Manual de Lepra Manual de Lepra Clínica geral e especial Clínica geral e especial 1 Manual de Lepra PARTE 1 A DOENÇA: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO INFORMAÇÃO GERAL A Lepra é uma doença transmissível, causada por uma micobactéria, que afecta primàriamente os nervos periféricos e a pele, e que secundàriamente provoca paralisias dos músculos que dependem dos nervos afectados e falta de sensibilidade em algumas áreas do corpo. . Afirma-se geralmente que a causadora , micobactéria da lepra, tem alta infecciosidade mas de baixa patogenicidade; isto significa que entre as pessoas que entram em contacto com a bactéria muitas ficam infectadas, mas felizmente poucas delas desenvolvem doença clinicamente evidente. A Lepra foi durante muitos anos uma das causas mais importantes de morbilidade e de invalidez no nosso país, assim como em vários outros países em via de desenvolvimento. Em Moçambique a situação epidemiológica no último dia do ano 2000 se pode resumir de seguinte maneira: - O país ocupa a sexta posição no mundo em termos de taxa de prevalência mais alta, que é de 4,5 por 10.000 habitantes - É o segundo país em África com mais Lepra diagnosticada e em tratamento a seguir a Madagáscar. - Sendo um país com cerca de 17.579.585 habitantes, cerca de 10.560.654 habitantes,( 60%) vivem em províncias do país onde a doença é ainda problema de saúde pública (mais do que 1 caso por cada 10.000 habitantes).As restantes regiões , embora tenham Lepra em índices inferiores, não podem deixar de merecer atenção especial. - A taxa de cura é de 80% - A percentagem de casos novos em crianças (0-14 anos) é de 12 % - A percentagem de casos novos com deformidades visíveis, devido Lepra é de 14,2% Nos últimos anos, com a introdução da Terapêutica de Medicamentos Associados (TMA), evidenciou-se a possibilidade de eliminar a doença do nosso País e dos outros continentes, o que significa reduzir a taxa de prevalência da Lepra para menos de um doente por cada dez mil habitantes. A eliminação deve ser 2 Clínica geral e especial Manual de Lepra alcançada até ao nível de aldeia. Moçambique aceitou a resolução da Organização Mundial da Saúde de 1991, de eliminar a Lepra, o que quer dizer, reduzir a sua prevalência para menos de 1 caso em cada 10.000 habitantes. Antes do tratamento Após o tratamento A MICOBACTÉRIA DA LEPRA O agente causador da Lepra, o Mycobacterium leprae (Fig. 1), foi descoberto por G. A. Hansen, na Noruega, em 1873, e é chamado ainda hoje Bacilo de Hansen (BH), usando o nome do médico que o descobriu. Fig.1: Mycobacterium leprae visto ao microscópio electrónico Clínica geral e especial O Mycobacterium leprae é um parasita que vive obrigatoriamente no interior das células, e tem uma especial afinidade pelas 3 Manual de Lepra células de Schwann e pelo sistema retículo-endotelial. As células de Schwann são aquelas células que envolvem as fibras nervosas e que contribuem para a sua protecção e nutrição (Fig. 2). O sistema retículo-endotelial é um sistema de células destinado à defesa do organismo humano contra a agressão por parte de microrganismos estranhos. Em particular, estão envolvidos nestes mecanismos os macrófagos, células que (como indica o nome derivado do grego) têm a capacidade de fagocitar e consequentemente eliminar os microrganismos estranhos. Fig.2: Estrutura duma fibra nervosa. O cilindro-eixo(A) está envolvido por três bainhas: 1) a mielina 2) a que se chama Bainha de Schwann 3) a Bainha endoneural que os macrófagos ficam aptos a fagocitar os bacilos da lepra, mas não os eliminam, continuando a albergálos vivos no seu interior, às vezes por muitos anos (Fig. 3). Uma característica particular da infecção pela bactéria Mycobacterium leprae (ao contrário da maioria das infecções provocadas por outros germes) é Fig. 3 TRANSMISSÃO DA LEPRA E RESISTÊNCIA INDIVIDUAL Hoje em dia, está cientificamente comprovado que a porta de saída principal do bacilo da Lepra,a partir de uma pessoa doente, é a mucosa nasal. A Lepra transmite-se duma pessoa para outra, sem intervenção de qualquer vector, como por exemplo, qualquer tipo de insecto. 4 A fonte de contágio mais importante é o doente de tipo lepromatoso Clínica geral e especial Manual de Lepra Fig.4: Um doente multibacilar não tratado pode transmitir a lepra a outra pessoa, quando tossir, falar ou espirrar (Multibacilar) não tratado farmacològicamente; ele possui biliões de bacilos vivos por cada grama de pele ou de mucosa nasal afectada e portanto pode espalhar fàcilmente os bacilos quando tosse, expirra ou fala. Calcula-se que no muco nasal de um indivíduo multibacilar que não esteja em tratamento possam ser encontrados cerca de 100 milhões de Micobactérias por dia (Fig. 4). Os bacilos podem permanecer vivos nas gotículas suspensas no ar e naquelas que caiem no chão por mais de 24 horas e, excepcionalmente, até uma semana ou mais, especialmente em condições de clima quente e húmido e ao abrigo da luz solar. Esta prolongada sobrevivência no meio ambiente, favorece a entrada dos bacilos através das vias respiratórias (Fig. 5) e da pele lesada em indivíduo são, embora esta segunda via de transmissão não seja a mais importante As pessoas podem inalar os bacilos ainda vivos e, após a inalação, a partir da mucosa nasal as bactérias espalham-se para alcançar os tecidos alvos (pele e nervos periféricos). Clínica geral e especial 5 Manual de Lepra Lembre-se que somente os bacilos vivos podem infectar outra pessoa. Os medicamentos da Lepra actualmente existentes, têm a capacidade de matar quase todos os bacilos existentes num doente (uma dose de Rifampicina mata 99,999% dos bacilos; a combinação DapsonaClofazimina administrada por 3-6 meses também mata todos os bacilos). Portanto, uma pessoa com Lepra multibacilar que inicie o tratamento correcto deixa de ser infecciosa dentro de pouco tempo e nunca volta a ser infecciosa se continuar a tomar o tratamento até completar o ciclo previsto. A maioria das pessoas é naturalmente resistente à Lepra e quando é infectada pelo bacilo, elimina-o desenvolvendo imunidade permanente. Tudo isto está resumido na Fig. 6. Fig.5: Os micróbios da Lepra entram numa pessoa através das fossas nasais para depois se instalarem na pele e nos nervos mais próximos da pele Só uma pequena percentagem de pessoas infectadas (5%) é susceptível de contrair a doença, porque nestas os mecanismos de resistência imunitária (defesas orgânicas) estão alterados. Em pessoas diferentes, o grau da resistência varia, podendo ser Fig.: 6 forte, moderada, fraca ou estar completamente ausente, determinando assim os diferentes aspectos, formas clínicas e classificação diferentes, da doença. 6 Na pequena percentagem de pessoas que são susceptíveis à Lepra, após a Clínica geral e especial Manual de Lepra infecção decorre um período assimptomático de incubação, de duração prolongada e variável; considera-se que o período de incubação da Lepra (desde a infecção até ao aparecimento dos primeiros sinais clínicos) é em media de 5-7 anos. SINAIS CARDINAIS DA LEPRA Os sinais que caracterizam clínicamente a doença são (Fig. 7): Lesões da pele. Perda de sensibilidade: nas lesões da pele, ou nas extremidades Engrossamento de alguns nervos periféricos Presença de bacilos da Lepra nos esfregaços da pele Fig.7: Sinais cardinais da Lepra Clínica geral e especial 7 Manual de Lepra Lesões da pele compatíveis com Lepra. O tipo, o número de lesões e a sua distribuição na pele, bem como as suas características morfológicas (bordos, superfície) variam de acordo com a resistência do organismo para com a Mycobacterium leprae (Ml). A resistência condiciona também o número de bacilos que conseguem invadir o organismo (número relativamente pequeno de bacilos, na Lepra com poucos bacilos - número muito elevado de bacilos, na Lepra com muitos bacilos). Lesões cutâneas e suas características. Tipo: mácula (mancha) = lesão plana placa = lesão elevada de superfície ampla e infiltrada. pápula = lesão elevada de pequenas dimensões (diâmetro inferior a 1 cm) nódulo = lesão elevada de dimensões maiores de que a pápula infiltração difusa Distribuição: assimétrica, simétrica Bordos: bem definidos, mal definidos Superfície: lisa, áspera. Cor: hipopigmentação, cor de cobre As máculas (manchas) e as placas (lesões ligeiramente infiltradas) podem estar presentes em todas as formas de Lepra (Fig. 8, Fig. 9, ). Os seus bordos podem estar: bem definidos (sinal de resistência para com o M.leprae), na Lepra com poucos bacilos, ou mal definidos (sinal de resistência fraca ou ausente para com o M.leprae), na Lepra com muitos bacilos. Fig.8: Mancha Hipocrómica Ao tacto, a sua superfície pode parecer: Fig.9: Placa 8 áspera e seca (sinal de resistência imunitária alterada que afectou precocemente as fibras nervosas que inervam as glândulas sudoríparas existentes nas áreas das lesões, com Clínica geral e especial Manual de Lepra consequente secura da pele lesada) na Lepra com poucos bacilos, ou lisa (nas formas em que a resistência está muito fraca ou ausente, as glândulas sudoríparas continuam funcionando) na Lepra com muitos bacilos. Em pessoas de pele escura, a cor das lesões pode ser: mais clara do que a pele normal (hipopigmentação): quer dizer que nas manchas a cor da pele apresenta-se mais clara do que na pele normal (mas nunca apresenta perda total da cor) ou, cor de cobre As pápulas (Fig. 10) estão presentes nas formas de Lepra com elevada resistência imunitária ; Os nódulos (Fig. 11) são típicos das formas com baixa resistência imunitária . No seu interior estão sempre presentes bacilos álcool-ácidoresistentes. A pele em cima dos nódulos tem uma cor normal. Fig.11: Nódulo A infiltração difusa da face com perda das sobrancelhas, ou a infiltração Fig.10: Pápulas dos membros, observa-se nas formas em que a resistência contra o M.leprae está completamente ausente; normalmente, estas áreas estão repletas de bacilos. A Lepra num paciente com forte resistência imunitária , pobre em bacilos, caracteriza-se por lesões com distribuição assimétrica: máculas (manchas) ou placas que apresentam bordos bem definidos e superfície áspera ao tacto A Lepra num paciente com fraca resistência imunitária, caracterizase por lesões com distribuição simétrica: manchas ou placas com bordos mal definidos, lisas ao tacto. Apresenta também outras lesões, como nódulos ou infiltração difusa. Perda da sensibilidade A perda sensorial numa lesão cutânea individual ou numa área da pele, território de um determinado nervo periférico manifesta-se por uma diminuição parcial Clínica geral e especial 9 Manual de Lepra Lepra paucibacilar (tuberculóide). Pequenas manchas hipopigmentadas na região epigástrica e na região mamária direita, com bordos bem definidos e cura central. Duas pequenas lesões satélites. Geralmente, com o tratamento, lesões deste tipo curam-se rapidamente, deixando apenas uma cicatriz levemente hipopigmentada e enrugada Lepra paucibacilar (tubercolóide). Placa na testa, com marcada infiltração indicando activa resposta imunitária. A parte central está parcialmente em vias de cura. Lepra paucibacilar. Grandes manchas hipopigmentadas na nádega esquerda e região lombar,e nas coxas, com falta de sensibilidade táctil e dolorosa. 10 Lepra paucibacilar. Mancha hipopigmentada no ombro esquerdo, com bordos irregulares mas bem definidos e sinais de cura central. Há também falta de sensibilidade. Clínica geral e especial Manual de Lepra ou total da sensibilidade ao calor, ao tacto e/ou à dor. Engrossamento dos nervos Há aumento da espessura dos nervos periféricos nos lugares de predilecção, isto é, o nervo Cubital imediatamente acima da fossa cubital; o nervo Radial cutâneo no punho ou na face posterior do úmero; o nervo Mediano junto ao flexor retinaculum; o nervo Poplíteo externo ao circundar o colo do perónio; o nervo Tibial posterior, atrás do maléolo interno; o nervo Grande auricular; o nervo Supraorbital; o nervo Facial. Além disso, os ramos cutâneos próximos de uma lesão podem estar espessados. Bacilos nos esfregaços da pele Presença de bacilos álcool-ácido resistentes nos esfregaços da pele, principalmente na Lepra com muitos bacilos ( imunidade muito baixa) Para confirmar o diagnóstico, num país, ou numa área endémica, como é o caso de MOÇAMBIQUE, o diagnóstico de Lepra deve ser colocado se o suspeito apresenta pelo menos um dos sinais cardinais acima descritos. PROCEDIMENTOS A SEGUIR QUANDO APARECE UM DOENTE COM SINAIS DE SUSPEITA DE LEPRA O diagnóstico de Lepra é sempre um diagnóstico muito sério, por causa das possíveis implicações sociais que dele poderão advir. O tratamento da doença é ainda feito por um período de tempo relativamente longo e exige uma boa qualidade no seguimento dos doentes. É conveniente, portanto, que se sigam certos procedimentos para assegurar que está sendo feito tudo o que é necessário para um bom atendimento ao doente. Resumidamente, os pontos que devem ser seguidos quando um doente se apresenta com sinais de suspeita de Lepra são os seguintes: Exame clínico para a lepra, que inclui os seguintes procedimentos: 1. fazer uma história clínica resumida 2. mandar despir o doente e observar o estado de toda a pele 3. avaliar os nervos periféricos (tamanho dos troncos nervosos periféricos, presença ou ausência de dor à palpaçao suave e feita delicadamente) Clínica geral e especial 11 Manual de Lepra 4. executar os testes de sensibilidade nas eventuais lesões da pele( manchas hipocrómicas ) 5. executar os testes de sensibilidade nas extremidades (mãos e pés ) 6. efectuar baciloscopia nas lesões e nos lóbulos das orelhas (se possível) 7. decidir se o doente tem Lepra (diagnóstico de lepra) 8. classificar a forma de Lepra (classificação operacional) 9. avaliar se a Lepra está em fase activa ou inactiva 10.registar o doente, preenchendo correctamente a ficha clínica. 11.avaliar a presença de complicações da Lepra (reacções, danos sensoriais, danos motores), especialmente nos olhos, e registar o grau de deformidades do doente 12.fazer educação sanitária individual, virada para os problemas encontrados específicamente em cada doente. 13.iniciar a terapêutica de medicamentos associados (TMA) adequada 14.avaliar a presença de complicações da Lepra (reacções, danos sensoriais, danos motores), especialmente nos olhos, e registar o grau de deformidades do doente 15.dar educação sanitária individual, orientada para os problemas encontrados. É muito importante ganhar o hábito, de seguir os pontos acima listados sempre na mesma ordem, para evitar esquecer alguns procedimentos. Os capítulos seguintes visam esclarecer os procedimentos acima listados. EXAME CLÍNICO PARA A LEPRA (de: Manual para o controlo de lepra, II ed., O.M.S., com modificações) História Uma história clínica do doente deve ser feita referindo a ocasião, o sitio e a natureza das primeiras lesões observadas. Da mesma forma é preciso obter informações detalhadas sobre tratamentos recebidos anteriormente, respeitantes ao doente e seus familiares ; proucurar informações sobre a possível fonte de infecção ( outras pessoas conhecidas, com Lepra) . A história geral deve incluir informações sobre doenças anteriores importantes, enfermidades intercorrentes e alergias medicamentosas. Todos estes dados devem ser registados na ficha clínica do doente. 12 Clínica geral e especial Manual de Lepra Exame clínico para a Lepra Observação da pele O exame deve ser feito num local com boa iluminação, de preferência com luz natural. O doente deve estar despido virado para a luz. O clínico deve ficar de costas para a luz. Toda a pele do paciente deve ser examinada, tendo-se o necessário cuidado de respeitar a sua privacidade (Fig. 12). É preciso dar especial atenção às áreas onde as lesões da pele ocorrem com maior frequência, isto é, a face, as orelhas,o tronco anterior e posterior, as nádegas etc. Particular atenção deve ser dada à observação das nádegas, pois muitas vezes a única lesão se encontra nesse local. Siga sempre a mesma ordem quando examina a pele dum doente: sugere-se que começe pela face,o tronco anterior e as faces anteriores dos membros superiores e Fig. 12 inferiores. A seguir mande o paciente virar-se, fazendo uma rotação de 180 graus, expondo a face posterior do seu corpo à luz. Da mema forma siga a sequência de observação de cima para baixo. Não se esqueça de observar as nádegas. O examinador deve procurar lesões cutâneas, como máculas, pápulas, nódulos, infiltrações, assim como qualquer atrofia muscular, e/ou úlceras tróficas. Das lesões cutâneas deve-se observar essencialmente a distribuição, o tipo e o número. Devem ser registados e assinalados na ficha clínica (num esboço do corpo humano): Distribuição: assimétrica ou simétrica das lesões Tipo de todas as lesões cutâneas existentes, sejam máculas, pápulas, placas, lesões anulares, nódulos ou infiltrações. Deve-se ter atenção particular na localização das lesões e na marcação da sua forma e do seu tamanho (dados essenciais para os futuros controles). Clínica geral e especial 13 Manual de Lepra Número: até 5 lesões ou mais de 5 lesões. Deve-se anotar se existe actividade ou não das lesões cutâneas: presença ou ausência de sinais de inflamação, o grau e a extensão da infiltração e a presença ou ausência de reacção, inclusive o edema e descamação de lesões, assim como edema nas mãos e nos pés. A periferia de cada lesão cutânea, especialmente o bordo exterior, deve ser cuidadosamente palpada para detectar a presença de nervos sensoriais cutâneos espessados. Execução dos testes de sensibilidade nas lesões cutâneas A perda de sensibilidade cutânea nas áreas afectadas pelas lesões cutâneas (ou em outras áreas inervadas por nervos periféricos) é um dos sinais de Lepra. A perda de sensibilidade cutânea pode ser em relação ao tacto, à dor ou ao calor e ao frio. A avaliação da sensibilidade térmica é a mais difícil no trabalho de rotina. Por essa razão, o teste sensorial efectua-se, geralmente, para o tacto, pois é o tipo de sensibilidade que resulta afectada de maneira mais precoce na Lepra. Examina-se a sensibilidade táctil através dum leve toque, utilizando um tampão de algodão, cuja extremidade foi enrolada por forma a ficar afunilada. Isto permite exercer sobre a pele uma pressão muito leve. (Em caso de falta de algodão, pode-se utilizar o toque muito leve de uma pena de ave). Não se deve mexer o algodão nem fazê-lo escorregar sobre a pele: é mais fácil perceber a sensação duma coisa que se está a movimentar do que uma coisa que está somente a tocar. Desta forma poder-se-ia perder uma área onde a sensibilidade está diminuída, mas ainda não completamente perdida. Dá-se o nome de anestesia à perda total de sensibilidade e de hipoestesia à sua diminuição. Para a execução de todos os TESTES SENSITIVOS: Deve-se primeiro fazer uma demonstração do teste, utilizando uma área de pele normalmente sensível, a fim de que o doente veja e compreenda o que irá ocorrer a seguir. 14 Fig. 13: Teste de sensibilidade numa área de pele normal. A doente consegue indicar exactamente o sítio onde foi tocada Clínica geral e especial Manual de Lepra Os testes devem ser realizados com os olhos do doente vendados, para que ele não veja a aplicação do estímulo, ou pelo menos com a cabeça virada para o lado oposto. O doente deverá apontar exactamente com o dedo indicador o lugar onde foi aplicado o estímulo táctil (ou doloroso) (Fig. 13); o erro máximo aceitável é de 2 cm (é preciso sempre comparar com o outro lado simétrico do corpo). Se o doente não conseguir indicar o lugar onde foi tocado, ou o indicar com um erro maior de 2 cm, isto significa que aquela área apresenta diminuição ou perca da sensibilidade táctil (Fig.: 14). Se houver dúvidas sobre a presença de hipoestesia ou anestesia numa área da pele, é preciso repetir o teste com a máxima calma e cuidado. Sensibilidade nas lesões cutâneas: É o primeiro passo a ser executado depois da observação do estado da pele; é fundamental avaliar a sensibilidade nas lesões cutâneas (manchas, pápulas, placas). Fig. 14: Teste de sensibilidade cutânea numa mancha de Lepra Paucibacilar. A doente não percebe o toque, porque a mancha apresenta anestesia. Deve-se fazer o teste em várias lesões cutâneas, bem como nas extremidades (como a seguir especificado). Se a lesão cutânea for grande, deve-se testar a sensibilidade também em vários sítios da mesma lesão. RECORDAR QUE : A ausência ou a diminuição de sensibilidade numa lesão cutânea pode significar Lepra. Avaliação dos nervos periféricos Os principais troncos nervosos periféricos atingidos na Lepra devem então, ser examinados (Fig. 15). Deve-se registar: seu tamanho (seja normal ou aumentado de maneira ligeira, moderada ou acentuada) e sua consistência (seja elástica, firme ou dura). Também deve-se anotar se há dor à palpação. Para este fim, ao fazer a palpação, deve-se procurar distrair o doente (por ex. conversando com ele) enquanto se observa a sua face para ver se reage ou não (indicando que a palpação teria despertado sensação de dor). Clínica geral e especial 15 Manual de Lepra Cada um dos nervos dum lado do corpo deve ser cuidadosamente comparado com o nervo correspondente do lado oposto (lembrando que em qualquer pessoa, normalmente existem pequenas diferenças de tamanho entre os nervos dos dois lados). Os achados devem ser registados na ficha clínica. Os nervos a serem palpados compreendem: O nervo Supraorbital O nervo Supraorbital,palpase passando o dedo indicador ao longo da fronte a partir da linha mediana em sentido lateral. (Fig. Fig. 15: Sítios de predilecção pelo espessamento 16) dos nervos na lepra Fig. 16: Nervo Supraorbital Fig. 17: Palpação do nervo Grande auricolar O nervo Grande auricular. Palpa-se depois de virar a cabeça para um lado, gesto que distende o nervo ao longo do músculo Esternocleidomastóideo (Fig. 17). 16 Clínica geral e especial Manual de Lepra O nervo Cubital. Palpa-se imediatamente acima da fossa Cubital (Fig. 18). Para a sua palpação, com o doente olhando para si, peça-lhe para dobrar um pouco o cotovelo e agarre a mão dele com a sua mão, por forma a suportar o peso do antebraço. Ponha o dedo mínimo da outra mão na fossa olecraniana (que é aquela pequena fossa que se encontra entre as duas cabeças ósseas no lado interno do cotovelo); os outros dedos ficam assim em contacto com a pele do braço. Deslize os dedos com muita suavidade, para dentro e para fora por forma a avaliar o tamanho do nervo e se o paciente sente ou não dor. Fig. 18: Palpação do nervo Cubital Fig. 19: Palpação do ramo cutâneo do nervo Radial O ramo cutâneo do nervo Radial. Palpa-se no bordo lateral do Rádio, próximo da articulação do punho (Fig. 19) deslizando os dedos a partir da face dorsal do punho em direcção à face palmar; O nervo Poplíteo externo. Palpa-se atrás do joelho para sentir o nervo na fossa poplítea, medial ao tendão do bíceps femoral; e onde ele passa em volta do colo do perónio (Fig. 20 e Fig. 21). Para a palpação deste nervo, ponha o doente sentado à sua frente; procure a cabeça do perónio. Normalmente, o nervo passa em torno do colo do perónio, aproximadamente 1 cm em baixo e 1 cm atrás da cabeça do perónio; assim é possível palpá-lo passando os dedos por cima Fig. 20: Palpação do nervo Poplíteo externo acima do colo do perónio Clínica geral e especial 17 Manual de Lepra desta área (Fig. 20). Também pode pedir ao doente para que fique de pé, com os joelhos ligeiramente dobrados; ponha os seus polegares por cima das rótulas e com os outros dedos circunde o joelho e palpe o nervo na fossa do poplitea, perto do tendão do Bicípite femoral. O nervo Tibial posterior. Palpa-se o nervo atrás e abaixo do maléolo interno, por trás da artéria Tibial posterior (Fig. 21). Além dos nervos acima listados, podese palpar também os ramos nervosos periféricos dos nervos seguintes: Fig. 21: Palpação do nervo Tibial posterior Avaliação da sensibilidade cutânea nas extremidades. Em seguida, passa-se a avaliar a sensibilidade cutânea nas extremidades (palmas das mãos e plantas dos pés). Esta sensibilidade tem a finalidade de proteger as mãos. Avalia-se com o toque da ponta de uma esferográfica ou de um lápis. Mãos As palmas das mãos são inervadas pelas fibras sensitivas do Cubital (dedos anelar e mínimo) e do Mediano (dedos polegar, indicador e médio) (Fig. 22). Uma lesão destas fibras provoca falta de sensibilidade na parte da pele correspondente. Tome a mão do doente na sua mão de modo a que os dedos do doente se 18 Clínica geral e especial Manual de Lepra mantenham firmes (Fig. 23) e com a ponta duma caneta toque nos 10 pontos indicados na ficha clínica, nomeadamente: pontas dos dedos Fig. 22 eminências tenar eminências hipotenar três pontos intermédios entre as cabeças do 2° e 3°, do 3° e 4°, do 4° e 5° metacárpios. A pressão deve ser moderada: o peso da esferográfica geralmente exerce uma pressão suficiente. (Nota: o uso do peso Fig. 23 da caneta sem exercer pressão adicional e os pontos fixos a serem avaliados são características fundamentais para executar futuros controles duma forma comparável). É sempre preciso comparar os resultados com uma área de pele normalmente sensível, para avaliar se a técnica está adequada e se o doente compreende o que vai acontecer. Fig. 23 Tome nota depois e de imediato,os resultados encontrados na ficha clínica. Pés As plantas dos pés são inervadas pelas fibras sensitivas do Tibial posterior. Uma lesão destas fibras provoca falta de sensibilidade na planta do pé. Para as plantas dos pés use também a ponta da esferografica como fez na Fig. 23. O doente deve cruzar a perna correspondente ao pé a ser analisado, sobre a coxa do lado oposto. Coloque assim a sua mão na parte dorsal do pé do doente para manter os dedos firmes e, com a ponta de uma caneta, examine a sensibili- Clínica geral e especial 19 Manual de Lepra dade nos dez pontos que estão indicados na ficha clínica. DIAGNÓSTICO DA LEPRA Os sinais cardinais para o diagnóstico clínico da Lepra são: lesões cutâneas com perda de sensibilidade (normalmente manchas hipocrómicas mas podem ser papulas, nódulos e ou placas) espessamento dos nervos presença de bacilos álcool-ácido resistentes nos esfregaços da pele Qualquer clínico deve fazer o diagnóstico depois de um minucioso exame e somente quando os sinais e sintomas forem claros e inequívocos. Se houver dúvidas, deve-se explicar ao doente os factos mais relevantes da Lepra e mantido em observação,sem no entanto ser preciso interná-lo, (rever o caso suspeito após 3 meses, até que outras provas definam o diagnóstico)., explicando-lhe também a necessidade dele se apresentar à US imediatamente no caso de agravamento dos sinais clínicos existentes. Quando o diagnóstico estiver formulado, o doente precisa de começar logo o tratamento, que depende da sua classificação clínica. CLASSIFICAÇÃO DA LEPRA Para muitas doenças é importante ter um sistema de classificação. A sua importância é ainda maior para uma doença como a Lepra, que apresenta grandes mudanças nas suas manifestações clínicas e acentuadas diferenças na sua imunologia, histologia, evolução e epidemiologia. A principal importância da classificação para a estratégia de controlo da Lepra, relaciona-se com: a escolha do regime quimioterápico apropriado ao tratamento; a identificação dos doentes infecciosos, de suma importância epidemiológica e que, portanto, devem ser o principal alvo da quimioterapia; a identificação dos doentes mais aptos a desenvolverem complicações. 20 Clínica geral e especial Manual de Lepra O pilar principal para a classificação da Lepra é a clínica e faz-se de acordo com o número e a morfologia das lesões cutâneas e as manifestações neurológicas. O exame bacteriológico dos esfregaços das lesões cutâneas constitui somente um meio complementar para a classificação dos casos. Hoje, com uma finalidade eminentemente prático-operativa, (O.M.S.) os doentes são classificados em dois grupos, Paucibacilares (PB) ou Multibacilares (MB), que estão relacionados com as suas características clínicas e bacteriológicas. Classificação operacional (O.M.S.) Lepra Paucibacilar (PB). Os doentes têm um número relativamente baixo de bacilos (poucos bacilos = paucibacilar). Nestes, a resposta imunitária é boa, mas não completa; a defesa orgânica está alterada mas é ainda forte: por isso a doença é limitada. A baciloscopia é geralmente negativa. Fig. 24 Estão incluídos nesta classificação os casos antigos que foram diagnosticados, segundo a classificação de Ridley e Jopling, como Indeterminados (I), Tuberculóides (TT) e os borderline ou Dimorfos Tuberculóides (BT, DT) com baciloscopia negativa. Estes doentes apresentam poucas lesões (manchas ou placas; de 1 até 5 no máximo), com bordos bem definidos e às vezes elevados. A perda de sensibilidade nas lesões, a hipopigmentação e a cura central são características evidentes. Nas lesões, a superfície da pele fica seca e áspera ao tacto, por falta de suor, e apresenta perda de pêlos. A distribuição das lesões é assimétrica (Fig. 24). (Às vezes podem estar presentes as lesões chamadas satélites). Os nervos periféricos geralmente não estão comprometidos; contudo pode ser encontrado somente 1 nervo afectado. Estes doentes muitas vezes podem desenvolver reacções de tipo I, com ou sem neurites. É esta a razão que provoca, com frequência e rapidez, o dano nervoso Clínica geral e especial 21 Manual de Lepra (às vezes irreversível) e as incapacidades. Lepra Multibacilar (MB) São doentes que têm um grande número de bacilos (muitos bacilos = multibacilar). A resposta imunitária é fraca ou está ausente: a doença é geralmente disseminada. Encontram-se bacilos em muitas ou em todas as áreas do corpo, inclusive no muco nasal. A baciloscopia é geralmente positiva nas lesões. Os casos que clínicamente parecem paucibacilares, mas que têm baciloscopia positiva, são automaticamente casos multi-bacilares. Esta classificação inclui todos os casos classificados como dimorfos ou borderline (BB), borderline lepromatosos (BL) e lepromatosos (LL), pela classificação de Ridley e Jopling, assim como quaisquer outros tipos com baciloscopia da pele positiva. Existem lesões em número elevado e variadas, tais como manchas, placas, infiltrações e nódulos isoladas ou combinadas. Geralmente os bordos são mal definidos e a superfície é lisa. Encontrar mais de 5 manchas indica Lepra Multibacilar; da mesma forma, a infiltração cutânea e os nódulos são característicos da Lepra Multibacilar. Os olhos, o nariz e ou os testículos podem estar também afectados Os nervos atingidos podem ser numerosos e o dano manifesta-se tàrdiamente durante o decurso da doença. Quando se encontrarem 2 ou mais nervos engrossados, a doença tem de ser classificada como Lepra Multibacilar, ao contrários dos casos em que só há um tronco nervoso engrossado, classificando-se a Lepra de Paucibacilar Na fase precoce da doença, a sensibilidade nas lesões mantêm-se, enquanto que na fase avançada se encontra diminuída ou ausente em grandes áreas do corpo, devido ao dano, tanto a nível dos troncos nervosos como das fibras nervosas cutâneas. As lesões distribuem-se simétricamente (ou apresentam tendência à simetria) (Fig. 27). É a forma de Lepra mais contagiosa. Se não for tratada é uma grande fonte de contágio para a comunidade e provoca graves danos nervosos no próprio doente. Podem aparecer complicaçoes, as Reacções, de que falaremos mais adiante. Resumindo: 22 Clínica geral e especial Manual de Lepra Lesões da pele Lepra Paucibacilar a) 1-5 lesões (manchas ou placas) b) hipopigmentadas ou eritematosas c) distribuição assimétrica d) clara perda de sensibilidade Dano dos Nervos somente um tronco (com perda consequente nervoso afectado da sensibilidade e/ou fraqueza dos músculos inervados pelo nervo afectado) Lepra Multibacilar a) mais de 5 lesões (manchas ou placas) b) presença de nódulos e/ou infiltração da pele c) distribuição mais simétrica mais de um tronco nervoso afectado AVALIAÇÃO DA ACTIVIDADE DA LEPRA Definição operacional de um caso de Lepra Um caso de Lepra é: uma pessoa que apresenta sinais clínicos de actividade da doença, com ou sem confirmação bacteriológica, e que requer quimioterapia, ou que está a receber quimioterapia. Isto é, um doente com a Lepra na fase activa. Isto significa que não são considerados casos de Lepra os doentes que tenham completado o tratamento e que só necessitem estar ou estejam ainda sob vigilância, e aqueles com deformidades e incapacidades causadas pela lepra no passado (embora necessitem também de cuidados por causa das suas incapacidades): todos estes doentes devem constar, eventualmente, em listas separadas. Como classificar o doente activo ou não activo na base de critérios clínicos? O doente é considerado em fase activa se apresentar: Clínica geral e especial 23 Manual de Lepra lesões da pele parcial ou totalmente elevadas (nódulos, pápulas, placas e infiltrações delimitadas ou difusas). presença de eritema nas lesões cutâneas. ulcerações das lesões cutâneas. manifestação de lesões novas ou aumento das dimensões das pré-existentes. presença de dores ao longo dos troncos nervosos, espontâneas ou provocadas pela palpação. presença de troncos nervosos de consistência mole (para além de estarem engrossados). nova área de anestesia nas extremidades ou aumento duma área anestésica préexistente. aparecimento de novas paralisias em músculos anteriormente não afectados. (a baciloscopia revela bacilos sólidos). Todos os doentes em fase activa devem ser postos em tratamento farmacológico com a terapêutica de medicamentos associados (TMA), segundo a sua classificação clínica. Deve-se recordar a necessidade de diferenciar estes sinais de actividade (que nos indicam que os doentes precisam de tratamento TMAA), da presença duma reacção (indicação de atitude terapêutica diferente); para o diagnóstico diferencial destas duas condições, ver mais adiante (Reacções - Recaídas). REGISTO DO DOENTE Quando é diagnosticado um caso de Lepra, (isto é, um doente em fase activa que precisa de tratamento), o doente deve ser imediatamente registado de forma apropriada. Por isso deve-se: 1. abrir uma ficha clínica. Nela devem ser registados todos os dados pessoais do doente, a sua história clínica (relacionada com a Lepra), a observação das lesões cutâneas, o estado dos nervos periféricos, a classificação operacional (PB ou MB) e o tipo de tratamento que o doente deve tomar. Além disso, na ficha clínica serão apontados outros dados essenciais, tais como a avaliação dos testes sensoriais e motores e o grau de deformidades do doente. 2. preencher o cartão de identificação do doente com Lepra, que serve para identificar o próprio doente e para registar o tipo de tratamento e as doses tomadas. Este cartão fica com o doente. 3. registar o doente e os seus dados no livro de registo de doentes de Lepra. 24 Clínica geral e especial Manual de Lepra 4. registar o doente no Registo de Tratamento, conforme o esquema de tratamento recomendado (administrar logo o tratamento e marcar a dose tomada). 5. apontar o nome e os dados dos doentes na ficha de avaliação de resultados de tratamento, que será enviada ao Supervisor Provincial no fim do trimestre, juntamente com a notificação trimestral do distrito. A Lepra pode provocar frequentemente (até num terço dos doentes, ou mais) alterações das funções sensoriais e motoras, com consequentes deficiências e possivelmente deformidades graves, como paralisias, amputações e úlceras. AVALIAÇÃO DO GRAU DE DEFORMIDADES. O objectivo final do tratamento precoce dos doentes de Lepra é evitar o aparecimento das deformidades e imcapacidades ou o seu agravamento. Portanto, é da máxima importância avaliar também o estado funcional dos órgãos que mais frequentemente podem estar afectados pela Lepra; isto deve ser feito no primeiro contacto com o doente e regularmente durante o ciclo de tratamento. Dois tipos de testes devem sempre ser feitos a todos os doentes: testes de avaliação da sensibilidade (testes sensitivos) nas extremidades, e testes de avaliação da função motora ( testes motores) dos músculos voluntários. No fim, deve-se registar na ficha o grau de deformidades do doente, facto que é muito importante para a avaliação e o seguimento do doente. Testes sensitivos nas extremidades As técnicas de avaliação da sensibilidade cutânea nas extremidades já foram descritas anteriormente, no capítulo sobre os sinais da Lepra. Em todos os doentes deve ser avaliada a sensibilidade cutânea das palmas das mãos e das plantas dos pés, e os achados devem ser registados correctamente na ficha clínica do doente. Na mesma altura o examinador deve observar se a pele das mãos ou dos pés está seca (sinal de possível dano das fibras nervosos autónomas). Se encontrar anestesia ou secura da pele ou outros danos evidentes, o clínico deve fornecer ao doente educação sanitária adequada e orientada. Testes motores Estes testes servem para avaliar a FUNÇÃO NEUROMOTORA, especialmente a dos nervos Cubital, Mediano, Facial e Poplíteo externo, utilizando-se os Clínica geral e especial 25 Manual de Lepra testes abreviados para os músculos voluntários. Dedo Mínimo Os músculos deste dedo são inervados pelo nervo Cubital. Fig. 25 Um dano neste nervo (Fig. 25) causa fraqueza ou paralisia dos movimentos do dedo. O nervo Cubital é um dos primeiros nervos afectados. Peça ao doente que mova o dedo mínimo para dentro e para fora. Se ele não consegue fazer isso, significa que há paralisia. Caso consiga, mantenha firmemente a mão do doente na sua mão (por forma a lhe impedir de fazer força com a articulação do punho), peçalhe para desviar o dedo mínimo para fora com muita força e oponha resistência com o seu indicador na base do dedo desviando. Se ele consegue manter o dedo mínimo nesta posição, a força é normal; caso não consiga, a força é fraca. Outro método, é mandar apertar um papel entre o dedo mínimo e o polegar. O clínico deve depois tentar tirar o papel e regitar depois se a força encotrada è forte, fraca ou ausente ( paralisia ). È importante fazer o mesmo teste na outra mão , para comparar os resultados. Polegar Os músculos deste dedo são inervados pelo Mediano. Peça ao doente (Fig. 26) que movimente para fora e levante o polegar (até alcançar uma posição perpendicular à mão). Se ele não conseguir, há paralisia. Se conseguir, mantenha firmemente a mão do doente na sua mão (por forma a lhe impedir de fazer 26 Fig. 26 Clínica geral e especial Manual de Lepra força com a articulação do punho), peça-lhe para manter esta posição com força e oponha uma resistência com o seu indicador na ponta interna do polegar. Se ele mantém a posição, a força é normal; se não a mantém, é fraca. Outro método, que avalia simultaneamente os dedos polegar e mínimo, é mandar juntar os dois dedos (polegar e mínimo) fazendo um O, e depois tentarmos abri-los com o uso do indicador e polegar do clínico. Se não conseguirmos abrilos ou existir uma certa dificuldade, significa que a força dos dois dedos do doente é normal; caso contrário, um dos dois dedos ou ambos estão fracos. Se o doente não conseguir juntar os dois dedos e formar um O, isto significa que um dos dois dedos está paralisado. Pé Os músculos que fazem levantar e baixar o pé são inervados pelo nervo Poplíteo externo. Um dano deste nervo determina fraqueza ou paralisia neste movimento. Peça ao doente que levante e baixe a ponta do pé (Fig. 27). Se não conseguir, há paralisia (pé caído). Fig. 27 Caso consiga, peça-lhe para que o mantenha levantado com força. Com a ajuda da sua mão empurre o pé para baixo. Se for para o chão, o pé está fraco; caso não conseguir, está normal. Pálpebras Os músculos das pálpebras são inervados pelo nervo Facial. Peça ao doente que feche levemente os olhos. Se não conseguir (o globo ocular fica visível) significa que há paralisia (LAGOFTALMIA); neste caso é preciso medir os milímetros de abertura das pálpebras (Fig. 28). Clínica geral e especial Fig. 28 27 Manual de Lepra Se conseguir fechar os olhos, peça-lhe que o faça com muita força e tente abrilos com os dedos (Fig. 29). Caso consiga abri-los sem encontrar resistência, significa que a força dos músculos palpebrais está fraca. Caso não consiguir abri-los, é porque encontra resistência e significa que a força palpebral é normal. EXAMINE sempre a outra metade, simétrica do paciente e faça a comparação. Fig. 29 Grau de deformidades A presença e o grau de gravidade das deformidades, p.ex. lagoftalmia, mão em garra, pé caído, ou em garra, etc. devem-se analisar cuidadosamente. A classificação das deformidades recomendada pela OMS fornece os parâmetros, a partir dos quais se podem classificar as incapacidades a fim de: 1) no que diz respeito ao doente: 28 Fig. 30 Clínica geral e especial Manual de Lepra indicar as necessidades de tratamento e as actividades de prevenção, permitir uma avaliação sobre o avanço das complicações da doença 2) no que diz respeito ao programa: avaliar o atraso no despiste dos casos (intervalo entre o início da doença e o diagnóstico), avaliar a qualidade do seguimento ou controlo do doente. O sistema de graduação compõe-se de três níveis (0, 1, 2), que têm relação com a presença e a gravidade da incapacidade e as acções que a equipa sanitária poderá tomar. No que diz respeito às mãos e aos pés: Grau 0 = não se encontram deformidades, nem anestesia, nem paralisia. Grau 1 = presença de anestesia parcial ou total das mãos / pés ou fraqueza, mas sem deformidades ou lesões visíveis. Grau 2 = presença de paralisia / garras ou úlceras / gretas abertas ou mutilações (deformidades visíveis) (Fig. 30). Em relação aos olhos: Os olhos devem ser cuidadosamente examinados, inclusive as sobrancelhas, as pestanas, as pálpebras, as conjuntivas, a pupila e o cristalino. Grau 0 = nenhum problema com os olhos devido à lepra; nenhum sinal de perda de visão. Grau 1 = problemas com os olhos devido à lepra, mas a visão não está muito afectada (o doente pode contar dedos a uma distância de seis metros); anestesia da córnea; fraqueza das pálpebras. Grau 2 = insuficiência visual grave (incapacidade em contar os dedos a uma distância de seis metros), lagoftalmia, cegueira (Fig. 31). Fig. 31 Clínica geral e especial 29 EDUCAÇÃO SANITÁRIA PARA O DOENTE Manual de Lepra O que é que o doente deve saber: Antes de iniciar o tratamento Causa, modo de transmissão e manifestações da doença. O que ele/ela deve esperar do tratamento (lembrar que os medicamentos matam apenas os bacilos e páram o avanço da doença; as deformidades já produzidas permanecem assim como às vezes, também as manchas). Como tomar os medicamentos e a que horas. Duração do tratamento. Importância da regularidade na medicação mensal supervisada e na autoadministrada (em casa). Já que está em tratamento, a contagiosidade vai diminuir. Pode continuar a vida normal na sua família. Possibilidade de reacções e sinais delas. No caso de reconhecer os sintomas duma reacção, é necessário que o doente volte a apresentar-se o mais depressa possível no Centro de Saúde onde está em tratamento. Causa das deformidades (as reacções são a causa principal das deformidades); normas simples para a prevenção e o tratamento das incapacidades. Possibilidade do aparecimento de efeitos secundários dos medicamentos (lembrar que a Clofazimina escurece a pele e que a Rifampicina muda a cor da urina 30 Clínica geral e especial Manual de Lepra para vermelho). Necessidade de se examinar os familiares e encaminhar os suspeitos para o Centro de Saúde mais próximo. Além disso, o doente deve saber que pode sempre recorrer à ajuda do enfermeiro, quando aparecer qualquer problema relacionado com a doença. Em cada sessão de tratamento mensal: Repetir a educação sanitária como no ponto anterior 1 e esclarecer as dúvidas do doente. Indicar a data da próxima dose mensal supervisada; que pode ou não ser na Unidade Sanitária (deve ser anotada no cartão individual do doente). Se o doente estiver em tratamento com Prednisolona por uma reacção, deve-se educá-lo para que não suspenda o tratamento de repente, por nenhuma razão (deve-se reduzir a dosagem muito devagar). Na altura da alta de tratamento: Explicar que: O desaparecimento das lesões residuais dar-se-á progressivamente; algumas lesões podem curar deixando cicatriz. Não é necessário ir procurar tratamento em qualquer outra parte. O tratamento recebido foi suficiente para matar todos os bacilos. Alertar sobre a possibilidade de recaída ou reacção (e explicar o que é recaída ou reacção): se novas lesões aparecerem ou se os sintomas voltarem, ele/ela deverá apresentar-se, imediatamente, para exame e orientação. Repetir os conselhos sobre prevenção e tratamento das deformidades. Se o doente tiver qualquer dúvida em relação à sua doença, é necessário que volte a apresentar-se imediatamente no Centro de Saúde. Todas as informações de educação sanitária acima descritas podem ser dadas: Em sessões colectivas: no dia da concentração dos doentes para o tratamento, o clínico explica ao grupo de doentes reunidos os vários assuntos de interesse colectivo, baseando-se numa lista de tópicos prèviamente preparados a serem apresentados e discutidos. Sugere-se que o clínico agrupe os tópicos em 6 grupos, por forma que um doente PB poderá ouvir todas as informações uma vez durante o seu ciclo de tratamento, enquanto um doente MB terá a ocasião de ouvir os mesmos assuntos 4 vezes durante o seu ciclo de tratamento. Em sessões individuais, viradas às necessidades específicas de cada doente, no Clínica geral e especial 31 Manual de Lepra momento em que se entrega a TMA. Logo após o diagnóstico, o registo e após ter feito a educação sanitária adequada à situaçao do doente, o caso de Lepra deve começar imediatamente o tratamento conforme a sua classificação clínica. TRATAMENTO O tratamento da Lepra efectua-se com uma combinação de medicamentos (terapêutica de medicamentos associados, TMA). Tratamento acompanhado (TMAA) A entrega dos medicamentos TMA ao paciente deve ser sempre feita na presença de mais alguém da comunidade, a quem designamos por ACOMPANHANTE ou PADRINHO. Daí a designação TMAA (terapêutica de medicamentos associados acompanhado ou apadrinhado). Vantagens do esquema de medicamentos associados Os doentes contagiosos deixam de ser uma fonte de infecção para a comunidade depois de terem tomado as primeiras doses. A actual duração do tratamento é bem definida: 12 meses para os doentes Multibacilares (MB) e 6 meses para os doentes Paucibacilares (PB), com capacidade de cura de aproximadamente 100% dos casos. A possibilidade de resistência a esta associação de medicamentos é praticamente nula. A TMAA traz também uma redução do número e da gravidade das reacções lepróticas, com consequente redução da incidência de deformidades e incapacidades. Estas vantagens só são efectivas se os doentes fizerem tratamento regular e em doses adequadas. Caso contrário, podem tornar-se novamente contagiosos e desenvolver resistência aos medicamentos já utilizados (se o tratamento for irregular ou inadequado). Existem dois esquemas de tratamento poliquimioterápico para os doentes de Lepra, que são utilizados de acordo com a sua classificação clínica. Em ambos os regimes, o medicamento mais importante é a Rifampicina, ao 32 Clínica geral e especial Manual de Lepra qual se acrescenta mais um ou dois outros medicamentos, para evitar o aparecimento de resistências. É importante salientar que o tratamento da lepra so com um medicamento resulta sempre no desenvolvimento de resistência àquele medicamento; portanto a monoterapia (com Dapsona ou com outro medicamento sozinho) é uma prática médica não ética e está actualmente proibida. Doentes PB (Paucibacilares). O tratamento para doentes PB é constituído por dois medicamentos: Rifampicina, 600 mg em dose única (nos adultos), uma vez por mês, a ser tomada sob supervisão. Dapsona, 100 mg (nos adultos), a ser tomada todos os dias, em casa, na dosagem de um comprimido diário Este tratamento è constituído por 6 doses mensais a serem tomadas no período máximo de 9 meses. Acabado este período, deve-se fazer a reavaliação clínica do doente (e a baciloscopia, caso seja possível): Se os doentes são clínicamente inactivos, têm alta de tratamento (ATT), mesmo que não tenham feito a baciloscopia. O importante é fazerem o tratamento completo e regular. Se a baciloscopia se tornar positiva, passam para a TMAA-Multibacilares (MB) e devem tomar um ciclo completo de 12 doses. Se os doentes apresentarem sinais de actividade clínica (especialmente se houver aparecimento de novas lesões e de novos nervos engrossados e/ou dolorosos), deve ser considerada a hipótese duma má classificação inicial e a necessidade de administrar um novo ciclo completo de TMAA-MB. Neste caso, os doentes deverão fazer baciloscopia com a determinação do índice morfológico.(I.M.) Devem também, ser observados o mais cedo possível pelo supervisor provincial, pelo médico ou outro pessoal qualificado e experiente. Se apresentarem sinais de reacção no fim do período de tratamento com TMAA-PB, este pode ser terminada normalmente, mas o doente deve receber tratamento adequado para a reacção durante todo o tempo necessário e ficar sob controle. Doentes MB (Multibacilares). O tratamento dum doente MB é um pouco mais complexo, sendo constituído por três medicamentos, e com uma duração mais prolongada. Os medicamentos utilizados são: Clínica geral e especial 33 Manual de Lepra Rifampicina, 600 mg em dose única (nos adultos), a ser tomada sob supervisão. Clofazimina, 300 mg em dose única (nos adultos), a ser tomada sob supervisão. Clofazimina, 50 mg por dia (nos adultos), a partir do segundo dia do mês, a ser tomada diàriamente, em casa; Dapsona, 100 mg (nos adultos), a ser tomada todos os dias, em casa. O tratamento é constituído por 12 doses mensais a serem tomadas num período máximo de 18 meses. Após este período de tratamento os doentes são reavaliados clinicamente (e fazem baciloscopia de controle, se for possível): Se forem clinicamente inactivos (e a baciloscopia negativar ou continuar positiva mas com valores do Índice Baciloscópico não superiores aos da primeira baciloscopia), são postos em ATT (alta de tratamento). Se apresentarem sinais de actividade clínica (ou a baciloscopia piorar o seu Índice Baciloscópico), parar com o tratamento TMAA-MB, mas devem ser observados o mais cedo possível pelo Supervisor Provincial ou pessoal mais qualificado. Se apresentarem sinais de reacção no fim do período de tratamento com TMAA-MB, esta poderá ser terminada normalmente, mas o doente deverá receber tratamento adequado para a reacção durante todo o tempo necessário. Nas seguintes páginas, encontra-se um quadro resumido dos dois esquemas de tratamento, com as respectivas indicações. Esquemas de tratamento Lepra Paucibacilar Doentes com: poucas (1 até 5) manchas ou pápulas ou placas cutâneas e baciloscopia negativa sòmente 1 nervo periférico afectado e baciloscopia negativa Dosagem para Adultos PB 34 Carteira para doente adulto Paucibacilar Clínica geral e especial Manual de Lepra Tratamento Mensal: Dia 1 Rifampicina 600 mg (2 cáps x 300 mg) Dapsona 100 mg (1 comp) Tratamento diário: Dias 2-28 Dapsona 100 mg (1 comp) Duração do Tratamento: 6 carteiras a serem tomadas num período compreendido de 6 a 9 meses. Dosagem para Crianças PB (10-14 anos) Tratamento Mensal: Dia 1 Rifampicina 450 mg (1 cáps 300 +1 cáps 150) Dapsona 50 mg (1 comp) Tratamento diário: Dias 2-28 Dapsona 50 mg (1 comp) Duração do Tratamento: 6 carteiras a serem tomadas num período compreendido de 6 a 9 meses. Lepra Multibacilar Doentes com: mais de 5 lesões cutâneas (manchas ou placas), e/ou presença de nódulos, e/ou infiltração cutânea Clínica geral e especial 35 Manual de Lepra 2 ou mais nervos periféricos afectados todos os doentes com baciloscopia positiva. Dosagem para Adultos MB Tratamento Mensal: Dia 1 Rifampicina 600 mg (2 cáps x 300 mg) Clofazimina 300 mg (3 cáps x 100 mg) Dapsona 100 mg (1 comp) Tratamento diário: Dias 2-28 Clofazimina 50 mg (1 cáps) Carteira para doente adulto Multibacilar Dapsona 100 mg (1 comp) Duração do Tratamento: 12 carteiras a serem tomadas num período compreendido de 12 a 18 meses. Dosagem para Crianças MB (10-14 anos) Tratamento Mensal: Dia 1 Rifampicina 450 mg (1 cáps 300 +1 cáps 150) Clofazimina 150 mg (3 cáps x 50 mg) Dapsona 50 mg (1 comp) 36 Clínica geral e especial Manual de Lepra Tratamento diário: Dias 2-28 Clofazimina 50 mg 1 cáps em dias alternados Dapsona 50 mg, 1 comp, dose diária Duração do Tratamento: 12 carteiras a serem tomadas num período compreendido de 12 a 18 meses. Toma supervisada: significa que o doente deve tomar a dose de medicamentos à frente de alguém, que pode ser o clínico, um familiar idóneo, um líder comunitário, etc. Para crianças de idade inferior a 10 anos, deve-se adequar a dosagem; por exemplo, Rifampicina 300 mg, dapsona 25 mg e Clofazimina 100 mg uma vez por mês + 50 mg duas vezes por semana. Nota: As dosagens por kg de peso corporal são as seguintes: Rifampicina: 10-12 mg/kg de peso corporal, mensalmente. Dapsona: 1-2 mg/kg de peso corporal por dia. Clofazimina: a dose óptima e eficaz ainda não foi estabelecida (para as crianças é aproximadamente de 5 mg/kg de peso corporal por semana). Registo das tomas supervisadas pelo Clínico. Quando o clínico administra a dose mensal supervisada, deve registar o evento no Registo de tratamento. Da mesma forma, no fim de cada mês, deverá marcar como faltosos (F) todos aqueles doentes que não se apresentaram para receber o tratamento, e activar todos os mecanismos possíveis para a sua procura. Nos distritos em que o tratamento é efectuado em dias fixos, uma vez por mês: Se o doente aparecer num dia que não é dia da concentração mensal para o tratamento, deve-se dar imediatamente o tratamento e registar a presença (no registo de tratamento e no cartão individual). Para facilitar o doente e fazer com que volte na ocasião seguinte na data certa, marca-se no cartão individual também a data da toma supervisada seguinte. Clínica geral e especial 37 Manual de Lepra Lembre: o intervalo mínimo entre uma dose supervisada e a seguinte é de 3 semanas, e o intervalo máximo aceitável é de 6 semanas; intervalos superiores devem ser considerados como faltas. Contraindicações dos Medicamentos e Precauções. A Rifampicina não deve ser administrada a doentes com insuficiência hepática ou renal grave. Em doentes com anemia grave, deve-se aguardar que o nível de hemoglobina seja aumentado mediante tratamento adequado, antes de se iniciar a terapêutica com Dapsona. Os doentes com alergia medicamentosa às sulfonas, como por exemplo : Fansidar, Cotrimoxazol, não devem tomar Dapsona. Quando houver dor abdominal e/ou diarreia crónica intermitente, deve-se evitar o uso da Clofazimina. Os doentes que sofram de Tuberculose pulmonar activa devem receber quimioterapia adicional adequada. No caso de problemas com os medicamentos, deve-se consultar com urgência o Supervisor Provincial ELAL/ ELATl ou a Secção Nacional de TB/ LEPRA , para receber sugestões e para organizar eventuais regimes terapêuticos alternativos. SEGUIMENTO DO DOENTE E REGULARIDADE À TMAA É muito importante recordar ao doente e ao seu padrinho ou acompanhante, seguir o tratamento de modo regular, durante todo o tempo necessário. Isto deve ser claramente explicado a ambos no momento do início do tratamento; permite que a doença seja efectivamente curada e evita o possível aparecimento de resistência bacteriana devida ao uso irregular dos medicamentos. Doente regular É considerado regular: o doente PB que consegue tomar 6 doses mensais num período máximo de 9 meses; 38 Clínica geral e especial Manual de Lepra o doente MB que consegue tomar 12 doses mensais num período máximo de 18 meses. Doente que abandonou e volta a apresentar-se Se o doente que abandonou reaparece, deve ser examinado clinicamente (e, caso seja possível, pedir-se a baciloscopia): Se apresentar sinais de actividade, deve reiniciar o tratamento completo, ou completar as doses, conforme as explicações do parágrafo anterior. No livro de registo é notificado como REENTRADO APÓS ABANDONO Se não apresentar sinais de actividade, é posto em Alta de Tratamento (ATT). Circunstâncias especiais. Em circunstâncias especiais, tais como problemas de distâncias, situações culturais ou sociais, ocupações ou vida nómada, os doentes podem receber medicamentos para mais de um mês e excepcionalmente para todos os seis meses no caso dos doentes PB e 12 meses no caso dos MB. A prioridade absoluta deve ser a de completar as 6 doses mensais para PB dentro de 9 meses e as 12 doses mensais para MB dentro de 18 meses. É preciso explicar muito bem ao doente e ao padrinho ou acompanhante a: dosagem dos medicamentos e periodicidade das tomas duração do tratamento e possíveis efeitos secundários dos medicamentos duração do tratamento possível aparecimento de Reacções recomendar que o doente volte a apresentar-se imediatamente à US quando tiver qualquer problema ou dúvida. Controle inicial, durante o tratamento e na altura da ATT. No início do tratamento: Exame clínico completo Baciloscopia ( se possível) Educação sanitária Cada seis meses: Exame clínico completo para todos os doentes Clínica geral e especial 39 Manual de Lepra Baciloscopia (se tiver sido feita no início ) Na altura da (Alta de tratamento) A.T.T.: Exame clínico (e baciloscópico, se possível), no qual se deve verificar se: as lesões existentes não aumentaram de tamanho e nenhuma nova lesão apareceu; não há envolvimento de algum nervo até então não afectado (parestesia ou paralisia); as lesões mostram sinais de regressão. Estes achados devem ser registados na ficha clínica do doente. No caso de aparecimento de um processo inflamatório agudo, de aparecimento súbito, reacção, ou agravamento da doença: Exame clínico (e baciloscópico, se possível); na altura das tomas mensais supervisadas, deve-se sempre investigar a possível presença duma reacção. Controles após a Alta de Tratamento Não estão previstos controles específicos. Porém, antes de dar alta ao doente deve-se adverti-lo de que: o desaparecimento das lesões se dará gradualmente; não é necessário procurar tratamento em qualquer outra parte; se novas lesões aparecerem ou se os sintomas voltarem, ele/ela deverá apresentarse, imediatamente, para exame e orientação. igualmente, se o doente tiver qualquer dúvida em relação à doença, é importante que ele se apresente imediatamente na Unidade Sanitá. COMPLICAÇÕES DURANTE E APÓS O TRATAMENTO Reacções. A reacção é uma inflamação aguda, que pode aparecer no decurso normal da doença, causada por uma mudança da resposta imunitária individual contra o bacilo. Às vezes, a reacção é o sinal inicial que leva o doente a se apresentar pela primeira vez à unidade sanitária. As reacções devem ser consideradas como uma emergência porque frequente- 40 Clínica geral e especial Manual de Lepra mente provocam dano nervoso e consequentes incapacidades. Logo desde o primeiro dia em que o doente inicia o tratamento anti-lepra e de vez em quando durante o tratamento, é preciso lembrar que podem aparecer reacções e é preciso explicar sempre ao doente os principais sinais e sintomas. É preciso aconselhar para que ele se apresente o mais cedo possível ao Centro de Saúde mais próximo da sua residência. Também, tem que se explicar ao doente que, no caso aparecerem sinais de reacção, ele terá de continuar o tratamento antileprótico, pois a reacção não é devida a um efeito colateral dos medicamentos, nem exprime agravamento da doença. Reacção do Tipo 1 Esta reacção aparece em doentes PB bem como em doentes MB (com exclusão das formas MB avançadas = LL). Pode aparecer em qualquer altura no decurso da doença, antes até do doente iniciar o tratamento mas é mais frequente durante e nos primeiros 6 meses depois de ter completado o mesmo. Quando acontece uma Reacção tipo 1, muitas vezes a resposta imunitária do organismo melhora e aumenta a luta do organismo contra o bacilo (up grading). Em outros doentes, às vezes, especialmente durante a puberdade ou durante a gravidez, a resposta imunitária diminui (down grading): mesmo nestes casos podem aparecer sintomas e sinais de reacção tipo I. A reacção pode durar muitas semanas ou meses (até 6-9 meses). A reacção do tipo I pode atingir a pele e os nervos, ao mesmo tempo ou separadamente. A reacção é sempre grave quando é atingido um nervo. Pele A reacção inflamatória ocorre geralmente nas lesões pré-existentes; estas tornam-se edematosas, eritematosas, quentes e dolorosas ao toque. Algumas vezes ocorre necrose com ulceração dos tecidos. As lesões, ao regredirem, podem descamar quando a inflamação da pele desaparece. Algumas vezes há erupção de novas lesões na pele, ou podem-se revelar algumas lesões que antes não se estavam claramente visíveis. Nas mãos e nos pés, frequentemente aparece edema, especialmente se as lesões cutâneas se situam nas extremidades dos membros. Clínica geral e especial 41 Manual de Lepra Nas formas mais graves, podem estar presentes mal-estar, dores generalizadas e febre. Nervos É comum haver envolvimento do nervo o que, muitas vezes, é o aspecto predominante durante este episódio. Quando a reacção se localiza no nervo chama-se NEURITE. NEURITE AGUDA: Nervo dolorido Dor espontânea ou à palpação Novas áreas de anestesia Novos defeitos motores Também este caso é uma inflamação: um ou mais nervos espessam-se, algumas vezes muito rápidamente, havendo dor espontânea ou à palpação do nervo lesado; este pode apresentar alteração da sua função sensitiva e/ou motora, especialmente onde os nervos são mais superficiais. Assim o doente pode apresentar perdas sensoriais, motoras e danificação da componente autónoma. A reacção de tipo I comporta frequentemente dano dos nervos nas suas componentes sensorial, autonómica e motora. A lesão destas componentes tem como complicações primárias, respectivamente: a anestesia, a secura da pele, as paralisias. Os distúrbios motores que aparecem num ou mais nervos, como o Cubital, o Poplíteo externo e o Facial, levam à fraqueza dos músculos e o doente corre o risco de ficar com: mão em garra (paralisia do Cubital: garra do 4° e 5° dedos; garra completa e polegar de macaco: paralisia do Cubital e do Mediano), pé caído (paralisia do Poplíteo externo), ou paralisia facial (envolvimento do nervo Facial), particularmente quando o tratamento é negligenciado ou insuficiente. As complicações primárias levam por sua vez a algumas complicações secundárias: perda da sensibilidade. 42 Clínica geral e especial Manual de Lepra Diminuição da habilidade de fazer trabalhos finos ( doente mais desajeitado) Ausência de dor Incapacidade de usar pressões adequadas no desenvolvimento de actividades manuais Surgimento de queimaduras, cortes, hematomas, feridas que podem passar despercebidas Aparecimento de complicações secundárias como cicatrização com retracção, ou infecção secundária osteomielite perda de tecidos e ossos. dano das terminações autónomas . Pele seca, rígida e frágil gretas, feridas, cicatrização com retracção, ou possível infecção secundária, osteomielite perda de tecidos e ossos. atrofia muscular menor controlo dos movimentos, menor estabilidade, diminuição da habilidade em fazer actividades finas, doente mais desajeitado; anomalias na distribuição das pressões (por exemplo: quando o doente tenta agarrar um objecto) pressões anormais, ulcerações repetidas. Reacção do Tipo II (Eritema Nodoso Leprótico = E.N.L.) Este tipo de reacção sòmente aparece nos doentes com Lepra Multibacilar avançada (BL, LL). Pode surgir em qualquer altura, mas é mais frequente durante o tratamento e até 12-18 meses depois do fim do tratamento. É devida à deposição de Imunocomplexos (Antigénios, Anticorpos e Complemento), que causam uma inflamação aguda em qualquer tecido. A pele é o tecido mais visível e, quando atingido, apresenta-se com: nódulos ou placas eritematosas (por isso esta reacção é geralmente conhecida por Eritema Nodoso Leproso) e sensíveis (dolorosas), sobretudo na face, nos braços e nas coxas. Os grupos de nódulos eritematosos e dolorosos aparecem na pele e duram 2-3 dias; depois desaparecem deixando uma marca azulada. Entretanto aparecem outros grupos em áreas diferentes do corpo. O doente muitas vezes apresenta mal-estar geral, febre (elevada à tardinha) e os nódulos podem até ulcerar-se. Clínica geral e especial 43 Manual de Lepra A reacção pode durar semanas ou meses (até 6-9 meses ou mais). Alguns doentes sofrem duma reacção tipo II (E.N.L.) que vai e vem durante um período de vários anos. Outras características da reacção, que podem ou não ocorrer, são: 1. dores nos nervos (às vezes com perda da função motora); 2. dores nos ossos e nas articulações; 3. edema das pálpebras, mãos, pés e edema das articulações; 4. orquite (dores e dano dos testículos); como complicação da orquite, os testículos podem ficar destruídos, e pode aparecer ginecomastia; 5. iridociclite (dores no olho e olho vermelho); a iridociclite pode-se complicar com perfuração do globo ocular e cegueira. Se estes fenómenos acontecem como processo isolado, devem-se tratar da mesma maneira como uma reacção. Neurite Silenciosa Pode acontecer a perda progressiva da função sensitiva e/ou motora sem que o doente se queixe de dor, quer espontânea ou à palpação do nervo atingido. Esta neurite pode ser detectada sòmente efectuando os testes sensitivos e motores de forma periódica e regular. Se a alteração da função do nervo (ex. fraqueza do dedo mínimo) aconteceu há bastante tempo (geralmente há mais de 6 meses), o dano é irreversível, isto é, permanente. Caso a alteração tenha acontecido há pouco tempo (geralmente menos de 3 semanas) a função pode ser recuperada com tratamento anti-reacção. Tratamento das Reacções É conhecido que em muitos casos as reacções aparecem em concomitância com outras patologias, tais como: stress emocional intenso, intervenções cirúrgicas, gravidez, infecções intercorrentes (Malária), infecções parasitárias intestinais, doenças de transmissão sexual, 44 Clínica geral e especial Manual de Lepra Tuberculose. Portanto, é sempre preciso controlar se o doente apresenta alguns sintomas de outras patologias associadas, para tratá-las adequadamente enquanto se trata também a reacção. O tratamento das reacções tem o fim de prevenir o aparecimento de deformidades; por isso, deve ser iniciado com urgência. Os esquemas de tratamento diferem se se trata duma reacção grave ou duma reacção ligeira. Reacções graves Devem ser consideradas reacções graves, quando há: 1. inflamação ou dor no nervo, 2. perda da função nervosa ( sensibilidade ou função motora), 3. febre alta, mal-estar geral, 4. lesões cutâneas muito inflamada e dolorosas, ou pustulosas e/ou ulceradas, 5. iridociclite, 6. orquite, 7. edema das mãos, dos pés, da face ou das articulações, 8. aquelas que iniciaram como ligeiras mas que continuam há mais que 6 semanas sem melhorias. Além das condições precedentes, deve-se considerar como grave também qualquer reacção que envolva o nervo Facial ou a pele por cima do seu percurso na região malar (perto do canto do olho). Antes de iniciar o tratamento anti-inflamatório, é sempre necessário pensar na possibilidade de haver uma Tuberculose associada. Assim, pergunte ao doente se tem tosse há mais de 3 semanas. Nas reacções graves, o tratamento anti-inflamatório é feito essencialmente com Prednisolona , na dose compreendida entre 1 a 2 mg/ kg peso/ dia. Cada comprimido tem normalmente 5 mg de princípio activo. Em geral, a dosagem inicial é de 40 mg por dia (8 comprimidos de 5 mg, tomados todos de uma só vez, ao acordar de manhã). A duração do tratamento com Prednisolona não pode exceder os 4 meses e a Clínica geral e especial 45 Manual de Lepra sua dosagem tem de ser reduzida progressivamente, para evitar o possível aparecimento de efeitos colaterais graves. O esquema de tratamento seguinte é geralmente eficaz nas reacções que aparecem em doentes Paucibacilares e Multibacilares PAUCIBACILARES Dosagem 8 comp/dia 6 comp/dia 4 comp/dia 3 comp/dia 2 comp/dia 1 comp/dia Duração 2 semanas 2 semanas 2 semanas 2 semanas 2 semanas 2 semanas MULTIBACILARES Dosagem 8 comp/dia 6 comp/dia 4 comp/dia 3 comp/dia 2 comp/dia 1 comp/dia Duração 2 semanas 4 semanas 4 semanas 4 semanas 2 semanas 1 semana Contudo, o regime aconselhado pode ser adaptado às circunstâncias particulares de cada distrito (por exemplo, diminuições graduais em cada quatro semanas, por forma a coincidir com o dia da dose supervisada da TMAA). Em crianças e em pessoas de peso inferior a 40 kg, as dosagens devem ser adequadamente ajustadas: a dosagem inicial será de 1 mg/kg de peso corporal, por dia, numa única administração (por ex., numa pessoa de 25 kg a dosagem será de 5 comp/dia); esta dosagem mantém-se por 2 semanas. em seguida. reduzir-se-á progressivamente a dosagem, até acabar o tratamento; a redução será de 5 mg (1 comp) em cada 2 semanas se o doente for PB, ou em cada 4 semanas se o doente for MB. No E.N.L., cuja duração pode ser muito prolongada, aconselha-se para começar o tratamento com Prednisolona (cujas dosagem e duração irão obedecer ao esquema acima apresentado), e acrescentar Clofazimina 300 mg por dia (1 cápsula 3 vezes por dia), a partir do início do segundo mês. A Clofazimina será administrada nestas dosagens diàriamente até que o quadro clínico melhore, geralmente durante as 6 primeiras semanas; em seguida, as dosagens poderão ser diminuídas para 200 mg/dia (2 cáps/dia) durante 2 a 6 meses e mais tarde para 100 mg/dia (1 cáps/dia) durante 1-2 anos. Se aparecer nova deterioração do quadro clínico, não irá ser utilizada novamente a Prednisolona, mas sim será novamente aumentada a dose da Clofazimina. (Veja os possíveis efeitos colaterais da Clofazimina) CLOFAZIMINA 100 mg no E.N.L. 46 Clínica geral e especial Manual de Lepra Dosagem comp/dia 3 comp/dia 2 comp/dia 1 comp/dia Duração primeiras 4 semanas de E.N.L. (tratar com Prednisolona) 4-6 semanas 2-6 meses 1-2 anos Os doentes devem ser visitados com frequência e regularidade, pelo menos uma vez em cada duas semanas, para os doentes que não estão internados no hospital. Em cada uma destas visitas, é importante: examinar o estado dos nervos (seu tamanho, presença de dores), executar o teste sensitivo e motor regularmente e controlar os olhos para assegurar que o doente não esta a desenvolver iridociclite. O tratamento deve continuar até regressão da inflamação das lesões e da dor no nervo. Lembre: Nunca suspender o tratamento com Prednisolona de repente; reduzir sempre as dosagens muito devagar! Reacções Ligeiras Quando a reacção não envolve os nervos nem provoca ulcerações cutâneas ou os outros problemas maiores acima listados, considera-se reacção ligeira e o doente pode continuar a ser tratado na Unidade Sanitária em regime ambulatório., tomando Ácido-Acetil-Salicílico ou Paracetamol. Outros cuidados Se houver dor no membro (ou membros) afectado, este deve ser imobilizado (na posição fisiológica: braço pendurado ao colo, mão com dedos ligeiramente flectidos, pé em ângulo recto com a perna), até o doente sentir alívio. Se houver iridociclite: tratar o doente com Prednisolona, mandar aplicar pomada de tetraciclina oftálmica e enviar com urgência o doente ao Hospital para ser tratado por especialista ou médico experiente. Qualquer demora na actuaçao pode conduzir o doente à cegueira.. Se a reacção aparecer durante o tratamento com TMAA, é necessário reavaliar clinicamente (e baciloscopicamente) se a classificação inicial e o tratamento até então administrados eram correctos; de qualquer forma, o tratamento contra a lepra deve continuar sem alteração. Clínica geral e especial 47 Manual de Lepra Quando o doente tiver alcançado o número de doses supervisadas previstas (6 para os doentes PB, 12 para os doentes MB), deve-se dar alta ao tratamento apesar de ainda estar sob tratamento anti-inflamatório com Prednisolona. Se a reacção aparecer depois do doente ter terminado o tratamento regular, não é preciso reiniciar a TMAA, mas é preciso manter o doente sob controlo rigoroso para reconhecer o mais cedo possível eventuais recaídas. Aconselha-se associar ao tratamento com Prednisolona acima descrito Clofazimina (na dose de 50 mg diários ou 100 mg em dias alternados), para aumentar os efeitos antiinflamatórios e ter uma protecção contra possível reactivação da doença; se a reacção for um E.N.L., siga o esquema descrito anteriormente. De qualquer maneira, não se deve registar novamente o doente. Além da avaliação regular durante o tratamento da reacção, depois desta ter acabado é preciso reavaliar bem o estado geral do doente e a presença de eventuais complicações primárias (anestesias, secura, paralisias) que não tenha sido possível evitar com o tratamento. Neste caso é preciso ensinar ao doente as técnicas simples de prevenção das complicações secundárias (e repetir o ensino em todas as ocasiões): alguns minutos do nosso tempo podem ajudar o doente a evitar anos de sofrimento! Tratamento cirúrgico das neurites Nos casos em que a função dos nervos continua a deteriorar-se apesar do tratamento anti-inflamatório adequado e nos casos em que permanece dor no nervo que não melhora com tratamento farmacológico, é possível fazer uma descompressão cirúrgica do nervo lesado. Mais frequentemente faz-se esta intervenção para diminuir a compressão do nervo Cubital, do Mediano, do Tibial posterior e do Poplíteo externo. Infelizmente, no nosso País este tipo de tratamento cirúrgico é actualmente disponível em poucas Unidades Sanitárias, onde existe um cirurgião adequadamente treinado para o efeito. Para os doentes que necessitem do tratamento cirúrgico, é preciso contactar com urgência o Supervisor Provincial para obter as informações úteis. Recaída. É uma nova manifestação clínica (novos sinais de actividade) da doença em doentes que já tenham recebido um curso terapêutico regular e completo com TMAA. NOTA: Não se pode falar de recaída para os doentes que anteriormente tenham sido tratados somente com monoterapia, ou para aqueles que não te- 48 Clínica geral e especial Manual de Lepra nham completado o tratamento (abandonos) e que voltem com novos sinais de actividade da Lepra. A recaída é geralmente devida à reinfecção do doente, ou à reactivação de bacilos dormentes. Outras causas que podem levar frequentemente para um quadro de recaída são: 1. doente recebeu um tratamento inadequado nas doses (baixas). 2. doente não tomou as doses auto-administradas. 3. irregularidade ao tratamento com as doses supervisadas. 4. administração de medicamentos depois de terminado o seu prazo de validade. 5. resistência aos medicamentos. 6. erro de classificação: casos MB classificados/tratados como PB. Os sinais clínicos de recaída incluem um ou mais dos seguintes: 1. aparecimento de novas lesões cutâneas ou aumento de lesões preexistentes; 2. novos sinais de actividade em lesões cutâneas preexistentes; 3. nova perda de função nos nervos; 4. sinais de actividade lepromatosa nos olhos; 5. aumento de 2+ do Índice Baciloscópico em qualquer sítio, em comparação com o IB registado na altura da ATT; este dado deve ser confirmado por duas baciloscopias; 6. sinais evidentes na biopsia da pele ou dos nervos. A recaída é uma situação bastante rara, acontecendo em menos do 1% dos doentes, com um intervalo médio de 2-4 anos após o anterior tratamento com TMAA (e geralmente não mais de 6-7 anos). Portanto: Quando aparecer um antigo doente com novos sinais de actividade da Lepra (suspeita de recaída), é sempre preciso avaliar o intervalo que decorreu desde a ATT. Um intervalo demasiado curto (poucos meses - um ano) ou muito longo (mais que 6-7 anos) dificilmente é compatível com recaída; nestes casos é mais provável tratar-se de reacção (veja o parágrafo anterior). Os doentes que apresentam recaída devem ser minuciosamente examinados (clínica e bacteriologicamente,devendo a baciloscopia ser feita de maneira a indicar o ÍNDICE MORFOLÓGICO), para avaliar a exactidão do diagnóstico e do tratamento administrado, e/ou a presença de outra patologia simultânea. Como, às vezes, os sinais clínicos duma reacção (veja a seguir) podem ser conClínica geral e especial 49 Manual de Lepra fundidos com uma recaída, pode ser aconselhado um tratamento de prova de 1 semana com Prednisolona 4-6 comp/dia: se o doente apresentar melhorias claras, é muito provável que se trate de uma Reacção. Caso contrario, se não houver melhorias ou estas forem pequenas, trata-se muito provavelmente duma verdadeira recaída. Os doentes com recaída confirmada devem ser tratados com um novo ciclo completo de TMAA-MB. 50 Clínica geral e especial Manual de Lepra Diferenças entre Reacções e Recaídas C a ra cte rí s ti ca s R e a cçã o do T i po I R e ca í da In t erv alo d e t em p o O co rre n o rm alm en t e m u it o d ep o is d e t erm in ad a a q u im io t erap ia, em geral d ep o is d e u m in t erv alo d e 1 an o L en t a, grad u al, in s id io s a N o rm al V elo cid ad e n o ap arecim en t o C o n d ição geral L es õ es an t igas In flam ação d as les õ es L es õ es n o v as U lceração d as les õ es R egres s ão E.N .L. (R e a cçã o T i po II) O co rre geralm en t e G eralm en t e d e 1 -2 d u ran t e a q u im io t erap ia an o s ap ó s o in ício o u d en t ro d e s eis m es es d o t rat am en t o (m as ap ó s t er co m p let ad o o t am b ém em cas o s t rat am en t o (m as t am b ém n ão t rat ad o s ) em cas o s n ão t rat ad o s ) R áp id a, in es p erad a R áp id a À s v ez es m al-es t ar geral e feb re A lgu m as o u t o d as t o rn am -s e erit em at o s as , b rilh an t es ,q u en t es e d o lo ro s as , co m in filt ração . P res en t e M al-es t ar geral, co m es t ad o t ó xico N ão m u d am E m geral v árias M u it o s n ó d u lo s , P o u cas q u e d es ap arecem d ep o is d e algu n s d ias e d eixam m an ch as v io láceas p as s ageiras À s v ez es b o rb u lh as , R aram en t e p ú s t u las , ú lceras M u it as v ez es as les õ es agrav am -s e e ficam u lcerad as C o m at ro fia d a p ele (co m o p ergam in h o ) e d es cam ação N eu rit e M u it o s n erv o s p o d em s er en v o lv id o s rap id am en t e, o co rren d o d o r e p erd a d e s en s ib ilid ad e e p ert u rb açõ es m o t o ras (at é ab ces s o s n o s n erv o s ) R es p o s t a a E xcelen t e (geralm en t e a es t eró id es R . acab a d en t ro d e algu n s m es es ) O u t ro s s in t o m as À s v ez es ed em a d as m ão s , p és , face Clínica geral e especial P res en t e A lgu m as p o d em ap res en t ar b o rd o s erit em at o s o s A u s en t e D eixa m an ch as N ão h á d es cam ação v io láceas (av erm elh ad as ) p as s ageiras P o d e ap arecer (m ais G eralm en t e t ard e) au s en t e; p o d e s er lim it ad a a u m ú n ico n erv o ; p ert u rb açõ es m o t o ras o co rrem m u it o len t am en t e E ficaz , m as o E N L N ão clara p o d e p ers is t ir at é algu n s an o s F req u en t e ed em a d as m ão s , p és , face. Irit e, irid o ciclit e, o rq u iep id id em it e, p ro t ein ú ria 51 Manual de Lepra PARTE 2 PREVENÇÃO DAS DEFORMIDADES A Lepra é uma doença muito perigosa só porque ela causa deformidades. Se um doente ficar com os membros imobilizados ou com uma úlcera crónica no pé, não podemos esperar que ele se sinta feliz, mesmo que a baciloscopia seja negativa ou que as lesões cutâneas já não estiverem activas. PREVENÇÃO DE DEFORMIDADES PRIMÁRIAS Se a pessoa que apanhar Lepra iniciar o tratamento correcto, o mais cédo possivei e de forma regular, o aparecimento de deformidades primárias, tais como anestesia ou paralisia será muito raro. Se um paciente tiver uma deformidade primária, deverá pensar como é que ela poderia ter sido prevenida. Será que o paciente apareceu para o tratamento numa fase tardia? Será que ele teve uma reacção que não foi diagnosticada ou devidamente tratada a tempo? Devemos perguntar-nos a nós próprios onde é que falhámos, para aprendermos como agir em futuros doentes. PREVENÇÃO DE DEFORMIDADES SECUNDÁRIAS Se um doente com uma deformidade primária, como paralisia ou anestesia, desenvolver uma deformidade secundária, tal como contractura, úlcera, amputaçâo de dedos ou cegueira, mais uma vez isto é culpa nossa. Estes aspectos são preveníveis não pelo próprio tratamento, mas por métodos que serão descritos neste capitulo. 52 Clínica geral e especial MÃOS E PES INSENSIVEIS Manual de Lepra Quase sempre as úlceras e perda dos dedos são causadas pela falta do devido cuidado para com as mãos e pés que perderam a sensibilidade. A dôr protégé-nos Quando uma pessoa normal se pica na planta dos pés, ela pára para tirar o corpo estranho. Se uma pedra por mais pequena que seja, entra para dentro do sapato, a pessoa pára, descalça o sapato e tira a pedra que lhe está a aleijar. Se a pessoa tiver um ferimento na planta do pé não andará normalmente, até que a ferida esteja curada. Se tiver um dedo infectado, a dôr obrigá-la-á a proteger esse dedo até que ele fique curado, o que quer dizer que procurará tratá-lo. Em todas as situações é a dôr que leva a pessoa a procurar tratamento adequado para a ferida. O tratamento correcto é muitas vezes fazer repousar a parte do membro traumatizado (dedo, mão ou pé). Imagine agora estas coisas acontecerem a quem tem mãos e pés insensíveis. Ela infelizmente continuará com o corpo estranho no pé, continuará a usar durante todo o tempo os seus dedos infectados. Muito cêdo e ràpidamente terá úlcera e perderá os dedos. Há tres diferentes tipos de trauma sobre membros insensíveis. 1. O tipo mais comum e mais difícil de compreender é o que é causado por pressões pequenas, mas repetitivas, ou continuas, por um período prolongado. Por exemplo: Se você se puser em pé assente numa só perna, no inicio será confortável. Passados cerca de meia hora, se não mudar para a outra perna, começará a ter dores. Você tem dores porque a pressão foi contínua no tempo. O mesmo acontece quando andamos. Embora não prestemos atenção, estamos continuamente mudando a parte do pé que suporta o peso do nosso corpo. Tente, por exemplo, caminhar apoiando sempre o seu peso num dos calcanhares. Passado algum tempo sentirá desconforto e por fim dôr. Uma pessoa com lepra, porque perdeu a sensibilidade, não sentirá desconforto, não sentirá dôr, continuará a andar sempre da mesma maneira ferindo o seu pé cada vez mais. O primeiro sinal desse tipo de traumatismo será o aparecimento de uma zona que ficará mais quente do que o normal, (por causa da infecção que se está a instalar profundamente na pele). Se a pessoa continuar a andar da mesma maneira, antes da zona infectada estar curada, essa zona transformar-se-á em bolha e a bolha depois evoluirá para uma úlcera. Clínica geral e especial 53 Manual de Lepra As causas mais frenquentes que levam as pessoas a terem este tipo de trauma são: 1. Andar longas distâncias; 2. Sentar ou ficar de pé durante muito tempo, sem mudar a posição dos seus pés; 3. Trabalhar muito tempo com a enxada ou catana. Se uma pessoa andar, dando passos largos, ou se correr, fará maior pressão nas plantas dos pés e mais rapidamente irá desenvolver feridas. O tipo de trauma poderá ser um corte, uma ferida perfurante, uma queimadura ou uma bolha. Quando a mão ou o pé estão feridos, o processo infeccioso pode fácilmente começar (infecção cansada por outro tipo de bactéria diferente do M.leprae). Pequenas pressões na zona ferida, tornam a infecção mais profunda, destruindo mais o tecido cutâneo, e algumas vezes o osso é também afectado. Como cuidar das maos e pés insensíveis O nosso principal objectivo é evitar úlceras e a queda dos dedos, prevenindo o aparecimento de feridas, ou se isso não fôr possível, tratando as feridas correctamente, logo que elas aparecem. Todo o doente com anestesia no pé ou na mão, deve saber o A - B - C da prevenção da úlcera. A. Afastar traumatismos Lembre-se que pequenas pressões que actuam de forma repetitiva são a causa mais comum e importante de trauma. Para prevenir isso, o doente deve: 1 - Evitar sapatos ou sandálias rijos; 2 - Andar com passos curtos; 3 - Evitar correr; 4 - Evitar percorrer grandes distância sem descansar; 5 - Evitar ficar muito tempo de pé; 6 - Enrolar tecido limpo nas mãos e pés para evitar magoá-los enquanto trabalha ou caminha. Para evitar ter feridas ele deve aprender a usar os seus olhos e o seu cérebro, em vez da sua sensibilidade, pois essa já está alterada. Deve aprender a não ficar perto do fogo e a não andar em terreno com muitas pedrinhas. Se fôr possível calçar 54 Clínica geral e especial Manual de Lepra sandálias, isso ajudar-lhe-á. Se as sandálias forem feitas de borracha microcelular, isso será ainda mais benéfico. Quando os membros insensíveis ficam com úlceras ou se os dedos caíram, é porque primeiro houve uma ferida. Geralmente o doente não se lembra dessa ferida, especialmente se ela foi do tipo causada por pequenas pressões. Sente-se e converse com o doente para juntos descobrirem o que terá sido a causa da ferida, e como prevenir outro ferimento semelhante. B. Buscar diariamente sinais de trauma. A melhor altura para fazê-lo é ao fim do dia, depois de ter lavado as mãos ou os pés. 1 - O doente deve procurar vêr se tem pequenos ferimentos, zonas inflamadas e com corpos estranhos; 2 - Palpar para sentir se há zonas com sinais de inflamação: rubor + calor + edema. Se o doente já tem perda acentuada de sensibilidade, algum familiar deverá ajudá-lo. Pressionar a pele, procurando encontrar zonas com hipersensibilidade. Se algum destes sinais for encontrado, o tratamento será o mesmo que se faz às úlceras. O tratamento deve ser iniciado o mais rápidamente possível, pois fazendo isso a cura virá em alguns dias. Se o doente começar a tratar da ferida depois da úlcera se instalar, levará meses até ficar completamente curada. C. Cuidar da pele seca e fissurada ou com calosidades. O doente deve lavar todos os dias os seus pés, mergulhando-os durante mais ou menos trinta minutos em água fria. Se tiver calos, deve limá-los. Uma pedra pode ser usada na ausência de outro instrumento. Depois de bem lavados, lubrifique-os com óleo ou vaselina. O óleo ajuda a manter a água na pele, tornando-a mais mole. A água sózinha ou o óleo sózinho não são suficientes. Calçado para pés sem sensibilidade Para protecção dos pés, qualquer tipo de calçado serve, desde que sejam à medida exacta, não apertados nem folgados. Uma sandália feita de pneu velho, protege perfeitamente os pés. Chinelos de borracha, pelo facto de serem muito moles, não são aconselháveis, pois podem fàcilmente ter pregos ou picos espetados e aleijarem as plantas dos pés. O paciente deve aprender a inspeccionar diàriamente o seu calçado, para ver se algum prego, pico ou outro objecto perfurante se encontra nele espetado. Para pés insensíveis que já tiveram muitas úlceras, ou já estão deformados, botas Clínica geral e especial 55 Manual de Lepra ortopédicas (especialmente feitas para o doente), serão provávelmente a melhor protecção. Fig. 32: Todo o tipo de sandália que se ajuste bem aos pés é bom Fig. 33: Não use este tipo de chinelos em pés lesados Como controlar se há úlceras Toma-se a mesma atitude, quer existam úlceras grandes, feridas pequenas e recentes, ou se existir infecção das mãos ou dos pés. Para se curar uma úlcera são duas coisas: 1. Repouso. A parte que tem úlcera precisa de repouso absoluto. Para o pé: não andar. Para a mão: usar uma tala ou ligadura para suspendê-la. É muito importante colocar o membro em posição fisiológica, de modo que a zona da úlcera tenha boa irrigação sanguínea. Isto permite uma aceleração do processo de cura. 2. Manter a úlcera limpa. A úlcera deve ser mantida limpa para se impedir a sua infecção e evoluir para a cura. A úlcera não cura se estiver infectada. Para fazer uma limpeza profunda e correcta da úlcera, o doente deve lavá-la no mínimo duas vezes por dia, durante cerca de 20 - 30 minutos de cada vez. Ele deve usar sabão ou água com sal. Depois de a lavar, o doente deve fechar a úlcera com um pano limpo para im- 56 Clínica geral e especial Manual de Lepra pedir que entrem poeiras. Um pano embebido em vaselina pode ser usado para tapar úlceras que estejam a supurar. A vaselina impede que o pano se cole á úlcera. Ligaduras servem para manter a compressa ou o pano limpo presos sobre a úlcera. Se não tiver ligaduras hospitalares, faça-as com outro material disponível. O que importa é que a úlcera fique coberta. Pode-se, por exemplo, usar fitas da casca de bananeira. O importante não é o que vamos usar, mas sim, que o que iremos usar, esteja limpo. Fig. 34: Não desta forma Fig. 35: Assim Não sentado numa cadeira Sentado no Chão ou numa cama Muitas úlceras podem ser curadas com duas simples atitudes: REPOUSO E HIGIENE. Clínica geral e especial 57 Manual de Lepra Quando usar um antibiotico? Dê antibiótico só quando houver sinais de que a infecção se está a expandir a partir da úlcera, para o resto do corpo. Sinais de disseminação da infecção são os seguintes: 1. Vermelhidão, calor, edema ou dôr à volta da úlcera ou subindo ao longo da mão ou do pé. 2. Dôr ou inflamação dos gânglios inguinais ou axilares (membros inferiores e membros superiores). 3. Febre. A PENICILINA E UMA DROGA SEGURA SE O DOENTE NÃO FÔR ALÉRGICO. Existe osteomielite por baixo da úlcera? Se houver infecção do osso, partes desse osso podem-se fracturar e ficar retidas na úlcera. Com esses pequenos fragmentos a úlcera nunca mais irá cicatrizar. Essas pequenas partículas devem ser removidas para que a úlcera cure. Suspeitar que há uma Osteomielite associada se a úlcera continuar a supurar após duas semanas de correcto tratamento. Tente remover os fragmentos de osso com uma pinça. Se não fôr capaz, envie o doente ao hospital. Quando enviar um doente ao hospital? 1. Quando o repouso e a higiene só por si não ajudam; 2. Quando o necessário repouso não é cumprido pelo doente, em casa; 3. Quando há disseminação da infecção e o tratamento com Penicilina não ajuda a curar. 4. Quando houver suspeita de Osteomielite; 5. Quando houver uma colecção de pús localizada profundamente. Chama-se a isto ABCESSO, e deve-se fazer uma ampla incisão para evacuar o pús. 58 Clínica geral e especial MÃOS E PÉS COM PARALISIA Manual de Lepra As deformidades secundárias (contracturas), podem ser prevenidas com exercícios. Os exercícios podem ser activos ou passivos. Na mobilização activa, o paciente usa os seus próprios músculos, apesar de fracos, para fazer o exercício. Na mobilização passiva, o paciente mexe o membro paralisado com o auxílio do membro são. Por exemplo, usando a sua mão sã, para esticar os dedos da mão paralisada. Porque é que os exercícios são úteis? Todos os exercícios previnem as contracturas e algumas vezes diminuem as que já estão instaladas. Podem também dar maior força aos músculos que se encontram fracos. Os exercícios activos são mais benéficos do que os exercícios passivos. Use a mobilização passiva só quando o paciente não pode sózinho fazer a mobilização activa. Que tipo de doentes podem aprender os exercícios? Qualquer doente com fraqueza muscular ou paralisia deve aprender a fazer exercícios. Ele irá precisar deles até que a fraqueza tenha desaparecido ou pelo resto da sua vida. Quando evitar exercícios? Quando o doente tiver uma Neurite. Não fazer exercícios até que a Neurite esteja curada. Se o doente estiver em repouso por causa de uma úlcera ou ferida, não deve fazer exercícios com esse membro. Quantas vezes devem fazer os exercícios? Exercícios com o objectivo de melhorar a força muscular (mobilização activa), ou exercícios com o objectivo de diminuir contracturas (mobilização passiva), Clínica geral e especial 59 Manual de Lepra devem ser feitos no mínimo 3 vezes por dia, com a duração de 20 a 30 minutos de cada vez. Como ensinar os exercícios. Ensinar várias vezes, de forma repetitiva, especialmente no início. Explicar exactamente o que você espera que o exercício lhe faça. Como no caso da toma de medicamentos, é mais provável que o doente cumpra, se souber que benefício vai ter. Paralisia ou fraqueza do nervo cubital ou ulnar Fig. 36: Mobilização activa Fgi. 37: Mobilização passiva Paralisia ou fraqueza do nervo mediano Fig. 38: Mobilização activa Fig. 39: Mobilização passiva 60 Clínica geral e especial Manual de Lepra Pé caído Mobilização activa Doente pratica o exercício sentado, com os pés suspensos; Nessa posição deve tentar flectir o pé. Manter o pé flectido durante alguns segundos e depois relaxar. Mobilizaçao passiva O paciente põe-se de pé, próximo de uma parede com os seus braços esticados e as suas mãos na parede. Depois flete os cotovelos de forma que o seu corpo se mova para frente. Fica nessa posição durante alguns segundos, voltando depois à posição inicial. Fig. 40: Mobilização passiva CUIDANDO DOS OLHOS Qualquer pessoa com olho vermelho, ou dôr, ou perda súbita de visão, precisa de tratamento rápido. Se o olho ficar seco, muito provavelmente acabará por ulcerar e ficar com uma cicatriz. Estas são causas frequentes de cegueira. Normalmente as pessoas mantem os seus olhos húmidos pestanejando por alguns segundos. É um acto reflexo, que não é controlado pela vontade. - Um doente com anestesia da córnea não sente que a córnea está seca e por isso deixa de pestanejar o suficiente. Fig. 41: Queratite precoce por exposição Clínica geral e especial - Um doente com lagoftalmos sente que a sua córnea está seca, tenta pestanejar, mas como os músculos das pálbebras estão fracos, é incapaz de fazê-lo. 61 Manual de Lepra - Por isso, doentes com anestesia da córnea ou com lagoftalmos sofrem ambos do mesmo problema: córnea seca, que normalmente evolui para a Queratite. - QUERATITE é a inflamação da córnea seguida de opacificação, devido à exposição prolongada aos vários agentes externos por falta da capacidade de pestanejar. - A Queratite começa normalmente por um ponto de córnea, a parte mais exposta. - Quando evolui, a opacificação pode cobrir a parte da frente da pupila, levando à cegueira parcial ou total. Fig. 42: Queratite tardia por exposição (este olho está cego) Queratite por exposição e cegueira podem ser prevenidas. Doentes com anestesia da córnea. Doentes com anestesia da córnea devem aprender estas coisas: - Não se devem esquecer de pestanejar o maior número de vezes possível. - Todos os dias devem controlar os seus olhos, com a ajuda de um espelho, ou pedindo a um familiar para olhar para eles. Como eles não sentem nenhuma dôr, devem procurar vêr se existe vermelhidão, sujidade ou poeiras nos olhos. Com um pedaço de pano limpo, devem, usando água limpa, remover toda a sujidade que estiver sobre a córnea. Não devem esperar sentir algo, pois a sensibilidade já não existe. Doentes com lagoftalmos Há três coisas que podem ajudar: 1. Os exercícios são úteis se as pálpebras estão fracas e não totalmente paralisadas. O doente deve tentar fechar os olhos o mais forte que puder, usando só os músculos à volta dos olhos. Não deve usar os músculos da face e da fronte. Deve depois manter os olhos fechados enquanto conta até cinco. Deve repetir o exercício o maior número de vezes possível. (Por exemplo, 40 ou 50 vezes de manhã, ao meio-dia e à noite). 2. Proteger os olhos é necessário se o doente não consegue fazer as suas pálpebras se aproximarem, fechando perfeitamente os olhos. Tente levar o doente a fazer as seguintes coisas para proteger os seus olhos: - Durante o dia usar óculos para impedir a entrada de poeiras; - Ao ir dormir, cobrir os olhos com um pano limpo para impedir a entrada de poeiras e que qualquer insecto poise neles; 62 Clínica geral e especial Manual de Lepra - Se possível, aplicar gotas oftálmicas para prevenir a secura da córnea; - Doentes com olhos anestésicos não devem sózinhos aplicar ligaduras sobre os seus olhos. Como não têm sensibilidade, poderão aplicar força demasiado forte e ulçerar a córnea. 3. Uma operação simples poderá ser feita nestes casos por oftalmologista. A operação tem o nome de TARSORRAFIA. Fig. 43: Antes da tarsorrafia Depois da tarsorrafia Controle se os olhos estão vermelhos. Dois problemas podem levar o paciente à cegueira: Duas doenças que podem fazer o olho ficar vermelho e conduzir à cegueira a não ser que seja urgentemente tratado são: 1 - IRIDOCICLITE AGUDA: geralmente ocorre em doentes com reacção do tipo II. Pode também ser a única queixa e o único sinal de Lepra do doente. 2 GLAUCOMA: pode ser consequência de uma Iridocidite mal tratada. O olho, nesta situação Fig. 44: Na congiuntivite (e no glaucoma) toda a zona branca do fica duro, tenso, a esclerótica fica vermelha e brilhante e o doente tem dôr intensa. olho fica vermelhada pomada de tetraciclina oftálmica. Duas situações podem ser aliviadas com 1- Conjuntivite é a inflamação da conjuntiva. Os sinais são a vermelhidão de toda a conjuntiva. Às vezes com alguma secreção de pús, o que torna os olhos pesados, especialmente ao acordar, e algumas vezes edema das pestanas. A Conjuntivite nunca dá dôr no interior do olho, nem piora a visão do paciente. Faça o tratamento com pomada oftálmica de Tetraciclina, quatro vezes por dia até que os olhos fiquem curados. 2 - Corpo estranho no olho é a presença de qualquer partícula de poeira ou areia que entra no olho. O paciente sente dôr, (a não ser que a córnea esteja Clínica geral e especial 63 Manual de Lepra anestésica) e muitas vezes há lacrimejo. Pode haver sinais de Conjuntivite. Remova o corpo estranho com um pedaço de tecido limpo, ou lavando o olho com água limpa. Use depois pomada oftálmica de Tetraciclina, se continuar a haver dôr ou vermelhidão depois do corpo estranho ter sido removido. A tetraciclina é uma pomada segura; Cada doente deveria receber o seu próprio tubo para evitar partilhar com outro doente. Isso impede que a infecção se espalhe. Fig. 45: Lembre-se que na iridociclite a inflamação é principalmente ao redor da córnea Quais os problemas que exigem tratamento no hospital? Escolha um hospital que tenha gente treinada no tratamento de doenças dos olhos. Envie urgentemente o paciente se: 1 - Houver um agravamento da visão num ou nos dois olhos; 2 - Houver dôr profunda no interior do olho; 3 - Se o olho estiver vermelho, principalmente ao redor da cornea; 4 - Se o olho estiver vermelho, havendo sinais de reacção do tipo II (se você suspeitar que há Iridociclite). 5 - O lagoftalmo, o Entrópio (pálpebras invertidas para o interior) devem ser enviadas ao hospital para correcção cirúrgica, mas não são urgências. RESUMO. - Podemos prevenir as deformidades na Lepra; - Podemos prevenir as deformidades primárias, encorajando os pacientes a se apresentarem cêdo para tratamento; - Podemos prevenir as deformidades secundárias, encorajando os pacientes a terem os seguintes cuidados: 1 - Pacientes com anestesia correm o risco de ter úlceras, e eventualmente perderem os dedos das mãos e dos pés. 64 Clínica geral e especial Manual de Lepra 2 - Devem cuidar das suas mãos e pés da seguinte maneira (a regra do A-B-C): A - Afastando-se dos traumatismos; B - Buscando diáriamente os sinais de trauma; C - Cuidando da pele insensível e seca. - Controlando, se tem pequenas feridas (fissuras). - Se tiver, tratá-las como se fossem feridas graves (na Lepra não há feridas sem importância). - O tratamento para todas as úlceras consiste no repouso e em manter a úlcera limpa. - Alguns pacientes precisam de Penicilina, ou então de serem enviados para o hospital, se tiverem Osteomielite. - Pacientes com fraqueza ou paralisia muscular correm o risco de desenvolverem contracturas. - Todos eles precisam de fazer exercícios a não ser que tenham Neurite ou Úlcera. - Devem fazer de preferência mais exercícios activos do que passivos. - Pacientes com Lagoftalmo ou anestesia da córnea correm o risco de terem Queratite por exposição que mais tarde pode conduzir à cegueira. - Os pacientes com córnea anestésica devem-se esforçar por pestanejar o maior número de vezes possível por dia e controlar, vêr, se os seus olhos não apresentam nenhuma ferida. - Pacientes com Lagoftalmo geralmente precisam de fazer exercícios, precisam de protecção para os seus olhos, e podem precisar de ser operados. - Um paciente com olho vermelho ou Iridociclite ou Glaucoma. Qualquer uma destas situações pode levar à cegueira. Precisam de ser urgentemente enviados para o hospital. - Os medicamentos sózinhos não são suficientes para prevenir deformidades secundárias em quem já tenha deformidades primárias. Planificar actividades de auto-tratamento é o mais realístico. Devemos dar o máximo de ensinamentos e encorajamento para que o paciente aprenda a se proteger. Clínica geral e especial 65 Manual de Lepra PARTE 3 CASOS ESPECIAIS CLASSIFICAÇÃO E TRATAMENTO DOS DOENTES ANTIGOS Como para os doentes novos, também os doentes antigos (os doentes anteriormente tratados com monoterapia e os doentes que reentram em TMAA após abandono ou por recaída) devem ser avaliados clinicamente e reclassificados em Paucibacilares (PB) ou Multibacilares (MB). Os que na altura do anterior diagnóstico da sua doença foram classsificados no grupo multibacilar (dimorfos, ou BB, BL, LL da antiga classificação; MB da classificação operacional; e todos os doentes que apresentaram baciloscopia positiva) devem continuar a ser classificados como tal, independentemente da sua actual classificação clínica e do seu actual índice bacteriano. Portanto, têm que fazer o tratamento dos multi-bacilares (TMAA-MB). Os que inicialmente estavam no grupo paucibacilar devem ser reclassificados de acordo com a sua actual situação clínica e bacteriológica, podendo ser Pauci- ou Multi-bacilares. Recebem a TMAA para doentes Pauci- ou Multi-bacilares, conforme a sua classificação. LEPRA E TUBERCULOSE Se um doente com lepra queixar-se de tosse há mais de 3 semanas, lembre-se que pode ser Tuberculose pulmonar. Portanto, deve-se pensar nessa possibilidade e procurar a presença de Tuberculose (ou exclui-la) antes de iniciar a TMAA, pelas seguintes razões: 1. o tratamento TMAA da lepra é inadequado para curar a tuberculose, 2. existe perigo de se desenvolver resistência à Rifampicina nos doentes de TB que sejam tratados com doses inadequadas de Rifampicina. Como fazer o diagnóstico de TB pulmonar (expectoração positiva) num doente que apresenta também lepra Multibacilar? A Mycobacterium leprae e a Mycobacterium tuberculosis apresentam uma estrutura semelhante. 66 Clínica geral e especial Manual de Lepra Por isso, é necessário discutir com o técnico do laboratório para confirmar a qualidade do exame da expectoração. O clínico deve examinar o doente de forma escrupulosa, para confirmar o diagnóstico. É sempre útil tirar uma radiografia do tórax. Tratamento Seguir as normas nacionais de tratamento da Tuberculose Fazer o tratamento da Lepra de acordo com a classificação, mas tendo em conta que deverá , em relação à Rifampicina, guiar-se pela dose usada no tratamento da Tuberculose. (Os comprimidos de Rifampicina que estão na carteira de tratamento da Lepra, podem ser tomados na dose respeitante ao tratamento da Tuberculose) LEPRA E GRAVIDEZ Clínica Não existem problemas de transmissão da micobactéria da Lepra por via transplacentar, nem perigos de contaminação da criança no momento do parto. Existe porém alguma atenção que deve ser dada à mulher com Lepra durante e depois da gravidez. Devido às mudanças no estado imunológico provocadas pela gravidez (e talvez pela associação de outros factores concomitantes, como por ex. infecções intercorrentes e desnutrição), a gravidez numa mulher com Lepra pode estar associasada algumas complicações ou agravamento do estado clínico com uma frequência bastante elevada (até 50% das mulheres). A probabilidade de a mulher ter Reacções é maior. Durante o terceiro trimestre de gravidez 1. Podem aparecer os primeiros sinais da doença numa mulher que estava com Lepra em fase de incubação; 2. Pode aparecer reactivação da doença ou recaída; isto pode acontecer quer em mulheres em tratamento TMAA (regular ou não) quer em mulheres que já tenham recebido alta do tratamento; 3. Aparecimento de reacção tipo II (Eritema Nodoso Leproso), associada em 75% dos casos a Neurite aguda. Clínica geral e especial 67 Manual de Lepra Após o parto (no puerpério) Pode acontecer com maior facilidade: 1. reacção tipo I, muitas vezes associada a Neurite (na sua forma aguda ou na forma silenciosa) 2. na Lepra MB de tipo lepromatoso pode aparecer reacção tipo II (ENL). Durante a amamentação As reacções (quer de tipo I oude tipo II) podem permanecer activas durante muito tempo. O Recém-nascido de mãe leprosa corre o risco de contrair lepra da mãe somente se esta for um caso de Lepra Multibacilar e se não estiver a fazer o tratamento regular e adequado. Tratamento Todos os dados ao nosso alcance indicam que a TMAA é segura durante a gravidez e os medicamentos utilizados (Dapsona, Clofazimina, Rifampicina) não têm até hoje apresentado efeitos de toxicidade grave. Durante a amamentação, uma pequena quantidade de medicamentos passa ao lactente através do leite materno: isto não provoca nenhum efeito negativo na criança (excluindo hiperpigmentação da pele ligeira e reversível, devido à Clofazimina). Em conclusão: 1. Nas mulheres grávidas, a TMAA tem de ser administrada sempre com regularidade, sem interrupções, conforme os esquemas e as dosagens recomendadas. 2. Durante a gravidez e pelo menos nos primeiros três meses após o parto, as mulheres devem ser controladas cuidadosamente e com uma certa periodicidade (incluindo avaliação da sensibilidade e dos testes motores). 3. Nos casos em que apresentem reacções, o tratamento com Prednisolona tem que ser feito, segundo o esquema habitual. 4. É preciso ter muita atenção para com as mulheres com Lepra e dar-lhes uma educação sanitária repetida e pormenorizada, especialmente sobre as possíveis complicações anteriormente referidas, bem como sobre a necessidade de submeter o seu filho à vacina de BCG logo após o nascimento. 5. Uma mulher que tenha recebido informações adequadas pode também tornar-se muito útil para o reconhecimento precoce das reacções ou recaídas em si mesma e nos seus familiares, e pode contribuir para a descoberta de formas iniciais de lepra na sua comunidade. 68 Clínica geral e especial LEPRA E SIDA Manual de Lepra Epidemiologia A seroprevalência do HIV em inquéritos conduzidos em vários países do mundo evidenciaram prevalências variáveis entre 0,29% no Rio de Janeiro e 33,3% na Zâmbia. Ainda não temos dados sobre os doentes de Lepra do nosso País. Nos estudos publicados, não se encontraram diferenças estatisticamente significativas entre a seroprevalência de HIV nos doentes de Lepra e nos controlos sadios (dadores de sangue). Não há evidência de que a infecção por HIV aumente o risco de contrair a Lepra. Não se encontrou diferença significativa de seroprevalência entre doentes Pauci e Multi-bacilares, com a excepção nos doentes da Uganda, onde a seroprevalência de HIV em doentes MB era quase três vezes superior à dos doentes PB. Parece que a infecção por HIV não altera a proporção de PB/MB. Os aspectos anatomo-patológicos das lesões da pele e dos nervos são semelhantes nos doentes de lepra HIV+ e nos HIV . No estudo do Quénia, os doentes HIV+ parecem ter uma incidência de reacção ligeiramente mais elevada em comparação aos HIV . Precisam-se mais estudos que se relacionam com a incidência e o decurso das Neurites nos doentes HIV+. A resposta ao tratamento TMAA é igual nos doentes de Lepra HIV+ como nos HIV . Não há evidência de que a infecção por HIV possa aumentar o risco de recaídas após tratamento. Ainda não há dados suficientes para avaliar se a Lepra pode acelerar a evolução da infecção por HIV para o SIDA. Tratamento do doente Com base nos dados acima mencionados, recomenda-se que: 1. Os doentes de Lepra devem tomar o tratamento TMAA consoante a sua classificação, independentemente de serem ou não seropositivos. O esquema de tratamento TMAA não requer nenhuma modificação nestes doentes. 2. È preciso ter para com os doentes que têm Lepra , os mesmos cuidados que se têm em relação à protecção contra a infecção pelo HIV. Clínica geral e especial 69 AS VACINAS NA LEPRA Manual de Lepra Nos anos passados foram feitos muitos estudos sobre a eficácia da BCG para a prevenção da Lepra. As conclusões destes estudos foram muito interessantes, demonstrando um efeito protector da BCG contra a Lepra, mas a eficácia protectora da vacina variava entre o 20% no estudo feito em Myanmar e o 80% no estudo feito na Uganda. Num estudo mais recente em Tamil Nadu, Índia, foi observado que a BCG oferece cerca de 61% de protecção contra a lepra borderline, enquanto aumenta a probabilidade de lepra indeterminada. A análise dos dados dum outro estudo efectuado na Venezuela mostra que vacinações repetidas com BCG reduzem sensivelmente o risco de Lepra multibacilar (que praticamente desaparece na população tratada com duas ou mais doses). Resultados análogos foram recentemente encontrados num grande estudo conduzido no Malawi, em que foi demonstrado que a vacina de BCG produz uma protecção de 50% contra a Lepra e que uma segunda dose de vacina aumenta ainda mais os resultados, alcançando uma protecção de 75%. Portanto, podemos considerar que as campanhas de vacinação conduzidas para a prevenção da Tuberculose podem contribuir de forma significativa também para a redução do problema da Lepra. Assim, acha-se útil (para fins de protecção contra a Lepra) continuar com as actuais campanhas de vacinação com BCG. Porém, como as duas doenças (Lepra e Tuberculose) têm períodos de incubação e exposição diferentes, uma dose única de vacina pode não ser suficiente para proteger contra a Lepra. Ainda está em discussão o esquema mais apropriado de vacinação, (embora o estudo conduzido na Venezuela sugira pelo menos duas vacinações em intervalos de 6-12 meses), e o esquema ideal. As reacções adversas parecem ser as mesmas como na vacina com BCG para a TB; a vacinação parece ter efeitos positivos mesmo em pessoas com lepra activa ou na fase de incubação. 70 Clínica geral e especial EFEITOS COLATERAIS DOS MEDICAMENTOS. Manual de Lepra Efeitos Anemia Colapso, Shock Cor azul do doente (meta-hemoglob.) Cor escura/avermelhada da pele Dermatite Diabetes Diarreia Dispneia Dor abdominal Erupção cutânea Febre elevada Febre ligeira Fezes pretas Hepatite Hipertensão Insónia Insuficiência renal Osteoporose Problemas no estômago Sangramento (epistaxe, púrpura) Secura da pele Tonturas Úlcera da garganta Urinas escuras Urinas vermelhas Urticária Vómito com sangue Clínica geral e especial DDS CLF RIF PRD PAR 71 Manual de Lepra Dapsona (DDS) Nas dosagens utilizadas na TMAA o medicamento é muito seguro e os efeitos colaterais são praticamente raros. Atenção: Os doentes com anterior alergia às sulfonas não devem receber Dapsona. Para doentes com anemia grave, o nível de hemoglobina deve ser elevado, mediante tratamento apropriado, antes de se iniciar a terapêutica com dapsona. Efeitos colaterais Perturbações no estômago Insónia Reacções da pele: Urticária Dermatite (raramente esfoliativa) M edidas a serem tom adas Tomar a DDS após as refeições Tomar a DDS de manhã Parar com a DDS. Se a alergia for grave, enviar o doente ao hospital e tratar com Prednisolona. Se a alergia for leve, tratar com antihistamínicos; após uma semana, pode-se reiniciar a DDS com doses baixas: 1/8 de comprimido (=12,5 mg), observar o doente por 1 dia. Se esta alteração reaparecer ou permanecer grave, o tratamento com DDS deve ser Agranulócitose (poucas células brancas). Frequentemente associada com úlceras da garganta e febre alta. Hepatite (escleróticas e pele amarelas) Suspender DDS e enviar o doente ao hospital. A DDS não pode ser utilizada mais (o Supervisor Prov. pode avaliar a possibilidade de utilizar Clofazimina). Suspender a DDS (e a Rifampicina) e enviar ao Hospital. E rupção fixa Meta-hemoglobinemia (o doente aparece com a pele ligeiramente azulada) Anemia 72 Parar com a DDS por uma semana e reiniciar com 50 mg (= ½ comprimido) controlando o doente semanalmente. Pode ter outras causas, que é preciso procurar (bilharziose, parasitoses intestinais, dieta inadequada, malária). Se for grave, suspender a DDS, administrar sulfato ferroso e controlar a Hemoglobina (Hb). Quando houver melhoria (Hb 10), reiniciar DDS controlando semanalmente a Hb. Clínica geral e especial Manual de Lepra Clofazimina (Lamprene) A Clofazimina é geralmente bem tolerada e praticamente não tóxica nas dosagens utilizadas para a TMAA. A sua eficácia é maior quando administrada diàriamente. Atenção: Quando houver dor abdominal e/ou diarreia crónica intermitente, deve-se evitar o uso da Clofazimina. Efeitos colaterais Coloração escura, avermelhada da pele, das palmas das mãos, das plantas dos pés, da esclerótica e das urinas.( o sol agrava estes efeitos) Coloração escura das lesões da pele. Secura da pele especialmente na face anterior das coxas. Medidas a serem tomadas Não é um problema sério. Após terminar o tratamento, a cor regressa lentamente ao normal (em alguns meses). Efeitos colaterais Coloração muito escura do suor, saliva, urina, fezes, lágrimas. Medidas a serem tomadas Se a saliva se apresentar muito escura, pensar na possível presença de sangue (por ex., devido a Tuberculose pulmonar). Perturbações abdominais (diarreia persistente, dor abdominal, perda de peso; raramente resultando em obstrução intestinal). Parar com o medicamento e reiniciar o tratamento com doses menores após o desaparecimento dos sintomas. É possível tomar a Clofazimina após as refeições. Não é séria. Untar com óleo a pele seca e continuar com a Clofazimina. NOS DOENTES QUE TOMAM DOSES DIÁRIAS ELEVADAS (200-300 mg) DE CLOFAZIMINA: Se um doente MB adulto não pode por qualquer razão tomar a Clofazimina, pode-se utilizar o seguinte regime terapêutico alternativo: Clínica geral e especial 73 Manual de Lepra Rifampicina 600 mg: 1 vez por mês, Ofloxacina 400 mg + Minociclina 100 mg: para 12 meses Este regime terapêutico pode ser prescrito somente por médico, após aprovação da Secção Nacional de TB/Lepra. Rifampicina Não estão assinalados efeitos colaterais importantes na administração mensal, com exclusão do sindroma semi-gripe. Atenção: Os doentes com insuficiência hepática ou renal grave não devem tomar Rifampicina. A Rifampicina funciona melhor quando é tomada com estômago vazio (se possível, não comer durante as 6 horas antes da toma da Rif. e durante a ½ hora depois de a ter tomada). E fe itos c ola te r a is U rina s a v e rm e lha d a s (no d ia d a tom a su pe rv isa da , du ra nte a lgum a s hora s); lá grim a s e ou tra s se c reç õe s a v e rm e lha d a s. P ru rid o e pe le a v e rm e lha d a , pa rtic u la rm e nte na fa c e e c ou ro c a be lu do, c om la c rim a ç ã o e e rite m a d os olhos. P e rtu rba ç õe s no e stôm a go (d or, ná u se a , à s v e ze s v óm ito, ra ra m e nte d ia rre ia ; a no re xia ). M e d id as a s e r e m tom a d a s N ã o é e fe ito ne ga tiv o e é d e v ido à e lim ina ç ã o do m e d ic a m e nto a tra v é s d a u rina . E xplic a r pre v ia m e nte a o d oe nte e c ontinu a r c om o tra ta m e nto. T ra nsitório e le v e : nã o inte rrom pe r o tra ta m e nto. S e o inc óm od o for gra v e , re fe rir o d oe nte a o H ospita l pa ra c onsu lta m é d ic a . LEMBRE: A Rifampicina não deve ser administrada a ninguém que não seja doente de Lepra ou de Tuberculose. Se administrada duma forma incorrecta, podem surgir estirpes de bacilos resistentes ao medicamento. Se um doente MB adulto não pode por qualquer razão tomar a Rifampicina, pode-se utilizar o seguinte regime terapêutico alternativo: 74 Clínica geral e especial Manual de Lepra Clofazimina 50 mg Ofloxacina 400 mg Minociclina 100 mg Clofazimina 50 mg diariamente, para os primeiros 6 meses diariamente, Este regime terapêutico pode ser prescrito somente pelo médico, após consultação com a Secção Nacional de TB/Lepra. Prednisolona Atenção: A Prednisolona é contra-indicada aos doentes com úlcera gástrica ou duodenal activa, com Diabetes ou com Hipertensão arterial Efeitos colaterais Activação de infecções: virais, bacterianas, protozoárias (TB, ameba). Hipertensão, problemas Medidas a serem tom adas Se o doente apresentar uma história de TB ou outras infecções crónicas graves, enviar ao Hospital para consulta médica. Enviar com urgência ao Hospital. Úlcera e sangramento do Enviar com urgência ao Hospital. estômago (vómito com sangue, fezes pretas). LEMBRE: Nunca suspender a Prednisolona de repente: o doente pode ficar muito grave e até morrer. As dosagens da Prednisolona devem ser reduzidas devagar (5 -10 mg em cada 2 semanas). É preciso explicar isto também ao doente. Paracetamol O Paracetamol tem poucos efeitos colaterais. Não ultrapassar a dosagem de 3.000 mg/dia (= 6 comp/dia). Efeitos colaterais Manifestações alérgicas Perturbações no estômago (náusea, vómito) e secura da boca Tonturas Clínica geral e especial M edidas a serem tom adas Suspender o tratamento Reduzir a dosagem ou suspender o medicamento Reduzir ou suspender o medicamento 75 INDICAÇÕES PARA A BACILOSCOPIA Manual de Lepra O diagnóstico e a classificação dos doentes de Lepra são feitos fundamentalmente com base em critérios clínicos. De facto, 90% dos casos de Lepra podem ser diagnosticados pelo exame clínico; contudo, o exame microscópico directo é necessário para: 1. Diagnosticar alguns casos (Lepra MB na fase precoce) 2. Classificar PB e MB nos casos duvidosos 3. Avaliar o tratamento e dar alta de tratamento em alguns casos MB. NOTA IMPORTANTE: A Baciloscopia não tem utilidade nenhuma para fins de despiste da doença, pois todos os casos de Lepra paucibacilar têm baciloscopia negativa, bem como alguns casos de Lepra multibacilar. Assim, se se encontrar na triagem um doente com suspeita de Lepra mas cuja baciloscopia é negativa, este resultado negativo não exclui a Lepra; o reconhecimento da doença tem de se basear nos sinais clínicos (sinais cardinais). Colheita dos esfregaços Antes de tirar o esfregaço para a baciloscopia, deve-se observar atentamente o doente para ver se tem lesões novas, elevadas ou eritematosas. Deve-se colher o esfregaço em 2 sítios: 1. Nos doentes com lesões da pele (geralmente casos novos), deve-se tirar a amostra de: - Lóbulo da orelha - Uma lesão activa. Se apresentar lesões em ambos os lóbulos, escolhe-se o lóbulo mais infiltrado e mais uma de uma lesão do corpo. 2. Nos doentes sem lesões da pele (geralmente casos antigos), deve-se tirar a amostra de: - Lóbulo da orelha direita, - Lóbulo da orelha esquerda 3. Nas baciloscopias de controlo: - Se possivel, tirar as amostras dos mesmos sítios de onde tinham sido colhidas na ocasião anterior. 76 Clínica geral e especial Manual de Lepra 4. Onde colher o esfregaço da lesão: - Numa lesão plana com bordo bem definido e/ou elevado: colher o esfregaço no bordo. - Numa lesão plana com bordo mal definido: no centro e/ou no bordo da lesão. - Numa lesão elevada ou num nódulo: no centro. Quem deve colher o esfregaço para a baciloscopia? Na actual situação epidemiológica e na actual dificuldade logística, é preferível que a recolha da baciloscopia seja efectuada por pessoal qualificado, e só quando este está disponível: Responsável Distrital, durante a visita periódica de supervisão técnico microscopista do Centro de Saúde do Distrito. técnico microscopista, nos Hospitais Rurais e Provinciais outro pessoal eventualmente treinado para este exame. Se não existir Microlaboratório no Centro de Saúde onde o doente está em tratamento, um enfermeiro treinado para a execução de colheitas pode fazê-lo e enviar a amostra para o laboratório mais próximo Todos os pormenores relativos à técnica de colheita do esfregaço e sua coloração estão expostos num manual específico. Recomenda-se também o respeito pelas normas para a protecção do doente e do trabalhador de saúde contra o SIDA (veja as páginas 57-59). Controlo de qualidade da baciloscopia Todas as lâminas de baciloscopia da Lepra devem ser guardadas por um tempo mínimo de 3 meses, para permitir a execução de controlo da qualidade a ser efectuada pela equipa nacional ou provincial durante as visitas de supervisão. É tarefa do responsável distrital do programa certificar junto ao colega do laboratório que esta norma seja cumprida. Nos distritos em que o número de lâminas executadas é exíguo (menos de 20 por ano), é preciso guardar todas as lâminas durante pelo menos um ano. Passado aquele período, pode-se eliminar as lâminas mais velhas, tendo contudo o cuidado de guardar as dos últimos 3 meses (ou 1 ano). Clínica geral e especial 77 GLOSSÁRIO Manual de Lepra (Parcialmente trazido do Glossário dos Módulos para o Curso de Gestão de Programas da Lepra, OMS) ABANDONO É aquele doente que (devido às faltas acumuladas) já não vai conseguir acabar o tratamento TMA dentro do prazo previsto. Assim, um doente PB, se não toma as 6 doses num período máximo de 9 meses torna-se abandono; um doente MB, se não toma as 12 doses num período máximo de 18 meses, igualmente é considerado abandono. ACOMPANHAMENTO DOS CASOS Os métodos usados para garantir que os doentes de Lepra sigam o tratamento prescrito, no que diz respéito à dose exacta e ao esquema correcto durante o período necessário de tempo. ALTA DE TRATAMENTO Um doente que completou o seu tratamento de acordo com os padrões, recebe oficialmente alta de tratamento: o doente PB recebe alta quando completa 6 doses (num período máximo de 9 meses) e o doente MB recebe alta quando completa 12 doses (num período máximo de 18 meses). ANESTESIA Na Lepra, é a falta de sensibilidade numa área da pele, correspondente a uma lesão cutânea ou a uma área de pele inervada por um nervo periférico (especialmente palmas das mãos, plantas dos pés e outras partes distais dos membros, córnea). Pode ser anestesia táctil, térmica ou dolorosa. CASO DE LEPRA Um caso de Lepra é uma pessoa que apresenta sinais clínicos de actividade da doença, com ou sem confirmação bacteriológica, e que requer quimioterapia, ou que está a receber quimioterapia. Isto é, um doente com a Lepra na fase activa. CASO INDICADOR Os casos de lepra multibacilar que se encontram na comunidade indicam a possibilidade de contágio na área onde eles vivem; é na família e na comunidade destes casos (indicadores dum risco elevado de Lepra) que o enfermeiro deve fazer o despiste activo de possíveis outros doentes. CEGUEIRA Para os fins do programa de controlo da Lepra, define-se como cegueira (ou grave diminuição da capacidade visual) a situação em que o doente não consegue contar os dedos à distância de 3 metros, mesmo com o uso do olho que tem a visão melhor. CONTACTOS São as pessoas que convivem com o doente de Lepra. Devem ser submetidos a um controlo clínico. Os contactos dos doentes MB devem constituir o grupo de maior atenção. CLASSIFICAÇÃO DOS DOENTES DE LEPRA Um sistema aceite de descrição das várias manifestações da Lepra em certas categorias definidas. Para os programas que aplicam a Terapêutica de Medicamentos Associados (TMA), os doentes são classificados em paucibacilares (PB) e multibacilares (MB) na base de critérios clínicos e bacteriológicos. 78 Clínica geral e especial Manual de Lepra COORTE Um grupo de pessoas que compartilham uma mesma experiência dentro dum período de tempo definido. Na lepra, uma coorte de casos é geralmente definida como: todos os casos iniciando a TMA durante o mesmo período definido de tempo (o mesmo trimestre, ou o mesmo ano). DEFORMIDADE É qualquer alteração da função, ou do perfil anatómico, ou da posição dum segmento corporal. As deformidades podem regredir (deformidades reversíveis) ou ficarem permanentes (deformidades irreversíveis). Podem provocar INCAPACIDADES (ver) (ver também GRAU DE DEFORMIDADES). DETECÇÃO DE CASOS É um método sistemático para se encontrar casos novos de Lepra na fase mais precoce possível da doença. Há duas abordagens: 1. detecção activa; por exemplo, inquérito populacional, despiste nas escolas ou exame sistemático dos contactos domiciliários; 2. detecção passiva, através da apresentação voluntária do doente (auto-apresentação). DOENÇA INFECCIOSA (ou CONTAGIOSA) Uma doença infecciosa ou contagiosa é uma doença como a Lepra, que pode ser trasmitida de pessoa para pessoa. As pessoas que têm a capacidade de transmitir a sua infecção a outras chamam-se de infecciosos. FALTOSO Um doente que não volta para receber o tratamento (= toma supervisada dos medicamentos + recepção dos medicamentos para auto-administração em casa) dentro de um período de tempo de 2 semanas após a data marcada. Os faltosos devem ser procurados pelo pessoal (enviando recados, visitas domiciliárias, etc.) quanto mais cedo possível, já dentro das primeiras duas semanas após a falta de comparência. GARRA Sequela da lesão de nervos periféricos (cubital, mediano para a mão; tibial posterior para o pé), que provoca paralisia dos músculos por eles inervados e consequente flexão das falanges distais e extensão das articulações da falange proximal. GRAU DE DEFORMIDADES Um método de definição do tipo de deformidades em certo número de graus, de acordo com certos critérios. O Comité de Especialistas em Lepra da OMS (1988) sugeriu um sistema simples de classificação, em três graus (0, 1 e 2), essencialmente para a recolha de dados gerais relacionados com as incapacidades e/ou os danos provocados pela Lepra. Mãos e Pés Grau 0: sem anestesia, sem lesões ou deformidades visíveis. Grau 1: anestesia presente mas sem lesão ou deformidade visível. Grau 2: deformidade ou lesão visível presente. Olhos Grau 0: sem problemas oculares atribuídos à Lepra; sem evidência de perda visual. Grau 1: presença de problemas oculares atribuídos à Lepra, mas visão não severamente afectada como resultado desses problemas (pode contar dedos a seis metros de distância). Grau 2: severa lesão visual (incapacidade de contar dedos a seis metros de distância). Clínica geral e especial 79 Manual de Lepra Muitas vezes é necessário fornecer informações sobre uma avaliação geral das incapacidades do doente. Neste caso, o grau de deformidades mais alto devido à Lepra para qualquer parte do corpo, será considerado como a avaliação final da incapacidade do doente. INACTIVO A Lepra é considerada inactiva quando o doente não apresenta mais sinais de actividade da doença: não há novas lesões, não há sinais de inflamação, etc. (Ver também REACTIVAÇÃO). INCAPACIDADE Perda ou redução da habilidade funcional devido à presença de deformidades. INCIDÊNCIA Número de casos novos duma doença específica que ocorrem numa dada população ao longo dum período específico de tempo (por exemplo, um mês ou um ano). A incidência é geralmente expressa por uma taxa, ou seja, o número de casos novos em relação à população média exposta ao risco durante o período específico de tempo. INDICADOR Uma variável que auxilia a medir as mudanças, directa ou indirectamente (quando as mudanças não podem ser medidas directamente). Como tais, os indicadores são seleccionados para representar a evolução do sistema. Os indicadores estão baseados em medidas, mas eles próprios são mais que medidas. A principal característica de um indicador é que ele contém um numerador e um denominador bem definidos. Os indicadores não são sinónimos de objectivos ou metas, mas são medidas para se saber até que ponto as metas estão sendo alcançadas. INFILTRAÇÃO CUTÂNEA É quando o derme fica inflamado (repleto de células inflamatórias e bacilos), nas formas de Lepra MB avançada (lepromatosa e borderline lepromatosa). A pele apresenta-se edematosa, brilhante, cor de cobre e tem uma espessura aumentada em comparação com a normal. Um doente que apresenta infiltração cutânea deve ser classificado sempre como MB. IRITE, e IRIDOCICLITE Inflamação do iris (a parte colorida do olho), geralmente provocada pela ENL e caracterizada por grave vermelhidão ao redor da córnea e pela sensação de dor profunda (dentro do olho), intolerância à luz, visão obnubilada, lacrimejo. Trata-se duma urgência médica. Se não tratada urgente e convenientemente pode levar à cegueira. LAGOFTALMIA É a sequela da paralisia do músculo da pálpebra, devido a lesão do ramo superior do nervo facial: quando o doente tenta fechar os olhos ou pestanejar, a pálpebra não consegue fechar e o globo ocular continua visível. A córnea e a conjunctiva continuam expostas ao ar e ficam secas e expostas a pequenos traumatismos. Assim, a complicação mais frequente da Lagoftalmia é a QUERATITE DE EXPOSIÇÃO. MADAROSE Perda dos cílios e ou das sobrancelhas. MANCHA CUTÂNEA Alteração circunscrita da cor da pele, não elevada em relação ao tecido circunvizinho; na Lepra, as manchas são caracteristicamente hipopigmentadas (mais claras do que a pele normal, cor de cobre; 80 Clínica geral e especial Manual de Lepra nunca são acrómicas). MULTIBACILAR (LEPRA) É a forma de Lepra caracterizada pela presença de muitos bacilos no corpo do doente. Clinicamente apresenta-se com: • muitas lesões cutâneas (mais que 5 manchas) ou com nódulos, ou com infiltração cutânea. • dois ou mais nervos periféricos engrossados. Todos os doentes com baciloscopia positiva devem-se considerar multibacilares. NÓDULO CUTÂNEO Infiltração sólida circumscrita da pele, em forma de caroço, localizado na derme (na Lepra). A pele que o cobre é geralmente de cor normal. Os doentes de lepra que apresentam nódulos cutâneos devem ser classificados como MB. NOVO (CASO) É o doente que apresenta sinais clínicos (e laboratoriais) de actividade da lepra e que se apresenta pela primeira vez ao serviço nacional de saúde para esta doença, não tendo nunca sido tratado anteriormente com medicamentos antilepróticos. Este doente deve iniciar o tratamento logo e deve ser registado no livro de registo dos doentes de Lepra e notificado como doente Novo. PAUCIBACILAR (LEPRA) É a forma de Lepra caracterizada por um número relativamente reduzido de bacilos no corpo do doente. Clinicamente caracteriza-se por: • poucas lesões cutâneas (até 5 manchas). • ausência de nódulos e de infiltração. • nenhum ou somente um nervo engrossado (0-1). • baciloscopia obrigatoriamente negativa. POPULAÇÃO População é o conjunto das pessoas vivendo numa determinada área. PREVALÊNCIA Refere-se ao número total de casos de Lepra que existem numa área, num período específico (prevalência de período) ou num ponto específico no tempo (prevalência de ponto, ou pontual, ou instantânea). PREVENÇÃO DAS INCAPACIDADES Esta componente do controlo da Lepra visa a prevenção das incapacidades, ou seja, o diagnóstico precoce da deterioração da função dos nervos e das suas complicações, a educação em saúde aos doentes, o fornecimento de luvas e calçados protetores, etc. PROCURA DE FALTOSOS Actividade que visa localizar e contactar um doente de Le pra que não compareceu para tratamento na data marcada, nem dentro um período máximo de 2 semanas após a data prevista. QUERATITE DE EXPOSIÇÃO Cicatrização e opacificação da córnea, devida a pequenas lesões, ulcerações e traumatismos secundários à lagoftalmia. Clínica geral e especial 81 Manual de Lepra QUIMIOTERAPIA Doentes que estão a receber qualquer terapêutica farmacológica antibacteriana para tratamento da Lepra. Inclui Monoterapia e TMA. O tratamento actual da Lepra é a TMA. Não se considera quimioterapia o tratamento das complicações da Lepra (dores devido a neurites, úlceras, feridas, etc.). REACTIVAÇÃO A doença torna-se novamente activa num doente que está ainda sob tratamento mas que já estava inactivo. A reativação sugere uma resistência ao tratamento ou a não obediência estrita ao tratamento por parte do doente (ver também RECAÍDA). RECAÍDA Um doente de Lepra que tinha recebido alta de tratamento mas que volta agora mais uma vez com novos sinais e sintomas de actividade da doença, apresenta uma recaída (ver também REACTIVAÇÃO). REENTRADO É o doente que já foi tratado com medicamentos antilepróticos no passado, que deixou aquele tratamento por qualquer razão (sem porém ter completado um ciclo de TMA) e que agora é admitido outra vez ao tratamento. Exemplos: 1. o doente que abandonou e que volta a apresentar-se e a começar outra vez a TMA; 2. o doente que estava a tomar monoterapia e que - após reavaliação clínica - começa o tratamento de TMA; 3. o doente que muda duma linha de tratamento para outra (de TMA-PB para TMA-MB). REFERÊNCIA É o caso do doente que é enviado de uma US para outra (Centro de Saúde de referência, Hospital de Referência) para ser submetido a actividades clínicas diagnósticas e/ou terapêuticas específicas, não possíveis na US de origem (tratamento de complicações graves; falta de meios diagnósticos e/ ou terapêuticos na US de origem, necessidade de consulta especialística, etc.) Após ter resolvido o problema que originou a referência, o doente volta à US de origem. REGULAR Considera-se regular: 1. o doente PB que consegue tomar 6 doses mensais num período máximo de 9 meses; 2. o doente MB que consegue tomar 12 doses mensais num período máximo de 18 meses. ROPTURA DE STOCK Situação em que o estoque de reserva de medicamentos antilepróticos não é suficiente para o tratamento dos doentes existentes na área, os quais ficam portanto sem receberem tratamento por um período mais ou menos prolongado. É uma situação que não deve acontecer nunca, sendo obrigatório providenciar um estoque mínimo de medicamentos de 3 meses em cada distrito. SENSIBILIDADE DA PELE Capacidade de sentir (perceber estímulos). Na Lepra, podem ser afectadas a sensibilidade térmica, táctil e dolorosa. SERVIÇO DE SAÚDE Um sistema de serviço de saúde inclui todas as estruturas públicas ou privadas que fornecem cuidados de saúde a uma dada população, e que fornecem intervenções protectoras e preventivas a fim de melhorar o meio ambiente físico e social. 82 Clínica geral e especial Manual de Lepra TAXA DE DETECÇÃO O número de casos de Lepra novos diagnosticados (detectados) por um ser viço de saúde específico, numa população específica, durante um período de tempo específico (por exemplo, um ano), em relação à população média ao longo do mesmo período. Nas estatísticas para programas de Lepra, exprime-se como taxa por 100.000 habitantes. TAXA DE INCAPACIDADES Proporção de doentes com um grau de incapacidade definido entre um determinado grupo de doentes (por exemplo, proporção de incapacidades de grau 2 entre doentes recém-detectados). TAXA DE INCIDÊNCIA Número de casos novos de lepra que aparecem numa determinada população durante um período de tempo específico (por exemplo um ano), em relação à população média ao long o do período. Para doenças crónicas como a lepra, o denominador não inclui apenas as pessoas em risco, mas a população total. TAXA DE PREVALÊNCIA A prevalência em relação à média da população. Nas estatísticas para programas de Lepra, exprime-se como taxa por 10.000 habitantes. TMA (TERAPÊUTICA DE MEDICAMENTOS ASSOCIADOS) Terapêutica de Medicamentos Associados (ou Poliquimioterapia): o tratamento da Lepra utilizando a combinação de dois ou mais medicamentos quimioterápicos. TRANSMISSÍVEL Significa que pode passar de uma pessoa para outra. TRANSFERÊNCIA É o caso dum doente que iniciou o tratamento numa US, onde foi registado, notificado e recebeu o NIT, e que em seguida é enviado desta US para outra definitivamente, por razões de oportunidade pessoal do doente (por ex. para reduzir as distâncias, aproximação à família, ...). O ciclo de tratamento iniciado na primeira US é completado na US de destino; o doente não regressa à orígem. Na primeira US é notificado como Transferido para (o destino regista-se no livro de registo); na US de destino é notificado como Transferido de (a procedência regista-se no livro de registo). ÚLCERA É uma lesão profunda da pele, que atinge a epiderme, a derme e - às vezes - a hipoderme, e que não tem tendência à cura espontânea. Quando curar, geralmente cura com cicatriz. Clínica geral e especial 83 Manual de Lepra Contéudo PARTE 1 ........................................................................................................................................................... 2 A DOENÇA: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO .............................................................................. 2 INFORMAÇÃO GERAL ............................................................................................................................. 2 A MICOBACTÉRIA DA LEPRA ............................................................................................................... 3 TRANSMISSÃO DA LEPRA E RESISTÊNCIA INDIVIDUAL ........................................................ 4 SINAIS CARDINAIS DA LEPRA ............................................................................................................. 7 Lesões da pele compatíveis com lepra. ........................................................................................................ 8 Lesões cutâneas e suas características. ......................................................................................................... 8 Perda da sensibilidade ..................................................................................................................................... 9 Engrossamento dos nervos .......................................................................................................................... 11 Bacilos nos esfregaços da pele .................................................................................................................... 11 PROCEDIMENTOS A SEGUIR QUANDO APARECE UM DOENTE COM SINAIS DE SUSPEITA DE LEPRA ........................................................................................................................ 11 EXAME CLÍNICO PARA A LEPRA ...................................................................................................... 12 História ............................................................................................................................................................ 12 Exame clínico para a lepra ........................................................................................................................... 13 Observação da pele ....................................................................................................................................... 13 Execução dos testes de sensibilidade nas lesões cutâneas ...................................................................... 14 Avaliação dos nervos periféricos ................................................................................................................ 15 O nervo Supraorbital ......................................................................................................................................... 16 O nervo Grande auricular. ................................................................................................................................. 16 O nervo Cubital. ................................................................................................................................................ 17 O ramo cutâneo do nervo Radial. ....................................................................................................................... 17 O nervo Poplíteo externo. ................................................................................................................................... 17 O nervo Tibial posterior. .................................................................................................................................... 18 Avaliação da sensibilidade cutânea nas extremidades. ............................................................................. 18 Mãos ................................................................................................................................................................. 18 Pés ..................................................................................................................................................................... 19 DIAGNÓSTICO DA LEPRA ................................................................................................................... 20 CLASSIFICAÇÃO DA LEPRA ................................................................................................................. 20 Classificação operacional (O.M.S.) .............................................................................................................. 21 Lepra Paucibacilar (PB). ............................................................................................................................... 21 Lepra Multibacilar (MB) ............................................................................................................................... 22 AVALIAÇÃO DA ACTIVIDADE DA LEPRA...................................................................................... 23 REGISTO DO DOENTE ......................................................................................................................... 24 AVALIAÇÃO DO GRAU DE DEFORMIDADES. ............................................................................. 25 Testes sensitivos nas extremidades ............................................................................................................. Testes motores ............................................................................................................................................... Dedo Mínimo ................................................................................................................................................. Polegar ............................................................................................................................................................. Pé ..................................................................................................................................................................... Pálpebras ......................................................................................................................................................... 25 25 26 26 27 27 Grau de deformidades .................................................................................................................................. 28 84 Clínica geral e especial Manual de Lepra EDUCAÇÃO SANITÁRIA PARA O DOENTE .................................................................................. 30 Antes de iniciar o tratamento ...................................................................................................................... 30 Em cada sessão de tratamento mensal: ...................................................................................................... 31 Na altura da alta de tratamento: .................................................................................................................. 31 TRATAMENTO ........................................................................................................................................... 32 Tratamento acompanhado (TMAA) ........................................................................................................... 32 Vantagens do esquema de medicamentos associados ............................................................................. 32 Doentes PB (Paucibacilares). ....................................................................................................................... 33 Doentes MB (Multibacilares). ...................................................................................................................... 33 Esquemas de tratamento .............................................................................................................................. 34 Lepra Paucibacilar ......................................................................................................................................... 34 Lepra Multibacilar ......................................................................................................................................... 35 Registo das tomas supervisadas pelo Clínico. ........................................................................................... 37 Contraindicações dos Medicamentos e Precauções................................................................................. 38 SEGUIMENTO DO DOENTE E REGULARIDADE À TMAA ................................................ 38 Doente regular ............................................................................................................................................... 38 Doente que abandonou e volta a apresentar-se ........................................................................................ 39 Circunstâncias especiais. ............................................................................................................................... 39 Controle inicial, durante o tratamento e na altura da ATT. ................................................................... 39 Controles após a Alta de Tratamento ......................................................................................................... 40 COMPLICAÇÕES DURANTE E APÓS O TRATAMENTO .......................................................... 40 Reacções. ......................................................................................................................................................... 40 Reacção do Tipo 1 ......................................................................................................................................... 41 Pele .................................................................................................................................................................... 41 Nervos ............................................................................................................................................................... 42 Reacção do Tipo II (Eritema Nodoso Leprótico = E.N.L.) .................................................................. 43 Neurite Silenciosa .......................................................................................................................................... 44 Tratamento das Reacções ............................................................................................................................. 44 Reacções graves ................................................................................................................................................... 45 Reacções Ligeiras ................................................................................................................................................ 47 Outros cuidados ................................................................................................................................................. 47 Tratamento cirúrgico das neurites ....................................................................................................................... 48 Recaída. ........................................................................................................................................................... 48 PREVENÇÃO DE DEFORMIDADES PRIMÁRIAS ........................................................................ 52 PREVENÇÃO DE DEFORMIDADES SECUNDÁRIAS ................................................................. 52 PARTE 2 ......................................................................................................................................................... 52 PREVENÇÃO DAS DEFORMIDADES ............................................................................................... MÃOS E PES INSENSIVEIS ................................................................................................................... A dôr protégé-nos ......................................................................................................................................... Há tres diferentes tipos de trauma sobre membros insensíveis. ............................................................ Como cuidar das maos e pés insensíveis ................................................................................................... A. Afastar traumatismos ............................................................................................................................... B. Buscar diariamente sinais de trauma. .................................................................................................... Calçado para pés sem sensibilidade ............................................................................................................ C. Cuidar da pele seca e fissurada ou com calosidades. .......................................................................... Como controlar se há úlceras ...................................................................................................................... 52 53 53 53 54 54 55 55 55 56 Existe osteomielite por baixo da úlcera? ................................................................................................... 58 Quando enviar um doente ao hospital? ..................................................................................................... 58 Clínica geral e especial 85 Manual de Lepra Quando usar um antibiotico? ...................................................................................................................... 58 MÃOS E PÉS COM PARALISIA ............................................................................................................. 59 Os exercícios podem ser activos ou passivos. ........................................................................................... 59 Porque é que os exercícios são úteis? ........................................................................................................ 59 Que tipo de doentes podem aprender os exercícios? .............................................................................. 59 Quando evitar exercícios? ............................................................................................................................ 59 Quantas vezes devem fazer os exercícios? ................................................................................................ 59 Como ensinar os exercícios. ......................................................................................................................... 60 Paralisia ou fraqueza do nervo cubital ou ulnar ....................................................................................... 60 Paralisia ou fraqueza do nervo mediano ................................................................................................... 60 CUIDANDO DOS OLHOS ...................................................................................................................... 61 Pé caído ........................................................................................................................................................... 61 Mobilização activa ............................................................................................................................................. 61 Mobilizaçao passiva ........................................................................................................................................... 61 Doentes com anestesia da córnea. .............................................................................................................. 62 Doentes com lagoftalmos ............................................................................................................................ 62 Controle se os olhos estão vermelhos. ....................................................................................................... 63 Quais os problemas que exigem tratamento no hospital? ...................................................................... 64 RESUMO. ....................................................................................................................................................... 64 PARTE 3 ......................................................................................................................................................... 66 CASOS ESPECIAIS..................................................................................................................................... 66 CLASSIFICAÇÃO E TRATAMENTO DOS DOENTES ANTIGOS ............................................ 66 LEPRA E TUBERCULOSE ...................................................................................................................... 66 Tratamento ..................................................................................................................................................... 67 LEPRA E GRAVIDEZ ............................................................................................................................... 67 Clínica .............................................................................................................................................................. Durante o terceiro trimestre de gravidez .................................................................................................. Após o parto (no puerpério) ........................................................................................................................ Durante a amamentação ............................................................................................................................... Tratamento ..................................................................................................................................................... LEPRA E SIDA ............................................................................................................................................ Epidemiologia ................................................................................................................................................ Tratamento do doente .................................................................................................................................. AS VACINAS NA LEPRA .......................................................................................................................... EFEITOS COLATERAIS DOS MEDICAMENTOS. ......................................................................... Dapsona (DDS) ............................................................................................................................................. 67 67 68 68 68 69 69 69 70 71 72 Clofazimina (Lamprene) ............................................................................................................................... 73 Rifampicina ..................................................................................................................................................... 74 Prednisolona ................................................................................................................................................... 75 Paracetamol .................................................................................................................................................... 75 INDICAÇÕES PARA A BACILOSCOPIA ............................................................................................ 76 Colheita dos esfregaços ................................................................................................................................ 76 Quem deve colher o esfregaço para a baciloscopia? ............................................................................... 77 Controlo de qualidade da baciloscopia ...................................................................................................... 77 GLOSSÁRIO ................................................................................................................................................. 78 86 Clínica geral e especial Manual de Lepra ANEXOS Clínica geral e especial 87 Manual de Lepra 88 Clínica geral e especial Manual de Lepra Esquema 1 As lesões apareceram há poucos dias? Sim Sim Com Febre? Não Tem tomado antibióticos nos últimos dias? Não FORMA FORMA VIRAL VIRAL Sim ALERGIA ALERGIA A A MEDICAMENTOS MEDICAMENTOS Não Estão presentes desde o nascimento? Sim OUTRA OUTRA PATOLOGIA PATOLOGIA Mais clara do que a pele normal Sim MANCHA MANCHACONGÉNITA CONGÉNITA Não Cor Corde decafé-com-leite: café-com-leite: NEUROFIBROMATOSE NEUROFIBROMATOSE Não Sim Manchas ou Placas? Mais clara do que a pele normal Sim Não Não Lesões elevadas com hyperqueratose e prurido Falta completa da cor? Ver VerEsquema Esquema22 Já apareceram no passado após ter tomado medicamentos Clínica geral e especial Não VITILIGO VITILIGO Não Provocam prurido Não Sim Sim Ver Ver Esquema Esquema33 Ver Ver Esquema Esquema44 LIQUEN LIQUENPLANO PLANO Não Nódulos ou infiltração? Sim Sim ERITEMA ERITEMAFIXO FIXO MEDICAMENTOSO MEDICAMENTOSO OUTRA OUTRA PATOLOGIA PATOLOGIA 89 Manual de Lepra 90 Clínica geral e especial Manual de Lepra Esquema 2 NODULOS OU INFILTRAÇÃO Firmes, muitos, tamanho variável? Sim Sim Há nervos engrossados? LEPRA LEPRA MULTIBACILAR MULTIBACILAR Não Não Áreas de rarefação dos pêlos? Pápulas nas palmas das mãos + pés? Sim Não As lesões estão sobre as superfícies ósseas? Sim Não Moles, tamanho variável, com raiz pequena? Não Cor violácea? Sangram com facilidades nas mão e nos pés? Não Encontram-se na face, nos ombros, ? Grandes? Com prurido? Não Clínica geral e especial Sim SÍFILIS SÍFILIS SECUNDÁRIA SECUNDÁRIA ONCOCERCOSE ONCOCERCOSE OUTRA OUTRA DOENÇA DOENÇA POSSÍVEL POSSÍVEL NEUROFIBROMATOSE NEUROFIBROMATOSE Sim Sim POSSÍVEL POSSÍVEL SARCOMA SARCOMA DE DE KAPOSI KAPOSI POSSÍVEL POSSÍVEL LEUCÉMIA LEUCÉMIA -- LINFOMA LINFOMA OUTRA OUTRA PATOLOGIA PATOLOGIA 91 Manual de Lepra 92 Clínica geral e especial Manual de Lepra Esquema 3 AS LESÕES PROVOCAM PRURIDO Sim Numerosas pequenas vesículas? Nos punhos, cotovelos, ? Não Sim Lesões redondas, anulares? Bordos elevados? + papulas e crostas? Não Localizadas, secas ou húmidas? Com escamas? Não Muitas, hipopigmentadas? Com prurido e descamação? No couro cabeludo e retroauricolares? Não Crostas amareladase sorosas? Não Manchas mal definidas, nas costas e nas nádegas, em área endémica de oncocerca? Clínica geral e especial Sim SARNA SARNA TINHA TINHA ECZEMA ECZEMA Sim DERMATITE DERMATITE SEBORREICA SEBORREICA Sim IMPÉTIGO IMPÉTIGO Sim ONCOCERCOSE ONCOCERCOSE 93 Manual de Lepra 94 Clínica geral e especial Manual de Lepra Esquema 4 As lesões NÃO provocam prurido Sim Apresentam perda de sensibilidade? Não Sim Eritematosas, infiltradas? Con úlceras e cicatrizes? Não Não Prov. Prov. SÍFILIS SÍFILIS SECUNDÁRIA SECUNDÁRIA Sim Têm tamanho duma lentilha? Com descamação fina? No pescoço? Não Sim São pequenas, arredondadas? Limites pouco precisos? Na face? Não Não Sim Contacto com borracha? Não Sim Há pele atrofiada no metámero cutâneo? Não Área exposta à luz solar? Não Asas de borboletaem nariz e bochechas? Clínica geral e especial PITIRIASE PITIRIASEVERSICOLOR VERSICOLOR PITIRIASE PITIRIASEALBA ALBAou ouDISCROMIA DISCROMIA NUTRICIONAL NUTRICIONAL Sim Crianças? Descamação da pele das pernas? Descoloração dos cabelos? Pele cicatrizada duma queimadura? Queloide? LUPUS LUPUS VULGARIS VULGARIS TB TB CUTÂNEA CUTÂNEA Sim Lesões anulares? Não LEPRA LEPRA Sim KWASHIOKOR KWASHIOKOR LEUCODERMIA LEUCODERMIA OCUPACIONAL OCUPACIONAL HERPES HERPES ZÓSTER ZÓSTER SEQUELAS SEQUELAS DE DE QUEIMADURA QUEIMADURA Sim Sim PELAGRA PELAGRA LUPUS LUPUS ERITEMASOSO ERITEMASOSO 95 Manual de Lepra 96 Clínica geral e especial Manual de Lepra FICHA TÉCNICA TÍTULO: Manual de Lepra CONCEPÇÃO: Dr Alcino Ndeve Dr Leonida Compostella Dr Nicola Catalini EXECUÇÃO GRÁFICA: Dr Nicola Catalini REVISÃO: Dr Alcino Ndeve Dra Vincenza Lorusso Dr Wolfgang Hippke Sr Afonso Benfica Sr Juma Molide SUPERVISÃO: Dr Alfredo Mac Arthur Jr. EDIÇÃO: Programa Nacional de Controle de Tuberculose e Lepra, Ministério da Saúde, República de Moçambique IMPRESSÃO E FINANCIAMENTO: AIFO (Associação Italiana Amigos de Raoul Follereau) NÚMERO DE TIRAGENS: 350 Exemplares ANO: 2001 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA: - Manual de Lepra MISAU 1993 - A.Summers Leprosy for Field Staff, L.Hunt Ed., 1993 - Guide to Eliminated Leprosy WHO, 2000 Clínica geral e especial 97