimo de indução.
Foi descrito no instrumento de estudo a recomendação de
que este fosse lido com um todo primeiramente, antes de
que fosse iniciado o seu preenchimento; isto levaria a uma
solidificação da idéia principal da pesquisa de forma mais
clara e evitaria prováveis erros de preenchimento.
Comentários como “mas estou sem tempo agora...” foram
feitos por algumas alunas da Dança do Ventre, item que
pode ter gerado certa influência no contexto das respostas.
Fica claro na pesquisa que 40 (78,43%) participantes do
grupo de estudo consideraram ter havido uma redução na
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intensidade da cólica menstrual após a entrada na Dança do
Ventre. Sobressai o fato de que 8 (15%) destas citadas
zeraram a escala, ou seja, não sentem mais dor alguma. 19
(59,37%) participantes, das 32 que relataram sintomas
adicionais à cólica menstrual propriamente dita, perceberam
um alívio destes.
Pode a cinesioterapia representar uma alternativa
terapêutica para a dismenorréia? Quais os benefícios que
estes exercícios específicos podem trazer à mulher neste
período doloroso? É provável que a prática da Dança do
Ventre tenha contribuído para a diminuição na intensidade
da cólica menstrual para a maioria das participantes, já que
a afirmação central do questionário consiste no relato de
variação quanto à cólica antes e após a entrada na Dança. É
certo que os movimentos pélvicos estão na maioria do tempo
presentes na Dança do Ventre, mas estes não acontecem
em sua maior parte isolados de outros movimentos não
restritos a esta região, foco central da fisioterapia.
As 51 participantes deste grupo de estudo são, na verdade,
um subgrupo das 82 mulheres que também responderam o
questionário, número que talvez não seja considerado como
amostra de dados da maioria das alunas de Dança do Ventre
da cidade de Salvador. Entretanto, pode ser apreciado como
uma base inicial, levando a crer que a prática desta Dança
pode possibilitar uma redução da cólica menstrual. O
número de pesquisas que pode ser gerado a partir deste
pensamento, associado à tentativa de explicar os porquês
deste mecanismo, permitiria com que o tratamento que hoje
tem sido experimentado na fisioterapia ainda que baseados
nos resultados práticos diários, pudessem alcançar apoio
bibliográfico adequado e específico, tornando as técnicas
menos empíricas.
Conclusão
Menos da metade da população estudada respondeu
haver procurado um médico para tratar o seu incômodo
menstrual ou faz uso de algumas técnicas alternativas que
possam trazer certo alívio para a cólica menstrual. Isto leva
a pensar que a busca pela fisioterapia também não parece
ser diferente destes, acrescido do fato de ser esta nova como
profissão e a visão para a área ginecológica ainda mais
recente.
Numa sociedade imediatista e pragmática, o caminho
para o uso de medicações direcionadas ao desconforto ainda
tem sido o caminho mais procurado. A fisioterapia apresentase como alternativa de tratamento em que o corpo não
precisa receber substâncias químicas mensais (além dos seus
possíveis efeitos colaterais), utilizando- se de técnicas
manuais, eletro e cinesioterapêuticas.
Os resultados verificados na prática não se correlacionam
exclusivamente à cinesioterapia. Contudo, este estudo
considerou o valor real do movimento, qualificando- o como
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101
importante fator na diminuição da sintomatologia da
dismenorréia. Tempo e disposição são necessários para
alcançar este objetivo, mas os resultados tendem a demonstrar
ganhos que não se limitam a efeitos momentâneos.
Agradecimentos
Não fosse a solidária mobilização de algumas pessoas,
este artigo não teria sido possível. Ana Paula Leme, minha
orientadora, emprestou a este trabalho idéias e orientações
recolhidas de sua prática pessoal; Helena Maia, professora
da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, demonstrou
paciência e dedicação acima do dever; Márcia Mignac e
Mônica Cunha, professoras de Dança do Ventre e suas
alunas, gentilmente ofereceram as informações coletadas
na pesquisa; Maria José Mascarenhas e Denise Moreira,
ginecologistas, auxiliaram oferecendo informações e recursos
técnicos.
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
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Artigo original
Proposta fisioterapeutica para abordagem intensiva do
infarto agudo do miocárdio, subgrupos I e II, segundo
classificação de Killip e Kimball
Physical therapy proposal for intensive approach of acute
myocardial infarction, classes I and II, according to classification
of Killip and Kimball
Leonardo Cordeiro de Souza
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Especialista em Biomecânica e Docência do Nível Superior – Faculdade Pestalozzi; Estagiário do Laboratório de Instrumentação Biomédica –
Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ, Professor da Faculdade Pestalozzi em Fisioterapia Cardiológica, Pneumológica e UTI,
Fisioterapeuta Intensivista do Hospital Estadual Azevedo Lima – RJ, Diretor da FISIOCOR – Serviço especializado de Fisioterapia Ltda – RJ
Palavras-chave:
Infarto do miocárdio,
respiração por pressão
positiva intermitente,
sustentação máxima
inspiratória, vagotonia.
Resumo
Este trabalho irá abordar o infarto agudo do miocárdio (IAM) e suas complicações,
através da classificação descrita por Killip & Kimball em 1967, em quatro classes
distintas, de acordo com a gravidade e a mortalidade, decorrentes de uma disfunção do
ventrículo esquerdo pós-IAM. Temos como proposta vincular a terapêutica através
das classes I e II descritas por esses autores, objetivando a utilização de recursos
terapêuticos disponíveis no mercado, tais como: sustentação máxima inspiratória (SMI)
e a respiração por pressão positiva intermitente (RPPI), a fim de promover de maneira
eficiente a recuperação do paciente infartado e diminuir os índices de mortalidade.
Key-words:
Myocardial infarction,
intermittent positive
pressure breathing,
sustained maximal
inspiration, vagotonia.
Abstract
This work will approach acute myocardial infarction (AMI) and its complications.
These are classified by Killip & Kimball in 1967, four classes in accordance with the
gravity and mortality, decurrent of a dysfunction of the left ventricle after AMI. Our
objetive to link the therapeutics through the classes I and II described by Killip & Kimball,
aiming at the use of available therapeutic resources in the market, such as: sustained
maximal inspiration (SMI), intermittent positive pressure breathing (IPPB), in order to
promote efficient recovery of the patient.
Artigo recebido em 14 de janeiro de 2003; revisado em 18 de março de 2003; aceito em 20 de março de 2003.
Endereço para correspondência: Trav. Gelson Brandão, 45 Fonseca 24120-005 Niterói RJ, Tel: 2625-6422 / 9891-7576,
E-mail: [email protected]
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Introdução
O infarto agudo do miocárdio (IAM), nos dias de hoje,
apresenta elevados níveis de morbidade e mortalidade nos
países industrializados [1,2]. Sendo assim, este assunto é uma
importante via de acesso a pesquisas, visto que a fisioterapia
atualmente está baseada em fatos médicos, relacionada com
programas de recondicionamento e reabilitação cardíaca,
em que não preenche a lacuna de uma eficiente e imediata
atuação da fisioterapia nos episódios agudos nos centros de
terapia intensiva.
Em agosto de 2002, a equipe de fisioterapia do IncorSP [3] realizou uma pesquisa apresentada no XIo Simpósio
Internacional de Fisioterapia Respiratória, com 38 pacientes
infartados, classificados segundo Killip e Kimball [4], como
classe I, ou seja, 6 a 17% de índice de mortalidade, em que
foi preconizado um programa de atividades com consumo
de até 5 equivalentes metabólicos, como descrito e aprovado
por vários autores renomados no meio científico, como parte
integrante do processo de reabilitação cardíaca, dita Fase I,
em relação a um grupo controle, que somente realizaria
suas atividades de vida diária intra hospitalar. Todos foram
monitorizados através de parâmetros hemodinâmicos e
respiratórios, em relação ao impacto das atividades.
A conclusão desse estudo demonstrou não haver
prejuízos clínicos com o grupo de treinados, porém os
mesmos não apresentaram melhoras significativas em relação
ao grupo controle [3].
Este artigo deixa evidências que possivelmente pacientes
infartados, não são favorecidos por tal programa, como
imaginava os profissionais de fisioterapia, e abre um campo
vasto para novas pesquisas em terapia intensiva, na busca
de novos caminhos e resultados na abordagem inicial do
paciente IAM.
Na atualidade, o tratamento do infarto agudo do
miocárdio deve ser o mais precoce possível, visto a
necessidade de evitar as repercussões de suas complicações,
devido ao aumento da extensão da lesão muscular pela
retroalimentação da causa desencadeadora, ou seja, a
redução progressiva do fluxo coronariano, que não
corresponde à necessidade de consumo pelo miocárdio,
aumentando as taxas de mortalidade [5,6,7]. Assim, o
tratamento eficaz, faz-se desde a orientação ao público,
que deve ter acesso rápido aos centros de emergência,
principalmente quando acometido de dor torácica referida,
precordial e contínua, para a confirmação do diagnóstico, o
somatório clínico, eletrocardiográfico e dos marcadores
enzimáticos de necrose muscular, seguindo os princípios
terapêuticos da atualidade: analgesia, redução do consumo
de oxigênio do miocárdio e reperfusão do vaso culpado
[1,5,7,8,9].
Neste estudo, o principal meio de acesso terapêutico
fisioterápico, será a manipulação do volume inspirado e
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104
sustentado, para efetuar a redução da freqüência cardíaca
(FC) e proporcionar um aumento da saturação periférica
de oxigênio (SpO2), em que da mesma forma estes objetivos
são permanentemente perseguidos nos protocolos médicos
da atualidade, principalmente através da utilização de drogas
betabloqueadoras e uso prolongado de oxigênio úmido [1,5,9]
Esta pesquisa visa também propor aos fisioterapeutas,
uma nova visão da abordagem terapêutica, através da
estratificação do risco e prognóstico do paciente infartado,
atuando de forma discriminada na função miocárdica pela
função da ventilação, aliando o conhecimento biomecânico
cardio-respiratório, e traçando uma ação linear terapêutica
deste circuito em série, com fundamental importância para
a sobrevida destes. Através de recursos cinéticos ventilatórios
já descritos e preconizados em diversas outras
aplicabilidades, pode-se demonstrar metodologicamente,
baseando-se em evidências clínicas, os resultados obtidos
dessa visão do autor para essa patologia [2,5,10].
Pacientes e métodos
Através da classificação de Killip & Kimball em 1967, foram
estratificados os modelos terapêuticos abordados neste estudo.
Tabela I – Classificação dos subgrupos clínicos após IAM, segundo Killip e
Kimball [4].
Subgrupos
I
Quadro clínico
Ausência de sinais
de insuficiência cardíaca
Mortalidade ( % )
6
II
Estertoração inferior e/ou B3
17
III
Edema agudo de pulmão
38
IV
Choque cardiogênico
81
Casuística: Foram estudados um total de 20 pacientes
classificados como subgrupo I e II, divididos em: grupo de
tratados também pela fisioterapia (GI) em um total de 15
pacientes, onde 8 destes, 5 do sexo masculino, utilizaram
SMI, com idade média 63,4 ± 7,2, e os 7 restantes, 4 do
sexo masculino, utilizaram RPPI, com idade média 67,7 ±
7,5; e o grupo controle (G2), em um total de 5 pacientes,
sendo 2 mulheres, com idade média de 63 ± 5,6 anos.
Os objetivos esperados para o GI foram a análise do
impacto da manobra de insuflação sustentada, na variabilidade
da freqüência cardíaca (FC) em função da estimulação
parasimpática (vagotonia), através do alcance nas fases 1 e 2
de Valsalva, e também as alterações da variabilidade da
saturação de oxigênio periférico (SpO2), antes e depois da
utilização dos recursos para a insuflação sustentada.
Os recursos utilizados foram: Sustentação máxima
inspiratória (SMI), com incentivador a volume voldyne 5000 e
respiração por pressão positiva intermitente (RPPI) como
recurso de insuflação passiva sustentada, através da prótese
ventilatória inter-5 da InterMed, com máscara siliconizada.
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com o grupo de pacientes que utilizaram o RPPI com o
mesmo objetivo, para pacientes do subgrupo II de Killip
e Kimball.
Resultados
Fig. 1 - Representação dos ciclos cardíacos e respiratórios de um paciente, antes da
insuflação sustentada.
Para o tratamento estatístico deste estudo foi
utilizado o Software Microcal Origin 6.0, e os dados
foram submetidos à análise de variância, seguido de
teste “t” para combinações pareadas. Os resultados
foram expressos em média e desvio padrão. Os valores
de P < 0,05 foram considerados significativos.
Tabela II – Representa a variação da freqüência cardíaca média, dos
pacientes IAM agudizados, utilizando os recursos de SMI e RPPI.em
que podemos observar a redução significativa da mesma durante a utilização
destes.
Técnicas
FC antes
FC durante
SMI *
77,3 ± 13,5
65,5 ± 8,5
RPPI **
103,6 ± 15,2
90,6 ± 13,8
* p < 0,005
** p < 0,005
Fig. 2 – Representação da redução dos ciclos cardíacos e respiratórios durante a manobra
de insuflação sustentada por 20 segundos.
A manobra de insuflação sustentada está demonstrada
nas Fig. 1 e 2, que indica on line os acontecimentos
eletrocardiográficos (primeiro bloco) e os acontecimentos
de variação de fluxo respiratório, através de um
pneumotacógrafo (terceiro bloco), em um intervalo de tempo
igual a 30 segundos.
Os pacientes submetidos a SMI, permaneceram
utilizando o recurso durante aproximadamente 10 minutos,
com sustentação média da inspiração de 04 segundos, na
posição Fowler (45°), e os pacientes submetidos à RPPI,
permaneceram utilizando o recurso por também 10 minutos,
com máscara facial, na posição de Fowler, todos sem uso
de suplemento adicional de oxigênio (FIO2 = 0,21%), e
classificados por Killip e Kimball , como classe I e II,
respectivamente. Foi utilizado o monitor multiparâmetros
da Dixtal DX 2010, para valores simultâneos de freqüência
cardíaca (FC), eletrocardiograma (ECG), Saturação periférica
de oxigênio (SpO2) e Pressão arterial não invasiva (PNI),
antes e durante os ensaios terapêuticos.
Os objetivos desta fase da pesquisa, foi verificar o
impacto da insuflação sustentada por SMI, para a redução
da FC e o aumento da SpO2, nos pacientes do subgrupo I
de Killip e Kimball, resultando em um menor consumo
metabólico do miocárdio com otimização da relação V/Q
(Lei de Fick), correlacionando com os resultados obtidos
artigo 04.pmd
105
Tabela III – Representa a variação da saturação de oxigênio periférico
médio, dos pacientes IAM agudizados, utilizando os recursos de SMI e
RPPI, em que podemos observar o aumento significativo da mesma durante
a utilização destes.
Técnica
Spo2 antes
SpO2 durante
SMI *
95 ± 1,6
96,5 ± 0,7
RPPI **
88,8 ± 7,9
96,2 ± 3,7
* p < 0,05
** p < 0,00005
Os gráficos 1, 2 e 3 representam a redução da FC dos
pacientes avaliados antes e durante o emprego dos recursos
de SMI e RPPI respectivamente. Como podemos observar,
todos os quinze pacientes obtiveram redução gradativa da
FC, ao final dos dez minutos analisados, como demonstrado
nas tabelas de valores médios acima.
Gráfico 1 - Freqüência cardíaca dos pacientes com SMI
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
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Por fim o gráfico 5 representa a redução gradativa da
freqüência respiratória durante a utilização dos recursos de
SMI e RPPI a volume, em que seu resultado era esperado,
devido a indução do padrão respiratório aos pacientes e ao
fator compensatório da ventilação minuto com o acréscimo
de volume inspirado.
Gráfico 2 - Freqüência cardíaca dos pacientes com RPPI
Gráfico 5 - Freqüência Respiratória Média dos pacientes antes e durante a
utilização de SMI e RPPI.
Discussão
Gráfico 3 - Freqüência cardíaca média dos pacientes do grupo de SMI e RPPI
O gráfico 4 representa os valores médios do aumento
gradativo da SpO2, sem suplemento de oxigênio, antes e ao
final, da aplicação dos métodos citados. Em que se observa
que ambos os recursos são capazes de aumentar
significativamente a SpO2, como descrito na Tabela II.
Gráfico 4 – Saturação periférica de Oxigênio para os recursos de SMI e RPPI
artigo 04.pmd
106
Este estudo reforça a hipótese do autor, da possibilidade
alternativa de redução do consumo de oxigênio pelo
miocárdio, através da redução da FC, pela manobra vagal
de inspiração sustentada. Por ser um recurso disponível em
terapia intensiva, poderá ser associado à abordagem médica
atual, ou isoladamente precedê-la, ou até mesmo substituíla em casos especiais de contra-indicação medicamentosa.
Tabela IV – Representa os valores médios finais e o desvio padrão dos três
grupos, para os parâmetros abordados neste estudo, onde se observa a faixa de
idade equivalente, a redução da FC e FR e o aumento da SpO2 de forma
significativa.
Parâmetros
Idade
FC
Controle
63 ± 5,6
65,2 ± 5,3
SMI
63,4 ± 7,2
65,5 ± 8,5
RPPI
67,7 ± 7,5
90,6 ±13,8
SpO2
FR
94 ± 1,2
20,8 ± 2,3
96,5 ± 0,7
11,7 ± 1,3
96,2 ± 3,7
12 ± 1,2
A otimização da oxigenação, também foi um grande
resultado, sendo positivo e significativo em todos os níveis
de aplicabilidade, visto a monitorização do achado de uma
pequena queda da saturação de oxigênio dos pacientes classe
I, que não apresentavam sinais clínicos de insuficiência
cardíaca, isto se deve provavelmente a uma pequena
alteração congestiva intersticial, alterando assim a relação
V/Q discretamente, onde o mesmo apresenta melhora após
conduta.
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
A utilização da RPPI, como recurso indispensável, no
controle de pacientes com disfunções respiratórias restritivas
prévias, idade avançada com ou sem alteração do nível de
consciência e cooperação, mostrou resultados melhores e
consistentes durante a faixa de 10 minutos de terapia, visto
seu grupo apresentar piores parâmetros ao iniciar em
comparação ao grupo da SMI e controle, porém deve-se
ter maior atenção, para casos de alcalose respiratória com
náuseas e vômitos, devido principalmente aos altos volumes
pulmonares, entre 1000 a 1800 ml, para a otimização da
manobra vagal e reexpansão pulmonar, onde a utilização de
níveis de pressão positiva expiratória final (PEEP), auxiliam
na proteção alveolar e otimizam a pressão média
intratorácica, que deve estar entre 16 a 24 cm H 2O,
equivalente a resultados encontrados em pacientes que
apresentam leve a moderada congestão pulmonar com
monitorização hemodinâmica invasiva, e ventilação alveolar
compatível a repercussão dos distúrbios ácido-base, com
ênfase no volume inspirado.
As abordagens relativas aos pacientes dos sub-grupos
III e IV da classificação de Killip e Kimball, estão em fase
de análise estatística.
Gráfico 6 – Valores médios finais dos grupos controle, SMI e RPPI, para
FC, SpO2 e FR.
Conclusão
A significância estatística encontrada nesta pequena
população, nos estimulou a ampliar o número de pacientes,
encontrar novas correlações entre parâmetros hemodinâmicos
artigo 04.pmd
107
107
e respiratórios, e avaliar os resultados a longo prazo, para
estabelecer a eficácia do método.
Agradecimentos
Às Comissões de Ética e Chefes das UTI dos Hospitais
e Clínicas que participaram do estudo. Ao Prof. Pedro Lopes,
que permitiu o uso de equipamentos e análise estatística, no
Laboratório de Instrumentação biomédica da UERJ, e a
todos os integrantes da equipe FISIOCOR, que colaboraram
indiretamente para realização deste.
Referências
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cardíaca e estimulação colinérgica após infarto agudo
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Artigo original
Nível de estresse na Polícia Militar
Stress level in the military police
Rafael Cusatis Neto*, Jaqueline Louise Martins Lima**
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*Professor de Cinesiologia, Métodos e Técnicas de Avaliação da Faculdade do Clube Náutico Mogiano e Universidade Santana,
Mestre em Psicologia PUC- Campinas, **Graduanda do curso de Fisioterapia da Faculdade do Clube Náutico Mogiano
Resumo
Objetivou-se na presente pesquisa verificar a incidência de estresse na Polícia Militar,
quantificar os sintomas e comparar os níveis de estresse dos policiais ostensivos e dos de
serviços internos. A amostra foi composta de 50 policiais do 17º BPM/M de Mogi das
Cruzes, divididos em dois grupos. O primeiro grupo foi composto de 25 policiais ostensivos
com idades entre 24 e 44 anos e média de 31,32 anos. O segundo grupo foi composto de
25 policiais que realizam serviços internos no próprio batalhão, com idades entre 26 e 47
anos e média de 38,4 anos. Foi utilizado para coleta de dados, o questionário do Inventário
de Sintomas de Estresse para adultos de Lipp (ISSL). O resultado demonstra que 62%
dos policiais militares não possuem estresse, sendo que 38% apresentam os sintomas do
estresse. Dentre aqueles que apresentaram estresse, a incidência maior foi na fase de
resistência com 73,6%, já na fase de quase-exaustão encontravam-se 15,7% e 10,5% dos
policiais encontravam-se na fase de alerta do eestressee. De acordo com os sintomas do
eestressee, observou-se que seis policiais ostensivos apresentaram sintomas psicológicos e
três apresentaram sintomas físicos; nos policiais de serviços internos, oito, sintomas físicos
e cinco, sintomas psicológicos. Conclui-se, portanto, que dentre os voluntários pesquisados
não houve alta incidência de estresse.
Palavras-chave:
Estresse, polícia militar.
Artigo recebido em 24 de janeiro de 2003; aceito em 15 de fevereiro de 2003.
Endereço para correspondência: Rafael Cusatis Neto, rua Isabel Cristina Xavier Franco, 19, jardim Iracy, 08770-590 Mogi das Cruzes SP,
E-mail: [email protected]
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Abstract
The aim of the present investigation was to study the incidence of stress in Millitary
Police, evaluate the symptoms and compare the police’s stress levels, for street policemen
and inside work policemen. The sample was composed by 50 policemen from 17º
BPM/M of Mogi das Cruzes, divided in two groups. The first one was composed by
25 street policemen 24 - 44 years old and medium age 31,32 years. The second group
was formed by 25 policemen of inside works in the own battalion, 26 - 47 years old
and medium age 38,4 years. Was utilized a questionnaire of Inventory Stress Symptom
for adults of Lipp (ISSL). The result shows that 62% of millitary policemen do not
have stress, but 38% show stress symptoms. In the men that showed stress, the higher
incidence was on the resistance phase with 73,6%, in the almost exhausted stage with
15,7% and 10,5% of policemen was on the alert stress stage. According to stress
symptoms, six street policemen showed psychologic symptoms and three showed physical
symptoms; in the men of inside works, eight showed physical symptoms and five showed
psychologic symptoms. It was concluded that between voluntaries, there was not high
incidence of stress.
Key-words:
Stress, military police.
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Introdução
A humanidade vive a partir do momento que interage
como uma sociedade, gerando conflitos. Estes conflitos são
minimizados por regras fiscalizadas por uma organização
chamada Polícia, que garante, então, a ordem, segurança e o
bem-estar dos cidadãos.
No século XIV, o termo estresse era esporadicamente
utilizado significando aflição, porém no século XVII passou
a referir-se à opressão, desconforto [1].
O estresse foi primeiramente pesquisado pelo estudante
de medicina Hans Selye, que passou a observar sintomas
comuns em diversos pacientes portadores de diferentes
doenças. A palavra estresse foi trazida da engenharia,
significando peso suportado por uma ponte até que ela se
parta [2].
Posteriormente, em 1925, Selye definiu o estresse como
um conjunto de reações desencadeadas pelo organismo,
quando submetido a uma determinada situação, denominada
síndrome geral de adaptação, mais claramente traduzida por
um estado de tensão, que já era observado nas sociedades
primitivas, na busca da sobrevivência.
Uma situação que leve à perda da homeostase,
necessitando de adaptações por parte do organismo, é
caracterizada como um processo de estresse; sendo seu
causador denominado agente eestresseor, tanto de natureza
positiva, como negativa.
Os agentes estressores são considerados tanto em relação
ao excesso, caracterizando estimulações persistentes, fadiga,
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109
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situações novas; quanto em relação à ausência, em que
consideramos a monotonia, isolamento e fracasso [3].
A classificação dos agentes estressores pode ser dada
em: agentes internos - relacionados a características pessoais,
valores, crenças, maneiras de interpretação; no entanto, a
fonte de perigo pode ser real ou imaginária, desencadeando
a mesma resposta de alerta em ambas situações, mas quando
o perigo real é retirado o organismo volta ao estado de
normalidade, diferente do imaginário no qual o indivíduo
permanece constantemente pensando nele. Já as situações
do cotidiano, relação com pessoas no dia-a-dia, são
classificadas como agentes externos [4].
Existem ainda os estressores chamados biogênicos, que
agem de forma automática no estresse, relacionados à
sobrevivência do ser humano, assim como frio, fome e dor [5].
Em 1952, Selye descreveu o estresse em três fases: fase
de alerta ou estresse leve, em que o organismo reage com
uma aceleração de sua função; fase de resistência ou estresse
moderado, na qual o organismo utiliza-se de sua forma
adaptativa para equilibrar-se; e finalmente, a fase de exaustão
ou estresse severo, em que a resistência do organismo não é
suficiente para lidar com o agente estressor. Lipp acrescentou
uma quarta fase, encontrada entre as fases de resistência e
de exaustão, denominada “quase-exaustão” [6,7].
A fase de alerta pode ser caracterizada como o momento
em que o organismo percebe a presença do agente estressor,
preparando-se para “lutar ou fugir”, ele reage com a liberação
de adrenalina pelo Sistema Nervoso Autônomo Simpático
promovendo a hiper-ventilação, taquicardia e aumento da
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pressão arterial. Na fase de resistência, há uma permanência
prolongada do agente estressor com o organismo, que se
utiliza das reservas de energia adaptativa, caracterizando
falta de memória, mal-estar e dúvidas quanto a si próprio,
tornando o indivíduo mais suscetível a doenças [8].
A fase de quase exaustão tem como característica o
enfraquecimento e o desgaste do indivíduo, proporcionando
o aparecimento de doenças não tão graves, permitindo ainda
a atuação perante a sociedade. A fase de exaustão ocorre
quando a resistência não é suficiente ou quando outros
agentes estressores agem conjuntamente, caracterizando
aumento das estruturas linfáticas, depressão, levando à
exaustão física e conseqüentemente ao aparecimento de
doenças.
A doença caracteriza-se por uma manifestação de
conflitos internos, precedidos de problemas emocionais como
angústia, depressão, medo, etc. Esta condição é propícia à
manifestação de doenças, portanto, a metafísica mostra que
cada um é responsável pelo que acontece consigo mesmo e
para encontrarmos a causa metafísica das doenças basta
olhar para si e descobrir em que área da vida não está
havendo harmonia. A cura ocorre em conseqüência de uma
combinação do tratamento físico com o reposicionamento
interior [9].
O estresse pode ocasionar possíveis efeitos, tanto
psicológicos como físicos. Os efeitos psicológicos mais
comuns são: ansiedade, tensão, angústia, insônia, alienação,
preocupação excessiva, dificuldade de concentração,
dificuldade em relaxar, tédio, depressão e hipersensibilidade
emotiva. Já com relação aos efeitos físicos, podemos citar:
aumento da sudorese, hiperacidez estomacal, tensão
muscular, taquicardia, hiper-ventilação, aperto da mandíbula
e ranger de dentes, hiperatividade e náuseas [10].
O estresse ocorre como resultado de uma estimulação
externa ao organismo, de forma desfavorável. Inicialmente
há uma descarga de adrenalina que atinge principalmente o
sistema circulatório – promovendo taquicardia e
vasoconstrição periférica, aumentando a velocidade de
circulação do sangue para melhor oxigenação - e o sistema
respiratório – promovendo broncodilatação, taquipnéia para
maior captação de oxigênio. Porém ao cessar a situação
desencadeante da reação, o organismo volta ao estado
normal [11].
No entanto, na fase de reação de alarme, ocorre
liberação de adrenalina e aldosterona que diminui a diurese
e conseqüentemente aumenta a hemoconcentração. Ao
mesmo tempo, há liberação de corticóides que estimulam
a gliconeogênese que proporcionará o fornecimento de
energia [12].
O organismo reage ao estresse, inicialmente quando o
agente de estresse é identificado pelo receptor do Sistema
Nervoso Periférico, que envia a mensagem ao cérebro
através dos sistemas sensoriais, realizando integrações com
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110
a história de vida do indivíduo, resultando, finalmente, em
uma retroalimentação para o Sistema Límbico, que é
responsável pela interpretação emocional [1].
Em ocasiões especiais, ocorre uma resposta de alarme
ou estresse do Sistema Nervoso Simpático, freqüentemente
quando o hipotálamo é ativado por sentimentos como medo,
raiva ou dor, promovendo uma descarga em massa do
organismo, aumentando a capacidade de realizar uma
atividade muscular vigorosa. Portanto, dizemos que o Sistema
Simpático fornece ativação extra do corpo em casos de
estresse, sendo denominado reação simpática ao estresse; e
também é ativado em estados emocionais, sendo
denominado reação de alarme do Sistema Simpático ou
reação de fuga ou luta.
São três os caminhos percorridos pela mensagem de
estresse no sistema nervoso. A mensagem segue do cérebro
ao sistema músculo esquelético, através dos nervos motores,
preparando o movimento. Segue do cérebro ao sistema
nervoso autônomo, provocando aumento do ritmo cardíaco
e pressão sanguínea. Segue também do cérebro às glândulas
supra-renais, agindo como estimulante geral [10].
A reação do estresse engloba os eixos neural,
neuroendócrino e endócrino. O eixo Neural, através do
hipotálamo ativa o Sistema Nervoso Autônomo Simpático
e Parassimpático, passando pela medula espinhal e atingindo
o órgão alvo, sendo que o sistema simpático age estimulando
e o sistema parassimpático age inibindo o órgão alvo; porém
essa situação ocorre de for ma passageira. O eixo
neuroendócrino é acionado quando a situação de estresse
permanecer, ativando a medula adrenal que produz
adrenalina e noradrenalina [5].
Em uma reação somática crônica e prolongada de
estresse, entra em ação o eixo endócrino, que possui as
seguintes subdivisões: eixo adrenal-cortical, eixo
somatotrópico, eixo da tireóide e eixo pituitário posterior;
onde sua ação inicia-se no hipocampo, posteriormente, no
hipotálamo há liberação de corticotropina para a glândula
pituitária, que produz estimulação do órgão alvo através da
produção de hormônios.
A Polícia Militar tem como enfoque principal o
policiamento ostensivo na prevenção, repreensão e repressão
de delitos. Atualmente, o policiamento comunitário seria um
dos grandes objetivos da organização, além da segurança
individual do policial em serviço e o conhecimento da
Constituição Federal [13].
Para a mesma autora, o policial encontra-se em
constantes situações de risco, contribuindo para que ocorra
o aumento da ansiedade e direcionamento do estresse. No
entanto, a desqualificação – que gera conflitos mentais,
interferindo na produtividade - e a requalificação – pela
qual o policial deve-se submeter freqüentemente, interferindo
na melhor aquisição e desenvolvimento das habilidades –
também devem ser levadas em consideração.
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O estresse ocupacional aparece em decorrência das tensões
do trabalho e vida profissional e pode ser gerado por fatores
decorrentes do próprio indivíduo, ou pertencente às condições
e ao ambiente de trabalho, nos quais os mais comuns são
ruídos, higiene, ergonomia, trabalho por turno, exposição a
riscos e perigos, etc. Entretanto, raramente um tipo de
eestresseor é absoluto, e muitas vezes o indivíduo eestresseado
ocupacionalmente reage com o uso excessivo de álcool ou
outras drogas com a finalidade de aliviar a ansiedade [7].
O excesso de estresse pode afetar a produção do
indivíduo, trazendo uma diminuição da concentração e
observação, diminuição da memória, aumenta o índice de
erros, afeta a organização e planejamento de dados, aumenta
tensão, traz prejuízos de ordem emocional, diminui a autoestima, promove desinteresse pelo trabalho e o índice de
faltas aumenta, resolve problemas de forma superficial [14].
Além disso, para as mesmas autoras, em indivíduos cuja
profissão exige um grande contato com as pessoas, pode
instalar-se o estresse crônico (Burnout), que se caracteriza
por exaustão de ordem física, psíquica e emocional.
Outros sintomas físicos podem ser observados no
estresse, asma, bronquite, hiperatividade, doenças
dermatológicas, úlceras, obesidade, cáries, dores abdominais,
diarréia, tiques nervosos. Além disso, o estresse pode
contribuir ou desencadear o aparecimento de várias doenças,
entre elas, a hipertensão arterial, câncer, psoríase, vitiligo,
depressão, pânico e surtos psicóticos [1].
De acordo com a pesquisa realizada, alguns dos eventos
mais estressantes para os policiais militares são [10]: Com
relação aos eventos relacionados aos sofrimentos alheios,
com relação aos eventos relacionados com situações
perigosas, com relação aos eventos relacionados com
problemas familiares, com relação aos eventos relacionados
com o exercício da rotina policial, com relação aos eventos
relacionados com o sentido de desvalorização na profissão.
A presente pesquisa teve por objetivo verificar a
incidência de estresse na Polícia Militar, analisar os níveis de
estresse nos policiais militares; quantificar os sintomas (físicos
vs. psicológicos) do estresse e comparar os níveis de estresse
dos policiais (ostensivos vs. internos).
Material e métodos
Foram voluntários da pesquisa 50 policiais militares do
17º BPM/M de Mogi das Cruzes - SP, divididos em dois
grupos. O primeiro grupo foi composto de 25 policiais
ostensivos, sendo 8% do sexo feminino e 92% do sexo
masculino com idade de 24 a 44 anos e amplitude de 20
anos, a média de 31,32 e Mo = 25 anos. O segundo grupo
foi composto de 25 policiais que realizam serviços internos,
sendo 12% do sexo feminino e 88% do sexo masculino
com idade de 26 a 47 anos e amplitude de 21 anos, a média
de 38,4 e Mo = 41 anos.
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111
Para cumprir os objetivos propostos na pesquisa foi
utilizado, para coleta dos dados, o questionário do Inventário
de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp (ISSL).
O ISSL avalia e identifica a sintomatologia que o indivíduo
apresenta, os tipos de sintomas presentes, além da fase de
estresse em que se encontra. O inventário é constituído de
três partes, no qual, primeiramente, identificam-se os sintomas
presentes nas últimas 24 horas, em seguida identificam-se os
sintomas presentes na última semana e posteriormente
identificam-se os sintomas no último mês [1].
A presente pesquisa foi realizada em quatro etapas. Na
primeira etapa, o autor solicitou autorização ao Major
responsável pela corporação para a realização da mesma;
que, por meio de um ofício, deferiu o pedido.
Na segunda etapa, o autor solicitou autorização à Profa.
Dra. Marilda Emmanuel Novaes Lipp para a utilização do
Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp
(ISSL); sendo atendida com um termo de autorização.
Na terceira etapa, o autor explicou os objetivos gerais e
específicos da pesquisa aos voluntários e solicitou o
preenchimento de um termo de consentimento do
informado.
Na quarta etapa, os voluntários responderam o ISSL,
solicitando aos mesmos a imediata entrega do instrumento,
evitando assim a contaminação dos dados.
Resultados e discussão
Os resultados foram processados por meio de análises
qualitativa e quantitativa. A análise quantitativa foi feita por
meio de freqüência e porcentagem, sendo apoiada em teste
inferencial não paramétrico, face à natureza dos dados.
Foi aplicado o teste de qui-quadrado para análise intergrupo e o teste de correlação de Spearman, partindo da
hipótese nula Ho de que não existem diferenças significativas
entre os policiais ostensivos e os que realizam serviços
internos e como alternativa de que poderiam ser diferentes,
com referência às variáveis em estudo. Para garantir a
validade do resultado da pesquisa e assegurar a confiabilidade
do saber geral, o nível de significância ou margem de erro
foi de 0,05, aceito em ciências humanas [15,16].
Nesta parte são descritos os resultados da pesquisa a
iniciar pela incidência de estresse.
Tabela I – Incidência de estresse nos voluntários.
Grupos
Ostensivos
Internos
Total
Incidências
F
%
F
%
Estresse
7
28
12
48
19 38
Não Estresse
18
72
13
52
31 62
Total
25
100
25
100
50 100
26/03/03, 13:30
F
%
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A Tabela I apresenta os resultados quanto à incidência de
estresse nos policiais militares. Verificou-se que 72% dos
policiais ostensivos e 52% dos policiais que realizam serviços
internos não apresentam e estresse, sendo que o percentual de
estresse nos policiais que realizam serviços internos foi de 48%
seguidos de 28% nos policiais ostensivos. No total, 62% dos
policiais militares não possuem estresse e 38% apresentam estresse.
Foi aplicado o teste χ2 para verificar a homogeneidade
entre as respostas do grupo ostensivo e de serviços internos.
No grupo ostensivo o χ2o = 19,36, mostrando diferença
significativa na concentração não estresse, rejeitando a Ho (χ2c
= 3,84, ngl = 1 e n.sig = 0,05). No grupo de serviços internos
o χ 2o = 0,16, mostrando que não houve diferença
significativa nas incidências, não rejeitando Ho (χ2c = 3,84, ngl
= 1 e n.sig = 0,05). No total, o χ2o = 5,76, mostrando
diferença significativa na concentração não estresse, rejeitando
Ho (χ2c = 3,84, ngl = 1 e n.sig = 0,05).
O cálculo de correlação de Spearman resultou em ro =
0,16, verificando-se na comparação inter-grupo, ostensivo
e serviços internos, que não ocorreu correlação significante
em relação a Incidência de estresse nos voluntários (rc = 0,95, N =
2 e n.sig = 0,05), ou seja, as categorias não são
hierarquicamente similares nos dois conjuntos de dados.
Diante dos resultados obtidos, foi observado que a maior
incidência de estresse ocorreu no grupo de policiais que
realizam serviços internos, sendo que esses dados são
semelhantes e podem ser comparados ao trabalho de Silva
[3], indicando como possíveis causas de estresse nos
bancários: chefes autoritários, rotina, clientes exigentes, ritmo
intenso de trabalho, local de trabalho inapropriado no que
diz respeito à sonoridade, temperatura e iluminação.
Portanto, podemos considerar os serviços burocráticos
como altamente estressantes, vindo ao encontro do resultado
da presente pesquisa, que inclui voluntários que realizam
serviços administrativos e de atendimento ao público. Nesse
último setor, os policiais convivem com uma grande demanda
de chamadas recebidas, porém com trotes telefônicos
freqüentes, mostrando o desrespeito da população com o
trabalho sério realizado pela Polícia Militar, proporcionando
um agravamento das fontes estressoras.
Porém, conforme Ramos [13], houve em sua pesquisa
um percentual significativo para o estresse na soma de policiais
Tabela II – Fases do estresse.
Grupos
Ostensivos
Internos
Fases
F
%
F
Alerta
-
-
2
16,6
2
10,5
Resistência
7
100
7
58,3
14
73,6
Quase exaustão
- - 3
25
3
15,7
Total
7
100
12
99,9
19
99,8
artigo 05.pmd
112
%
Total
F
%
civis e militares, com relação a sentir que a vida está em perigo.
Nesse caso, comprova-se a importância do diagnóstico feito
com instrumentos validados, mostrando a real situação de
estresse nos voluntários e excluindo a contaminação de dados.
Quanto às fases do estresse, a Tabela II demonstra que
100% dos policiais ostensivos encontram-se na fase de
Resistência do estresse, sendo que os policias que realizam
serviços internos apresentam-se 58,3% na fase de Resistência
do estresse, seguidos por 25% na fase de Quase Exaustão e
16,6% na fase de Alerta. No contexto geral, 73,6%
encontram-se na fase de Resistência do estresse, 15,7% estão
na fase de Quase Exaustão e 10,5% dos policiais militares
apresentam-se na fase de Alerta do estresse.
A variável da fase de Exaustão do estresse foi excluída
devido a não ocorrência. Foi aplicado o teste χ 2 para
verificar a homogeneidade entre as respostas do grupo de
serviços internos. No grupo ostensivo não foi necessário
realizar o tratamento estatístico. No grupo de serviços
internos o χ2o = 29,19, mostrando diferença significativa na
concentração Resistência, rejeitando Ho (χ2c = 5,99, ngl = 2 e
n.sig = 0,05). No total, o χ2o = 73,76, mostrando diferença
significativa na concentração Resistência, rejeitando Ho (χ2c
= 5,99, ngl = 2 e n.sig = 0,05).
O cálculo de correlação de Spearman resultou em ro =
-0,62, verificando-se na comparação inter-grupo, ostensivo
e serviços internos, que não ocorreu correlação significativa
em relação as Fases do estresse (rc = 0,87, N = 3 e n.sig =
0,05), ou seja, as categorias não são hierarquicamente
similares nos dois conjuntos de dados.
A fase de resistência do estresse refere-se à fonte
estressora de duração longa ou intensidade demasiada [1].
Logo, percebe-se que a fase de resistência encontra-se como
a mais comum perante às pesquisas, confirmando o resultado
da pesquisa na Polícia Militar.
Vale ressaltar que a fase de alerta do estresse inicia-se
com um primeiro contato com o agente estressor, com
decorrente exacerbação da ação simpática e desaceleração
parassimpática. Porém, a aceleração do organismo é de
grande importância para a preservação da vida, levando o
organismo a um estado de alerta para situações de urgência,
atuando como defesa automática [1].
Com base nesses dados, o ideal seria que os indivíduos
estivessem constantemente alternando-se entre a fase de
alerta e ausência de estresse, já que essa fase é considerada
benéfica ao organismo. No entanto, segundo a presente
pesquisa, observa-se que no grupo ostensivo não foi
verificada a ocorrência de policiais na fase de alerta e no
grupo de serviços internos a percentagem foi de apenas
16,6% de policiais nessa fase.
Devido a ocorrência de 25% dos policiais que realizam
serviços internos na fase de quase-exaustão do estresse, devese atentar para essa fase que caracteriza-se por um
enfraquecimento do indivíduo, que não consegue uma
26/03/03, 13:30
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
113
adaptação ou resistência ao estresse, proporcionando o
aparecimento de doenças [7].
Fig. 1 - Tipos de sintomas.
Na Fig. 1, observa-se os tipos de sintomas do estresse
experimentados pelos policiais militares, sendo que dentre
os policiais que realizam serviços internos oito apresentaram
sintomas Físicos e cinco apresentaram sintomas Psicológicos.
Contudo, com relação aos policiais ostensivos, seis
apresentaram sintomas Psicológicos e três apresentaram
sintomas Físicos.
De acordo com a presente pesquisa, obser va-se
predominância de sintomas psicológicos do estresse nos
policiais ostensivos e predominância de sintomas físicos nos
policiais de serviços internos.
Salienta-se a importância de verificar o tipo de
sintomatologia do estresse, pois a grande incidência em
determinada área, mostra a vulnerabilidade do indivíduo nesse
aspecto, auxiliando na formulação da prevenção e/ou
tratamento físico ou psicológico.
O policial ostensivo é freqüentemente exposto ao perigo,
arriscando suas vidas, além de ser constantemente
pressionado dentro e fora do serviço, podendo aflorar
Tabela III – Sintomas físicos mais experimentados no último mês.
Grupos
Ostensivos
Internos
Variáveis
F
%
F
%
Dificuldades sexuais
1
6,6
1
2,6*
Insônia
2
13,3
11
28,9
Náusea
1
6,6
2
5,2
Tiques
1
6,6
1
2,6*
Hipertensão arterial continuada
2
13,3
4
10,5
Problemas dermatológicos prolongados
-
-
3
7,8
Mudança extrema de apetite
3
20
6
15,7
Excesso de gases
3
20
8
21,0
Tontura freqüente
1
6,6
2
5,2
Úlcera
1
6,6
-
-
Total
15
99,6
38
99,5
* Foi excluído do tratamento estatístico devido a baixa ocorrência.
artigo 05.pmd
113
sentimento de ansiedade, depressão e raiva. Tendo em vista
esse tipo de trabalho associado ao estresse, foram consideradas
as situações mais eestresseantes ver colega morto no cumprimento
do dever, morte de parceiro e receber salário insuficiente [10].
Portanto, o policial ostensivo que realiza o policiamento
de rua, encontra-se com freqüência em contato com fontes
estressoras psicológicas.
Com relação aos dados citados, pode-se justificar a grande
incidência de sintomas físicos nos policiais que realizam
serviços internos devido às atividades exercidas como funções
administrativas e de atendimento telefônico ao público pelo
serviço 190 no Centro de Operações Policiais (COP).
A Tabela III refere-se aos sintomas físicos mais
experimentados no último mês, sendo que 20% dos policiais
ostensivos apresentam Excesso de gases, seguidos de 20% que
apresentam Mudança extrema de apetite, 13,3% apresentam
Hipertensão arterial continuada, 13,3% apresentam Insônia, 6,6%
apresentam Dificuldades sexuais, 6,6% apresentam Náuseas,
6,6% apresentam Tiques, 6,6% apresentam Tontura freqüente
e 6,6% apresentam Úlcera.
Os policiais que realizam serviços internos, apresentamse com 28,9% que possuem Insônia, 21% Excesso de gases,
15,7% possuem Mudança extrema de apetite, 10,5% possuem
Hipertensão arterial continuada, 7,8% possuem Problemas
dermatológicos prolongados, 5,2% possuem Náuseas, 5,2%
possuem Tontura freqüente, 2,6% possuem Dificuldades sexuais
e 2,6% possuem Tiques.
No total, 24,5% dos policiais militares apresentam Insônia,
seguidos de 20,7% que apresentam Excesso de gases, 16,9%
apresentam Mudança extrema de apetite, 11,3% apresentam
Hipertensão arterial continuada, 5,6% apresentam Náuseas, 5,6%
apresentam Problemas dermatológicos prolongados, 5,6%
apresentam Tontura freqüente, 3,7% apresentam Dificuldades
sexuais, 3,7% apresentam Tiques e 1,8%
apresentam Úlcera.As variáveis Diarréia
freqüente e Enfarte foram excluídas devido
Total
a não ocorrência.
Foi aplicado o teste χ2 para verificar a
F
%
homogeneidade entre as respostas do
2
3,7*
grupo ostensivo e serviços internos. No
13
24,5
grupo ostensivo o χ2o = 24,29, mostrando
3
5,6
diferença significativa na concentração
*
Excesso de gases e Mudança extrema de apetite,
2
3,7
rejeitando Ho (χ2c = 15,5, ngl = 8 e n.sig =
6
11,3
0,05). No grupo de serviços internos o
3
5,6
χ 2o = 35,4, mostrando diferença
9
16,9
significativa na concentração Insônia,
rejeitando Ho (χ2c = 12,6, ngl = 6 e n.sig =
11
20,7
0,05). No total, o χ2o = 28,99, mostrando
3
5,6
diferença significativa na concentração
1
1,8*
Insônia, rejeitando Ho (χ2c = 12,6, ngl = 6
e n.sig = 0,05).
53
99,4
O cálculo de correlação de Spearman
26/03/03, 13:30
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
114
Tabela IV – Sintomas psicológicos mais experimentados no último mês.
Grupos
Ostensivos
Variáveis
F
%
Impossibilidade de trabalhar
-
-
Pesadelos
3
6,9
Sensação de incompetência em todas as áreas
-
-
Vontade de fugir de tudo
4
9,3
Apatia, depressão ou raiva prolongada
3
6,9
Cansaço excessivo
6
13,9
Pensar/falar constantemente em um só assunto
6
13,9
Irritabilidade sem causa aparente
6
13,9
Angústia/ansiedade diária
5
11,6
Hipersensibilidade emotiva
1
2,3*
Perda do senso de humor
9
20,9
Total
43
99,6
* Foi excluído do tratamento estatístico devido a baixa ocorrência.
resultou em ro = 0,27, verificando-se na comparação intergrupo, ostensivo e serviços internos, que não ocorreu
correlação significante em relação aos Sintomas físicos mais
experimentados no último mês (rc = 0,60, N = 9 e n.sig = 0,05),
ou seja, as categorias não são hierarquicamente similares
nos dois conjuntos de dados.
Alimentação correta como forma de controle de estresse
excessivo, salientando a importância da reposição de energias
e nutrientes solicitados nas situações de estresse. Por esse
motivo, devemos nos afastar dos denominados “ladrões de
energia” como café, gordura, excesso de peso, regimes
radicais, cigarro, sal, açúcar e álcool [17].
Com relação à insônia, pode ser citada como um fator
preocupante, pois um distúrbio do sono faz com que o
indivíduo acorde cansado e apresente uma queda do
rendimento durante o dia, impedindo a concentração e
agilidade no trabalho, tão importante para os policiais
militares.
Os sintomas psicológicos mais experimentados no último
mês constam na Tabela IV e podem ser descritos de forma
que 20,9% dos policiais ostensivos apresentam Perda do senso
de humor, 13,9% apresentam Cansaço excessivo, 13,9%
apresentam Irritabilidade sem causa aparente, 13,9% Pensam/
falam constantemente em um só assunto, 11,6% apresentam
Angústia/ansiedade diária, 9,3% possuem Vontade de fugir de
tudo, 6,9% apresentam Apatia, depressão ou raiva prolongada,
6,9% possuem Pesadelos e 2,3% possuem Hipersensibilidade
emotiva.
Dentre os policiais que realizam serviços internos, 19,2%
possuem Perda do senso de humor, 17,3% Pensam/falam
constantemente em um só assunto, 13,4% apresentam Cansaço
artigo 05.pmd
114
excessivo, 11,5% apresentam
Apatia, depressão ou raiva
prolongada, 11,5% possuem
Internos
Total
Pesadelos, 7,6% apresentam
F
%
F
%
Irritabilidade sem causa aparente,
1
1,9*
1
1,0*
5,7% apresentam Angústia/
ansiedade diária, 3,8% possuem
6
11,5
9
9,4
Hipersensibilidade emotiva, 3,8%
2
3,8*
2
2,1*
apresentam
Sensação
de
2
3,8*
6
6,3
incompetência em todas as áreas, 3,8%
6
11,5
9
9,4
possuem Vontade de fugir de tudo e
1,9%
apresenta Impossibilidade de
7
13,4
13 13,6
trabalhar.
9
17,3
15 15,7
No total, 20% dos policiais
4
7,6
10 10,5
militares apresentam Perda do senso
de humor, 15,7% Pensam/falam
3
5,7
8
8,4
constantemente em um só assunto,
2
3,8*
3
3,1*
13,6% apresentam Cansaço
10 19,2 19 20
excessivo, 10,5% apresentam
52 99,5
95 99,5
Irritabilidade sem causa aparente,
9,4% apresentam Apatia,
depressão ou raiva prolongada, 9,4%
possuem Pesadelos, 8,4% apresentam Angústia/ansiedade diária,
6,3% possuem Vontade de fugir de tudo 3,1% possuem
Hipersensibilidade emotiva, 2,1% apresentam Sensação de
incompetência em todas as áreas e 1% apresenta Impossibilidade
de trabalhar.
Foi aplicado o teste χ2 para verificar a homogeneidade
entre as respostas do grupo ostensivo e serviços internos.
No grupo ostensivo o χ2o = 12,23, mostrando que não houve
diferença significativa nas Variáveis, portanto não rejeitando
Ho (χ2c = 14,1, ngl = 7 e n.sig = 0,05). No grupo de serviços
internos o χ2o = 11,41 mostrando que não houve diferença
significativa nas Variáveis, portanto não rejeitando Ho (χ2c =
12,6, ngl = 6 e n.sig = 0,05). No total, o χ2o = 12,01
mostrando que não houve diferença significativa nas
Variáveis, portanto não rejeitando Ho (χ2c = 14,1, ngl = 7 e
n.sig = 0,05).
O cálculo de correlação de Spearman resultou em ro =
-0,45, verificando-se na comparação inter-grupo, ostensivo e
serviços internos, que não ocorreu correlação significante em
relação aos Sintomas psicológicos mais experimentados no último mês
(rc = 0,63, N = 8 e n.sig = 0,05), ou seja, as categorias não são
hierarquicamente similares nos dois conjuntos de dados.
Deve ser levado em consideração a alta incidência da
concentração perda do senso de humor tanto nos policiais
ostensivos quanto nos que realizam serviços internos,
particularmente neste casos, pode ser considerado um fator
agravante, tornando o indivíduo mais sério e incapaz de
aceitar brincadeiras. Tal situação pode influenciá-lo a tomar
atitudes impensadas, além de prejudicá-lo no relacionamento
interpessoal e familiar, acabando por aumentar as fontes
estressoras.
26/03/03, 13:30
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
Conclusão e sugestão
Nesta parte será descrita a conclusão da pesquisa e
posteriormente os autores descrevem algumas sugestões para
o alívio dos sintomas do estresse, de acordo com os recursos
disponíveis na área da fisioterapia.
Quanto à incidência de estresse na Polícia Militar, os
dados permitem chegar a conclusão de que houve diferença
significativa na concentração Não estresse, não ocorrendo
correlação significante entre os grupos de policiais ostensivos
e de serviços internos.
Com referencia aos níveis de estresse nos policiais
militares observa-se diferença significativa na concentração
fase de Resistência, não ocorrendo correlação significativa
entre os grupos de policiais ostensivos e de serviços internos.
Nos sintomas do estresse verificados, houve predominância
dos sintomas psicológicos no grupo de policiais ostensivos e
predominância de sintomas físicos no grupo de policiais de
serviços internos.
Com base nos resultados da presente pesquisa, tendo
em vista o tipo de trabalho executado pela Polícia Militar e
a seriedade dos problemas acarretados pelo estresse
excessivo, sugere-se que seja efetuado um trabalho
multidisciplinar de prevenção e tratamento do estresse.
De acordo com os sintomas do estresse mais
experimentados pelos policiais militares, ocorreu maior
incidência nas concentrações vontade súbita de iniciar novos
projetos, pensar constantemente em um só assunto e perda
do senso de humor, no que se refere aos sintomas
psicológicos. No que diz respeito aos sintomas físicos, a maior
incidência deu-se nas concentrações tensão muscular,
sensação de desgaste físico constante e insônia.
O tratamento do estresse depende da intervenção de uma
equipe multiprofissional, com objetivo inicial de aliviar os
sintomas do estresse, porém, posteriormente a causa do estresse
deve ser esclarecida. Dentro da fisioterapia os recursos mais
apropriados para os sintomas do estresse são descritos a seguir.
As técnicas de relaxamento obtêm um grande resultado
nos casos de estresse, permitindo que o organismo
reencontre a homeostase por meio da eliminação do excesso
de adrenalina, além de propiciar momentos de reflexão.
Essas técnicas devem ser introduzidas na rotina dos
indivíduos, evitando assim o acúmulo de estresse.
Os exercícios de alongamento global são indicados para
manter ou melhorar a flexibilidade, relaxar a musculatura e
diminuir a dor. Além desses exercícios, pode ser utilizada a
técnica de pompage, que libera as fáscias musculares,
promovendo relaxamento muscular, melhora da circulação
sangüínea e linfática e relaxamento psicológico.
A Ginástica laboral é outro recurso que pode ser
realizado, promovendo melhora da saúde física e mental,
por meio de um conjunto de exercícios físicos realizados
durante a jornada de trabalho.
artigo 05.pmd
115
115
As técnicas citadas anteriormente podem e devem ser
associadas a uma respiração adequada, sendo realizada de forma
lenta e profunda, com inspiração nasal e expiração oral.
A massoterapia também pode ser realizada, promovendo
estimulação dos tecidos por meio do tato, com técnicas
rítmicas e de pressão que proporcionam diminuição da dor,
relaxamento muscular e alívio da tensão.
Pode ser utilizada ainda a técnica Watsu, dentro da
hidroterapia, baseando-se na flutuação do paciente com
influência da técnica Shiatsu, que promove relaxamento
intenso. Dentro dos benefícios do Watsu, verifica-se
relaxamento muscular, diminuição das tensões, diminuição
da dor, redução do estresse e ansiedade, melhora do
humor, melhora da qualidade do sono, obtendo-se
respostas fisiológicas do corpo por meio das propriedades
físicas da água.
Logo, as atividades físicas devem sempre ser incentivadas,
pois estimula a produção de endorfina pelo organismo,
trazendo sensação de bem-estar, evitando assim o acúmulo
de estresse.
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
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26/03/03, 13:30
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
117
Artigo original
A prevalência de lombalgia em mulheres praticantes
de ginástica em academias esportivas
The prevalence of low back pain in women in physical
activity in fitness centers
Karynne Grutter Lisboa Lopes dos Santos*, Marco Antônio Guimarães da Silva**
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
*MSci., Professora das Disciplinas Anatomia Humana I e II das Universidades Castelo Branco e Estácio de Sá,
**DrSci., Professor Titular UCB/UFRRJ
Resumo
O objetivo deste estudo foi investigar a prevalência de dor lombar em freqüentadores
de ginástica em academias do Rio de Janeiro. Utilizou-se um questionário epidemiológico,
auto-aplicável, adaptado do Quebec Back Pain Disability Scale, em 300 mulheres praticantes
de ginástica, com idade média igual a 25,3 ± 8,9 anos. Foram utilizadas técnicas da
estatística descritiva, para a caracterização dos dados médios das respectivas variáveis,
as tabelas de freqüências, e técnicas da estatística inferencial, por meio de um teste não
paramétrico qui-quadrado, para uma significância de p < 0,05. Os achados apontam
que a prevalência da dor lombar atingiu 50,4% dos participantes, que varia de acordo
com a modalidade praticada (p = 0,6496), o tempo de prática (p = 0,7870), a freqüência
semanal (p = 0,0106) e diária (p = 0,4948), o manifesto da dor na ginástica (p = 9,51)
e em repouso (p = 2,54). A variável idade esteve diretamente relacionada com o estado
civil, número de filhos e número de modalidades praticadas, e nas demais questões não
apresentou significância estatística.
Palavras-chave:
Lombalgia, academias
de ginástica, promoção
da saúde.
Artigo recebido em 1 de fevereiro de 2003; aceito em 15 de fevereiro de 2003.
Endereço para correspondência: Karynne Grutter Lisboa Lopes dos Santos, Avenida General San Martin, 570/401 Leblon 22441-010 Rio de Janeiro
RJ, Tel: (21) 2259 6161/9775 1724, E-mail: [email protected]
artigo 06.pmd
117
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
118
Abstract
The aim of this study was to investigate of the prevalence of low back pain (LBP)
in physical activity in gym centers in Rio de Janeiro. A self applicable epidemiological
questionnaire, which was adapted from Quebec Back Pain Disability Scale, was applied
in 300 female in physical activity, medium age 25,3 ± 8,9. Descriptive statistic techniques
were used to caracterize the medium data values from the respective variables as well
the table of frequencies. To verify interdependence frequencies distributions observed
was used the no-parametric test Qui-square. The level of significance for this study was
chosen at p < 0,05. Results: the prevalence of LBP found was 50,4% of participants,
varying with the kind of practice (p = 0,6496), time of practice (p = 0,7870), weekly
frequency (p = 0,0106) and daily (p = 0,4948), demonstration of pain during the
practice (p = 9,51) and demonstration of pain in rest (p = 2,54). The age parameter is
directly related with the marital status, number of children and number of exercises
practiced, and did not show any statistical significance related with other questions.
Key-words:
Low back pain,
fitness centers,
health promotion.
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
Introdução
Os traumatismos produzidos diariamente ocasionam uma
série de lesões em nível do aparelho locomotor, as quais
variam de acordo com a atividade física que se realiza. Estas
lesões são múltiplas; destacando-se entre elas os desgastes
musculares, as distensões, as luxações e as fraturas [1].
As disfunções da coluna vertebral, causadoras de
incapacidades funcionais, são de alta prevalência no mundo
[2]. Destas disfunções, a lombalgia constitui um problema
de saúde importante [3]. É uma das doenças mais comuns
no mundo ocidental, afetando aproximadamente 80-85%
da população em alguma época de sua vida [4]. Em termos
funcionais, é responsável por um custo financeiro
significativo, já que o número de faltas ao trabalho nas
empresas e instituições públicas e privadas, além da
incapacidade para a vida diária, por ela provocada, atinge
elevado porcentual da população [5].
Estatísticas mundiais indicam que 60 a 80% de todos os
adultos experimentam, experimentaram ou experimentarão
lombalgia no decorrer da vida [6] Anualmente, 5% dos
adultos americanos sofrem episodicamente desta patologia,
a qual se delineia como de alta prevalência [7]. No Brasil, a
dor lombar situa-se entre as 20 queixas diagnósticas mais
comuns em adultos que procuram atendimento na rede
pública, sendo sua taxa de 15% consultas/ano [8]. É
interessante notar que a prevalência de lombalgia assemelhase em homens e mulheres [9].
Recentemente, difundiram-se métodos de ciência social e
perícias clínicas, na criação de uma série de medidas, além de
um questionário, buscando captar maior gama de resultados
artigo 06.pmd
118
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○
○
○
○
pertinentes, em pacientes com este diagnóstico [10].
A lombalgia alinha-se entre as patologias de etiologia
complexa e multifatorial [11]. Investigações referem-se a
uma diversidade de fatores geradores de disfunções na coluna
lombar, tanto de origem orgânica, quanto decorrente de
desequilíbrio osteomioarticular, ou ainda devido a ambos
os fatores [12]. Neste sentido, a dor lombar pode vir
associada a características psicossociais e comportamentais,
às atividades profissionais e extraprofissionais, discrepâncias
de membros inferiores e anormalidades das curvaturas
fisiológicas da coluna — e a capacidades físicas ou funcionais
do tronco. Resultaria, além do mais, de deslocamentos,
tensões e protusões de disco [11].
Traumas mecânicos, obesidade, tipo de ocupação e idade,
encontram-se entre os fatores de risco da lombalgia. A
atuação destes fatores sobre as estruturas que compõem a
unidade anátomo-funcional da região lombar pode provocar
processos degenerativos, gerando diversos sinais e sintomas
da doença [13].
A maioria das disfunções da coluna lombar é de origem
mecânica, e surgem provavelmente do disco intervertebral,
no jovem, e das articulações apofisárias, no idoso [4].
Considera-se que a deficiência mecânica da articulação
sacroilíaca é uma das causas de lombalgia [14], e que a
mecânica da junção lombossacral sofre alteração tanto com
o avanço da idade como em caso de sua degeneração [15].
A coluna necessita de estabilidade, que é alcançada através
de estruturas ligamentares íntegras e de uma boa
musculatura, durante seus movimentos, para que não haja
sobrecarga excessiva sobre si. A estabilidade é a habilidade
de um sistema em voltar à sua posição de equilíbrio, depois
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
de perturbações, e se acredita que este é um fator importante,
no caso de um deslocamento excessivo e súbito, para evitar
danos teciduais [16].
O disco intervertebral é o componente principal para a
estabilidade segmentária, e também a estrutura principal de
suporte de carga [17]. É uma estrutura hidrodinâmica
elástica, interposta a duas vértebras adjacentes. As nutrições
do disco (anel e núcleo) se dão por embebição: os vasos
sangüíneos aproximam-se, mas não penetram na placa
externa nem no disco. A embebição é assegurada pela
compressão e relaxamento intermitentes [18].
Estudos inferem que as lesões na coluna lombar são
problemas comuns entre atletas de alto nível e pessoas
dedicadas à prática de exercícios físicos [19]. Neste sentido,
as contusões e estiramentos musculares e ligamentares
responsabilizam-se pelas lesões de dorso mais comuns entre
os atletas; estes tipos de lesões resultam não só do impacto
de um traumatismo, mas também do excesso de carga sobre
o músculo, particularmente os da região lombar. Grandes
cargas compressivas e pequenas forças aplicadas
repetitivamente resultam em fraturas vertebrais. As fraturas
de tensão se tornaram um dos danos de overuse mais comuns
em atletas e indivíduos fisicamente ativos, ocorrendo
normalmente em associação com atividades repetitivas, como
correr e saltar [20].
As lesões desportivas, em geral, classificam-se em dois
tipos: lesão traumática aguda, que é resultante de uma
pancada ou torção devido ao deslocamento, fraturas ou
distenções; e lesão por repetição, advinda de treinamento
repetitivo e microtraumas [21]. Por outro lado,
aproximadamente metade de todas as lesões referentes às
práticas desportivas, tanto em adultos como em crianças e
adolescentes, pode ser atribuída a microtraumas repetitivos
ou ao excesso de treinamento. A etiologia destas lesões é
multifatorial, contribuindo para tanto fatores intrínsecos e
extrínsecos. Os fatores intrínsecos abrangem alinhamento
anatômico das extremidades e amplitude de movimento
articular, enquanto que os extrínsecos incluem calçados
inapropriados, superfície de treinamento inadequada e erros
nos treinos [22].
Sherman [23] considera que o exercício deveria ser
realizado, sempre que possível, em superfícies macias, pois
na infância e adolescência, as áreas de risco são governadas
pelos centros primários e secundários de ossificação, podendo
desta forma surgir lesões na forma de osteocondrose,
degeneração ou necrose, seguida por regeneração ou
recalcificação.
O osso é um tecido dinâmico que muda sua forma,
tamanho e estrutura, como resultado das demandas
mecânicas [24]. Existem evidências que demonstram o
aumento da resistência do osso em resposta à aplicação de
cargas mecânicas. O efeito piezoelétrico é um fator
importante pelo qual ocorrem deformações ósseas [25]. Os
artigo 06.pmd
119
119
osteoblastos são estimulados pela compressão óssea,
migrando e depositando-se nessas áreas, aumentando a
espessura e a resistência desse tecido pelo aumento da massa
óssea. Já os osteoclastos migram para as regiões de tração
promovendo a reabsorção óssea local [25].
O exercício físico beneficia a manutenção da integridade
do tecido ósseo. As forças colocadas no esqueleto variam
com o tipo de exercício executado. As cargas de compressão
são realizadas por atividades físicas de impacto, por descarga
de peso e por cargas exercidas pelos tendões musculares
sobre os ossos [26].
Considera-se a insuficiência muscular como um dos fatores
de risco para lombalgia [27]. Estudos provam que 80% de
todos os problemas lombares são de origem muscular, e que
os pacientes que sofrem de lombalgia crônica freqüentemente
apresentam uma musculatura lombar fraca [28].
O papel dos músculos do tronco protegendo as estruturas
espinhais contra cargas prejudiciais foi posto em relevo na
literatura. Investigações biomecânicas fundamentam o efeito
estabilizador da musculatura na coluna vertebral [29].
Músculos paravertebrais fortalecidos atingem estado de
fadiga precocemente, proporcionando proteção aos
ligamentos vertebrais durante os exercícios. Os músculos
extensores lombares destinam-se, fundamentalmente, à
manutenção da postura corporal e ao controle excêntrico
do movimento de flexão do tronco [28].
Após esta descrição dos aspectos biológicos e/ou físicos
pertinentes à etiologia da lombalgia, serão evidenciados, a
seguir, seus aspectos sociais e/ou históricos.
A relação entre atividade física e saúde tem sido exaltada
ao longo dos séculos através das contribuições de diversos
autores [30]. Alguns deles definem a atividade física como
qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos
esqueléticos resultando em gasto energético, sem preocupar-se
com a magnitude desse gasto de energia. Os referidos estudiosos
diferenciam atividade física e exercício físico, a partir da
intencionalidade do movimento. Consideram que o exercício
físico é um subgrupo das atividades físicas, porque ele é
planejado, estruturado e repetitivo, tendo como propósito a
manutenção ou a otimização do condicionamento físico [31].
A prática de atividade física contribui como parte
integrante para o desenvolvimento do ser humano. Por meio
da educação física, dos jogos e dos esportes, cada indivíduo
utiliza e desenvolve o seu físico e a sua motricidade, o que
atua direta e/ou indiretamente nos aspectos motor, afetivo
e cognitivo [32].
É importante que exista uma conscientização sobre o
prolongamento da expectativa de vida através da mudança
de estilos de vida no tocante aos hábitos alimentares e à
prática de atividades físicas orientadas, minimizando, deste
modo, o surgimento de doenças e promovendo uma
melhoria nas condições de saúde. Segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), saúde é o bem estar físico, mental
26/03/03, 13:30
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
120
e social e não simplesmente a ausência de doença ou de
enfermidade [33].
Campello et al. especificam que, enquanto há evidências
sugerindo que os exercícios são, em geral, benéficos à
lombalgia, há, por outro lado, uma falta de conhecimento
sobre seus tipos, freqüência e duração a serem prescritos
na fase de dano na qual seriam eficazes. É possível definir o
exercício como uma série de movimentos específicos, com
a finalidade de treinar ou desenvolver o corpo através da
prática sistemática, ou como um esforço para a promoção
de saúde física [34].
A prescrição do exercício inclui avaliação médica, análise
da freqüência e intensidade do treinamento, duração do
exercício e a modalidade praticada [35]. Em relação a este
último item, considera-se que várias são as opções de quem
busca uma atividade física, entre elas a de freqüentar as
academias de ginástica. Levando em conta as inúmeras
alternativas que uma academia oferece, sem dúvida a
atividade da ginástica é a mais comum e a mais antiga [36].
Na cidade do Rio de Janeiro, o maior número de
academias vincula-se às atividades de ginástica [36]. Por outro
lado, o aumento do número de alunos nestas instituições,
elevando proporcionalmente a sobrecarga que a ginástica é
capaz de causar à região lombar da coluna vertebral, alia-se
a falta de literatura sobre o tema, o que torna necessário
um levantamento epidemiológico. Tal levantamento
identificaria a prevalência de lombalgia em ginastas e
ofereceria substrato, para programas de prevenção, a saúde
e qualidade de vida desta classe.
Portanto, o objetivo geral deste estudo é identificar a
prevalência de lombalgia em mulheres praticantes de ginástica
em academia, na Zona Oeste do Rio de Janeiro e demonstrar
a correlação entre dor lombar e a prática dessa atividade.
Isto com o propósito de investigar a relação entre dor lombar
e atividade física, objetivando, no futuro, a elaboração de
um programa de educação para saúde. Este programa visaria
o bem estar físico, social e psicológico das praticantes,
buscando maior interação entre corpo-mundo.
Material e métodos
O universo de estudo foi composto por praticantes de
ginástica do sexo feminino, pois as mulheres constituem o
maior público nesta atividade. A amostra contou com
trezentas (300) participantes de academias, com idade média
igual 25,3 ± 8,9 anos, escolhidas aleatoriamente na Zona
Oeste do Rio de Janeiro. Acrescenta-se que se excluiram
mulheres que executavam atividades físicas diversas das
modalidades de ginástica abordadas no questionário
(localizada, step training, aeróbica, body pump), e que estivessem
se submetendo a algum tipo de tratamento para a dor lombar.
Metodologicamente, este estudo se caracteriza como
sendo de prevalência ou estudo de corte transversal.
artigo 06.pmd
120
Como instrumentação aplicou-se um questionário
epidemiológico, auto-aplicável, adaptado do Quebec Back Pain
Disability Scale. Deu-se ênfase às perguntas sobre a dor lombar
e também sobre outros dados, tais como idade, sexo, estado
civil, profissão e descrição da atividade física (ginástica).
Todas as questões foram fechadas, porém algumas
continham ítens para serem especificados, como por
exemplo: “De que maneira a dor se manifesta em atividade
ou repouso, e em qual (is) movimento (s) e em qual (is)
posição (ões), respectivamente”?
O questionário Quebec Back Pain Disability Scale,
devidamente validado, sofreu pequenos reajustes,
especialmente quanto às perguntas sobre dor lombar.
Também excluiram-se dados como hábitos pessoais e fatores
individuais (fumo, álcool, atividade física extra, sono), fatos
psicológicos e psicossociais (perfil de personalidade, relações
afetivas com amigos e família).
Os questionários foram distribuídos e recolhidos pela
autora do estudo, com o intuito de atender aos objetivos da
pesquisa. Explicou-se, de modo geral, em que consistia o
estudo, esclarecendo sua importância em benefício das
próprias pesquisadas. Sendo assim, as alunas aceitaram
participar, respondendo as perguntas do instrumento.
Solicitou-se às alunas que se concentrassem na região lombar,
a fim de responder as questões, ignorando as outras partes
do corpo.
O presente estudo observou o tratamento estatístico que
se apresenta a seguir, e que homologa a cientificidade da
pesquisa, denotando o nível de significância de p < 0,05,
isto é, 95% de certeza nas afirmativas e/ou negativas.
O tratamento estatístico foi constituído de duas partes:
a primeira relativa à estatística descritiva, na qual se estudaram
as distribuições de freqüências para os dados de natureza
discreta, que significa os que, obedecem ao sistema de
contagem, de acordo com o processo específico de
classificação; incluem-se ainda os dados de tipo contínuo,
ou seja, aqueles que obedecem a um sistema métrico bem
definido, empregando-se os parâmetros de média, desviopadrão, mínimo e máximo.
A segunda parte refere-se à estatística inferencial, por
intermédio do qual aplicaram testes de hipóteses. Para tanto,
se utilizou o teste não paramétrico Qui-Quadrado, e através
dele fez-se a análise comparativa entre as distribuições de
freqüências, derivadas dos cruzamentos entre as questões
levantadas e as respectivas variáveis discricionárias (faixa
etária e presença de dor).
Resultados
Os achados sugerem que a prevalência da dor lombar
atingiu 50,4% dos participantes, que varia de acordo com a
modalidade praticada (p = 0,6496), o tempo de prática (p =
0,7870), a freqüência semanal (p = 0,0106) e a diária (p =
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
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0,4948), o manifesto da dor na ginástica (p = 9,51) e o
manifesto da dor em repouso (p = 2,54). A variável idade
está diretamente relacionada com o estado civil, número de
filhos e número de modalidades praticadas. Nas demais
questões, esta variável não apresentou relação de
dependência significativa (p < 0,05).
Tabela I – Descrição das variáveis e parâmetros.
Parâmetro Descrição
P1.3
P1.4
P2.1
P2.2
P2.3A
P2.3B
P2.4
P2.5
P2.6
P2.7
P3.1
P3.2
P3.3
P3.4
P3.5
P3.6A
P3.6B
P3.7A
P3.7B
P3.8
P3.9
P3.10
P3.11
Estado civil
Número de filhos
Modalidade praticada
Tempo de prática
Freqüência semanal
Horas aula por dia
Aquecimento
Tempo de aquecimento
Alongamento
Recurso material
Dor lombar
Dor associada a trauma ou doença
Freqüência da dor
Nível da dor
Dor antes do início da prática de ginástica
Manifestação da dor na ginástica
Manifestação da dor em repouso
Redução da atividade de ginástica (12 meses) em função da dor
Redução de outras atividades (12 meses) em função da dor
Tempo de impedimento para realizar atividades
Procura médica em função da dor lombar
Ocorrência da dor nos últimos 7 dias
Faz algum tratamento
Discussão
A prevalência de dor lombar em praticantes de ginástica
de academia, expressa nesta pesquisa, chegou a 50,4%. Neste
tipo de atividade, a prevalência é alta, quando comparadas
com outras como as do basquetebol, 11 a 12%, voleibol,
11%, golfe, 10%, corrida, 5%, tênis, 50% e futebol, 30%
[1]. As atividades de alto impacto, como as corridas, a dança
aeróbica e o basquetebol, correlacionadas às grandes forças
de compressão aplicadas sobre a coluna, podem precipitar
ou agravar os problemas lombares [28].
Para a pergunta se a etiologia da dor lombar, deriva de
algum trauma ou de doença que a ela se associa, a resposta
“não” (82,9%), indica maior frequência. Para a questão sobre
a dor lombar, antes do início da prática da ginástica, a mais
alta frequência é “sim” (59,5%). Os resultados embasam os
achados de Iversen [11], ao expor que a lombalgia se coloca
entre as patologias de etiologia complexa e multifatorial. Neste
sentido, Wilson et al. arrematam, com base na contribuição
de vários autores, que a etiologia da lombalgia raramente
será determinada com confiabilidade, em função da
diversidade de fatores que a desencadeiam [2].
A manifestação da dor na ginástica expressou a maior
freqüência em “sim” (52,7%), indicando ao encontro da
opinião de Costa [3], que alega que alguns exercícios próprios
da ginástica são considerados polêmicos, a propósito de seus
efeitos benéficos para a saúde, conforme se verá nas citações
a seguir.
É comum a prática de exercícios de inclinação lateral de
tronco na posição ortostática. Jucá [4] indica que os
Tabela II – Resultados da estatística inferencial, segundo o teste qui-quadrado por faixa etária.
Questão
Qui-quad
G.l.
Sig. p
Resultado
Análise
P1.3
P1.4
P2.1
P2.2
P2.3A
P2.3B
P2.4
P2.5
P2.6
P2.7
P3.1
P3.2
P3.3
P3.4
P3.5
P3.6A
P3.6B
P3.7A
P3.7B
P3.8
P3.9
P3.10
P3.11
111,23
38,35
42,52
10,82
12,70
13,99
0,30
5,93
7,18
2,91
1,41
4,02
5,42
0,95
0,91
5,29
2,36
1,12
0,00
4,25
2,84
2,17
2,08
6
6
12
8
14
12
2
6
8
4
2
2
6
6
2
2
2
2
2
6
2
2
2
3,01E-19
6,49E-06
2,72E-05
0,212108
0,55027
0,301347
0,860708
0,431077
0,517343
0,572998
0,494109
0,133989
0,491178
0,987437
0,634448
0,071005
0,307279
0,571209
1
0,642885
0,241714
0,337902
0,353455
Dependentes
Dependentes
Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Mais jovem: maior concentração de solteiras
Mais jovem: menor número de filhos
Mais jovem: maior número de modalidades
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
artigo 06.pmd
121
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Tabela III – Dor lombar
Questão
Qui-quad
G.l.
Sig. p
Resultado
Análise
P1.3
P1.4
P2.1
P2.2
P2.3A
P2.3B
P2.4
P2.5
P2.6
P2.7
P3.2
P3.3
P3.4
P3.5
P3.6A
P3.6B
P3.7A
P3.7B
P3.8
P3.9
P3.10
P3.11
2,99
2,90
4,20
1,72
18,32
5,39
0,03
3,27
4,50
1,00
2,41
227,14
190,70
82,62
64,53
67,13
10,15
10,89
38,87
39,81
51,07
2,51
5
4
6
4
7
6
1
3
4
2
1
3
3
1
1
1
1
1
3
1
1
1
0,701528
0,574697
0,649631
0,787081
0,010607
0,49485
0,86249
0,35184
0,342547
0,606531
0,120562
5,74E-49
4,31E-41
9,94E-20
9,51E-16
2,54E-16
0,001443
0,000967
1,85E-08
2,8E-10
8,91E-13
0,113126
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Não Dependentes
Dependentes
Dependentes
Dependentes
Dependentes
Dependentes
Dependentes
Dependentes
Dependentes
Dependentes
Dependentes
Não Dependentes
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Sim mais disperso que Não
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Iguais
Não maior concentração em
Não maior concentração em
Não maior concentração em
Não maior concentração em
Não maior concentração em
Não maior concentração em
Não maior concentração em
Não maior concentração em
Não maior concentração em
Não maior concentração em
Iguais
movimentos destes exercícios provocam a deteriorização
dos discos intervertebrais por microtraumas repetitivos; daí
resulta o rompimento das fibras do anel fibroso. Na flexão
anterior do tronco, a partir da posição de pé, com sobrecarga
em membros superiores, ocorre uma sobrecarga assimétrica
sobre o disco intervertebral, comprimindo uma de suas
extremidades, ao empurrar o núcleo pulposo para o lado
oposto da compressão.
As sobrecargas assimétricas provocam pressão maior que
as simétricas. Da mesma maneira, ao levantar-se objetos
pesados, nota-se um aumento da pressão no disco
intervertebral, o núcleo pulposo torna-se capaz de romper o
anel fibroso, resultando deste processo a hérnia de disco [5].
O agachamento tradicional se aplica em larga escala nas
aulas de ginástica localizada, visando ao fortalecimento
muscular de membros inferiores. A atitude postural, adquirida
durante a execução do exercício de agachamento com
sobrecarga, aumenta significativamente a pressão no
momento final, sobretudo nas execuções incorretas, devido
à flexão do tronco acentuada, acarretando um maior
momento de força. A sobrecarga axial se reflete na pressão
intradiscal e na musculatura paravertebral [6].
Nos exercícios abdominais, o movimento de flexão
completa do tronco ativa a função paradoxal do músculo
íliopsoas, de flexor do quadril para extensor da coluna lombar
[7]. Quando o psoas se contrai, ele se une ao ilíaco na flexão
da articulação do quadril e tende a tracionar as vértebras
lombares, numa direção anterior e inferior. Por seu turno,
se os músculos abdominais se contraírem simultaneamente,
evita-se a inclinação da pelve para frente e ocorre a flexão
lombar, a flexão do quadril, ou ambas. Mas se os abdominais
são fracos, a pelve se inclina para frente, sob a influência do
artigo 06.pmd
122
A
A
Não
Não
Não
Não
Não
A
Não
Não
ilíaco, enquanto ocorre a extensão lombar [8]. Neste sentido,
assinala-se que as diferentes posições assumidas por um
indivíduo e os diferentes exercícios para os membros
superiores proporcionam diferentes sobrecargas nos discos
intervertebrais. A curvatura lombar se acentua, ao utilizarem
altas cargas de trabalho para membros superiores,
especialmente quando estes se encontram elevados acima
da cabeça.
Além disso, os movimentos de flexão de braço e glúteos
em “quatro apoios”, em função das altas intensidades de
trabalho exigidas e da grande incidência de execuções
inadequadas, podem resultar em uma postura hiperlordótica
da região lombar.
Captou-se no trabalho em questão que a dor lombar
pode manifestar-se, independente de se estar ou não em
movimento: as respondentes com dor lombar em repouso
chegam a 51,6%, aproximando-se daquelas em movimento,
com 52,7% do total pesquisado.
De acordo com De Luca [9], diferentes fatores
prejudicariam a coluna, entre os quais, prolongadas posturas
estáticas. De Vitta [13] testemunhou os dados da presente
pesquisa por meio de um levantamento bibliográfico,
elaborado de 1988 a 1992, em que enquadrou algumas
situações cotidianas, entre as quais, a manutenção da postura
sentada ou em pé por períodos prolongados, como
agressoras das estruturas músculo-esqueléticas da coluna
lombar e, conseqüentemente, consideradas como fatores
determinantes da lombalgia.
As freqüências concernentes à manifestação da dor
distribuem-se entre os itens “semanal” (45,9%), “mensal”
(29,3%) e “diária” (21,8%), articulando-se com o
pensamento de Da Silva [10], ao explicitarem que a dor
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
lombar é classificada em aguda ou crônica.
Esses resultados se amparam na observação de que a
lombalgia crônica vem acompanhada de sintomas contínuos,
durante mais de sete semanas [6]. Ademais, supôs-se 12
semanas como a duração apropriada para a cronicidade da
referida patologia na população geral. Já os episódios agudos
de lombalgia tendem a melhorar em algumas semanas [11].
As maiores freqüências relativas às questões: intensidade
da dor (“moderada” 56,8%), redução da atividade de
ginástica 12 meses em função da dor (“não” 72,6%), redução
de outras atividades 12 meses em função da dor (“não”
69,7%), tempo de impedimento para realizar atividades (“0
dias” 66,9%), procura médica em função da dor (“não”
71,3%), ocorrência da dor nos últimos 7 dias (“não” 62,0%),
e realização de algum tratamento (“não” 90,7%),
testemunham uma relação de proporcionalidade: a dor é
tolerável, não causando restrições à prática da ginástica.
Esses resultados divergem da literatura consultada.
Segundo Mella [2], por exemplo, existe uma alta prevalência,
no mundo, de disfunções da coluna vertebral produtoras de
incapacidades funcionais. De Luca [45] também discorda
dos achados da presente pesquisa: atesta que a lombalgia
promove congestionamento dos serviços médicos e
afastamento dos pacientes das atividades profissionais.
Conclusões
A lombalgia, na maior parte dos países, tem ocasionado
um grande interesse e desafio para especialistas no assunto,
não só na busca de um maior entendimento, mas também
de soluções terapêuticas para o seu tratamento.
Reiterando-se mais uma vez a grande prevalência da
lombalgia na população em geral, urge que sua prevenção
constitua uma estratégia primordial de inter venção
terapêutica. Sua etiologia complexa e multifatorial preocupa
sobremaneira o setor da saúde, cada vez mais empenhado
em chegar a um diagnóstico preciso. Sobre ela, alinham-se
entre as que molestam atletas de alto nível e pessoas
dedicadas à prática de atividades físicas.
Embora seja de conhecimento geral que os exercícios
físicos produzem bons efeitos na aptidão física e na saúde,
as possíveis lesões causadas por estas atividades arriscam-se
a se elevar. Alguns parâmetros de exercícios, como a
intensidade, duração e freqüência, que determinam efeitos
de aptidão e saúde de treinamento físico, também parecem
influenciar nos riscos de lesão.
A constatação de que o número de academias, em todo
o Brasil, tem crescido de forma impressionante só vem
incentivar e respaldar a necessidade do embasamento
científico aos profissionais que atuam nessa área. É de suma
relevância que se estabeleçam, de forma adequada e refletida,
os objetivos e a filosofia de trabalho, a bem do planejamento
inteligente quanto ao treinamento, visando uma ótima
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123
123
perfor mance, onde a saúde e a estética convivam
harmoniosamente.
As trocas de métodos, as diferenças nas propostas de
planejamento, ou ainda, as reformulações constantes nos
objetivos, indicam mais uma transformação por “ensaio e erro”
do que uma mudança metodológica, sistemática e consciente,
a partir de um desenvolvimento cientificamente organizado.
Em vista disto, considera-se procedimento inadiável que a
intensidade da atividade física seja dosada segundo cada faixa
etária, e que o fator individualidade biológica deva presentificarse com nitidez em qualquer programa de atividade física.
Os resultados aqui arrolados demandam estudos futuros
que demonstrem a ocorrência de outros tipos de lesões na
ginástica de academia, e a necessidade de se criar um
protocolo de exercícios de fácil realização e aplicação, a fim
de que os próprios professores possam transmiti-los a seus
alunos, diminuindo assim a ocorrência da lombalgia e o
abandono da prática desportiva, devido a elas.
Ao prescreverem-se as atividades físicas de maneira
adequada e segura, recomenda-se, inicialmente, conhecer
as condições atuais de saúde e condicionamento físico de
cada indivíduo. Assim, os alunos devem submeter-se às
avaliações médica e física, estabelecendo, assim, a intensidade
do treinamento, a duração do exercício e a modalidade.
Repete-se: é sumamente aconselhável que a elaboração de
programas educativos, tanto de prevenção, quanto contra a
recorrência da lombalgia, através da atividade física, se direcione
no sentido de desencadear conhecimentos, atitudes e
comportamentos compatíveis com uma dinâmica social
fisicamente ativa e desenvolvida, no cotidiano de vida, ao longo
da existência das pessoas, independente da sua área de atuação.
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Revisão
Movimento na água
Movement in water
Fátima Caromano*, Maiza Ritomy Ide**
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Este artigo é o terceiro e o último de uma serie de 3 artigos. Os 2 primeiros artigos foram publicados nas edições de nov/dez de 2002 e jan/fev de 2003.
Palavras-chave:
Hidroterapia,
equilíbrio,
movimento.
Resumo
Esta revisão vem completar o conteúdo referente a fundamentos da hidroterapia
(aspectos físicos da hidroterapia e efeitos fisiológicos da imersão e do exercício na água)
e enfoca o estudo do movimento em meio aquoso, o que inclui o equilíbrio como um
primeiro passo no treinamento do movimento em meio aquoso.
Key-words:
Hydrotherapy,
equilibrium,
movement.
Abstract
This revision comes to complete the content regarding hydrotherapy principles
(physical aspects of hydrotherapy and physiologic effects of immersion and exercise in
water) and it focuses the study on the action in water environment, what it includes the
balance as a first step in movement training in water environment.
Artigo recebido em 1 de setembro de 2002; aceito em 1 de outubro de 2002.
Endereço para correspondência: LAFI-REACOM (Laboratório de Fisioterapia e reatividade Comportamental), Rua Cipotânea, 51 – Cidade
Universitária da USP, Campus São Paulo - Curso de Fisioterapia da FMUSP 05360-000 São Paulo SP.
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Introdução
Posturas de equilíbrio e tipos de movimentos
O somatório de determinados movimentos, ocorrendo
concomitante e seqüencialmente, caracterizam algumas
atividades que são importantes no processo de reeducação
funcional: caminhada, corrida, salto, movimentos funcionais
de membros superiores, inferiores e tronco.
Manter o equilíbrio em imersão é o ponto de partida
para um movimento controlado na água. Compreender os
mecanismos do equilíbrio e as forças que agem neste
momento são importantes para elaborar o início de um
movimento suave e preciso. Apesar do potencial de
desequilíbrio ser muito maior neste meio, várias posturas
oferecem equilíbrio no meio aquoso.
O domínio do meio aquático também é facilitado com
auxílio dos movimentos básicos de natação, principalmente
com crianças e idosos em busca de reeducação funcional.
Considera-se ainda a importante influência que os
acessórios utilizados podem exercer ao modificar as forças
atuantes durante um determinado movimento, auxiliando
ou inibindo a ocorrência dos mesmos.
Nesse texto, o objetivo é explorar o equilíbrio, o
movimento e os diferentes tipos de movimentos de um
corpo imerso na água, de acordo com os princípios físicos
da água e biomecânicos do corpo imerso.
O conceito de equilíbrio em biomecânica está associado à
idéia de corpo em postura estável. Do ponto de vista mecânico,
diz-se que um corpo está em equilíbrio quando diversas forças
que agem sobre o corpo estão em direções opostas e se anulam,
isto é, as forças se igualam em intensidade e se opõem na
direção. É necessário a aplicação de uma força ou ocorrer o
desequilíbrio de forças responsáveis pelo desequilíbrio do corpo
para que haja movimento.
Em terra, a resistência ao movimento, por exemplo, corrida
é oferecida pelo ar. Esta resistência é chamada de resistência
de atrito. No meio líquido a resistência é oferecida pela água.
A resistência pode variar, pois, segundo Fracarolli [1]:
1. A resistência de atrito é proporcional ao quadrado da
velocidade.
2. A resistência de atrito soma-se à resistência residual,
que depende da forma do corpo, ondas, esteiras, velocidade
do fluxo de água, densidade do líquido, etc.
Aspectos biomecânicos do movimento
Um corpo é dito em movimento quando ocupa posições
sucessivas no espaço. Como o espaço é infinito,
determinam-se pontos de referência no corpo ou perto
deste, para poderem realizar-se análises posteriores. A
trajetória é o caminho percorrido pelo corpo em
movimento. De forma geral, o corpo pode deslocar-se de
três formas diferentes, quanto à trajetória [1,2]:
1. Pelo movimento de translação, quando todos os
pontos descrevem trajetórias paralelas.
2. Pelo movimento de rotação, quando todos os pontos
giram em torno de um eixo, percorrendo arcos de círculo.
3. Pelo movimento helicoidal, quando os dois tipos de
trajetórias citadas anteriormente ocorrem simultaneamente.
Para análise do movimento considera-se força como a
causa (produtor ou modificador) do movimento.
Fracarolli [1] define mecânica como a ciência que estuda
as forças nas suas combinações e condições de equilíbrio e o
movimento nas suas causas e modificações. Duas áreas da
mecânica são importantes na análise do corpo em equilíbrio
e em movimento: a estática, que estuda as forças em suas
intensidade e direções, mantendo o corpo em equilíbrio e a
dinâmica, que estuda o movimento e as forças que o
determinam. A biomecânica estuda a mecânica do corpo
humano em equilíbrio e em movimento, seja este movimento
segmentar, de um conjunto de segmentos ou do corpo inteiro.
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127
Equilíbrio na água
Prover a estabilidade do paciente dentro da água é critico
para o fisioterapeuta, pois a partir desse passo estabelece-se
um vínculo de confiança [3].
Campion [4] descreve quatro posições utilizadas com
freqüência (da mais estável para mais instável): bola, cubo,
triângulo e bastão (Fig. 1).
A posição de bola é a posição inicial para prover
segurança e preparar o paciente para as outras. É a única
que depende do terapeuta.
Na posição de bastão, cubo e triângulo, somente uma
parte do corpo fica submersa. Tais posições também podem
ser utilizadas pelo terapeuta para melhorar sua estabilidade
durante o trabalho.
Na posição de cubo, o paciente submerge parte do corpo
e assume uma postura sentada com os braços estendidos à
frente do corpo, logo abaixo do nível da água. No início do
treinamento o paciente pode ser mantido sentado sobre o
joelho fletido do terapeuta.
Fig. 1 - Diferentes posturas em imersão. Da esquerda para direita temos:
posições de bola, cubo, triângulo e bastão.
As posições de triângulo e bastão podem ser realizadas
em supino ou na posição vertical em ortostatismo. A
diferença entre as duas posições é o tamanho da base de
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sustentação, alargada no triângulo, o que confere maior
estabilidade aos desequilíbrios látero-laterais. A instabilidade
da posição bastão permite que desequilíbrios mínimos
fornecidos pela água sejam repassados ao corpo em imersão,
provocando transtornos tanto no sentido ântero-posterior
quanto no látero-lateral.
O treino de equilíbrio na água em bipedestação oferece
variadas possibilidades de progressão, através da diminuição
do nível de imersão do corpo, o que reduz a porcentagem
de peso corporal sustentado pela flutuação, ou produção de
turbulência ao redor do paciente, entre outras.
O equilíbrio deve ser treinado também em decúbito dorsal
(em hidroterapia, costuma-se denominar tal decúbito como
“supino”), na tentativa de adquirir a livre flutuação. O treino
pode começar com suporte efetivo do terapeuta e prosseguir
com a utilização de estímulos em regiões anatômicas delimitadas
(denominados no método de Halliwick como pontos de Voiter)
que desencadeiam reajustes corporais específicos [5] (Fig. 2).
Um exemplo que ilustra os movimentos de rotação e
contra-rotação na água é dado por um paciente flutuando
na posição supina que eleva sua mão esquerda fora do nível
da água e tem seu corpo rodado homo-lateralmente. Explica-
Fig. 3 - Movimentos de rotação/contra-rotação, durante a imersão
se tal movimento ao deduzir que o peso do corpo aumentou
no lado esquerdo do corpo, visto que a flutuação já não
fornece mais suporte para a mão esquerda. O suporte
bilateral pelos tornozelos ou pernas inibiria tal rotação.
Análise dos movimentos em meio líquido
Fig. 2 - Pontos para controle do equilíbrio e movimento do corpo imerso em
decúbito dorsal (supino).
Com a utilização dos pontos de Voiter, torna-se relativamente
fácil estabilizar o paciente flutuando em prono. No entanto, outro
problema a ser enfrentado é a rotação do corpo, que ocorre a
partir de pequenos movimentos principalmente da cabeça,
membros ou pelve, decorrente da presença de momentos de
força causados pelo desequilíbrio entre o centro de flutuação e
gravidade. Pode ocorrer de três formas [5] (Fig. 3):
1. Rotação vertical, que ocorre em torno do eixo
horizontal que passa pela pelve. Tal rotação tem controle
mais fácil, por correr através de um eixo longo.
2. Rotação lateral, em torno do eixo vertical. Por ocorrer
através de um eixo curto, tem seu início facilitado. Se a rotação
do corpo em livre flutuação for superior a 18°, já não é mais
possível retornar a posição inicial passivamente, sem a execução
de movimentos que funcionem como contra-rotadores.
3. Rotação combinada dos dois movimentos descritos
anteriormente.
A compreensão dos mecanismos de desequilíbrio
capacita o terapeuta a compreender o movimento contrário
a ser realizado, com o objetivo de retornar a posição de
equilíbrio (rotação/contra-rotação).
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128
O desequilíbrio pode ser voluntariamente provocado
principalmente visando mudança de postura, tanto a partir
da bipedestação quanto nos decúbitos. Provocar
desequilíbrios e ensinar o autocontrole auxilia o paciente a
obter maior controle sobre seu corpo no meio aquático.
Os movimentos na água são geralmente associados ao
objetivo terapêutico, que varia desde a normalização de
amplitudes de movimento, força e tônus muscular, melhora
no condicionamento físico até a deambulação. A forma de
execução do movimento está relacionada com o objetivo a
ser atingido e também com possíveis alterações físicas do
paciente, decorrentes ou não de processos patológicos. Cabe
ao terapeuta analisar os fatores modificadores do equilíbrio e
maneiras de alterá-los de modo a produzir o movimento
desejado, de maneira seqüencial e controlada.
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Revisão
Propriedades físicas e transporte do muco respiratório
Physical properties and transport of respiratory mucus
Renata Claudia Zanchet
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Fisioterapeuta, MSc., Curso de Fisioterapia – Universidade Católica de Brasília (UCB), Brasília – DF
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo apresentar aspectos básicos do transporte do
muco por ação ciliar e por tosse. Para isto, são apresentados, além dos mecanismos de
transporte do muco, as formas de coleta do muco, sua composição e suas principais
propriedades físicas, com seus respectivos métodos de estudo.
Palavras-chave:
Depuração mucociliar,
tosse, reologia, muco.
Key-words:
Mucociliary clearance, cough,
rheology, mucus.
Abstract
This work presents basic aspects of mucus transport by cilius and cough action. It
presents types of mucus collection, composition, principal physical properties and methods
of study.
Artigo recebido em 1 de dezembro de 2002; aprovado em 15 de fevereiro de 2003.
Endereço para correspondência: Renata Claudia Zanchet, Curso de Fisioterapia. Universidade Católica de Brasília – UCB, QS 07. Lote 01, Águas
Claras 72022-900 Taguatinga DF, Tel: (61) 356 9205, Fax: (61) 356 3010, E-mail: [email protected]
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130
Introdução
As propriedades físicas do muco
O muco e os cílios constituem o sistema mucociliar,
cuja função primordial é a defesa das vias aéreas e
pulmões.
Na árvore traqueobrônquica, o sistema mucociliar é
formado pelo epitélio de revestimento de superfície do
tipo pseudo-estratificado cilíndrico ciliado e pelo muco,
o qual é produzido por células caliciformes, situadas no
epitélio, e por células serosas e mucosas, localizadas nas
glândulas da submucosa de traquéia e brônquios [1].
Em indivíduos normais, o muco recobre o epitélio
traqueobrônquico, formando uma película de dois a cinco
micrômetros de espessura, que protege o epitélio contra
gases tóxicos e oxidantes, além de transportar as partículas
nela depositadas [2]. Esta última função depende da ação
dos cílios, que em condições normais proporcionam um
equilíbrio entre a produção e a eliminação do muco [3,4].
No entanto, na presença de doenças hipersecretivas, que
cursam com a hipertrofia e hiperplasia das células
produtoras de muco, como na bronquite crônica, fibrose
cística e bronquiectasia, torna-se necessária a ação da
tosse para eliminar o excesso de muco das vias aéreas
[3,5,6].
O objetivo deste artigo é focalizar os mecanismos de
transporte do muco, assim como as principais propriedades
físicas relacionadas a este transporte.
Dentre as propriedades físicas ou reológicas do muco,
estão a viscosidade, a elasticidade, a adesividade, a spinnability
e a dispersibilidade ou wettability.
A elasticidade é conceituada como a capacidade de
deformação e armazenamento de energia pelo muco, em
resposta a uma força aplicada, enquanto que a viscosidade
é tida como o deslocamento do muco também em resposta
à força aplicada, mas com perda de energia [15]. Estas duas
propriedades podem ser medidas por diferentes modelos
de reômetros. O microreômetro magnético é um aparelho
apropriado porque exige pequena quantidade de muco para
mensurar a viscoelasticidade.
A adesividade é a força necessária para separar duas
superfícies inicialmente aderidas e pode ser avaliada pelo
método do anel de platina [16].
A wettability, medida pelo ângulo de adesão ou ângulo de
contato, expressa a capacidade do muco de se espalhar, ou
a conformação adquirida, quando colocado sobre uma
superfície plana [5]. A tradução purista desta palavra seria
umidecibilidade, que indica somente o grau de umidade do
muco. Como esta propriedade é influenciada por todos os
componentes do muco, sugerimos que seja usado o termo
dispersibilidade, que expressa melhor o significado da
propriedade. Em termos de análise, quando observamos
um elevado ângulo de adesão, significa que o muco apresenta
uma baixa dispersibilidade (wettability).
O ângulo de adesão (è) e a tensão superficial do muco
(ãLV) podem ser utilizados para o cálculo do trabalho de
adesão entre o muco e a superfície sólida: Wad = γLV (1 +
cos θ) [5].
A spinnability, medida pelo filancemeter, expressa a
capacidade do muco formar fios, sem que haja rompimento
deste, perante uma força de tração [17]. Esta propriedade
prediz o grau de coesão inter-molecular.
A coleta do muco
Para que as propriedades físico-químicas e o transporte
do muco humano traqueobrônquico sejam estudados,
existem diferentes métodos de coleta.
A expectoração é uma forma de coleta não-invasiva,
cujo produto é o escarro, conceituado como a matéria
expelida pela boca, consistindo em secreções da árvore
respiratória misturada com saliva [7]. Esta é uma forma
de coleta amplamente utilizada na prática clínica. Porém,
sempre se considerou que o muco expectorado pode ser
contaminado por componentes de descamação epitelial
e saliva, que poderiam alterar suas propriedades físicoquímicas [8]. A despeito desta hipótese, Gastaldi [9]
demonstrou que não existe diferença entre o transporte
do muco expectorado e aquele coletado por
broncoscopia.
A coleta não-invasiva do muco em indivíduos
“normais”, ou seja, indivíduos sem doença pulmonar,
apresenta limitações, uma vez que estes não produzem
quantidade de muco suficiente para a expectoração. Neste
caso, utilizam-se métodos invasivos, como a broncoscopia
[10,11] ou a raspagem do tubo endotraqueal após
anestesia geral, quando o indivíduo sem doença pulmonar,
submetido à cirurgia extratorácica, é extubado [12,13,14].
artigo 08.pmd
130
A relação entre a composição do muco e suas
propriedades físicas
O muco normal é constituído por cerca de 95% de água
e os outros 5% apresentam, entre outras substâncias,
proteínas, glicoproteínas, lipídeos, íons e um pequeno número
de células de defesa [2].
O principal determinante das propriedades físicas do
muco é o arranjo espacial das moléculas de glicoproteínas,
que são formadas por um filamento protéico, no qual estão
acopladas pequenas cadeias laterais de polissacarídeos [5,18].
Por outro lado, o muco purulento, por ser parte integrante
de um processo inflamatório e/ou infeccioso, é mais
complexo e heterogêneo. Apresenta um elevado número de
glicoproteínas mucosas e serosas, células de defesa, bactérias
e enzimas. Além disso, também são encontradas quantidades
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significativas de DNA (ácido desoxirribonucléico), derivado
da destruição de bactérias e células de defesa, principalmente
leucócitos [19].
Em termos reológicos, o muco purulento, quando
comparado com o muco não-purulento, é menos elástico
[20] e mais viscoso [20,21]. Além disto, o muco purulento
apresenta menor adesividade [5] e dispersibilidade [14,21]
que o muco não-purulento.
O transporte do muco
O estudo do transporte do muco, por ação ciliar e por
tosse, pode ser realizado tanto in vivo, como in vitro. A
vantagem dos métodos in vitro está em permitir o isolamento
das variáveis que se deseja estudar. Consegue-se, então,
avaliar o epitélio ciliar, as propriedades físico-químicas do
muco e o seu transporte como variáveis independentes, o
que não é possível in vivo.
Dessa forma, o transporte do muco pelo sistema ciliar
pode ser avaliado in vitro, por meio do método do palato
isolado de rã, amplamente utilizado devido à semelhança
estrutural com o epitélio ciliar dos mamíferos [6, 20], à
facilidade de manuseio [20], à preservação da atividade ciliar,
mesmo após o esgotamento do muco [16], além de
apresentar correlação positiva com o transporte muco-ciliar
do trato respiratório de humanos [22] e cães [23]. Mais
recentemente surgiram trabalhos que utilizam a traquéia de
boi como método de estudo [4].
O transporte mucociliar é favorecido pela baixa
relação viscosidade/elasticidade e por uma baixa
impedância total, que é a soma da viscosidade e da
elasticidade [11]. Deste modo, para que haja um
transporte mucociliar eficiente, a viscosidade deve estar
entre 1000 e 3000 poises e o módulo elástico entre 10 e
25 dinas/cm 2 [24]. Se os valores de viscosidade e
elasticidade estiverem acima ou abaixo desta variação, a
velocidade do transporte do muco no palato de rã diminui,
pois, quando a visco-elasticidade é muito baixa, há um
menor armazenamento de energia durante o batimento
ciliar, e como conseqüência, um menor deslocamento do
muco. Por outro lado, quando a visco-elasticidade está
muito elevada, o muco é muito coeso e oferece uma carga
mecânica muito grande ao movimento ciliar.
O transporte mucociliar também apresenta uma forte
correlação com a spinnability do muco, sendo que quanto
maior a spinnability, melhor o transporte mucociliar [25].
A avaliação in vitro do transporte do muco por tosse
pode ser realizada com um equipamento denominado
máquina simuladora de tosse, desenvolvido por King et al.
[26]. Este equipamento consiste em uma fonte pressurizada
de oxigênio e um tubo rígido de acrílico, utilizado como
modelo de via aérea.
A eliminação do muco por tosse pode ser facilitada por
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131
131
uma alta relação viscosidade/elasticidade, e uma baixa
impedância total [3,11]. Além disto, a tosse in vitro apresenta
correlação negativa com o ângulo de adesão [21], a
adesividade e a spinnability do muco [3,5].
A quantidade de bactérias presentes no muco é outro
fator determinante do seu transporte. Deneuville et al. [21]
demonstraram que quanto maior o número de Pseudomonas
aeruginosa, pior o deslocamento do muco na máquina
simuladora de tosse.
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Revisão
Distribuição anatômica e significância funcional
do trato iliotibial
Anatomic distribution and functional significance
of the iliotibial tract
Aline Santos de Maman*, Leila de Albuquerque Feijó Fonseca**
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*Acadêmica do décimo semestre de Fisioterapia da Universidade Católica do Salvador
**Docente da disciplina de cinesioterapia da Universidade Católica do Salvador
Resumo
O trato ílio-tibial é um componente do sistema fascial dos membros inferiores
localizado na face lateral da coxa. Sua localização e constituição o tornam bastante
suscetível a alterações de tensão. Este trabalho consiste numa revisão da literatura, que
tem por objetivo estabelecer comparações entre os relatos de cada autor consultado, a
fim de se obter esclarecimentos quanto à anatomia e função do trato ílio-tibial e quais
são as estruturas relacionadas a ele. Conclui-se que uma visão completa do trato íliotibial pode ser essencial para a avaliação fisioterapêutica, visto que ele envia fibras para
outras estruturas e, conseqüentemente, sofre alterações de tensão em diversas condições
de anormalidade do sistema músculo-esquelético.
Palavras-chave:
Trato ílio-tibial,
fáscia lata, músculo
deltóide pélvico.
Abstract
The iliotibial tract is a constituent part of low limbs fascial structure located on the
lateral side of the thigh. Its localization and constitution make it susceptible to tension
changes. This work is a literature review with the aim of establishing comparisons
among the reports of each consulted author, in order to obtain a clarification on the
anatomy and function of the iliotibial tract and its linked structures. It is concluded that
a complete view of iliotibial tract can be essential for physiotherapeutic assessments,
once it sends bundles to others structures and, consequently, suffers tension changes on
different conditions of musculoskeletal abnormality.
Key-words:
Iliotibial tract, fascia
lata, pelvic deltoid
muscle.
Artigo recebido em 11 de novembro de 2002; revisado em 31 de janeiro de 2003; aceito em 15 de fevereiro de 2003.
Endereço para correspondência: Aline Santos de Maman, Av. Orlando Gomes,1080, Qd 6 Lt 1, Piatã 41650-010 Salvador, BA, Tel: 367-0518 /
9943-2155, E-mail: [email protected]
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134
Introdução
O trato ílio-tibial é um componente do sistema facial
dos membros inferiores localizado na face lateral da coxa e
formado por tecido conjuntivo fibroso (Fig. 1). Esse tecido
mecânico proveniente do endoderma é composto por células
conjuntivas denominadas blastos, que secretam duas
proteínas de constituição, colágeno e elastina, e garantem
resistência e elasticidade ao trato ílio-tibial [1].
Devido à sua constituição e localização anatômica, é uma
estrutura bastante susceptível a alterações de tensão. Estas
alterações podem representar uma
causa ou uma conseqüência de
anormalidades biomecânicas do
corpo humano.
Realizou-se uma revisão da
literatura na qual as descrições
sobre o trato ílio-tibial ;ora diferem;
ora se complementam entre os
diversos autores, o que contribui
para uma visão ainda inconclusa
quanto a sua distribuição anatômica
e significância funcional. O objetivo
deste trabalho é estabelecer
comparação entre os relatos de
cada autor consultado, a fim de se
obter esclarecimento quanto à
Fig. 1 - Fonte: Interactive Atlas anatomia e função do trato ílioof Human Anatomy, 1995.
tibial e estruturas relacionadas.
Metodologia
Foi realizada uma revisão de literatura tendo como fonte
utilizada Bireme, na qual a base de dados consultada foi
Medline. Foram utilizados 21 artigos publicados entre 1975
e 2002. Foram também incluídos outros 2 artigos de 1936
e 1958, devido à significância dos autores com relação ao
tema. Foi utilizado um livro que tem como tema principal o
tecido conjuntivo. Os comandos de palavras-chave utilizados
foram: iliotibial tract, function, fascia lata, pelvic deltoid muscle.
Descrição anatômica
Fixação proximal do trato ílio-tibial
Em artigo publicado em 1936, Ober [2] afirma que a
inserção proximal do trato ílio-tibial dá-se na crista ilíaca.
Lateralmente, a maior parte do glúteo máximo insere-se na
fáscia lata; e anteriormente, o músculo tensor da fáscia lata
insere-se nesta e no trato ílio-tibial, que é considerado um
tendão do músculo tensor da fáscia lata. Este autor considera
que as inserções proximais dos músculos glúteo máximo e
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134
tensor da fáscia lata representam a base de um triângulo,
cujo ápice está sobre a face lateral do fêmur.
Kaplan [3] e Renne [4], definiram o trato ílio-tibial como
um espessamento da fáscia lata, onde se inserem os músculos
glúteo máximo e tensor da fáscia lata. Kaplan [3] ainda
acrescenta que o trato ílio-tibial é representado por fibras
longitudinais que não estão inteiramente diferenciadas da
fáscia lata. Entretanto, Orava [5] difere desses autores
quando afirma que o trato ílio-tibial é um espessamento
fascial apenas do tensor da fáscia lata, não estabelecendo
relação do trato ílio-tibial com o glúteo máximo.
Evans [6] afirmou que a fascia lata é composta por fibras
horizontais e verticais, e definiu o trato ílio-tibial como o
componente vertical desta fáscia; que se prende ao longo
da crista ilíaca e envia uma grossa camada que se aprofunda
ao acetábulo superior com o ligamento ílio-femoral. Evans
também comparou a relação do trato ílio-tibial com os
músculos glúteo máximo e tensor da fáscia lata, concluindo
que o primeiro se fixa às fibras horizontais da fáscia lata e
septo intermuscular lateral não estando envolvido com o
trato ílio-tibial; enquanto o segundo apresenta suas fibras
musculares inseridas nas fibras verticais da fáscia lata, ou
seja, no trato ílio-tibial. Ele ainda acrescenta que fibras do
glúteo médio surgem diretamente do trato ílio-tibial, abaixo
da crista ilíaca.
Posteriormente, Terry, Hughston, e Norwood [7]
afirmaram que o trato ílio-tibial é formado próximo ao nível
do trocanter maior pela interligação da cobertura fascial
dos músculos tensor da fáscia lata, glúteo máximo e glúteo
médio.
O trato ílio-tibial foi classificado como um componente
do tecido conectivo do sistema biomecânico tendão-fásciaosso, sendo uma estrutura independente e não uma parte
da fáscia lata. Nesta perspectiva, suas fibras apenas se
entrelaçam com a ampla fáscia. Como tendão verticalmente
firme do músculo deltóide pélvico (glúteo máximo e tensor
da fáscia lata), o trato ílio-tibial origina-se da crista ilíaca,
atravessa o trocanter maior sem fixar-se diretamente nele,
envia fibras à porção lateral do ligamento inguinal e corre
obliquamente e lateralmente em sentido descendente [8].
Origina-se no osso ilíaco e segue em sentido descendente
pela lateral do fêmur [9]. Mais recentemente, afirmou-se
que o trato ílio-tibial é um componente da fáscia lata que
envolve os músculos da coxa, e que três quartos do glúteo
máximo insere-se no trato ílio-tibial [10].
Trajeto descendente e fixação femoral distal
A partir de sua fixação proximal, o trato ílio-tibial dirigese em sentido descendente. Ober [2] afirma que ele se
estende ao tubérculo lateral da tíbia, cabeça da fíbula, côndilo
lateral do fêmur e ao septo intermuscular femoral lateral,
entre o bíceps femoral e o vasto lateral.
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Kaplan [3] concluiu que o trato ílio-tibial insere-se no
tubérculo lateral da tíbia, côndilo lateral do fêmur, borda
lateral da patela, linha áspera e até envia fibras para o
septo intermuscular medial; e esclarece que a relação do
trato com a linha áspera ocorre devido à firme aderência
de suas fibras longitudinais ao septo intermuscular lateral,
desde o trocanter maior até o tubérculo supracondilar do
côndilo femoral lateral.
A conexão indireta do trato ílio-tibial à linha áspera do
fêmur, mediada pelo septo intermuscular femoral lateral,
foi também relatada por Renne [4]; Orava [5]; Evans [6];
Terry, Hughston, e Norwood [7]; e Gerlach e Lierse [8]. Ao
nível do côndilo femoral lateral, o trato ílio-tibial está fixado
ao septo intermuscular lateral e a fáscia do músculo
quadríceps [5].
Baseados na dissecação de 100 joelhos, Lobenhofer et
al. [11] determinaram três zonas de inserção distintas para
a fixação femoral distal do trato ílio-tibial. A primeira é a
zona de inserção supracondilar, que é formada por fibras
enviadas pelo trato ílio-tibial e septo intermuscular femoral
lateral e essas fibras formam um feixe fibroso em sentido
próximo-lateral para disto-medial, fixam-se cranialmente e
ventral ao epicôndilo femoral lateral em 70% dos joelhos
dissecados, e apenas cranialmente ao epicôndilo femoral
lateral em 30% dos casos. A zona de inserção próxima ao
septo, que é formada por fibras superficiais e paralelas do
trato ílio-tibial fixam-se na porção dorso-lateral do eixo
femoral distal, em posição mais proximal que a inserção
supra-condilar, exibindo um curso quase transverso entre o
trato e o fêmur. E as fibras inversas do trato ílio-tibial, que
são fibras arqueadas, orientadas em sentido contrário às
anteriores, que se fixam entre a extremidade ventral da
inserção próxima ao septo e a região dorso-lateral do fêmur.
Entre o epicôndilo femoral lateral e o trato ílio-tibial,
existe um bursa que mede 1cm² e facilita o deslizamento
entre essas estruturas durante os movimentos de flexão e
extensão do joelho [4]. Utilizando-se imagens de ressonância
magnética, verificou-se a presença de uma bolsa com
acúmulo de fluido situada sob o trato ílio-tibial. Esta estrutura
foi classificada como “bursa” [12, 13]. Foi observada uma
conexão entre a bolsa sinovial e a cápsula articular do joelho.
Estudos artroscópicos mostraram uma invaginação da
cápsula articular lateral do joelho que permitiu classificar a
estrutura como um recesso sinovial lateral do joelho [14].
Foi realizada uma análise a fim de encontrar uma bursa
isolada entre o recesso sinovial lateral e o trato ílio-tibial,
mas nenhuma estrutura foi identificada mostrando que o
tecido mole sob o trato ílio-tibial é contíguo com a cápsula
articular do joelho e sinóvia [15]. Concluiu-se, então, que o
recesso sinovial lateral é uma extensão lateral da cápsula
articular e cavidade sinovial supra-patelar do joelho, que
funciona como uma bursa a fim de reduzir a fricção entre
o trato ílio-tibial e o epicôndilo femoral lateral.
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135
135
Fixação distal do trato ílio-tibial
Parece haver consenso entre os diversos autores que o
trato ílio-tibial insere-se distalmente no tubérculo de Gerdy.
Exames do trato ílio-tibial na metade distal da coxa mostram
que ele está livre de conexão óssea apenas entre a porção
superior do côndilo femoral lateral e o tubérculo de Gerdy;
anteriormente ele conecta-se à borda lateral da patela, e
posteriormente conecta-se às fibras anteriores do tendão
do bíceps femoral, cruzando a face lateral do joelho para
inserir-se ao tubérculo tibial [3].
Evans [6] completa que o componente vertical da fáscia
lata, ou seja, o trato ílio-tibial, além de fixar-se ao tubérculo
lateral da tíbia, envia fibras ao retináculo patelar, côndilo
femoral lateral, e até ao menisco lateral.
Através da dissecação de 24 joelhos objetivando uma
análise especial para estruturas retinaculares laterais,
Fulkerson e Glossling [16] identificaram três camadas
fibrosas. Uma expansão fibrosa originária do vasto lateral,
cujas fibras possuem orientação longitudinal e seguem a
lateral da patela para se tornarem parte do tendão patelar.
Uma expansão fibrosa superficial, que se origina do trato
ílio-tibial e interliga-se com as fibras do vasto lateral e tendão
patelar, denominada retináculo oblíquo superficial. E a
terceira expansão fibrosa encontrada através dessas
dissecações é uma camada mais profunda de fibras
transversas, que se originam da porção profunda da fáscia
lata diretamente para a lateral da patela, denominada
retináculo transverso profundo. Para Terry, Hughston e
Norwood [7], o trato ílio-tibial se separa distalmente em
dois componentes funcionais: faixa ílio-patelar e trato íliotibial. O trato ílio-tibial continua seu trajeto ao tubérculo de
Gerdy. Já a faixa ílio-patelar, que se encontra na camada
superficial, é inseparável das camadas mais profundas, suas
fibras arqueadas anteriormente fixam-se na borda lateral
da patela e no tendão patelar, conectando o trato ílio-tibial e
fêmur à patela (Fig. 2).
Fig 2 - Fonte: [7].
Comparando-se os relatos de Funkerson e Glossling [16]
e Terry, Hughston e Norwood [7], visto que ambos se
basearam em dissecações, o retináculo obliquo superficial
dos primeiros foi descrito de modo semelhante à faixa ílio-
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patelar dos demais, mostrando que, apesar da variabilidade
biológica e dos diferentes cortes realizados durante as
dissecações dos distintos pesquisadores, as conclusões finais
quanto à expansão fibrosa do trato são semelhantes.
Observaram-se relatos sobre a relação do trato ílio-tibial
com alguns ligamentos do complexo articular do joelho. O
ligamento patelotibial lateral, que segundo Fulkerson e Glossling
[16], origina-se na borda inferior do retináculo transverso
profundo e se dirige obliquamente e inferiormente ao menisco
lateral e tubérculo de Gerdy, é descrito por Terry, Hughston e
Norwood [7], como ligamento que se origina na borda inferior
da faixa ílio-patelar e se insere ao tubérculo de Gerdy, conectando
a faixa ílio-patelar ao trato ílio-tibial. Tanto a borda inferior da
faixa ílio-patelar, quanto a borda inferior do retináculo transverso
profundo, situam-se na lateral da patela mostrando uma
concordância dos achados quanto à fixação proximal desse
ligamento. Com relação à fixação distal do ligamento patelotibial,
ambos relataram sua fixação ao tubérculo de Gerdy, Fulkerson
e Glossling [16], apenas acrescentaram que esse ligamento fixase também ao menisco lateral.
Já o ligamento epicôndilo-patelar é referido como uma
expansão tendinosa do septo intermuscular lateral sendo assim
densamente aderido ao trato ílio-tibial e epicôndilo lateral
proximalmente, até a lateral da patela distalmente [16]. O trato
também emite fibras que são entrelaçadas com os ligamentos
colaterais lateral e medial da articulação do joelho [8].
Exames do trato ílio-tibial na metade distal da coxa
mostraram que esta estrutura torna-se mais espessa na porção
distal [3]. Esta hipótese foi confirmada pelo fato de a resistência
do trato ílio-tibial distal ser maior quando comparada a
resistência do trato ílio-tibial proximal [7]. Concluiu-se que o
trato ílio-tibial estava menos evidente em mulheres [5]. O
trato ílio-tibial é um ligamento de grande resistência e alguma
elasticidade [6]. Foi detectada redução da tensão do trato íliotibial ao secionar sua camada superficial ao nível da metade
da coxa, o que levou a concluir que fibras da porção proximal
também produzem tensão ao longo do trato ílio-tibial no
tubérculo de Gerdy. O trato ílio-tibial é uma estrutura
complexa, cujas fibras fixam-se ao fêmur, patela e tendão
patelar durante seu percurso para a tíbia [9].
Considerações funcionais
O trato ílio-tibial é conhecido como um ligamento incomum
por cruzar duas articulações. Durante a flexão do quadril o
músculo tensor da fáscia lata contrai-se e desloca o trato íliotibial anteriormente ao trocanter maior, quando da abdução e
extensão do quadril o trato é deslocado posteriormente ao
trocanter. Já na articulação do joelho, ele desloca-se
anteriormente ao epicôndilo femoral lateral durante a extensão,
e posteriormente durante a flexão acima de 30°. O encurtamento
do trato e de sua expansão fascial resulta em abdução do fêmur,
tracionando os ossos da pelve e gerando alterações posturais [2].
artigo 09.pmd
136
Durante a fase de apoio da marcha, o centro de gravidade
é deslocado em direção à perna oscilante provocando um
estresse extensível na lateral e compressivo na medial do
eixo femoral da perna em apoio. Esta força em curvatura
sobre o eixo femoral é reduzida pelo trato ílio-tibial, que
devido à sua localização anatômica e tensão que sofre pelos
músculos abdutores, age como um feixe de tração e contribui
para a economia do material ósseo [8]. Esta hipótese é
confirmada por Oberlander em 1975, quando relatou fratura
espontânea do fêmur após lesão do trato ílio-tibial [8].
Rohlmann et al. [8] concordaram com Pauwels quanto ao
efeito de feixe de tração sobre o eixo femoral e acrescentaram
ao trato ílio-tibial as funções de coaptar a cabeça do fêmur ao
acetábulo e retardar a adução do membro [8].
Em contraposição à conclusão de Pauwels, Takahashi e
Endo [17] mostraram que o trato ílio-tibial não possui efeito
pronunciado na redução do estresse sobre o fêmur. Estes
autores atribuem sua origem ao processo de hominização,
quando ocorreram verticalização da pelve, extensão do
joelho, encurtamento do bíceps femoral, alongamento do
glúteo máximo e alterações do equilíbrio entre os músculos.
O trato ílio-tibial surgiu a partir da tensão gerada na face
lateral da coxa durante a fase de apoio da marcha, a fim de
aliviar a força em curvatura sobre o eixo femoral. Todavia,
seu surgimento foi seguido por alterações na disposição
femoral capazes de substituir essa função, sugerindo que
ele teve maior importância durante o período de transição
da locomoção humana quadrúpede para bípede..
O trato ílio-tibial foi considerado um tenso ligamento
estendido entre a crista ilíaca e a superfície lateral da tíbia,
sendo ligado com o músculo tensor da fáscia lata anteriormente
e com o músculo glúteo máximo posteriormente. Foi realizado
um estudo baseado na estimulação elétrica desses músculos.
O músculo tensor da fáscia lata produziu rotação interna e
flexão do quadril, não agindo como abdutor. O músculo glúteo
máximo produziu forte extensão do quadril, acompanhada
de leve rotação externa. Visualizou-se que determinada tensão
é gerada sobre o trato ílio-tibial, anteriormente, se o tensor da
fáscia lata é estimulado, e posteriormente, se o glúteo máximo
é estimulado. Porém, o trato ílio-tibial é considerado um
ligamento que conecta o ílio ao joelho, e não um tendão, pois
não foi constatada nenhuma influência desses dois músculos
no joelho. Contrações do tensor da fáscia lata não transmitem
nenhuma força abaixo da metade da coxa, exceto tensão.
Assim, a tensão do trato ílio-tibial provê um ligamento
estabilizador adicional para o joelho que mantém o joelho
estendido quando ele já se encontra em extensão, mas não é
um extensor do joelho. Além da função mecânica, o trato
ílio-tibial apresenta uma função proprioceptiva, pois os nervos
sensitivos profundos e superficiais que suprem o trato
promovem dor e propriocepção [3].
Mais uma explicação foi dada para a função do trato
como estabilizador do joelho quando Orava [5] acrescentou
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que pelo fato de o trato inserir-se também no septo
intermuscular lateral e fáscia do músculo quadríceps, seu
deslocamento anteroposterior fica limitado durante os
movimentos de flexão e extensão do joelho.
O trato ílio-tibial funciona como um ligamento ânterolateral
do joelho. Já a faixa ílio-patelar provê estabilização da patela
contra uma força orientada medialmente e é dinamicamente
influenciada pelo músculo vasto lateral. Assim, a estabilidade
ânterolateral do joelho é garantida principalmente pela
influência combinada do ligamento cruzado anterior, menisco
lateral e sua fixação capsular, ligamento colateral lateral, fibras
retinaculares superficiais e profundas, tendão do bíceps
femoral, cápsula articular, e trato ílio-tibial [7].
Lobenhoffer et al. [11], que determinaram três feixes
distintos para a fixação distal do trato ílio-tibial, examinaram
a relevância de cada feixe para a estabilização do lado lateral
do joelho e demonstraram concordância com os autores
citados anteriormente. Foi observado que a inserção
supracondilar parece não contribuir para a estabilidade lateral
do joelho, porém, devido ao sentido de suas fibras, essa
estrutura pode ser apropriada para permitir a transmissão de
força no fêmur ao suportar a função de feixe de tensão do
trato na coxa. A inserção próxima ao septo, por fixar o trato
ao fêmur de modo semelhante ao septo intermuscular lateral,
previne o deslocamento ventral do trato ílio-tibial. Já as fibras
inversas do trato conectam-se a fibras longitudinais que se
prendem ao tubérculo de Gerdy formando um arco que
atravessa a articulação do joelho e, por isso, são apropriadas
para estabilizarem a lateral do joelho. O trato ílio-tibial é um
importante estabilizador anterolateral do joelho [18].
Gerlach e Lierse [8] avançam o conhecimento afirmando
que o trato ílio-tibial e septo intermuscular femoral lateral
agem juntos contra o estresse em curvatura do eixo femoral.
E como já foi dito, o trato compõe o mecanismo extensor
do joelho, promovendo estabilização lateral dessa articulação,
além de suporte e direção à patela por sua convergência ao
retináculo patelar.
Ao testar deslizamento medial da patela e teste de Ober
em 17 pacientes, Puniello [19] concluiu que 70% dos
pacientes com redução do deslizamento medial da patela
apresentaram tensão do trato ílio-tibial, comprovando a sua
função como um retentor lateral da patela. Tanto as fibras
proximais do trato quanto as fibras distais produzem tensão
ao tubérculo de Gerdy, o que permitiu Matsumoto e
Seedhom [9] concluírem que o trato ílio-tibial exerce a função
de estabilizador estático do joelho. Kirk, Kuklo e Klemme
[20] complementaram definindo o trato mais uma vez como
um ligamento ânterolateral do joelho, que provoca
desaceleração e restrição à sub-luxação medial da patela.
Durante a flexão do joelho o trato ílio-tibial desliza
posteriormente sobre o epicôndilo femoral lateral e, quando
tenso, promove tração lateral da patela e favorece rotação
externa da tíbia. Esta foi a afirmação de Winslow e Yoder [21],
artigo 09.pmd
137
137
que observaram que dançarinas de ballet com trato ílio-tibial
tenso exibem maior rotação externa da tíbia que aquelas sem
tensão do trato. Kwak et al. [22] confirmam esta hipótese ao
concluírem que o trato contribui tanto para deslizamento lateral
da patela, quanto para deslizamento posterior e rotação externa
da tíbia em relação ao fêmur. Devido à sua função de
estabilizador anterior e rotacional da tíbia, ele é capaz de proteger
o ligamento cruzado anterior de lesões e, em casos de
reconstrução desse ligamento, ele também protege o enxerto.
Através da biópsia de seis porções do trato ílio-tibial distal:
zona de inserção supracondilar, zona de inserção próxima ao
septo, zona de fixação ao tubérculo de Gerdy, camada
superficial do trato, camada profunda do trato, e zona de
transição entre camadas superficial e profunda; foram
encontradas terminações nervosas livres em todas as
porções, porém em maior concentração nas porções que se
fixam ao fêmur distal e ao tubérculo de Gerdy. Foi relatado
um número significativamente maior de terminações
nervosas livres em joelhos direitos que esquerdos. Esses
registros enfatizam a importância do trato para a estabilidade
lateral do joelho demonstrando que, além das funções
estruturais e mecânicas, esta estrutura transmite informações
de dor e inflamação do tecido conjuntivo ao cérebro,
formando uma importante porção do sistema sensorial
proprioceptivo do joelho [23].
Foi proposta por Evans [6] uma nova função para o trato
ílio-tibial, a de abdutor passivo do quadril durante a postura
ereta de repouso. Durante esta postura, a descarga de peso
está predominantemente sustentada por um só membro e a
pelve está inclinada em direção ao lado que não sustenta peso,
sendo por ele denominada “má postura pélvica da posição ereta
assimétrica”. Estudos eletro-miográficos demonstraram redução
gradual do potencial de ação dos músculos abdutores do
quadril à medida que a pelve declina, até que na posição
entre 10° e 20° de inclinação
pélvica houve pouca ou
nenhuma contração muscular.
Evans atribuiu a inativação
muscular à tensão do trato íliotibial que resiste à adução do
quadril produzindo um torque
abdutor durante esta postura.
Acrescenta que nesta postura
a descarga de peso sobre o
joelho promove a sua extensão
completa, e a tração ascendente
do trato ílio-tibial, já que este se
encontra tenso, promove hiperextensão do joelho. Desta
forma o quadril e o joelho
chegam a uma postura de
estabilidade máxima e esforço
mínimo (Fig. 3).
Fig. 3 - O Davi de Miguelangelo.
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138
Evans [24] reforçou a função de abdutor passivo do
quadril mostrando que pacientes com encurtamento femoral
devido à fratura da diáfise do fêmur apresentaram marcha
de Trendelenburg positiva mesmo após reparo muscular,
pois o trato torna-se longo em relação ao comprimento
femoral e o peso do corpo não pode ser sustentado apenas
pelos abdutores glúteos. Marcel Bienfait [1] compartilha com
esta hipótese afirmando que os músculos são incapazes,
sozinhos, de garantir equilíbrio frontal da bacia nos apoios
unipedes durante a marcha, atribuindo parte dessa função
ao trato ílio-tibial. Devido à inserção do músculo tensor da
fáscia lata ao trato ílio-tibial, Hammer [10] considera que
esse músculo traciona o trato ílio-tibial estabilizando o tronco
sobre a coxa, o que confirma mais uma vez a importância
do trato para o equilíbrio frontal.
Conclusão
Apesar de ainda haver divergências sobre a distribuição
anatômica do trato ílio-tibial e sua relação com o tensor da
fáscia lata e glúteo máximo, sob o ponto de vista funcional
a maioria dos estudos somam-se, comprovando a importância
do trato sobre os equilíbrios estático e dinâmico do corpo
humano. Sua tensão adequada parece contribuir para a
integridade do fêmur, dividir carga com a atividade muscular
para a manutenção de posturas, manter bom alinhamento e
estabilizar o joelho por suas fixações e capacidade
proprioceptiva.
Esse estudo sugere que uma visão completa do trato íliotibial pode ser essencial para a avaliação fisioterapêutica, visto
que ele envia fibras para outras estruturas e conseqüentemente
sofre alteração de tensão em diversas condições de
anormalidade do sistema músculo-esquelético. Conhecimento
mais aprofundado desta estrutura poderá induzir a novas
pesquisas no campo da fisioterapia sobre como a atuação a
nível muscular pode interferir na biomecânica ou patomecânica do trato ílio-tibial, criando novas vias de tratamento
para disfunções do membro inferior.
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Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 2 - março/ abril de 2003
139
Revisão
Estudo do efeito ultra-sônico na consolidação óssea
Study of the ultrasonic effect in bone consolidation
Alexsander Roberto Evangelista*, Camila de Souza Furtado**, Nilton Petrone Vilardi Jr.***,
Bruno Mazziotti de Oliveira Alves****
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*Graduando em fisioterapia da Universidade Estácio de Sá-UNESA (RJ), **Coordenadora das Clínicas da Universidade Estácio de SáUNESA (RJ) e Mestrando em Engenharia Biomédica COPPE-UFRJ, ***Sub-Reitor da área de saúde da Universidade Estácio de SáUNESA (RJ) e Diretor da clínica R9 (Fisiotaquara), ****Coordenador da clínica R9 (Fisiotaquara)
Palavras-chave:
Consolidação da fratura,
eletrotermofototerapia,
terapia por ultrasom.
Key-words:
Fracture healing,
electrotermophototherapy,
ultrasonic therapy.
Resumo
As pesquisas na área da eletrotermofototerapia precisam de constante e criteriosa
revisão para orientação de novos estudos e uso sensato desta prática terapêutica.
Salientamos nesta revisão autores e bibliografias emblemáticas para o direcionamento
de nosso estudo e futuros incentivos a novas pesquisas. A partir deste levantamento
bibliográfico estabelecemos critérios através de procedimentos laboratoriais de ensaio e
dados biofísicos, para que os aspectos usados nesta revisão de alguma forma fossem
comprovados com certa margem de segurança. Embora alguns autores tendem a
desconfiança da técnica ultrasônica para a prática clínica in vivo, buscamos orientações
que fundamentem a real expectativa sobre o efeito ultra-sônico na consolidação óssea.
Abstract
The researches in the area of the electrotermphototherapy need constant and
discerning revision for orientation of new studies and wise use of this therapeutic
practice. We pointed out in this revision authors and emblematic bibliographies for
orientation of our study and futures incentives to new researches. Starting from this
bibliographical rising we established criteria through biological procedures and biophysical
data, so that the aspects used in this revision in some way were proven with certain
margin of safety. Although some authors tend the distrust of the ultrasonic technique
for the practice clinical in vivo, we looked for orientations that base to real expectation
on the ultrasonic effect in the bone consolidation.
Recebido em 10 de dezembro de 2002; aceito em 15 de fevereiro de 2003.
Endereço para correspondência: Alexsander Roberto Evangelista, Rua Grão Magriço, 72/101 Penha 21020-110 Rio de Janeiro RJ,
Tel: (21) 3884 9914/9921 8990, E-mail: [email protected]
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140
Introdução
Em função das estruturas de proteção e de sustentação,
a fisiologia óssea, mais precisamente suas propriedades
mecânicas, foram o principal alvo de estudos no passado.
Interessantes idéias foram alvos de hipóteses de Bourgery
[1] e de Ward [2]. O físico- matemático Cullmann em estudos
com Meyer [3] pesquisaram a composição física trabecular
nos ossos longos.
Á luz de algumas descobertas daquela época, adiantaram
a hipótese de que a remodelação óssea poderia ser encarada
como um sistema controlado por realimentação, tendo como
entrada estímulos mecânicos e como saída o crescimento
orientado, aquele que nos referimos como o que dita a
arquitetura do osso, podendo-se citar o padrão trajetorial
encontrado no osso esponjoso. O esqueleto tem três funções
importantes: sustentação para o sistema musculoesquelético;
proteção de órgãos internos vitais e reservatório metabólico,
trabalhando para hematopoese e homeostase do cálcio. 40%
do osso trabecular é reciclado anualmente e 10% do osso
cortical [4]. O osso cortical tem três superfícies[5]:
a) envelope endosteal: a superfície em contato com a
cavidade medular;
b) envelope periosteal: a superfície externa do osso;
c) envelope intracortical: tecido ósseo entre o endósteo
e o periósteo.
A atividade de remodelação óssea varia em cada
envelope, dependendo da idade e do status reprodutivo,
como se segue:
a) crianças: a neoformação óssea no periósteo excede a
destruição óssea do endósteo, havendo aumento real no
diâmetro externo do osso [4];
b) adolescentes: a formação óssea ocorre na superfície
endosteal e na periosteal, com aumento de massa óssea
total [4];
c) adultos jovens: a perda óssea endosteal aumenta e
começa a superar a aposição óssea, indicando o início do
decréscimo da massa óssea, relacionado à idade/menopausa,
resultando em estreitamento do envelope intracortical e
expansão da cavidade medular [4].
A estrutura do osso trabecular é semelhante a um favo
de mel, formada por lâminas horizontais e verticais que se
interconectam, assegura força mecânica. A remodelação
óssea dá-se nos envelopes externos e internos de cada
trabécula e ela determina a força óssea. O osso velho é
fraco e o novo é mais forte [4,5].
Sem que os mecanismos fisiológicos sejam compreendidos
completamente, a discussão de alguns destes possíveis
mecanismos seguir-se-á à apresentação de assuntos e
discussões sobre a fisiologia e mecanismos prováveis de
remodelação óssea.
Esta revisão busca esclarecimentos práticos e objetivos,
e desta forma disponibilizamos um material comprometido
artigo 10.pmd
140
com a ciência para estudos de futuras pesquisas sobre o
processo de remodelação óssea pelo sinal ultra-sônico.
Sinal ultra-sônico
Embora compreendidas algumas das relações de origem
mecânica, capazes de produzir um tecido com características
adequadas às funções finais, dúvidas ainda existem com
relação à natureza do sinal que facilitaria, ou mais
propriamente, que controlaria o processo de remodelação
do osso. Embora se saiba que tensões mecânicas são capazes
de induzir transformações ósseas, desconhecem-se os níveis
e as freqüências de estimulação adequada para ligar o
processo. Colombo [6] “tece considerações a respeito das intensidades
de estimulação ultra-sônica do osso, mostrando que intensidades
acústicas baixas, na faixa dos 19,5 mw/cm² são estimulantes da
regeneração óssea, no entanto, intensidades da ordem de 700 mw/cm²
produzem reabsorção óssea talvez de senso comum que as grandes
pressões sobre os ossos levam à sua reabsorção, caso típico dos pés das
antigas chinesas e dos conhecidos sinais radiológicos de aneurisma
aórtico pela destruição de corpos vertebrais vizinhos”.
Nos anos 50, certamente motivados pelos recursos
instrumentais disponíveis, experimentos realizados no Japão
por Yasuda et al. [7], evidenciaram que quando ossos longos
eram submetidos à flexão, surgiam distribuições de cargas
elétricas opostas nas faces ósseas submetidas à tração e à
compressão, mostrando também que a estimulação elétrica
deste tecido podia induzir o que Fukada e Yasuda [8], em
continuidade ao estudo, concluíram, que o efeito elétrico
está associado ao colágeno, tendo sido atribuído a distorções
nas pontes de hidrogênio entre resíduos peptídicos vizinhos
na molécula do tropocolágeno. As décadas que se seguiram
foram fartas em trabalhos sobre as propriedades elétricas
do tecido ósseo [9]. O efeito piezoelétrico mostrou-se
incapaz, de explicar em teoria o sinal detectado no osso “in
vivo”, passando este a receber a designação de potencial
gerado por tensão (SGP), estando hoje sua origem creditada
a efeitos eletroquímicos, isto é, potenciais devidos a fluxos
iônicos ou Streaming Potentials [10].
Neste meio tempo, embora não completamente
compreendidos os mecanismos fisiológicos outrora na teoria
do sistema de controle, a estimulação elétrica do tecido saiu
dos laboratórios para a clínica, tendo sido empregada como
recursos de tratamento complementar ou único, em casos
de retardo de consolidação de fraturas ou de pseudoartroses
[11]. A transdução mecanoelétrica, razão de ser de todas as
pesquisas sobre remodelação, vem sendo utilizada também
com finalidades terapêuticas por alguns pesquisadores [12,
6], com resultados promissores.
A última década conciliou a tendência física já estudada
por cientistas com os novos rumos da ciência biológica, à
luz das novas descobertas de mediadores químicos,
mensageiros celulares e fatores de crescimento β [13, 14].
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141
Biofísica do ultrasom
Ondas
Ultrasom é uma forma de energia mecânica que consiste
de vibrações de alta freqüência. As ondas ultra-sônicas são
ondas longitudinais e provocam oscilações nas partículas do
meio onde se propagam. As freqüência das ondas
ultrasônicas variam de 20.000 a 20.000.000 ciclos/s (1 ciclo/
s = 1 Hertz (Hz), 1 KHz = 1000 Hz, 1MHz = 1.000.000)
as quais são mais altas que a faixa da audição humana, que
varia de 20 a 20.000 ciclos por segundo. A freqüência médica
para diagnóstico de imagem varia de 5 a 20 MHz e para
terapia de 0,7 a 3 MHz [15].
O cristal contrai sobre a influência de uma corrente
elétrica em uma determinada direção e expande-se quando
a corrente elétrica for revertida. Quando a corrente for
desligada, o cristal retorna a sua forma original [16].
O transdutor ultrasônico produz uma vibração mecânica
de alta freqüência (0,75 MHz a 3 MHz)[16, 17].
Atenuação
A amplitude e intensidade diminuem à medida que as
ondas de ultra-som sob sua forma de feixe passam através
de qualquer meio. Esta diminuição de intensidade é causada
pela difusão do som em um meio heterogêneo, pela reflexão
e refração nas interfaces e pela absorção do meio. O feixe
tem sua intensidade original reduzida pela metade a
determinada distância, a qual é chamada de Half-Value-distance
(D/2). O D/2 depende da natureza do meio e da freqüência
das ondas. Quanto mais alta for a freqüência, menor será o
comprimento da onda e maior será sua absorção. Cada tecido
possui valores diferentes de atenuação [18,16].
Tabela 1 - Tabela de redução
energia vibracional é transformada em energia molecular
ou em movimentos moleculares aleatórios. Segundo Garcia
[19], as proteínas são as que mais absorvem (devido à
presença de tecidos macromoleculares).
Ultrasom é bem absorvido por:
- Proteína em tecido nervoso;
- Ligamentos;
- Cápsulas intra-articulares;
- Tendões com alta concentração de colágeno;
- Proteína no músculo;
- Hemoglobina;
Exemplo:
A 1 MHz sua intensidade diminui de 50% ao atravessar
0,9 cm de músculo.*
A 3 MHz sua intensidade diminui de 50% ao atravessar
0,3 cm de músculo.**
A temperatura superficial do tecido pode definir a
absorção da onda sonora na superfície da pele. Portanto,
quanto maior a temperatura do tecido, menor será a
penetração em tecidos profundos, então: gelo para estruturas
profundas; aquecimento para estruturas superficiais [15].
Nos casos de lesões profundas, não é aconselhável o
prévio aquecimento superficial da região, pois com a elevação
da temperatura dos tecidos superficiais ocorre maior
absorção de ultra-som diminuindo, portanto a efetividade
em tecidos profundos.
Quando se deseja tratar com eficiência as lesões profundas
são aconselháveis o resfriamento da área com gelo [15].
Entretanto, Andrews [20] discorda, ao afirmar que
quanto mais denso o tecido, maior a propagação, ou seja,
maior interação das ondas sonoras com o meio e conseqüente
maior absorção e diminuição da sua penetração.
Tabela de redução (50%)
1 MHz
3 MHz
Tecido ósseo
Pele
Cartilagem
2.1mm
11.1mm
6mm
——4mm
2mm
Ar
Tecido tendinoso
Tecido muscular
2.5mm
6.2mm
9mm
0.8mm
2mm
3mm
24.6mm
Tecidoadiposo
50mm
Água
11500 mm
Fonte: Hoogland [16]
8mm
16.5mm
3833.3 mm
Observações
Feixe perpendicular ao tecido
Feixe paralelo ao tecido
Absorção
A absorção do ultrasom ocorre a nível molecular. Esta
absorção de ultrasom dentro do meio ocorre quando a
artigo 10.pmd
141
Efeitos térmicos
Para o crédito das teorias de funcionamento do ultrasom,
é necessário fundamentarmos fisicamente o princípio dos
efeitos terapêuticos do gerador. A quantidade de calor gerado
depende de alguns fatores como, por exemplo, o regime de
emissão modo contínuo produz mais calor que o pulsado, a
intensidade, a freqüência e a duração do pulso. O som
atenua-se à medida que atravessa um meio ou diminui sua
intensidade durante este trajeto. Esta atenuação deve-se à
conversão da energia em calor por absorção e o restante,
pela refração e reflexão do feixe. Se realmente a absorção
ocorre pelo aquecimento do tecido, necessitamos equacionar
a produção de calor [21,22,23].
Taxa de aquecimento = 0,055αI ( Fórmula de Nyborg)
• Taxa de aquecimento = produção de calor em
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142
retos com a direção das ondas de som que causam
ondas transversais. Estas ondas transversais são
Tempo médio
absorvidas pelo periósteo como calor e podem causar
de consolidação
superaquecimento do periósteo, considerando-se que ali
85
não existe efeito de resfriamento da circulação. Se houver
89
esse superaquecimento, o paciente irá relatar sensações
de calor e dor, pois o periósteo é altamente inervado. O
60
terapeuta deverá mover o cabeçote transdutor do ultra64
som mais rapidamente ou diminuir a intensidade para
36
prevenir este processo” [15,21,23].
83
Uma revisão de tratamento de fraturas no
77
Brasil pela técnica ultra-sônica está sumarizada
na tabela abaixo por Duarte [25]. O registro
de pacientes é relativo ao período de 1980 a
1996 e participaram do estudo 251 pacientes masculinos e
129 femininos com idade variando de 3 a 83 anos. O tempo
de tratamento mínimo para consolidação foi de 77 dias.
Vários estudos diferentes demonstraram que o ultrasom pode ser usado para estimular a formação do calo
ósseo. Fraturas fibulares demonstraram uma restauração
acelerada quando tratadas em fases de inflamação e início
de proliferação (1 MHz ou 3 MHz, pulsado 2 mseg/8
mseg à 0,5 w/cm² por 5 minutos, 4 vezes por semana).
Dyson afirma que o tratamento durante as primeiras duas
semanas poderá acelerar a união óssea [15,26,27,28].
Depois de alguns estudos alertando para o não
funcionamento do ultrasom in vivo [29], os pesquisadores e
os resultados clínicos continuam dando ênfase ao seu uso
e sua eficácia [12,15,16,17,25,26,27,28].
Tabela 2 - Revisão de não-consolidação ósseas tratadas no Brasil por ultra-som pulsado
de baixa intensidade.
Osso
Números
de fraturas
Fraturas tratadas
com sucesso
Porcentagem
do sucesso
Tíbia
166
141
84.9
Fêmur
94
82
87.2
Rádio
47
38
80.8
Ulna
40
34
85
Escafóide
28
26
92.8
Clavícula
5
3
60
Total
380
324
85.2
Fonte:Luiz Romariz Duarte (20 World Congress SICOT), 1996 [25].
th
cal/cm3 no tecido exposto, por seg.
• Á = coeficiente de absorção em decibéis/cm (Db/
cm) seu valor depende da freqüência do tecido.
• I = intensidade em W/cm2
Ex: quanto maior a intensidade, maior a produção de calor:
Taxa de aquecimento = 0,055 x 0,12(coeficiente de
absorção muscular à 1Mhz) x 0,8w/cm2 = 0.32 cal/cm3/
min = 1,6 graus/ 5min[15].
Outras fórmulas podem deter minar a taxa de
aquecimento produzido pelo ultra-som. Por exemplo,
Lehmann [24] utiliza uma fórmula pesquisada por Dunn &
Frizzell sendo mais útil quando a condução de calor for
mais intensa:
αI = pCK dT/dt & k d2T/dx2
2α
dT/dt = taxa de aquecimento (C/S )
I = Intensidade acústica
a = Coeficiente de absorção em Db/cm
pC = Capacidade de aquecimento por unidade volume
do meio (p é a densidade e C é a capacidade por unidade de
massa por C)
K = Equivalente mecânico do calor (4,2 J/cal)
k = Condutividade do meio.
É fundamental comentar que estas fórmulas não levam
em consideração o aquecimento produzido pelas ondas
transversais em tecidos moles, interface do osso e outros
tipos de interfaces. As produções de calor em interfaces de
ossos poderão ser mais altas. Muitas pesquisas têm mostrado
que o coeficiente de absorção para ondas transversais é
quase o dobro do coeficiente para ondas longitudinais [15,24].
Interface osso/periósteo
“Ocorre pouca reflexão entre as camadas dos tecidos moles, ao
contrário do que ocorre na superfície do osso (interface osso / periósteo).
Até 30% poderão ser refletidos a partir do osso e 70% poderão ser
absorvidos. A energia total do periósteo é igual à incidência total,
acrescida da onda refletida. Isto também causa ondas transversais ao
redor do periósteo. As partículas dos dois meios oscilam em ângulos
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142
Discussão
Nosso trabalho preocupou-se em demonstrar revisões
bibliográficas capazes de elucidar a capacidade terapêutica
do ultra-som, uma vez que o princípio básico de qualquer
aparelho é a fundamentação física e, que passada para
experimentos in vivo e in vitro devam ser avaliadas com o
objetivo principal, que é a obtenção de resultados positivos
em nossos pacientes.
Ao longo da jornada de nossa profissão, presenciamos
resultados muito significativos em nossos pacientes, o que
não seria interessante dizer que o ultrasom não funciona
terapeuticamente. Os efeitos biofísicos freqüentemente
descritos sobre o ultra-som não evidenciaram que ocorra
função in vivo sob condições terapêuticas ou não foi provado
que tem um efeito clínico sob estas condições. Backer et al
[29] “revela que as atuais evidências biofísicas são insuficientes
atualmente para prover uma fundamentação científica para o uso
clínico de ultra-som terapêutico para o tratamento das pessoas com
dor e dano de tecido macio”. Hoogland [16] cita que os efeitos
piezelétricos no corpo humano são obser vados
especialmente no tecido ósseo, nas fibras de colágeno e
proteínas corporais. É possível que esses efeitos influenciem
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Fisioterapia Brasil - volume 4 - número 2 - março/ abril de 2003
nos efeitos biológicos do ultrasom. Numa outra significativa
colaboração de uma pesquisa de campo, Duarte [25] relata
percentuais muito significativos da consolidação óssea com
a técnica ultrasônica.
Seria interessante destacar que estudos científicos na
Europa visam a aprimorar a segurança da engenharia de
determinados geradores terapêuticos, inclusive do ultrasom,
mostrando que o investimento no setor ainda é de grande
importância para a fisioterapia. A verdadeira relevância do
estudo do ultrasom dá-se pelos resultados positivos obtidos
até os dias de hoje e pela fundamentação que a física quântica
nos concede.
Conclusão
Baseados em práticas clínicas e na física quântica,
estudiosos darão continuidade a estudos que ainda nos dão
créditos importantíssimos do uso do ultra-som em nossas
atividades terapêuticas. Somos de opinião que o ultra-som
quando devidamente utilizado, respeitando indicações e
técnicas de aplicação, os resultados serão sempre satisfatórios.
Diante dos resultados obtidos até os dias de hoje, com
base no referencial teórico e considerando as limitações do
presente objeto, podemos concluir que a prática clínica com
o ultra-som devidamente indicado e aplicado pode produzir
resultados positivos in vivo. Isto não significa dizer que os
estudos atuais podem ser definitivos e absolutos, portanto,
novas pesquisas devem continuar o rumo norteados pelo
compromisso da verdade.
A remodelação óssea pela técnica ultra-sônica pode ser
eficiente para a prática da clínica fisioterápica, se respeitadas
as técnicas disponíveis para tratamento de fraturas [18].
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l´homme.Tome I. Paris: CA Delaunay; 1832.
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 2 - março / abril de 2003
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Estudo de caso
O uso do laser HeNe (632,8 nm) no fechamento de feridas
Use of HeNe laser (632,8 nm) in injury shutting
Fernanda Ishida Corrêa*, Fernanda Sbruzzi Prado**, Cláudia Mara Miranda**,
Adélia Pinto Gibier de Souza**, João Carlos Ferrari Corrêa***
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*Professora Mestre do Departamento de Fisioterapia da Universidade de Taubaté (UNITAU) e da Universidade do Vale do Paraíba
(UNIVAP), **Graduadas em Fisioterapia pela Universidade de Taubaté (UNITAU), ***Professor Doutor do Departamento de
Fisioterapia da Universidade de Taubaté (UNITAU) e do Centro Universitário Nove de Julho (UNINOVE)
Palavras-chave:
Escara, irradiação a laser
de baixa potência,
cicatrização de feridas.
Resumo
O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do laser de baixa potência (HeNe –
632,8nm) sobre o processo cicatricial de ferida, pelo estudo de um caso. O voluntário
da pesquisa, 89 anos de idade, sexo feminino, apresentava uma ferida em região súperolateral da coxa; onde esta apresentava-se superficialmente, sem processo infeccioso,
com coloração avermelhada, sem indícios de cicatrização. A ferida foi fotografada
antes da aplicação do laser, na sexta e na décima segunda aplicações. Para este trabalho
foi utilizado o laser HeNe com comprimento de onda de 632,8nm, de modo contínuo,
com intensidade de 3J/cm², tempo de aplicação de 40seg em cada ponto. Os resultados
foram obtidos pela análise qualitativa das fotos e dos relatos do paciente. Pela análise
das fotos pudemos observar que houve cicatrização da ferida, pois esta apresentou
uma camada de tecido cicatricial em praticamente toda sua extensão. Pelos resultados
obtidos nesse estudo de caso, pudemos concluir que o laser é eficaz na reparação dos
tecidos, acelerando o processo de cicatrização, o que não vinha ocorrendo somente
com medicamentos.
Artigo recebido em 15 de dezembro de 2002; aceito em 15 de janeiro de 2003.
Endereço para correspondência: Fernanda Ishida Corrêa, Rua Professor Francisco Galvão Freire, 163, Urbanova II, 12244-479 São José dos Campos SP,
E-mail: [email protected]
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Abstract
The aim of this work was to evaluate the low power laser effect (HeNe 632.8 nm)
on the injuries healing process, trough a case study. The patient, 89 years old, female,
presented an injury on the over lateral thigh region. It was a superficial injury, without
infection process, red, without healing trace. The ulcer was photograph before laser
application, on the sixth and twelfth applications. For this work was used the HeNe with
wave length of 632,8 nm, on continuous mode, intensity 3J/cm², application time of
40 seconds in each point. The results was obtained trough quality photo analyses and
patients reports. From the photo analyses we could observe injury tissue layer in almost
all extension. From the results obtained in this case study, we can conclude that the laser
is effective in the tissue repairing, accelerating the healing process, which is not occurring
only with medical treatments.
Key-words:
Pressure ulcer, low
power lasertherapy,
wound healing.
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Introdução
A pele constitui uma excelente barreira mecânica de
proteção ao corpo, além de participar da termorregulação,
da excreção de eletrólitos e das percepções táteis de pressão,
dor e temperatura. Ela apresenta três camadas: derme,
epiderme e tecido conjuntivo subcutâneo. Qualquer
interrupção na continuidade dessas camadas constituintes
da pele representa uma ferida [1].
O tratamento ideal seria a instituição de medidas profiláticas,
porém, uma vez instaladas, deve-se intervir precocemente,
objetivando evitar ou minimizar os riscos recorrentes, bem
como facilitar o processo de cicatrização [1].
Atualmente, existem recursos fisioterapêuticos que agem
na melhora da nutrição tecidual das áreas acometidas e
vizinhas às feridas, assim como no próprio processo de
cicatrização destas, sendo citadas a crioterapia e radiação
ultravioleta, ultra-som, eletroestimulação, laser de baixa
intensidade e oxigênio hiperbárico [2].
O termo popularmente usado laser é um acrônimo
de amplificação da luz por emissão estimulada de
radiação óptica, a partir da estimulação de sustâncias
especificas. O laser HeNe foi o primeiro laser gasoso
desenvolvido e também o primeiro a emitir luz de forma
contínua. Este é um laser de baixa potência utilizado
como bioestimulante intracelular, agindo no processo
de cicatrização [3]. O laser HeNe de baixa intensidade
com comprimento de onda 632,8 nm vem sendo
utilizado há mais de uma década na prática clínica.
Existem numerosos exemplos deste método com sucesso
no tratamento de úlceras tróficas e feridas de diversas
etiologias que foram tratadas com drogas tradicionais
quando estas não foram efetivas [4].
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Assim, este trabalho visa contribuir um pouco mais com
o avanço dos estudos desse recurso terapêutico no processo
cicatricial das feridas, mais especificamente no tratamento
de escaras de pressão.
Material e métodos
Voluntário
Paciente A, 80 anos, com história de fratura de fêmur
em dezembro de 2000, realizou cirurgia para redução e
fixação da fratura na mesma data, apresentando dois pontos
infeccionados, progredindo para deiscência. Não possui
doenças associadas. Apresenta uma ferida na região súperolateral da coxa esquerda há um ano e três meses, sem
contaminação. A limpeza da ferida é feita com soro
fisiológico 0,9% e uso de papaína 2% (que foi suspensa dias
antes do início do tratamento com o laser e durante todo o
tratamento). O laser utilizado foi o HeNe, com comprimento
de onda de 632,8nm, modo contínuo, método pontual,
densidade de energia de 3J/cm², sendo que o tempo é
programado automaticamente ( 40 segundos por ponto).
Foram utilizados ainda para este estudo luvas de látex
para procedimento, câmara fotográfica, soro fisiológico 0,9%,
gaze, termo de consentimento do paciente ou responsável,
termo de consentimento da instituição, questionários sobre
os dados do paciente.
Procedimento
Após ser aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade
de Taubaté, inicialmente foi feito um ter mo de
consentimento para a Instituição (onde se encontrava a
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paciente A), e outro termo para a paciente, com explicação
sobre o estudo e procedimento deste.
Logo após, aplicou-se um questionário contendo
perguntas sobre história da moléstia atual, funcionalidade
do paciente e, principalmente, dados sobre a ferida do
paciente. Em seguida a ferida foi fotografada antes de
iniciarmos o tratamento, assim como na 6ª e na 12ª
aplicações, visando a análise qualitativa da ferida.
Antes de cada tratamento, o curativo era retirado e, em
seguida, era feita a assepsia com o soro fisiológico 0,9%. A
ferida foi tratada apenas com o laser de baixa intensidade
HeNe (632,8 nm), com densidade de energia de 3J/cm²,
sem o uso de qualquer medicamento ou outro recurso
terapêutico. Foi utilizado método pontual ao redor da ferida
com um total de seis pontos (18 J/cm²), duas vezes por
semana, durante dois meses, totalizando doze aplicações.
Após o atendimento, a paciente era deixada sob cuidados da
enfermeira do local.
cicatrização. A ferida já se apresentava com uma coloração
acinzentada mais clara (tecido cicatricial).
Resultados
Na 12ª aplicação, (Fig, 3), há presença de extensa área
coberta por tecido cicatricial com tecido mais espesso e
mais esbranquiçado. Nas bordas laterais, apesar de não
totalmente cicatrizado, podemos observar que a coloração
não é mais de um cinza escuro, mas sim de uma coloração
esbranquiçada, comprovando também um início de
cicatrização. Nesta última sessão, tanto a paciente quanto
os enfermeiros mostraram-se muito satisfeitos com o
tratamento, e a paciente relatou que a dor e a ardência no
local diminuíram muito.
Os resultados obtidos foram analisados de forma
qualitativa por meio de fotos que foram tiradas antes de se
iniciar o tratamento, na 6ª e 12ª aplicações, e também pelos
relatos da paciente quanto à dor.
Na 1ª foto (Fig. 1) pudemos observar que a ferida
apresentava uma cor cinza escuro por toda sua extensão,
sem infecção pois não apresentava substâncias purulentas,
sem cheiro fétido. Também não apresentava sinais de início
de cicatrização. A paciente relatava ardência e dor no local
da ferida, principalmente na hora do banho.
Fig. 2 - Foto da ferida na região súpero-lateral da coxa esquerda (paciente em
decúbito lateral) tirada dia 25/03/2002, na 6ª aplicação.
Fig. 3 - Foto da ferida na região súpero-lateral da coxa esquerda (paciente em
decúbito lateral) tirada dia 20/04/2002, na décima segunda aplicação.
Fig. 1 - Foto da ferida na região súpero-lateral da coxa esquerda (paciente em
decúbito lateral) tirada no dia 02/03/2002, antes do início do tratamento.
Discussão
A partir da 3ª aplicação já foi possível observar tecido
cicatricial em determinados locais da ferida. A paciente já
relatava melhora da dor e da ardência.
Na 6ª aplicação, (Fig. 2), já pudemos observar a presença
de tecido cicatricial em quase toda extensão da ferida,
observando somente nas bordas laterais ausência de
Vários estudos têm investigado a eficácia do laser de
baixa intensidade no fechamento de feridas, entretanto não
são estudos definitivos. Tendo isto em vista, o objetivo deste
trabalho foi verificar a eficácia do laser através de uma
análise qualitativa, utilizando o laser de baixa intensidade
HeNe (632,8 nm), já que vários autores [5,6,7], descrevem
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que este tipo de laser é eficaz no fechamento de feridas.
Em um estudo realizado por Arantes et al. [7], com
pacientes portadores de úlcera de membro inferior,
verificaram que os melhores resultados num menor tempo
de tratamento sem recidivas e com diminuição ou ausência
de complicações foram obtidos com tratamento clínico
associado com laserterapia de baixa intensidade.
O tratamento dos vários tipos de úlcera crônica foi a
primeira aplicação do laser de baixa intensidade
experimentada em humanos durante o final da década de
60 e início dos anos 70, quando foram utilizadas fontes
HeNe e doses de até 4J/cm²; foi baseado na obtenção de
êxito nesses primeiros estudos, em termos de velocidade
mais rápida de cicatrização e de redução da dor, que a
modalidade tornou-se rapidamente popular nesta aplicação,
baseado na obtenção de êxito nesses primeiros estudos em
termos de velocidade mais rápida de cicatrização e de
redução de dor [8].
O laser escolhido para este trabalho foi o laser HeNe
(632,8 nm) já que, como descrito acima, este tem sido
muito utilizado, com resultados eficazes para a cicatrização.
Roig et al. [9] em tratamento de úlcera de decúbito em região
sacral de lesado medular com laser HeNe, observaram a
diminuição do tempo de reabilitação e melhora do trofismo
da zona afetada e da dor, sem ocorrência de recidiva, e
Fiurini [6] aborda a utilização de laser He/Ne em cicatrização
de úlceras cutâneas crônicas como tratamento de eficácia
superior aos procedimentos fisioterápicos convencionais,
porém não é um estudo controlado.
Há uma ampla variação nas recomendações sobre a
energia ideal para condições diferentes. As faixas usuais vão
de 1 a 10J/cm² mas doses tão baixas quanto 0.5J/cm² e
altas como 32J/cm² têm sido sugeridas [10].
Rigau [11] sugere a ocorrência de uma “saturação da
densidade de energia acima de 4J/cm²” em experimentos
feitos em feridas abertas. Doses mais altas são geralmente
recomendadas para tecidos subcutâneos. Tem sido sugerida
a existência de uma “janela” terapêutica para a dosagem de
laser localizada entre 0.5J/cm² e 4J/cm² [12].
Segundo Rigau [11] os parâmetros de 632,8 nm de
comprimento de onda, a uma densidade de energia de
aproximadamente 2 a 4 J/cm² e uma densidade de potência
de aproximadamente 4 W/cm², são os mais aceitos para o
tratamento de úlceras na pele.
Assim, em nosso trabalho, a densidade de energia utilizada
foi de 3J/cm², método pontual, num total de sete pontos,
para que pudesse totalizar 20J/cm² em cada sessão de
tratamento, sendo duas sessões semanais. E o total de
aplicações foram doze (12), em decorrência do tempo
disponível para a realização do trabalho. Pois segundo Rigau
[11], o ideal é que a energia total não ultrapasse 40J/cm², e
segundo Al-Watban & Zhang [13] apud Rigau [11] em
estudos feitos com ratos em laboratório, observando-se o
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147
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efeito do laser sobre o processo cicatricial, constataram que
os resultados eram dependentes das doses e da freqüência
do tratamento; na qual em mais de cinco dias por semana
obtinha-se um efeito negativo sobre a cicatrização.
A cicatrização tecidual é um processo complexo que
envolve atividade local e sistêmica do organismo, sendo os
fibroblastos uma das células diretamente envolvidas nesse
complexo processo. A ação terapêutica do laser na cicatrização
também é bastante complexa, induzindo efeitos locais e
sistêmicos; trófico-regenerativos, antiinflamatórios e antálgicos.
Estes efeitos foram demonstrados “in vitro” e “in vivo”,
destacando-se trabalhos que enfatizam o aumento da microcirculação local, ativação do sistema linfático, proliferação de
células epiteliais e de fibroblastos, assim como o aumento da
síntese de colágeno por parte desses últimos [14].
Como pudemos observar através da análise qualitativa
das fotos, o laser foi eficaz na reparação cutânea ou
cicatrização, porém, como não foram feitos nenhum outro
tipo de análise neste estudo sobre como ocorre este processo,
não podemos afirmar de que forma o laser agiu na
cicatrização, porém, segundo Manteifel [15], a exposição
dos tecidos à radiação laser na região do vermelho aumenta
a taxa de formação do retículo endoplasmático e do
complexo de Golgi, como também o número de
mitocôndrias, somando-se a isto, Bosatra [16] diz que existe
um acúmulo de material fibrilar no citoplasma de fibroblastos
e que estas mudanças estão associadas à ativação do
metabolismo e à síntese protéica, acelerando a cicatrização.
Mester & Snow [17] apud Rigau [11] descreve que o
laser de baixa intensidade acelera a divisão celular. Observase um aumento de leucócitos que participam da fagocitose
e uma maior síntese de colágeno por parte dos fibroblastos.
Ao contrário do que afirma Lopes [14], que a epitelização
inicia-se a partir das bordas da úlcera e de alguns focos
epidérmicos, no nosso estudo de caso, como podemos
observar pelas figuras 02 e 03, a cicatrização deu-se do
meio para as bordas, sendo que estas não estavam totalmente
preenchidas por tecido cicatricial na 12ª aplicação do laser.
Além da cicatrização da ferida que pudemos observar
pelas fotos, houve também em nosso estudo de caso, uma
melhora significativa da dor relatada pelo paciente.
Acreditamos assim, que o laser também foi responsável
por este efeito, como relatou Tam [18] em que ele utilizou o
laser pulsado AsGa 904 nm em 372 pacientes que
apresentavam as mais diversas patologias, desde úlceras
crônicas até doenças reumáticas ou degenerativas, sendo o
seu objetivo principal, obter uma ação analgésica do laser, e
observou que o laser reduziu os sintomas (dor) e melhorou
a qualidade de vida desses pacientes. Esse efeito deve-se
dar pela diminuição da prostaglandina (PGE2) como relatam
Campana et al. [19] em seus estudos, em que o laser diminuiu
os níveis de PGE2 plasmática e sinovial em ratos com artrite
reumatóide tratados com laser de baixa potência HeNe
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(632,8 nm). Visto que a PGE2 é um mediador químico da
inflamação e responsável por um de seus sintomas que é a dor.
Diante dos fatos de que muitos estudos publicados até
agora foram inadequadamente controlados e baseados em
números relativamente pequenos de indivíduos, e que, além
do mais, os resultados não foram exclusivamente positivos,
justifica-se perfeitamente a realização de novos estudos que
estabeleçam definitivamente os benefícios oriundos desta
modalidade quanto à promoção da cicatrização de feridas,
e particularmente a relevância dos parâmetros de irradiação
com relação a estes efeitos.
Conclusão
Pela análise qualitativa dos resultados obtidos, concluímos
que o uso do laser HeNe (632,8 nm) com os parâmetros
aplicados foi eficaz para o processo de fechamento da ferida.
A paciente obteve resultados rápidos de cicatrização, após
longo tempo de instalação da ferida, a qual lhes causava
incapacidade quanto as AVD’s (transferência, vestuário,
higiene pessoal), dor e incômodo em relação ao
posicionamento. Assim, sugerimos que este trabalho continue
a ser pesquisado com maior número de casos e com outros
métodos, como análise de tecidos, para que esse processo
laser e feridas possa ser melhor entendido.
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2. Gonçalves G, Parizotto NA. Fisiopatologia da reparação
cutânea: atuação da fisioterapia. Rev Bras Fisiot
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3. Kahn J. Princípios e prática de eletroterapia. 4 ed. São
Paulo: Santos, 2001. p.33-46.
4. Karu T. Molecular mechanism of the therapeutic effect
of low-intensity laser radiation. Lasers in the Life
Sciences 1998;2:53-7.
5. Baxter GD. Laser photobiomodulation of wound
healing. In: Therapeutic Lasers: Theory and Practice.
London: Churcill Livingstone, 1994. p.89-137.
6. Fiurini NJR. Utilização de laser HeNe em cicatrização
artigo 11.pmd
148
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preventiva em complicações de úlceras de membros
inferiores. Fisioterapia em movimento 1992;4:47-66.
8. Kitchen S, Bazin S. Eletroterapia de Clayton. 10a ed.
São Paulo: Manole, 1998. p.191-210.
9. Roig JLG, Trasobares EML, Sanches HM. Tratamiento
de las úlceras por presión en el lesionado medular com
laser de baja potencia y cirurgia. Presentación de un
caso. Ver Cuba – Ortop Traumatol 1990; 4:41-45.
10. Low J, Reed A. Eletroterapia explicada: princípios e
prática. 3o ed. São Paulo: Manole, 2001. p. 389-409.
11. Rigau J. Acción de la luz láser a baja intensidad en la
modulación de la función celular. [Tese]. Barcelona:
Universidad de Barcelona; 1996.
12. Laakso L, Richardson C, Cramond T. Quality of light
– is laser necessary for effective photobiostimulation?
Australian Physiotherapy 1993;39:87-92.
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healing. Laser Therapy 1995;7:11-18.
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José dos Campos: Universidade do Vale do Paraíba;
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with HeNe laser: appearance og giant mitochondria. J
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Dermatologia. Basel 1984;168:157-62.
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intensity laser irradiation on wound healing and on the
maturation and regeneration of factory neuroephitelial
explants. J Clin Laser Med Surg 1990;5:31-33.
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inflammation laser therapy. Fisioterapia em movimento
1999;11:6-10.
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Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 6 - novembro / dezembro de 2002
149
Normas de publicação Fisioterapia Brasil
A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade
bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos
científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia.
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser
publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em
outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro,
sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas
condições.
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical
journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo
Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as
especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em
inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee
of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão
atualizada de outubro de 2001.
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à
Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou
sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Nutrição (novas técnicas,
legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo
de revisão.
5. Relato de caso
São artigos de representan dados descritivos de um ou mais
casos explorando um método ou problema através de exemplo.
Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação
de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um
de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais
ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de
dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes
itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com
todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito,
etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
normas+eventos.pmd
3. Revisão
149
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato
A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em
Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
5. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
6. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a
artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou
trabalho antes de se publicar a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
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Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 6 - novembro / dezembro de 2002
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PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word, Wordperfect, etc), em página de formato A4, formatado da
seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com
todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com
qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem
estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o
espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser
efetuado em arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou email. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes,
etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou
CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos,
tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu
conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e
interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de
uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação
definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas
simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente
na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a
participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa
também não é suficiente.
4. Resumo e palavras-chave
(Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os
estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
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- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para
facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos
utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da
Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet
seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os
descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e
material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem
ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas
em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto,
local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão,
ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven Press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do
trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto
e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e
final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of
Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais,
disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser
enviados para:
Jean-Louis Peytavin
Atlantica Editora
Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
20021-180 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164
E-mail: [email protected]
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Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 6 - novembro / dezembro de 2002
Calendário de eventos
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12 a 14 de junho
International Trauma Congress
Durban, South Africa
Dr George E Dimopoulos
Tel: +27 31 2612018 / Fax: +27 31 261 7321
Email: [email protected]
2003
Abril
10 a 12 de abril
I o Congresso Internacional de Fisioterapia e II o
Simpósio Brasileiro sobre o diagnóstico cinesiológico
funcional
Centro de Convensões do Porto Mar-Fortaleza-CE
Informações: (85)3094.0464
24 a 26 de abril
Congresso Brasileiro de Ensino em Fisioterapia
VIII o Fórum Nacional de Docentes em Fisioterapia
II o Encontro Nacional de Coordenadores de Curso
Hotel Eco da Floresta, Pedra Azul ES
Informações: (27) 3200-3136 30 de abril a 4 de maio
Interfisio 2003
Barra Bonita, São Paulo
E-mail: [email protected]
Tel: (11) 9159-8592 André
Maio
16 a 18 de maio
IX o Encontro Paranaense de Fisioterapia Respiratória
Paranaguá - PR - Paraná
Informações: www.inspirar.com.br
23 e 24 de maio
III Encontro Multidisciplinar do Respirador Bucal
São Pedro - São Paulo
Informações: 19 - 3446-3446
E-mail: [email protected]
http://www.respiremelhor.com.br
28 a 30 de maio
VI COFIL - Congresso de Fisioterapia de Lavras
Lavras - Minas Gerais
Informações: (37) 9108-2996
E-mail: [email protected]
18 a 21 de junho
Physical Therapy 2003: Annual Conference &
Exposition of the American Physical Therapy
Association
Washington, DC
Informações: www.apta.org
Agosto
16 e 17 de agosto
IX o Simpósio de Ventilacao Mecanica do Hospital
Nossa Senhora de Lourdes
Sao Paulo SP
Informações: [email protected]
2004
Fevereiro
24 a 28 de fevereiro
International Society for the Study of the Lumbar Spine
2004 Annual Meeting
Porto, Portugal
Shirley Fitzgerald
Tel: 416-480-4833 / Fax: 4l6-480-6055
Email: [email protected]
Março
21-26 de março
8th Congress International Federation of Manipulative
Therapy
International Convention Centre
Cape Town, South Africa
Informações: www.uct.ac.za/depts/pgc/
Junho
7 a 12 de junho
World Confederation for Physical Therapy
14th International Congress and 15th
Meeting
Barcelona, Espanha
Informações: www.wcpt.org
E-mail: [email protected]
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General
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Índice
(vol.4, nº3 maio/junho 2003 - 153~232)
EDITORIAL
Inquietações, Marco Antonio Guimarães da Silva ................................................................................................................................... 155
ARTIGOS ORIGINAIS
A influência do arco plantar na postura e no conforto dos calçados ocupacionais, Eunice Tokars,
Arlete Ana Motter, Antônio R. P. Moro, Zuleika Coelho Moya Gomes ...................................................................................................... 157
Avaliação espirométrica de crianças portadoras de respiração bucal antes e após intervenção
fisioterapêutica, Eliane Corrêa Ribeiro, Luciano Melo Soares ................................................................................................................ 163
Aspectos sociológicos da fisioterapia na saúde catarinense, Edgar Edinson Fernandez Altamiranda .............................. 168
Fisioterapia prática
Alterações posturais decorrentes da discrepância dos membros inferiores, José Ronaldo Veronesi Junior,
Maritza Fabianee Kazuko Azato .................................................................................................................................................................. 173
Partos de mães adolescentes ocorridos no HUSM em 2001, Fernanda Ruviaro Busanello, Luciani Ribeiro Silveira,
Elhane Glass Morari Cassol ........................................................................................................................................................................... 181
Acupuntura cinética: tratamento sistemático do aparelho locomotor e neuromuscular
da face por acupuntura associada à cinesioterapia, Vasco de Senna-Fernandes, Daisy França,
Celia Martins Cortez, Gilson Silva, Francisco Pereira ..................................................................................................................................... 185
Reabilitação funcional para membros superiores pós-acidente vascular encefálico,
Selma Ramos da Silva e Souza, Cleber Alexandre de Oliveira, Neuza Akemi Mizuta, Maria Heloísa Matheus Rúbio dos Santos,
Anderson de Paula Moreira, Anderson Leandro Feitosa ................................................................................................................................. 195
REVISÕES
Fatores cinesiológicos relacionados à neuropatia supraescapular em jogadores de voleibol,
Gabriel Ribeiro, Cleber Sady ............................................................................................................................................................................ 200
Ginástica Laborativa
A importância dos músculos do assoalho pélvico feminino sob uma visão anatômica,
Ana Paula Souza da Silva, Jaqueline Souza da Silva .................................................................................................................................... 205
Alterações no consumo de oxigênio, na difusão da membrana alvéolo-capilar e anormalidades músculo
esqueléticas observadas após transplante cardíaco, Luciana Leitão Santos, Gisele Alves Guimarães .................................... 212
Reeducação neuromuscular e proprioceptiva em pacientes submetidos à reconstrução do ligamento
cruzado anterior, Anderson Delano Santos Araújo, José Reynaldo de Carvalho Merlo, Caroline Moreira ............................................ 217
ESTUDO DE CASO
Influência da inervação recíproca na recuperação da função motora de paciente hemiplégico
por acidente vascular cerebral, Mônica Magri, Neliana Siqueira da Silva, Mariângela Braga Pereira Nielsen ............................. 223
Atuação da fisioterapia em uma paciente submetida à tumorectomia, Daniella Regina Marcelino, Tayana Costa,
Melissa Medeiros Braz. .................................................................................................................................................................................... 227
NORMAS DE PUBLICAÇÃO. ............................................................................................................................................................. 230
EVENTOS. .................................................................................................................................................................................................. 232
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
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Fisioterapia Brasil
Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP - São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa)
Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (Univ. Federal de São Carlos - UFSCAR – São Paulo)
Prof. Dr. Paulo Sérgio Siebra Beraldo (Coord. Mestrado Sarah Kubitschek – Brasília)
Grupo de assessores
Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro)
Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná)
Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro)
Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador)
Dra. Luci Fabiane Scheffer Novaes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro)
a
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Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro)
Prof . Dr . Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia)
Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná)
Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo)
Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro)
Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
Dr. Gordon S. Cummings (Langley-Estados Unidos)
Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro)
Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro)
Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro)
Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro)
Rio de Janeiro
Rua da Lapa, 180/1103
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Redação e administração
(Todo o material a ser publicado deve ser
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Atendimento ao assinante
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Ilustração da capa: Marino Marini, Incontro, 1977, óleo sobre tela, (49,2 cm x 35,5 cm)
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Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na
revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
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Editorial
Inquietações
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Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva
* Editor científico de Fisioterapia Brasil
Pós Doutorado na UFRJ
Professor de mestrado recomendado
pela CAPES
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“O pensar é, primeiramente, ver e falar, mas com a condição de que o olho não
permaneça nas coisas e se eleve até as “visibilidades” e de que a linguagem não fique nas
palavras ou frases e se eleve até os enunciados”. O trecho em itálico que acabo de
selecionar é parte de uma entrevista sobre a leitura do pensar na obra de
Foucault, dada por Gilles Deleuze a Didier Eribon e publicada no Le Nouvel
Observateur em agosto de 1986. Um pensar que para Foucault é poder, não o
poder cujas relações de força estejam reduzidas à violência, mas um poder
de ações sobre ações para incitar, induzir.
Mas por que evocar Deleuze e Foucault em um editorial para a
fisioterapia? Tentarei justificar-me levantando alguns temores que me são
trazidos por meus alunos de pós-graduação, em três contextos diferentes,
aparentemente desconexos.
Primeiro contexto: ao terminar seus cursos de graduação, nas diversas áreas
de conhecimento, o que mais assombra os jovens é, sem dúvida, o desemprego.
O mercado, ao menos nos grandes centros, tem-se mostrado incapaz de equilibrar
a relação oferta/demanda Na área da fisioterapia, ainda se pode obter uma
excelente colocação se o candidato possui doutorado, uma boa colocação para
os que têm mestrado, uma razoável colocação para os especialistas; já para os
só graduados... Bem, o consolo é que existem exceções.
Segundo contexto: um vice-reitor de uma universidade, em uma conversa
informal, me pergunta o que pode fazer para melhorar o curso de graduação
em fisioterapia da sua instituição. Um bom começo, digo-lhe, seria fazer com
que o curso de fisioterapia fosse em horário integral, sem períodos noturnos,
reduzindo-se o número de vagas. Alguma coisa parecida com a medicina e
odontologia, que, mesmo quando em universidades privadas, conseguiram
permanecer como cursos integrais diurnos e uma quantidade de alunos
relativamente dentro do desejável.
Terceiro contexto: um fisioterapeuta visita um paciente, faz a sua avaliação
e programa um tratamento por um valor x. O paciente opta por um outro
fisioterapeuta que acaba cobrando 1/3 do que cobrou o seu colega e, portanto,
muito abaixo do recomendado pelo mercado.
Os contextos acima descritos se relacionam intimamente. Todos eles nos
conduzem à conclusão de que as instituições de ensino, pondo nas ruas uma
quantidade de profissionais muito além da esperada e, salvo exceções, com
formação aquém da desejada, acabam por promover um desequilíbrio entre
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oferta e demanda. Já os dois últimos contextos deixam claro que as ações da
instituição educacional e do fisioterapeuta não seriam aprovadas pelo conjunto
de regras facultativas que normalmente avaliam o que fazemos e que se
costuma chamar de ética. Alegariam alguns que o instinto de sobrevivência
profissional acaba levando o fisioterapeuta a desconsiderar o estabelecido
por convenção e a aceitar honorários indignos.
Já disse, em outra ocasião, que estamos assistindo a um progresso
considerável na área acadêmica, com a criação de cursos de mestrado e
doutorado que deverão aumentar a nossa massa crítica. Entretanto, no presente
momento, tal grupo é, pela sua própria natureza, incapaz de equacionar os
problemas levantados.
É hora de propormos algumas questões, retomando, portanto, o inicio do
editorial: como tomar alguma posição diante do quadro que se nos apresenta?
Estamos realmente enxergando o que acontece ou apenas vemos as coisas,
sem elevar os olhos para o que Foucault chama de visibilidades? É possível
usar o pensamento como estratégia, como poder de ação que reflita os anseios
dos 60.000 fisioterapeutas do país? Responda, você. Mas tenho a certeza de
que quaisquer que sejam as suas respostas, elas lhe trarão algumas inquietações,
que talvez possam ser as precursoras de novos tempos na fisioterapia.
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Artigo original
A influência do arco plantar na postura
e no conforto dos calçados ocupacionais
Influence of the arc plantar in position
and confort of occupational footwear
Eunice Tokars*, Arlete Ana Motter**, Antônio R. P. Moro***, Zuleika Coelho Moya Gomes****
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* Fisioterapeuta, mestre em Engenharia de Produção - ênfase em Ergonomia pela Universidade Federal de Santa Catarina, professora
da Universidade Tuiuti do Paraná e Uniandrade, **Fisioterapeuta, mestre em Engenharia de Produção – ênfase em Ergonomia pela
Universidade Federal de Santa Catarina, professora da Universidade Tuiuti do Paraná, ***Educador físico, doutor em Engenharia
de Produção - ênfase em Ergonomia, professor de Biomecânica Ocupacional no mestrado e doutorado da Engenharia de Produção
da Universidade Federal de Santa Catarina,****Fisioterapeuta, mestre em Educação e professora da PUC – Paraná
Resumo
Os calçados ocupacionais surgiram em épocas pré-históricas devido à
necessidade de proteger os pés. A proteção, a adaptação funcional, ambiental e a
forma anatômica deveriam ser alguns dos principais critérios utilizados na
fabricação dos calçados para que os trabalhadores possam realizar suas tarefas
com conforto e sem prejudicar a saúde dos pés. Porém, observa-se que o
comportamento biomecânico difere nos pés normais, cavos e planos, tanto estática
como dinamicamente. Neste estudo, 3 indivíduos do sexo feminino, cada um
com um tipo de pé, foram avaliados quanto à postura e o torque de força
concêntrica isocinética. O objetivo foi demonstrar que os fabricantes dos calçados
devem atentar para a variação dos arcos plantares existentes e que esta pode
biomecanicamente desencadear alterações posturais conforme o calçado utilizado,
podendo causar dores nos pés, joelhos, quadril e coluna.
Palavras-chave:
Arco plantar, postura,
calçado.
Artigo recebido em 11 de novembro de 2002; aceito em 15 de abril de 2003.
Endereço para correspondência: Eunice Tokars, Rua São Domingos, 849, bairro Pilarzinho, 82100-390 Curitiba PR, Tel: (41) 331-7835,
E-mail: [email protected]
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Abstract
The occupational footwear had appeared at prehistoric period due to necessity to
protect the feet. The protection, the functional, ambient adaptation and the anatomical
form would have to be some of the main criteria used in the manufacture of the footwear
so that the workers can carry through its tasks with comfort and without harming the
health of the feet. However, it is observed that the biomechanics behavior differs in the
normal, cavos and plain, feet in such a way static as dynamic. In this study, 3 individuals
of the feminine sex, each one with a type of foot, had been evaluated how much to the
position and the torque of concentrical isokinetic force. The objective was to demonstrate
that the manufacturers of the footwear must attempt for the variation of the existing
plantar arcs and that this can biomechanically unchain postures alterations as the used
footwear, being able to cause pains in the feet, knees, hip and column.
Key-words:
plantar Arc, posture,
footwear.
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Introdução
O pé, como extremidade do membro inferior, é uma
estrutura tridimensional diferenciada no ser humano, já que é
o único mamífero bípede em toda a natureza [1]. O complexo
articular do tornozelo e do pé proporciona uma base estável
de suporte para o corpo numa variedade de posições de
suporte de peso, com atividade muscular específica e o devido
gasto energético. Age como uma alavanca fixa para
impulsionar efetivamente o corpo durante a marcha [2].
Esta articulação, segundo Hamill e Knutzen [3], é
elaborada mais para estabilidade do que para mobilidade.
Portanto, deve ser flexível o suficiente para absorver os
impactos do peso corporal e as rotações das extremidades
inferiores durante o choque do calcanhar, permitindo que
o pé se adapte ao terreno sem perder a estabilidade [4].
Mantém sempre o equilíbrio anti-gravitacional, graças à
captação contínua pela superfície plantar dos estímulos
provenientes do terreno e de respostas adequadas através
de articulações, ligamentos, músculos e tendões [5].
Três das múltiplas articulações do pé e tornozelo são as
principais responsáveis pelas funções apresentadas:
articulação talocrural, subtalar e mediotársica. A
movimentação nas articulações talocrural, subtalar e
mediotársica ocorre ao redor de eixos triplanares, que vão
de uma posição plantar lateral posterior para uma posição
dorsal média anterior. Os movimentos triplanares são
denominados pronação (eversão + abdução + dorsiflexão)
e supinação (inversão + adução + plantiflexão) [6].
Na posição ortostática bilateral cada tornozelo suporta
aproximadamente 50% do peso corporal e esta força dividese em dois vetores, um para o calcâneo e outro para as
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cabeças dos metatarsianos [7]. Segundo as mais recentes
análises, no pé descalço em apoio bipodal, o calcâneo
recebe 57% e o metatarso 43% do peso. Com um salto
de 2 cm, há um equilíbrio de 50% em cada um dos
vetores; com 4 cm o calcâneo recebe 43% e o metatarso
57%; com 10 cm de salto 100% do peso fica no antepé
[1]. Contudo, se for requisitada atividade muscular para
proporcionar o equilíbrio, as forças de reação articulares
aumentarão em proporção direta com o grau de força
muscular utilizado [8].
Porém, deve-se observar que a distribuição do peso
corporal sobre os pés depende do formato dos arcos plantares
e da localização da linha de gravidade no dado momento [9].
Os indivíduos podem ser classificados, de acordo com
a altura do arco plantar, nos seguintes tipos de pés: normal,
cavo ou com o arco medial elevado, plano ou pé chato.
Durante o apoio estático ou dinâmico, o pé cavo não faz
qualquer contato com o meio do pé e geralmente não
apresenta inversão ou eversão durante o apoio, não é
eficiente na absorção de choque. Já, o pé plano,
hipermóvel, faz contato da maior parte de sua superfície
plantar, mas enfraquece a face medial e faz pronação
excessiva durante a fase de apoio na marcha. No pé
normal, o eixo da carga passa pelo centro da superfície
articular da tíbia e pelo centro da área de apoio da
tuberosidade calcaneana [1].
O pé normal tem um eixo subtalar de 42 a 45 graus e a
rotação interna do pé é igual à da perna. Já, no pé cavo,
ocorre uma rotação interna do pé menor que a da perna,
com menos pronação. O pé plano apresenta mais pronação,
já que a rotação interna do pé é maior do que a da perna.
Vale lembrar que a pronação contínua é a causa primária de
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desconforto e disfunção no pé e na perna, Fig. 1 – Impressão plantar.
causando dor lateral no quadril por uma inclinação
anterior da pelve ou distensão dos músculos
inversores [3].
Segundo Hall [6] são os movimentos de
pronação e supinação excessiva que afetam o
tornozelo e o pé. Por isto, os músculos devem
manter um equilíbrio para que o movimento
C2
C1
N
P1
P2
P3
P4
funcional seja uniforme.
Os músculos fibulares são responsáveis pela Classificação podográfica dos pés cavos e planos, segundo Viladot : C2 – pé
pronação; os tibiais anterior e posterior e os flexores cavo de segundo grau; C1 – pé cavo de primeiro grau; N – pé normal; P1 – pé
dos artelhos, flexor longo dos dedos e do hálux plano de primeiro grau; P2 – pé plano de segundo grau; P3 – pé plano de
realizam o movimento de supinação [3]. Soderberg terceiro grau; P4 – pé plano de quarto grau.
[10] postula que “a força dos dorsiflexores é somente
um quarto da força dos flexores plantares”.
A avaliação isocinética foi realizada através do
Considerando-se que o corpo é mantido em bipedestação
dinamômetro
marca Cybex Sistem Nor m segundo
pelo equilíbrio estático e este é constituído por uma sucessão
orientações do fabricante [14]. Antes, cada indivíduo
de desequilíbrios controlados pela musculatura tônica, poderealizou 10 minutos de bicicleta estacionária para
se então dividir o corpo em três blocos segmentares: a base
aquecimento. Esta avaliação incluiu a mensuração do
estável (membros inferiores), o bloco oscilante (tronco) e o
ângulo de movimento máximo para os movimentos de
bloco de adaptação (cabeça). A base estável depende
dorsi e plantiflexão, inversão e eversão dos tornozelos
principalmente da estabilidade. Sendo o pé o seu órgão
direito e esquerdo. Somente testou-se a força muscular
determinante, sem bons apoios dos pés no chão não há
concêntrica para verificação do pico de torque por peso
uma boa estática. Apesar de redundante, pode-se dizer que
corporal na velocidade angular de 30 graus/segundo.
estes bons apoios dependem primordialmente dos pés, depois
dos joelhos e também do quadril, fechando assim a base
sólida ou estável [11]. Então, percebe-se que cada segmento
Resultados
se equilibra sobre o inferior em um processo ascendente
Tabela I – Características dos indivíduos.
cujo objetivo é a posição correta do centro de gravidade.
Indivíduo
Idade
Peso corporal Tipo de pé
De acordo com Momesso [12], uma postura correta
(kg)
apresenta equilíbrio dinâmico dos vários segmentos
A
40
anos
60
C1 (pés cavos de 1o grau)
corporais no plano sagital, longitudinal e axial, em várias
B
23 anos
50
N (pés normais)
posições com eficiência fisiológica e biomecânica e um
C
25 anos
69
P3 (pés planos de 3o grau)
mínimo de esforço e tensão. Quando ocorre desequilíbrio,
os segmentos corporais necessitam de um trabalho
Na tabela I, descreveu-se a idade, o peso corporal e o
muscular adicional. Este autor também cogita a
tipo
do pé apresentado [11].
possibilidade de que alterações posturais também possam
ocorrer com a utilização de indumentárias inadequadas
Optou-se por sintetizar as avaliações devido ao
como calçados, em especial os de salto alto, por agirem de
número
de dados. Considerou-se valgo fisiológico por
forma indireta sobre o centro de gravidade do corpo.
serem do sexo feminino, apresentarem em torno de 6o
grau de valgo ou 2 cm de afastamento entre os maléolos
Material e métodos
na posição em pé.
Observa-se que: a cabeça é protusa em A e C e normal
No mês de setembro de 2002, três indivíduos do sexo
em B; a coluna cervical é normal em A e B e retificada
feminino com idade entre 23 e 40 anos foram incluídos
em C; os ombros são protusos e a coluna torácica é
neste estudo. Todas exercem profissões que exigem posturas
retificada em ABC; a pelve é levemente retrovertida em
estáticas e dinâmicas.
A, levemente anterovertida em C e normal em B; os
Realizou-se avaliação postural clássica em pé, com
joelhos em A e B são valgos fisiológicos, em C são valgos
mínima roupa, nas vistas anterior, lateral e posterior. Foram
e hiperestendidos moderadamente e apresenta rotação
obtidas as impressões plantares aplicando-se tinta na face
interna das tíbias. Quanto aos pés, o cavo (A) tem o
plantar de ambos os pés e solicitado que os indivíduos
retropé valgo e o antepé varo, o normal (B) tem o retro
pisassem numa folha de papel em branco, fazendo o mesmo
e antepé normais e o plano (C) apresenta o retro e o
apoio nos dois lados. Cada par de impressão plantar foi
antepé valgo.
interpretado segundo Viladot [13] (Fig. 1).
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Tabela II – Avaliação postural
Indivíduos
A
B
C
Cabeça
Coluna cervical
Coluna torácica
Ombros
Pelve
Joelhos
Protusa
Normal
Retificada
Protusos
Leve retroversão
Valgo fisiológico +
hiperextensão leve
Retropé valgo
Cavo
Normal
Normal
Retificada
Protusos
Normal
Valgo fisiológico normal
Normal
Normal
Protusa
Retificada
Retificada
Protusos
Leve anteroversão
Valgo + rotação interna +
hiperextensão moderada
Retropé valgo
Plano
Antepé valgo
Normal
Antepé valgo
Pés
Tabela III – Avaliação isocinética – pico de torque N/m.
Movimento Pé/tornozelo
Dorsiflexão
Plantiflexão
A
B
C
D
23
18
28
D
88
68
67
E
23
17
27
Fig. 2 – Gráficos da avaliação isocinética do indivíduo A – pés cavos.
E
100
78
67
Eversão
D
31
24
32
Inversão
E
31
30
41
D
52
30
33
E
40
30
37
Fig. 3B – Movimentos de inversão e eversão.
Fig. 2 A - Movimentos de dorsi e plantiflexão.
Fig. 2B – Movimentos de inversão e eversão.
Fig. 3 – Gráficos de avaliação isocinética do indivíduo B – pés normais.
Fig. 3A – Movimentos de planti e dorsiflexão.
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Fig. 4 – Gráfico de avaliação isocinética do indivíduo C – pés planos.
Fig. 4A – Movimentos de planti e dorsiflexão.
Fig. 4B – Movimentos de inversão e eversão.
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No indivíduo A observa-se a dominância dos músculos
plantiflexores (+esq.) e inversores responsáveis
biomecanicamente pelo pé cavo.
No indivíduo B há uma prevalência dos plantiflexores,
os movimentos de eversão e inversão são equivalentes.
No indivíduo C também prevalecem os plantiflexores
com prevalência da eversão no pé esquerdo e a direita é
equivalente.
Discussão
O ambiente de trabalho representa um conjunto de
fatores interdependentes que atuam sobre a qualidade de
vida das pessoas e também no próprio resultado do trabalho
[15]. Com isto, vê-se a possibilidade do trabalhador ignorar
alguma dor pela concentração durante o trabalho ou ao
contrário, não conseguir desempenhar suas funções devido
à dor ocasionada por alguma lesão ou desconforto [16]. A
postura incorreta é um fator gerador de patologias já que
impede um ajuste angular confortável das articulações e
pode causar dor [17].
A manutenção de uma postura inadequada propicia
determinadas adaptações estruturais do tecido muscular
estriado esquelético como conseqüente perda da flexibilidade
corporal, acarretando em limitação da mobilidade articular,
predisposição de lesões musculares, algias da coluna vertebral
e desenvolvimento de processos degenerativos por aplicação
de forças irregulares levando à incapacidade funcional
temporária ou permanente [18].
Por outro lado, uma dor, sobretudo no nível das zonas
de apoio dos pés, também leva a uma postura antálgica
com adaptações posturais [5].
As deficiências anatômicas em toda a extremidade
inferior podem resultar em alinhamento e padrões de
movimento anormais do pé e tornozelo. Inversamente, as
deficiências anatômicas do pé e tornozelo podem resultar
em alinhamento e padrões de movimento anormais através
da cadeia cinética no joelho, quadril, pelve e coluna vertebral.
O alinhamento e os padrões de movimento anormais podem
resultar em estresse e sobrecarga excessivos sobre os tecidos
moles e as estruturas ósseas, dando origem a microtraumas
cumulativos e dor músculo- esquelética. Estes podem afetar
a função e levar à incapacidade [6].
O bloco segmentar, base estável, pés, joelhos e pelve
apresentam-se normais no indivíduo B, bem como a
avaliação isocinética de força concêntrica foi equivalente.
Interessante observar que os indivíduos com pés cavos
e planos apresentaram alterações posturais de pelve, joelho
e pés, bem como a avaliação isocinética. Entretanto, no
indivíduo C não houve diferença de força concêntrica de
inversão e eversão no pé direito talvez pelas múltiplas
entorses ocorridas, mas a força de eversão no pé esquerdo
prevaleceu, que é uma característica dos pés planos,
pronados. Hamill [3] também refere que muitas lesões do
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membro inferior estão associadas com pronação excessiva,
não simplesmente a quantidade máxima de pronação, mas
também a percentagem de apoio e o tempo em que a
pronação está presente .
Num outro estudo, o autor comenta que quando ocorrem
alterações no pé, elemento funcional e especializado,
compromete também sua biomecânica, modificando a função
de suporte e propulsão do corpo durante e locomoção [19].
Como então os pés cavos e planos comporta-se com
sapatos para pés normais? Sabe-se pela revisão de literatura
que a superfície do pé é uma região altamente especializada
e reflete na postura a má distribuição de forças na presença
de alterações dos arcos plantares. Segundo Couto apud Vale
[20], os calçados de segurança fabricados no Brasil ainda
são inferiores se comparados aos europeus, não quanto à
segurança, mas sim quanto à qualidade, já que na Europa as
matérias-primas são superiores assim como o acabamento,
porém com custo menor .
Lacerda apud Dutra [16] constatou que há diferença até
nas proporções corporais existentes nas medidas dos pés
dos brasileiros em relação aos europeus, já que estes são
mais finos e longos e aqueles mais curtos e “gordos”. Isto
não seria o problema se os moldes de calçados brasileiros
não fossem baseados nas formas européias e se existissem
medidas antropométricas normatizadas na população
brasileira e estas também referissem a predominância de
pés normais, planos ou cavos.
Todo indivíduo deveria na compra de um calçado, conhecer
o tipo do seu pé, uma vez que o comprimento, a largura e a
altura da área plantar afetam a adaptação do calçado [5].
Conclusão
Os arcos plantares podem modificar a postura pela
atuação ascendente, conseqüentemente o tipo de calçado
utilizado poderá causar dores nos pés, joelhos, quadril e
coluna. Sugere-se, então, um levantamento das medidas dos
pés dos brasileiros quando à altura do arco plantar, largura
e comprimento dos pés para maior conforto e qualidade de
vida dos usuários de calçados, principalmente durante a
jornada de trabalho.
Agradecimento
Agradecimento especial ao professor fisioterapeuta
Gustavo Rauen Buck da Universidade Tuiuti do Paraná,
pela colaboração na avaliação isocinética deste artigo.
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IX Simpósio Internacional
de Ventilação Mecânica
16 e 17 de agosto
2003
Informações no site
www.cefir.com.br
n
ou pelo telefone (11) 5018-4730
Centro de Estudos do HNSL
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Artigo original
Avaliação espirométrica de crianças
portadoras de respiração bucal antes e após
intervenção fisioterapêutica
Spirometric evaluation of children with mouth breathing
syndrome before and after physical therapy treatment
Eliane Corrêa Ribeiro*, Luciano Melo Soares**
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*Professora Assistente do Departamento de Fisioterapia e Reabilitação da UFSM - RS, Mestre em Distúrbios da
Comunicação Humana (UFSM), Doutoranda em Biologia Buco-dental, área de Anatomia (FOP/UNICAMP),
**Fisioterapeuta graduado pela Universidade Federal de Santa Maria - RS
Palavras-chave:
Espirometria, respiração
bucal, função pulmonar.
Resumo
A respiração bucal é uma síndrome caracterizada por alterações da morfologia
e função dento-faciais, alterações do sono e de comportamento, dificuldade de
concentração, baixo rendimento escolar e comprometimento da postura corporal.
Uma das suas principais causas é a alergia respiratória que leva à hipertrofia das
tonsilas palatinas, dificultando a respiração nasal e forçando a alteração do padrão
respiratório. Acredita-se que o processo alérgico, além das alterações nas vias aéreas
superiores, também pode estar comprometendo a árvore brônquica, por isso este
trabalho propõe-se a avaliar a função pulmonar de crianças portadoras de respiração
bucal antes e após a intervenção fisioterapêutica. Como resultado, foi identificado
o comprometimento da função pulmonar em 79% das crianças antes da fisioterapia
e este índice reduziu para 43% após o tratamento. Houve melhora do padrão
ventilatório diafragmático, que passou de 43% das crianças para 86% após o
tratamento.Concluiu-se que é necessária a intervenção fisioterapêutica nesta
síndrome, devido às alterações posturais e espirométricas existentes, com atuação
conjunta com otorrinolaringologista, ortodontista e fonoaudiólogo.
Artigo recebido em 16 de dezembro de 2002; aceito em 15 de maio de 2003.
Endereço para correspondência: Eliane Corrêa Ribeiro, Rua Tuiuti 2462/803 centro 97050-420 Santa Maria RS, Tel: (55) 2251382,
E-mail: [email protected]
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Abstract
The mouth breathing syndrome is characterized by alterations in dento-facial
morphology and function, sleep and behavior alteration, concentration difficulty and
body posture changes. One of its main causes is the respiratory allergy, that determines
the palatine tonsils hypertrophy, doing nasal breath more difficult and forcing the
respiratory pattern change. It is believable that the allergic process not only affects the
upper airway, but also compromises the bronchial tree. Because of this, this work
proposes to assess the lung function of mouth breathing children before and after
physical therapy intervention. As a results, it was identified the lung disfunction in 79%
of children before physical therapy and this rate decrease to 43% after treatment.
There was a improve in the diaphragmatic ventilatory pattern, from 43% of children
before treatment to 86% after treatment. It can be concluded that the physical therapy
intervention is necessary in this syndrome, due to body posture and spirometric alterations,
associated with otolaryngologist, orthodontist and speech therapy treatment.
Key-words:
Spirometry, mouth
breathing, pulmonar
function.
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Introdução
A alergia respiratória constitui uma das principais
causas de obstrução nasal que, como conseqüência,
determina a síndrome do respirador bucal. Possivelmente,
em virtude dos fatores alérgicos, das alterações posturais
e da mecânica ventilatória, presentes nestes casos, também
haja um comprometimento das vias aéreas inferiores e
da função pulmonar.
A falta de umidificação, aquecimento e filtração do ar,
quando este penetra pela boca, contribui para a passagem
de alérgenos e irritantes para as vias aéreas inferiores,
podendo causar prejuízo na função pulmonar. Também,
ocorre uma queda na PO2 arterial devido às mudanças na
capacidade de difusão do ar ou na viscosidade do
surfactante causadas pela ausência de umidificação do ar
pelo nariz.
Costa [1] ressalta que a patologia das vias aéreas
superiores pode causar perturbação na “performance”
respiratória, pelo fato de que o bloqueio ou obstrução nasal
determina a respiração bucal, causando distúrbios do reflexo
nasopulmonar, com prejuízo da expansão torácica e da
ventilação alvéolo-pulmonar, levando até a alterações
morfológicas da coluna vertebral.
Na respiração bucal, os reflexos trigêminos simpáticos
deixam de ser excitados pela mucosa nasal, provocando uma
respiração atáxica, o que altera seu ritmo e amplitude, reduz
o volume de ar inspirado e leva a um hipóxia, o que
repercutirá em todo o organismo, com diminuição da
capacidade intelectual e de concentração. Também são
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evidentes anomalias na configuração torácica, como tórax
estreito, costelas salientes e moderada cifose dorsal. [2]
Considerando as alterações ventilatórias decorrentes da
obstrução nasal, descritas pelos autores acima citados, e a
recomendação de uma abordagem terapêutica multidisciplinar
para um resultado mais global e efetivo nestes casos, julgouse importante um estudo visando avaliar a função pulmonar
de crianças respiradoras bucais, por meio da espirometria,
antes e após a intervenção da fisioterapia.
Material e métodos
Sujeitos
O presente estudo foi realizado com 14 crianças
respiradoras bucais, de ambos os sexos, com idade entre 08
a 12 anos, com diagnóstico otorrinolaringológico e
fonoaudiológico comprovados e encaminhados para
Fisioterapia pelo Serviço de Atendimento Fonoaudiológico
(SAF) da UFSM.
Previamente à avaliação e tratamento das crianças, seus
pais ou responsáveis foram informados sobre os detalhes
da pesquisa, ausência de riscos e possíveis benefícios e, após
os esclarecimentos, assinaram termo de consentimento para
autorizar a participação da criança no presente estudo.
Procedimentos
Inicialmente, realizou-se uma avaliação constituída por
questionário com dados de identificação, exame físico e teste
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espirométrico com equipamento Vitatrace®. Na espirometria,
analisou-se a manobra de expiração forçada para obtenção
dos valores de CVF, VEF1, FEF25-75% e Índice de Tiffeneau
e a manobra de Ventilação Voluntária Máxima (VVM).
Uma vez avaliadas, as crianças foram submetidas a
tratamento de correção postural e reeducação respiratória,
seguindo métodos de alongamentos de cadeias musculares
e terapia manual [3,4].
A proposta de tratamento fisioterápico visou implementar
uma abordagem globalizada da criança, considerando as
alterações da postura corporal que estariam determinando
desvantagens à mecânica ventilatória. Para isso, utilizou-se
a terapia manual para alongamento da musculatura acessória
da respiração (escalenos e esternocleidomastóideo),
alongamento de músculos peitorais e grande dorsal para
corrigir a elevação das costelas e protrusão de ombros,
fortalecimento abdominal para favorecer o trabalho
diafragmático (abertura do gradil costal pelo apoio visceral
e abaixamento das costelas). Como recurso ludoterápico,
foi utilizada a bola suíça para alongamento de cadeia
inspiratória e relaxamento.
As crianças também receberam orientação postural com
ênfase aos cuidados com a posição da cabeça (evitar a
anteriorização), ombros (protrusão) e coluna dorsal (hipercifose).
Ao término do tratamento, realizado semanalmente, por
um período de 04 meses, as crianças foram reavaliadas.
A partir dos resultados da avaliação e reavaliação, foi
feita uma análise comparativa e descritiva dos mesmos.
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Gráfico 1 - Distribuição (em percentagem) dos padrões musculares
ventilatórios observados em respiradores bucais antes e depois da fisioterapia.
O grau de distúrbio ventilatório observado nas crianças
respiradoras bucais está representado no gráfico 3, em que
a percentagem de indivíduos normais aumentou de 21 para
57% após a fisioterapia e o grau moderado de distúrbio
foi eliminado.
Gráfico 2 - Médias dos valores espirométricos dos pacientes respiradores
bucais coletados antes e depois do tratamento.
Resultados
As crianças participantes do estudo eram 50% do sexo
masculino e 50% do sexo feminino. Quanto à idade, 34%
estavam com 09 anos, 20% com 10 e 11 anos, 13% com
8 e 12 anos.
Das 14 crianças, 64% recebiam tratamento
fisioterapêutico associado à fonoaudiologia, 29% recebiam
também tratamento ortodôntico, além da fisioterapia e
fonoaudiologia e 7% recebiam apenas tratamento
fisioterapêutico.
No gráfico 1 está representado o padrão muscular
ventilatório apresentado pelas crianças respiradoras bucais
antes e após a fisioterapia, evidenciando-se que o padrão
diafragmático presente em 43% das crianças antes do
tratamento foi observado em 86% das crianças após o
tratamento e a incidência do padrão apical reduziu de 43%
para 7% após o tratamento.
O gráfico 2 representa a percentagem dos valores obtidos
(em relação ao previsto) dos índices espirométricos das
crianças respiradoras bucais antes e após a fisioterapia. Podese observar que o maior comprometimento refere-se ao
FEF25-75% e VVM, os quais caracterizam uma disfunção
ventilatória do tipo obstrutiva. Após a fisioterapia, estes
índices atingiram valores de normalidade.
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Gráfico 3 - Distribuição dos graus de distúrbio ventilatório (obstrutivo
e misto) em respiradores bucais antes (GRBA) e depois (GRBD) do
tratamento.
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Discussão
No presente estudo, foi observada a transferência do
padrão apical para diafragmático após a reeducação, em
concordância com Irwin [5] que considera que o paciente
reeducado e treinado a utilizar o diafragma, obtém um
relaxamento da musculatura acessória, restaurando a
eficiência da respiração. Este resultado também vem
corroborar com a idéia de que a estimulação diafragmática
promove um melhor desempenho mecânico do músculo e,
conseqüentemente, uma ventilação pulmonar mais
satisfatória e com menor esforço muscular [6]. A reeducação
respiratória está indicada em pacientes com alergia
respiratória, porém nas fases intercrises [1]. Este
procedimento determina a redução da freqüência e
intensidade das crises de falta de ar [7].
A tomada de consciência da respiração nasal é uma das
etapas da educação do ato respiratório, pois além de aquecer,
umidificar e purificar o ar inspirado, promove o aumento
dos movimentos respiratórios pela excitação dos centros
superiores que regulam o tônus dos músculos respiratórios.
A readaptação do diafragma até a sinergia respiratória, consiste
em melhorar a sua utilização, para que seja completa e eficaz
[8]. A inclusão de exercícios e treinamento respiratório, com
ênfase no adequado trabalho diafragmático é recomendada
para a recuperação do padrão respiratório nasal [9].
Quanto ao tipo de distúrbio observado nas crianças do
estudo, houve uma tendência maior à obstrução brônquica,
pela alteração mais significativa no FEF25-75% e VVM.
Este resultado confirma a estreita relação da rinite alérgica
com a asma [9]. De acordo com COSTA [6], nas
anormalidades do padrão obstrutivo, ocorrem alterações
do fluxo expiratório e, os volumes que melhor exprimem a
presença de uma obstrução são: VEF1, índice de Tiffeneau,
peak-flow e FEF 25-75%. A VVM destina-se a avaliar as
propriedades mecânicas dos pulmões e caixa torácica,
associadas à condição muscular respiratória, segundo o
autor. Para Gotschall [10], a VVM costuma estar reduzida
na Insuficiência Ventilatória Obstrutiva e normal ou
discretamente reduzida na Restritiva, pois nesta última, o
paciente tende a compensar a pequena amplitude dos
movimentos respiratórios pelo aumento do frequência,
enquanto que, na obstrução ao fluxo isto não é possível. O
autor também considera os valores numéricos da VVM
pouco importantes e recomenda a observação morfológica
da curva para detecção precoce de algum comprometimento
obstrutivo na via aérea, como a elevação da linha de base
do traçado na presença de alçaponamento aéreo.
Quanto ao grau de comprometimento, identificou-se a
presença de distúrbios leves a moderados, porém estes graus
podem agravar-se com a evolução do quadro, o que justifica
a intervenção terapêutica na fase inicial da alteração na
função pulmonar. Tão importante quanto a perda da função
pulmonar é a velocidade em que ela ocorre. Por isso, a
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espirometria tem sido recomendada como medida de rotina
e de uso universal para monitorizar alterações pulmonares,
mesmo em indivíduos com valores dentro da normalidade.
[11] Os valores mínimos normais dos parâmetros
espirométricos são de 80% do valor previsto, com exceção do
FEF25-75%, em que o valor mínimo normal é de 60% [10].
À medida que aumenta o fluxo, aumenta a resistência
da via aérea e a turbulência pode estender-se para outros
locais e, estima-se que a metade da resistência das vias aéreas
deva-se às vias superiores e metade à árvore tráqueobrônquica [10]. Tal fato foi observado no presente estudo
no qual crianças, com aumento da resistência das vias aéreas
superiores pela obstrução nasal, também apresentaram
obstrução na ár vore brônquica, possivelmente pela
turbulência gerada pelo aumento do fluxo.
Quando há uma significativa obstrução nasal, o paciente
não é capaz de vencer a respiração bucal por esforço
consciente. Quanto maior o esforço para respirar pelo nariz,
maior turbulência é criada e menor volume de ar é inspirado,
por isso não é possível vencer uma obstrução com respiração
forçada pelo nariz. O volume de ar inspirado é inversamente
proporcional à resistência da via aérea [12]. O aumento da
resistência aérea nasal posterior diminui a pressão do ar e
seu volume, alterando a respiração normal, quanto à sua
profundidade e intensidade [13]. Em função disto, a
respiração bucal é utilizada somente em casos de emergência
ou de grande demanda ventilatória [2].
A importância da correção postural com alongamento
das cadeias musculares foi comprovada nos resultados
obtidos neste estudo, pois havendo uma adequação da
mecânica ventilatória, o trabalho diafragmático é favorecido
e o esforço respiratório diminui. Em situações de esforço
da ação respiratória ocorre uma contração mais vigorosa
do diafragma seguida pela ação dos músculos inspiratórios
acessórios. Após este esforço, a musculatura respiratória não
atinge a posição de repouso, pois os músculos inspiratórios
são elevadores, portanto, estáticos, isso faz com que estes
músculos evoluam no sentido da hipertonicidade,
encurtamento e perda da flexibilidade, acarretando
diminuição dos volumes pulmonares, diminuição da
amplitude inspiratória pelo bloqueio muscular, fadiga durante
esforços pela aceleração do ritmo respiratório e mesmo em
respiração de pequena amplitude, alongamento e relaxamento
dos músculos expiratórios dinâmicos. O ponto de equilíbrio
muscular é deslocado no sentido da inspiração e o trabalho
da musculatura inspiratória acessória será necessário, mesmo
numa respiração de pequena amplitude. Esses músculos
inspiratórios acessórios apresentam um futuro patológico
de hipertonia, rigidez e encurtamento e, uma perda de
comprimento de tais músculos modificará a posição da nuca,
dos ombros e do dorso. Inversamente, um mau
posicionamento cervical, da cintura escapular e coluna
vertebral favorece o enrijecimento desses músculos e levará
a uma defasagem inspiratória. Uma hipertonia dos
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esternocleidomastóideos e escalenos eleva as duas primeiras
costelas, a clavícula e o manúbrio do esterno, quando o ponto
fixo desses músculos for nucal. Nesse caso, o bloqueio
inspiratório da região superior do tórax parecerá evidente. [14]
Costa, Vitti & Tosello [15] observaram que, quando os
músculos principais da respiração trabalham com
desvantagem mecânica (situações de maior esforço
respiratório e físico) requerem uma grande atividade dos
músculos acessórios. Os autores concluíram que indivíduos
normais, que tem uma respiração costal e que respiram
rapidamente, utilizam mais intensivamente os músculos
acessórios da respiração. Este fato predispõe a desvantagens
na mecânica respiratória, já que sempre que os indivíduos
forem submetidos a um esforço respiratório fisiológico ou
apresentarem uma doença respiratória que produza dispnéia,
a atividade do esternocleidomastóideo provavelmente estará
aumentada. Se isto ocorre por um longo período, pode-se
estabelecer uma deficiência da mecânica respiratória.
Conclusão
Baseado nos resultados do presente estudo, conclui-se que
pacientes portadores da síndrome de respiração bucal também
apresentam comprometimento da função pulmonar, por ser
a alergia respiratória um dos seus principais fatores etiológicos.
A intervenção fisioterapêutica, visando a correção
postural e a reeducação diafragmática, promove o
restabelecimento da função pulmonar pela melhora da
mecânica ventilatória e do trabalho muscular diafragmático
com redução do trabalho respiratório.
Pelo caráter síndrômico e a comprovação das alterações
posturais e espirométricas, demonstrou-se a necessidade da
participação da fisioterapia na assistência aos pacientes
portadores de respiração bucal, atuando conjuntamente com
otorrinolaringologista, ortodontista e fonoaudiólogo.
Recomenda-se a realização de avaliações periódicas para
controle postural e espirométrico, devido à possibilidade de
exacerbação ou recidiva do quadro obstrutivo.
Ainda ressalta-se a importância da profilaxia desta
síndrome através do controle ambiental com medidas que
reduzam a exposição aos fatores alérgenos, com ênfase no
combate ao tabagismo passivo.
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Artigo original
Aspectos sociológicos da fisioterapia
na saúde catarinense
Sociological aspects of physical therapy
in Santa Catarina health system
Edgar Edinson Fernandez Altamiranda
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Fisioterapeuta graduado pela UFSM, Especialista em Fisiologia do Exercício Latu Sensu pela UDESC, Mestrando em Saúde Pública pela
UFSC, Fisioterapeuta do Hospital Florianópolis, efetivo da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina.
Resumo
Este trabalho aborda peculiaridades sociológicas gerais da fisioterapia e da saúde
catarinense, juntamente com algumas características do atual sistema de saúde. Tentase levantar informações que traduzam um perfil da organização e integração desta
categoria profissional, a partir de alguns aspectos sociológicos e organizacionais da
prática profissional da fisioterapia no Estado de Santa Catarina.
Palavras-chave:
Fisioterapia,
sistema de saúde.
Abstract
This work takes into account general sociological features of physical therapy and
health in Santa Catarina State and some characteristics of the current health system.
The purpose of the work is to gather information, which may present a profile of the
physical therapist’s organization and their integration in this professional category, starting
from some sociological and organizational aspects of the professional practice of physical
therapy in the State of Santa Catarina.
Key-words:
Physical therapy, health
system.
Artigo recebido em 12 de fevereiro de 2003; aceito em 15 de maio de 2003.
Endereço para correspondência: Edgar E. F. Altamiranda, Cx. Postal 20401, Kobrasol, São José, 88102-970 Santa Catarina SC, Tel: (48) 99607998, E-mail: [email protected]
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Introdução
Os recursos humanos em saúde são protagonistas das
mudanças determinadas pela legislação, em paralelo a um
sistema nacional de saúde em que a iniciativa privada cresce
dia-a-dia, sufocando o sistema público de saúde.
A importância indubitável do processo de ações e serviços
de saúde prestados à população não é suficiente para se ter
uma política salarial dignificante dos profissionais que atuam
de forma direta no processo de produção.
Os profissionais de saúde inseridos no Sistema de Saúde
são tratados sempre normativamente, até esquecendo de
sua natureza humana, ficando relegados a meros “prestadores
de ser viços”, fruto de mudanças impostas por um
pragmatismo que não aceita as políticas de recursos humanos.
Neste perfil, é que se desenvolvem as políticas de saúde,
com um modelo administrativo incoerente e ineficiente, pois
o reflexo disso é a insatisfação do usuário e do próprio
profissional da saúde.
O momento da fisioterapia é de crescimento, mesmo no
meio da crise social em que vivemos, com concentração de
rendas desiguais, baixos investimentos na saúde e educação,
o que exige uma maior conscientização de integração sóciopolítica do fisioterapeuta para tornar-se um ator atuante na
procura ou elaboração de soluções referentes às
preocupações sociais que sejam inerentes a sua competência.
O amadurecimento e o fortalecimento do espírito coletivo
da categoria deve-se iniciar pelo enriquecimento individual de
uma postura político-profissional ativa, através da participação
de debates, discussões e troca de informações de interesses e
necessidades dos serviços e profissionais neste âmbito.
Tedeschi [1] afirma, que “profissionais liberais de nível
superior, nos quais estão incluídos os fisioterapeutas, têm que
ter a noção que a política é o ponto de equilíbrio entre as
necessidades coletivas e a administração pública, e é exercida
por cada cidadão como dever, em respeito à sociedade que a
mantém, e como direito na inclusão de suas idéias nos destinos
desta mesma sociedade por que é responsável”.
Para fomentar esse aperfeiçoamento individual, entendo
importante não esquecer as origens de nossa profissão, que
traz com ela conhecimentos milenares que hoje fazem parte
de várias técnicas terapêuticas utilizadas na atualidade. A
riqueza do conhecimento milenar que faz parte do intelecto
que sustenta nossas ações deve ser um dos fortes pilares da
formação da consciência profissional para o desenvolvimento
da profissão e integração da mesma na sociedade.
Este trabalho descritivo tem o intuito de levantar uma
discussão sobre a situação da fisioterapia em Santa Catarina
com base na importância indiscutível deste serviço de saúde
para a população, visto o crescimento significativo de
fisioterapeutas que entram no mercado de trabalho
anualmente, além de servir como parâmetro comparativo
com outras regiões do país. Cabe salientar a importante
contribuição que dados levantados desta categoria
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169
169
profissional podem dar sustentação objetiva para o
empreendimento de ações que visem à melhora dos serviços
prestados, assim como também podem proporcionar uma
possibilidade de melhor organização desta classe profissional
no território catarinense.
Neste enfoque, o objetivo do artigo é estimular e
contribuir para o estabelecimento de um espírito coletivo
de responsabilidade sócio-político do fisioterapeuta e outros
profissionais de nível superior que se identifiquem com as
mesmas necessidades sociológicas e políticas, além de servir
como informativo para atores que têm em suas mãos o
poder de decisões que possam melhorar o acesso do serviço
fisioterapêutico para a população.
O método monográfico criado por Le Play é representativo
a este trabalho que consiste na exposição de generalidades da
fisioterapia no aspecto sociológico em Santa Catarina e posterior
análise sem deixar de considerar seus principais atores com
influência direta ou indireta a sua atual caracterização [2].
A fisioterapia na saúde catarinense:
uma abordagem sociológica
Em primeiro lugar, alguns aspectos gerais da fisioterapia
podem-nos dar uma idéia de sua relação e interação social.
No início do século XX, a prática fisioterápica estava
restrita à eletroterapia, enquanto os exercícios terapêuticos
eram campo dos ortopedistas e neurologistas. Só na Segunda
Guerra Mundial os exercícios terapêuticos passaram a fazer
parte importante da fisioterapia [3].
No período entre as duas Grandes Guerras, Hansson foi
um dos primeiros a usar a hidroginástica para a poliomielite
nos EUA. O termo “hidroginástica” foi cunhado pelo Dr.
Lowman em 1924 e Carl Hubbard foi quem instalou a primeira
banheira metálica num hospital a pedido de um cirurgião
ortopédico [3]; mais tarde o avanço tecnológico traz o
acréscimo de outras técnicas terapêuticas como o ultra-som.
O perfil do fisioterapeuta começa a delinear-se na
necessidade social do pós-guerra em que milhares de
mutilados abrem um campo de trabalho significativo para o
tratamento destes pacientes.
O processo de profissionalização no Brasil transcorre
nos anos seguintes afirmando-se com o Decreto Lei 938 de
13 de outubro de 1969, [4] ao regulamentar a profissão de
fisioterapeuta no Brasil e a lei 6316/75 que cria o Conselho
Federal e Regionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
[5], consolidando-se com a Resolução COFFITO 10 de 3
de julho de 1978 [6] que cria o Código de Ética Profissional
de Fisioterapia e Terapia Ocupacional.
Atualmente, existem oito cursos de fisioterapia em
diversas universidades no Estado, sendo que o primeiro
teve início em 1985 em Joinville, pertencente à
Associação Catarinense de Ensino e o curso mais novo
data de 1999, na cidade de Joaçaba, da Universidade
do Oeste de Santa Catarina.
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Em agosto/2002 constavam 1328 fisioterapeutas
inscritos no CREFITO, 5 em território catarinense, sendo
que o número de profissionais contratados pelos serviços
públicos de saúde é baixo.
Apenas 16 profissionais fazem parte do quadro funcional
da Secretaria de Saúde do Estado de Santa Catarina, dos
quais 14 encontram-se em exercício na capital catarinense.
Uma avaliação preliminar, feita em alguns municípios
de Santa Catarina, demonstra este fato, como pode ser visto
na tabela I.
A política de saúde ainda preocupada com a atenção
primária vê o atendimento fisioterápico como um serviço
especializado e por isto, ausente deste nível de atendimento
ao cidadão catarinense. Isto é constatado nos serviços
municipais de saúde, salvo raras exceções, como Balneário
Camboriú, que desenvolve este atendimento fisioterapêutico
desde julho de 1997, através de uma clínica municipal de
fisioterapia.
Através do Conselho dos Secretários Municipais de Saúde
do Estado de Santa Catarina, foram levantados os dados
que constam na Tabela I a seguir:
Tabela I – Relação de fisioterapeutas nos municípios catarinenses e
respectivos vínculos.
Município
Jaraguá do Sul
Fisioterapeutas
0
São Bento do Sul
3
Brusque
2
Joinville
2
Balneário Camboriú 5
Itajaí
Florianópolis
São José
Criciúma
Concórdia
1
0
0
1
0
Caçador
Lages
0
2
Vinculo
Clínicas credenciadas /
SUS
Um Concursado e dois
contratados
Concursados
Concursados
Um estatutário e
quatro contratados
N/especificado
N/ respondido
N/respondido
Concursado
Convênio c/
Universidade do
Contestado
Compra de serviços
Contratados
Fonte: COSEMS/SC, agosto de 2002.
O crescimento rápido do número de fisioterapeutas é
uma preocupação que deve ser bem tratada juntamente com
todos esses fatores que envolvem os problemas do atual
sistema de saúde no âmbito nacional e regional.
A demanda aumenta à medida que a fisioterapia tornase mais conhecida e amplia sua área de intervenção, porém
a oferta dos serviços pelas instituições competentes não
acompanha esse aumento na mesma proporção [7].
Neste prisma podemos delinear diversos fatores que
propiciam distorções no sistema de saúde, entre eles vieses
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170
administrativos, estrangulamento do serviço público pelos
serviços de saúde privados com atendimentos em instituições
públicas, produtos de uma política de saúde mercantil
dominada por interesses corporativistas. Na parte
administrativa são vários os entraves que colocam em xeque
a autonomia do fisioterapeuta e outros profissionais da saúde,
entre eles, fichas, receituários e demais documentos
padronizados, estruturados de for ma a ignorar a
possibilidade de uso dos mesmos pela maioria dos
profissionais de nível superior, que evidencia a total falta de
atualização da realidade atual em que vivemos de uma
produção de saúde através de ações multidisciplinares.
Outros empecilhos, como os incentivos salariais que
beneficiam a classe médica com o “pró-labore”, além de
terem a disposição o uso do espaço físico de instituições
públicas (apartamentos) para internações de convênios
particulares através dos quais também recebem
remuneração, enquanto os demais serviços ficam como
sendo mero atendimento da instituição hospitalar.
Este tipo de “descentralização” traduz problemas, em que
se sente a necessidade da participação do fisioterapeuta e
entidades representativas da classe, assim como também a
representatividade dos outros profissionais de nível superior,
junto à Secretaria de Saúde do Estado e do Município.
O trabalho multidisciplinar é uma realidade que faz parte
dos serviços de saúde, mais com programas ou projetos
específicos do que com uma prática diária nas ações de saúde,
isto é, comumente mesmo as atividades ocorrendo com a
participação de vários profissionais, a interação de suas ações
não constam numa rotina de atividades estabelecidas.
Na leitura social, um resultado bem sucedido é visto
como uma ação individual e quando algum colega comete
um erro o fato tem uma conotação generalizada. Fatos
como este fazem parte de rótulos conflitantes contribuintes
a uma crise ética geral da saúde muito bem colocado por
Chiattone e Sebastiani “... a ética das e nas relações
interpessoais, sejam elas formais ou informais, vem sofrendo
forte abalo, criando uma enorme lacuna nos sentidos
profundos de interação, dando assim margem para o
aparecimento de posturas e condutas que beiram a
atrocidade” [8].
Discussão
As informações a respeito dos serviços fisioterápicos
oferecidos pela assistência pública são escassas,
principalmente em fontes convencionais. A nível municipal,
estes serviços tornam-se mais difíceis de obter, no que diz
respeito a Santa Catarina.
Um documento oficial de avaliação do processo de
descentralização, do Ministério da Saúde, mostra que, em
1996, mais de 40% dos municípios encontravam-se em
estágio de organização do setor de saúde que não permitia
nem sequer enquadrá-lo na condição de gestão incipiente,
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isto é, seu grau de desenvolvimento político-institucional era
tão precário que não tinham as condições mínimas para
assumir as responsabilidades técnico-assistenciais que lhes
cabiam, nem para gerir os recursos que lhes seriam
transferidos pelos níveis estadual e federal. Foram
encontrados 144 municípios brasileiros em gestão semiplena,
que corresponde a não mais que 2,6% do total. São Paulo
foi a unidade federada com maior número de municípios
em condição de gestão semiplena, com 50 municípios.
Seguiram-se os estados de Minas Gerais com 18, Ceará
com 12 e Santa Catarina com 11 municípios [9].
É visível que o processo de instalação de um sistema de
saúde nacional encontra-se em franca evolução e pelo
mesmo devemos acompanhar seu desenvolvimento com a
participação dos profissionais de saúde que trabalham na
linha de frente, deixando suas contribuições de caráter
técnico, a partir de suas experiências e formação acadêmica;
o que seria o ideal, se as decisões políticas fossem baseadas
nas necessidades sociais apontadas a partir de opiniões
técnicas de profissionais da área.
A visão da fisioterapia como um serviço especializado,
vem de sua própria evolução sociológica, em que sua atuação
no início do século XX era puramente reabilitadora,
persistindo junto à desinformação, a atualização dos avanços
destes serviços na sua linha de atuação, assim como,
prevenção e promoção em saúde, hoje é uma realidade e
necessidade, já provada e aprovada por municípios de outros
Estados da União, que desenvolveram e desenvolvem
programas exemplares como em Camaragibe (PE), onde
existe o Núcleo de Reabilitação da Secretaria de Saúde do
Município, que faz parte do projeto que reúne uma equipe
multiprofissional, de fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais,
fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais e médicos,
envolvidos no Programa de Saúde da Família, com um
modelo de atenção voltado para a promoção, prevenção e
recuperação da população [10].
A descentralização como um processo em desenvolvimento
é muito importante para a inserção de uma assistência
multidisciplinar em que serviços como o de fisioterapia,
nutrição e outros de “apoio terapêutico” fiquem ao alcance
da população. Com este prisma, sairíamos de um perfil em
que se pensa que aonde tem médico tem saúde para uma
visão mais real e racional em que a saúde seja vista como o
ganho de qualidade de vida do indivíduo e sua boa integração
social no efetivo exercício de cidadão, além do fisiopatológico.
A saúde como um produto de ações multiprofissionais é
um conceito atual que pode passar desapercebido pela
desinformação, pelas pretensões almejadas na qualidade das
ações a serem oferecidas à população e pelos próprios valores
que compõem a estruturação dos objetivos das ações em
saúde, políticos, sociais, corporativos ou combinados entre si.
O que parece dificultar uma visão mais ampla e
verdadeira do conceito e valorização do profissional da
saúde, é a falta de conscientização tanto dos atores políticos,
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como dos próprios profissionais da saúde envolvidos. Estes
últimos, sem nenhuma ou quase nenhuma participação nas
decisões políticas neste sentido.
Fontes normativas a este respeito existem, como é o
caso da Resolução 44 do CNS de 03.03.1993, sua
homologação pelo então Presidente Jamil Haddad, em que
indica uma revisão dos documentos oficiais para a eliminação
do termo paramédico: “há que se ter sempre presente que a
Resolução 44, trás em si tanto direitos como obrigações a
quaisquer das profissões que venham a integrar uma equipe
interdisciplinar, daí porque, dizer a mesma em seus
considerandos que a -...autonomia não fere o trabalho em
equipe mas, ao contrário, é a base deste trabalho em respeito
mútuo -:”
“...a substituição do termo paramédico, para profissional de
saúde, muito além do reconhecimento e o respeito ético entre
seus integrantes, bem como a responsabilidade do profissional
com a sociedade usuária.”
Esta visão hegemônica na valorização do profissional
da saúde poderá colocar, na prática,. medidas de incentivo
e valorização do mesmo.
Enquanto isso, as decisões são tomadas unilateralmente
sobre o amparo da ausência “consentida” da maioria dos
outros profissionais da saúde, desta maneira, a prevalência
de benefícios de pequenos grupos continuará contrariando
o perfil hegemônico da Resolução 44 do CNS em termos
de conceito e valorização do profissional de saúde.
Quando interesses políticos sobrepõem-se às
necessidades sociais, é que se torna imperativa a participação
dos atores envolvidos diretamente com os serviços
necessários e a força dos valores técnicos científicos na
justificativa do bem-estar social.
Tedeschi comenta sobre a participação do fisioterapeuta
nas decisões políticas: “Só com a participação efetiva da
categoria dos fisioterapeutas nas decisões políticas da área
da saúde, é que será garantido e ampliado o mercado de
trabalho e não na limitação do número de instituições de
ensino de fisioterapia” [1].
É necessário ressaltar a importância de estabelecer uma visão da
fisioterapia de acordo com os avanços alcançados na atualidade e
deixar finalmente extinta a idéia errônea que a fisioterapia é um
serviço especializado. Em paralelo a este aspecto, cabe lembrar os
níveis de prevenção, em que a reabilitação encontra-se no 3° nível,
porém a fisioterapia não restringe sua ação a este nível, pois atua sem
contestação no 2° nível em limitação do dano, assim como, enquadrase em programas de promoção em saúde (no 1° nível) como já foi
citado anteriormente nesta discussão.
O enquadramento da fisioterapia na categoria de diagnose
e apoio terapêutico no SUS, não condiz com a real ação e
objetivos da fisioterapia na prática assistencial. Kátia Ribeiro
faz a seguinte colocação neste sentido: “Surgindo,
inicialmente, como uma especialidade da medicina tornouse, posteriormente, uma profissão autônoma, mas seguindo
a lógica da especialidade, foi enquadrada, em termos de
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hierarquia na organização do sistema de saúde, em serviços
de atenção secundária e terciária” [7], além de que, o “apoio
terapêutico” é ministrado em cada intervenção das diversas
ações multidisciplinares em prol da melhora das condições
de saúde do usuário.
Comentários finais
Os problemas da saúde que vivenciamos hoje de maneira
geral, não devem ser considerados como justificativa à
problemática de ser viços mais específicos como o
fisioterapêutico, e sim, devemos considerá-los desde suas
bases no sentido de que no desenvolvimento da estruturação
desejada, com a participação dos profissionais da saúde nas
resoluções políticas das ações em saúde, possam surgir os
caminhos que levarão a uma revisão de conceitos e
inevitavelmente estes ser viços considerados hoje
erroneamente como “especializados”, estarão á disposição
da população com fácil acesso.
A saúde como objetivo do planejamento das ações,
tendo como base valores menos políticos e coorporativos
em troca de valores técnicos que atendam às necessidades
reais e não só às essenciais da população, sem dúvida
estabelecerá uma visão multidisciplinar atuante na linha
de frente dos serviços oferecidos.
Entendo que respeitando e fortalecendo o sentido
hegemônico na valorização do profissional de saúde, como
direciona a Resolução 44 do CNS, abrirá possibilidades de
uma revisão de um plano de carreira, cargos e salários, pelas
autoridades governamentais de forma coerente, além de
poder estabelecer-se eqüidade nos incentivos salariais.
Não é suficiente termos uma profissão regulamentada
por lei e termos o direito do uso da acupuntura como mais
uma alternativa terapêutica entre as várias metodologias e
técnicas de tratamento a serem utilizadas; há uma
necessidade de termos uma participação política ativa, pois
é substancial para termos influência na regulação do mercado
laboral e melhor distribuição destes serviços, para um melhor
acesso da população usuária do serviço público de saúde.
As poucas informações que se tem do serviço
fisioterápico a nível municipal e o aumento de fisioterapeutas
no Estado, que hoje chegam a 1.328 com registros no
artigo 13 Edgar.pmd
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Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
(CREFITO 5) até agosto de 2002, com uma tendência de
aumento significativa pela for mação anual destes
profissionais nos cursos já estabelecidos em oito
universidades em Santa Catarina, entre outros aspectos,
tornam necessário um estudo mais profundo do perfil
profissional do fisioterapeuta no Estado de Santa Catarina.
Este número já existente de profissionais no Estado indica a
necessidade de um Conselho Regional para Santa Catarina,
assim como as dificuldades no desenvolvimento e
consolidação sóciopolíticas da fisioterapia leva-nos a pensar
numa entidade representativa atuante na defesa dos interesses
da categoria, totalmente justificável para o momento atual.
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200110:14-17. n
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Artigo original
Alterações posturais decorrentes
da discrepância dos membros inferiores
Posture disorders in consequense of lower limb discrepancy
*José Ronaldo Veronesi Junior, **Maritza Fabianee Kazuko Azato
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*Fisioterapeuta, especialista em metodologia do ensino superior, professor das disciplinas de fisioterapia preventiva e fisioterapia ortopédica
e traumatológica, coordenador dos estágios supervisionados e diretor da clinica de fisioterapia da UNIGRAN, membro diretor
da SOBRAFIT- Sociedade Brasileira de Fisioterapia do Trabalho, **Acadêmica do curso de fisioterapia da UNIGRAN - Centro
Universitário da Grande Dourados, Dourados MS
Palavras-chave:
Discrepância de membros
inferiores, alterações
posturais.
Resumo
Os membros inferiores têm seu crescimento individualizado. A população apresenta
50% de discrepância entre os mesmos. Essa afecção leva à alteração da biomecânica
esquelética exigindo adaptação postural num processo ascendente, na qual encontramos
obliqüidade pélvica e escoliose. O presente estudo foi realizado com o propósito de
diagnosticar de modo precoce e preciso a discrepância dos membros inferiores. Quatro
pacientes (2 homens e 2 mulheres) com discrepância de membros inferiores foram
avaliados através da fita métrica e exame de escanometria, e todos apresentaram o
membro inferior esquerdo menor. As fotografias foram realizadas com os indivíduos
alinhados em frente ao simetógrafo, nas vistas anterior, posterior, laterais esquerda e
direita e flexão anterior da coluna. As medidas obtidas variaram de 1cm e 2,5cm. Nas
análises das fotografias, todos os sujeitos apresentaram praticamente as mesmas alterações
posturais como: rotação de tronco à direita, pelve assim como as espinhas ilíacas anterior
e posterior superior, prega glútea e linha poplítea mais elevadas à direita, além de outras
alterações menos significativas. Os métodos utilizados mostraram confiabilidade no
diagnóstico das discrepâncias, no qual a mensuração por fita métrica foi confirmada
pelos exames de escanometria. Os recursos fotográficos permitiram minuciosa avaliação
das alterações posturais sem submeter o paciente ao desconforto da manutenção estática
por longo tempo.
Artigo recebido em 20 de fevereiro de 2003; aceito em 10 de maio de 2003.
Endereço para correspondência: José Ronaldo Veronesi Junior, Rua Suíça, 270, Jardim Europa, 79826-360 Dourados MS, Tel: (67) 411-4111/4270597/9952-9234, E-mail: [email protected]
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Abstract
The lower limbs have individualized growth with 50% of discrepancy in population
studies. This discrepancy causes skeletical biomechanic disorder that demands an
ascendent process postural, represented by valgum knees, pelvic disorders and scoliosis.
However, the present study was performed to define precoce diagnostic and to avoid
postural deformities. Four patients (two men and two women) with lower limbs
discrepancy were evaluated trough tomodensitometry and metric exams. Different
photographs of aligned patients were taken on side, frontal and back views in front of
the simetrograph. Every patient presented left lower limb shorter than right with
differences among 1 cm and 2,5 cm. Through analised photographs, we observed
posture alteration like right rotation of trunk, shoulders protusion, frontal side turned
right scapulum, tales triangle bigger on left, pelvis, backfrontal iliac spine, gluteus and
popliteus lines higher on the right side. The method we used showed truthful diagnosis
of discrepancies and tomodensitometry confirmed metric results. Photographs allowed
detailed postural disorders evaluation without submitting our patient to usual desagreable
maintaining their posture aligned for a long time.
Key-words:
Lower limb discrepancy,
posture disorders.
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Introdução
A hipótese deste presente trabalho foi que a diferença
no comprimento dos membros inferiores leva a um
desequilíbrio músculo-esquelético em todo o corpo,
acarretando diversas alterações posturais, inclusive no
padrão da marcha [1].
O equilíbrio estático tem os membros inferiores como
uma base estável e fixa, “acima da qual o tronco e os
segmentos superiores estão em equilíbrio” [2].
“A fonação e a abertura das vias respiratórias superiores, a
flutuação do líquido cefalorraquidiano, a circulação sangüínea,
o equilíbrio das sístoles e diástoles dos hemisférios cerebrais, a
percepção auditiva, os movimentos mandibulares etc, todas
essas funções dependem da verticalidade da cabeça” [2].
O controle postural e multimodal depende, pois, da visão,
vestíbulos, plantas dos pés, proprioceptores do eixo corporal
e motricidade ocular que implica na necessidade de uma
integração sensorial do conjunto dessas aferências, segundo
Gagey e Weber [3].
“Para que o nosso corpo fique em condições de
equilíbrio, qualquer desequilíbrio deverá ser compensado
por um desequilíbrio inverso, de mesmo valor e no mesmo
plano (...) portanto, em posição ortostática, não há
desequilíbrio segmentar sem compensação” [2].
artigo 05 José Ronaldo.pmd
174
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“O movimento dos membros superiores, membros
inferiores, ou ambos, em qualquer tipo de atividade
acarreta na transmissão de forças internas ou externas
à coluna de sustentação central do corpo, a coluna
vertebral. As forças dos membros superiores são
transmitidas nas articulações esternoclaviculares e
costelas. As forças dos membros inferiores são
transmitidas através das articulações dos quadris para
pelve óssea antes de atingir a coluna vertebral por meio
da articulação lombossacral”.
A discrepância de MMII é quando há diferença entre
o comprimento dos membros inferiores, sendo classificada
em dois tipos: discrepância verdadeira de comprimento
de MMII ou encurtamento verdadeiro dado por alteração
anatômica ou estrutural no membro inferior (MI) resultante
de defeito congênito do desenvolvimento (coxa vara
adolescente, displasia congênita de quadril, anormalidade
óssea) ou trauma (fratura) [4].
Para identificar se a discrepância é verdadeira ou
funcional são realizadas as medidas do comprimento real
e aparente das pernas [4,5,6] baseadas na mensuração dos
MMII a partir do uso de fita métrica. Porém, a medida
real realizada por esse método não é fidedigna, visto que é
realizada sobre a pele, estrutura que não mantém a
elasticidade constante, além de sofrer influências do estado
de tensão muscular. A identificação da discrepância dos
MMII foi realizada a partir da mensuração com fita métrica
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
e análise da escanometria seguida do exame físico avaliado
a partir de fotos. Os demais métodos utilizados no
desenvolvimento desta pesquisa serão detalhados na
metodologia.
Apesar de a discrepância ser um freqüente problema
de nível mundial sua incidência é ignorada. Sabe-se que
aproximadamente 1:100 indivíduos apresentam dismetria
superior a 2cm. Discrepâncias a partir de 6cm supõe-se
que seja 0,14:1000 na população [7]. Trata-se de uma
situação relativamente comum na clínica ortopédica
diária [8].
A discrepância no comprimento dos MMII acarreta
num desequilíbrio global da biomecânica esquelética e
das cadeias musculares devido às compensações
ascendentes que o organismo adota para que seja possível
manter o apoio bipodal e o alinhamento do campo visual.
Crianças com pequena discrepância estão aptas a utilizar
combinações de técnicas compensatórias para normalizar
o trabalho mecânico realizado pelas extremidades
inferiores [9]. Estudos de pacientes que apresentam
discrepância no comprimento dos MMI tem alteração
no padrão da marcha ou então mancam [1].
“A coluna vertebral, por ser o suporte do corpo, é
a mais prejudicada com sobrecargas, que resultam no
aumento significativo de problemas posturais da
população mundial, tanto em adultos como em
crianças” [10].
No Brasil, os distúrbios da coluna vertebral são a
segunda causa de afastamento dos trabalhadores ao
serviço e de aposentadoria, sendo que 80% da população
sofrem de algum tipo de alteração locomotora no período
de maior produtividade [10].
As adaptações posturais adotadas no decorrer da vida
são influenciadas por modelos imperfeitos com os quais se
convive, que acabam sendo integrados, logo, “só é possível
manter uma boa postura se tivermos um bom conhecimento
do corpo, associado a estímulos sensoriais e modelo posturais
adequados” [10].
Termo derivado do italiano “positura”, com significado
original: posição, atitude ou hábitos posturais [11].
Atualmente, devido a inúmeros estudos é definida baseada
em observações e resultados, conforme as diversas linhas
de pesquisas.
A postura é definida como a “posição do corpo no
espaço, com referência especial as suas partes que exija o
menor esforço, evitando fadiga desnecessária”. Postura
pode ser também definida como: “estado de equilíbrio
entre músculos ossos com capacidade de proteger as
demais estruturas do corpo humano dos traumatismos,
seja na posição em pé, sentado ou deitado”. Em outra
visão a postura consiste “numa relação estável entre o
sujeito e o meio, o que resulta numa estabilização espacial,
de for ma que, o indivíduo, quando percebe, tem a
impressão de ‘estável’ no espaço por ele ocupado” [10].
artigo 05 José Ronaldo.pmd
175
175
“(...) função estática é constituída por dois grandes sistemas
fisiológicos globais: um sistema ascendente – equilíbrio estático
assegurado pelos membros inferiores e pelo tronco -, um sistema
descendente – adaptação estática assegurada pela região cérvico-cefálica
e pelo tronco. Cada parte desses dois sistemas é separada da outra por
um segmento intermediário que pertence aos dois blocos: uma cintura.
A cintura pélvica adapta o tronco aos membros inferiores e à coluna
lombar, a cintura escapular adapta o tronco à região cérvico-cefálica e
à coluna dorsal. O tronco constitui a região de todas as compensações
estáticas” [2].
“As posturas são mantidas ou adaptadas como resultado
de coordenação neuromuscular, com os músculos
envolvidos sendo inervados através de um complicado
mecanismo reflexo. Estímulos aferentes surgem de várias
fontes ao longo do corpo, incluindo articulações, ligamentos,
músculos, pele, olhos e ouvidos; são conduzidos para o
SNC e neste nível coordenado. A resposta efetoras é do
tipo motor e os músculos antigravitacionais são os principais
órgãos efetores” [12].
A regulação automática da postura ocorre a partir de
informações oferecidas pelos exteroceptores (visão, vestíbulo
e pé) e dos interoceptores (oculomotricidade, coluna
torácica) [11]. Além dos mecanismos intrínsecos que
influenciam a postura, como é o caso principalmente do
sistema muscular, fatores extrínsecos, precisam também ser
considerados lembraram [12].
Pacientes e métodos
O método utilizado para realização deste trabalho foi
indutivo-dedutivo com documentação direta, pesquisa
bibliográfica baseada em artigos científicos, livros, revistas
e jornais, além da pesquisa de campo, a qual contou com
a colaboração de quatro pacientes particulares do
professor orientador do presente trabalho, com
discrepância entre os membros inferiores selecionados
randomizadamente, que concordaram em participar do
estudo. O número de participantes foi pequeno devido a
dificuldade de indivíduos que aceitassem se expor para a
fotos, além da disponibilidade de tempo.
Critério de escolha dos pacientes
O critério de escolha dos pacientes foi randomizado, no
qual o único pré-requisito exigido foi a discrepância entre
os membros inferiores.
Foram analisados 4 pacientes, dos quais 2 do sexo
masculino e 2 do sexo feminino, na Clínica de Fisioterapia
da UNIGRAN, que apresentavam discrepância no
comprimento entre os membros inferiores, com atividade
profissional não determinada, com idade variando de 13 a
39 anos, com diferentes alterações posturais.
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
176
Estes indivíduos concordaram com a realização das fotos,
na qual lhes são conferidas preservação da identidade.
Critério de escolha do local da avaliação
As avaliações foram realizadas na cidade de DouradosMS, na Clínica de Fisioterapia da UNIGRAN, no
consultório destinado à avaliação da marcha.
Este local apresenta infra-estrutura adequada para
realização das fotografias e mensuração dos comprimentos
dos membros inferiores por apresentar instrumentos
necessários para avaliação dos pacientes, tais como: divã,
simetógrafo, fita métrica, ambiente bem iluminado,
ventilado e reservado, o que confere ao paciente maior
privacidade e conseqüente naturalidade para realização
das fotos.
Para maior confiabilidade das fotos, o alinhamento
da filmadora através do tripé, foi realizado tendo como
base os valores obtidos através do aparelho de
nivelamento de solo.
Materiais e equipamentos
•
•
•
•
•
Fita métrica
Simetrógrafo Carci
Escanometrias
Divã
Filmadora S-VHS, marca JVC, modelo SX-XR 930
com função para foto digital
• Tripé VIVITAR
• Protocolo de Avaliação (em anexo)
• Negatoscópio
• Aparelho de nivelamento de solo
Métodos utilizados para avaliação
dos pacientes
A constatação visual, durante a inspeção, da
discrepância do comprimento dos membros inferiores,
exige um estudo mais aprofundado que pode ser obtido
por meio de métodos e testes que auxiliam a confirmação
do diagnóstico.
Um diagnóstico fisioterapêutico de qualidade é
conquistado a partir de técnicas dos exames criteriosos
VIEL (2001). Baseado nisso, alguns métodos de avaliação
serão descritos.
Medida dos membros inferiores
através da fita métrica
Neste trabalho foi utilizada para a medida aparente
dos membros inferiores a fita métrica para efetuar três
medidas:
• Espinha ilíaca ântero-superior (EIAS) até o maléolo medial
artigo 05 José Ronaldo.pmd
176
• Cicatriz onfálica (C.O) até maléolo medial
• EIAS até C.O.
Para anular as influências dos ligamentos da articulação
coxo-femoral, antes das medidas foi realizada a flexão
forçada de quadril seguido de movimentos balísticos.
Medida dos membros inferiores através da
escanometria
Foi solicitada aos participantes envolvidos nesta pesquisa,
a realização do exame de escanometria para a real detecção
do encurtamento ósseo dos membros inferiores. Essas estão
demonstradas na análise de resultados.
Análise postural
Para a realização da análise postural, foi adotado recurso
fotográfico (estático). Uma vez fotografado, a análise
postural pôde ser mais abrangente, minuciosa e demorada,
sem causar desconfortos ao paciente. Ainda através desse
recurso visual pode ser conquistado um melhor
reconhecimento das alterações posturais. Foi padronizada
uma distância de 10 cm entre os hálux.
As fotografias foram tiradas conforme o item 3.2 de
escolha do local e foram realizadas as fotos nas vistas anterior,
posterior, laterais direita e esquerda e rolamento anterior
(flexão da coluna).
Na vista anterior foi preconizada a postura da cabeça,
ombro, mamilo, triângulo de Tales, linha Alba, cicatriz
onfálica, espinha ilíaca ântero-superior, pelve e joelho.
Na vista posterior analisou-se a postura da cabeça,
escápula, triângulo de Tales, pelve, espinha ilíaca pósterosuperior, prega glútea, linha poplítea e joelho.
Nas vistas laterais foi observado a postura da cabeça,
ombro, pelve e joelhos.
No rolamento anterior foi dada atenção à presença ou
não de gibosidades, que acusam a presença de escolioses.
Discussão e análise dos resultados
Dentre os quatros pacientes (n = 4; 2 homens e 2
mulheres) avaliados, com idades entre 13 e 39 anos, foi
observado que coincidentemente, todos apresentaram o
membro inferior esquerdo menor que o membro inferior
direito com as diferenças variando de 1,2 cm a 2,5 cm
conforme o laudo da escanometria.
Baseado no exame físico, analisado a partir das fotos,
todos os indivíduos apresentaram ombro esquerdo
anteriorizado, protusão de ambos os ombros, lateralidade
anterior da escápula direita, triângulo de Tales maior à
esquerda, pelve direita elevada, espinha ilíaca ântero-superior
(EIAS) direita elevada, espinha ilíaca póstero-superior (EIPS)
direita elevada, prega glútea direita elevada, linha poplítea
direita elevada.
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
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Análise das medidas dos membros inferiores
através da fita métrica
Análise da medida dos membros inferiores
através das escanometrias
I - C.O.V apresentou os seguintes resultados:
I - C.O.V apresentou os seguintes resultados:
Tabela I - C.O.V. Medidas dos Membros Inferiores através de fita métrica
EIAS – MM
CO – MM
CO - EIAS
Direito
Esquerdo
Dismetria
90,5
97
14
89
96
12,5
1,5
1
1,5
LAUDO: na medida com a fita métrica a participante
apresentou um encurtamento de 1,33 cm do membro
inferior esquerdo em relação ao direito.
II - J.F apresentou os seguintes resultados:
Tabela II - J.F. Medidas dos Membros Inferiores através de fita métrica
EIAS – MM
CO – MM
CO - EIAS
Direito
Esquerdo
Dismetria
95
99,5
14
93
98,5
15
2
1
1
No anexo A6 foi analisada a escanometria de membros
inferiores, onde foi constatada assimetria de membros
inferiores, estando o membro inferior esquerdo 1,2 cm
menor do que o direito. As seguintes medidas foram:
Fêmur direito: 45,7 cm
Fêmur esquerdo: 45 cm
Tíbia direita: 38,5 cm
Tíbia esquerda: 38 cm
II - J.F apresentou os seguintes resultados:
No anexo A12 obser vou-se a escanometria do
participante, onde essa apresentou laudo de assimetria
de membros inferiores, no qual o membro inferior
esquerdo é 2 cm menor do que o direito. Apresentando
as seguintes medidas:
Fêmur direito: 46,5 cm
Fêmur esquerdo: 45 cm
Tíbia direita: 39 cm
Tíbia esquerda: 38 cm
III - M.J.S apresentou os seguintes resultados:
III - M.J.S apresentou os seguintes resultados:
No anexo A18 observou-se o exame de escanometria
da participante, o qual confirma a assimetria entre os
membros inferiores, estando o membro inferior esquerdo
1,5 cm menor do que o direito. As medidas são as seguintes:
Fêmur direito: 43 cm
Fêmur esquerdo: 42 cm
Tíbia direita: 35 cm
Tíbia esquerda: 35,5 cm
Tabela III - M.J.S. Medidas dos Membros Inferiores através de fita métrica
IV - T.J.C. A, apresentou os seguintes resultados:
LAUDO: na medida com fita métrica o participante
apresentou um encurtamento de 1 cm do membro inferior
esquerdo em relação ao direito.
EIAS – MM
CO – MM
CO – EIAS
Direito
Esquerdo
Dismetria
86
94,5
20
84
93,5
21
2
1
1
LAUDO: na medida com fita métrica a participante
apresentou um encurtamento de 1cm do membro inferior
esquerdo em relação ao direito.
IV - T.J.C.A, apresentou os seguintes resultados:
Tabela IV - T.J.C.A. Medidas dos Membros Inferiores através de fita métrica
EIAS – MM
CO – MM
CO – EIAS
Direito
Esquerdo
Dismetria
96,5
100,5
17
94
98
15
2,5
2,5
2
LAUDO: na medida com fita métrica o participante
apresentou um encurtamento de 2,3 cm do membro inferior
esquerdo em relação ao direito.
artigo 05 José Ronaldo.pmd
177
No anexo A24, foi analisado o exame de escanometria
do participante, esse apresentou assimetria de membros
inferiores, estando o membro inferior esquerdo 2,5 cm
menor que o direito. As medidas são as seguintes:
Fêmur direito: 48 cm
Fêmur esquerdo: 46 cm
Tíbia direita: 39 cm
Tíbia esquerda: 36,5 cm
Análise do exame físico
As fotos foram utilizadas como recurso visual para
facilitar a visualização das alterações posturais, pois a análise
pode ser mais demorada, portanto mais detalhada sem levar
o participante ao desconforto de manter-se estático por
muito tempo.
I - C.O.V apresentou os seguintes resultados:
Na fig.1 a participante foi analisada de for ma
descendente, em vista anterior, onde foram obtidos os
seguintes resultados: a cabeça está inclinada para a esquerda
e rodada para a direita. O ombro direito apresenta-se mais
03/06/03, 14:40
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
178
elevado e o ombro esquerdo
anteriorizado. O mamilo
esquerdo está mais elevado.
O triângulo de Tales esquerdo
é maior. A linha alba e a CO
estão desviadas para a
esquerda. A pelve apresentase anteriorizada e elevada a
direita, a EIAS direita está
elevada. O joelho direito está
ligeiramente em valgo.
Anexo A1 - C.O.V. Vista Anterior
Na figura 2 foi analisada a
participante na vista posterior,
onde se encontrou a cabeça
inclinada para a esquerda e
rodada para a direita. O ombro
direito apresentou-se mais
elevado, as escápulas direita e
esquerda estão aduzidas e
lateralizada anteriormente. O
triângulo de tales esquerdo é
maior. A pelve, EIPS, prega
glútea e linha poplítea
apresentam-se mais elevadas à
direita. O joelho direito está
ligeiramente valgo.
Na vista lateral direita de
acordo com a figura 3, a
participante apresentou cabeça
anteriorizada, ombro protuso,
hiperlordose lombar, a pelve
direita está anteriorizada e
hiperextensão de joelhos.
Na figura 4 a participante
foi observada em vista lateral
esquerda e apresentou cabeça
anteriorizada, protusão e
anteriorização do ombro.
Nessa vista confirma-se que
a pelve está anteriorizada e
há hiperextensão de joelhos.
Anexo A2 - C.O.V. Vista Posterior
Na Fig. 5 a participante
foi analisada em rolamento
anterior, também chamada de manobra de Adams, em que
se analisou a gibosidade. Esta apresentou gibosidade torácica
à direita e lombar à esquerda.
Pelo fato de todos os indivíduos apresentarem o membro
inferior menor, algumas alterações posturais coincidentes
foram observadas como a anteriorização do ombro E,
artigo 05 José Ronaldo.pmd
178
protusão de ambos, lateralidade
anterior da escápula E, triângulo
de Tales maior à E, pelve D
elevada assim como a espinha
ilíaca ântero e póstero superior,
prega glútea e linha poplítea.
O membro inferior esquerdo mais curto tem a interrelação com a anteriorização
do ombro homolateral. Song
et al. [9] relataram que a
discrepância de membros
inferiores leva a um desequilíbrio global da biomecânica
esquelética e das cadeias
musculares de forma ascendente. Logo, encurtamento
gerado pelo lado mais curto
associado à queda da pelve
leva ao alongamento do
quadrado lombar do lado mais
curto, que irá tracionar a parte Anexo A3 - C.O.V. vista lateral direita
inferior das costelas, levando
assim um maior tracionamento
do peitoral maior e menor que
tracionará o processo coracóide e úmero para frente
ocasionando a lateralidade
anterior da escápula e
anteriorização do ombro. Isso
explica o fato da presença do
ombro E anteriorizado,
lateralidade anterior da
escápula e protusão de ombros
em todos os participantes
conforma as figs 6, 7 e 8. O
triângulo de Tales torna-se
assimétrico pela presença de
rotações e inclinações laterais
do tronco que “gera a
convexidade de um lado e
reduz do outro” [2]. Os
abdutores de quadril direito
encontram-se em alongamento,
quadrado lombar direito
encurtado, enquanto no lado Anexo A4- C.O.V. vista lateral
esquerda
esquerdo os abdutores de
quadril estarão encurtados e
quadrado lombar assim como paravertebrais alongados.
Esse deseqüilíbrio é responsável por manter o ombro
esquerdo elevado, triângulo de Tales maior à esquerda,
crista ilíaca ântero-superior e póstero-superior direita elevadas, assim como a prega glútea e linha poplítea direita elevada.
03/06/03, 14:40
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
Nesse estudo observou-se
conforme figura 23 a presença
do triângulo de Tales maior à
esquerda em todos os sujeitos.
A queda da pelve esquerda
decorre das adaptações gerais
adotadas pelo corpo para
manter o membro inferior
direito no chão. Conseqüentemente, a pelve direita
em todos indivíduos apresentase mais elevada, [8], leva as
articulações do quadril direito
à adução mantendo os
músculos abdutores do quadril
e fáscia lata encurtados.
Baseado nesse relato todos os
participantes tiveram elevação
da pelve esquerda (fig. 25) e
elevação da EIAS (fig. 26).
Relacionando a discrepância
com o apoio unipodal,
Anexo A5 - C.O.V. rolamento
crê-se
que o lado de apoio
anterior
sofre elevação da articulação
coxo-femoral e bacia pelo peso do membro em suspensão,
logo a sínfise púbica tende a elevar o púbis do lado
sustentador e baixar o lado suspenso [13]. Nesse mesmo
179
raciocínio segue-se a elevação da espinha ilíaca póstero superior,
prega glútea e linha poplítea, analisada graficamente nas figs
12,13 e 14.
Considerações finais
Conclui-se então, que as alterações posturais observadas
na análise dos resultados são adaptações conseqüentes do
membro inferior esquerdo ser menor.
O encurtamento de até 5mm pode ser considerado
fisiológico, levando em conta que o crescimento entre os
membros inferiores não ocorre simultaneamente, mas sim
de modo alternado [2].
No entanto, no presente estudo observou-se que a
discrepância dos membros inferior teve predominância
no membro inferior esquerdo, o qual apresentou-se menor
de 1,2 a 4,5 cm, o que confir mou a influência das
alterações biomecânicas que apresentaram: o ombro
esquerdo anteriorizado, triângulo de Tales maior à
esquerda, pelve direita mais alta, assim como a crista ilíaca
ântero e póstero-superior, prega glútea e linha poplítea.
Além da lateralidade anterior da escápula esquerda e
protusão de ambos ombros.
Essas alterações posturais são decorrentes da discrepância
dos membros inferiores, que no intuito de compensar o
tamanho necessário para manter o equilíbrio pélvico e ficar
em condições de equilíbrio, compensa através de um
Fig. 6 – Anteriorização de ombro
Fig. 7 – Protusão de ombro
Fig. 9 – Triângulo de Tales
Fig. 10 – Elevação da pelve
artigo 05 José Ronaldo.pmd
179
Fig. 8 – Lateralização superior
Fig. 11 – Elevação da EIAS
03/06/03, 14:40
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180
Fig. 12 – Elevação da EIPS
Fig. 13 – Elevação da prega glútea
desequilíbrio inverso, de mesmo valor e no mesmo plano [2].
O bom conhecimento de biomecânica músculoesquelética e os métodos diagnósticos propostos
demonstraram bastante acurácia, no qual as diversas técnicas
utilizadas promoveram evidências clínicas comuns, o que
garante a maior fidedignidade nas avaliações. Deste modo é
proporcionado um diagnóstico preciso com chances remotas
de erros, maior segurança no planejamento da conduta
adotada para o tratamento do problema causal e suas
conseqüências. Com todo esse aparato o sucesso do
tratamento é irremediável.
As alterações posturais decorrentes do encurtamento de
membros inferiores como foi visto existem, no entanto essas
não podem ser padronizadas, pois devemos levar em
consideração [5], que observou as influências ambientais,
religiosas, atividades diárias ocupacionais na constituição
postural de cada indivíduo.
Referências
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Gait Parameters after lengthening for the treatment
of limb-length discrepancy. J Bone Joint Surg
1999;81:529-34.
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Summus; 1995.
artigo 05 José Ronaldo.pmd
180
Fig. 14 – Elevação da linha polítea
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da posição ortostática. São Paulo: Manole; 2000.
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13. Kapandji AI. Fisiologia articular. Rio de Janeiro:
Panamericana; 2000. n
03/06/03, 14:40
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
181
Artigo original
Partos de mães adolescentes ocorridos no HUSM em 2001
Births of teenage mothers occured in the HUSM in 2001
Fernanda Ruviaro Busanello*, Luciani Ribeiro Silveira**, Elhane Glass Morari Cassol***
○
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* Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Santa Maria, **Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade
Federal de Santa Maria, ***Professora assistente do Departamento de Fisioterapia e Reabilitação da Universidade Federal de Santa Maria
e Mestre em ciências do movimento humano pela UFSM
Resumo
A gestação na adolescência tem-se mostrado um problema de saúde pública,
atingindo todos os países. O início precoce da puberdade associado com a iniciação
sexual cada vez mais cedo faz com que o número de gestações neste período tenha
aumentado. Este estudo teve como objetivo constatar o número de partos em
adolescentes no Centro Obstétrico do Hospital Universitário de Santa Maria, no ano
de 2001. Neste ano, foram realizados 1.948 partos. A amostra constituiu-se de 298
grávidas adolescentes. Os dados foram coletados dos prontuários e registrados em
protocolo elaborado para este estudo. Observamos que 68,5% das gestantes
encontravam-se na faixa etária entre 17 e 19 anos de idade, sendo a maioria solteira
(58%). As complicações pré-natais mais freqüentes foram infecções do trato urinário,
toxemia gravídica, anemia e hemorragia. Os partos cesáreos totalizaram 47,5%, sendo
a desproporção céfalo-pélvica e trabalho de parto prolongado as indicações mais
freqüentes. Este estudo demonstrou que os profissionais da saúde, dentre eles o
fisioterapeuta, devem intensificar sua atenção às adolescentes grávidas contribuindo
assim para uma melhor qualidade de vida para a mãe e seu filho.
Palavras-chave:
Parto, gravidez
na adolescência.
Recebido em 20 de fevereiro de 2003; aceito em 15 de maio de 2003.
Endereço para correspondência: Fernanda Ruviaro Busanello, Rua General Neto, 484 Centro 97050-240 Santa Maria RS Tel: (55) 222-0904,
E-mail: [email protected]
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
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Abstract
The pregnancy in teenagers is a matter of public health affecting all the countries. The
early beginning of puberty linked to the early initiation of sexual life makes the number
of births increasing in this period of life. The aim of his study was to notice the number
of births in teenagers in the Obstetric Center of the University Hospital of Santa Maria
during the year 2001. In this year, there were 1.948 births. The sample was made up with
298 pregnant teenagers. The data was collected from the handbook and registered in an
elaborated protocol for this study. We observed that 68,5% of the gestating were in the
age range of 17 to 19 years old, most of them single (58%). The most frequent birth
problems were urinary tract infections, pregnant toxemia, anemia and hemorrhage. The
unnatural births add up a number of 47,5%, being the mind pelvic disproportion and the
elongated birth work the most frequent indications. This study has shown that the health
professionals, within them the physical therapist, have to intensify their attentions to
pregnant teenagers contributing for a better quality life for the mother and her offspring.
Key-words:
Parturition, pregnancy
in adolescence.
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Introdução
A adolescência é o período da vida humana entre a
infância e a idade adulta e nela ocorrem importantes
modificações anatômicas, fisiológicas, mentais e sociais não
observadas em outras faixas etárias.
A Organização Mundial de Saúde especifica como sendo
adolescência o período entre os 10 e 19 anos [1].
Nos dias atuais, a adolescente, devido a vários fatores
não bem esclarecidos ainda, vem atingindo a maturação
sexual em época bem anterior que o século passado;
uma evidência disso é que a idade da primeira
menstruação tem diminuído a cada década. Esse início
precoce da puberdade associado com a iniciação sexual
cada vez mais cedo faz com que o número de gestações
compreendidas no período da adolescência tenha aumentado consideravelmente.
No Brasil, esta situação está longe de ser diferente,
pois levantamentos mais recentes mostram que cerca de
1 milhão de adolescentes tornam-se mães anualmente,
sendo que aproximadamente um em cada três recémnascidos é filho de mulher com idade igual ou inferior a
18 anos [2].
Atualmente, o fisioterapeuta como membro da equipe
de saúde acompanha a mãe durante o pré-natal, parto e
puerpério, dando atenção ao sistema músculo-esquelético,
respiração, cuidados com a mama, aleitamento materno,
minimização dos desconfortos decorrentes da gravidez, assim
como também acompanha o bebê nos seus primeiros anos
de vida, especificamente quando presentes distúrbios
respiratórios e/ou neurológicos.
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Tendo em vista o crescente número de gestações na
adolescência, repercutindo tanto na saúde da mãe quanto
na do concepto e como a fisioterapia tem atuação na área
de Obstetrícia e Pediatria, deparamo-nos constantemente
com distúrbios advindos desta situação, justificando-se assim
o interesse nesse estudo.
O objetivo do presente trabalho é constatar o número
de partos em adolescentes no Centro Obstétrico (CO)
do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), no
ano de 2001, bem como verificar a possível relação
entre a gravidez precoce e as suas intercorrências na
gestação e no parto e suas repercussões na saúde da
mãe e do feto.
Material e métodos
Este foi um estudo retrospectivo, realizado no Hospital
Universitário de Santa Maria (HUSM), cuja população
foram 1948 partos realizados no Centro Obstétrico (CO),
no ano de 2001. A amostra constitui-se de 298 partos de
mães adolescentes, neste mesmo período. Os dados foram
coletados dos prontuários e registrados em protocolo
elaborado para este estudo, contendo informações sobre
a idade, o estado civil, escolaridade, número de consultas
pré-natal realizadas, complicações pré-natais, idade
gestacional no parto, tipo de parto, indicações de parto
operatório, tempo de duração do segundo período do
trabalho de parto, peso ao nascer e APGAR do recémnascido. Após a coleta dos dados, os mesmos foram
organizados em tabelas de freqüência e analisados
quantitativamente e qualitativamente.
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Resultados
Observamos que a maioria das gestantes adolescentes,
68,5%, encontravam-se na faixa etária entre 17 e 19 anos
de idade, sendo 30,8% entre 14 e 16 anos e 0,7% menor de
13 anos. A grande maioria era solteira (58%). Quanto à
escolaridade, 64,8% das 298 grávidas adolescentes possuíam
até 7 anos de estudos concluídos. Quanto ao número de
consultas pré-natais realizadas, 46,3% das gestantes
realizaram de 4 a 6 consultas, 28,5% realizaram 7 ou mais
consultas, 16,1% realizaram apenas 1 a 3 consultas durante
o período pré-natal e 9,1% não realizaram pré-natal. As
complicações pré-natais mais freqüentes foram infecções
do trato urinário, toxemia gravídica, anemia e hemorragia
(Tabela I).
Tabela I - Distribuição das 70 intercorrências durante a gestação
Intercorrências
Nº
%
Toxemia gravídica
Anemia
Infecções
Hemorragia
Outros
26
05
30
04
05
37,2
07,1
42,9
05,7
07,1
TOTAL
70
100,0
Quanto à idade gestacional no parto, verificamos que a
maioria das gestações, 75,1%, encontravam-se entre 37 e
42 semanas completas, e 24% tinham idade gestacional
abaixo de 37 semanas. Quanto ao tipo de parto realizado,
excluído-se os 5 casos de óbito fetal, dentre os 293 partos,
52,5% foram vaginais e 47,5% foram cesáreos. Dos partos
cesáreos, as indicações mais freqüentes ocorreram por
trabalho de parto prolongado, desproporção céfalo-pélvica,
sofrimento fetal agudo e toxemia gravídica (Tabela II).
Tabela II - Distribuição de 139 partos cesáreos, conforme o motivo de indicação
Indicação de parto cesáreo
Nº
%
DCP
TPP
***
SFA
****
Iterativa
Toxemia gravídica
Outros
40
40
25
12
10
12
28,8
28,8
18,0
08,6
07,2
08,6
TOTAL
139
100
*
**
DCP – Desproporção céfalo-pélvica; **TPP – Trabalho de parto
prolongado;***SFA – Sofrimento fetal agudo;****Iterativa –
Cesárea prévia
*
Quanto ao tempo do 2° período do trabalho de parto,
47,0% das 151 adolescentes que realizaram partos vaginais
tiveram um tempo menor que 30 minutos, 41,0% acima de
30 minutos e 12,0% das gestantes chegaram ao CO do
HUSM com dilatação completa, impossibilitando assim
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quantificar o tempo real do 2° período do trabalho de parto.
Dos 292 recém-nascidos, excluindo-se os 6 casos de óbito
fetal, 81,2% apresentaram peso maior que 2.500g. Quanto
ao índice de Apgar no primeiro minuto, 93,1% dos recémnascidos obtiveram um índice de 7 – 10.
Discussão
Observa-se que dos 1948 partos ocorridos no CO do
HUSM, no ano de 2001, 20,12% deles ocorreram em
adolescentes, sendo 30,8% na faixa etária entre 14 e 16 anos.
Quanto ao estado civil, 58% das pacientes eram solteiras,
confirmando a literatura que diz haver um predomínio de
solteiras entre as adolescentes precoces [3,4].
Constatamos que a maior parte da amostra apresentou
um número baixo de anos de estudos concluídos. Roman
[5], relata que as mulheres com pouca escolaridade tornamse mães mais jovens, do que mulheres com curso secundário
completo. Essa baixa escolaridade vem ao encontro da
afirmação de Monteiro et al [6], que referem que muitas
adolescentes grávidas abandonam a escola, limitando sua
formação profissional.
Das pacientes estudadas, 74,6% realizaram um pré-natal
adequado, considerado sempre que a gestante tenha feito
cinco ou mais consultas durante o período gestacional [3].
Das 70 intercorrências que houve, 42,9% foram
infecções do trato urinário, o que vem a confirmar os relatos
de estudos já realizados anteriormente [6,7,8]. Outra
intercorrência que é relatada com muita freqüência é a
toxemia gravídica, que em nosso estudo representou 37,2%
de incidência [4,8].
Quanto ao tipo de parto, 47,5% dos partos foram
cesáreos. Convém salientar que o índice total de partos
cesáreos no HUSM em 2001 foi de 57%, tal fato pode ser
atribuído aos casos de patologias obstétricas encaminhados
de toda a região próxima a Santa Maria, para o HUSM.
Em relação às indicações de partos cesáreos, 28,8%
foram indicados por trabalho de parto prolongado, 28,8%
por desproporção céfalo-pélvica (DCP), 18,0% por
sofrimento fetal agudo e 7,2% por toxemia gravídica. Este
resultado também é mencionado na literatura, a gravidez
na adolescência pode aumentar a incidência de toxemia
gravídica, de DCP, de sofrimento fetal agudo e da
prematuridade, entre outros [9].
Quanto ao tempo de duração do 2° período do trabalho
de parto, 40,2% das adolescentes tiveram partos demorados,
ou seja, acima de 30 minutos. Sabe-se comparativamente
com outros grupos, que o parto nas adolescentes pode ser
mais prolongado, tanto no período de dilatação como no
período expulsivo [6,7,8,10].
A literatura cita uma idade materna ideal para a
reprodução que está compreendida entre 20 e 30 anos.
Abaixo e acima dela, há maior incidência de pré-termos e
de RN de baixo peso, considerados os nascidos com menos
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de 2.500g, independente da idade gestacional [3,8]. Não foi
encontrado um índice elevado de baixo peso ao nascer entre
os filhos das adolescentes do nosso estudo, sendo que a grande
maioria apresentou um APGAR vigoroso no primeiro minuto.
Conclusão
Concluímos após mais este estudo, que a educação sexual
em nosso país ainda não é satisfatória, pois ainda encontrase elevado o índice de gravidez na adolescência.
A maioria das gestantes estudadas tinha entre 17 e 19
anos, estando muitas vezes na segunda ou terceira gestação,
eram solteiras e possuíam baixa escolaridade. Porém, um
grande número delas realizaram pré-natal e levaram a
gestação a termo. Além disso, constatamos que independente
da idade, a incidência de adolescentes que apresentaram
intercorrências durante a gestação ou parto foi relativamente
alta, o que contribuiu para o elevado número de cesáreas
realizadas no grupo estudado.
Em relação ao tipo de parto realizado, percebemos que
para um hospital público, o número de cesáreas em 2001
no HUSM, 57% do total, nos parece elevado, uma vez que
o governo ultimamente tem-se empenhado em incentivar o
parto vaginal através de campanhas, por este ser considerado
mais saudável para a mãe e o bebê, além de permitir redução
nos custos hospitalares. Porém, não podemos esquecer que
por ser um hospital referência do interior do Estado, muitos
dos casos de patologias obstétricas da região são encaminhado
para o HUSM, necessitando na maioria das vezes de
intervenção cirúrgica na hora do parto.
Assim, através deste estudo, buscamos incentivar os
profissionais envolvidos na assistência à gestante e ao
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concepto, entre eles o fisioterapeuta, a valorizarem cada
vez mais a sua atuação durante o pré-natal e o pós-parto.
Não só preparando a gestante para o parto, mas também a
orientando quanto aos cuidados consigo e com seu bebê.
Finalmente, acreditamos que atuando mais
significativamente nesta área e neste grupo, podemos
contribuir para que um número maior de jovens mães e
crianças possam desfrutar de uma melhor qualidade de vida.
Referências
1. Outeiral JO. Adolescer. Estudos sobre a adolescência.
Porto Alegre: Artes Médicas; 1994.
2. Velho MTC. Gravidez na Adolescência – Aspectos
obstétricos. Jornal Brasileiro de Medicina 2000;79:48-60.
3. Maia Filho NL. Indicação de cesáreas nas adolescentes
precoces. Jornal Brasileiro de Ginecologia 1995;105:203208.
4. Rezende J de. Obstetrícia. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 1995.
5. Roman AR. Gravidez na adolescência: repercussão na
vida da adolescente. [Monografia] Ijuí: Universidade de
Ijuí; 1993.
6. Monteiro DLM. Gravidez na adolescência. Rio de
Janeiro: Revinter; 1998.
7. Dotta IG. Gestação na adolescência. Caderno de
Ginecologia e Obstetrícia 2000; 57:15-22.
8. Delascio D, Guariento A. Obstetrícia, Ginecologia e
Neonatologia. São Paulo: Sarvier; 1984.
9. Yazlle MEHD. Assistência pré-natal a nível primário.
In: Morais EN. Temas de Obstetrícia. São Paulo: Roca;
1992. n
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Artigo original
Acupuntura cinética: tratamento sistemático
do aparelho locomotor e neuromuscular da face
por acupuntura associada à cinesioterapia
Kinetic acupuncture: systematic therapy of face
neuromuscular and locomotor system by acupuncture
associated to kinesitherapy
Vasco de Senna-Fernandes*, Daisy França**, Celia Martins Cortez***, Gilson Silva****, Francisco Pereira*****
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*Médico, Cirugião plástico, Cirurgião de Mão, Acupunturista, Professor e Supervisor de Ambulátório de Acupuntura e Eletroacupuntura de Academia
Brasileira de Arte e Ciência Oriental (ABACO), **Fisioterapeuta (Residência de Fisioterapia pela UERJ e Pós-graduação em Estética),
Acupunturista, Supervisora de Ambulátório de Acupuntura e Eletroacupuntura de ABACO, ***Médica (Psiquiatra, Fisiologista), PhD, Professora
de Fisiologia da UERJ, Mestre em Ciencias Morfológicas, PhD, Doutor em Física, ****Doutor em Biofísica, *****Médico, Fisioterapeuta, PhD,
Acupunturista, Diretor de Ensino de ABACO, Doutor em Acupuntura pela Open International University of Complementary Medicines
Palavras-chave:
Acupuntura, cinesioterapia.
Resumo
Este trabalho visa à apresentação do conceito Acupuntura Cinética (ou
Cinesioacupuntura) como um método terapêutico que associa a aplicação da
Acupuntura à Cinesioterapia durante a reabilitação. É uma conduta multidisciplinar
que tem, como vantagem, a aplicação sincronizada de dois procedimentos terapêuticos
em uma só sessão, sendo dividida em três fases respeitando o momento cinético do
paciente. A inserção das agulhas é feita em pontos sistêmicos, microssistêmicos e
locomotores (sejam eles loco-regionais, segmentares à distância, ou somatotópicos) e
têm como princípios: a preparação pré-cinética, adaptando a estrutura para o
recebimento do estímulo fisioterápico pela inibição do ciclo espasmo-dor; a promoção
per-cinética, promovendo com sinergismo a recuperação do movimento; e a
manutenção pós-cinética, mantendo o estímulo acupuntural de ação prolongada através
de inserção de agulhas ou sementes em pontos específicos que pode durar dias ou
semanas; que visa à melhora do complexo músculo-esquelético e neuromusculares
da face mediante a debelação do quadro álgico, do bloqueio fibrótico e a reintegração
do sistema neuromotor. Foram tratados 305 pacientes portadores de distúrbios
locomotores sendo 122 homens e 183 mulheres, sendo a faixa etária compreendida
Artigo recebido em 21 de fevereiro de 2003; revisado em 15 de março; aceito em 15 de abril de 2003.
Endereço para correspondência: Vasco Senna-Fernandes, Hualong - Centro Médico de Acupuntura e Especialidades Integradas, Rua Lopes Trovão,
52/702 Icaraí 24220-071 Niterói RJ, Tel: (21)2610-4528/9625-9490, E-mail: [email protected]; Daisy França Tel: (21) 2624-1731/96294523, E-mail: [email protected]
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entre 7 a 80 anos. Os parâmetros de avaliação foram: dor, amplitude articular, tônus,
marcha, coordenação motora e equilíbrio. O percentual de melhora dos quadros ficou
em torno de 50% a 100% para um tempo de recuperação muito abaixo da média de um
tratamento convencional de reabilitação. Foi observado que a acupuntura é um excelente
recurso pré-cinético na fisioterapia por apresentar quesitos favoráveis à inibição do ciclo
espasmo-dor. Assim, a acupuntura potencializa a ação da cinesioterapia levando a uma
reabilitação mais eficaz.
Abstract
The aim of this paper is to introduce the concept of kinesthetic acupuncture as
a treatment based on the use of acupuncture during rehabilitation associated to
kinesiotherapy. This is a multidisciplinary therapeutic approach offering the advantage
of synchronizing two treatment proceduces which take place simultaneously, though
divided in three phases considering the patient’s capacity for movement at the time.
The needles are inserted in systemic, microsystemic and locomotor points (local,
segmentary, distal or somatotopic points) with the objective of: preparing (adapting
the structure for kinesthetic stimulation by interrupting pain-spasm cycle in the prekinesthetic phase); promoting (promoting synergism for the restoration of movement
through the use of acupuncture during kinesthetic stimulation in the per-kinesthetic
phase) and maintaining (maintaining long acting acupuncture stimulation through
the insertion of needles or taping of seeds in specific points, which may be kept in
place for days or weeks, in the pos-kinesthetic phase), in order to promote a better
functioning of musculoskeletal and facial neuromuscular systems through cessation
of pain, elimination of fibrotic bloking and reintegration of neuromotor system. It
has been used in 305 patients with locomotor difficulties, of which 122 were men
and 183 were women, with age ranging from 07 to 80 years. The parameters for
evaluation were: pain, range of movement, tonus, gait, coordination and balance.
The degree of improvement ranged from 50 to 100%, in much less time than what
would normally occur in conventional rehabilitation treatment. Acupuncture has
proved to be an excellent treatment in the pre-kinesthetic phase in physical therapy
for being able to interrupt the spasm-pain cycle. In this way, acupuncture enhances
the results of kinesiotherapy leading to a more efficient rehabilitation.
Key-words:
Acupuncture,
kinesitherapy.
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Introdução
A cinética corporal é o principal veículo para a integração
humana na sociedade, pois é através dela que vivenciamos
a tríade: sentimento, pensamento e movimento [1]. O sistema
músculo-esquelético (SME) (músculos do aparelho
locomotor e da mímica facial) é responsável por expressão
corporal, as quais só poderiam ser realizadas mediante
interação harmoniosa de quatro fatores físicos fundamentais:
força, peso, tempo e espaço [2]. Contudo, quando o sistema
encontra-se em estado patológico, esta inter-relação quebrase originando distúrbios de ordem álgica, mecânica (fibrótica),
neurológica ou mista [3].
Na reabilitação, a fisioterapia assume um papel ativo em
relação à prevenção e tratamento de patologias que levam
aos distúrbios do movimento dos órgãos e sistemas do corpo
humano de causas diversas, tais como: traumas, doença
inflamatórias, degenerativas, malignas, congênitas e
adquiridas. A sua atuação está interligada na maioria das
áreas médicas, principalmente na Ortopedia e Neurologia;
quando se trata de distúrbios músculo-esqueléticos (DME)
[3]. Dentro do âmbito da Fisioterapia, o recurso que
apresenta maior destaque é, sem dúvida, a Cinesioterapia
que tem o objetivo de tratar através de exercícios físicos.
Neste caso, métodos coadjuvantes são adotados, visando
um denominador comum: a performance do movimento,
que é o ganho ou a manutenção do rendimento do sistema
músculo-esquelético [2,3].
As metas do tratamento fisioterápico variam desde a
obtenção de analgesia, ganho de arco de movimento, ganho
de força muscular, propriocepção, resistência muscular; até
re-aprendizado motor funcional. Porém, para que estes
objetivos sejam alcançados através das atividades físicas
propostas, é necessário que a priori haja um mecanismo de
preparo inicial (“aquecimento”) do SME, com o objetivo
de aliviar do ciclo espasmo-dor [5].
O tratamento de DME pela Medicina Tradicional Chinesa
(MTC) já data de mais de 3000 anos, segundo relatos históricos
desde as dinastias Xia e Shang (séc. 21-11 a.C.), de vítimas
com traumas originados em campos de batalha [6,7].
A Acupuntura foi sem duvida um dos procedimentos
terapêuticos mais aplicados na MTC em relação ao DME
como conduta conservadora não cirúrgica [6]. A sua eficácia
tem sido exaustivamente pesquisada nos últimos 30 anos, e,
atualmente, é aceita por apresentar propriedades, tais como:
1º) liberação de substâncias vasoativas induzida por processo
inflamatório asséptico provocado pelo microtrauma
acupuntural; 2º) melhora da oxigenação celular e trocas
metabólicas pelo aumento do aporte sangüíneo local; 3º)
ativação do sistema imunológico pela liberação de
trombocinas que aumenta a atividade fagocitária que leva a
lise leucocitária, inibindo o processo inflamatório articulares
e preparando as estruturas para receber o estímulo
fisioterápico; 4º) atuação no Sistema Linfático, pois os
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meridianos e pontos de acupuntura encontram-se próximo
aos vasos linfáticos e exercem influência sobre o fluxo
linfático local [7]; 5º) analgésico e relaxamento muscular
por liberação de serotonina e opiáceos (endorfina, encefalina,
dinorfina, e outros), etc [9-12].
Nos distúrbios fibróticos osteoarticular e miotendinoso,
a acupuntura age devido a: 1) indução de efeitos
piezoelétricos mediante a liberação de fosfatases alcalinas,
que estimulam a colagênese e a atividade dos fibrócitos
[13,14] e aumentam o metabolismo na substancia
fundamental; 2) melhora o tônus muscular pelo aumento
do aporte sangüíneo e favorece a diluição das toxinas; e 3)
distensão temporária do músculo, com contração
subseqüente levando a adequação do tônus muscular [10].
Nos distúrbios neurológicos temos a estimulação de nervos
periféricos e vegetativos, além das evidências da sua influência
em relação à regeneração nervosa [16-19].
Estudos recentes [20-24] confirmam que a eficiência da
Acupuntura isolada nos DME é superior a da Fisioterapia,
principalmente em relação à dor; embora ainda permaneça
inconclusivo quando se trata de reabilitação funcional
osteoarticular [8]. Contudo, já existem trabalhos [25-27] que
apóiam a integração destes dois procedimentos no tratamento
daquelas patologias.
Na tentativa de obter maior eficácia em tempo menor
na recuperação cinética funcional, foram realizados estudos
no Ambulatório de Pesquisa em Acupuntura da ABACO
(Academia Brasileira de Artes e Ciência Oriental), que
incluíram pacientes com história patológica arrastada de
DME e de tratamento de reabilitação convencional
ineficiente, os quais foram submetidos ao tratamento
sistemático de acupuntura associado à cinesioterapia. Tais
estudos mostraram que a Acupuntura pode ser um grande
recurso na Fisioterapia, pois apresenta sinergismo em relação
a esta, pela melhora da nutrição tecidual mediante aumento
do aporte sanguíneo local, melhora do quadro álgico e
relaxamento muscular que favorece à adequação do tônus
muscular, isto é, inibição do ciclo espasmo-dor. Além disso,
podemos acrescentar a reeducação de novos caminhos para
estímulos motores associados ao estímulo fisioterápico, capaz
de promover uma reabilitação de qualidade [28,29].
Acupuntura cinética
A acupuntura cinética (AC) é um método terapêutico
combinado que consiste na aplicação de Acupuntura durante
o tratamento fisioterápico, associando-a à Cinesioterapia
através da inserção de agulhas em pontos sistêmicos,
microssistêmicos e locomotores (sejam eles loco-regionais,
segmentares, à distância [7,30,31], ou somatotópicos
[27,32,33]) que tem como funções a preparação, promoção
(facilitação) e manutenção do efeito terapêutico do
movimento, durante, respectivamente, os períodos précinético, per-cinético e pós-cinético. Tal associação visa à
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reabilitação do movimento do SME mediante a debelação
do quadro álgico, do bloqueio fibrótico e a reintegração do
sistema neuromotor.
Acupuntura pré-cinética: consiste em aplicação de
acupuntura - acupuntura sistêmica [43] associada à
microssistêmica (por ex. crâniopuntura [27,34],
auriculoacupuntura [32], manopuntura [33] etc) - antes de
iniciar a conduta fisioterápica com objetivo de preparar a
estrutura para receber o estímulo fisioterápico, através da inibição
do ciclo espasmo-dor. A ação pré-cinética da acupuntura é
observada, principalmente, pela presença da diminuição da dor,
do aumento do aporte sanguíneo local, da melhora da
oxigenação tissular, e do relaxamento muscular [9,27].
Acupuntura per-cinética: baseia-se na aplicação de
acupuntura - acupuntura microssistêmica, tal como a
crâniopuntura - durante a estimulação fisioterápica e tem
como objetivo potencializar a recuperação do movimento.
Ex: durante o tratamento de hemiplegia pela crâniopuntura
segundo a escola de Shanghai, observou-se melhora da
coordenação motora [25,34].
Acupuntura pós-cinética: relaciona-se com a manutenção
de estimulo acupuntural de ação prolongada através de
inserção de agulhas ou sementes em pontos específicos acupuntura microssistêmica (auriculoacupuntura,
crâniopuntura, etc) aplicada após cinesioterapia,
principalmente após alongamento, mobilização articular e
posicionamento, que pode variar de dias a semanas [32].
Material e métodos
Casuística
Para este estudo clínico foi realizado um trabalho
prospectivo no Ambulatório de Pesquisa em Acupuntura
da ABACO durante o período entre 2000 a 2002, no qual
estavam incluídos 305 indivíduos, sendo 183 mulheres e
122 homens com faixa etária variando entre 7 e 80 anos,
com quadro evolutivo variando de uma semana a 15 anos.
Dentro dessa amostragem tivemos:
1) 245 pacientes eram portadores de distúrbios do
aparelho locomotor (DAL), sendo 28 casos de distúrbios de
ombro (ombralgia por capsulite adesiva, bursite, trauma e
“ombro do hemiplégico”); 21 casos de distúrbios de joelho
(gonalgia por gonartrose e trauma); 156 de distúrbio de
coluna vertebral (58 casos de cervicalgia, 30 de dorsalgia e
68 de lombalgia) por contratura muscular, radiculite,
osteofitose, osteoartrose, espondilolistese, hérnia de disco,
diminuição do espaço intervertebral); 25 casos de DORT
(12 casos de síndrome do Túnel do Carpo, 5 de tennis elbow
e 8 de “dedo em gatilho”); e 15 casos de pé/tornozelo (3 de
artigo 07 Vasco Senna.pmd
188
tendinite do tendão de Aquiles e 12 de esporão de calcâneo.
A tabela I resume essa casuística.
2) 4 pacientes com distúrbios locomotores de origem
neurológica (síndrome de Parkinson).
3) 56 pacientes apresentavam distúrbios neuromusculares
da face (DNMF) - paralisia facial periférica.
Método
Todos os pacientes foram previamente submetidos à
avaliação médica associada a laudos provenientes de diversas
especialidades, tais como: Clínica Geral, Ortopedia e
Neurologia; e diagnosticados de acordo com a MTC, dando
ênfase à pesquisa de nódulos álgicos. A seguir, foram
submetidos ao estudo cinesiológico, e então, realizado o
tratamento de acordo com cada quadro patológico.
Procedimentos terapêuticos
1ª etapa - pré-cinética: o paciente era submetido à
acupuntura sistêmica (de acordo com a MTC) [7] e
acupuntura microssistêmica (crâniopuntura: YNSA [27],
Jiao [34]).O tipo de agulhas aplicado foi de aço
inoxidável variando de comprimento (5 mm a 70 mm)
e de calibre. Em casos resistentes à conduta primária
aplicou-se eletroacupuntura para quadro álgico severo,
ventosa para contraturas, moxibustão para síndromes
de deficiência [7,35].
2ª etapa - per-cinética: a cinesioterapia é aplicada de
acordo com cada patologia em conjunto com os acupontos
da crâniopuntura mantidos estimulados e revisados em
relação ao Hibiki [27]. Em caso de presença de rigidez
articular ou contratura muscular segmentar persistente
foram pesquisados nódulos álgicos os quais foram tratados
pela técnica de Jiao [34].
3ª etapa - pós-cinética: auriculopuntura [32] foi aplicada
após o término da 2ª etapa, mediante colocação de sementes
de mostarda e protegidas por micropore em acupontos
auriculares de acordo com cada quadro sindrômico. A
aplicação era renovada de cada em cada semana e os
pacientes foram orientados em relação à higiene auricular.
Parâmetros de avaliação
1. Avaliação da dor [36] em todos os quadros álgicos do
sistema locomotor.
2. Avaliação da amplitude do movimento pela goniometria
nos distúrbios do ombro e do joelho, e pela mensuração de
fita métrica nos distúrbios da coluna vertebral [3,37].
3. Avaliação da coordenação motora e adequação do
tônus muscular nos distúrbios neuromotores da face
(paralisia facial) [38].
4. Avaliação da marcha, coordenação motora e equilíbrio
na síndrome do Parkinson [38].
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
Resultados
A figura 1 mostra o gráfico das freqüências relativas
dos casos tratados por AC em função do nível de melhora
(mp) da dor, para cada tipo de DME tratados por AC.
Chamamos de freqüência relativa a razão (np/n) entre o
número de indivíduos de uma dada porcentagem de melhora
(np) e número total de indivíduos de um tipo de DME (n).
Nesta figura, podemos observar que a supressão completa
da dor foi mais freqüente nos casos de DORT e, em seguida,
nos casos de distúrbios de pé-tornozelo.
A tabela II relaciona o número total de indivíduos de
DME (n) tratados e o número (n90-100%) que obteve melhora
igual ou maior de 90% (m p > 90%) em relação aos
parâmetros: dor e ganho de amplitude de arco articular,
Fig. 1 - Freqüências relativas de indivíduos de DME tratados por AC
versus % de melhora da dor, para os distúrbios de ombralgia, gonalgia,
coluna, pé-tornozelo e DORT.
Fig. 2 - Freqüências relativas de indivíduos de DME tratados por AC
versus % ganho de amplitude de arco articular, para os distúrbios de
ombralgia, gonalgia, coluna, pé-tornozelo e DORT.
artigo 07 Vasco Senna.pmd
189
189
após serem completadas as três etapas do tratamento por
AC. Nesta tabela também são encontrados os valores do χ2
calculados para cada caso, com base nos critérios
estabelecidos acima.
Em relação à dor, o tratamento por AC mostrou-se
bastante eficiente nos casos de gonalgia (χ2 = 0,191), DORT
(χ 2 = 0,100) e pé-tornozelo (χ 2 = 0,9007), já que foi
significante o número de pacientes tratados que obtiveram
mp > 90%.
No caso da ombralgia, foi insignificante o número de
indivíduos que obteve mp > 90% da dor, mas a significância
foi encontrada quando mudamos, para 80% dos casos
tratados, o valor esperado de indivíduos (en = 0,8n) para
esse nível de melhora. Assim, encontramos que mais de
80% dos casos obtiveram significante melhora da dor (χ2 =
2,444). Fazendo o mesmo procedimento para mudança de
valor esperado e usando a expectativa de 75% de melhora
como ideal (en = 0,75n), verificamos que o tratamento dos
distúrbios de coluna foi significantemente eficaz, mp > 90%
da dor, em 75% dos casos (χ2 = 2,769).
Na figura 2 podemos ver o gráfico das freqüências
relativas dos indivíduos portadores de DME, tratados por
AC, versus a taxa de ganho de amplitude de arco articular.
Também neste caso, a melhor resposta ao tratamento foi
encontrada nos casos de DORT, onde obtivemos
relativamente o maior número de indivíduos com ganho de
100% em amplitude articular.
Em relação ao desempenho articular, os resultados
estatísticos mostraram, que a AC foi capaz de beneficiar
90-100% dos indivíduos portadores de DORT (χ2 = 0,277),
ombralgia (χ2 = 1,525) e gonalgia (χ2 = 1,841), com um
aumento de 90-100% da amplitude de arco de articular.
Embora a melhora nos dois parâmetros estudados tenha
sido significativa no DORT, a AC não se revelou eficiente
no caso da parestesia e da atrofia muscular da mão nos
pacientes portadores de síndrome de túnel do carpo. Além
disso, foi observada remissão total do sinal de atrito em 4
pacientes com dedo em gatilho.
Nos casos de distúrbios de coluna, não foi significante
(χ2 = 4,595) o número de pacientes que obtiveram mp >
90% na amplitude de arco articular, considerando como
sucesso 90% dos casos tratados (en = 0,9n). Porém, a
mudança do valor esperado para en = 0,8n, mostrou que
pelo menos 80% desses pacientes podem se beneficiar com
um ganho maior de 90% na amplitude do arco articular (χ2
= 0,769). No caso dos distúrbios de pé-tornozelo, foi
insignificante o número de indivíduos que se beneficiaram
do tratamento para aumento da amplitude de arco articular.
As figuras 3a e 3b mostram as freqüências relativas dos
casos de PFP, tratados por AC, em função de mp: coordenação
motora (figura 3a) e tônus muscular (figura 3b), para os três
estágios de PFP. Na figura 3a, podemos ver que nenhum
paciente de PFP alcançou um nível de melhora de 100% da
coordenação motora. Na PFP tardia também não houve
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
190
Fig. 3 - Freqüências relativas de indivíduos de PFP recente, intermediária
e tardia tratados por AC versus % de melhora da coordenação motora (a)
e do tônus muscular (b).
Fig. 4 - Freqüências relativas de indivíduos de síndrome de Parkinson
tratados por AC versus % de melhora (mp) da marcha, da coordenação
motora e do equilíbrio.
80% tanto na coordenação motora (χ2 =1,840), quanto no
tônus muscular (χ2 = 0,800).
A figura 4 mostra o gráfico das freqüências relativas
dos casos de síndrome de Parkinson, tratados pela AC, versus
mp, para os parâmetros: marcha, coordenação motora e
equilíbrio. Nesta, pode ser observado que não houve melhora
de 100% em nenhum desses parâmetros. No caso da
marcha, também não foi observado mp = 90%. Entretanto,
a análise estatística mostrou significância para a melhora de
70%< mp < 80% da marcha (χ2 = 0,852) que foi observada
em 90% dos indivíduos. Para a coordenação motora (χ2 =
0,168) e o equilíbrio (χ2 = 0,010) a significância foi encontrada
para 80% < mp < 90%.
casos de melhora de 90%; nível este que foi observado na
maioria dos pacientes de PFP recente. Quanto ao tônus
muscular, nenhum caso de PFP alcançou o nível de mp >
90%, como pode ser visto na figura 3b.
O estudo estatístico (tabela III) forneceu os valores χ2 =
0,710 e χ2 = 1,840, para as expectativas de que uma taxa de
90% dos indivíduos de PFP em estágio recente, tratados
por AC, tivesse tido um nível de melhora m p > 90%,
respectivamente, da coordenação motora e do tônus
muscular. Quanto aos casos de PFP em estágio intermediário,
obtivemos χ2 = 0,840 para um nível de melhora 80 < mp <
90%, tanto da coordenação motora e como do tônus
muscular, em 90% dos indivíduos tratados. Além da
diferença entre os níveis de melhora, observamos que as
velocidades de recuperação foram diferentes entre esses
dois estágios de PFP. Nos casos recentes, a recuperação da
coordenação motora da mímica foi mais rápida que nos
casos em estágio intermediário.
Nos casos de estágio tardio, a significância foi encontrada
para 90% dos indivíduos com nível de melhora 70 < mp <
artigo 07 Vasco Senna.pmd
190
Discussão
A medicina vem objetivando ao longo do tempo a cura
de enfermidades não só por meio medicamentoso ou
cirúrgico, mas também através da reabilitação física. Apesar
da Fisioterapia ter evoluído bastante e sempre aliada ao avanço
tecnológico, ainda não apresenta resultados suficientemente
eficazes que signifiquem a restauração da integridade funcional,
física e mental dos pacientes, principalmente quando se trata
das afecções traumato-ortopédicas do aparelho locomotor. Em
busca do tratamento de seqüelas destas patologias, muitas vezes
encontramos dificuldades na realização das condutas
fisioterápicas adequadas, devido à presença de quadros álgicos
intensos, neuromotores deficientes e fibroses importantes.
Mesmo os recursos térmicos (como a crioterapia),
eletroterápicos (TENS, US, ondas curtas) ou mecânicos, podem
não oferecer bons resultados, já que os principais objetivos de
reabilitação são: a analgesia, o ganho de arco de movimento, o
ganho de força muscular, a melhora da propriocepção e da
resistência muscular, o reaprendizado motor e a recuperação
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
funcional, que permitam o pleno desempenho das atividades
da vida diária (AVD) de um indivíduo [4, 41].
A Crioterapia continua a ser o recurso pré-cinético mais
utilizado na Fisioterapia para o tratamento de quadros álgicos,
devido ao seu poder de resfriamento tecidual, que diminui
o aporte sanguíneo, através vasoconstricção local e eleva o
limiar da dor, através da diminuição da velocidade de
condução da resposta inicial de nervos periféricos. Contudo,
a Crioterapia induz o aumento da viscosidade, a diminuição
do metabolismo, o aumento da rigidez articular e a inibição
da atividade colagenase sinovial, bem como a extensibilidade
dos tendões, embora promova relaxamento do espasmo
muscular [42]. É um método terapêutico muito utilizado na
medicina esportiva [43] para tratamento de lesões traumatoortopédicas agudas e de doenças osteoarticulares crônicas [42].
A Acupuntura pode ser considerada como um recurso
pré-cinético na Fisioterapia por apresentar mecanismos que
favorecem a debelação do ciclo espasmo-dor, tais como a
estimulação analgésica e relaxamento muscular, aumento
de aporte sanguíneo associado à elevação de oxigenação
tissular [13], produção de ATP [44], efeitos antiflogísticos
[13], e efeitos piezoelétricos [9,45] a partir da indução de
processo inflamatório asséptico. Alem disso, a Acupuntura
apresenta efeitos específicos em relação à musculatura
esquelética através da estimulação de fusos musculares e
tendíneos por propriorreceptores [44]; assim como, inibição
dos reflexos próprios e não fisiológicos pela indução dos
outros ainda desconhecidos, nos quais alfa e gamamotoneurônios são ativados simultaneamente, resultando
daí uma adequação do tônus muscular [13,15].
Há relato na literatura [25,26,27] de tratamentos de
Acupuntura associado aleatoriamente à Fisioterapia, não
existindo nenhum estudo apoiando um método sistemático
de tratamento de Acupuntura associada à Cinesioterapia
como este ora aqui descrito.
A análise dos nossos resultados mostrou que um nível
de 90-100% de melhora da dor e da amplitude de
movimentação articular pode ser esperado no tratamento
por AC dos casos de DORT e gonalgia tratados pela AC
(tabela II). A mesma taxa de melhora pode ser obtido no
tratamento dos distúrbios de pé-tornozelo em relação à
dor (χ2 = 0,9007); porém, em relação ao aumento da
amplitude de arco articular, não deve ser esperada melhora
significante nestes distúrbios.
Para os casos de ombralgia, a AC mostrou ser
significantemente eficiente na melhora de 90-100% da dor
em 80% dos pacientes tratados (χ2 = 2,444) e no ganho de
90-100% na movimentação articular em 90% destes (χ2 =
0,277). Nos distúrbios da coluna, concluímos, segundo o
estudo estatístico, que a expectativa para o tratamento por
AC é de que 75% dos pacientes tratados obtenham melhora
de 90-100% da dor e que 80% deles apresentem um ganho
igual ou maior que 90% na amplitude articular (tabela 2).
Como podemos ver, a AC foi eficaz para o tratamento
artigo 07 Vasco Senna.pmd
191
191
dos casos de DME (figuras 1 e 2). Enfocando o número
total de pacientes deste grupo tratados, o estudo
estatístico (tabela II) mostrou que a expectativa do
tratamento por AC para pacientes de DME, de uma
forma geral, deve ser de que 75% desses pacientes
obtenham um nível de melhora de 90-100% (χ2 = 2,574)
da dor, e 80% deles ganhem de 90-100% na amplitude
do arco articular (χ2 = 3,448).
Quanto ao tratamento da PFP, em nenhum dos casos
em estágio tardio foi obtida recuperação maior que 80%,
tanto da coordenação motora (figura 3) quanto do tônus
muscular (figura 4). O estudo estatístico (tabela III)
mostrou que a chance de se obter melhora de 90-100%
da coordenação motora (χ2 = 0,710) e do tônus muscular
(χ2 = 1,840) de indivíduos com PFP no estágio recente da
doença é de 90%. No intemediário, observou-se que a
velocidade de recuperação foi mais lenta do que no caso
da PFP recente, podendo ser considerado sucesso a
obtenção de uma melhora de 80-90% da coordenação
motora e do tônus da musculatura facial em 90% dos
indivíduos tratados (χ2 = 0,840).
Embora não tenha sido observada, no tratamento
da PFP, melhora acima de 90% no estágio intermediário
e nem maior de 80% no estágio tardio, tanto para
coordenação motora como para o tônus muscular, os
níveis de recuperação obtidos nesses dois casos devem
ser considerados bem satisfatórios, visto que se trata
de uma patologia cuja recuperação fica comprometida
com o tempo. No estágio tardio, deve ser levado em
conta, inclusive, a possibilidade da existência de algum
nível de dano tecidual. Em função disto, serão
encontradas seqüelas neuromotoras de difícil
recuperação e/ou irreversíveis.
Quadro 1 - Grupos de DME tratados por AC.
Distúrbio
(n)
Tipo
(n)
Capsulite adesiva
Bursite
Osteoartrose
Trauma
Ombro do hemiplégico
(7)
(5)
(8)
(3)
(5)
Osteoartrose
Trauma
(18)
(3)
Ombralgia
(28)
Gonalgia
(21)
Dort
(25)
Sind. Túnel do carpo
Dedo em gatilho
Cotovelo de tenista
(12)
(8)
(5)
Coluna
(156)
Cervicalgia
Dorsalgia
Lombalgia
(58)
(30)
(68)
Pé-tornozelo
(15)
Tendinite do t. Aquiles
Esporão do calcâneo
(3)
(12)
n = números indivíduos
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a nutrição tecidual fica reduzida,
diminuindo o metabolismo e
Parâmetro
prejudicando a regeneração celular
Dor
Amplitude articular
[46]. Isto leva à formação de edema
persistente, de fibrose, de contratura,
n
n 90-100%
χ2
n90-100%
χ2
etc, evoluindo para o bloqueio
Ombralgia
28
15
4,128 (2,444)*
18
1,525
articular e, conseqüentemente, para
Gonalgia
21
17
0,191
13
1,842
a diminuição da atividade motora, ao
Dort
25
21
0,100
20
0,277
nível do sistema locomotor, e
Coluna
15
99
12,207 (2,769)**
115
4,595 (0,769)*
6
discinesias e sincinesias, ao nível do
Pé-tornozelo
15
10
0,907
3
8,166 (6,750)**
sistema neuromotor facial [6,38].
Pé-tornozelo
24
162
15,520 (2,574)**
169
11,565 (3,448)*
Nas três etapas do tratamento
5
por AC, a Acupuntura cumpriu as
n = número indivíduos; mp = nível de melhora (%); *mp80%; **mp75%
funções esperadas como terapia
coadjuvante potencializadora. Na
2
fase pré-cinética, a Acupuntura
Quadro 3 - Casos de PFP tratados por AC - Freqüências e valores de χ .
preencheu todos os quesitos
Parâmetro
como um recurso preparatório
eficiente para a Fisioterapia, que ao
Coordenação motora
Tônus muscular
invés de ser agente de resfriamento
tissular, tem como princípio básico
2
2
Distúrbio
n
mp / np
χ
mp / np
χ
o aquecimento orgânico, o qual já
Recente
17
mp 90/12
0,710
mp 90/10
1,840
foi observado em estudos termo0,840
80 mp< 90/4
0,840
Intermediária
07
80 mp< 90/4
1,840
70 mp< 90/15
0,800
Tardia
21
70 mp< 90/8
gráficos [27]. Na fase per-cinética,
a Acupuntura se mostrou eficiente
n = números indivíduos; mp= nível de melhora (%); *mp80%; **mp75%
como agente facilitador da
Cinesioterapia, mediante os seus
Nos pacientes de PFP de estágio recente também
efeitos analgésicos e miorrelaxante promovidos pela
observamos a melhora da sensibilidade ao calor e à tensão,
crâniopuntura [27,34]; e na fase pós-cinética, se foi eficiente
e a presença de fasciculações faciais após tratamento. AC
como agente mantenedor de estímulos prolongados de
também conseguiu amenizar ou inibir sincinesias iniciais
analgesia e miorelaxamento mediada pelo auriculopuntura [32].
e não provocou complicações em pacientes portadores
de sincinesias e/ou discinesias aberrantes evidentes
Conclusão
submetidos ao tratamento prolongado. Na paralisia tardia
apesar de não ter sido significante a melhora da
De acordo com os nosso resultados podemos concluir
coordenação motora, houve melhora da contratura facial,
que a expectativa para o tratamento pela AC deve ser de:
diminuição da fenda palpebral, sincinesia menos
a) melhora de 90-100% da dor na maioria (mais de 80%)
acentuada e abrandamento de tiques faciais.
dos pacientes de DORT, de gonalgia, ombralgia, de
Dentre os pacientes portadores de doença de
distúrbios de pé-tornozelo e de coluna; b) ganho de 90Parkinson tratados pela AC, nenhum caso de melhora
100% de amplitude articular em mais de 90% dos
de 100% foi obser vado (figura 4), mas o estudo
pacientes de DORT, gonalgia e ombralgia, e de 80% dos
estatístico (tabela IV) mostrou que pode ser considerado
pacientes de distúrbios de coluna; c) melhora de 90-100%
sucesso uma melhora de 80% da marcha e 90% da
da coordenação motora e do tônus muscular em 90%
coordenação motora e do equilíbrio, em 90% dos casos
dos indivíduos com PFP no estágio recente da doença;
tratados pela AC.
Nossos resultados mostraram que a AC pode
Quadro 4 - Casos de síndrome de Parkinson tratados por AC - Freqüências
2
beneficiar significantemente o tratamento dos distúrbios
e valores de χ .
do aparelho locomotor e neuromuscular da face, quanto
Parâmetro
mp / np
x2
ao quadro álgico, ao bloqueio articular, à fibrose, à
n=4
atividade motora, etc. Estes são quadros patológicos de
natureza hipocinética, com acentuado déficit de energia,
Marcha
80 mp< 90 /2
0,711
cujos locais de lesão apresentam diminuição do aporte
Coord. Motora
mp = 90 / 2
0,711
sangüíneo que leva a isquemia [46]. Quando o fluxo
Tardia
mp =90 /2
0,711
sangüíneo diminui, a viscosidade dos líquidos aumenta e
Quadro 2 - DME tratados por AC - Freqüências e valores de 2 calculados
artigo 07 Vasco Senna.pmd
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d) melhora de 80-90% da coordenação motora e do tônus
da muscular de 90% dos indivíduos no estágio
intemediário; e e) melhora de 70-80% da coordenação
motora e do tônus da muscular de 90% dos indivíduos
no estágio tardio.
Verificamos que os casos de síndrome de Parkinson
também podem ser beneficiados com o tratamento pela
AC. Embora nossos resultados tenham sido estatisticamente
significativos, consideramos a casuística muito pequena, e
optamos por esperar o aumento da amostragem para
quantificar conclusivamente esses benefícios.
Através deste estudo, podemos concluir que a
Acupuntura apresenta sinergismo em relação a
Cinesioterapia, na recuperação das funções fisiológicas do
aparelho locomotor e neuromuscular da face. Assim, a AC
ou Cinesioacupuntura é um método de tratamento
sistemático que representa uma verdadeira integração de
duas medicinas e de duas ciências, onde o presente e o
passado se encontram.
193
10.
11.
12.
13.
14.
Agradecimentos
Agradecemos às empresas: Sikuro (Sistemas e
Equipamentos Eletrônicos), Acupuntura Center (Com. e
Imp. de Produtos Terapêuticos), ao Colégio Brasileiro de
Acupuntura de Minas Gerais e a Academia Brasileira de
Arte e Ciência Oriental – Fundacão Sohaku-In.
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03/06/03, 14:40
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
195
Artigo original
Reabilitação funcional para membros superiores
pós-acidente vascular encefálico
Functional rehabilitation of upper limb
after cerebral vascular disease
Selma Ramos da Silva e Souza*, Cleber Alexandre de Oliveira**, Neuza Akemi Mizuta***, Maria Heloísa Matheus Rúbio
dos Santos***, Anderson de Paula Moreira***, Anderson Leandro Feitosa***
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
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○
○
○
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○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
*Fisioterapeuta (UMC-SP), Especialista em Neurofisioterapia (UNIBAN-SP), Mestranda em Engenharia Biomédica (UMC-SP),
Professora UNICASTELO Campus Itaquera SP, **Fisioterapeuta (NAUTICO-SP), Mestrando em Ciência da Reabilitação Neuromotor
(UNIBAN-SP), Professor UNICASTELO Campus Itaquera SP, ***Acadêmicos do 4º ano de Fisioterapia UNICASTELO Campus
Itaquera SP
Resumo
O objetivo da pesquisa foi verificar a eficácia da cinesioterapia clássica na reabilitação
funcional do membro superior em pacientes com seqüelas decorrentes do Acidente Vascular
Encefálico (AVE). 21 pacientes com seqüelas de AVE foram contactados no início da pesquisa,
sendo avaliados em relação ao tipo de AVE, tempo de lesão e patologias associadas. 11
pacientes foram excluídos da pesquisa e 10 pacientes foram incluídos. A pesquisa foi realizada
no período de outubro de 2002 a janeiro de 2003 no ambulatório de neurologia adulto da
faculdade de fisioterapia da Universidade Camilo Castelo Branco - campus Itaquera-SP. O
resultado deste estudo mostrou que a cinesioterapia clássica contribuiu em vários aspectos
da vida do paciente com seqüela de AVE como: melhora da qualidade de vida, independência
nas atividades de vida diária e melhora das funções afetivas, porém é necessário que este
estudo tenha continuidade abrangendo uma amostra mais ampla.
Palavras-chave:
Reabilitação, membro
superior, acidente
vascular encefálico.
Abstract
The aim of this study was to evaluate the effectiveness of the therapeutic exercise
in the functional rehabilitation of the upper limb in patients with sequels due to Cerebral
Vascular Disease (CVD). 21 patient with sequels of CVD were evaluated for CVD
type, lesion time, and associated pathologies. 11 patients were excluded and only 10
patients were included. The study was accomplished on the period of October 2002
to January 2003 in the adult neurology clinic of the physiotherapy university of
Universidade Camilo Castelo Branco - campus Itaquera-SP. Result of this study showed
that therapeutic exercise contributed in many aspects of patient life with sequel of
CVD as improvement of quality life, independence in the activities of daily life activities
and improvement of affective functions, however it is necessary another study with
hightest scale of people.
Key-words:
Rehabilitation, upper
limb, cerebral vascular
disease.
Artigo recebido em 26 de fevereiro de 2003; aceito em 15 de maio de 2003.
Endereço para correspondência: Profª Selma Ramos, Depto de Fisioterapia - Neurologia Adulto - UNICASTELO-SP, Rua Carolina Fonseca, 584,
Itaquera 08230-030 São Paulo SP, Tel: (011) 6170-0000, E-mail: [email protected]
artigo 11 Selma Ramos.pmd
195
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196
Introdução
Acidente Vascular Encefálico (AVE)
Quase todas as pessoas idosas terão pelo menos algum
bloqueio do suprimento sanguíneo arterial de seus cérebros [1].
Quando o suprimento a uma área no SNC é interrompido ocorre
os acidentes vasculares cerebrais (AVCs) ou derrames [2].
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o AVE
é um sinal clínico de rápido desenvolvimento de perturbação
focal na função cerebral, de suposta origem vascular e com
mais de 24 horas de duração [3]. É o aspecto repetitivo do
déficit neurológico -segundos, minutos, horas ou poucos dias
- que caracteriza o distúrbio como sendo vascular [3].
A maioria dos derrames é causada por placas
arterioscleróticas que ocorrem em uma ou mais das artérias
nutridoras do encéfalo [1]. Outras causas da interrupção
podem ser a hipertensão arterial, malformações de um vaso
sanguíneo, doença cardíaca, etc [2].
Os efeitos neurológicos de um derrame são determinados
pela área cerebral afetada [1], pela causa do AVE, extensão
da lesão e as funções da áreas lesadas [2].
Os principais sinais e sintomas do Acidente Vascular
Encefálico têm como característica a paralisia total ou parcial
de um hemicorpo (hemiplegia ou hemiparesia), disfunção
proprioceptiva decorrente de distúrbios do campo visual,
disfunções sensorial, mental e intelectual. Alguns pacientes
também podem apresentar comprometimento da fala
(disartria ou afasia) [5,6,2,4].
O AVE pode ser classificado de acordo com o tipo
patológico - trombose, embolia ou hemorragia - ou de acordo
com fatores temporais - completo, em evolução ou ataques
isquêmicos transitórios (AIT) [5,2,3,4].
Material e métodos
Casuística
Dez pacientes foram inclusos no estudo e todos os seus
dados foram colhidos através da avaliação de triagem, tais como,
diagnóstico médico, data da lesão, estilo de vida pregressa e
atual, fatores agravantes, motricidade voluntária e a qualidade
de vida após a lesão. Os pacientes participaram desta pesquisa
no período de outubro de 2002 a janeiro de 2003.
Antes de participar da pesquisa, todos os pacientes foram
informados a respeito do seu conteúdo e assinaram um
termo de consentimento. No caso dos pacientes que não
conseguiram assinar esse ter mo, os familiares se
responsabilizaram, assinando o referido termo.
Critérios de inclusão e exclusão
Os métodos utilizados foram selecionados de acordo
com o objetivo deste estudo. Os pacientes teriam que
apresentar um diagnóstico de AVE, com ou sem
classificação, até 1 ano de lesão, com déficit motor em
membro superior e sem graves patologias associadas.
Com a finalidade de constatarmos se os pacientes que foram
inicialmente selecionados estavam de acordo com os objetivos
do estudo, realizamos uma avaliação para triagem em outubro
de 2002, sendo que os pacientes inclusos no estudo foram
submetidos a uma avaliação funcional no mesmo mês.
Tabela I - Características dos pacientes e lesão
Reabilitação
Pensava-se historicamente que a recuperação da função
motora após um AVE completava-se após 3 a 6 meses da
ocorrência. As pesquisas têm mostrado que a recuperação
funcional de um AVE pode continuar por meses ou anos
[4]. Os programas de reabilitação para pacientes que
sofreram AVE mostraram-se capazes de melhorar os
resultados funcionais [7].
O tratamento de pacientes com hemiplegia é um processo
de ensino e aprendizagem [8]. A fisioterapia tem a finalidade
de evitar ou corrigir qualquer deformidade, melhorar sua
função motora e ajudá-lo a desenvolver a capacidade de realizar
as atividades diárias até que possa, pelo menos parcialmente,
cuidar de suas necessidades pessoais [6]. A cinesioterapia é
um meio de acelerar a recuperação do paciente [9].
Os exercícios terapêuticos têm como objetivo aumentar
o condicionamento físico, melhorar o metabolismo corporal,
melhorar a força muscular, aumentar a resistência à fadiga,
melhorar a eficiência cardiovascular, aumentar a flexibilidade
artigo 11 Selma Ramos.pmd
e a mobilidade, aumentar a estabilidade, melhorar a
coordenação, equilíbrio e habilidades funcionais, prevenção
de deformidades, melhorar o bem-estar geral e a qualidade
de vida [10,11,12,6].
196
Características
Idade
Sexo feminino
Sexo masculino
Tipo de AVE
Isquêmico
Icto transitório
Sem classificação
Tempo de lesão
até 1 mês
2 meses
3 meses
4 meses
Lado lesado
Dominante
Não dominante
Pacientes (n=10)
36 a 72 anos
40%
60%
30%
10%
60%
60%
10%
20%
10%
80%
20%
No estudo ingressaram 21 pacientes, 11 foram excluídos,
sendo que: 1 devido à disfunção salivar e baixo déficit motor, 2
por não possuírem déficit motor em membro superior, 01 devido
à esquizofrenia severa, 1 devido a distúrbios psiquiátricos, 1
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Tabela II - Avaliação funcional - teste de precisão e coordenação.
1° Avaliação
Precisão / coordenação
realiza
não realiza
Segurar copo vazio
30%
70%
Segurar copo cheio
30%
70%
Pegar moeda
40%
60%
Segurar caneta
30%
70%
Virar figurinha
30%
70%
Virar a página do livro
40%
60%
Desembrulhar pacotes / balas
20%
80%
Tabela III - Avaliação funcional das atividades de vida diária (AVD).
1° Avaliação
AVD
independente dependente
Alimentação
30%
70%
Higiene pessoal
Lavar o rosto
60%
40%
Pentear o cabelo
50%
50%
Escovar os dentes
60%
40%
Barbear-se B&
16,66%
83,34%
Ir ao banheiro
40%
60%
Limpar-se após ir ao banheiro
50%
50%
Banho
30%
70%
Amarrar sapatos
20%
80%
Vestir-se
40%
60%
Fechar botões e zíper
30%
70%
Separar roupas
40%
60%
Colocar meias
30%
70%
Executar tarefas domésticas
10%
90%
Manuseio do telefone
10%
90%
Lavar louças
10%
90%
Manuseio do controle remoto
30%
70%
Preparar refeições
10%
90%
Medicamentos
10%
90%
Realizar compras
10%
90%
ausentou-se da pesquisa após a 6ª sessão devido a complicações
graves de saúde, 2 desistiram de participar da pesquisa após a
triagem, 1 não realizou o primeiro teste de preensão palmar e 2
não compareceram na última sessão de fisioterapia.
As principais características da lesão dos pacientes
inclusos na pesquisa estão descritas na tabela I.
Procedimentos técnicos
A reabilitação iniciou-se em novembro de 2002, sendo
que na 2ª sessão foi realizado o teste de preensão palmar, e
após o término da 10ª sessão os pacientes foram submetidos
a uma reavaliação funcional e de preensão palmar.
A avaliação funcional teve como objetivo diagnosticar
as deficiências e as dificuldades dos pacientes com relação
às atividades de vida diária, habilidade de precisão,
coordenação e o estado emocional do paciente.
A força de preensão (kg/f) foi aferida com o dinamômetro
hidráulico Jamar® na 2ª sessão e após a 10ª sessão de fisioterapia
com o intuito de realizarmos uma análise comparativa entre os
dados colhidos no início e no término do estudo.
artigo 11 Selma Ramos.pmd
197
197
As mensurações das forças
de preensão foram realizadas
bilateralmente e alternadamente,
com intervalo de 1 minuto. Tanto
a mão direita como a mão
esquerda foram testadas três
vezes e os resultados destas
medidas foram somados e
posteriormente divididos por
três obtendo-se uma média final.
O posicionamento do paciente
2° Avaliação
durante o teste de preensão visou
independente Dependente
o conforto, ocasionando relaxa50%
50%
mento da musculatura que não
seria recrutada para a execução
60%
40%
do movimento. Durante o teste o
50%
50%
paciente estava sentado, com o
60%
40%
33,33%
66,66%
cotovelo fletido a 90° e sem
80%
20%
nenhum apoio.
50%
50%
As sessões de cinesioterapia
60%
40%
clássica
foram aplicadas no
30%
70%
decorrer
de 10 semanas,
60%
40%
totalizando
10 sessões com 50
60%
40%
minutos de duração sendo
60%
40%
50%
50%
aplicado um protocolo baseado
40%
60%
no quadro clínico dos pacientes.
40%
60%
O protocolo consistia em
30%
70%
exercícios preparatórios para
50%
50%
adequação de tônus, estímulos
20%
80%
proprioceptivos, exercícios de
70%
30%
0%
100%
alcance e precisão e exercícios
para preensão palmar. Este
protocolo foi aplicado por quatro terapeutas resultando
em 25 sessões para cada terapeuta.
Os questionários foram baseados nas avaliações funcionais contidas no livro Fisioterapia: Avaliação e Tratamento
[7] e na escala SIS versão 2.0 da Universidade de Kansas [3].
As avaliações desta pesquisa foram adaptadas segundo o
objetivo do estudo.
As avaliações funcionais foram aplicadas na triagem, antes
da 1ª sessão e após a 10ª sessão de cinesioterapia, sendo que o
tempo das avaliações não está incluso como parte das sessões.
2° Avaliação
realiza
não realiza
70%
30%
60%
40%
50%
50%
80%
20%
50%
50%
50%
50%
40%
60%
Resultados
Os resultados da 1ª e 2ª avaliação relacionados às atividades de vida diária, precisão/coordenação e estado
emocional estão descritos nas tabelas II, III e IV.
O AVE gera um grande déficit funcional dos membros
superiores, dificultando a realização das atividades de vida diária.
Para a realização das atividades de vida diária é necessária
coordenação e precisão dos movimentos.
A avaliação funcional descrita na tabela II visa quantificar
e qualificar a habilidade dos pacientes inclusos no estudo.
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Tabela IV - Avaliação do estado emocional.
Estado emocional presente
Ansiedade
80%
Depressão
30%
Controle emocional 40%
Auto-estima
70%
Comunicação
70%
Atividades lazer
80%
1° Avaliação
ausente presente ausente
20%
70%
70%
20%
60%
70%
30%
80%
30%
90%
20%
100%
Tabela V - Avaliação da força de preensão.
Teste de preensão Lado lesado
Lado lesado
Melhora da força muscular
33,34%
Não houve alterações
16,66%
Piora da força muscular
50%
Porcentagem em relação ao número de pacientes do sexo
Lado não lesado
Lado não lesado
50%
0%
50%
masculino
Tabela VI - Avaliação da força de preensão.
Teste de preensão Melhora da força muscular
Não houve alterações
Piora da força muscular
Porcentagem em relação ao número de
Lado lesado
50%
25%
25%
pacientes do sexo
Lado não lesado
100%
0%
0%
feminino
A tabela III ilustra dados comparativos da habilidade
funcional entre a 1° avaliação realizada no início do estudo
e a 2° avaliação no término do estudo.
Uma característica do Acidente Vascular Encefálico é a
perda da independência funcional e conseqüente redução
da função social e emocional.
Há uma íntima relação entre o estado emocional e a
qualidade de vida do ser humano.
A melhora obtida do estado emocional dos pacientes
após as sessões de reabilitação está descrita na tabela IV.
Através do aparelho Dinamômetro hidráulico Jamar®
foi aferida a força de preensão bilateralmente. Os valores
obtidos da mão do membro superior não lesado serviram
de referência para quantificar a perda de força de preensão
do lado lesado.
O resultado do teste de preensão está descrito
separadamente entre homens e mulheres nas tabelas V e
VI, respectivamente.
Discussão
Os resultados obtidos após as 10 sessões de cinesioterapia
clássica demonstraram que houve melhora na independência
das atividades de vida diária.
Segundo Pelissoni e Gallinaro [13] a força de preensão
masculina é maior devido a diferenças anatômicas e das
estruturas da mão. Kapandji [14] afirma que a complexa
organização anatômica e funcional da mão converge na
preensão. Apesar desta conclusão, optamos por aplicar um
protocolo único para todos os pacientes, pois o enfoque
artigo 11 Selma Ramos.pmd
198
deste trabalho não era de comparação de resultados
entre homens e mulheres.
Muitos pacientes adquiriram independência da
30%
cadeira de rodas para a marcha, o que segundo
80%
relatos dos pacientes, propiciou uma melhora na
30%
qualidade de vida. Ao iniciar o tratamento, apenas
20%
30,0% dos pacientes realizavam a marcha e no
10%
término este valor alcançou 80,0%, mesmo não
0%
sendo realizada nenhuma terapia específica para o
membro inferior, apenas orientações.
Um dos fatores importantes que influenciou na melhora
da qualidade de vida dos pacientes foi o estado emocional.
Segundo O’Sullivan [7] os problemas emocionais persistentes
(ansiedade e depressão) são fatores primários relacionados à
qualidade de vida e ao sucesso contínuo na vida independente.
O resultado da força de preensão mostrou melhoras
clínicas nas mulheres e piora nos homens devido à carga
utilizada no protocolo de tratamento. Percebemos que o
protocolo terapêutico aplicado necessita de distinções entre
os pacientes do sexo masculino e feminino segundo cargas
empregadas para ganho de força muscular.
Ao final das 10 sessões foi verificado através dos exercícios
de alcance na linha média, lateral e diagonal que 80,0% dos
pacientes possuíam mobilidade do membro superior lesado
enquanto que 20,0% não possuíam mobilidade.
50,0% das queixas principais que foram relatadas no início
do tratamento pelos pacientes foram solucionadas, porém
queixas que inicialmente não eram consideradas importantes
pelo paciente se tornaram de fundamental importância para
a realização das atividades mais específicas.
Ressaltamos que o resultado final deste estudo poderia
ter sido mais satisfatório se os pacientes tivessem melhores
condições (tempo, espaço e assistência) para seguir um
cronograma pré-estabelecido em suas residências.
Após o término da pesquisa, os pacientes continuaram a
receber um tratamento de fisioterapia neurológica na própria
universidade, porém com um enfoque global.
2° Avaliação
Conclusão
A cinesioterapia foi de grande valia para o bem-estar
geral e melhoria das atividades de vida diária dos pacientes
com seqüelas decorrentes do Acidente Vascular Encefálico.
No decorrer das 10 sessões foram constatadas melhoras
das atividades de vida diária que necessitavam de pouca força
muscular, melhoras na auto-estima, no controle emocional,
na comunicação e diminuição da depressão e ansiedade.
80,0% dos pacientes relataram que o grau de melhora
da qualidade de vida foi entre 50,0 a 90,0%, e 20,0% dos
pacientes relataram que o grau de melhora alcançou 100,0%.
Apesar dos resultados satisfatórios obtidos após a aplicação
do protocolo de tratamento descrito anteriormente, este
estudo necessita de continuidade abrangendo uma amostra
mais ampla.
03/06/03, 14:40
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199
Protocolo de tratamento utilizado na pesquisa
Protocolo de tratamento
Adequação de Tônus Muscular
Alongamento da musculatura do tronco
Mobilização da escápula (elevação, protrusão, retração e rotação)
Mobilização do ombro (circundução)
Mobilização do cotovelo (flexão, extensão, pronação e supinação)
Mobilização do punho (flexão e extensão)
Mobilização dos dedos - articulações proximal, média e distal (flexão e extensão)
Estímulos Proprioceptivos
Descarga de peso lateral
alternadamente
Descarga de peso com rotação do tronco
alternadamente
Exercícios de precisão e alcance em diagonal
Exercícios de precisão e alcance na linha média e lateral
Exercícios de preensão (abrir e fechar a mão)
alternadamente
Exercício de preensão (enrolar uma toalha)
Séries
Repetições / tempo
05
01
01
01
01
01
50 segundos
30 movimentos para cada direção
30 movimentos
30 movimentos para cada direção
30 movimentos para cada direção
10 movimentos para cada direção
01
10 repetições para cada lado
01
10 repetições para cada lado
02
02
01
08 repetições
08 repetições
10 movimentos realizados
03
30 repetições
Todos os exercícios foram iniciados pelo membro superior não lesado. As séries e repetições acima descritos foram realizados bilateralmente.
Agradecimentos
Nossos mais sinceros agradecimentos a todos que de
maneira direta ou indireta ajudaram na realização deste projeto.
Em especial aos pacientes e seus familiares, Prof. Sandro
Rogério dos Santos, Prof. Areolino Pena Matos, Profª.
Nazareti Pereira da Silva, Prof. Núcio Elvino M. Theodório,
Profª. Graziela Tiemy Kajita e ao Prof. Adriano Feitas Ribeiro.
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03/06/03, 14:40
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
200
Revisão
Fatores cinesiológicos relacionados à neuropatia
supraescapular em jogadores de voleibol
Kinesiologic factors related with suprascapular
neuropathy in volleyball players
Gabriel Ribeiro*, Cleber Sady**
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* Acadêmico do quinto ano do Curso de Fisioterapia da Universidade Católica do Salvador (UCSAL), **Especialista em Saúde Pública,
Prof. do Departamento de Fisioterapia da UCSAL
Resumo
Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica dos fatores cinesiológicos relacionados
ao desenvolvimento da neuropatia supraescapular em jogadores de voleibol. A anatomia
e a função do nervo supraescapular foram descritas, assim como o quadro clínico da
neuropatia, comumente encontrada em jogadores de voleibol. A revisão da literatura
foi baseada em estudos in vitro, biomecânicos, eletromiográficos, de ultra-sonografia e
em estudos baseados em achados clínicos. O propósito deste artigo é fornecer
informações que possam orientar o tratamento e a prevenção desta patologia.
Palavras-chave:
Cinesiologia, neuropatia
supraescapular, lesões
do ombro.
Abstract
This paper presents a literature review of the related kinesiologic factors to
suprascapular neuropathy in volleyball players. The Suprascapular nerve anatomy
and function were described, such as neuropathy clinical, commonly see in volleyball
players. The literature rewiew was based on in vitro, biomechanical, eletro-miographical,
ultrasonographical studies as well as studies based upon clinical findings. The aim of
this paper is to offer inspiration to orient treatment and prevention of this disease.
Key-words:
Kinesiology,
suprascapular
neuropathy,
shoulder injuries.
Recebido 3 de outubro de 2002; revisado 30 de janeiro de 2003; aceito 15 de fevereiro de 2003.
Endereço para correspondência: Gabriel Ribeiro, Rua Dr. Hosannah Oliveira 72, Alto do Itaigara, Salvador BA, Tel: (71)358-2696,
E-mail: [email protected]
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anatomia do mesmo com os possíveis sítios lesionais,
determinados pelos gestos motores do desporto.
Introdução
A neuropatia suprasecapular foi primeiramente descrita
por Thomas [1] em 1936. Anos depois, Kopell e Thompson
[2], em 1959, afirmaram que a mesma era causada apenas
por esforços repetitivos. Atualmente são reconhecidas
diversas etiologias da neuropatia supraescapular, algumas
delas são: compressão por cisto ganglionar [3,4], trauma
local [5], trauma cirúrgico [6], esforços repetitivos [7,9] e
atividades atléticas [10-17]. O nervo pode estar submetido
à tensão ou à compressão originadas por atividades
repetitivas do desporto, o que pode levar a isquemia, edema,
mudanças no micro-ambiente e bloqueio de condução
nervosa [18].
Esta patologia acomete o nervo supraescapular oriundo
do plexo braquial, tronco superior (raízes C5-C6, com
contribuição variável da quarta raiz cervical) responsável
pela inervação dos músculos supra-espinhal e infraespinhal, além de fornecer inervação sensorial para a
cápsula e ligamentos das articulações gleno-umeral e
acrômio-clavicular. Embora a maior parcela dos estudos
anatômicos não faça referência à presença de ramos
cutâneos, alguns autores identificaram os mesmos [18].
Holzgraefe M et al. [12] afirmaram que a neuropatia
supraescapular é uma condição incomum na população em
geral, envolvendo compressão do nervo supraescapular e
pode estar presente em 33% dos jogadores de voleibol de
elite. Ferreti et al. [13] estimaram que 20% dos jogadores de
voleibol de alto nível apresentam evidências clínicas de
hipotrofia do músculo infra-espinhal relacionada à neuropatia
compressiva do nervo supraescapular.
Os sinais e sintomas que podem estar presentes quando
esta entidade acomete jogadores de voleibol são hipotrofia
do músculo infra-espinhal, com presença ou não de paresia e
dor na região póstero-lateral do ombro. A dor pode ser
irradiada para o membro superior ipsilateral ou região lateral
do pescoço, sendo descrita normalmente como dor profunda
em queimação, sensível à palpação da chanfradura
suprascapular [19]. Alguns atletas podem ser completamente
assintomáticos e a atrofia pode ser verificada em um exame
de rotina [13]. O atleta também pode referir aumento da dor
durante a realização do movimento de adução cruzando a
linha média [18].
A freqüência desta patologia pode ser subestimada,
porque muitos autores consideram a dor como o critério
mais importante no diagnóstico [20].
O diagnóstico clínico pode ser confirmado através de
eletromiografia (EMG) [8] mostrando sinais de denervação
do supra-espinhal ou infra-espinhal, com ou sem deficiência
na rotação externa ou abdução do ombro [20] e estudo da
velocidade de condução nervosa (NCV) [19].
O objetivo deste trabalho é revisar os aspectos
cinesiológicos relacionados ao desenvolvimento desta
neuropatia em jogadores de voleibol, correlacionando a
artigo 03 Gabriel.pmd
201
201
Metodologia
A revisão de literatura foi realizada através de busca na
base de dados Bireme, no qual o bancos de dados consultado
foi a Medline. Foram utilizados 24 artigos de 1983 a 2002,
uma carta para o editor de 2001 e um artigo escrito em
1959, que descreve inicialmente a patologia. Os comandos
de palavras chave foram: Volleyball, shoulder imbalance,
suprascapular neuropathy, electromyographic.
Anatomia do nervo supraescapular
O nervo supraescapular origina-se da face posterior
do tronco superior do plexo braquial, recebendo fibras de
C5 e C6, e, muitas vezes, de C4. O nervo cursa lateralmente
através do triângulo posterior do pescoço ao lado do
escaleno médio, sob o trapézio e omo-hióideo, penetrando
na fossa supra-espinhal através da incisura supraescapular,
inferiormente ao ligamento transverso superior da escápula
(a artéria supraescapular que acompanha o ner vo
supraescapular, neste momento separa-se do mesmo
passando sobre o ligamento transverso superior da
escápula). Ao nível da fossa supra-espinhal dele se originam
dois ramos, um espesso para o músculo supra-espinhal e
outro longo (sensorial) que supre a articulação acrômioclavicular e bursa serosa subacromial; e também fornece
inervação para os ligamentos córaco-umeral e glenoumeral. Este nervo continua seu trajeto curvando-se em
torno da margem lateral da espinha da escápula,
atravessando a incisura espinoglenoidal, para alcançar a
fossa infra-espinhal, enviando ramos para a porção
posterior da cápsula da articulação gleno-umeral. Esta
Fig. 1 - Localização do nervo supraescapular - vista anterior.
Nervo
Supraescapular
Fonte: Cummings et al. [18].
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202
incisura é coberta pelo ligamento transverso inferior ou
ligamento espinoglenoidal (presente em 50 à 72% das
pessoas), uma banda fibrosa estreita, que separa o músculo
supra-espinhal do infra-espinhal e associada à incisura
espinoglenoidal delimita um túnel osteo-fibroso (fossa). Após
sua passagem pela incisura espinoglenoidal é fornecida
inervação para o músculo infra-espinhal.
A região da fossa espinoglenoidal é relatada em vários
estudos baseados em dados clínicos [10,11,13,20] e pesquisas
com cadáveres [4,21] como local de compressão. As
evidências clínicas demonstram que na prática do voleibol
ocorre normalmente hipotrofia da fossa infra-espinhal e
perda de força na rotação externa. Este fato sugere que o
nervo é comprimido em seu trajeto distal, após ter fornecido
ramos para o músculo supra-espinhal. É importante relatar
que o nervo supraescapular possui 2 locais de fixação e 3
possíveis pontos lesionais entre estes dois locais de fixação
[16]. Os pontos de fixação são: um na origem de C5 ou
tronco superior do plexo braquial e outro em sua terminação
no infra-espinhal. Os possíveis pontos lesionais são: incisura
supraescapular, incisura espinoglenoidal (já citada acima) e
borda lateral da espinha da escápula.
Fatores cinesiológicos x neuropatia
supraescapular
O voleibol, quando é praticado em nível competitivo,
envolve maiores cargas de treinamento técnico, tático e altas
demandas de condicionamento físico. Estes fatores somados
contribuem para o desenvolvimento de lesões do sistema
músculo-esquelético. Serão elucidados movimentos repetidos
constantemente no desporto e sua relação com o
desenvolvimento da neuropatia supraescapular.
1. Saque flutuante x neuropatia supraescapular
A execução do saque flutuante, uma forma de saque
utilizada principalmente no voleibol de quadra, visa o
desenvolvimento de um menor giro da bola (não ocorre
flexão do punho no instante do golpe), durante o seu percurso
até o campo de jogo do adversário, fazendo com que a
mesma percorra uma trajetória menos previsível, com perda
de velocidade em um determinado ponto, dificultando o
passe inicial do time adversário. Ao realizar este tipo de
saque é necessário que o atleta bata no centro absoluto da
bola e rapidamente bloqueie este movimento [13], para isso
é necessário que ocorra uma contração excêntrica dos
rotadores externos (principalmente do infra-espinhal que
corresponde a 90% da força de rotação externa [22]).
Este fato determina um aumento na distância entre os
pontos de origem (C5 ou tronco superior do plexo braquial)
e terminação do nervo (músculo infra-espinal), podendo
levar ao tensionamento do mesmo na borda lateral da espinha
da escápula [11].
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202
2. Adução horizontal cruzando a linha média do corpo mais rotação
interna gleno-umeral em associação com neuropatia supraescapular
Este movimento que é muitas vezes repetido no voleibol
quando há cortadas [23] (um atacante muito habilidoso
pode repetir este movimento 40.000 vezes por ano [24]) e
saques, coloca em tensão a cápsula posterior da articulação
gleno-umeral que possui uma relação fibrosa com a porção
inferior do ligamento espinogleinoidal inferior. O nervo
supraescapular passa embaixo deste ligamento e pode ser
comprimido através da tensão ligamentar, secundária à
tensão da cápsula articular posterior.
Demirhan et al. [21] em um estudo com cadáveres
conseguiu visualizar claramente a relação entre as estruturas
acima citadas. O estudo também verificou que o ligamento
espinoglenoidal inferior estava presente em 60,8% dos
cadáveres estudados, permitindo concluir que esta relação
é dependente da condição anatômica natural e que alguns
jogadores podem ter maior predisposição para desenvolver
a patologia.
A distância entre o epicôndilo e o acrômio contralateral, foi quantificada, durante a máxima adução
horizontal realizada por jogadores de voleibol [24]. Neste
estudo, verifica-se uma maior distância no ombro
dominante de todos sujeitos estudados, e uma diferença
maior ainda no grupo de pacientes com ombro doloroso.
Os autores associaram uma maior distância, com maior
tensionamento da cápsula posterior do ombro. A presença
de atrofia do infra-espinhal em 2 jogadores do grupo com
ombro doloroso sugere a relação entre tensão da cápsula
posterior e uma possível neuropatia supraescapular.
3. Compressão direta do ramo infra-espinhal do nervo supraescapular,
na borda lateral da espinha da escápula
Para a realização de um saque ou uma cortada é necessário
que o atleta, posicione a articulação gleno-umeral em abdução
e rotação externa (RE). A execução da RE ao final do
movimento de preparação, faz com que o tendão do supraespinal encurte-se, deslocando-se para a borda lateral da
espinha da escápula, pressionando o tendão do infra-espinhal
para o mesmo local. Este processo coloca o nervo
supraescapular em estado de compressão entre estes tendões
do manguito rotador e a borda lateral da espinha da escápula.
Sandow et al. [10] observaram o processo acima descrito
através de tecnologia ultra-sonográfica.
Três jogadores atacantes foram estudados por Côelho
[15]. Os dois atacantes que batem na bola quando a mesma
está mais acima, apresentaram uma maior atrofia do infraespinhal, em comparação com o jogador que utilizava “bolas
de tempo”, batendo na bola quando a mesma está mais
abaixo. Apesar do pequeno número de sujeitos (3) neste
estudo [15], pode-se propor a relação entre uma maior
distância entre os pontos de fixação do nervo [16] e cortadas
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Fig. 2 - Localização do nervo supraescapular - vista posterior.
203
os jogadores eram os melhores receptores
do time, especula sobre o motivo para que
apenas um ombro seja lesionado nestes atletas:
a explicação é que normalmente o levantador
fica à direita do receptor, o que gera uma
maior carga no ombro direito.
Discussão
Fonte: Cummings et al. [18].
com a bola mais acima, o que coloca o nervo supraescapular
em maior tensão, contra a borda lateral da espinha da
escápula, neste tipo de cortada.
4. A relação entre grandes amplitudes de movimento e compressão
dinâmica do nervo supraescapular
Witvrouw et al. [14] avaliaram 16 jogadoras da seleção
de voleibol da Bélgica, verificando a presença de neuropatia
supraescapular em 4 jogadoras. O objetivo deste estudo foi
determinar a relação entre maior amplitude de movimento
(ADM) do complexo do ombro e neuropatia supraescapular.
A mensuração da ADM foi realizada utilizando
goniômetro padrão e foi verificado que as atletas com
neuropatia supraescapular apresentavam maior ADM em:
rotação externa, flexão horizontal, flexão anterior e protração.
5. A manchete como fator causador da neuropatia supraescapular
O movimento chamado manchete é utilizado,
normalmente, para recepcionar a bola e direcionar a mesma
para o levantador. Este movimento consiste em uma flexão
anterior do ombro com os braços estendidos e aduzidos,
associado a uma rotação externa; sendo que as mãos estão
cruzadas desde o começo da ação. É necessário que ocorra
uma contração da musculatura posterior, para “frear” a bola,
fazendo com que o passe seja direcionado da melhor forma
para o levantador. A contração excêntrica realizada pelo
infra-espinhal ao final da manchete faz com que o nervo
seja tracionado em sua porção distal [16].
Tengan et al. [16] em um estudo de dois casos, em que
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203
A relação entre o saque flutuante e a
neuropatia supraescapular, relatada por Ferreti
et al. [11,13], pode ser substanciada por Rokito
et al. [25], que demonstraram uma maior
atividade do infra-espinal durante a fase de
desaceleração do saque em uma análise
eletromiográfica da função do ombro durante
o saque e cortada.
Por outro lado, Sandow et al. [10] afirmam
que o mecanismo lesional, em seu estudo
descrito, é mais coerente do que o descrito por
Ferreti et al. [11,13], pois o mesmo não depende
da contração do infra-espinhal para a manutenção do processo
patológico, o que teoricamente não seria possível, já que o
mesmo está perdendo inervação motora e não poderia manter
as contrações que desencadeiam a lesão.
No estudo realizado por Côelho [15], o desenvolvimento
de neuropatia supraescapular no lado dominante, de um
canhoto, exclui a possibilidade do mecanismo lesional da
manchete, proposto por Tengan et al. [16] como fator
causal. Assim justifica-se a realização de estudos adicionais
para comprovar a participação deste mecanismo na gênese
desta neuropatia.
A relação entre grandes amplitudes de movimento e
compressão dinâmica do nervo supraescapular, descrita
por Witvrouw et al. [14], foi verificada em uma pequena
população (n = 4), necessitando então de mais estudos,
como o próprio autor afirma no final de seu artigo.
Kugler et al. [24] não verificaram diferença entre as
amplitudes de movimento (ADMs) ativa e passiva no
ombro contra-lateral, em uma população de atletas com
ombro doloroso, sendo que dois destes apresentavam
atrofia do músculo infra-espinhal. Isto sugere ausência
de relação entre maiores ADMs e neuropatia
supraescapular nestes dois casos.
Conclusão
Alterações no complexo do ombro podem-se
desenvolver no curso desta patologia. O estudo in vitro
de Itoi et al. [26] demonstram a importância do músculo
infra-espinhal na estabilidade da articulação. Fato
relevante, pois ocorre redução da força deste músculo
após a neuropatia. Outro estudo in vitro [22], realizado
recentemente, verifica aumentos no deslocamento da
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204
cabeça do úmero relativo a glenóide e mudanças no
contato gleno-umeral, após neuropatia suprascapular.
Estas mudanças foram mais significativas na posição de
90º de abdução e 90º de rotação externa, posição que é
comumente repetida em atividades esportivas, como voleibol.
Na prática, estudos com grande número de atletas [12,13]
e grande acompanhamento [11] não evidenciaram
impedimento algum na realização de atividades esportivas,
na presença da neuropatia. O que levou Ferreti et al. [11] a
pensar que esta patologia não poderia desencadear a síndrome
do impacto, mediante um possível desequilíbrio entre a dupla
de força formada por manguito rotador e deltóide.
Apesar de uma pequena parcela de jogadores com
neuropatia supraescapular desenvolver síndrome do impacto,
a dor, a fraqueza e a hipotrofia do infra-espinhal devem ser
tratadas. O tratamento conservador é sempre o de escolha
nas lesões por tração nervosa ou uso excessivo [5] e tem
fornecido resultados favoráveis [5,8,19].
Baseado na literatura consultada, os mecanismos
lesionais descritos por Ferreti et al. [8,9] e Sandow et al.[10]
podem ser considerados em conjunto, sendo que o
mecanismo descrito pelos primeiros possivelmente atue
no início da patologia. Estas duas propostas associadas à
de Demirhan et al.[15], parecem ser as que melhor
embasam este tema.
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Revisão
A importância dos músculos do assoalho
pélvico feminino, sob uma visão anatômica
Importance of muscles of feminine
pelvic floor, under an anatomical vision
Ana Paula Souza da Silva*, Jaqueline Souza da Silva**
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*Acadêmica do 4º ano do curso de fisioterapia, Universidade do Estado do Pará, Belém PA,
**Acadêmica do 3º ano do curso de fisioterapia, Universidade do Estado do Pará, Belém PA
Palavras-chave:
Assoalho pélvico, pelve,
anatomia.
Resumo
Todas estruturas que estão contidas entre o peritônio pélvico e a pele da vulva
formam o Assoalho Pélvico. Essa região é constituída por músculos, fáscias e ligamentos
que garantem o suporte dos órgãos abdominais e pélvicos, controlam a continência
urinária e fecal e contra-balançam os efeitos da pressão intra-abdominal. Na mulher, o
assoalho pélvico é perfurado por três estruturas tubulares: a uretra e a vagina,
anteriormente, e o ânus, posteriormente. Algumas situações acarretam enfraquecimento
dessa musculatura, levando a sua deficiência funcional. Partos difíceis, deficiência
estrogênica, pressão intra-abdominal aumentada, constipação crônica e incontinência
urinária são alguns exemplos de tais situações. Por isso, é de grande valia para o
entendimento de tais disfunções e melhor abordagem terapêutica que o profissional
da saúde tenha conhecimentos anátomo-fisiológicos básicos dessas estruturas. Assim,
o objetivo deste trabalho é realizar uma revisão anatômica do assoalho pélvico feminino,
correlacionado-o com a prática e abordagem do fisioterapeuta, para que ele possa
utilizar esses conhecimentos na sua prática clínica diária, em prol da recuperação de
sua paciente.
Artigo recebido em 11 de fevereiro de 2003; aceito em 5 de maio de 2003
Endereço para correspondência: Ana Paula Souza da Silva, Travessa Humaitá, 2018/1501 Ed. Muiraquitã 66093-110 Belém PA, E-mail:
[email protected], [email protected]
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Abstract
All structures that are contained between the area of the lower pelvic and the skin
of the vulva form the Pelvic Floor. That area is constituted by muscles, fascias and
ligaments that guarantee the support of the abdominal and pelvic organs, they control
the urinary and fecal continence and they against-balance the effects of the intraabdominal pressure. In the woman, the pelvic floor it is perforated by three tubular
structures: the urethra and the vagina, previously, and the anus, later. Some situations
cart weakness of that musculature, taking your functional deficiency. Difficult
childbirths, low levels of hormone estrogen, increased intra-abdominal pressure, chronic
constipation and urinary incontinence are some examples of such situations. Therefore,
it is valuable for the understanding of such dysfunctions and better therapeutic approach
than the professional of the health has anatomical and physiologic knowledge basic of
those structures. The objective of this work is to accomplish an anatomical revision of
the feminine pelvic floor, correlated it with the practice and the physiotherapist’s
approach, so that he can use those knowledge in his daily clinical practice, on behalf
of her patient’s recovery.
Key-words:
Pelvic floor, pelvis,
anatomy, physical
therapy.
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Introdução
O assoalho pélvico consiste de músculos, ligamentos e fáscias
dispostos de modo a sustentar as vísceras pélvicas, proporcionar
uma ação esfincteriana para a uretra, reto e, na mulher, vagina,
e permitir a passagem de um feto a termo. É constituído dos
diafragmas pélvicos inferior e superior e dos septos vesicovaginal
e retovaginal, que ligam os dois diafragmas, o períneo e o cóccix.
As estruturas acessórias incluem ligamentos cervicais transversos
(cardinais ou de Mackenrodt) e os músculos grandes glúteos [1].
Essa região pode vir a sofrer enfraquecimento muscular,
como nos casos de partos difíceis (agravados com episiotomia),
incontinência urinária, prolapso uterino e cistocele, sendo na
maioria dos casos necessária a intervenção fisioterápica.
Para isso é essencial que o fisioterapeuta tenha
conhecimentos sólidos de anatomia e fisiologia da musculatura
do assoalho pélvico. Sendo assim, este estudo tem como
objetivo realizar uma revisão dos aspectos anatômicos do
assoalho pélvico feminino, tentando correlacioná-los com a
prática e abordagem do fisioterapeuta nas situações que essa
musculatura está envolvida. A metodologia utilizada foi a
revisão bibliográfica baseada na literatura dos últimos 20 anos.
Aspectos anatômicos
Arcabouço ósseo
A pelve é a região do tronco que se situa abaixo do abdome.
Embora as cavidades pélvica e abdominal sejam contíguas,
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as duas regiões na literatura são descritas de forma separadas.
O termo pelve é usado livremente para descrever a região
onde o tronco e os membros inferiores se encontram. A
palavra “pelve” significa bacia e é mais corretamente aplicada
ao esqueleto da região, que é o cíngulo do membro inferior
ou pelve óssea [2].
A pelve óssea fornece uma conexão estável, forte, entre
o tronco e as extremidades inferiores. Ela é composta de
quatro ossos: os dois ossos do quadril, que formam as paredes
anterior e lateral, e os ossos sacro e cóccix, que são parte da
coluna vertebral e formam a parede posterior da pelve.
Os dois ossos do quadril articulam anteriormente entre
si na sínfise púbica e posteriormente com o sacro nas
articulações sacroilíacas. A pelve óssea com suas articulações
forma uma estrutura forte, que contém e protege as partes
inferiores dos tratos urinário e intestinal, e dos órgãos
internos de reprodução [2]. Além de exercer tal função
protetora das vísceras pélvicas, a pelve suporta o peso do
corpo, fornece suporte ósseo, na mulher, para o canal de
parto e é ponto de fixação para inúmeros músculos [3].
A pelve demonstra um grande número de diferenças
sexuais: a pelve masculina tende a ser maior, mais
grosseiramente marcada por fixações ligamentosas e
musculares e mais pesada. A cavidade pélvica é mais funda,
suas faces laterais são mais planas estando o sacro e o cóccix
mais anteriormente que a pelve feminina.
A pelve da mulher é mais leve, delicada em seu arcabouço
ósseo e também mais rasa. O contorno da cavidade pélvica é
redondo ou oval. O sacro e o cóccix são mais planos e menos
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salientes anteriormente, para não angustiar o canal do parto
(canal pélvico). As paredes laterais são mais afetadas pelo desvio
lateral das tuberosidades isquiáticas, dos ramos ísquio-púbicos
mais longos e do arco púbico ter ângulo mais aberto [2,3].
A margem pélvica (linha arqueada) divide a pelve em
“falsa” e “verdadeira”. A pelve falsa (pelve maior) é de pouca
importância clínica. Ela dilata-se na sua extremidade superior
e deveria ser considerada como parte da cavidade abdominal.
Ela suporta os conteúdos abdominais e após o terceiro mês
de gravidez, ajuda a suportar o útero gravídico. Durante os
primeiros estágios do parto ela ajuda a guiar o feto em
direção a pelve verdadeira [2].
A pelve verdadeira (pelve menor) possui uma entrada
(abertura superior), uma saída (abertura inferior) e uma
cavidade pélvica, que se situa entre as aberturas superior e
inferior. Ela é um canal curvado, curto, com uma parede
anterior rasa e uma parede posterior muito mais profundo.
Não existem duas pelves idênticas. A forma e o tamanho
variam de acordo com as características individuais,
familiares e raciais. Certas doenças podem mais tarde
modificar o aspecto da pelve óssea.
O conhecimento da forma e das dimensões da pelve
feminina é de grande valia para os profissionais da área da
saúde que atuam com a obstetrícia, visto que ela é o canal
ósseo através do qual a criança passa durante o nascimento.
Arcabouço muscular
O canal da pelve é encerrado por um conjunto de
músculos denominado músculos do assoalho pélvico, que
formam uma “tipóia” de apoio elástico para o conteúdo
pélvico e abdominal. Todos os tecidos entre a cavidade pélvica
e a superfície do períneo constituem o verdadeiro assoalho
pélvico [4]. Este, entretanto, inclui o peritônio, a fáscia, gordura
e os músculos superficiais (músculos bulboesponjoso,
isquiocavernoso, tranversos perineais superficiais) e profundos
(músculos levantadores do ânus e coccígeos).
Fig. 1 – Musculatura do assoalho pélvico feminino [9].
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Fig. 2 – Limites topográficos do assoalho pélvico. Destacam-se os dois triângulos:
urogenital (UT) e anal (AT) [10].
A superfície pélvica interna consiste de fáscia, músculos e
faixas de músculos de reforço. Na mulher, o assoalho pélvico é
perfurado por três estruturas tubulares: a uretra e a vagina,
anteriormente, e o ânus, posteriormente. Cada qual atravessa o
assoalho pélvico sob um ângulo, o que aumenta a ação
esfincteriana dos músculos que se destinam a este propósito [6].
O topo do assoalho pélvico é envolvido pela fáscia
endopélvica, a qual apreende os órgãos pélvicos (especialmente
a vagina e o útero) às paredes pélvicas. Essa fáscia forma-se
continuamente ao mesentério constituindo os paramétrios,
os quais além de estruturas de sustentação, provêm a inervação
e vascularização do útero. Junto ao paramétrio apresenta-se
o paracolpius, o qual apreende a vagina. Pode-se considerar
ainda fazendo parte da fáscia endopélvica, os ligamentos
cardinais e o ligamento útero-sacro. Estes tecidos conectivos
estão em constante tensão, ficando responsáveis pelo suporte
estático do assoalho pélvico [7].
Os tecidos do diafragma musculofascial desempenham
importante papel no fornecimento de sustentação e
elasticidade: o tecido conjuntivo proporciona sustentação,
mas nenhuma retração; a fáscia dá força, porém não
elasticidade; o tecido elástico tem elasticidade e pouca força;
e os músculos lisos e voluntários proporcionam estiramento
e retração dentro dos limites de tolerância.
O períneo é a região sob a cavidade pélvica situada dentro
do orifício pélvico. No plano anterior, está limitado da frente
para trás, pela sínfise púbica, ramos ísquio-púbicos,
tuberosidades isquiáticas, ligamentos sacrotuberais e sacro,
formando a figura geométrica de um losango. Se uma linha
imaginária dividir, passando pelas duas tuberosidades
isquiáticas, o referido losango em dois triângulos, tem-se
um anterior ou urogenital e um posterior ou anal [8].
O corpo perineal (centro tendíneo do períneo) é uma
estrutura fibromuscular central em formato de cone que se
aloja na frente do ânus. Esta é uma estrutura de grande
importância porque dá apoio à parede posterior da vagina e
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ainda indiretamente à parede anterior, para uma posição
vertical onde uma aloja-se contra a outra. Isto explica a
preocupação que os obstetras e parteiras têm pelo bemestar do corpo perineal no parto, particularmente na segunda
fase do parto [6].
O triângulo urogenital é formado pelos músculos
perineal transverso (superficial e profundo),
isquiocavernoso e bulboesponjoso. Estes dois últimos estão
anexos ao tecido erétil em ambos os lados do intróito
vaginal, são músculos finos e que se inserem no arco púbico
e clitóris de modo que quando eles se contraem na atividade
sexual eles puxam o clitóris para baixo, comprimindo sua
drenagem venosa e facilitando a ereção [10]. Enquanto
que os músculos transversos do períneo estabilizam o corpo
perineal, que ajuda a ancorar as estruturas perineais no
lugar. Os músculos no diafragma urogenital se relacionam
com a micção.
É sugerido que músculos sadios são volumosos e isto os
capacita a suportar as paredes da vagina tão bem, como
prover uma ação esfincteriana para a vagina e uretra,
favorecendo o fechamento e continência uretral e
aumentando a satisfação na relação para ambos parceiros.
É plausível que o suprimento de sangue associado com
músculos fortes e suas atividades promoverá a saúde do
epitélio na área, estimulando a lubrificação vaginal adequada,
aumentando a resistência à infecção e retardando as
mudanças tróficas da idade [6].
Já o triângulo anal é formado pelo músculo levantador
do ânus, esfíncter externo do ânus e ligamento anococcígeo.
O diafragma pélvico é constituído em 90% de sua estrutura
pelo músculo levantador do ânus, em 10% pelo músculo
coccígeo e pelas duas fáscias que envolvem os músculos
[8]. Ele cobre todo o períneo superiormente, entretanto, é
parcialmente coberto pelo triângulo urogenital.
Para a sustentação recíproca, as camadas dos triângulos
pélvicos estão entrelaçadas e superpostas e não fixadas, pois
se movem umaa sobre a outra. Isto possibilita a dilatação
do canal de parto durante a passagem do feto e seu
fechamento após o parto.
O músculo levantador do ânus é o maior e mais importante
músculo do assoalho pélvico [2,3,5,6,9,11]. Ele é uma grande
lâmina fina que tem uma origem linear a partir do dorso do
corpo do osso púbis, de um arco tendíneo formado por um
espessamento da fáscia da pelve que reveste o músculo
obturador interno e da espinha isquiática. A partir desta
extensa origem, curvas de fibras curvam-se para baixo e
medialmente para sua inserção.
Sua face profunda está relacionada com as vísceras
pélvicas e sua face perineal forma a parede interna da fossa
isquioanal. O suprimento nervoso é o 4º e 5º nervos sacrais
e um ramo do nervo pudendo [5].
Em termos gerais este músculo, dos dois lados, forma
uma tipóia muscular eficiente que suporta e mantém as
vísceras pélvicas em posição. Ele também tem ação
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importante de esfíncter sobre a junção anorretal e também
como esfíncter da vagina.
Neste músculo verificam-se fibras em três posições
distintas:
Fibras anteriores: o músculo pubovaginal (esfíncter da vagina)
forma uma tipóia em torna da vagina e é inserido no centro
tendíneo do períneo na frente do canal anal. Este músculo
contrai a vagina e estabiliza o centro tendíneo do períneo.
Fibras intermediárias: o músculo puborretal forma uma tipóia
em torno da junção do reto e do canal anal. Ele reforça a
parte profunda do músculo esfíncter do ânus e o anel anorretal.
O músculo pubococcígeo passa posteriormente para ser inserido
no ligamento anococcígeo, entre a ponta do cóccix e o canal
anal. A parte pubococcígea é uma importante região dos
músculos levantadores do ânus que deverá ser considerada
quando surgir incontinência de esforço e prolapsos.
Fibras posteriores: O músculo iliococcígeo é a porção delgada
do músculo levantador do ânus. Cada músculo segue no
sentido medial e posterior e se fixa ao cóccix e ao ligamento
anoccocígeo.
O exame histoquímico, e ao microscópio eletrônico, do
músculo levantador do ânus mostrou que ele era feito de
fibras musculares estriadas, de um diâmetro largo, tipo I
(contração lenta) e de tipo II (contração rápida) e que fusos
musculares foram encontrados. A atividade muscular pode
ser relatada por EMG por este músculo “em repouso” e
até dormindo. Presumivelmente as fibras de tipo I são
responsáveis por isso. Já as fibras de tipo II são altamente
exaustíveis, mas produzem uma alta ordem de força na
contração. Todos esses fatos sustentam a argumentação de
que o músculo levantador do ânus é um músculo esquelético
adaptado para manter a harmonia, além de períodos
prolongados e “equipado” para resistir a ascensões repentinas
em pressão intra-abdominal, como por exemplo, ao tossir,
espirrar, correr, na defecação, na micção e parto [6].
O músculo coccígeo é pequeno e de forma triangular,
origina-se da espinha do ísquio e é inserido na extremidade
inferior do sacro e no cóccix. Tem por função auxiliar o
músculo levantador do ânus no suporte às vísceras pélvicas.
Uma elevação na pressão intra-abdominal, causada pela
contração do diafragma e dos músculos abdominais
anterior e lateral, é neutralizada pela contração dos
músculos que formam o assoalho pélvico. Por esse meio,
as vísceras pélvicas são suportadas e não “caem para fora”
através da abertura inferior da pelve [2,4,6,12,13]. Embora
pareça um fenômeno estático, a função do assoalho pélvico
também é dinâmica, coordenando uma ação de
armazenamento e evacuação de urina e fezes, bem como
de providenciar a parturição e concepção [7].
A contração das fibras puborretais auxilia grandemente
os esfíncteres do ânus na manutenção da continência sob
estas condições, puxando a junção anorretal para cima e
para frente. Durante o ato de defecar, entretanto, os
músculos levantadores do ânus e do coccígeo continuam a
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suportar as vísceras pélvicas, mas as fibras puborretais
relaxam com os esfíncteres do ânus.
Em suma, o assoalho pélvico, as fáscias viscerais e o
centro tendíneo do períneo contrabalançam o efeito das
pressões sofridas pelo útero, principalmente o aumento da
pressão intra-abdominal, e secundariamente, o peso das alças
intestinais e a própria força da gravidade. A pressão
abdominal, tornando-se maior pela contração dos músculos
da parede anterior do abdome, encontra resistência nos
músculos do assoalho pélvico, pois ambos se contraem
sincrônica e sinergicamente. Assim, à pressão abdominal
exagerada, opõe-se o fechamento da fenda genital,
concorrendo para tanto o músculo levantador do ânus, o
músculo bulbo-cavernoso e o esfíncter estriado do ânus.
Correlação com a prática fisioterapêutica
Todas as situações que exigem aumento da pressão intraabdominal (tossir, espirrar, rir, levantar objetos pesados,
praticar esportes) sobrecarregam os músculos do assoalho
pélvico, enfraquecendo-os progressivamente [13].
Concorrem para esse enfraquecimento as desordens inerentes
à gravidez, intervenções cirúrgicas ginecológicas, obesidade,
incontinência urinária e prolapso de órgãos pélvicos. Essas
afecções freqüentemente trazem sérias repercussões à
qualidade de vida da mulher, restringindo sua convivência
social, acarretando prejuízos as suas atividades profissionais e
deteriorando suas relações afetivas e estabilidade emocional.
Um exemplo de desordem que ocorre no assoalho pélvico
refere-se ao período gestacional, em que o peso do conjunto
formado pelo bebê e placenta gera uma sobrecarga de vários
meses sobre o assoalho pélvico materno. O parto normal,
por sua vez, é uma agressão violenta a esses músculos,
motivo pelo qual é tão comum a incontinência urinária após
um ou mais partos. Como agravante, a episiotomia representa
uma lesão causadora de enfraquecimento significativo dessa
musculatura. Acrescenta-se que lesões ao assoalho pélvico
durante um parto difícil podem resultar ainda em perda de
suporte para as vísceras pélvicas que levam ao prolapso
uterino e vaginal, herniação de bexiga (cistocele), e alteração
na posição do colo da bexiga, causando incontinência de
tensão. O prolapso do reto também pode acontecer [2,3,4,12].
A incontinência urinária de esforço (IUE) e o prolapso
uterino estão comumente associados com a diástase do
elevador do ânus [14].
As cirurgias ginecológicas também são potenciais
causadoras de enfraquecimento do assoalho pélvico em
virtude de comprometimento neuro-muscular, o que explica
o alto índice de casos de incontinência urinária após tais
procedimentos invasivos. Outras causas de enfraquecimento
dessa musculatura são constipação, tosse crônica e
levantamento constante de pesos devido à realização de
manobra de valsalva freqüentemente [15]. A obesidade
também ocupa lugar de destaque já que é a musculatura do
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assoalho pélvico que sustenta a sobrecarga de peso constante,
justificando o elevado índice de incontinência em obesas [13].
Ademais, todo o assoalho pélvico é altamente dependente
do estrogênio. Com o avanço da idade as taxas deste
hormônio decaem, sendo a menopausa o ponto culminante
a partir do qual os músculos do assoalho pélvico enfraquecem
muito rapidamente [7,12,13].
Outra manifestação freqüente nos ambulatórios e
hospitais é a incontinência urinária. Esta decorre de
disfunções em alguns sistemas e estruturas, entre os quais a
musculatura do assoalho pélvico. Segundo Freitas et al (1997),
estima-se que cerca de 45% da população feminina
apresentam algum tipo de incontinência urinária. Santana
(2003) ressalta ainda que aproximadamente 30% das
mulheres com incontinência urinária não conseguem realizar
corretamente as contrações dos músculos do assoalho
pélvico, reforçando a necessidade de tratamento adequado
a essas pacientes.
Para cada situação citada existem protocolos e técnicas
adequados destinados à reeducação da musculatura do
assoalho pélvico, fortalecimento e correção das disfunções
fisiológicas e patológicas. Entretanto, mais importante do que
aplicar corretamente determinado protocolo de tratamento,
é que o fisioterapeuta conheça as técnicas a serem utilizadas,
para assim adaptá-las a cada paciente [16].
As técnicas de reeducação perineal iniciaram-se com os
trabalhos pioneiros de Arnold Kegel, que em 1948 mostrou
a importância da musculatura do assoalho pélvico nas
incontinências e prolapsos [16,17,18]. Ele foi o primeiro a
descrever, de modo sistemático, um método de avaliação e
um programa de exercícios para o fortalecimento dos
músculos do assoalho pélvico. Este utilizava dois métodos
diferentes para a avaliação do tônus da musculatura pélvica:
subjetivamente por meio da palpação digital do intróito
vaginal, e objetivamente através do perineômetro [18]. A
mulher deveria ser orientada a contrair a musculatura correta
durante tais procedimentos, evitando-se assim a contração
concomitante de outros músculos como o reto abdominal,
o adutor da coxa e o glúteo máximo (acessórios), o que
diminui consideravelmente a atividade contrátil dos
músculos do assoalho pélvico [13,19,20].
Kegel enfatizou a importância da supervisão e
encorajamento no tratamento destas pacientes e recomendou
que os controles fossem semanais. O restabelecimento do
tônus e da função muscular poderia, segundo o autor,
ocorrer após 20 a 60 dias do início do tratamento [18].
Os exercícios de Kegel foram originariamente
desenvolvidos como um método para controlar a
incontinência em mulheres após o parto. Atualmente, estes
exercícios são recomendados para mulheres com
incontinência urinária por estresse e para pessoas que sofrem
de incontinência fecal.
Os exercícios pélvicos costumam ser empregados
também em puérperas. Eles são realizados dentro de 6 horas
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após o parto, para readquirir a força desses músculos
estirados, o mais rápido possível. A contração geralmente é
sentida apenas perto do ânus porque o períneo fica
adormecido, mas a prática pré-natal ajuda quando a mãe
sabe qual o objetivo. O fisioterapeuta precisa incentivar a
mãe a praticar as contrações quatro ou cinco vezes em
intervalos freqüentes durante todo o dia. A mãe pode ter
medo de tentar por causa da descarga pós-parto (lóquios)
ou por causa dos pontos ou dor. Todavia, é bom explicar
que os exercícios aumentam a circulação, promovendo a
cicatrização e removendo o exsudato inflamatório, o que
por sua vez alivia a dor [5].
A aplicação dos exercícios perineais no tratamento da
anorgasmia feminina também é possível [17].
A eletroestimulação é outra técnica bastante aplicada na
reeducação do assoalho pélvico [15,17,21]. Cesare &
Petricelli (2002) referem uma taxa de sucesso no tratamento
de 80% quando se faz uso desse recurso. Seleme (2002)
ressalta que a eletroestimulação deve recrutar o máximo de
fibras musculares, ativando-as, para que posteriormente
possa ser reproduzida ativamente pela paciente.
A eletroterapia mantém a contração e o trofismo
muscular e favorece e estimula a propriocepção da
musculatura perineal da paciente, conscientizando-a de como
utilizá-la quando necessária [16]. Contudo, a eletroestimulação
não tem valor algum quando empregada sozinha, sendo a
combinação desta com o biofeedback que produz os
melhores resultados [15,16].
Aliado a essas técnicas pode-se fazer uso ainda de exercícios
de conscientização da musculatura pélvica (com bolas, por
exemplo), técnicas de relaxamento, exercícios posturais, cones
vaginais, massagens perineais e ginástica hipopressiva [16].
Em suma, essas terapias são simples, de baixo custo, não
invasivas e sem efeitos colaterais [16,17,21,22]. Todavia, o
primeiro passo para o sucesso do tratamento de reeducação
perineal, além da avaliação funcional do aparelho pélvico
[4,19], é a conscientização por parte da paciente de suas
estruturas pélvicas. Devido à relutância das pacientes em
procurar assistência, ou por se sentirem constrangidas, grande
parte desconhece sobre as estruturas e funcionamento dos
músculos pélvicos, tornando a percepção da sensação da
contração dificultada.
Conclusão
“Não existem músculos no corpo humano cuja forma e função
sejam mais difíceis de entender do que aqueles do elevador do ânus, e
sobre os quais as impressões predominantes são nebulosas” (R. L.
Dickinson, 1889). Isso se deve, em parte, ao escasso
conhecimento científico e prático que os profissionais da
saúde têm a respeito do assoalho pélvico, associado ao
desconhecimento por parte das mulheres dos seus próprios
corpos, e em conseqüência, a pouca importância que dão a
essa musculatura específica. Observa-se que ainda hoje é
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210
“tabu” discutir-se sobre sexualidade, disfunções pélvicas e
demais questões correlatas.
Apesar disso, é dever do profissional da saúde atualizarse acerca dos assuntos referentes à saúde da mulher, a fim
de desenvolver melhor abordagem, em prol da recuperação
de sua paciente. Nesse contexto, destaca-se o papel dos
fisioterapeutas na reeducação da musculatura do assoalho
pélvico feminino.
Ressalta-se que o tratamento efetivo das desordens
pélvicas femininas requer uma abordagem sensível que
considere a mulher como um todo, não apenas seus órgãos
e músculos pélvicos. O fisioterapeuta precisa ter, portanto,
consciência dos aspectos sociais e emocionais da feminilidade,
assim como ter um conhecimento sólido da anatomia e
fisiologia do organismo feminino, para integrar com dignidade,
tais pacientes à sociedade.
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
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Artigo original
Alterações no consumo de oxigênio, na difusão
da membrana alvéolo-capilar e anormalidades músculo
esqueléticas observadas após transplante cardíaco
Impairement in oxygen uptake on alveolo-capillary
membrane diffusion and musculoskeletal abnormalities
after heart transplantation
Luciana Leitão Santos*, Gisele Alves Guimarães**
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*Fisioterapeuta graduada pela Universidade Católica do Salvador,
**Docente da disciplina de Pneumologia do Curso de Fisioterapia da Universidade Católica do Salvador
Resumo
Objetivo: Observar as anormalidades persistentes após transplante cardíaco e a
influência destas na capacidade para o exercício.
Métodos: Foi realizada revisão da literatura nos últimos 13 anos através dos bancos
de dados Medline, Lilacs e livros publicados no período.
Resultados: Ainda que, após a intervenção cirúrgica, haja um incremento na
performance cardíaca, nos sintomas e na hemodinâmica, as alterações no consumo de
oxigênio, na difusão da membrana alvéolo-capilar e anormalidades músculoesqueléticas
persistem após o transplante cardíaco, apesar da discreta melhora.
Conclusões: Anormalidades músculoesqueléticas, na difusão da membrana alvéolo
capilar e no consumo de oxigênio adquiridas no curso da insuficiência cardíaca congestiva,
não são curadas após transplante cardíaco. Esses resultados interferem diretamente na
capacidade para o exercício desses pacientes.
Palavras-chave:
Transplante cardíaco,
exercício,
músculoesquelético.
Abstract
Objective: To observe persistent abnormalities after heart transplantation and its
influence on exercise capacity.
Methods: Literature review was realized included the last 13 years, in Medline and
Lilacs data base, and books published during the same period.
Results: Even though, after surgical intervention, there was a improvement in cardiac
performance, symptoms and hemodynamics, uptake oxigen changes, alveolo-capillary
membrane diffusion changes and musculoskeletal abnormalities persists after heart
transplantation, despite minimal improvement.
Conclusions: Impairement at oxigen uptake, on alveolo-capillary membrane diffusion and
musculoskeletal after heart transplantation acquired in congestive heart failure are not cure
after heart transplantation. This results interferes directly on exercise capacity in these patients.
Key-words:
Heart transplantation,
exercise, skeletal
muscle.
Artigo recebido 24 de fevereiro de 2003; aceito 15 de maio de 2003.
Endereço para correspondência: Luciana Leitão Santos, Rua Guilherme Marback, 6, Bonfim, 40415-160 Salvador BA, Tel : (71) 312-7071/91415129, E-mail: [email protected]
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Introdução
A insuficiência cardíaca grave constitui-se num estado
fisiopatológico no qual um déficit na função cardíaca é
responsável pela incapacidade do coração em bombear
sangue num ritmo capaz de suprir as necessidades
metabólicas dos tecidos. A insuficiência cardíaca grave tem
como causas mais comuns a aterosclerose, cardiomiopatia,
valvulopatia, hipertensão arterial sistêmica (HAS) e
pericardiopatia, as quais têm como condições associadas
mudanças nos hábitos de vida e ao envelhecimento
populacional global. No Brasil, as causas mais comuns são:
miocardiopatia dilatada, seguida de miocardiopatia chagásica
e isquêmica [1].
O transplante cardíaco é a terapêutica de escolha para
pacientes portadores de insuficiência cardíaca congestiva
(ICC) refratária ao tratamento clínico no qual a intervenção
medicamentosa e cirúrgica convencional prévia(troca de
válvulas, aneurismectomia, revascularização miocárdica ou
implante de marcapasso/desfibrilador) falharam [1,2]. Tal
fato tornou-se possível devido a evolução tecnológica,
medicamentosa e de pesquisas direcionadas para essa
intervenção.
O presente estudo tem por objetivo apresentar as
alterações no consumo de oxigênio, na difusão da membrana
alvéolo-capilar e as anormalidades músculo-esqueléticas
persistentes nos pacientes submetidos à transplante cardíaco
e a influência dessas na capacidade ao exercício, ressaltando
a importância desses conhecimentos para o bom andamento
do programa de reabilitação cardíaca.
Metodologia
Esse artigo de revisão de literatura teve suas referências
obtidas através de pesquisa por meio da base de dados
Medline e Lilacs. As palavras-chave utilizadas foram:
transplante cardíaco, exercício e músculo esquelético. A busca
de artigos inclui ainda checagem manual de referências e
capítulos de livros. Foram encontrados artigos publicados
em várias línguas, sendo selecionados apenas aqueles
publicados nos idiomas inglês e português. Dessas
referências, foram selecionados 20 artigos que preencheram
outros critérios de inclusão: ano de publicação compreendido
entre 1988 e 2001 e apresentação de dados referentes as
alterações observadas após o transplante cardíaco. Foram
excluídos todos aqueles artigos que tratavam de transplante
cardíaco em crianças bem como os que apresentavam
descrições do procedimento cirúrgico e outros procedimentos
médicos e farmacológicos.
Dos artigos selecionados, 6 são do Brasil, 4 dos Estados
Unidos, 3 do Canadá, 3 da Alemanha, 2 do Reino Unido, 1
da França e 1 da Suécia. Os livros ou capítulos de livros
utilizados também tiveram anos de publicação coincidentes
com os dos artigos.
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213
213
Alterações observadas após
o transplante cardíaco
Apesar de todo o aprimoramento da técnica, a infecção
permanece como uma das principais causas de morbidade
e mortalidade significativa após o transplante, mesmo com
a utilização de modernos antimicrobianos [1]. Além dessa
complicação, o transplantado está sujeito aos efeitos da
imunossupressão [1-6] e do descondicionamento prétransplante [22,23,25,26]. A qualidade de vida do paciente
após o transplante melhora consideravelmente, revelando
melhorias quanto as limitações funcionais, possibilitando o
retorno ao trabalho e reintegração na sociedade [8]. Após a
intervenção cirúrgica, há uma melhora na hemodinâmica,
na performance cardíaca e nos sintomas, mas, ainda assim,
a capacidade para o exercício é prejudicada [9-11]. A presente
revisão apresenta algumas das alterações observadas em
pacientes submetidos a transplante cardíaco, as quais
influenciam no desenvolvimento de fadiga e conseqüente
intolerância ao exercício demonstradas por esses pacientes.
Consumo de oxigênio (VO2)
O consumo máximo de oxigênio, potência aeróbica
máxima ou VO2 máximo são sinônimos para designar o
momento no qual a captação de O 2 alcança um platô
durante a prática de atividade física e não mostra qualquer
aumento adicional ou aumenta pouco com uma carga
adicional de trabalho. Um trabalho físico adicional será
realizado pelas reações de transferência de energia da glicose
com formação de ácido lático. Sendo assim, o indivíduo
ficará exausto e incapaz de continuar a realização da
atividade proposta [12].
O VO2 mede a capacidade funcional dos pulmões e do
sistema cardiovascular, relacionando-se e dependendo dos
sistemas de fornecimento, transporte, chegada e utilização
do oxigênio [12,13]. O VO2 máximo e o limiar anaeróbico
têm sido utilizados para avaliar a gravidade do
comprometimento cardíaco [7,13-15]. O consumo de
oxigênio está intimamente ligado com a velocidade de
utilização de ATP [13]. Os pacientes cardiopatas e
transplantados habitualmente não atingem o consumo
máximo de O2, definindo-se então o VO2 de pico como o
maior VO2 obtido [15], sendo observado que tais pacientes
atingem VO2 máximo menor que o predito em testes de
exercício [7,13-17].
Pacientes com significativa vasculopatia do enxerto
alógeno têm também uma baixa tolerância ao exercício com
consumo de oxigênio máximo menor que os valores preditos
após o transplante. Outros fatores com rejeição, denervação
cardíaca (a qual pode influenciar na capacidade para alcançar
a frequência cardíaca máxima predita para a idade), terapia
imunossupressora, descondicionamento, alteração músculoesquelética e falha do coração a longo prazo antes do
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transplante podem contribuir para o VO2 máximo abaixo
do predito não só em pacientes com vasculopatia do
aloenxerto como em todos os receptores de transplante
cardíaco [13-20]. A limitação ao exercício é observada na
maioria dos pacientes avaliados de acordo com o consumo
máximo de oxigênio e máxima carga de trabalho encontradas,
levando a uma capacidade de trabalho e absorção de oxigênio
reduzidas [17].
Difusão na membrana alvéolo-capilar
A transferência de gás movimentado desde a atmosfera
até os alvéolos através da barreira sangue-gás ocorre por
difusão. O fluxo sanguíneo pulmonar é grandemente
aumentado durante o exercício intenso fazendo com que o
tempo de passagem do eritrócito no capilar seja diminuído.
Conseqüentemente, o tempo disponível para a oxigenação
é menor, porém indivíduos normais respirando ar ambiente
não apresentam queda mensurável na PO2 capilar final [24].
Contudo, se a barreira sangue-gás encontra-se comprometida
por algum processo patológico que dificulte a difusão do
oxigênio, a velocidade de elevação da PO2 nos eritrócitos é
correspondentemente lenta e esta pode não alcançar o nível
de PO2 do gás alveolar antes que o tempo disponível para
sua oxigenação no capilar tenha terminado. Como resultado,
observa-se uma diferença na PO2 existente entre o gás
alveolar e o sangue capilar final. O exercício severo reduz o
tempo disponível para a oxigenação com conseqüente
diminuição da PO2 [24]. Desse modo, um paciente com
debilidade na barreira sangue-gás tem mais chances de apresentar
comprometimento na difusão, caso ele se exercite [23].
Pacientes com ICC apresentam freqüentemente
deficiência da função respiratória causada por aumento da
área cardíaca e efusão pleural recorrentes [23]. Outros
fatores que contribuem são: congestão venosa pulmonar
com edema intersticial, fibrose progressiva e diminuição da
perfusão alveolar [17]. Alterações pulmonares restritivas e
obstrutivas ocorrem no curso da deficiência cardíaca. Com
a progressão da patologia, mudanças estruturais na
membrana alvéolo capilar acontecem resultando em
debilidade na capacidade de difusão. As alterações na função
respiratórias correlacionadas com mudanças hemodinâmicas
são utilizadas como parâmetro para avaliação do estágio e
severidade da doença em pacientes com ICC [22].
A prevalência de anor malidades ventilatórias
obstrutivas e restritivas são melhoradas após um ano. A
capacidade de difusão persiste diminuída após esse
período, sugerindo que as mudanças estruturais na
membrana alvéolo-capilar desenvolvidas no curso da ICC
não regrediram, embora o principal estímulo, a congestão
venosa pulmonar, seja revertida após o transplante [22].
Este estudo teve como resposta o transplante como
produtor de um aumento na taxa e severidade da
anormalidades na difusão pulmonar.
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Fisiologicamente, o fluxo sanguíneo disponível limita a
transferência de oxigênio para dentro do capilar pulmonar. Em
contrapartida, a transferência do monóxido de carbono(CO) é
limitada unicamente pela difusão sendo, por esse motivo, o gás
de escolha para observar as propriedades de difusão do pulmão
[15,16,22,23]. A redução do volume sanguíneo capilar por
processo patológico é capar de diminuir a capacidade de difusão
pulmonar. A capacidade de difusão do pulmão para o CO é
norteada pela área e espessura da barreira sangue-gás e pelo
volume de sangue nos capilares [24].
Observou-se discreta melhora no fator de remoção
pulmonar para o CO como resultado do aumento na
capacidade pulmonar total, atribuída a melhora no
mecanismo do gradil costal[22]. Apesar da melhora na
função ventilatória que ocorre após um ano, não ocorreu
melhora adicional após esse período. A capacidade de
difusão tem sido mostrada em correlação com a diminuição
da capacidade ao exercício. Entretanto, esse fator vem sendo
mostrado também como não limitante da capacidade ao
exercício em pacientes com ICC e transplantados. As
anormalidades ventilatórias têm sido reportadas em conexão
com a diminuição da capacidade para o exercício após
transplante [22,23].
Anormalidades músculo-esqueléticas
Existem dois tipos de fibra músculo-esquelética
classificadas por suas características contráteis e metabólicas.
As fibras do tipo I são de contração lenta com padrão de
atividade elétrica tônico [19]. Contêm numerosas
mitocôndrias relativamente volumosas, sendo resistentes à
fadiga e bem apropriadas para o exercício aeróbio prolongado
por possuírem alta concentração de enzimas mitocondriais
necessárias para alimentar o metabolismo aeróbio. Já as fibras
tipo II são de contração rápida com padrão de atividade
elétrico-fásica. Possuem alta fadigabilidade e capacidade de
gerar energia rapidamente para produzir contrações rápidas
e vigorosas. Dependem essencialmente de seus sistemas
glicolíticos a curto prazo bem desenvolvidos para a
transformação de energia. Acredita-se que o treinamento
específico (e talvez a inatividade) possa induzir uma
verdadeira transformação de fibras tipo I para tipo II e
vice-versa [12].
Pacientes com falência cardíaca crônica, a longo prazo,
demonstram alterações na histologia e bioquímica músculoesquelética incluindo atrofia muscular, diminuição da
percentagem de fibras tipo I e aumento nas fibras tipo II e
IIb acompanhadas por um decréscimo na capacidade
enzimática oxidativa, seguida de decréscimo na capacidade
aeróbia. Tais adaptações músculo-esqueléticas em resposta
à falência cardíaca resultam em surgimento anaeróbio
precoce e fadiga , tendo papel importante na determinação
da tolerância e da resposta à intervenção terapêutica [19].
Outra possível explicação para o aumento do número de
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fibras tipo II em pacientes com ICC é o resultado da seleção
de células tipo I mortas devido ao aumento na formação de
radicais livres em fibras oxidadas, transformando as fibras
tipo I em tipo II [19].
Pacientes com ICC a longo prazo demonstram
metabolismo anaeróbio precoce na musculatura esquelética
durante o exercício. As anormalidades intrínsecas no músculo
podem também contribuir para o metabolismo anaeróbio
precoce. A diminuição do número de fibras tipo I (as quais
têm alto potencial para a oxidação aeróbia) e o aumento no
número de fibras tipo IIb é um potente estímulo para o
aparecimento precoce de metabolismo anaeróbio,
contribuindo para a fadiga durante o exercício [16].
O descondicionamento possibilita o aumento na
produção de lactato durante o exercício submáximo na
musculatura esquelética.Observou-se que, além de alterações
na composição da fibra, houve diminuição do número de
capilares ao redor de cada fibra. A hipoxia muscular devido
a hipoperfusão esteve presente nos pacientes estudados [16].
Pacientes com ICC, a longo prazo, também demonstram
depósitos de lipídios aumentados e fibrose músculoesquelética, sugerindo uma miopatia generalizada [21]
causada tanto pelas anormalidades cardíacas, quanto músculoesqueléticas. Alterações na morfologia mitocondrial também
sugerem capacidade enzimática oxidativa reduzida [16].
Os pacientes em estágio final da ICC submetidos à
transplante têm melhora na capacidade funcional e na
capacidade para o exercício, ainda que reduzida. O aumento,
ainda que discreto, na capacidade para o exercício está
relacionada com a performance cardíaca melhorada,
aumento do índice cardíaco, melhora da função pulmonar
pela diminuição da pressão capilar pulmonar, vasodilatação
periférica e ativação neurohumoral. A distribuição do tipo
de fibra não mudou após transplante, com persistência do
predomínio de fibras do tipo II. O número de capilares
adjacentes às fibras individualmente também não mudou [19].
A área de secção transversa da fibra aumentou após o
transplante. Entretanto, o aumento na área de fibra tornouse significativo apenas 12 meses após o transplante e as
áreas de fibras foram, ainda assim, abaixo dos valores
considerados normais [21,26]. O atraso no aumento da área
de fibra pode ser atribuído às altas doses de corticóide da
imunossupressão. Terapia com altas doses de corticóide está
associada com a atrofia músculo-esquelética [21].
Pacientes com ICC possuem depleção rápida anormal
de fosfocreatina e aumento da acidose intracelular durante
o exercício. Tais anormalidades metabólicas persistem após
o transplante. Observou-se uma continuada diminuição na
capacidade para o metabolismo oxidativo [25].
Os defeitos músculo-esqueléticos podem ser
permanentes e irreversíveis no momento em que o paciente
está doente o suficiente para ser submetido ao transplante
[25]. Contra esse fato, está a possibilidade de melhora
sintomática e do alívio da fadiga após transplante. O uso de
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corticóides pode causar tanto a miopatia por esteróides como
a perda muscular. Em animais, a ciclosporina causa
mudanças estruturais e funcionais nas células endoteliais,
incluindo uma incapacidade de relaxamento do endotélio
dependente [26].
A dispnéia pode ser exacerbada pelas anormalidades na
musculatura respiratória. O trabalho de respirar é
grandemente aumentado em pacientes com ICC [23,25]. A
desoxigenação da musculatura respiratória acessória ocorre
durante o exercício em pacientes com ICC crônica [25]. A
dispnéia apresentada durante o exercício submáximo é
significativamente correlacionada com parâmetros da função
muscular respiratória, sendo aliviada após transplante. Tal
fato pode ser atribuído a pressões pulmonares menores,
melhora da função da musculatura esquelética ou uma
combinação desses [26].
A capacidade ventilatória sustentável máxima esteve
significativamente diminuída em pacientes com ICC. Esta
aumenta após transplante, mas permaneceu reduzida,
quando comparados transplantados com indivíduos normais.
Essa descoberta é coerente com a diminuição da endurance
da musculatura respiratória em pacientes com ICC, a qual
reverte-se parcialmente pós–transplante. Observou-se uma
melhora da endurance da musculatura respiratória , mas
não houve uma normalização [26].
Conclusão
Observou-se que as anormalidades na difusão continuam
presentes na maioria dos pacientes submetidos à transplante
cardíaco. Entretanto, não foram encontradas evidências que
suportem a hipótese de que a diminuição na capacidade de
difusão da membrana alvéolo-capilar seja responsável pelo
desempenho reduzido ao exercício. Este parece estar
reduzido devido à debilidade na perfusão pulmonar, baixos
volumes correntes e fraqueza dos músculos respiratórios.
Alterações histológicas da musculatura esquelética podem
ter um papel importante na fisiopatologia da fadiga durante
o exercício após transplante cardíaco. Se o transplante reverte
as anormalidades na difusão da membrana alvéolo-capilar,
no consumo de oxigênio e nas anormalidades músculoesqueléticas, tais fatos não foram observados. A capacidade
de exercício, embora melhorada, não é normalizada de
maneira significativa. Tais fatos influenciam diretamente nas
respostas do paciente ao programa de reabilitação cardíaca.
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Revisão
Reeducação neuromuscular e proprioceptiva
em pacientes submetidos à reconstrução
do ligamento cruzado anterior
Neuromuscular and proprioceptive reeducation
in patients with anterior cruciate ligament reconstrution
Anderson Delano Santos Araújo*, José Reynaldo de Carvalho Merlo**, Caroline Moreira***
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*Graduado do Curso de Fisioterapia da UCSAL, **Fisioterapeuta responsável pelo serviço de Fisioterapia da Academia Ricardo Mendes –
Salvador BA, Pós-graduando em Metodologia do Ensino Superior, ***Professora e Supervisora de estágio na área de Ortopedia e
Traumatologia da UCSAL, Salvador BA
Palavras-chave:
Ligamento cruzado anterior,
propriocepção, reeducação,
neuromuscular.
Key-words:
Anterior cruciate
ligament, proprioception,
reeducation, neuromuscular.
Resumo
Este trabalho consta de uma revisão bibliográfica sobre programas de reeducação
neuromuscular e proprioceptiva para atletas profissionais com lesão do ligamento
cruzado anterior. Foram investigados várias técnicas e exercícios que serão expostos
correlacionando os seus respectivos objetivos e o resultado final. Os exercícios descritos
visam proporcionar ao atleta um retorno às atividades esportivas de alto nível com um
eficiente controle neuromuscular, uma eficiente estabilidade articular além de agilidade,
habilidade e confiança para tal desempenho. Obteve-se com isso um melhor
entendimento sobre os inputs sensoriais provocados pelas técnicas e exercícios assim
como os seus objetivos proporcionando uma melhor qualidade de tratamento e retorno
das atividades por parte do atleta.
Abstract
This work is a literature review of proprioceptive and neuromuscular reeducation
programs for professional athletes with anterior cruciate ligament (ACL) injuries. Various
tecniques and exercises were investiged and will be exposed correlating aims and final
results. The objetive of the exercises described is to adapt the athlete to a high level
sport activity with an efficient neuromuscular control, effective joint stability besides
the agility, skill and confidence. A better perception, about the sensorial inputs stimulated
by the tecniques and exercises as will as their purposes, providing the athletes a higher
quality of treatment and a faster return to the sport practice, was achieved.
Artigo recebido 3 de abril de 2003; aceito em 15 de maio de 2003.
Endereço para correspondência: Anderson Delano Santos Araújo, Rua Manoel Barreto, 688, ap. 301, Graça 40150-360 Salvador, Bahia, Tel: (71)
9915-4889, E-mail: [email protected]
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Introdução
Foto 1 - Descarga de peso com apoios bi e unipodal com joelho em
extensão completa.
O Ligamento Cruzado Anterior (LCA) assim como o
Ligamento Cruzado Posterior (LCP) localiza-se central e
internamente na cápsula articular, porém, fora da cavidade
sinovial. Trata-se de um ligamento composto de dois feixes:
um ântero-medial e um póstero-lateral. Estes não são
isométricos, sendo que durante a flexão o feixe ântero-medial
tensiona-se e o feixe póstero-lateral relaxa e durante a
extensão este processo inverte-se [4,10,11]. Possuem uma
constituição fascicular e uma inserção tibial ampla
possibilitando um contínuo controle em toda a amplitude
de movimento, fato este que não é reproduzido pelos
métodos atuais de reconstrução do ligamento [10].
Com a ruptura do LCA o joelho fica desprovido da
atuação dos mecanorreceptores existentes neste ligamento
[1,2,6], do arco reflexo existente entre o LCA e a musculatura
flexora do joelho [1,2,3], além da ausência funcional dessa
estrutura que é responsável por aproximadamente 85% da
restrição da translação tibial anterior [4,5]. Logo, acredita-se
que o atleta profissional, em decorrência, do alto nível de
solicitação desta articulação, deve ser submetido à
reconstrução cirúrgica para restaurar o componente
macroscópico de estabilização articular, para então, executar
um programa de reeducação neuromuscular e
proprioceptiva visando o retorno às atividades esportivas.
Apesar da lesão do LCA e da perda de informações
aferentes, existem nas demais estruturas do joelho inúmeras
outras fontes de informações proprioceptivas que, com
treinamento específico de coordenação neuromuscular,
podem suprir a demanda de reação muscular necessária
para o controle dinâmico da articulação [4,5,8,10,12]. O
treinamento muscular simples não aumenta a sua velocidade
de reação, porém, o controle muscular dinâmico tem a
capacidade de diminuir o tempo de resposta de reação do
mesmo e quanto menor for esse tempo, menor serão as
agressões sobre as estruturas ósseas, musculares, meniscais
e ligamentares do joelho.[8] Baseado no que foi descrito
acima, objetivamos mostrar correlações entre alguns
exercícios de reeducação neuromuscular e proprioceptiva,
com seus respectivos objetivos e resultados para proporcionar
ao atleta de alto nível retornar com segurança às suas
atividades [1,3,6,8,9,13].
Foto 2 - Atleta na tábua e no disco com apoio bipodal (variando da
extensão total até a flexão de 30º).
Metodologia
Foi realizada uma pesquisa de revisão bibliográfica tendo
como fonte a Medline e o Lilacs. A pesquisa deu-se com as
seguintes palavras-chaves: ACL, Reeducation,
Proprioception, Neuromuscular, LCA, Reeducação,
Propriocepção e Neuromuscular.
Foram encontrados vinte e três artigos sendo seis em
língua portuguesa e dezessete em língua inglesa. Destes vinte
e três : doze abordavam a reeducação proprioceptiva e
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neuromuscular, sete abordando as estruturas nervosas
incluídas na propriocepção, um abordando análise da
marcha em indivíduos com LCA lesionado, um mostrando
uma escala funcional do joelho e dois mostrando protocolos
de reabilitação.
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Alem disso foi utilizado sete livros e uma tese de
mestrado, todos abordando o mesmo tema. A pesquisa
utilizou o período de 1992 a 2002.
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Foto 3 - Atleta em apoio unipodal sobre a tábua e o disco (variando da
extensão total até flexão de 30°).
Discussão
A propriocepção é dividida em 3 componentes: a
consciência estática da posição, a consciência cinestésica que
detecta o movimento e a sua aceleração e a atividade
aferente em circuito fechado para obter o reflexo de resposta
e controle da contração muscular [1,6]. Estas aferências
são oriundas de receptores existentes na própria articulação,
nos músculos e na pele [7]. Baseado nas respostas de
neurônios que inervam estruturas dentro e ao redor do
membro aceita-se também que quando a articulação
encontra-se no meio da sua ADM, a propriocepção é
mediada por ativação dos neurônios aferentes, vindos dos
músculos que atuam do outro lado (antagonistas) da
articulação. O fator chave em proteção articular é ter um
influxo aferente (sensorial) no momento que a articulação
se torna instável [1,9].
À medida que programas de treinamento neuromuscular
vêm tornando-se parte integrante dos programas de
reabilitação, acredita-se que para o atleta deve-se também
oferecer atenção especial a este treinamento, visando
evitar perda de trofismo e diminuir o tempo de resposta
muscular que o mesmo necessita para sua atividade
esportiva [1,3,8], aliado à definição de Risberg [21] de
que treinamento neuromuscular é aquele que eleva as
respostas motoras inconscientes pela estimulação dos
sinais aferentes e mecanismos centrais responsáveis pelo
controle articular dinâmico.
Clarete, Chatrenet, Kulczycki e Canavan [1,8,9,10],
compartilham da opinião que a recuperação da Amplitude
de Movimento (ADM) deve ser a primeira preocupação
do fisioterapeuta na reabilitação do joelho lesionado. Logo,
a descarga precoce de peso no Pós-Operatório, sendo o
início da reeducação proprioceptiva, oferece aferência
quanto à sensação de posicionamento do membro que
deve ser realizada (Foto 1), haja vista que já existem estudos
que comprovam não existir translação tibial anterior com
joelho em extensão total [5]. Por sem em Cadeia Cinética
Fechada (CCF) vai existir co-contração do quadríceps e da
musculatura flexora do joelho [1,8], além das aferências
oferecidas por esta sensação de posicionamento
indicadas por Stillmann [14] e Chatrenet [8] que indicam
a descarga de peso no pós-operatório confrontando desta
forma com a opinião de Clarete [1], que somente inicia
a reeducação proprioceptiva e neuromuscular quatro
semanas após a reconstrução.
Com a progressão do tratamento, iniciam-se os exercícios
com treino de equilíbrio e desequilíbrio provocado (Fotos:
2,3,4). Gerulli et al. [3] definem treino proprioceptivo como
uma série de exercícios ou situações que extrairão uma
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Foto 4 - Atleta em apoio unipodal sobre a tábua e o disco (sem aferência
visual, com joelho variando da extensão completa até a flexão de 30°).
Foto 5 - Atleta em apoio unipodal no balancim (com e sem aferência
visual com joelho indo da extensão total até flexão de 30°).
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Foto 6 - Atleta em apoio unipodal no solo e balancim executando devolução
de bola (com joelho variando da extensão total até flexão de 30°).
Foto 7 - Atleta realizando trabalhos de pliometria na cama elástica.
resposta do sistema nervoso para neutralizar o estímulo
externo. Estes, em consenso com a opinião de Risberg e
col[21], afirmam ainda que os exercícios devem ser
progressivos e incluir situações controladas pelo atleta e
as que trocam infor mações baseadas em fatores
intrínsecos. Gerulli et al. [3] iniciam seu treinamento
(definido como patamar 1) com treino de balanço na
tábua horizontal por dois minutos e meio em quatro dias
por semana por três semanas, acreditando que os exercício
proprioceptivos podem diminuir o reflexo do tempo de
latência da contração dos flexores de joelho.
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220
Como vários autores [1,2,7,10] já demonstraram a
existência de mecanorreceptores e terminações nervosas
livres na maioria das partes do joelho, tem-se uma base para
sustentar o sistema de feedback proprioceptivo que permitirá
trocas adaptativas durante o treinamento. Ainda segundo
Gerulli et al. [3], as respostas corretas possuem duas
evidências: a primeira, via feedback periférico dos receptores
sensoriais e a segunda, através do pré-planejamento do SNC.
Acredita-se que o treinamento pode alterar a resposta
neuromuscular para perturbações inesperadas.
Kelley et al. [15] realizaram trabalhos semelhantes com
atletas que não realizaram reconstrução do ligamento. Eles
estabeleceram dois programas distintos: o programa padrão
com exercício resistidos para quadríceps e flexores de joelho,
endurance cardiovascular, treino de habilidade e agilidade
além de treino de habilidade específica do esporte. No outro
programa foram acrescentados treinos de perturbação
antero-posterior e látero-medial sobre plataforma de força
motorizada Balance Máster sobre tábua inclinada,
perturbações multi direcionais com indivíduos em pé, com
um membro em cima de prancha rolante e o outro em uma
plataforma estacionária, depois um só membro na prancha
rolante. Eles [15] mostram estudos que afirmam que após
a ruptura do LCA aumenta-se o nível de função com
alteração muscular que aumenta a estabilidade do joelho.
Chatrenet et al. [8] afirmam, em consenso com outros
autores [1,2,3,9,13,18,20] que o desenvolvimento do
potencial neuromuscular deve ser adaptado à técnica
terapêutica escolhida e ao objetivo motor do paciente, e
que deve ser considerada precocemente para obter-se uma
qualidade muscular indispensável ao alto nível de atividade
do paciente atleta. A capacidade de ativar as unidades
motoras está intimamente relacionada com a força e a
resistência no ato motor [4,10,12]. E o chamado perfil
neurológico de recrutamento [8] é a capacidade de mobilizar
mais ou menos rapidamente as unidades motoras durante o
esforço máximo e é variável de indivíduo para indivíduo.
Autores também concordam [1,2,3,4,8,10,13,20] que o
trabalho muscular excêntrico recruta menos unidades
motoras para uma mesma potência de exercício ou mesmo
esforço e que a angulação de zero a 30° de extensão é onde
ocorre o maior estresse sobre o ligamento ou o enxerto
(fotos: 8,9,10,11,12).
Vários “inputs” sensoriais oriundos dos receptores visuais
vestibulares e somatosensoriais contribuem para a
manutenção da postura [12,15,16,17] e o córtex cerebral é
mais exigido quando se aprende uma nova postura do que
quando se realiza uma habilidade já treinada [16]. O controle
cerebelar organiza excitação e inibição muscular em ordem
espacial e temporal que são executadas como um complexo
programa motor para manter o equilíbrio [12,17]. Já a visão
provê a importante informação “feedback” sobre a oscilação
do corpo e informações complementares são supridas por
outros sistemas receptores, além de contribuir também para
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Foto 8 - Atleta realizando trabalhos de pliometria na cama elástica de
frente devolvendo a bola ou de costas, ouvindo o comando de voz do
Fisioterapeuta e viando para o lado indicado e devolvendo a bola.
o controle postural, pois fornece informações que conduzem
ao ajustamento antecipatório da atividade motora [16,20]
(fotos: 10,11,12).
Tjernström et al. [16] afirmam que a amplitude das
oscilações
corporais
espontâneas
aumentam
aproximadamente 50% quando de olhos fechados
comparando-se quando da utilização da visão, afirmando
ainda que o controle postural, usa correções motoras menos
rápidas se o “input” visual está disponível (foto: 7 versus
4,5,6). Esta afirmação reforça a escolha por exercícios sem
o “input” visual, haja vista, que o mesmo autor indica que o
controle postural precisa ser suficientemente desafiado por
estimulação ou desequilíbrios posturais para induzir
adaptação pelo aprendizado ativo. Reforçado pela opinião
de Risberg [21], que afirma ser o feedback sensorial
desafiado pela exclusão da visão, aumentando a estimulação
do sistema vestibular através da mudança da base de suporte
e usando alterações como as devoluções de bola ou a
mudanças inesperadas de direção de movimento (fotos:
4,5,6,7,8), aliada também às opiniões de Clarete [1,18],
Fremerey [6] e Cohen [17] que sugerem que os centros
sensórios corticais encontram-se preparados para extrapolar
as experiências prévias. Estes baseiam-se em informações
sensoriais que chegam, e que os limites de percepção do
senso de posição não são determinados por limites
anatômicos do movimento articular, afirmando também que
este senso é muito lábil e adapta-se prontamente aos
diferentes estímulos sensoriais.
A detecção de um membro depende de vários fatores
como: o movimento particular da articulação a velocidade
deste e o estado contrátil dos músculos que controlam a
articulação [12,17] (fotos: 9,10,11,12,13) e com o aumento
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221
da velocidade do movimento imposto à articulação aumentase também a detecção de movimento [17]. Cohen [17]
informa ainda que as forças geradas pelos músculos são
originadas pelas descargas aferentes periféricas dos órgãos
tendinosos de Golgi que sinalizam a força intramuscular e
como conseqüência informa ao SNC sobre as forças
musculares, além das informações que derivam de um
correlato neural interno ou de uma cópia do comando motor
enviado ao conjunto de neurônios motores das medula
espinhal. Tem-se na pliometria, que é definida como “rápido
e poderoso movimento envolvendo pré-estiramento do
músculo e ativação do ciclo estiramento-encurtamento para
produzir uma subseqüente contração concêntrica mais forte”
[21], um aliado que promove um trabalho de qualificação
muscular eficiente à medida que permite a realização de
contrações concêntricas imediatamente após contrações
excêntricas [8,20] (fotos: 7 e 8), modalidade esta utilizada
por Clarete [1,18], Dionízio [2], Gerulli [3], Kulczycki [9] e
Lloyd [20] Risberg [21].
Lloyd [20], que por 3 anos realizou estudos com 600
atletas de futebol australiano através de treinos de
estabilização e balanço visando prevenir lesões do LCA,
informa ter obtido uma diminuição significativa das lesões
do referido ligamento, afirmando ainda que treinos de
estabilização (fotos: 1,3), treinos de balanço (fotos: 4,5,6,7,8)
e os treinos pliométricos (fotos: 10,11,12,13) irão produzir
uma redução do tempo de ativação voluntária e do tempo
de pico de força, que por sua vez irão diminuir o tempo de
resposta muscular dos atletas que se tornaram mais hábeis
para um desempenho rápido e inesperado nos movimento
utilizados no esporte.
Conclusão
A observação dos resultados funcionais dos exercícios e
técnicas de reeducação neuromuscular e proprioceptiva
sugere que os mesmos são de importância fundamental,
devendo ser parte integrante e obrigatória dos programas
de reabilitação para atletas com lesão do LCA. Acredita-se
ainda na necessidade de maiores investigações sobre a eficácia
dos mesmos visando uma maior confirmação científica.
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Estudo de caso
Influência da inervação recíproca na recuperação
da função motora de paciente hemiplégico
por acidente vascular cerebral
Influence of reciprocal innervation on recuperation
of motor function in hemiplegic patient after stroke
Mônica Magri*, Neliana Siqueira da Silva*, Mariângela Braga Pereira Nielsen**
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*Acadêmicas do 8° período do curso de Fisioterapia da Emescam, **Fisioterapeuta (FCMMG), Professora de Fisioterapia Neurológica da
Emescam, Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória – Vitória - ES
Resumo
A hemiplegia, uma das conseqüências do acidente vascular cerebral (AVC), pode
ser altamente incapacitante, uma vez que o paciente perde a seletividade de seus
movimentos devido a um predomínio da musculatura antagonista, prejudicando assim
a realização de suas atividades diárias e conseqüentemente seu retorno ao trabalho e
ao convívio social. Com este enfoque, o objetivo deste trabalho é estudar a importância
da integridade da inervação recíproca na recuperação da função motora do paciente
hemiplégico por AVC e auxiliar os fisioterapeutas na escolha de um programa de
tratamento adequado visando à seletividade dos movimentos. Foram estudados cinco
pacientes em nível ambulatorial, em que se aplicou a avaliação fisioterapêutica Bobath,
um questionário e a Escala de Ashworth modificada, sendo também aplicado um
protocolo cinesioterapêutico durante oito meses com três atendimentos semanais de
50 minutos cada sessão. Pôde ser observado que em 80% dos pacientes foi possível
diminuir a espasticidade e em 20% não foi obtido resultado satisfatório. Assim, concluise que através de um programa fisioterapêutico adequado e precoce baseado no controle
de tronco é possível obter uma harmonia muscular e dar funcionalidade ao membro
superior afetado.
Palavras-chave:
Hemiplegia, inervação
recíproca.
Artigo recebido em 11 de novembro de 2002; aceito em 15 de maio de 2003.
Endereço para correspondência: Mônica Magri, Rua José Carlos Fonseca, 30, Bela Aurora, 29141-640 Cariacica ES, Tel: (27) 3226-8467,
E-mail: [email protected]
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Abstract
The hemiplegia, like stroke consequence, is an high disability disease because the
patient loses selectivity of his movements in consequence of predominance of
antagonist over agonist muscles, being prejudicial to his daily activities and, consequently,
to his return to work and social life. The aim of this research is to study the importance
of reciprocal innervation integrity on the motor function recuperation in hemiplegic
patient who suffered a stroke and also help the physical therapist to choose the
appropriate treatment program aiming the movements selectivity. Five patients were
studied in ambulatory and was applied a Bobath physical therapy assessment,
questionnaire and modified Ashworth scale. We also applied a kinesiologic protocol
during eight months with three weekly 50 minutes sessions. We noticed that is was
possible to decrease spasticity in 80% of patients and 20% did not obtained satisfying
result. Thus we concluded that, through an early and appropriate physical therapy
program based on trunk control it is possible to get muscular harmony and to give
function to the affected upper limb.
Key-words:
Hemiplegia, reciprocal
innervation.
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Introdução
O acidente vascular cerebral (AVC) corresponde a qualquer
anormalidade clínica súbita que decorre de lesões de um ou
mais vasos sangüíneos cerebrais. Essas lesões podem ser
obstrutivas (por trombose ou embolia), pela redução do calibre
dos vasos, por queda da pressão sangüínea, aumento da
viscosidade do sangue, alteração da permeabilidade da parede
vascular, hemorragias ou outros distúrbios da circulação. Em
80% dos casos, as lesões são devidas ao fluxo de sangue
muito reduzido (AVC isquêmico) e, nos demais, a hemorragias
parenquimatosas ou subaracnóides [1].
A seqüela mais comum decorrente do AVC é a
hemiplegia, que é a paralisia dos músculos de um lado do
corpo, contralateral ao lado do cérebro em que ocorreu a
lesão [2]. O quadro clinico mostra muitas variações
dependendo do grau e da distribuição da espasticidade e do
tipo de distúrbios sensoriais associados [3].
Os déficits de movimento evidenciados no lado
hemiplégico são caracterizados por anormalidades do tônus
muscular, dos ajustamentos posturais e dos movimentos
sinérgicos, falta de dissociação entre as cinturas pélvica e
escapular, perda dos movimentos seletivos e perda da
coordenação motora [4]. Isto é conseqüência de um déficit
da inervação recíproca que na sua integridade corresponde
ao controle consecutivo de agonistas e antagonistas,
completados pelo controle dos respectivos sinergistas, para
a coordenação espacial e temporal do movimento [5].
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A reabilitação do hemiplégico adulto, portanto, reside
potencialmente no retreinamento do controle motor,
fundamentado na compreensão do movimento normal e em
uma análise da disfunção motora. Esta envolve a reaprendizagem
de atividades reais da vida cotidiana, que tenham significado
para o paciente, e não a prática de exercícios [6].
Objetivo
• Estudar a importância da integridade da inervação
recíproca na recuperação da função motora do paciente
hemiplégico por AVC;
• Traçar um plano de tratamento fisioterapêutico para
estes pacientes.
Materiais e métodos
Foi realizado um estudo prospectivo não-comparado
avaliando a evolução de pacientes hemiplégicos submetidos
a um programa cinesioterapêutico. Foram incluídos no estudo
pacientes hemiplégicos por AVC num total de cinco, sendo
quatro pacientes hemiplégicos à direita e um à esquerda.
Critérios de inclusão: pacientes hemiplégicos que
sofreram AVC e não apenas Ataques Isquêmicos
Transitórios (AIT); pacientes que estejam sob assistência
terapêutica; pacientes com idade entre 40 e 75 anos e
pacientes com tônus espástico ou flácido com até 7 anos
de lesão. Critérios de exclusão: pacientes portadores de
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outras doenças como, diabetes, doença de Parkinson e
dependência química, visto que será exigida uma modificação
no plano de tratamento a ser executado e pacientes que
apresentam déficit cognitivo, uma vez que não irão
compreender e participar do plano de tratamento proposto.
Aplicou-se um questionário em fevereiro de 2002 que
abordou as dificuldades apresentadas pelos pacientes na
execução de suas atividades da vida diária (AVD) e se a
fisioterapia proporciona algum beneficio. Todos os pacientes
foram atendidos segundo um protocolo cinesioterapêutico
no período de fevereiro a setembro de 2002, com três
atendimentos semanais de cinqüenta minutos cada sessão, o
que resultou em um total de oitenta e quatro atendimentos.
A eficácia do tratamento foi avaliada de acordo com a
Escala de Ashworth modificada, aplicada antes do tratamento,
e em setembro de 2002, depois do tratamento. Esta escala
mede o grau de espasticidade em escores de 0 a 4, através
da realização de um deslocamento passivo do membro
superior e avaliação da resistência à movimentação.
Utilizou-se técnicas de análise estatística descritiva. Foi
ainda utilizado o teste t para amostras pareadas para
comparar a espasticidade antes e depois do tratamento.
Fig. 1 - Eletroneuromiografia do paciente 1.
Resultados
Utilizando a Escala de Ashworth modificada, que é graduada
de 0 a 4, em todos os pacientes para medir o grau de
espasticidade foi observado que no inicio do tratamento 40%
dos pacientes apresentaram grau 2; 20% grau 3; e 40% grau 4.
Após o período de atendimento observou-se que 60% dos
pacientes apresentaram grau 1; 20% grau 2; e 20% grau 4. A
média dos escores obtidos antes do tratamento foi 3,0 (DP
1,0) e depois do tratamento foi 1,8 (DP 1,3). Apesar de
observarmos uma melhora sistemática na espasticidade da
maioria dos pacientes, a diferença entre os escores obtidos
antes e depois do tratamento não foi estatisticamente
significativa, devido ao pequeno número de pacientes avaliados
(t = 2,45; p = 0,07). Dos pacientes selecionados apenas um
não realizou tratamento fisioterapêutico baseado no controle
de tronco logo após a lesão. Isso pode ser observado no gráfico
a seguir e a partir de eletroneuromiografia referente aos
pacientes 1 e 3.
No paciente 1 (fig. 1), é possível visualizar o recrutamento
de quatro unidades motoras do flexor profundo dos dedos,
sendo duas de grande amplitude, o que significa que este
músculo está sendo solicitado ao realizar a extensão da mão.
Sendo este o paciente que não realizou o tratamento
adequado logo após a lesão, houve um prejuízo na obtenção
de resultados satisfatórios devido a reorganização do sistema
nervoso frente ao movimento incorreto.
No paciente 3 (fig. 2 e 3), ao ser solicitado o movimento
de flexão da mão no início do tratamento, pôde ser observado
que foram recrutadas três unidades motoras do músculo
extensor comum dos dedos. Com a evolução do tratamento
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225
ao ser solicitado a extensão da mão nenhuma unidade motora
do músculo flexor profundo dos dedos foi recrutada.
Discussão
O presente trabalho procurou elaborar um plano de tratamento que objetive a estabilização da cintura escapular, uma
vez que na lesão ocorrerá um desalinhamento desta e o movimento desejado não poderá ser executado e somente através
de sua estabilização iremos obter a seletividade dos movimentos
distais, como foi relatado por Bobath [3] e Davies [7].
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Fig. 2 - Eletroneuromiografia do paciente 3 no início do tratamento.
contração da musculatura antagonista impedindo a contração
da musculatura agonista, não sendo possível executar o
movimento desejado.
O déficit de movimento presente sofre grande influência
da anormalidade do tônus muscular que é instalado após a
lesão. A espasticidade, resistência presente quando é solicitado
a execução de determinado movimento, deve ser trabalhada
visando a obtenção de um relaxamento muscular e assim o
número de fibras indesejadas que são ativadas será diminuído.
Através de um programa de tratamento enfocando a atividade
seletiva do tronco, de acordo com Davies [7], foi possível
observar que em 80% dos pacientes houve a diminuição de
sua espasticidade proporcionando uma melhora nos padrões
de movimento seletivos. Em 20%, não observamos um
resultado satisfatório, pois no início da lesão foi realizado um
programa de tratamento visando o fortalecimento muscular
e com isso houve um recrutamento inadequado das unidades
motoras impossibilitando um movimento mais funcional.
Fig. 3 - Eletroneuromiografia do paciente 3 no final do tratamento.
Conclusão
A execução dos movimentos depende da atividade
coordenada de vários músculos, sendo necessário um circuito
neural intacto aonde os aferentes Ia levam informação para
o fuso muscular causando a excitação dos neurônios motores
para o músculo agonista e a inibição dos neurônios motores
para o músculo antagonista. Com o déficit da inervação
recíproca, o paciente hemiplégico irá perder a seletividade de
seus movimentos apresentando reações associadas dificultando
a realização dos movimentos desejados, sendo assim
necessário uma intervenção fisioterapêutica precoce
objetivando sua estabilidade postural a fim de obter um
controle muscular proximal, proporcionando-lhe condições
de movimentos distais para melhorar a sua qualidade de vida.
Referências
Segundo Shepherd [6], o paciente hemiplégico necessita
de um retreinamento motor, pois a sua dificuldade é na
compreensão de como o movimento correto é executado,
exigindo assim uma reaprendizagem motora baseada nas
suas atividades de vida diária para se obter a funcionalidade
do membro superior comprometido. Quanto mais precoce
o paciente receber estímulos para a sua recuperação, melhor
será o seu prognóstico, pois através de sua reintegração com
o meio ambiente será criado e moldado novas vias sinápticas
possibilitando uma adaptação do sistema nervoso que irá
favorecer a recuperação neural.
Para a execução do movimento desejado é necessário que
ocorra a contração da musculatura agonista e a relaxamento
da musculatura antagonista, este mecanismo é conhecido
como inervação recíproca. Com o seu comprometimento, ao
ser solicitado determinado movimento, ocorrerá uma
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226
1. Rey L. Acidente vascular cerebral. In: Dicionário de
termos técnicos de medicina e saúde. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 1999. p. 8.
2. Duward B. Acidente vascular cerebral. In: Cash.
Neurologia para fisioterapeutas. 4 a. ed. São Paulo:
Premier; 2000 p. 83.
3. Bobath B. Hemiplegia no adulto: Avaliação e Tratamento.
São Paulo: Manole; 1978. p. 1-20.
4. Cirstea MC, Levin MF. Compensatory strategies for
reaching in stroke. Brain 2000;123:940-953.
5. Paeth B. Experiências com o concepto Bobath:
Fundamentos, tratamiento, casos. Madrid: Panamericana;
2000. p. 1-52.
6. Shepherd BR. Programa de reaprendizagem motora para
o hemiplégico adulto. São Paulo: Manole; 1988. p. 5.
7. Davies P. Passos a seguir - Um manual para o tratamento
da hemiplegia no adulto. São Paulo: Manole;1996.n
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
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Estudo de caso
Atuação da fisioterapia em uma paciente
submetida à tumorectomia
Physical therapy in patient submitted to tumorectomy
Daniella Regina Marcelino*, Tayana Costa*, Melissa Medeiros Braz**
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*Acadêmicas do Curso de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina, **Professora Mestre da Disciplina de Fisioterapia aplicada
à Ginecologia e Obstetrícia II da Universidade do Sul de Santa Catarina UNISUL
Palavras-chave:
Fisioterapia, tumorectomia.
Resumo
O câncer de mama é a neoplasia que mais acomete a população feminina, sendo a
patologia que mais mata mulheres no sul da Brasil. Este trabalho é uma pesquisa
experimental do tipo estudo de caso com o objetivo de analisar efeitos do tratamento
fisioterápico no acompanhamento pós-operatório de tumorectomia, em que foi abordada
a atuação da fisioterapia no tratamento do câncer de mama no intuito de esclarecer seu
significado, bem como os sinais e sintomas da doença. A partir de um esclarecimento e
levantamento bibliográfico, foi estabelecida uma ficha de avaliação, elaborado um
protocolo de tratamento fisioterápico e realizado o acompanhamento durante dez sessões
na Clínica Escola de Fisioterapia da UNISUL (Tubarão) de uma paciente submetida à
tumorectomia do lado direito, utilizando técnicas de cinesioterapia, sensibilização e
relaxamento. Na reavaliação, observaram-se evidências de melhora na ansiedade da
paciente, conscientização postural, sensibilidade da mama e membro superior e melhora
nas atividades da vida diária, sugerindo que o tratamento fisioterápico pode contribuir
para a reabilitação e reintegração da paciente com câncer de mama na sociedade,
melhorando a auto-estima e qualidade de vida.
Artigo recebido em 21 de novembro de 2002; aceito em 15 de maio de 2003.
Endereço para correspondência: Melissa Medeiros Braz, Av. José Acácio Moreira, 787 Bairro Dehon - Cx Postal 370, 88704-900 Tubarão SC,
Tel: (48) 621-3000, Daniella Regina Marcelino E-mail: [email protected], Tayana Costa E-mail: [email protected], Melissa Medeiros Braz
E-mail: [email protected]
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Abstract
Breast cancer is the most common feminine neoplasy and pathology with major
mortality between women. This research is a case study, which included physical therapy
actuation in breast cancer treatment to understand its meaning, as well as signals and
symptoms of the disease. It was made a evaluation test and a treatment protocol. A
patient submitted to tumorectomy was accompanied by ten physical therapy sessions
at Clínica Escola de Fisioterapia da UNISUL (Tubarão), using cinesioterapy, sensibility
and relaxing tecnics. At the end of treatment, it was observed gains in patient anxiety,
postural consciousness, breast and arm sensibility and at the execution of daily life
activities, what suggested that physical therapy may contribute to rehabilitation and
integration of a breast cancer patient in society, improving her quality of life.
Key-words:
Physical therapy,
tumorectomy.
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Introdução
Materiais e métodos
O câncer de mama é o tumor maligno mais freqüente
na população feminina. Acomete mulheres jovens, com
curva ascendente a partir dos 25 anos de idade, com a
maioria dos casos concentrados entre 45 e 50 anos. [1].
Este estudo é caracterizado como uma pesquisa
experimental com pré e pós-teste. Foi realizado um estudo
de caso a fim de analisar efeitos da atuação da fisioterapia
no acompanhamento pós-operatório de tumorectomia,
cirurgia conservadora para extirpação do câncer de mama.
A tumorectomia é a remoção do tumor sem margens de
tecido circunjacente no caso de tumores de até 1 cm de
diâmetro, conservando a aponeurose subjacente do peitoral
maior. Deve estar associada à linfadenectomia e a
radioterapia.[2].
A mama é um órgão simbólico, tido como representativo
de feminilidade, maternidade e sexualidade. Cirurgias
realizadas neste órgão acarretam danos tanto físicos, como
psicológicos. Algumas das complicações pós-operatórias mais
comuns são: aderência cicatricial, retrações, fibrose; dor na
incisão cirúrgica e região cervical; alterações posturais e
respiratórias; linfedema; alterações de sensibilidade;
diminuição da amplitude de movimento, fraqueza, encurta.
mentos musculares, além de alterações psicológicas, como
a modificação da auto-imagem[1,2,3,4,5].
Foi estudada uma paciente de 51 anos, costureira,
submetida a tumorectomia na mama direita há três anos,
realizando quimio e radioterapia complementares. Não
apresentava limitação na amplitude de movimento, mas
diminuição da força muscular e da sensibilidade da mama
direita, ansiedade, insônia, depressão, padrão respiratório
costal superior, postura escoliótica e cifótica.
Para a avaliação, foram utilizados um esfigmomanômetro
modificado para graduação de força, fita métrica para
perimetria com medidas a cada 5 cm a partir do epicôndilo
lateral, goniômetro para medição dos graus de amplitude de
movimento articular, teste de sensibilidade térmica com tubos
de ensaio com água quente e fria, estesiômetro e simetrógrafo
para avalição postural.
O estesiômetro consiste em um jogo de sete tubos, cada
um dos quais protege um par de filamentos de nylon especial.
O código de cores indica aproximadamente a força axial
necessária para envergar o filamento.
O simetrógrafo consiste num tabuleiro quadriculado
portátil, formado por uma placa transparente, onde se
apresentam linhas horizontais e verticais, dividindo a
superfície em quadrados simétricos [6]. Este quadrado
permitiu localizar e registrar os defeitos da postura.
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228
Resultados e discussão
Na avaliação inicial da força, observou-se no movimento
de preensão palmar da mão direita uma pressão de 95 mmHg
e da mão esquerda de 200mmHg. No movimento de adução
do membro superior direito uma pressão de 70 mmHg e
do esquerdo de 140 mmHg.
Na avaliação de sensibilidade, a paciente apresentou
hipoestesia e parestesia nas avaliações térmica, dolorosa e
tátil, referindo sensações de fisgadas e formigamento. A
paciente apresentou reação ao monofilamento vermelho
magento (nominal 300g), que significa sensibilidade à pressão
profunda, podendo ainda sentir dor.
Foi realizada uma avalição postural, em que foi observada
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
inclinação da cabeça para o lado esquerdo, protrusão da
cabeça, triângulo de Tales aumentado do lado esquerdo,
ombro esquerdo elevado, joelhos varos, com assimetria de
fossa poplítea, pés planos, escoliose torácica sinistro-convexa
e aumento da cifose torácica.
Foram realizadas dez sessões de Fisioterapia, sendo utilizados
como recursos cinesioterapia, dessensibilização, relaxamento,
reeducação diafragmática e conscientização corporal.
Na reavaliação, observou-se melhora da ansiedade e do
quadro depressivo, visto que a paciente não precisava mais
fazer uso de antidepressivos; melhora da auto-estima,
observando-se que ela passou a adornar-se mais e demonstrar
maior entusiasmo. Quanto às atividades da vida diária, esta
retornou ao trabalho e às atividades domésticas. Em relação
à simetria corporal, a reavaliação postural demonstrou
melhora da inclinação da cabeça, diminuição da protrusão
da cabeça e nivelamento de ombros e clavícula.
Constatou-se ganho de força muscular através da
reavaliação, observando-se uma pressão de 200mmHg para
o movimento de preensão palmar direita e 240 mmHg para
a mão esquerda. Para o movimento de adução do membro
superior direito, a pressão foi de 100mmHg e do esquerdo
foi de 180 mmHg.
A paciente passou a apresentar padrão respiratório
diafragmático.
Na reavaliação com estesiômetro, observou-se melhora
na sensibilidade, na qual a paciente referiu sensibilidade ao
monofilamento verde (nominal 0,05g) que significa
sensibilidade normal. A paciente relata que as sensações de
formigamento e fisgada desapareceram.
“ Antes eu me sentia pesada em tudo, até na respiração, dor no
corpo e muita fisgada nos seios. Depois da Fisioterapia já me sinto
leve, as dores desapareceram e estou me sentindo muito bem.” (relato
da paciente A.S.M. no último dia da sessão de Fisioterapia)
Conclusão
A Fisioterapia aborda vários aspectos em pacientes
operadas de câncer de mama, trabalhando desde a
reeducação postural e respiratória, cuidados com a
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229
229
cicatriz, condicionamento físico e até a prevenção de
complicações linfáticas. Nunca esquecendo que estes
aspectos estão intrinsecamente ligados ao psicológico, que
se encontrará abalado.
A mulher que faz Fisioterapia diminui o tempo de
recuperação e retorna mais rapidamente às atividades
cotidianas e ocupacionais.
Num contexto geral, a Fisioterapia facilitará a integração
do lado operado ao resto do corpo, facilitando o retorno
das atividades de vida diária e ocorrendo também a
aceitação do seu corpo, e finalmente auxiliando na
prevenção de outras complicações comuns na paciente
operada do câncer de mama.
Como se trata de uma mutilação em um órgão tão cheio
de significado para a mulher, um dos principais objetivos da
Fisioterapia é fazer com que a mulher aprenda a se amar.
Agradecimentos
À Coordenação e equipe da Clínica Escola de Fisioterapia
da UNISUL, et ao auxílio financeiro do Artigo 170 do
Governo Federal.
Referências
1. Freitas F, Menke CH, Rivoire WA, Passos EP. Rotinas
em Ginecologia. Porto Alegre: Artes Médicas; 2001.
2. Camargo MC, Marx AG. Reabilitação no câncer de
mama. São Paulo: Roca, 2000.
3. Kisner C, Colbe L. Exercícios terapêuticos: fundamentos
e técnicas. São Paulo: Manole; 1998.
4. Bland KI, Copeland III EM. A mama: tratamento
compreensivo das doenças malignas e benignas. São
Paulo: Manole; 1994.
5. Halbe HW. Tratado de Ginecologia. São Paulo: Roca;
2000.
6. Rosa Neto F. Avaliação postural em escolares de
primeira a quarta série do primeiro grau. Revista
Brasileira de Ciência e Movimento. São Paulo: FEC do
ABC 1991;5(2):07-11. n
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Normas de publicação Fisioterapia Brasil
A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade
bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos
científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia.
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser
publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em
outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro,
sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas
condições.
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical
journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo
Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as
especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em
inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee
of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão
atualizada de outubro de 2001.
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à
Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou
sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia (novas técnicas,
legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo
de revisão.
5. Relato de caso
São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade
e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um
de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais
ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de
dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes
itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com
todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito,
etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
normas+eventos.pmd
3. Revisão
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Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato
A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em
Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
5. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
6. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a
artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou
trabalho antes de se publicar a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 3 - maio / junho de 2003
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira:
fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com
qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem
estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o
espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser
efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os
artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar
uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM
o nome do artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu
conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e
interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma
parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da
versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as
condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos
ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.
4. Resumo e palavras-chave
(Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os
estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
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- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para
facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos
utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca
Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://
decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e
material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem
ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas
em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto,
local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão,
ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. NewYork: Raven Press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha,
ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula,
número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto.
Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados
de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in
Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da
Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os
autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser
enviados para:
Jean-Louis Peytavin
Atlantica Editora
Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
20021-180 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164
E-mail: [email protected]
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Calendário de eventos
Agosto
16 e 17 de agosto
Simpósio de Ventilacao Mecanica
Hospital Nossa Senhora de Lourdes
São Paulo SP
Informações: (11) 5018 4730
Site: www.cefir.com.br
2003
Junho
7 a 12 de junho
World Confederation for Physical Therapy
14th International Congress and 15th
Meeting
Barcelona, Espanha
Informações: www.wcpt.org
E-mail: [email protected]
General
Outubro
12 a 14 de junho
International Trauma Congress
Durban, South Africa
Dr George E Dimopoulos
Tel: +27 31 2612018 / Fax: +27 31 261 7321
Email: [email protected]
29 de outubro a 1º de novembro
35º Congresso Brasileiro de Ortopedia
e Traumatologia
Simpósio Brasileiro de Fisioterapia
em Ortopedia e Traumatologia
Centro de Convenções de Recife
Olinda PE
Informações: (91) 3423-5245
Fax (91) 3421-2165
E-mail [email protected]
site www.sbot.org.br
18 a 21 de junho
Physical Therapy 2003: Annual Conference &
Exposition of the American Physical Therapy
Association
Washington, DC
Informações: www.apta.org
21 e 22 de junho
I Encontro em Home Care
do Curso de Fisioterapia da UFRJ
Auditório Rodolfo Paulo Rocco – UFRJ
Ilha do Fundão
Informações: (21) 2562 2223
2004
Julho
3 a 5 de julho
XIV Jornada Centro-Oeste de Reumatologia
II Jornada Capixaba de Osteoporose e Osteoartrose
Hotel Ilha do Boi - SENAC - Vitória-ES
Tel/Fax:(27)3345-0921
E-mail: [email protected]
6 e 7 de julho
II Jornada Gaúcha de Fisioterapia Respiratória e
II Jornada de Fisioterapia Respiratória de Passo Fundo
Passo Fundo RS
Home Page: www.sobrafir.com.br
7 a 12 de julho
IX Encontro nordestino de Estudantes de Fisioterapia
II Encontro nacional de Acadêmicos de Fisioterapia
Salvador BA
Tel: (71) 240-8106 / 321-2901 / 9101-8945
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23 e 24 de agosto
Crefito 2 - X Jornada científica – Avanços científicos
em Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Hotel Glória – Rio de Janeiro
Tel: (21) 2568 8060
Site: www.crefito2.org.br
Fevereiro
24 a 28 de fevereiro
International Society for the Study of the Lumbar
Spine 2004 Annual Meeting
Porto, Portugal
Shirley Fitzgerald
Tel: 416-480-4833
Fax: 4l6-480-6055
Email: [email protected]
Março
21-26 de março
8th Congress International Federation
of Manipulative Therapy
International Convention Centre
Cape Town, South Africa
Informações: www.uct.ac.za/depts/pgc/
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Índice
(vol.4, nº4 julho/agosto 2003 - 233~304)
EDITORIAL
Sem modéstias fingidas, Marco Antonio Guimarães da Silva ............................................................................................................ 233
ARTIGOS ORIGINAIS
Distúrbios ortopédicos e traumatológicos: análise prospectiva de 732 casos
em enfermaria de ortopedia, Vagner Wilian Batista e Sá ................................................................................................................ 238
Avaliação da efetividade da palmilha FES na marcha de pacientes hemiplégicos,
Carina Elias Baron, Patrícia Martins de Mattos, Débora Pinheiro Lédio Alves, Sérgio Lianza ................................................................ 243
Avaliação postural e da função respiratória em crianças com rinite alérgica, hipertrofia
Fisioterapia
prática do respirador bucal, Daiane Breda, Helenara Salvati Bertolossi Moreira .......................................... 247
de
adenóide e síndrome
Análise de fibras colágenas através da morfometria computadorizada em feridas cutâneas
de ratos submetidos a irradiação do laser HeNe, Paulo de Tarso Camillo de Carvalho, Nilton Mazzer,
João Fabio R. Siqueira, João Valdivino L. Ferreira, Iandara Scherttert Silva .............................................................................................. 253
Análise da marcha de gestantes: um estudo preliminar, Fabiana Flores Sperandio,
Gilmar Moraes Santos, Mônica Silva de Souza, Camila Costa de Araújo, Daiane d’Agostini Nesi ......................................................... 259
Cinesioterapia na redução da incontinência urinária de pacientes pós-prostatectomizados,
Carina Tárzia Kakihara ................................................................................................................................................................................ 265
REVISÕES
Adaptações biomecânicas na marcha após reconstrução do ligamento cruzado anterior,
Cleilda Ribeiro Tótola ..................................................................................................................................................................................... 271
Avaliação fisioterapêutica na entorse de tornozelo: uma visão curativa e profilática,
André
Faria Russo,
Demóstenes Moreira ........................................................................................................................................................ 276
Ginástica
Laborativa
Fibromialgia: epidemiologia, diagnóstico, fisiopatologia e tratamento fisioterápêutico,
Daniela Cristina Bianchini Nogueira Moreno Perea ....................................................................................................................................... 282
ESTUDO DE CASO
Tratamento fisioterapêutico da capsulite adesiva após distensão hidráulica e manipulação,
Aline Tonin dos Santos, Ligia Maria Facci ................................................................................................................................................... 289
ATUALIZAÇÃO
Desmame da ventilação mecânica, Aline Mara Pacheco, Rhanda Silva Tufi Amim ................................................................... 295
RESUMO . .................................................................................................................................................................................................. 300
NORMAS DE PUBLICAÇÃO . ........................................................................................................................................................... 301
EVENTOS . ................................................................................................................................................................................................ 303
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Fisioterapia Brasil
Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP - São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa)
Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (Univ. Federal de São Carlos - UFSCAR – São Paulo)
Prof. Dr. Paulo Sérgio Siebra Beraldo (Coord. Mestrado Sarah Kubitschek – Brasília)
Grupo de assessores
Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro)
Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná)
Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro)
Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador)
Dra. Luci Fabiane Scheffer Novaes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro)
a
a
Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro)
Prof . Dr . Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia)
Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná)
Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo)
Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro)
Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
Dr. Gordon S. Cummings (Langley-Estados Unidos)
Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro)
Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro)
Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro)
Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde
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Editorial
Sem modéstias fingidas
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Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva
* Editor científico de Fisioterapia Brasil
Pós Doutorado na UFRJ
Professor de mestrado recomendado
pela CAPES
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Hesitando entre continuar a recém iniciada corrida em volta da lagoa e
voltar a casa para buscar a minha câmara fotográfica e desenhar com a luz
mágica daquela tarde de domingo todo entorno deste sítio com o maior IDH
do mundo (!?),opto, com muitas reticências, pela melhoria do meu já combalido
condicionamento físico, dando seqüência à atividade então iniciada. Contava,
também, que os próximos oito quilômetros de corrida me permitiriam, como
já o fazem há vários anos, pensar e equacionar uma série de questões que
ainda reclamavam soluções e finalizações. Dentre todas estas pendências, a
mais urgente debruçava-se sobre a elaboração do editorial da Revista Fisioterapia
Brasil, agora indexada na base de dados LILACS (BIREME)
Tínhamos a certeza de que o grande esforço, feito por toda nossa equipe,
para que a revista mantivesse a periodicidade prometida seria recompensado.
Era também de nosso conhecimento que já existiam revistas de fisioterapia
indexadas, com duas edições anuais. Seríamos, na verdade já o somos, a
primeira revista indexada com seis edições anuais no Brasil. Parece-me que aí
está o grande desafio. Manter as seis edições anuais nos custa muito esforço
e cuidado, para que os artigos possam alcançar a qualidade que uma revista a
ser indexada ou já indexada requer. Mas já temos a qualidade que desejamos?
Ainda não, e sabem disso todos aqueles que, como meus alunos de Doutorado,
Mestrado ou Especialização, compartilharam comigo, especialmente nos dez
últimos anos, a tarefa de, minuciosamente, analisar um artigo científico.
Antes que se façam leituras equivocadas do que acabo de escrever, é bom
esclarecer que pouquíssimas revistas ou periódicos no mundo poderiam escapar
ilesas de uma rigorosa análise. É evidente, que ha vários aspectos a serem
avaliados e, em algumas situações, fazer concessões pode ser o caminho para
iniciar ou manter o escoamento das produções cientificas. Uma dessas
concessões estaria no não questionamento do correto delineamento da
investigação cientifica predecessora do artigo. Podemos encontrar um exemplo
muito claro do que falo no trabalho, já citado por mim em outro editorial,
que o Departamento de Saúde Pública dos Estados Unidos (Agency for Health
Care Policy and Research-ACPH, 1994) realizou sobre a qualidade e eficácia dos
procedimentos diagnósticos e terapêuticos para tratamento da dor lombar. A
metodologia do referido trabalho centrava-se na análise do que estava
publicado sobre o tema em periódicos de diversos países. Para surpresa geral,
à época, nenhum dos procedimentos fisioterapêuticos para dor lombar
encontrava respaldo cientifico, ou seja, não havia evidências que autorizassem
os seus autores a afirmar que o método terapêutico em questão era eficaz.
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Apesar disto, os artigos que traziam estes resultados e procedimentos à
comunidade acadêmica estavam publicados em periódicos de impacto
(indexados pelo Medline).
Observa-se, também, com relativa freqüência, que se estabelecem
relações de causalidade e conclusões de eficácia de terapias baseadas apenas
em uma estatística descritiva. Há uma negligência em relação à estatística
inferencial, sem que esteja estabelecido o nível de significância estatística (valor
p) ou intervalos de confiança. Os vieses de confundimento, aferição e seleção
não são, em muitas situações, neutralizados e nos fazem interpretar com
muita cautela os resultados apresentados pelos autores. A redação é mal
estruturada e não demonstra, em alguns casos, uma coerência contextual,
com títulos geradores de sérios equívocos e completamente desvirtuados do
objetivo do trabalho. Mas, como já dissemos, a situação não se restringe a
este ou àquele periódico, é uma questão generalizada, o que, contudo, não nos
exime de buscar soluções para equacionamento do problema.
Com essas observações, queremos sugerir àqueles que nos privilegiam
e nos elegem como periódico que nos enviem artigos que apresentem – no
caso de trabalhos originais - a estatística inferencial com o respectivo p de
alfa, a autorização do comitê de ética do local onde se realizou o experimento,
e o termo de consentimento dos pacientes que compuseram os grupos
amostrais (para casos de aplicação de técnicas terapêuticas em seres humanos).
Embora as normas de Vancouver (conjunto de regras seguidas pela
maior parte das revistas indexadas) não estabeleçam posições para os artigos
de revisão, estamos orientando aos que nos enviam estes tipos de artigos, que
formatem os seus trabalhos com os seus conteúdos distribuídos em uma
introdução, um desenvolvimento e uma conclusão, respectivamente
enumerados com romano.
Poderíamos seguir adiante comentando os problemas mais usuais, mas
basta de críticas, sugestões e análises e suportemos cada coisa a seu tempo,
como tão bem nos ensina Schopenhauer em a Arte de Ser Feliz. Que nada nos
prive, neste momento, de curtir a felicidade e o prazer de sermos uma revista
indexada. Não foi à toa que busquei para esse título algumas palavras perdidas
que li em um dos textos de Cinco Escritos Morais (Umberto Eco) ou em a
Bagagem do Viajante (José Saramago), dois livros que sempre releio, com grande
prazer, em minhas intermináveis viagens aéreas. Não estou bem certo se
essas palavras vem do ilustre e erudito filho de Piemonte ou do Nobel de
Azinhaga, ainda que me incline a pensar de que tenham sido escritas com a
pena lusitana...
Sem modéstias fingidas, que aspiremos à posição número um no cenário
científico-editorial mundial da fisioterapia. Chegaremos lá. Acreditem.
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Fisioterapia Brasil selecionada pela Bireme
para indexação na LILACS
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A Fisioterapia Brasil vai completar três anos contínuos de informação
científica em revista bimestral no próximo número. E, com grande satisfação
e alegria, obtivemos a indexação na base de dados LILACS (Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde) do Centro LatinoAmericano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, coordenado
no Brasil pela BIREME*.
Hoje, no Brasil, são apenas quatro periódicos de fisioterapia que estão
indexados na LILACS, sendo que o único com freqüência bimestral é a Fisioterapia
Brasil. Este é o grande diferencial, pois editar seis números de uma revista
científica por ano equivale em relação aos outros periódicos a três anos de
publicação, pois todos são semestrais. Não pretendemos diminuir a importância
de nenhum destes veículos, mas sim realçar o nosso que por publicar uma
média de 10 artigos científicos em cada número atinge ao ano mais de 60
artigos, permitindo uma divulgação de pesquisa em fisioterapia como nunca foi
feita em periódicos no Brasil. Já mais de 300 profissionais da fisioterapia
participaram de nossa revista desde a sua criação em setembro de 2000.
O sucesso de nossa publicação permitiu que lançássemos a revista
Fisioterapia IberoAmérica no XIV Congresso Internacional de Fisioterapia que
aconteceu em Barcelona, Espanha, de 7 a 12 de junho passado. A
internacionalização de uma publicação brasileira vai permitir a difusão de
artigos de pesquisadores brasileiros para a comunidade de língua espanhola.
É importante lembrar, quanto a este congresso, que a participação de
Brasileiros foi a terceira em número de trabalhos apresentados, demonstrando
o quanto se produz em fisioterapia no Brasil.
Os editores
*Mais informações sobre a Bireme: http//www.bireme.br
ERRATUM
No artigo “Propriedades físicas e transporte do muco respiratório” de Renata
Claudia Zanchet, publicado na edição de março-abril de 2003 de Fisioterapia Brasil
(vol. 4, número 2, p. 129-132), um erro de símbolo faz que a sentença seguinte seja
incompreensível. Leia-se:
“O ângulo de adesão (θ) e a tensão superficial do muco (γLV) podem ser
utilizados para o cálculo do trabalho de adesão entre o muco e a superfície sólida:
Wad = γLV (1 + cos θ).” (p.130, coluna 2).
Qualquer dúvida, entrar em contato com o autor: [email protected]
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Artigo original
Distúrbios ortopédicos e traumatológicos: análise
prospectiva de 732 casos em enfermaria de ortopedia
Orthopedic and traumatic disturbances: prospective analysis
of 732 cases in orthopedic infirmary
Vagner Wilian Batista e Sá, Ms.
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Fisioterapeuta do Hospital Estadual Rocha Faria – RJ, Professor UCB, MSB e UNIGRANRIO
Palavras-chave:
Distúrbios traumatoortopédicos, epidemiologia.
Resumo
As doenças do sistema musculoesquelético são comuns na prática clínica do
Cirurgião Traumato-Ortopédico e do Fisioterapeuta. O objetivo deste trabalho foi
conhecer a prevalência dos distúrbios traumato-ortopédicos nos pacientes internados
na enfermaria de ortopedia do Hospital Estadual Rocha Faria (Rio de Janeiro), apurando:
faixa etária, sexo e estado civil, região e lado acometido, tipo de distúrbio diagnosticado,
principais etiologias e opção terapêutica. Foi utilizado o delineamento de estudo
epidemiológico descritivo, prospectivo, de prevalência, por um período de doze meses
(dezembro de 2001 a novembro de 2002). Os dados foram coletados diariamente por
fisioterapeuta, e retirados do prontuário do paciente, quando o mesmo era admitido
na enfermaria. Foram incluídos 732 pacientes no estudo, tendo como maior prevalência
a terceira década de vida com 176 pacientes (24,0% ± 3% p < 0,05); o sexo masculino,
440 pacientes (60,1% ± 4% p < 0,05); solteiros, 325 pacientes (44,4% ± 4% p < 0,05);
residentes de Campo Grande, 325 pacientes (44,4% ± 4% p < 0,05); com fratura de
quadril, 191 casos (24,5% ± 3% p < 0,05); provocada por queda, 273 casos (37,3% ±
4% p < 0,05); submetidos a tratamento cirúrgico.
Recebido em 8 de março de 2003; aceito em 15 de julho de 2003.
Endereço para correspondência: Rua Manoel Cabral 75 casa 02, 23093-680 Campo Grande RJ, E-mail: [email protected]
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 4 - julho / agosto de 2003
Key-words:
Traumatologic and orthopedic
disturbances, epidemiology.
Abstract
Diseases of the system musculoskeletal are common in the clinical practice of
Orthopedical Surgeon and Physical therapist. The purpose of this study was to know
to prevalence of the orthopedical disturbances in the patients interned in the infirmary
of the Rocha Faria Hospital (Rio de Janeiro), hurrying: age group, sex, area and attacked
side, type of diagnosed disturbance, main etiology and therapeutic option. This
prospective epidemic study of prevalence was used for a period of twelve months,
from December 2001 to November 2002. The data were collected daily by physical
therapist, or collected from entry data when the patient was admitted in the infirmary.
732 patient were included in the study, tends as larger prevalence the third decade of
life (24,0% ± 3% < 0,05); male (60,1% ± 4% < 0,05); single (44,4% ± 4% < 0,05);
residents from Campo Grande (44,4% ± 4% < 0,05); with hip fracture (24,5% ± 3%
< 0,05); provoked by fall (37,3% ± 4% < 0,05); submitted to surgical treatment.
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Introdução
O Hospital Estadual Rocha Faria (HERF) foi fundado
em agosto de 1933, estando na época, como chefe do
governo provisório, o Dr. Getúlio Dornelles Vargas [1].
Foi destinado a prestar assistência médico-cirúrgica à
população de Campo Grande e zona rural do município
do Rio de Janeiro, atendendo hoje, um grande contingente
de pacientes, nas mais diversas condições clínicas,
incluindo os serviços de cirurgia Traumato-Ortopédica e
Fisioterapia.
As doenças do sistema musculoesquelético são muito
comuns na prática clínica seja do Cirurgião Ortopédico, seja
do Fisioterapeuta, constituindo condições por vezes
incapacitantes e dispendiosas para a economia [2].
Sievers [3] em estudo realizado na Finlândia constatou
que 41% das pessoas de uma amostra de pacientes com idade
acima de 30 anos apresentavam uma ou mais síndromes
musculoesqueléticas. No Canadá estima-se que haja um
milhão de pessoas com problemas físicos atribuídos a
condições musculoesqueléticas [4].
Devido à grande relevância dos distúrbios ortopédicos
e traumatológicos na prática médica e fisioterapêutica, este
trabalho objetiva conhecer a prevalência dos distúrbios
traumato-ortopédicos nos pacientes internados na
enfermaria de ortopedia do HERF no período de 12 meses,
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apurando: faixa etária, sexo e estado civil, região e lado
acometido, tipo de distúrbio diagnosticado, principais
etiologias e opção terapêutica.
Materiais e Métodos
Foi utilizado o delineamento de estudo epidemiológico
descritivo, prospectivo, de prevalência, por um período de
doze meses (dezembro de 2001 a novembro de 2002). Os
dados foram coletados diariamente por fisioterapeuta, e
retirados do prontuário do paciente, quando o mesmo era
admitido na enfermaria de ortopedia do hospital estadual
Rocha Faria, localizado no município do Rio de Janeiro. Caso
existissem dúvidas, as mesmas eram solucionadas diretamente
com o paciente, ortopedista, equipe de plantão ou familiar
responsável.
Os critérios de agrupamento dos dados seguiram o
seguinte:
a) faixa etária: de 18 a 29 anos; 30 a 39 anos; 40 a 49
anos; 50 a 59 anos; 60 a 69 anos; 70 a 79 anos e acima de 80
anos.
b) Sexo e Estado Civil
c) Região e lado acometido
d) Tipo de distúrbio
e) Procedimento terapêutico
f) Principais etiologias
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 4 - julho / agosto de 2003
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Foram excluídos da amostra pacientes que não
apresentavam distúrbios traumato-ortopédicos, mas
necessitavam estar internados na enfermaria de ortopedia
por ocasião de vaga, e pacientes com prontuário incompleto,
cujas dúvidas não puderam ser esclarecidas.
Os dados foram tratados através de análise descritiva
utilizando-se o programa de estatística SPSS 10.0 for
Windows e planilha Excel da Microsoft.
Resultados
Um total de 732 pacientes foi incluído no estudo. Os
resultados serão demonstrados por meio de estatística
descritiva e tabelas, para otimizar a interpretação dos dados.
Com relação a idade, a terceira década, de 18 a 29 anos,
ocupou o primeiro lugar com 176 pacientes (24,0% ± 3%
p < 0,05), seguindo em ordem decrescente: a quinta década
com 130 pacientes (17,8% ± 3% p < 0,05); quarta década
102 pacientes (13,9% ± 3% p < 0,05); sétima década 88
pacientes (12,0% ± 2% p < 0,05); sexta década 81 pacientes
(11.1% ± 2% p < 0,05); acima de 80 anos de idade, 78
pacientes (10,6% ± 2% p < 0,05), e oitava década com 77
pacientes (10,5% ± 2% p < 0,05).
Quanto ao sexo, houve predomínio do sexo masculino,
conforme Tabela I.
Tabela I - Distribuição da amostra quanto ao sexo.
SEXO
Freqüência
%
Feminino
292
39.9
Masculino
440
60.1
Total
732
100.0
Dos 732 pacientes, 440 eram do sexo masculino (60,1%),
enquanto 292 do sexo masculino (39,9%).
Estado civil: em primeiro lugar, solteiros com 325
pacientes (44,4% ± 4% p < Estado civil: em primeiro lugar,
solteiros com 325 pacientes (44,4% ± 4% p < 0,05); segundo
lugar os casados, 268 pacientes (36,6% ± 3% p < 0,05);
terceiro lugar viúvos, 115 pacientes (15,7% ± 3% p < 0,05),
e em quarto lugar divorciados, 24 pacientes (3,3% ± 1% p <
0,05).
Quanto ao lugar de origem do paciente, o bairro de
Campo Grande representou a maior parte da amostra, 325
(44,4% ± 4% p < 0,05). Ver Tabela II para outros bairros.
A região do corpo, bem como o lado acometido, também
foi avaliada, segundo as tabelas III e IV.
Quanto ao tipo de procedimento terapêutico, o cirúrgico
obteve a maior prevalência, com 719 (98%) dos casos, e
apenas 13 pacientes (2,0%) elegíveis para o tratamento
conservador.
A etiologia e distúrbios diagnosticados na amostra, estão
nas tabelas V e VI.
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Tabela II - Distribuição da amostra quanto ao lugar de origem.
Bairro
Campo Grande
Santa Cruz
Santíssimo
Guaratiba
Nova Iguaçu (município)
Inhoaíba
Bangu
Pacientes
325
58
39
33
31
26
24
%
44.4
7,9
5,3
4,5
4,2
3,6
3,3
Itaguaí (município)
Paciência
Sepetiba
Cosmos
Senador Camará
Seropédica (município)
KM 32 ao 40
Vasconcelos
23
22
20
18
16
16
12
10
3,1
3
2,7
2,5
2,2
2,2
1,6
1,4
Pedra
Realengo
Bel Ford Roxo (município)
Maricá (município)
Duque de Caxias (município)
Jabour
Jacarepaguá
Mangaratiba (município)
10
6
4
4
2
2
2
2
1,4
0,8
0,5
0,5
0,3
0,3
0,3
0,3
Padre Miguel
Parati (município)
Ramos
Mangueira
Araruama (município)
Bento Ribeiro
Colégio
Cordovil
2
2
2
1
1
1
1
1
0,3
0,3
0,3
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
Guadalupe
Mal. Hermes
Méier
Minas Gerais (estado)
Nilópolis (município)
Olária
Palmares
Penha
População de Rua
1
1
1
1
1
1
1
1
1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
1
1
1
1
1
1
1
732
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
0,1
1000
Queimados
Ricardo de Albuquerque
Rocha Miranda
São João Meriti
Vaz Lobo
Vila Isabel
Vila Kennedy
Total
21/08/03, 19:24
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 4 - julho / agosto de 2003
Tabela III - istribuição da amostra quanto à região do corpo acometida.
Região
quadril
perna
coxa
tornozelo
antebraço
mão
joelho
braço
cotovelo
pé
punho
ombro
face
bacia
cintura escapular
coluna
crânio
Total
Freqüência
191
112
108
82
54
45
42
35
30
26
16
13
12
9
2
1
1
779
%
24,5
14,4
13,9
10,5
6,9
5,8
5,4
4,5
3,9
3,3
2,1
1,7
1,5
1,2
0,3
0,1
0,1
100
Tabela IV - Distribuição da amostra quanto ao lado do corpo acometido.
Lado
Direito
Esquerdo
Ambos
Total
Freqüência
367
340
25
732
%
50,2
46,4
3,4
100
Tabela V - Freqüência das principais etiologias distribuídas na amostra.
Etiologia
Queda própria altura
Acidente automobilístico
Queda de altura
Atropelamento
Acidente motociclístico
Projétil de arma de fogo (PAF)
Infecção
Material perfuro-cortante
Trauma direto
Acidente esportivo
Agressão física
outros
Total
Freqüência
273
96
91
86
56
22
21
21
13
11
10
32
732
%
37,3
13,1
12,4
11,7
7,7
3
2,9
2,9
1,8
1,5
1,4
4,4
100
Tabela VI - reqüência dos distúrbios distribuídos na amostra.
Diagnóstico
Freqüência
Fratura
616
Falha ou retirada material síntese
23
Osteomielite
18
Pseudoartrose
17
Luxação
15
Abscesso
14
Ferida corto-contusa
9
Amputação traumática
6
Complicações pós-operatórias
4
Ruptura muscular
3
Osteoartrose
3
Desenluvamento
2
Osteocondrose
2
Discrepância dos membros
1
Total
732
artigo 01.pmd
241
%
84,2
3,1
2,5
2,3
2
1,9
1,2
0,8
0,5
0,4
0,4
0,3
0,3
0,1
100
241
Discussão
O serviço de traumato-ortopedia do HERF atende
pacientes em nível ambulatorial e de emergência. A enfermaria
de ortopedia recebe pacientes de ambos os sexos, que
necessitam de tratamento cirúrgico eletivo, emergencial ou
transferidos de outras unidades médicas. De acordo com os
resultados encontrados neste estudo, em sua maioria, são
pacientes adulto-jovem que se encontram na sua etapa mais
produtiva, ou seja, na terceira década de vida. A
predominância do sexo masculino está diretamente associada
a uma maior atividade e exposição aos fatores de riscos
traumáticos neste período da vida, principalmente ligados a
automóveis e motocicletas abundantes na região. Estes
achados são similares aos encontrados por Zurita e Bernabé
[5], que realizaram um estudo epidemiológico do serviço de
ortopedia do Hospital Geral do México no período de 1985
a 1992. Os autores encontraram a terceira década de vida,
ocupando o primeiro lugar, não encontrando predomínio
quanto ao sexo dos pacientes.
O estado civil também foi levado em conta, havendo uma
maior prevalência dos indivíduos solteiros que nem sempre
estava associado com a idade. Em muitos casos, o indivíduo
apresentava um relacionamento estável, constituindo uma
família, porém para fins deste estudo, foi considerado o
documento de estado civil. Acreditamos que se fosse
abordado de maneira diferente, os resultados seriam
diferentes.
A maioria dos pacientes residia no bairro de Campo
Grande, o mesmo bairro do hospital, porém outros bairros
da cidade do Rio de Janeiro e até de outros municípios
procuravam pelo serviço de traumato-ortopedia (Tabela
II). Grande parte da Zona Oeste do município do Rio de
Janeiro é atendida pelo HERF como demonstrou a
pesquisa, sendo sobrecarregado por pacientes advindo de
outras regiões.
A região do corpo com maior prevalência foi o quadril,
cerca de 191 casos (24,5%), quase sempre associado a idosos
com episódios de queda da própria altura, ou jovens vítimas
de acidente automobilístico (tabela V). Já quanto ao lado
do corpo acometido, não houve diferença significativa
(tabela IV).
Dentre as condições traumato-ortopédicas, a mais
encontrada neste estudo foi a fratura, cerca de 616 casos
(84.2%). Isto explica porque 98% dos pacientes internados
(719 casos) admitidos na enfermaria receberam tratamento
cirúrgico, enquanto que apenas 13 (2,0%) receberam
tratamento conservador.
Conclusões
Os distúrbios traumato-ortopédicos mais prevalentes na
enfermaria de ortopedia do HERF, bem como o perfil dos
internos durante doze meses foram:
21/08/03, 19:24
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 4 - julho / agosto de 2003
242
1. Pacientes residentes no bairro de Campo Grande;
2. A terceira década de vida;
3. Uma predominância para o sexo masculino;
4. Estado civil solteiro;
5. As fraturas de quadril provocadas por queda e acidentes
automobilístico/motociclístico;
6. A escolha do método cirúrgico para resolução do
problema.
Estudos futuros deverão abranger os aspectos profiláticos
e terapêuticos a serem aplicados na população deste estudo.
Referências
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Superintendência de Serviços Médicos (SUSEME).
2.
3.
4.
5.
Assistência pública Guanabara: 80 anos de história. 1972.
p.409.
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musculoesquelética. In: Bennet JC. Plum F. Cecil tratado
de medicina interna. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
1997. p. 1593-7.
Sievers K, Heliovara M et al. Musculoskeletal disorders and
disability in Finland. Scand J Rheumatol 1988;67:86-89.
Wigle DT. Canada’s health status: a public health
perspective. Risk Analysis 1995;15:693-8.
Zurita CMM, Bernabé PAB. Estudio epidemiológico.
Pacientes internados en el servicio de ortopedia, pabellón
106, del Hospital General de México, de septiembre de
1985 a febrero de 1992. Rev Mex Ortop Traum
1998;12:416-20.n
Central de atendimento, de segunda a domingo:
(21) 2563-0000 • e-mail: [email protected]
artigo 01.pmd
242
21/08/03, 19:24
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 4 - julho / agosto de 2003
243
Artigo original
Avaliação da efetividade da palmilha FES na marcha
de pacientes hemiplégicos
Evaluation of innersoles (FES) effectiveness
in hemiplegic patients gait
Carina Elias Baron*, Patrícia Martins de Mattos*, Débora Pinheiro Lédio Alves**, Sérgio Lianza***
○
○
○
○
○
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○
○
○
○
○
○
*Fisioterapeuta, **Supervisora do Curso de Especialização em Fisioterapia Hospitalar – SRSCSP, ***Diretor – SRSCSP, Trabalho realizado
no Serviço de Reabilitação da Santa Casa de São Paulo (SRSCSP)
Palavras-chave:
Eletroestimualção funcional
(FES), hemiplegia, órtese
elétrica funcional (OEF).
Key-words:
Functional electrical stimulation
(FES), hemiplegia, functional
electrical orthesis.
Resumo
Com o intuito de avaliar a marcha de pacientes hemiplégicos utilizando a palmilha
FES à curto prazo, elaboramos um treinamento em 15 sessões. Participaram desta
pesquisa, 7 pacientes, sendo 5 do sexo masculino e 2 do sexo feminino, os quais, além
do treino e avaliação com a órtese elétrica funcional (OEF), foram submetidos à uma
avaliação através da escala visual de satisfação quanto ao uso da palmilha FES.
Abstract
With the objective to assess the gait of hemiplegic patients making use of innersoles
(FES), we have organized a training in 15 meetings. Seven patients took part in this
research, 5 male and 2 female, and besides training and evaluation with the functional
electrical orthesis, they also been submitted to a visual satisfaction scale concerning the
innersoles (FES).
Artigo recebido em 24 de abril de 2003; corrigido em 1 de agosto; aceito em 10 de agosto de 2003.
Endereço para correspondência: Carina Baron, Centro de Reabilitação, Rua Dr. Cesário Mota Júnior, 112, Tel: (11)3226-7000,
E-mail: [email protected]
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243
21/08/03, 19:25
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 4 - julho / agosto de 2003
244
Introdução
O acidente vascular encefálico (AVE) é uma incapacidade
muito freqüente, ocupando mais da metade de todas as vagas
em muitos centros de reabilitação [1]. Acarreta seqüelas
motoras e cognitivas importantes que predispõe à instalação
de deformidades, dor e insegurança, e alteração de equilíbrio,
dificultando desta forma, a capacidade funcional [1-4].
Apesar dessas complicações pós-AVE, 70% dos pacientes
voltam à andar, mas estes, geralmente, apresentam alterações
da marcha, realizando movimentos compensatórios,
adquirindo posturas anormais, culminando com o aumento
do gasto energético e diminuição da produtividade [5,6].
Para melhorar o padrão da marcha, auxiliando a
dorsiflexão e eversão do pé no caminhar, substituindo a
função motora prejudicada, tem-se utilizado a palmilha
Functional Electrical Stimulation (FES) ou como também
chamada Órtese Elétrica Funcional (OEF), que possue
vantagens em relação às órteses convencionais, por auxiliar
ativamente o paciente. Este é um método de eletroterapia
que produz contrações musculares com objetivos funcionais
[7,8,9], que vem se mostrando um meio eficiente na
reorganização do movimento [10], através do
recondicionamento muscular [5], da redução da espasticidade
[11] , do ganho da amplitude de movimento, da melhora do
controle motor [12], da coordenação e auxílio na
propriocepção [13].
A órtese elétrica é composta por uma palmilha que fica
acoplada dentro do calçado do indivíduo, e dois eletrodos de
superfície que são posicionados no ponto motor do músculo
tibial anterior (nervo fibular). Dessa forma, os efeitos são
conseguidos através da despolarização, pelo FES, das fibras
do nervo fibular, gerando uma contração muscular com
movimento articular na região estimulada [14,15,9].
Com o objetivo de avaliar a efetividade da palmilha FES
no processo de recuperação funcional da marcha em um
programa terapêutico de curta duração, idealizamos este
treinamento em 15 sessões.
Os parâmetros utilizados neste aparelho são: fase de
subida e descida 200 ms, frequência 40 hz e a duração do
pulso 0,2 ms, sendo a onda bifásica e intermitente.
Primeiramente foi realizado um teste com a palmilha
FES para verificação da contração muscular para a inclusão
ou não do paciente no trabalho. Todos aqueles que
apresentavam deformidades instaladas em flexão plantar
foram excluídos.
Os cálculos de tempo, número de passos, velocidade
foram anotados em um percurso de 10 metros sendo
realizados com e sem o uso da palmilha FES. Os cálculos da
frequência cardíaca inicial e final foram realizados em 100
metros, com e sem a palmilha.
Após essa avaliação os pacientes foram submetidos a 15
sessões para a realização do treino de marcha com a palmilha
FES, com uma freqüência de 2 vezes por semana e 15 minutos
de duração cada sessão.
Durante as sessões o paciente foi orientado a realizar
as fases da marcha em frente ao espelho, de maneira a
torná-la mais funcional possível evitando movimentos
compensatórios e padrões anormais, melhorando com isso,
o esquema corporal. Ao decorrer o treinamento, foram
criadas dificuldades para o paciente, como transpor vários
tipos de obstáculos, procurando melhorar equilíbrio,
coordenação, além de agilidade e auto-confiança. Após as 10
primeiras sessões evoluímos o treino para rampas e escadas.
Ao término do período de treinamento foi entregue ao
paciente uma escala visual de satisfação quanto ao uso da
palmilha FES, composta de uma linha horizontal dividida
em 0-25%, 25-50%, 50-75%, 75-100%, que representavam
respectivamente os resultados ruim, regular, bom e ótimo,
e esses pacientes foram submetidos a uma reavaliação.
Resultados
Inicialmente os dados colhidos foram tabulados utilizando
o MS-Excel e interpretados até obtermos as outras tabelas e
os gráficos que seguem abaixo.
Material e método
Quadro I - Apresentação dos dados.
Participaram da pesquisa 7 pacientes (2 mulheres e 5
homens), idade média de 60 anos e 4 meses (DP = 8 anos e
6 meses), com tempo de lesão em média de 6 anos,
diagnóstico clínico de AVC e topográfico de hemiplegia,
apresentando déficit no movimento de dorsi-flexão do
tornozelo que dificultava a marcha.
Para esta pesquisa foi utilizado um eletroneuro-estimulador
(palmilha FES) da marca Kroman - KC 37 palmilha, gel de
eletrocardiograma, 2 eletrodos de borracha de 3 cm de diâmetro
e 2 faixas elásticas com velcro para prender os 2 eletrodos na
perna do paciente, em região ântero-lateral da perna, em terço
proximal e lateral, logo abaixo da cabeça da fíbula (ventre
muscular do músculo tibial anterior).
Fonte: dados do pesquisador
artigo 02.pmd
244
Nome
P.M.F.
G.D.F.
M.O.S.
J.B.
L.B.S.
P.L.
M.J.
Sexo
Masculino
Masculino
Feminino
Masculino
Masculino
Masculino
Feminino
Idade
56
70
67
56
70
53
50
Tempo de AVE
2
2
3
2
18
6
11
Hemicorpo
Direito
Direito
Esquerdo
Direito
Esquerdo
Direito
Esquerdo
As avaliações dos gráficos foram feitas de forma
comparativa entre avaliação final e inicial.
O Gráfico I mostra que a maioria dos pacientes teve uma
diminuição da velocidade da marcha ao utilizar a palmilha
(57,14%).
21/08/03, 19:25
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 4 - julho / agosto de 2003
Gráfico I - Velocidade da Marcha com Palmilha.
245
Gráfico III - Tempo Gasto para Percorrer o Percurso com a Palmilha
FES.
Fonte: Dados do pesquisador.
Fonte: Dados do pesquisador.
A velocidade inicial apresenta um DP = 0,16 m/s, a
velocidade final apresenta DP = 0,23 m/s. Dessa forma,
temos um valor p = 0,896.
O gráfico II mostra que, quanto ao número de passos
para cumprir uma mesma distância, houve um mesmo
resultado entre os pacientes que apresentaram aumento ou
diminuição do número de passos (42,85%). Os demais, não
demonstraram alteração neste item (14,28%).
Fig. 1 - Paciente transpondo obstáculos
Gráfico II - Número de Passos com a Palmilha
Fig. 2 - Treino de marcha na escada
Fonte: Dados do pesquisador.
Discussão
O gráfico III mostra que a maioria dos pacientes
(57,14%) gastou menos tempo para percorrer um
determinado percurso depois de realizar as 15 sessões de
treino de marcha com a palmilha FES. Sendo valor p =
0,395.
artigo 02.pmd
245
Carvalho [5] e Burridge [16], analisando a marcha
hemiplégica com estimulador elétrico de superfície, observou
que o estimulador poderia causar redução da velocidade da
marcha, ao ser utilizado pela primeira vez, mas que, a partir
21/08/03, 19:25
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 4 - julho / agosto de 2003
246
do terceiro mês de adaptação a OEF, existiria uma melhora
significativa de velocidade na marcha com a palmilha FES.
Talvez aí se justifica o fato de que em nosso estudo
encontramos apenas 42,86% dos pacientes apresentando esse
aumento de velocidade.
Cracanin [17] diz que a FES realiza um reforço da autoimagem, conseguindo uma melhor percepção do
seguimento afetado e consequentemente, melhor
rendimento. Isto é comprovado em nossa pesquisa pela
maioria dos pacientes (57,14%) terem opinado como bom
o uso da palmilha, contra 42,86% dos pacientes que acharam
o uso regular ou mau.
Com relação ao número de passos dados num certo
intervalo de tempo, no ínicio do treinamento e ao final, houve
empate entre os pacientes que aumentaram o número de
passos e aqueles que diminuíram o número de passos, em
42,85%. Também houve pacientes com o número de passos
inalterado, sendo estes 14,28%.
Conclusão
Apesar dos dados apontarem uma melhora quantitativa
não significativa, notamos, através da análise observacional
da marcha (AOM), que todos os pacientes obtiveram melhora
dos movimentos de dorsiflexão do tornozelo e eversão do
pé; nenhum paciente apresentou piora do padrão da marcha
com o uso da OEF durante a AOM.
Os autores concluem que no período de treinamento de
dois meses a utilização da OEF é um método eficaz no
estabelecimento de um padrão de marcha favorável para
pacientes hemiparéticos, proporcionando estabilização
articular e reduzindo movimentos compensatórios anormais
durante a deambulação.
A técnica de FES vem, assim, somar-se ao arsenal de
meios terapêuticos já existentes e deverá ser utilizada em
conjunto com estes recursos, compondo um programa
completo de reabilitação.
Referências
1. Spósito MMM, Condratcki S. Hemiplegia por Acidente
Vascular Cerebral – Tratamento da espasticidade de
membros superiores através de bloqueio com toxina
botulínica do tipo A – Botox. Med Reabil 1988;47.
2. Lianza S. Estimulação Elétrica Funcional - FES e
artigo 02.pmd
246
Reabilitação. 3 ed. São Paulo: Atheneu;1993.
3. Lundy-Ekman L. Neurociência – Fundamentos para
reabilitação. 1ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2000.
4. Rowland LP. Merrit –Tratado de neurologia. 9ªed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997.
5. Carvalho FN, Fonseca APC. Avaliação da marcha de
pacientes hemiparéticos em tratamento com órtese elétrica
funcional. Med Reabil. São Paulo 2001;56:5-10.
6. Davies PM. Passos a seguir – Um manual para o
tratamento da hemiplegia no adulto. 1ª ed. São Paulo:
Manole; 1996.
7. Lianza S. Fisioterapia em movimento 1997;10(1):70-71.
8. Fonseca APC, Fonseca GA, Araújo DP. A utilização da
órtese elétrica funcional KM 25 em pacientes
hemiparéticos. Med Reabil 1996;43.
9. Santos AC Silva Jr. DP, Müller AF, Thomé PRO, Sanches
PRS, Alves ME, Bortolozzo ME. Equipamentos para
estimulação elétrica funcional. Acta Fisiátrica
1995;2(3):18-23.
10. Sobrinho JBR, Battistella LR. Hemiplegia – Reabilitação.
São Paulo: Atheneu; 1992.
11. Wang RY, Tsali MW, Chan RC. Effects of surface spinal
cord stimulation on spasticity and quantitative assesment
of muscle tone in hemiplegic pacients. Am J Phys Rehab
1998;77(4):282-287.
12. Waters RL, Mcneal DR, Faloon WB. Functional electrical
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13. Weingharden H, Zeilig G, Heruti R, Shemesh Y, Ohry
A, Dar A, Katz D, Nathan R, Smith A. Hybrid functional
electrical stimulation orthosis system for the upper limb.
Am J Phys Med Rehabil 1998;77:276-281.
14. Stokes M. Cash – Neurologia para fisioterapeutas. 1ª ed.
São Paulo: Premier. 1998.
15. Lianza S. Estimulação Elétrica Funcional (FES) –
Contribuição para a recuperação motora visando
ortostatismo e locomoção em pacientes com lesão
medular. [tese]. Rio de Janeiro: UNI-Rio; 1990.
16. Burridge J, Taylor P, Hagan S, Swain I. Experience of
clinical use of the odstock dropped foot stimulator. Artif
Organs 1997;21(3):254-260.
17. Cracanin F. Aplicação de corrente de baixa frequência
em medicina física e reabilitação com ênfase especial em
estímulo elétrico funcional. Med Reabil 1988;20.n
21/08/03, 19:25
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 4 - julho / agosto de 2003
247
Artigo original
Avaliação postural e da função respiratória em crianças
com rinite alérgica, hipertrofia de adenóide e síndrome
do respirador bucal
Postural and breathing system evaluation in children with
allergic rhinitis, adenoids and mouth breathing syndrome
Daiane Breda*, Helenara Salvati Bertolossi Moreira**
○
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*Fisioterapeuta, **Supervisora do Curso de Especialização em Fisioterapia Hospitalar – SRSCSP, ***Diretor – SRSCSP, Trabalho realizado
no Serviço de Reabilitação da Santa Casa de São Paulo (SRSCSP)
Palavras-chave:
Rinite alérgica, hipertrofia
de adenóide, síndrome
do respirador bucal, avaliação
postural.
Resumo
A rinite alérgica e a hipertrofia de adenóide são condições que levam a obstrução
nasal, pelo fator inflamatório (rinite) e mecânico (adenóide). Dessa forma, a criança que
possui estas características acaba desenvolvendo a síndrome do respirador bucal. Essa
síndrome causa alterações em vários sistemas, como alterações crânio-faciais, bucais,
nos órgãos fonoarticulatórios, alterações psíquicas, posturais e da função respiratória,
além de outras. O objetivo desse trabalho é verificar as alterações posturais e da função
respiratória em 15 crianças entre a faixa etária de 5 a 10 anos, com síndrome do respirador
bucal. Foi utilizada uma ficha, para avaliar a função respiratória e a postura. Os resultados
encontrados estiveram de acordo com a literatura, como o aumento da lordose cervical
e da cifose torácica, protusão de ombros, abdome saliente, hiperlordose lombar e joelho
em hiperextensão. Houve também diminuição do pico de fluxo expiratório e da
expansibilidade torácica que foram analisados estatisticamente pelo teste de Tukey.
Através desses dados pode-se concluir que o fisioterapeuta tem papel importante para o
respirador bucal, pois é capaz de corrigir sua postura alterada e melhorar a função
respiratória.
Artigo recebido em 13 de maio de 2003; aceito em 15 de julho de 2003.
Endereço para correspondência: Daiane Breda, Rua Maranhão, 2190 Centro 85806-050 Cascavel PR, Tel: (45) 224-6007,
E-mail: [email protected]
artigo 03.pmd
247
21/08/03, 19:26
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 4 - julho / agosto de 2003
248
Key-words:
Allergic rhinitis, adenoid
hypertrophy, mouthing
breathing syndrome, postural
evaluation.
Abstract
Allergic rhinitis and adenoids hypertrophy are conditions that can cause nasal
obstruction, because of the inflammatory process (rhinitis) and mechanical (adenoids).
Children that have these characteristics develop mouthing breathing syndrome. This
condition can change many systems, like craniofacial morphology, buccal cavity, phonic
organs, psychic alterations, postural and breathing system alterations and others. The
aim of this work was to check what are the posture breathing system alterations in 15
children 5 to 10 years old, with this syndrome. The results were in accordance with the
literature, for example the increase of cervical lordosis and thoracic ciphosis, shoulders
salient, abdomen prominent, increase of lumbar lordosis and hyperextension of knees.
It was found a decrease of the peak flow rate and thoracic expansibility, statistically
analyzed with the Tukey test. We can conclude that the physical therapist has an important
function for the mouth breather patient, because can correct the posture and improve
the respiratory function.
○
○
○
○
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○
○
○
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○
○
Introdução
A rinite é definida como uma inflamação da mucosa de
revestimento nasal, caracterizada pela presença de um ou mais
dos seguintes sintomas: congestão nasal, rinorréia, espirros
e prurido nasal [1,2,3]. A rinite pode ser classificada em
alérgica e infecciosa. No caso da alérgica ela pode ter
características sazonais ou perene
. Segundo Abrahão et al. [4], há um espectro de
manifestações que variam conforme a gravidade, o que
dificulta a definição da epidemiologia. Castro et al. [2] cita
que 15 a 20% da população brasileira sofre de rinite alérgica.
A patogenia da rinite alérgica é explicada pelo
contado dos antígenos com o paciente alérgico, que contém
quantidade aumentada de imunoglobulina E (IgE). Esse
processo leva a ativação dos mastócitos que liberam histamina
e desencadeia-se o processo inflamatório com a formação
de prostaglandinas e leucotrienos. A congestão nasal ocorre
pela vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular, a
rinorréia pelo aumento de secreção e os espirros e o prurido
nasal pela estimulação de nervos aferentes [5].
O diagnóstico inicia-se pela história clínica. Deve
se investigar o meio ambiente, fatores ocupacionais e história
familiar. Abrahão et al. [4], cita que crianças com história de
pai e mãe com rinite alérgica, têm 68% de possibilidade de
desenvolver rinite alérgica antes dos 10 anos de idade. Podese também realizar alguns exames como rinoscopia,
laringoscopia, testes cutâneos, dosagem IgE [5]. Segundo
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Araújo et al. [1], esfregaços nasais podem ser utilizados para
o diagnóstico diferencial da rinite alérgica e infecciosa. A
presença de eosinófilos indica rinite alérgica e de neutrófilos
de rinite infecciosa.
Várias podem ser as manifestações associadas à rinite
alérgica. Dentre elas pode-se citar a sinusite, otite média,
infecções de vias aéreas, asma [6], hipertrofia de cornetos
[3,4,7] e hipertrofia de adenóides [2,8-11]. No caso da
hipertrofia de adenóides, a solicitação imunológica excessiva
e a descarga pós-nasal levam a um estado inflamatório crônico
que leva ao aumento do tamanho desse tecido de defesa. A
rinite persistente é freqüentemente citada como um fator de
risco para o desenvolvimento da hipertrofia de adenóide [9]
e a presença de respiração bucal persistente pode indicar o
diagnóstico de hipertrofia de adenóide [12].
O primeiro passo no tratamento da rinite alérgica é
o controle dos fatores ambientais, evitando o contato com
os alérgenos. Várias medidas preventivas podem ser adotadas
para esse controle ambiental, como utilização de
revestimentos anti-ácaros para colchões, estrados de molas e
travesseiros, retirada de animais domésticos de dentro de casa,
fechar janelas da casa e automóvel em época de polinização,
evitar varrer folhas e trabalhar com adubos, evitar plantas
em ambientes internos, lavar freqüentemente a roupa de cama
com água quente (54º), duas vezes por semana, retirada de
carpetes dos quartos, utilizar aspirador de pó, entre outros.
Para o tratamento farmacológico a utilização de antihistamínicos é eficaz pois inibem os sintomas causados pela
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liberação da histamina endógena. Os anticolinérgicos inibem
os colinoceptores muscarínicos, diminuem a secreção nasal,
porém possuem ação mínima sobre o controle vascular. Os
descongestionantes (agonistas a-adrenoceptores) estimulam
os receptores pré-sinápticos reduzindo a liberação de
noradrenalina [5]. Pode-se utilizar também corticosteróides
pelo efeito antiinflamatório [13]. Douglass e O’Hehir [14],
explicam que a imunoterapia desenvolve uma maior
resistência da sensibilização frente aos alérgenos, após ter
observado em seu estudo que a inflamação da mucosa e o
aumento do tecido linfóide diminuíram com a imunoterapia.
Segundo Lima [15], quando ocorrem alterações na mucosa
nasal, sem resposta adequada a todo o arsenal clínicofarmacológico ou na vigência de alterações anatômicas que
comprometam o fluxo aéreo nasal, é indicado o tratamento
cirúrgico. Dentro os procedimentos possíveis são a infiltração
da mucosa dos cornetos, cauterização dos cornetos,
vaporizações da mucosa com raios laser, turbinoplastias,
cirurgia de caudas de cornetos, criocirurgias, septoplastias,
adenoidectomias entre outras.
A síndrome do Respirador Bucal (SRB) é definida como
uma substituição no padrão correto de respiração para um
padrão inadequado, bucal ou misto (buconasal). Essa
respiração inadequada acarreta mudanças no sistema
respiratório, alterações miofaciais que modificam o eixo
corporal e sua dinâmica [16].
As causas podem ser orgânicas como é o caso de tumores,
pólipos, hipertrofia de cornetos, desvio de septo, hiperplasia
de mucosa [12,16,17] ou ser um hábito vicioso, que ocorre
quando o paciente é fisiologicamente capaz de respirar pelo
nariz, mas devido ao hábito respira pela boca [11,18].
Bresolin et al. [19] cita que provavelmente a rinite alérgica
é a causa mais comum de obstrução crônica de vias aéreas
superiores, que altera de forma significativa a qualidade de
vida das pessoas. Quanto às características clínicas, Marchesan
[17] e Castro et al. [2] citam que o paciente apresenta alterações
crânio-faciais que são o crescimento crânio-facial
predominantemente vertical, cianose infraorbitária
profunda, dimensões faciais estreitadas, assimetria facial em
bucinador, narinas estreitas e inclinadas, menor espaço na
cavidade nasal, desvio de septo devido a pressão do palato
ogival para cima e para frente. Quanto as alterações bucais,
Araújo [18] refere o overjet, que é o excessivo trespasse
horizontal dos incisivos, estando os superiores à frente dos
inferiores, ou vice-versa; um hipodesenvolvimento dos
maxilares que leva a cruzamentos posteriores bilaterais ou
mesmo unilaterais. As alterações nos órgãos
fonoarticulatórios que podem ser observadas são a
hipotrofia, hipotonia e hipofunção dos músculos elevadores
da mandíbula, alteração do tônus dos lábios e das bochechas,
lábio superior retraído ou curto e inferior evertido ou
interposto entre os dentes, lábios secos e rachados com
alteração da cor e língua hipotônica [17]. Alterações
psíquicas ocorrem em conseqüência do déficit de oxigenação,
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249
o que faz diminuir a capacidade de atenção, a vontade de
trabalhar, levando a uma fadiga física e mental [20].
As principais alterações posturais encontradas no
respirador bucal são o aumento da lordose cervical, aumento
da cifose dorsal, aumento da lordose lombar, joelhos em
recurvatum e pés planos [16]. Quanto as alteração na função
respiratória pode-se observar uma menor capacidade vital
[20], infecções repetidas, deformidade em pectus escavatum,
aumento da freqüência respiratória e padrão respiratório
apical [21]. Pode-se observar alterações no sistema
cardiocirculatório, decorrentes do atraso na circulação devido
ao déficit de oxigenação, como hipertrofia do ventrículo
direito e insuficiência da válvula pulmonar. Herendeen e
Szilagy [12], citam que durante o sono, os respiradores bucais
podem ter uma hipoxemia, hipercapnia e acidose.
Para o diagnóstico clínico, certos critérios podem ser
adotados como a observação do paciente, se há história de
rinite alérgica e/ou hipertrofia de adenóide, realização de teste
alérgico, história de tratamento ortodôntico e trauma facial.
Araújo [18] cita um simples método para diagnosticar o
respirador bucal. Pede-se para manter a boca com água por
3 minutos; se realmente o paciente conseguir manter-se é
porque não é um respirador bucal, porém, se abrir a boca
pela necessidade de respirar, caracteriza-se como um
respirador bucal.
A prevenção, quanto mais precoce é melhor, pois evita as
alterações observadas no respirador bucal e tratando de forma
correta a causa desse padrão alterado da respiração, torna o
prognóstico mais favorável para o paciente [22]. O tratamento
deve consistir na equipe multidisciplinar, composta por
dentistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, alergistas,
otorrinolaringologistas e psicólogos [2,11,17,20,21].
O tratamento fisioterapêutico consiste na fisioterapia
respiratória, através da cinesioterapia respiratória e pela
reeducação funcional respiratória, pois fornecem ao paciente
suporte muscular respiratório e melhora da mobilidade
tóraco-abdominal, a fim de prevenir complicações
respiratórias reincidentes, sobretudo pneumonias e outras
complicações pulmonares ou torácicas [23]. Para a correção
postural vários métodos podem ser utilizados para o tratamento
como a reeducação postural global, o iso-stretching, a
cinesioterapia clássica e a reprogramação postural [22].
Materiais e Métodos
A pesquisa foi desenvolvida a partir da elaboração de
um questionário, com perguntas abertas e fechadas, para
posteriormente ser aplicado. Parte deste questionário foi
retirada pelo estudo realizado por Caromano et al. [16]. A
amostra analisada foi composta por 15 crianças, entre 5 e 10
anos de idade com rinite alérgica, hipertrofia de adenóide e
síndrome do respirador bucal. As crianças provinham de uma
consulta com um médico pediatra, alergista, onde era realizado
a rinoscopia para avaliar o grau de hipertrofia da adenóide,
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assim como o teste alérgico para determinar quais os fatores
desencadeantes da alergia na criança. Os critérios de inclusão
seguidos pela amostra foram: crianças com rinite alérgica;
crianças com hipertrofia de adenóide (grau I a IV); crianças
respiradoras bucais; crianças com mais de 5 anos, pois é possível
dessa forma realizar a avaliação postural; crianças que não
iniciaram tratamento clínico. Os critérios de exclusão são os
seguintes: crianças com rinite alérgica associada a qualquer outra
patologia respiratória; crianças que não são respiradoras bucais;
crianças que já iniciaram o tratamento clínico e crianças que
possuem alteração neurológica.
A avaliação postural era passiva e na avaliação da função
respiratória foram observados o tipo de tórax, a presença de
deformidade torácica, tipo de respiração, cirtometria do tórax
a nível axilar, processo xifóide e costal inferior e o pico de
fluxo expiratório. Para a análise dos dados, alguns foram
analisados estatisticamente, como foi o caso da cirtometria
do tórax e da medida da taxa do Peak Flow, sendo utilizado o
teste estatístico de Tukey (p = 0,05).
Resultados
O total de crianças avaliadas foi de 15, sendo que dessas
7 (46,67%) eram do sexo feminino, 8 (53,33%) do sexo
masculino. A idade média foi de 78,26 meses (desvio padrão
15,04). O grau de hipertrofia de adenóide variou de 35% a
85%, com média de 55%, sendo que os graus mais
encontrados foram 40% para 4 (26,67%) crianças e 60%
também para 4 crianças.
Na anamnese foi constatado que dentre as 15 crianças, 8
(53,33%) apresentavam coriza catarral, 7 (46,67%) coriza
aquosa, 7 (46,67%) apresentavam espirros, 15 (100%)
obstrução nasal, 12 (80%) prurido nasal, 6 (40%) prurido
ocular, 5 (33,33%) cefaléia, 4 (26,67%) lacrimejamento, 1
(6,67%) fotofobia e 8 (53,33%) apresentavam tosse (Fig. 1).
Quanto aos sintomas cutâneos 4 (26,67%) crianças
apresentavam urticária, 1 (6,67%) prurido, 1 (6,67%)
dermatite atópica e 2 (13,33%) eczema.
Fig. 1 – Sintomas.
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No exame do nariz 7 (56,67%) crianças apresentaram
nariz com aspecto pálido, 1 (6,67%) com aspecto edemaciado,
8 (53,33%) normal, 1 avermelhado, e 3 (20%) com prega
nasal elevada (Fig. 2).
Fig. 2 - Exame do nariz.
No exame do tipo de tórax, 10 (66,67%) possuíam tórax
normolíneo e 5 (33,33%) com aspecto longelíneo. Quanto
a presença de deformidade torácica, 3 (20%) tinham pectus
escavatum. Quanto a respiração, 12 (80%) tinham respiração
do tipo costal, 3 (20%) respiração costo-diafragmática e
nenhuma diafragmática. Na cirtometria, no nível axilar a
média de variação obtida foi 1.934 cm, no nível xifóide a
média de variação obtida foi 2.27 cm e no nível costal
inferior a média foi 2 cm. Segundo o teste de Tukey (p =
0,05), como Fo = 0,4681 < Fcal = 3,22, conclui-se
estatisticamente que as médias das variações observadas na
cirtometria do tórax nos três níveis são estatisticamente
iguais. No Peak Flow, a média dos valores obtidos pelas 15
crianças foi 150,60 l/min, enquanto a média dos valores
comparados como normais segundo a idade e estatura das
crianças foi de de 208,47 l/min. Segundo análise do teste
de Tukey (p = 0,05), como o Fo = 10,80 que é > Fcal =
4,19, conclui-se que as médias obtidas pela análise do pico
de fluxo expiratório obtido nas crianças e o encontrado na
literatura, são estatisticamente diferentes entre si.
Na avaliação postural, 14 (93,33%) cabeças estavam
alinhadas na vista anterior. Já a cervical em vista posterior,
todas estavam alinhadas, já em vista lateral direita (VLD),
tivemos 8 (53,33%) hiperlordoses, 5 (33,33%) retificações
e 1 (6,67) normal. A coluna torácica em vista posterior, 13
(86,66%) estavam alinhadas, 2 (13,33%) escolioses torácica
à direita e em VLD observou-se 6 (40%) normais, 5
(33,33%) retificados e 4 (26,67%) aumento da cifose
torácica. Na lombar em VLD foi constatado que 10
(66,67%) apresentavam hiperlordose. Na pelve em vista
anterior foi observado 13 (86,67%) normais, e em VLD, 10
(66,67%) estavam antevertidas. Em membro inferior, 2
(13%) joelhos apresentaram hiperextensão na vista lateral
direita e 3 (20%) crianças apresentam pés planos.
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251
Discussão
Referências
A rinite alérgica e a hipertrofia de adenóide são condições
causadoras de obstrução nasal [2,8,9]. Através da pesquisa
pode-se confirmar que a hipertrofia de adenóide é uma
condição presente em crianças com rinite alérgica. Segundo
Havas e Lowinger [24], a hipertrofia de adenóide inicia-se
precocemente, ainda na fase de lactente, sendo que evolui
seu crescimento até aproximadamente os 6 anos de idade,
depois disso a atrofia começa a ocorrer.
Caromano et al. [16] citam que pessoas com aspecto
longel íneo têm maior predisposição a desenvolverem a
SRB, porém a maior parte das crianças apresentou aspecto
normolíneo. Costa [23] cita que respiradores bucais passam
a terem o pectus escavatum, e na pesquisa a maior parte das
crianças apresentou tórax do tipo normal. Respiração
costal é citada por Costa [23] e Oliveira [21] como sendo
presente em respiradores bucais o que pode ser
comprovado através da pesquisa. Costa [25] menciona a
cirtometria para avaliar o grau de expansibilidade do tórax
em respiradores bucais. Os valores considerados como
normais são de 4 a 7 centímetros para a expansibilidade a
cada nível.
Kluemper et al. [26], avaliou 102 indivíduos divididos entre
respiradores bucais e nasais, analisados pela medida do Peak
Flow, medida da resistência nasal, área de secção transversa
da cavidade nasal e constatou que não houve diferenças
estatísticas e significativas entre os dois grupos, porém a média
de idade dessa pesquisa foi de 17 anos, com apenas 50% da
amostra tendo a idade entre 11 e 16 anos, dando ênfase a
idéia de que a hipertrofia de adenóide era um fator inexistente,
podendo ser uma causa que induziu essas diferenças
estatísticas.
Jabur [11] e Krakauer [27] citam que os respiradores
bucais apresentam hiperlordose cervical, o que é confirmado
pela pesquisa. Gomes [28], Marins [22] e Oliveira [21] citam
que os pacientes possuem um aumento da cifose torácica,
o que não foi predominante na pesquisa. Porém, referem
ainda aumento da lordose lombar, abdome e ombros
proeminentes, o que foi encontrado na avaliação das
crianças. Gomes [28] refere o genovalgo e joelho em
hiperextensão, sendo que houve poucos casos na amostra
o que dificulta afirmar esse dado. Porém sugere-se que novos
estudos sejam realizados.
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Conclusão
A rinite alérgica e a hipertrofia de adenóide são
condições responsáveis pela síndrome do respirador bucal.
Várias alterações foram observadas e com isso justifica-se
a atuação da fisioterapia nas alterações presentes nas crianças
com essa sintomatologia. Associado ao tratamento clínico
adequado, promove-se melhora na qualidade de vida desses
indivíduos.
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 4 - julho / agosto de 2003
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Artigo original
Análise de fibras colágenas através da morfometria
computadorizada em feridas cutâneas de ratos
submetidos a irradiação do laser HeNe
Collagen fibrea analysis through computerized morphometry
in cutaneous wounds of rats submissed to HeNE laser radiation
Paulo de Tarso Camillo de Carvalho, Ms.*, Nilton Mazzer**, João Fabio R. Siqueira***, João Valdivino L. Ferreira ***,
Iandara Scherttert Silva****
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*Professor Titular da disciplina de Fisioterapia Geral - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal-UNIDERP Campo Grande MS, **Prof. Dr. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo – USP, ***Acadêmico de Iniciação
Cientifica da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP –MS, ****Profa Dra. Titular da
Disciplina de Técnica Cirúrgica do Curso de Medicina Veterinária - Universidade para o Desenvolvimento
do Estado e da Região do Pantanal- UNIDERP - MS
Palavras-chave:
Laserterapia de baixa
intensidade, fibras colágenas,
reparação tecidual.
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo comparar os resultados dos efeitos da
terapia laser na regeneração tecidual de feridas cutâneas. Neste estudo foi realizada
uma análise morfométrica do percentual de fibras colágenas por densidade de cor.
Utilizamos 48 ratos Wistar, machos, que foram submetidos a uma lesão no dorso e
divididos em dois grupos de 24 animais. O grupo I foi tratado com laser e o Grupo II
não foi tratado. Os animais do grupo I foram tratados com Laser HeNe com uma
dosagem de 4 J/cm2 por 36s. Um de cada grupo foi sacrificado no 3º, 7º e 14 dias após
a lesão e retiradas as amostras que foram emblocadas em parafina, coradas com H.E.,
Tricrômico de Masson, realizada a análise morfométrica pelo software Imagelab. Os
dados obtidos a partir das amostras retiradas, foram tratados estatisticamente por analise
de variância e fixou-se em 0,05 ou 5% (α < 0,05) o nível de rejeição da hipótese de
nulidade. Obtendo para o terceiro dia p = 0,0223, para o sétimo, p = 0,0140 e para o
décimo quarto dia p = 0,0174. Podemos concluir que: O laser Helio Neônio se mostra
eficiente no tratamento de feridas cutâneas acelerando seu processo de reparo; Quando
esta radiação é aplicada há um incremento do processo cicatricial com uma rede de
fibras colágenas melhor elaborada do que em animais não submetidos ao mesmo
tratamento.
Artigo recebido em 13 de maio de 2003; aceito em 15 de julho de 2003.
Endereço para correspondência: Paulo de Tarso Camillo de Carvalho, Departamento de Fisioterapia UNIDERP, Rua Alexandre Herculano, 1400 Parque
dos Poderes 79037-280 Campo Grande MS, Tel: (67) 318 3005, E-mail: [email protected]
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254
Key-words:
Laserterapia of low
intensity, collagen fibres,
tecidual repairing.
Abstract
The aim of this work was to compare the results of laser therapy effects in the
tecidual regeneration of cutaneous wounds. In this study a morphometric analysis of
the percentage of collagen fibres for color density was carried through. We used 48
Wistar rats, males, who had been injuried in the back and divided in two groups of 24
animals. Group I was treated with laser and Group II was not treated. The animals of
group I had been treated with HeNe Laser with a dosage of 4 J/cm2 for 36s. One of
each group was sacrificed in 3º, 7º and 14 days after the injury and the samples had
been poured in paraffin, cut with H.E. and Masson´s trichrome, and morphometric
analysis was carried through Imagelab software. The data gotten had been estatistically
treated by variance analyze and the level of rejection of the nullity hypothesis was
fixed in 0,05 or 5% (α ≤ 0,05). We get for the third day p = 0,0223, for seventh, p =
0,0140 and for the fourteenth day p = 0,0174. We can conclude that: The HeNe laser
is efficient in the treatment of cutaneous wounds speeding up the repair process;
when this radiation is applied. There is an increment of the cicatricial process with a
collagen fibre net better elaborated than in animals not submitted to the same treatment.
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Introdução
A cicatrização é um processo complexo, que tem ao longo
dos anos merecido a atenção de pesquisadores principalmente
no que tange a fatores que a retardam ou dificultam. As falhas
do reparo mais importantes são as que ocorrem nos estágios
iniciais, levando a acentuação do edema, reduzida proliferação
vascular e diminuição dos elementos celulares tais como
leucócitos, macrófagos e fibroblastos.
As alterações desses eventos são responsáveis por uma
baixa síntese de colágeno, além de contribuírem para
aumentar os riscos de infecções. Tendo em vista os agravantes
mencionados, atualmente, os estudos norteiam-se na busca
de novos métodos terapêuticos que possam solucionar, ou
ainda, minimizar, as falhas no processo de reparo tecidual.
Entre tais métodos a terapia por laser de baixa intensidade
tem ocupado lugar de destaque.
Podemos definir de maneira genérica a aplicação
terapêutica de lasers e diodos superluminosos
monocromáticos de intensidade relativamente baixa (< 500
mW), para tratamento de afecções e lesões (comumente <
35 J/cm²), como laserterapia de baixa intensidade, ou
laserterapia de baixo nível visto que são consideradas baixas,
sem possibilidade de provocar aquecimento detectável dos
tecidos irradiados [1,2].
O grupo do Prof. Endre Mester foi quem primeiramente
se voltou para as possíveis aplicações clínicas das interações
atérmicas da luz do laser com os tecidos.
Alguns estudiosos denominam esta modalidade de foto
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bioestimulação por laser, terminologia baseada nas pesquisas
do grupo de Mester [3], contudo tal terminologia é motivo
de controvérsias entre pesquisadores.
Na laserterapia, o comprimento de onda é fator
determinante na interação laser-tecido e corresponde à
distância percorrida pela onda em uma oscilação completa,
sendo medida em nanômetros (nm) e a freqüência de suas
oscilações em Hertz (Hz). O comprimento de onda pode
variar desde o infravermelho distante até os raios cósmicos
e segundo seu meio ativo, onde é gerada a radiação. É o
meio ativo, em geral, que dá o nome ao laser determinando
sua pureza espectral e seu comprimento de onda, conferindo
características diferentes de emissão e de possível ação
biológica.
A radiação laser pode ser refletida, transmitida, absorvida
ou espalhada pelo tecido. A monocromaticidade do laser
determina a absorção seletiva por parte dos cromóforos, com
resposta afim a um ou a vários comprimentos de onda,
fenômeno conhecido como ressonância a uma determinada
freqüência. Cada comprimento de onda, portanto, terá um
tipo diferente de interação segundo o tecido alvo.
Os efeitos terapêuticos dos lasers sobre os diferentes tipo
de tecidos biológicos são amplos, dentre estes destacam-se
os efeitos trófico-regenerativos, antiinflamatórios e
analgésicos, os quais têm sido demonstrados em estudos tanto
in vitro como in vivo.
Vários autores reportam-se ao tema, entre eles podemos
citar os trabalhos que demonstram o aumento na
microcirculação local [4,5]; no sistema linfático [6,7];
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proliferação de células epiteliais e fibroblastos [8,9] assim
como aumento da síntese de colágeno dos fibroblastos
[10,11].
A somatória dos fatores que interferem no processo de
cicatrização nas feridas cutâneas e, principalmente, sua
morbidade, associados aos resultados terapêuticos da radiação
laser motivaram o desenvolvimento deste estudo histológico
comparativo em feridas cutâneas induzidas cirurgicamente
em ratos tratados com laser HeNe.
Materiais e Métodos
Animais de experimentação
A amostra foi composta de 48 ratos machos (Rattus
norvergicus albinus), da linhagem WISTAR-ADOLFO
LUTZ-UFMS, com peso corpóreo variando entre 230 a
350 g ramas, adultos procedentes do Biotério da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul -UFMS,
Campo Grande, MS.
Os animais foram confinados em gaiolas mantidos em
fotoperíodo de 12 horas, temperatura e umidade mantidas
por meio de ar condicionado, ração sólida e água ad libitum.
Grupos experimentais
Os animais foram divididos em dois grupos distintos I e
II contendo 24 animais em cada grupo, sendo que cada animal
recebeu uma designação como: G I tratado laser (GTL); G
II não tratados (GNT), cada grupo sofreu ainda uma
subdivisão em mais três subgrupos denominados GI A; GIB
e GIC, tratados com laser e GIIA; GIIB e GIIC, sendo
respectivamente ao terceiro, sétimo e décimo quarto dias
pós-cirurgia.
255
Indução às feridas cutâneas
Utilizou-se neste procedimento o anestésico Quetamina,
sendo que para cada 100 g de peso corporal foi utilizado 0,2
ml de anestésico. O tempo de anestesia proporcionado pelo
anestésico foi de 55 minutos, sem alteração nos parâmetros
fisiológicos e demais funções gerais.
Realizou-se a retirada dos pelos da região dorsal, com
lâmina de barbear, seguindo-se então, a antisepsia com
povedine-iodine e delimitação do campo operatório com
campo esterilizado fenestrado.
O diâmetro confirmado com um paquímetro e o local da
incisão marcado com corante de azul de metileno.
Procedeu-se à incisão na pele com iâmetro e largura de
1,5 cm e 0,5 de profundidade com bisturi lâmina 20 e o tecido
pinçado e retirado com uma pinça dente de rato.
Após o ato operatório, os animais foram recolocados em
gaiolas limpas, sendo quatro em cada uma, com água e ração
apropriada, à vontade. Os animais que morreram durante o
procedimento foram substituídos, para dar continuidade à
pesquisa.
Os animais foram tratados conforme o grupo, durante
um período de três, sete e quatorze dias e os dados, anotados
em fichas padrão. No dia final do tratamento, foram
identificados, pesados e, posteriormente sacrificados por
inalação excessiva de éter etílico.
A seguir cada rato foi contido na mesa cirúrgica,
efetuando-se a retirada das amostras.
Equipamento laser utilizado
O aparelho utilizado foi o Laser HeNe Plasmax IV, LHN
9709 da marca KLD Biossistemas com potência contínua
máxima de 5 mW comprimento de onda de 632,8nm visível.
Fig. 1 - Composição das amostras.
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255
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Tratamento
Cada animal do Grupo I foi tratado com Laser HeNe
com dosagem de 4j/cm2 em uma área de 3 cm2, durante 36
segundos em cada lesão. O Grupo II foi adotado como
grupo-controle comparativo para a análise histológica e
morfométrica.
Técnica histológica
Os segmentos destinados à histologia foram fixados em
formol 10% por 24 horas. Após este período, foram incluídos
em blocos de parafina e submetidos a cortes transversais de
5 micrômetros, preparando-se duas lâminas com dois cortes
cada uma. Estas lâminas passaram por dois processos de
coloração: hematoxilina-eosina (HE), tricrômico de masson.
As lâminas para estudo de fibras colágenas foram coradas
por tricrômico de Masson.
Análise morfométrica
Para análise destas lâminas realiou-se uma avaliação
histológica por digitalização de imagens. Utilizamos um
micromputador com programa específico de Processamento
e Análise de Imagem Imagelab, do Laboratório de informática
aplicado à saúde (LIAS/UNIDERP). Para a quantificação
das áreas representativas de colágeno, foram digitalizados
quatro campos usando-se a objetiva 20x do microscópio.
Cada campo digitalizado apresentou uma resolução de
640 pontos na horizontal por 480 pontos na vertical e 24
bits de cores (16 milhões de cores). O campo digitalizado
correspondeu a uma área de 395 micra de largura por 300 de
altura na imagem real.
Antes do processo de quantificação, todas as imagens
foram digitalizadas padronizando-se a intensidade de luz do
microscópio e a altura do condensador. As áreas de colágeno
foram separadas na imagem usando-se a distribuição de cor
como parâmetro discriminante. Para cada imagem
quantificada, utilizou-se o mesmo intervalo de cor para
separar a área a ser quantificada. O intervalo de cor
padronizado foi definido de forma empírica, no momento
inicial do experimento. Através de tentativa e erro, uma faixa
de cor foi ajustada, até separar as áreas representativas de
colágeno na imagem.
Posteriormente, o mesmo intervalo foi utilizado para
identificar o colágeno a ser quantificado em todos os campos
digitalizados. Na etapa seguinte, calculou-se a área ocupada
e a quantidade de luz absorvida pelo colágeno em cada um
dos campos.
para estudar a diferença percentual (D%) de fibras colágenas.
2 – Teste de Tukey.
Fixou-se em 0,05 ou 5% (α < 0,05) o nível de rejeição da
hipótese de nulidade.
Resultados
Os dados obtidos através da digitalização de imagens para
porcentagem de fibras colágenas correspondem à média de
quatro campos de imagem digitalizada para cada lâmina
obtida a partir das amostras dos grupos I tratado com laser
(GTL), grupo II não tratado (GNT), que correspondem
respectivamente às amostras retiradas aos 3º, 7º e 14º dias
após a lesão.
Tabela I - Percentual total de fibras colágenas
GTL
24,50
31,77
34,51
3 dias
7 dias
14 dias
Fig. 2 - Gráfico comparativo, Médias de colágeno
Fig. 3 - Fotomicrografia mostrando a comparação da concentração de
fibras colágenas, a foto representada pela letra A e referente ao Grupo I –
14 dias e a representada pela B, grupo II (controle) 14 dias, observar o
aumento de fibras e neoformações de vasos no campo A, Lâmina Tricrômico
de Masson 200x.
Análise estatística
Na análise estatística aplicamos os seguintes testes:
1 - Análise de variância segundo dois critérios (ANOVA),
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GNT
19,69
25,18
29,05
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Discussão
Vem de longa data o uso de radiações para acelerar a
cicatrização de feridas, entretanto, as radiações da parte
vermelha do espectro visível são as que tem mostrado mais
eficácia.
Nas décadas de 1960 a 1970, surgiram os primeiros lasers
com uso terapêutico. Nesta época os lasers eram usados para
destruição tecidual e coagulação, durante este processo foi
observado alguns efeitos benéficos nos locais onde havia
sido aplicada baixa energia, o que originou o uso
bioestimulante dos lasers de baixa intensidade [1].
O grupo do professor Mester entre o fim da década de
60 e inicio dos anos 70, realizaram estudos relevantes sobre
as aplicações clínicas das interações atérmicas da luz do
laser com os tecidos. Foram os resultados destes estudos
que revelaram o potencial das irradiações dos lasers de baixa
intensidade aplicadas diretamente nos tecidos, com efeitos
de fotobioestimulação do processo de cicatrização/ reparo
dos tecidos [3].
Os estudos in vivo, assim como in vitro, demonstram que
a regeneração tissular torna-se mais eficaz quando tratadas
com laser de baixa intensidade. Estes estudos em sua maioria
in vivo (animais e humanos), corroboram a tese de que o
laser de baixa intensidade age sobre a síntese e remodelação
de colágeno, número de fibroblastos, diâmetro e força de
tração das feridas tratadas, viabilidade dos enxertos,
vascularização, vasodilatação, sistema linfático, efeito
antibacteriano e imunológico [12].
O efeito mais importante do laser de baixa intensidade
sobre a cicatrização de feridas foi o aumento da síntese de
colágeno por parte dos fibroblastos.
Considerando as premissas acima, assim como as outras
expostas na revisão da literatura, optamos por trabalhar nesta
pesquisa com o laser HeNe, o que possibilitou asseverar tais
estudos e amplia-los.
Diversos autores demonstram que o comprimento de
onda e a densidade de energia são fatores preponderantes
para o sucesso da terapia laser no que tange a cicatrização de
feridas [13-17]. As densidades de energia muito altas ou muito
baixas não apresentam resultados favoráveis [18-20].
Utilizamos neste trabalho o laser hélio neônio em um
comprimento de onda de 632,8 nm e densidade de energia
de 4 joules por cm².
A reação inflamatória é um processo dinâmico que tem
inicio em seguida a uma lesão subletal de algum tecido e termina
com a cura completa do sítio lesado. Embora às vezes
considerado como uma entidade isolada, o processo
inflamatório se compõe de diversas partes inter-atuantes, cada
uma delas aparentemente não relacionada com as outras [21].
Podemos enumerar estes eventos em três fases:
inflamação, proliferação fibroblástica e maturação /
remodelação como descrito pelos autores acima os eventos
se superpõem e interdepende, uns dos outros.
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257
257
Após a indução cirúrgica de feridas cutâneas, acompanhouse o reparo no terceiro, sétimo e décimo quarto dias e
verificamos as alterações de colágeno (Tabela I). Esta análise
se deu através do uso do software Imagelab, que quantificou a
densidade de cor das laminas histológicas.
Os animais objetos deste estudo apresentaram após 3 dias
da indução das feridas, menor índices na porcentagem de
colágeno sendo que os do grupo controle, grupo II
apresentam valores de colágenos bem abaixo que os do grupo
tratados grupo I como pode ser verificado na Tabela I.
A literatura demonstra que nos primeiros dias os eventos
de reparo estão direcionados para a prevenção de perda
subseqüente de sangue, ou seja, a hemostasia e formação de
um trombo que fornece matriz preliminar para os processos
seguintes, onde as plaquetas aderem ao colágeno no espaço
perivascular.
Este contato anteriormente descrito ativa as plaquetas
que liberam fatores plaquetários que aceleram a migração
e proliferação da principal célula do processo cicatricial,
o fibroblasto.
Dando continuidade a este processo, segue-se a
vasodilatação o aumento da permeabilidade vascular, e a
seguir os monócitos migram para dentro da ferida [22].
A radiação laser quando aplicada até 3 horas após a lesão
diminui o exsudato inflamatório, influenciando na
permeabilidade vascular [23].
Estudos demonstram que lasers operando em vários
comprimentos de onda encorajavam os macrófagos a liberar
fatores que estimulavam a proliferação de fibroblastos acima
dos níveis controle [24].
O tecido de granulação que começa a ser formado por
volta do quarto dia após a lesão, e composto de um leito
denso de macrófagos, fibroblastos e neovasos suportados
por uma matriz de fibronectina, colágeno tipo I e tipo II,
além de ácido hialurônico [25].
Os trabalhos citados acima corroboram os resultados
alcançados pelo nosso trabalho, nos três primeiros dias após
a lesão o grupo irradiado apresentava nível superior ao seu
respectivo grupo controle.
Os resultados obtidos no sétimo dia após a lesão neste
estudo apresentaram aumento da porcentagem de fibras
colágenas, isto pode ser observado na Tabela I, onde o grupo
controle apresenta valores de colágeno menor que o grupo I.
As feridas induzidas nestes animais após o sétimo dia já
se encontravam na fase de formação de tecido de granulação
e proliferação fibroblástica, onde a matriz extracelular começa
e substituída por um tecido conjuntivo mais forte e mais
elástico (Tabela I).
Em nosso estudo os animais analisados ao 14º dia
demonstraram aumento na porcentagem de fibras colágenas
em relação ao sétimo dia e também mantiveram os índices
relativos entre os grupos.
Quando comparado o 14º com o 7º, ainda podemos
observar uma desaceleração do grupo I. Esta desaceleração
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no crescimento dos grupos I, talvez deva-se ao estado de
maturação destas feridas. Pois a literatura afirma que na fase
remodelagem/ maturação a proliferação celular diminui com
redução gradual no número e tamanho dos fibroblastos [26].
Concomitante há um lento aumento na resistência elástica
da ferida, pois as fibras colágenas sofrem maior interligação
aumentando sua espessura e compactação [27].
A presença de oxigênio é de suma importância na etapa
de proliferação fibroblástica e maturação. E este pode ser
incrementado pela ação do laser no aumento da
microcirculação [4,5].
Podemos confirmar nossos resultados com o relato de
Ikeuchi [28] que descreve um trabalho onde animais irradiados
com laser HeNe com densidade de energia em 3,6 joules/cm²
apresentavam ao 14º dia de pós-operatório tecido cicatricial
mais maduro, com a maioria das fibras colágenas arranjadas e
paralelas em relação aos seus grupos controles.
Conclusão
O trabalho nos possibilitou chegar as seguintes conclusões:
O laser Helio-Neônio se mostra eficiente no tratamento de
feridas cutâneas acelerando seu processo de reparo.
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 4 - julho / agosto de 2003
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Artigo original
Análise da marcha de gestantes: um estudo preliminar
Gait analysis in pregnant women: preliminary study
Fabiana Flores Sperandio, Ms*, Gilmar Moraes Santos, Ms.**, Mônica Silva de Souza***,
Camila Costa de Araújo***, Daiane d’Agostini Nesi***
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*Docente da disciplina de Fisioterapia Aplicada a Ginecologia e Obstetrícia I e II da UDESC, **Docente da Disciplina de Ortopedia e
Traumatologia da UDESC, ***Fisioterapeuta,**** Projeto de pesquisa financiado pela Probic
Palavras-chave:
Biomecânica, dor lombar,
gestação.
Resumo
O principal objetivo deste estudo foi analisar as características biomecânicas da marcha
com e sem calçado esportivo entre as 13a 15a, 25a 27a e 34a 36a semanas de gestação, e
relacionar o nível de incapacidade por dor lombar nos 3 períodos gestacionais estudados.
Dados cinéticos e espaço-temporais da marcha foram coletados através da esteira
ergométrica Kistler-Gaitway, no Laboratório de Biomecânica da UDESC. Os valores de
dor lombar foram obtidos aplicado-se o questionário de dor lombar de Oswestry. Os
dados foram análisados através da estatística descritiva e inferencial (p < 0,05). Existiu
correlação entre a dor lombar gestacional e as variáveis biomecânicas sem calçado
(passada, passo direito) e com calçado (primeiro pico de força direito e esquerdo, segundo
pico de força direito, cadência, duplo apoio e simples apoio esquerdo) durante o primeiro
período estudado. Houve tendência à redução dos valores para o comprimento da passada,
cadência e taxa de aceitação de peso no decorrer da gravidez nas duas situações. O
inverso ocorreu com o tempo de apoio simples e duplo apoio.
Artigo recebido em 15 de maio de 2003; corrigido em 31 de julho; aceito em 5 de agosto de 2003
Endereço para correspondência: Fabiana Flores Sperandio, Clínica Escola de Fisioterapia Udesc-Cefid, Rua Paschoal Simone, 358 Coqueiros 88080-350
Florianópolis SC, Tel: 248-8155, E-mail: [email protected]
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Abstract
The main objective of this study was to analyze the biomechanical characteristics of
gait with and without sporting shoe in the 13a-15a, 25a-27a and 34a-36a weeks of
gestation, and to relate the level of incapacity for low back pain in the 3 studied periods
of gestation. Kinetic data and time space of gait were collected through the ergometric
met Gaitway-Kistler, in the Biomechanic Laboratory of UDESC.Os values of low back
pains were obtained by appling the questionnaire of low back pain of Oswestry. The
data were analysed through the descriptive and inferencial statistics (p < 0,05). Existed
correlation between the low back gestation pain and the biomechanic parameters without
shoes (step, right step) and with shoe (first pick of right and left force, second pick of
force right, cadence, double support and simple left support) during the first studied
period. There was tendency to reduction of values for the length of the step, cadence
and level of weight acceptance during the pregnancy in the two situations. The inverse
occured with simple support time and double support.
Key-words:
Biomechanics,
low back pain,
pregnancy.
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Introdução
O período gestacional compreende diversas mudanças
corporais e submete a mulher a adaptações fisiológicas e
anatômicas [1,2] que visam o preparo de um meio
adequado para o feto em crescimento [3]. Durante a
gravidez ocorrem mudanças na forma, tamanho e inércia
do corpo da mulher [4].
Essas alterações biológicas poderiam gerar
transformações hormonais e anatômicas com predisposição
a lesões musculo-esqueléticas, ou ainda, alterar o curso de
enfermidades pré-existentes [5]. Para Gleeson e Pauls [6] as
mudanças posturais ocorridas durante a gestação não são
com freqüência patológicas, mas alterações incontroladas que
podem causar síndrome de dor lombar, aguda ou crônica.
A dor lombar na gravidez apresenta alta freqüência, sendo
que para metade de todas as gestantes este acometimento é
inevitável [7,8,9,10,11] existindo, porém, falta de
conhecimento sobre a patogenia e as manifestações clínicas
[7,12,13].
Cecin [14] verificou que, apesar do progresso da
ergonomia aplicada à coluna vertebral e do uso de sofisticados
métodos de diagnóstico, as lombalgias tiveram um
crescimento 14 vezes maior que o crescimento da população.
Isto resulta em uma grave situação sócio-econômica, geradora
de prejuízos incalculáveis. A dor lombar é um dos maiores
problemas de saúde na sociedade ocidental [15]. A licença
ou o atestado médico, não são capazes de eliminar a dor
lombar [11,16].
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O aumento de peso ocorrido durante o período
gestacional faz com que a mulher crie compensações, como
o aumento da base de suporte com o intuito de manter o
equilíbrio do corpo [17,18,19].
As mudanças anatômicas ocorridas durante a gestação
podem causar alterações no andar da gestante, contribuindo
para uma variedade de condições de uso excessivo do
sistema musculo-esquelético [20]. Todavia, percebe-se a
escassez de estudos que caracterizem a dinâmica do andar
da gestante, relacionando-a às mudanças ocorridas durante
este período [20,21].
O trabalho objetivou analisar o comportamento
biomecânico da marcha durante as 13a -15a, 25a-27a e 34a-36a
semanas de gestação, comparando os valores do pé direito
(D) e do pé esquerdo (E) nas situações com calçado e descalço
e relacionar estas alterações com o nível de incapacidade por
dor lombar.
Materiais e Métodos
O estudo teve aprovação do Comitê de Ética da Udesc.
A amostra investigada apresentou média: 27,06 (±5,06) anos
de idade, e foi constituída por mulheres entre a 13a-15a,
25a-27a e 34a-36a semanas de gestação (controle pela D.U.M.
e Ultra-sonografia obstétrica).
Todas as gestantes apresentavam o pé direito (D) como
dominante. Entretanto, grande parte da perda amostral,
foi devido a abortos, trabalhos de parto prematuro, préeclâmpsia e dificuldade de locomoção das gestantes até o
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261
Fig. 1 - Demonstra os valores médios obtidos durante a marcha de gestantes com calçado nos 3 períodos gestacionais.
laboratório, especialmente, no terceiro período avaliado.
A amostra foi dividida em grupos, por períodos
gestacionais. O primeiro período foi composto por 15
gestantes sem calçado e 14 com calçado, o segundo por 11
gestantes sem calçado e 10 com calçado entre 25a-27a semanas,
e o terceiro grupo, que compreendeu o intervalo entre a 34a36a semanas gestacionais apresentou 5 gestantes que foram
avaliadas com e sem calçado. Geralmente, de 8 a 20 sujeitos
são estudados em pesquisas sobre mudanças fisiológicas na
gestação [22].
Utilizou-se como instrumento de medida a esteira KistlerGaitway. As plataformas de força forneceram a força de reação
do solo na superfície de contato durante a fase de apoio do
movimento [23].
O instrumento de avaliação da dor lombar foi o
Questionário Oswestry de Incapacidade por Dor Lombar
[24,25], bem como um questionário específico [21], em que
as gestantes eram instruídas a preencherem a cada novo
experimento.
Na aquisição dos dados utilizou-se a velocidade média
ao caminhar 5m e então, realizou-se a calibração do
instrumento para a normalização dos dados, através da
aquisição do peso da gestante. O software Gaitway foi
configurado para tempo de coleta de 12s com freqüência de
amostragem de 600 Hz. A coleta dos dados foi realizada após
6 minutos de caminhada na esteira.
Os dados obtidos foram submetidos a estatística descritiva
e ao teste de correlação de Spearman com um p d” 0,05 no
programa Statistic 99.
Resultados e discussão
As gestantes foram pesadas na esteira Kistler-Gaitway,
durante a calibração. Pôde-se perceber que as mulheres
analisadas tiveram um aumento médio de massa, quando
comparadas com o peso pré-gestacional, de 3,9 kg até o
1o período de gestação, de 9,2 kg até o 2o período e de
11,8kg até o 3o. período estudado. Estes valores também
foram encontrados por diferentes autores [26,27,28].
Fig. 2 - Demonstra os valores médios obtidos durante a marcha de gestantes sem calçado nos 3 períodos gestacionais.
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Tabela I – Correlação entre a dor lombar gestacional e as variáveis espaço-temporais da marcha durante a
gestação na 13a-15a, 25a-27a e 34a-36a semanas gestacionais na situação com e sem calçado (p < 0,05).
Variavéis espaço-temporais
Passada
Passo esquerdo
Passo direito
Cadencia
Duplo apoio
Apoio simpes esquerdo
Apoio simples direito
Passada
Passo esquerdo
Passo direito
Cadencia
Duplo apoio
Apoio simples esquerdo
Apoio simples direito
Passada
Passo esquerdo
Passo direito
Cadencia
Duplo apoio
Apoio simples esquerdo
Apoio simples direito
Período gestacional
13a-15a semanas
13a-15a semanas
13a-15a semanas
13a-15a semanas
13a-15a semanas
13a-15a semanas
13a-15a semanas
25a-27a semanas
25a-27a semanas
25a-27a semanas
25a-27a semanas
25a-27a semanas
25a-27a semanas
25a-27a semanas
34a-36a semanas
34a-36a semanas
34a-36a semanas
34a-36a semanas
34a-36a semanas
34a-36a semanas
34a-36a semanas
p (com calçado)
0,07
0,08
0,06
0,00
0,00
0,02
0,10
0,12
0,16
0,09
0,69
0,09
0,47
0,39
0,88
0,85
0,94
0,43
0,36
0,27
0,41
p (sem calçado)
0,04
0,07
0,02
0,33
0,42
0,13
0,07
0,13
0,11
0,17
0,66
0,35
0,59
0,97
0,53
0,52
0,57
0,14
0,18
0,28
0,15
Tabela II – Correlação entre a dor lombar gestacional e as variáveis cinéticas da marcha durante a gestação na
13a-15a, 25a-27a e 34a-36a semanas gestacionais na situação com calçado (p < 0,05).
Variáveis cíneticas
Primeiro pico esquerdo
Primeiro pico direito
Segundo pico esquerdo
Segundo pico direito
Taxa aceitação peso esquerdo
Taxa aceitação peso direito
Primeiro pico esquerdo
Primeiro pico direito
Segundo pico esquerdo
Segundo pico direito
Taxa aceitação peso esquerdo
Taxa aceitação peso direito
Primeiro pico esquerdo
Primeiro pico direito
Segundo pico esquerdo
Segundo pico direito
Taxa aceitação peso esquerdo
Taxa aceitação peso direito
Período gestacional
13a-15a semanas
13a-15a semanas
13a-15a semanas
13a-15a semanas
13a-15a semanas
13a-15a semanas
25a-27a semanas
25a-27a semanas
25a-27a semanas
25a-27a semanas
25a-27a semanas
25a-27a semanas
34a-36a semanas
34a-36a semanas
34a-36a semanas
34a-36a semanas
34a-36a semanas
34a-36a semanas
r(X,Y)
-0,64
-0,66
-0,38
-0,58
-0,34
-0,3
0,08
0,17
-0,12
-0,2
-0,05
-0,12
0,05
0,03
0,1
-0,1
-0,22
-0,26
r²
0,41
0,43
0,14
0,34
0,12
0,09
0,01
0,03
0,02
0,04
0
0,01
0
0
0,01
0,01
0,05
0,07
t
-2,9
-3,03
-1,41
-2,46
-1,25
-1,07
0,23
0,48
-0,35
-0,58
-0,15
-0,34
0,09
0,05
0,18
-0,18
-0,4
-0,47
p
0,01
0,01
0,18
0,02
0,23
0,30
0,82
0,64
0,73
0,57
0,88
0,74
0,93
0,96
0,87
0,87
0,71
0,67
Tabela III – Demontra a faixa de incapacidade por dor lombar, de acordo com Questionário de Oswestry
na situação com e sem calçado.
Faixa de incapa- cidade:13-15
com
25-27
sem
34-36
com
calçado
Mínima
12
13
sem
com
calçado
8
9
sem
calçado
3
3
Moderada
2
2
2
2
1
1
Severa
1
1
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262
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Variáveis biomecânicas
da marcha obtidas na
esteira Kistler-Gaitway
Analisou-se as seguintes
variáveis espaço-temporais:
comprimento do passo (CPA),
comprimento da passada (CP),
tempo de apoio simples (TAS),
tempo de duplo apoio (TDA) e
cadência (CAD). As variáveis
cinéticas: foram: o primeiro pico
de força (PPF), segundo pico de
força (SPF), e taxa de aceitação de
peso(TAP). As figuras 1 e 2
demonstram os valores médios
obtidos durantes a marcha em 3
periodos gestacionais.
A análise da marcha,
principalmente na fase de apoio,
possibilita a diferenciação entre
estruturas patológicas e padrões
normais de caminhar [23,29].
Dados espaço-temporais e
cinéticos
Foi avaliada a correlação entre
a dor lombar gestacional e as
variáveis biomecânicas da marcha
(tabela I e II). Não existiu
correlação entre a dor lombar
gestacional e as variáveis cinéticas
da marcha durante a gestação na
13a-15a, 25a-27a e 34a-36a semanas
gestacionais na situação sem
calçado.
No 1o período estudado houve
correlação significativa moderada
na situação sem calçado entre a dor
lombar gestacional referida com a
passada e o passo direito (tabela
I).
Durante o estudo com 200
mulheres no período de 24/36
horas após o parto não houve
relação entre o ganho de peso
gestacional e a dor lombar [7].
Entretanto, o sintoma de dor
lombar durante a gestação, esteve
presente em 80% dos casos, com
curva ascendente no terceiro
trimestre gestacional e dependência direta das atividades
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 4 - julho / agosto de 2003
domésticas no estudo sobre dor lombar [32]. O desconforto
na coluna lombar, pode ocorrer devido tanto ao ganho de
massa durante a gestação quanto as alterações hormonais,
que diminuem a estabilidade da sacro-ilíaca [33,34].
De acordo com Nicholls e Grieve [35], em um estudo
com 12 gestantes, 50% delas referiram maior dificuldade na
realização das atividades domésticas por dor lombar.
Conclusão
As alterações geradas no corpo da gestante em decorrência
da gravidez têm influência em vários aspectos do sistema da
mulher e os resultados encontrados nesta pesquisa sugerem
mudanças também no mecanismo da marcha.
Quanto ao comportamento da dor lombar, observou-se
que ela foi presente e significativa no primeiro período,
apresentando maior valor dentro da faixa de incapacidade
mínima. Existiu correlação significativa na situação sem
calçado na passada e no passo direito. Houve correlação
significativa da dor com a marcha com calçado no primeiro
pico de força, no segundo pico de força direito, cadência,
duplo apoio e simples apoio esquerdo. No segundo e terceiro
períodos estudados, não foi apontado correlação
estatisticamente significativa nas duas situações avaliadas.
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13.
14.
15.
16.
17.
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Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 4 - julho / agosto de 2003
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Artigo original
Cinesioterapia na redução da incontinência urinária
de pacientes pós-prostatectomizados
Kinesitherapy in reduction of urinary incontinence
in male adults post-prostatectomy
Carina Tárzia Kakihara
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
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○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
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○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
Professora do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista, Campus Bacelar e Anchieta, São Paulo
Palavras-chave:
Cinesioterapia, incontinência
urinária, prostatectomia.
Resumo
Este estudo teve como objetivo verificar a eficácia da cinesioterapia para redução da
incontinência urinária em homens que apresentavam perda urinária devido à
prostatectomia radical ou transuretral, na Clínica de Fisioterapia da Universidade Paulista,
durante dois meses. A aplicação foi realizada com 11 pacientes, com idades entre 53 e 73
anos. Porém, apenas 9 puderam ser utilizados. As quantidades de urina perdidas durante
as avaliações foram medidas através do Pad Test antes e após a intervenção. Para afirmar
a eficácia da cinesioterapia, os pacientes respondiam a quantidade de fraldas utilizadas,
escala análoga visual e índice de qualidade de vida antes e após 2 meses de tratamento.
De acordo com os resultados do Pad Test e análise dos parâmetros citados acima, verificouse que os que apresentavam incontinência muito severa, severa e moderada após a
fisioterapia tiveram redução das perdas. Os resultados sugerem que a cinesioterapia foi
efetiva para este grupo.
Recebido em 29 de janeiro de 2003; corrigido 10 de agosto; aceito 15 de agosto de 2003.
Endereço para correspondência: Rua Padre Machado, 584/61 Saúde 04127-001 São Paulo SP, E-mail: [email protected]
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Abstract
The aim of this study was to verify the effectiveness of kinesitherapy to reduce
urinary incontinence in male adults who showed urinary loss due to radical or transurethral
prostatectomy , in Ambulatory of Physical Therapy of São Paulo University, during two
months. The application was accomplished with eleven patients, 53 to 73 years old.
However, only nine could be used. The quantity of urine loss during the evaluations
were measured by Pad Test before and after intervention. To affirm the effectiveness of
kinesitherapy, the patients answered the quantity of diapers used, Scale Analogy Visual
and Index of quality of life before and after two months of treatment. According to
results of Pad Test and analysis of the methods mentioned, it was verified that the
patients who had very severe, severe and moderate incontinence after physical therapy
had reduction in urinary loss. The results suggested that kinesitherapy was effective for
this group.
Key-words:
Kinesitherapy,
urinary incontinence,
prostatectomy.
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
Introdução
Define-se como incontinência urinária toda perda
involuntária de urina, clinicamente demonstrável, que cause
problema social ou higiênico [1].
O tratamento conservador da incontinência urinária pósprostatectomia é definido como qualquer estratégia de
tratamento que não envolva intervenção cirúrgica.
Prostatectomia radical quando é realizada para controle do
câncer continua a ser uma causa importante de incontinência
no homem [2]. A incidência de qualquer nível de incontinência
(leve, moderada, severa e muito severa) após prostatectomia
radical é 66% e a incidência do uso de fraldas é 33% [3]. Já a
incidência da incontinência seguida de prostatectomia
transuretral continua a ser baixa, aproximadamente 1% [4].
Conforme Netto Jr. [5], a uretra é formada por um tecido
vascular e esponjoso revestido por uma camada muscular e
fibras elásticas que promovem coaptação da mucosa uretral
levando a um efeito selante. A insuficiência intrínseca do
esfíncter é causada por atrofia e substituição do tecido
vascular esponjoso por tecido fibroso, diminuindo ou
anulando o efeito selante e favorecendo a perda urinária.
É necessário lembrar que o diafragma pélvico é
constituído pelos músculos coccígeos (10% do total) e
elevadores do ânus (90%), além das duas fáscias que envolvem
ambos os músculos, ou seja, fáscia superior e inferior do
diafragma pélvico. Esse diafragma é de extrema importância,
pois funciona como um assoalho pélvico sustentando as
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○
vísceras em sua topografia normal. Além disso, o diafragma
pélvico, principalmente o músculo elevador do ânus possui
um papel essencial na continência urinária porque atua como
um poderoso esfíncter, uma vez que forma uma cinta ao
redor da uretra e ânus [6].
De acordo com Kampen et al. [7], é importante assinalar
que a reeducação do assoalho pélvico com o trabalho da
cinesioterapia, para fortalecer o músculo elevador do ânus,
deve ser considerada como a primeira opção no tratamento
da incontinência urinária após prostatectomia radical.
Os exercícios para os músculos do assoalho pélvico
também reduzem a perda urinária em homens durante as
quatro primeiras semanas após a prostatectomia transuretral.
A melhora resulta do aumento da força de contração desses
músculos [8].
A cinesioterapia é a terapia de suporte em homens
incontinentes que seguem um regime intensivo de exercícios
com fisioterapeutas [9,10].
Conforme Carrière [11], a meta do tratamento nesses
pacientes é obter continência esfincteriana. É necessário
desenvolver força elástica e suficiência do músculo elevador
do ânus.
Diante disso, busca-se investigar a eficácia da reeducação
do assoalho pélvico nos pacientes incontinentes devido à
prostatectomia radical e prostatectomia transuretral, com
duração maior ou igual a 2 meses, através da cinesioterapia
para o músculo elevador do ânus, procurando proporcionar
melhor qualidade de vida a esses pacientes.
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Material e métodos
O experimento foi realizado com 11 pacientes
incontinentes após cirurgia de retirada de tumor na próstata,
do sexo masculino, com idade entre 53 e 73 anos, com
duração de incontinência maior ou igual a 2 meses e com
níveis de incontinência variando entre leve, moderada, severa
e muito severa. Os pacientes foram atendidos na Clínica de
Fisioterapia da Universidade Paulista, da cidade de São Paulo,
no período de maio de 2002 a janeiro de 2003.
Foram excluídos deste trabalho, pacientes neurológicos
com bexiga neurogênica e pacientes que foram submetidos
à cirurgia para recuperar a continência e pacientes que
interromperam o tratamento fisioterapêutico durante o
decorrer dos 2 meses de cinesioterapia. Todos os pacientes
aceitaram voluntariamente participar do estudo após terem
sido encaminhados por urologistas, por solicitação do
profissional.
Dos 11 pacientes que iniciaram o tratamento
fisioterapêutico, apenas 9 puderam ser utilizados neste
trabalho. Um deles foi descartado porque evoluiu com
infecção urinária que não apresentou melhora com
medicação. Outro paciente desistiu do tratamento.
Os materiais utilizados durante os atendimentos foram:
maca e lençóis; bola pequena; bola terapêutica grande; cadeira,
papel e lápis, fralda; ficha de avaliação fisioterapêutica; ficha
de pad test, escala análoga visual; índice de qualidade de vida;
ficha para anotar quantas fraldas são usadas.
A cinesioterapia durou 40 minutos, uma vez por semana
durante 2 meses. Os exercícios domiciliares foram feitos em
dias em que o paciente não realizava a cinesioterapia com a
fisioterapeuta, 3 vezes ao dia, perfazendo um total de 90
contrações diariamente.
Antes de iniciar o tratamento fisioterapêutico, os pacientes
foram submetidos à avaliação fisioterapêutica, ao pad test
inicial, responderam quantas fraldas utilizavam naquele
momento, marcaram a opinião subjetiva na escala análoga
visual e responderam ao índice de qualidade de vida
relacionado aos sintomas (tabela I).
O tratamento fisioterapêutico foi iniciado com uma
explicação da anatomia e função do assoalho pélvico e da
bexiga. Posteriormente, a fisioterapeuta usando uma luva
realizou o toque retal para sentir se o paciente conseguia
contrair o músculo elevador do ânus. Foi feito um programa
de conscientização da musculatura do diafragma pélvico por
meio do treinamento da contração correta deste músculo.
Os pacientes foram treinados a contrair este músculo sem
ocorrer a contração simultânea dos músculos abdominais,
glúteos e/ou adutores da coxa.
Os exercícios foram realizados com o paciente em quatro
posições: supino, decúbito lateral, sentado em uma bola
terapêutica e em pé. No primeiro atendimento os exercícios
de contração do músculo elevador do ânus foram efetuados
com o paciente em supino e em decúbito lateral. No segundo
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atendimento, os exercícios foram realizados com o paciente
sentado em uma bola terapêutica e em pé. A partir da terceira
sessão de fisioterapia, o paciente realizou a contração deste
músculo tanto na postura deitada e sentada quanto em pé.
Os pacientes foram também orientados a realizar as
contrações musculares dentro das atividades diárias.
Inicialmente para recrutar o máximo de fibras musculares
quanto possível, foram orientados 5-10 segundos, com 1220 repetições. Em um segundo momento, exercícios de
endurece foram ensinados para manter uma contração
muscular de 65-75% de força máxima. O tempo de contração
foi de 20-30 segundos com um tempo igual de descanso,
com 8 até10 repetições.
Após 2 meses de tratamento fisioterapêutico, os pacientes
foram submetidos novamente ao pad test final, responderam
quantas fraldas utilizavam naquele momento, o índice de
qualidade de vida relacionado aos sintomas e marcaram a
opinião subjetiva na escala análoga visual (tabela II).
Método estatístico
Para avaliarmos possíveis diferenças entre 1a Escala
Análoga Visual, 2a Escala Análoga Visual, número de fraldas,
bem como qualidade de vida, antes e após 2 meses de
tratamento, usamos o teste não paramétrico da Prova dos
Sinais [12].
Este teste foi o preferido pois algumas variáveis são
qualitativas, porém traduzidas por um número.
Considerou-se que um comportamento igual entre antes
e após 2 meses, bem como uma piora foi representado por
um sinal negativo e, uma melhora como sinal positivo. Em
todos os casos o nível de rejeição para a hipótese de nulidade
foi fixado sempre em um valor igual ou menor do que 0,05
(5%).
Quando a estatística calculada apresentou significância
usamos um asterisco (*), caso contrário, não significante N.S.
É importante observar que a Prova do Sinal despreza
comportamento iguais, antes e após, porém no nosso caso
este comportamento é considerado ruim e portanto essa
igualdade foi considerada.
Resultados
A partir dos relatos de casos e análises da evolução da
Escola Análoga Visual, número de fraldas e índice de
qualidade de vida, pode-se perceber que, na situação inicial
de tratamento, todos os pacientes que tinham incontinência
muito severa e severa, após 2 meses de fisioterapia passaram
a ter redução da quantidade de urina perdida durante o 2º
Pad Test, como demonstra tabela II.
Um paciente com incontinência moderada passou a leve
após a cinesioterapia. Dois pacientes com incontinência leve
não obtiveram mudança no 2º Pad Test, permanecendo com
incontinência leve. Entretanto, os dados da Escola Análoga
21/08/03, 19:28
Fisioterapia Brasil - Volume 4 - Número 4 - julho / agosto de 2003
268
Tabela I - Caracterização dos pacientes antes de iniciar a fisioterapia.
nº do paciente
1
2
3
4
5
6
7
8
9
idade
(anos)
72
68
70
67
61
71
72
60
67
1º PAD test
35grs incontinência leve
5grs incontinência leve
5grs- incontinência leve
115grs incontinência muito severa
100grs incontinência muito severa
10grs incontinência leve
30grs incontinência moderada
75grs incontinência severa
490grs incontinência muito severa
1a escala
análoga visual
5 / 3
5 / 5
10 / 10
5 / 5
3 / 5
3 / 1
5/ 5
4 / 10
10 / 10
nº fraldas
5
3
3
uripen
4
1
2
3
5
índice de qualidade
de vida
Muito satisfeito
Regular
Infeliz
Satisfeito
Insatisfeito
Satisfeito
Regular
Infeliz
Infeliz
2º escala análoga visual
nº de fraldas
índice de qualidade
Obs: Escala Análoga Visual: _____________
0
10
sem incont.
totalm.incont.
0
nenhum problema
__________________
10
grande problema
Tabela II - Caracterização dos pacientes após 2 meses de cinesioterapia.
nº do paciente idade (anos)
de vida
1
72
2
68
3
70
4
67
5
61
6
71
7
72
8
60
9
67
2º PAD test
35grs incontinência leve
5grs incontinência leve
10grs incontinência leve
85grs incontinência severa
60grs incontinência severa
10grs incontinência leve
5grs incontinência leve
10grs incontinência leve
90grs incontinência severa
Tabela III - Resultados da 1a Escala Análoga Visual antes e após o
tratamento e resultado da Estatística.
indivíduo antes
após prova do sinal 1
5
4
2
5
3
3
10
5
4
5
7
5
3
5
6
3
5
7
5
5
8
4
5
9
10
10
N=9
X = 3, p = 0,254 N.S. ou 25,4% N.S.
prova do sinal +
+
+
+
Tabela IV - Resultados da 2a Escala Análoga Visual antes e após o
tratamento e resultado da estatística.
indivìduo antes apòs
prova do sinal 1
3
3
2
5
2
3
10
10
4
5
10
5
5
5
6
1
5
7
5
5
8
10
5
9
10
10
N=9
X = 2, p = 0,090 N.S. ou 9,0% N.S.
artigo 06.pmd
268
prova do sinal +
+
+
4 / 3
3 / 2
5 / 10
7 / 10
5 / 5
5 / 5
5 / 5
5 / 5
10 / 10
5
3
1
uripen
2
1
1
2
3
Muito satisfeito
Regular
Infeliz
Satisfeito
Regular
Satisfeito
Satisfeito
Insatisfeito
Muito insatisfeito
Visual demonstram que suas opiniões subjetivas quanto aos
seus problemas urinários melhoraram.
Dos nove pacientes, 5 tiveram redução do nº de fraldas
utilizadas após o tratamento fisioterapêutico. Somando-se
a isso, quatro pacientes também melhoraram a qualidade
de vida com relação aos sintomas urinários.
Os resultados da análise estatística com relação à 1a Escala
Análoga Visual antes e após a cinesioterapia mostram que
dos 9 pacientes avaliados e tratados, apenas 3 apresentaram
melhora na 1a Escala Análoga Visual, como é mostrado na
tabela III.
Na 1 a Escala Análoga Visual não houve melhora
estatisticamente significante da 1a avaliação (antes) para a 2a
avaliação (após 2 meses).
Os resultados da análise estatística com relação à 2a Escala
Análoga Visual antes e após a cinesioterapia mostram que
dos 9 pacientes avaliados e tratados, apenas 2 apresentaram
melhora na 2a Escala Análoga Visual, como é mostrado na
tabela IV.
Na 2 a Escala Análoga Visual não houve melhora
estatisticamente significante da 1a avaliação (antes) para a
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