Check-up: um compromisso da mulher atual * Gilberto Ururahy Culturalmente, o brasileiro é avesso a qualquer medida preventiva. Até bem pouco tempo, a prevenção de doenças na mulher, por exemplo, se resumia ao exame ginecológico e das mamas, isso, quando esses eram realizados. Mas a liberdade conquistada com a igualdade de direitos fez da mulher atual uma ativista em todos os campos. Hoje em dia, ela tem dupla jornada de trabalho e é submetida à mesma tensão, ou talvez maior, que a do homem. Uma pesquisa realizada pelo International Stress Management Association (Isma-BR) mostrou que 94,3% dos profissionais são afetados pelo estresse. O instituto americano Roger Starch Worldwide apontou uma diferença de 20% a mais de mulheres estressadas comparadas com os homens. Além disso, hoje, a mulher fuma, bebe, alimenta-se de forma inadequada, faz uso de anticoncepcionais, se automedica e, não raro, é sedentária. Como consequência, a mulher está desenvolvendo uma série de patologias que antes eram mais frequentes no universo masculino. As doenças cardíacas, que acabam conduzindo ao infarto, são cada vez mais comuns entre elas. Além da tensão maior, os riscos de doença do coração são agravados pelo hábito de fumar, uso de anticoncepcionais e por aumentos da pressão arterial causados pelo acúmulo de colesterol nas paredes das artérias. Hoje, a Sociedade Brasileira de Cardiologia já fala em epidemia de infartos do miocárdio em mulheres jovens. Uma pesquisa realizada simultaneamente com o Perfil de Saúde do Executivo Brasileiro, em uma população de 5 mil mulheres, entre executivas, profissionais liberais e donas de casa, entre 30 e 60 anos, realizada pela Med-Rio Check-up, entre 1990 e 2005, mostrou que a alimentação desequilibrada (80%), o sedentarismo (70%), o sobrepeso (60%), as hemorroidas (46%), o tabagismo (46%) e o estresse (40%) são alguns dos problemas mais frequentes entre as mulheres entrevistadas. A má alimentação somada ao sedentarismo tem desenvolvido nas mulheres quadros de obesidade que, se não diagnosticados e corrigidos precocemente, podem conduzi-las ao diabetes, à hipertensão arterial e aos acidentes vasculares cerebrais. O hábito de fumar entre as mulheres também contribui para o desenvolvimento de um grande número de patologias pulmonares (bronquites, enfisemas, câncer). Diante desse cenário, hoje, nos países desenvolvidos, o check-up feminino tornou-se bem mais completo do que antigamente. Avaliações clínicas, ginecológicas, mastológicas, pneumológicas, radiográficas, ultrassonográficas, audiométricas e laboratoriais têm sido muito úteis no diagnóstico e prevenção das doenças que acometem a mulher. No Brasil, especialmente no meio corporativo, um contingente expressivo de mulheres já incorpora o hábito de realizar checkup anual. Nas doenças específicas do sexo feminino, o estresse crônico contribui para os atrasos menstruais, frigidez, maior sofrimento na tensão pré-menstrual, na menopausa, osteoporose e várias outras doenças. As doenças que mais preocupam as mulheres são o câncer de mama e o de colo uterino. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de mama é o segundo mais frequente no mundo e o mais comum entre as mulheres. A cada ano, dos novos casos registrados de câncer, 22% são de mama. A retirada da mama, normalmente, gera depressão, apatia, irritabilidade e muitas vezes perda da vontade de viver. Os efeitos negativos são enormes no seu emocional, no seu corpo e na sexualidade. Através do exame clínico da mama e da mamografia digital é possível fazer um diagnóstico precoce da doença. No caso de câncer de colo de útero, que representa 10% de todos os tumores malignos nas mulheres, a prevenção ainda é mais simples: é realizada através de esfregaço de células colhidas do colo uterino. Durante o exame preventivo anual, podese identificar o HPV (papilomavírus humano), que contribui para o desenvolvimento de células cancerosas. Em um check-up mais amplo, não raro nos deparamos com outros tipos de câncer em fase inicial, como o de pulmão, bexiga e tireoide. Como o hábito regular da prática de exames periódicos é capaz de prevenir boa parte dessas enfermidades ao longo da vida adulta, é sempre bom lembrar que, por mais que tenhamos uma rotina agitada, é imprescindível reservar um espaço na agenda para a saúde. Esse, sim, é um compromisso que não devemos adiar.