Aproveitamento energético de combustíveis derivados de resíduos via co-gasificação térmica Autores: Octávio Alves, Paulo Brito, Margarida Gonçalves, Eliseu Monteiro Novembro de 2015 1. Objetivos Identificar a origem e composição de lamas e de combustíveis derivados de resíduos (CDR). Expor os métodos de tratamento dos resíduos e os prós e contras de cada um. Apresentar os objetivos e as tarefas a realizar no presente trabalho. 2 2. Origem e composição dos resíduos de lamas e de CDR Lamas: geradas por sedimentação de matéria (orgânica e outros sólidos) nas estações de tratamento de águas residuais (ETAR’s): Efluente Tratamento primário Gradagem Filtração (câmara areia) Decantação primária Tratamento secundário Lamas ativadas Decantação secundária Lama reutilizada Lama residual para valorização / eliminação Tratamento avançado Remoção N Remoção P Água tratada 3 2. Origem e composição dos resíduos de lamas e de CDR (cont.) Composição das lamas: − variável consoante o tratamento e a origem das águas residuais; − constituição típica: Elemento Fração (%) Lama primária Lama secundária Fração sólida 6 0,8 a 1,2 Óleos e gorduras 0,8 a 4,5 0,04 a 0,14 Proteínas 1,2 a 1,8 0,3 a 0,5 Sílica 0,9 a 1,2 - Celulose 0,5 a 0,9 - Azoto 0,09 a 0,24 0,02 a 0,06 P2O5 0,05 a 0,17 0,02 a 0,13 (fonte: Metcalf & Eddy, 2004) 4 2. Origem e composição dos resíduos de lamas e de CDR (cont.) Combustíveis derivados de resíduos (CDR): matéria orgânica resultante da triagem de resíduos não perigosos urbanos ou industriais, com elevado PCI. 50 % a 55 % dos resíduos sólidos urbanos tem potencial para constituir CDR’s. Destinos habituais são a incineração e a deposição em aterro. Exemplo de composição (resíduo seco): Composto Parcela (%) Alimentos e vegetais 12,3 Papel e cartão 28,6 Plásticos 30,6 Madeira 3,3 Têxteis 8,3 Metal 5,8 Outros 11,1 (fonte: Gallardo et al, 2014) 5 2. Origem e composição dos resíduos de lamas e de CDR (cont.) Resíduos gerados em Portugal (2013): Outros 7,7% Solo 8,7% Químico 3,5% Lama 9,0% Mineral 12,4% Metálico 21,8% Construção e demolição 6,3% Vidro 3,7% Triado 3,9% Não diferenciado 5,6% Madeira 6,4% Plástico 3,9% Papel e cartão 7,2% (fonte: INE) 6 2. Origem e composição dos resíduos de lamas e de CDR (cont.) Discriminação dos resíduos de lamas e CDR (2013): Lamas CDR Tipo Quantidade (t) Tipo recolha Quantidade (t) Lamas efluentes industriais 226 192 Triagem recicláveis 120 Lamas tratamento resíduos 187 347 31 982 Lamas comuns 595 764 Tratamento mecânico e / ou biológico Lamas dragagem 3 Lamas comuns 59,0% Lamas draga. 0,0% Lamas indust. 22,4% Lamas resíduos 18,6% (fonte: INE) Triagem recicláveis 0,4% Trat. mecânico e/ou biológico 99,6% (fonte: APAmbiente) 7 3. Processos de valorização de lamas e CDR Deposição em aterro: solução de último recurso para eliminação de resíduos, devido a vários inconvenientes: - ocupação de grandes áreas de terreno; - contaminação de águas subterrâneos; - modificação da fauna e flora locais; - desperdício de recursos. Os esforços são agora canalizados para outras opções: - prevenção na produção de resíduos; - reutilização dos materiais; - valorização energética. 8 3. Processos de valorização de lamas e CDR (cont.) Possíveis tratamentos de valorização: Digestão anaeróbia Gasificação Compostagem Tratamentos de valorização Pirólise Incineração 9 3. Processos de valorização de lamas e CDR (cont.) Digestão anaeróbia: − método: decomposição da matéria orgânica por ação de microrganismos num ambiente pobre em Oxigénio: Compostos orgânicos complexos Reações enzimáticas Compostos orgânicos simples Ação microbiológica (fermentação) Ácidos orgânicos Ação microbiológica (metanogénese) CH4, CO2, produtos estáveis − esquema da tecnologia: Gases (CH4, CO2) Biomassa (lama ou CDR) Calor Gases Lama em agitação Tanque biodigestor Desidratação Produto final seco 10 3. Processos de valorização de lamas e CDR (cont.) Digestão anaeróbia (cont.): − aspeto dos tanques de digestão: − vantagens e desvantagens: Vantagens Desvantagens Aproveitamento do CH4 para Sensibilidade do processo a produção energia. variações de temperatura e pH. Produto digerido aplicado como Restrições legais ao uso como fertilizante. fertilizante. Menor massa de matéria sólida final. Odores produzidos. 11 3. Processos de valorização de lamas e CDR (cont.) Compostagem: − método: decomposição da matéria orgânica por ação de microrganismos e pequenos insetos em ambiente oxigenado: Mistura lamas e resíduos orgânicos urbanos Formação pilhas para compostagem Decomposição microbiológica (25 ºC a 70 ºC) Substrato digerido Oxigenação: rotação pilhas; ventilação forçada. − vantagens e desvantagens: Vantagens Utilização do substrato final como fertilizante. Sem grandes requisitos de segurança. Secagem parcial das lamas. Desvantagens Processo moroso (meses). Substrato pobre em N, P e K. Restrições legais ao emprego como fertilizante. 12 3. Processos de valorização de lamas e CDR (cont.) Incineração: − método: combustão da matéria orgânica a alta temperatura (850 ºC a 950 ºC), com pós-tratamento aos gases libertados: Biomassa Combustível Câmara combustão rotativa Gases impuros Câmara combustão secundária Gases impuros Purificação gases: aspersão água; ciclone. Gases purificados (para atmosfera) Cinzas e outros sólidos − vantagens e desvantagens: Vantagens Desvantagens Grande redução do volume de lamas (até 90 %). Recuperação de energia das câmaras (aquecimento ou energia elétrica). Eliminação eficiente de patogénicos. Necessário tratamento intensivo dos gases. Requer pessoal especializado. Muitos obstáculos contra a localização das instalações. 13 3. Processos de valorização de lamas e CDR (cont.) Pirólise: − método: decomposição térmica da matéria (entre 300 ºC e 900 ºC), num meio com pouco O2 (até 10 % da quantidade para combustão completa); − tecnologia e produtos obtidos: Constituição produtos Fase Compostos lamas Compostos CDR Gasosa combustível H2 (40 %), CH4 (21 %) HC's simples (26 %), CH4 (7 %), H2 (4 %) Líquida Óleo, alcatrão, água, metanol Óleo Sólida Cinzas e char (rico em C) (fonte: Kluska et al, 2014; Furness et al, 2000) 14 3. Processos de valorização de lamas e CDR (cont.) Pirólise (cont.): − estágios do processo: Char, alcatrão, gases Matéria volátil Biomassa desidratada Compostos intermédios Vaporização Calor (< 200 ºC) Decomposição primária Gases Compostos intermédios Calor (200 ºC a 350 ºC) Decomposição secundária e final Char final Calor (350 ºC a 900 ºC) − vantagens e desvantagens: Vantagens Desvantagens Concentração dos metais pesados no char. Calor gerado é suficiente para alimentar o processo. Maior PCI do gás (13 a 28 MJ/m3). Necessita de lamas com baixo teor de humidade (15 %). Muitos produtos para pós-processamento. 15 3. Processos de valorização de lamas e CDR (cont.) Gasificação: − método: transformação por oxidação parcial da matéria orgânica em gases combustíveis, num meio com: • conteúdo em O2: 20 % a 40 % do valor para combustão completa; • temperatura: 800 ºC a 1400 ºC. − fases do processo: H2O (g) H2O (g) H2O (g) Biomassa húmida Secagem Pirólise Biomassa seca Calor (150 ºC) Reações gasificação: oxidação C; cracking. Calor (400 ºC a 800 ºC) Cinzas e char Gases Purificação: ciclone; filtro; catalisadores. Gases finais O2 Combustível para arranque Calor 16 3. Processos de valorização de lamas e CDR (cont.) Gasificação (cont.): − tipos de gasificadores: Leito fixo co-corrente Leito fixo contracorrente Biomassa Biomassa Leito fluidizado Gases Gases Zona pirólise Ar Zona gasificação Gases Zona pirólise Ar Cinzas e char Biomassa Ar Zona gasificação Ar Leito Cinzas e char Cinzas e char − produtos resultantes: Fase Gasosa combustível Sólida Composição Lamas CDR H2 (10 %), CH4 (2 %) H2 (13 %), CH4 (11 %) Cinzas e char (fonte: Manara et al, 2012) 17 3. Processos de valorização de lamas e CDR (cont.) Gasificação (cont.): − linhas recentes de investigação: • gasificação água supercrítica → menos energia para secagem; • mistura lamas com carvão / pellets → maior PCI e menos poluentes gasosos; • uso de catalisadores (NaOH, Ni, CaO) → mais H2 e menos alcatrão e char. − vantagens e desvantagens: Vantagens Uso de lamas mais húmidas (até 75 %). Menos produtos gerados (char e gases). Apropriado para implantação nas ETAR's. Desvantagens Gás resultante com menor poder calorífico (4 a 6 MJ/m3). Maiores temperaturas → maior resistência térmica dos equipamentos. Pode originar mais cinzas nos gases. 18 4. Descrição do presente trabalho Objetivos a alcançar: − desenvolver um método para obtenção de um syngas a partir da co-gasificação de misturas de lamas e CDR. Tarefas propostas: − analisar a composição e o poder calorífico dos resíduos; − avaliar o efeito da torrefação como pré-tratamento dos resíduos; − testar a co-gasificação de várias misturas, com e sem catalisadores; − otimizar o processo com vista à redução de contaminantes; − projetar e avaliar a viabilidade de uma instalação para tratamento dos resíduos. 19 5. Conclusões Grande produção de lamas e CDR → potencia maior valorização energética. Pirólise e gasificação → tecnologias promissoras, limpas e com muitos aspetos a investigar ou melhorar. Gasificação → processo atrativo para tratamento de lamas + CDR. Presente trabalho pode tirar partido de todos estes aspetos. 20 FIM OBRIGADO PELA ATENÇÃO! 21