PODA E CONDUÇÃO DA FIGUEIRA Nilton Nagib Jorge Chalfun1 Enilson Abrahão2 Ângelo Albérico Alvarenga3 Murilo Albuquerque Regina4 Rafael Pio5 1 INTRODUÇÃO A figueira é uma frutífera com grande expansão mundial, pois, apesar de ser considerada uma espécie de clima temperado, apresenta boa adaptação a uma grande variabilidade de climas, desde regiões frias até aquelas mais quentes. O sul do estado de Minas Gerais possui boas condições para o cultivo desta fruteira. Por isso, constitui uma grande alternativa para os fruticultores da região, tendo como destaque principal a produção de figos verdes para a indústria. 2 PROPAGAÇÃO DA FIGUEIRA A estaquia é o principal método utilizado para a produção de mudas de figueira, embora também possam ser empregados outros métodos. As estacas podem ser enraizadas previamente em viveiros ou plantadas diretamente no campo, sendo esta última a forma mais utilizada. O plantio ____________________________________ 1 Professor de Fruticultura do Departamento de Agricultura/UFLA. Pesquisador EMBRAPA/EPAMIG – Lavras, MG. 3 Pesquisador EPAMIG/CTSM – Lavras, MG. 4 Pesquisador EPAMIG/FECD- Caldas,MG. 5 Aluno de Pós-Graduação – Fitotecnia/UFLA 2 6 diretamente no campo, embora ainda seja o método mais utilizado, apresenta como inconveniente baixo índice de pegamento, que é também bastante desuniforme de um ano para o outro. Este método permite o uso do material retirado pela poda, preparando-se as estacas com comprimento de aproximadamente 30 a 40 cm e com 1,5 a 3,0 cm de diâmetro, o que permite a formação de mudas vigorosas. O plantio da estaca na cova é feito no sentido vertical, deixando-se 1 a 2 gemas acima do nível do solo, realizando, após, uma amontoa que a cobrirá totalmente com terra solta. Figura 1 Plantio da estaca de figueira na cova 3 PODA DE FORMAÇÃO A poda engloba todos os tipos de intervenções efetuadas na planta, com o propósito de condicioná-la para uma produtividade rápida, elevada e mais constante ao longo dos anos. Nos primeiros 3 anos após o plantio, busca-se formar uma estrutura adequada para inserção dos ramos produtivos. A esta técnica denomina-se “poda de formação”. Porém, mesmo 7 durante este período inicial, a figueira já produz. Desse modo, torna-se difícil distinguir a poda de formação da de frutificação. No início da brotação, deve-se selecionar o melhor broto, pelas desbrotas das demais brotações quando atingirem 5 a 10 cm de comprimento. A muda será então conduzida em haste única, até atingir 40 a 50 cm de comprimento, sendo despontada ainda no verão, ou mais tardar no inverno seguinte (julho/agosto), por ocasião da poda. Figura 2 Formação da haste única da figueira Despontando a haste principal da estaca (40 a 50 cm de altura), surgirão brotações laterais que constituirão a base ou esqueleto da planta. Esses brotos, ao atingirem cerca de 5 a 10 cm de comprimento, serão selecionados, permanecendo apenas três ramos, bem localizados, vigorosos e distribuídos, formando entre si um ângulo de 120°. Desse modo, no próximo inverno, se terá a base da planta, formada pelo ramo principal com três brotos, que, a partir de agora, serão denominados pernadas. A primeira poda de inverno, um ano após o plantio, consistirá no corte dos três ramos, ou pernadas, a 10 cm de seu ponto de inserção no tronco. Ao iniciar-se a brotação nas pernadas, é feita uma desbrota permanecendo apenas dois brotos bem localizados e distribuídos em cada uma das pernadas. Nesta fase, a planta terá, no total, seis ramos crescendo, continuando as desbrotadas das possíveis brotações que surgirem. No 8 período de inverno (julho/agosto) do próximo ano, estes seis ramos devem ser podados a 5 cm cada. Ficará assim uma estrutura formada por uma haste principal e três pernadas, dotadas de duas hastes cada, constituindo a base da planta (Figura 3). Figura 3 Formação da estrutura principal da figueira 4 PODA DE CONDUÇÃO OU FRUTIFICAÇÃO A figueira é uma árvore caducifólia bastante ramificada. Podendo atingir até 10 metros de altura, mas raramente ultrapassa a 3 metros, devido ao sistema de sucessivas podas drásticas realizadas no período de inverno 9 (julho/agosto). Em geral, a vida útil produtiva está em torno de 30 anos, variando conforme o manejo dado à planta. Para obtenção de um pomar produtivo, o ficicultor deverá executar adequadamente diversas práticas culturais. A poda pode ser executada durante o inverno (poda hibernal ou em seco) e durante o período de crescimento vegetativo (poda em verde). A poda hibernal é mais comumente utilizada na cultura da figueira, sendo realizada no final do inverno, próximo à época da brotação. Como a figueira produz em ramos do ano, ou seja, a produção ocorre nos ramos novos emitidos no mesmo ciclo em que produzem, a principal particularidade da poda desta espécie é a realização de poda drástica nos ramos emitidos no ciclo anterior, que ficam com 5 a 10 cm de comprimento. Há dois sistemas de poda: o sistema tradicional e o sistema com desponte. a) Sistema tradicional ou convencional Após a formação da estrutura principal da planta (esqueleto), anualmente deve ser realizada a poda de frutificação, quando as plantas estiverem em repouso. Esta operação consiste na retirada dos ramos que já frutificaram. Os ramos são podados drasticamente 5 a 10 cm, deixando-se apenas a estrutura inicial da planta. Posteriormente, após a brotação, são escolhidos 1 a 2 brotos em boa posição por galho podado, de modo que os ramos cresçam verticalmente, formando um círculo em volta do tronco. Os demais brotos que aparecem são totalmente eliminados. A maioria das espécies de figueira tolera bem a poda drástica, a qual também tem benefícios no controle da broca-de-figueira (Figura 4). 10 Figura 4 Condução da figueira no sistema tradicional ou convencional Com o objetivo de acelerar ou retardar a época da colheita, a poda pode ser feita de maio a novembro, respectivamente, conforme as condições climáticas e o desenvolvimento da planta. A planta podada nestes períodos poderá ter sua atividade afetada, porém havendo vantagens econômicas. Dependendo das condições climáticas e tratos, a colheita tem início cerca de 4 a 5 meses após a poda de frutificação. b) Sistema com desponte Uma variante do sistema de poda de frutificação é o sistema com desponte. Esta prática vem sendo utilizada comumente por produtores de Minas Gerais para a produção de figos verdes destinados à indústria. Embora faltem algumas informações sobre o efeito destes despontes na qualidade dos frutos e crescimento da planta, os resultados têm sido promissores. O sistema de desponte consiste em efetuar primeiramente a poda drástica normal no final do período de inverno, deixando-se apenas a 11 estrutura inicial da planta, que neste caso, é formada apenas pela haste única (40 a 60 cm) e as três pernadas (5 a 10 cm). São escolhidos 1 a 2 brotos em boa posição por galho podado, de modo que os ramos cresçam verticalmente. Eles são despontados quando atingirem oito pares de folhas (16 folhas). Este desponte estimula a brotação das gemas apicais do ramo despontado, de modo que são emitidos, após as desbrotas, outros dois ramos. Estes novos ramos serão despontados quando atingirem 3 pares de folhas (6 folhas). Esta última operação é repetida até meados de abril, num total de 4 a 6 despontes por ciclo. Estes despontes têm como principal efeito a emissão de novo ramos produtivos, escalonando e ampliando o período de safra e a produtividade. Por ser um tecido herbáceo, os despontes são feitos manualmente. O desponte dos ramos também é feito em pomares para figo de mesa. Cada planta, devido ao desponte, pode produzir de 1,5 a 2,5 kg de figos verdes para a indústria, denominados “figos de ponteiro” (Figura 5). Figura 5 Condução da figueira no sistema com desponte 12 5 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA CHALFUN, N. N. J.; HOFFMANN, A.; PASQUAL, M. Fruticultura de clima temperado. Lavras: UFLA/FAEPE, 1998. 304 p. FACHINELLO, J. C.; HOFFMANN, A.; NACHTICAL, J. C.; KERSTEN, E.; FONTES, G. R. L. Propagação de plantas frutíferas de clima temperado. Pelotas: UFEPEL, 1995. 178 p. FACHINELLO, J. C.; NACHTICAL, J. C.; KERSTEN, E. Fruticultura: fundamentos e práticas. Pelotas: UFEPEL, 1996. 311 p. INFORME AGROPECUÁRIO: Figueira. Belo Horizonte: EPAMIG, v. 18, n. 188. 1997. 60 p. PASQUAL, M.; CHALFUN, N. N. J.; RAMOS, J. D.; VALE, M. R. do; SILVA, C. R. R. e. Fruticultura Comercial: propagação de plantas frutíferas. Lavras: UFLA/FAEPE, 2001. 137 p. SILVA, V. J. da; SOUZA, T. D. Cultura da figueira (Ficus carica L.). São Sebastião do Paraíso: Cooparaíso, 1995. 14 p. (Edições Técnicas Cooparaíso – Série Fruticultura).