O RESPEITO ÀS DIFERENÇAS SOCIOCULTURAIS NA ESCOLA CONTEXTUALIZANDO COM A OBRA EUCLIDIANA “OS SERTÕES” RESUMO Ádria Jane Abreu de Araújo Elenize Maria Filgueiras Campos Marinez Pinheiro dos Santos Marta Helena Facco Piovesan O objetivo deste artigo consiste em analisar e refletir as diferenças socioculturais no âmbito educacional e o lugar da escola quanto à construção de uma educação mais democrática. A metodologia deste estudo provém da análise literária da obra Os Sertões de Euclides da Cunha, abordando questões sociais e culturais, sob o ponto de vista do referido autor. Utiliza-se de fundamentações valiosas como: PCNS, Paulo Freire, Maria Helena Pires Martins dentre outras. Questiona a prática pedagógica atual frente à aceitação das diferenças culturais e quais transformações ocorrem quanto ao caráter multicultural da sociedade. Reconhece ainda, a carência de reflexões e ações provindas da formação de professores, em busca de mais compreensão, respeito e tolerância no trato com o diferente. Palavras-chave: escola, diferenças, respeito, cultura. ABSTRACT The objective of this article is to analyze and reflect the sociocultural differences in the educational scope and the place of the school according to the building of an education more democratic. The methodology of this study comes of the literary analyze of the work “Os Sertões” of Euclides da Cunha, approaching social and cultural questions under the point of view of the author. Use important informations as: PCN`S, Paulo Freire, Maria Helena Pires Martins among other. Question the current pedagogical practice in the acceptance of the cultural differences and what the transformation happens in the multicultural character of the society. Still recognize the comprehension, respect and tolerance in the treatment with the different. Keywords: school, differences, respect, culture. INTRODUÇÃO O Brasil reflete um pluralismo cultural muito grande, pela sua própria formação histórica e quantidade de imigrantes oriundos de muitas regiões e países. Porém pouco se trabalha essa questão na educação, assim como também não há uma busca pelo conhecimento, no que diz respeito às várias formas de cultura dos imigrantes que adentram no país. Euclides da Cunha, em sua obra social “Os Sertões,” retrata bem as diferenças sociais entre o sertanejo e o litorâneo, mostrando o desprezo da nação brasileira para com o sertanejo. No entanto, mostra também a força que eles tiveram, quando se uniram por um mesmo objetivo, quando homogeneizaram as diferenças culturais vindas de várias regiões do Brasil para aquela comunidade de Canudos. Tais diferenças culturais, sociais, étnicas e religiosas com relação ao contexto educacional, estão presentes há algum tempo na escola, fruto da multiplicidade existente no Brasil. Porém, hoje se vive num mundo onde é impossível fechar os olhos a outra diferença. A diferença da igualdade. Todos têm o mesmo direito de ser diferentes na igualdade. Isto é, todos são seres humanos, e como tais, iguais. Contudo, nunca antes se valorizou tanto o direito natural de cada um se expressar conforme suas características individuais. O respeito, a valorização dos costumes de cada aluno é fundamental para que uma sociedade possa se desenvolver e crescer culturalmente. Não se pode ignorar o conhecimento prévio de cada aluno e sua cultura, sobretudo demonstrar preconceito, ou aceitar qualquer atitude dessa natureza para com as diversas formas de ser do estudante. Com esta realidade, acredita-se que a escola não pode mais ignorar as transformações do Brasil e do mundo. Ela é um espelho da sociedade, e se esta muda, a escola tem a obrigação de mudar também. Considerando inevitável a presença da diferença na sociedade e nas escolas, cabe questionar: como se tem lidado, nas salas de aula, com a diferença cultural? Como se tem buscado compreender o processo de construção dessas diferenças? Que resposta vem sendo dada ao caráter multicultural da sociedade? Que propostas vêm sendo elaboradas para enfrentar os desafios decorrentes dessa condição? Vive-se em um mundo onde se almeja ser simultaneamente iguais e diferentes. Fala-se em uma cidadania planetária que respeite as diferentes culturas. Não é um falso universalismo que destrói todas as diferenças e que impõe culturas que se pretende alcançar, mas uma maior valorização e aceitação da diversidade cultural existente. Pretende-se com este artigo mostrar um pouco do trabalho de Euclides da Cunha sobre as diferenças sociais entre o homem sertanejo, o litorâneo e a diversidade sociocultural na escola. Propondo a valorização e reflexão dessa questão no processo educativo e, principalmente, despertar sobre a necessidade de preparar o educador para lidar com essas diferenças, de forma a promover atitudes harmoniosas com relação a outras culturas. 2. EUCLIDES DA CUNHA: UM MONUMENTO HISTÓRICO- CULTURAL BRASILEIRO Pode-se afirmar que a Literatura Brasileira nas primeiras décadas do século XX atravessava um período de transição, já que no Pré-modernismo existiam várias tendências artísticas que representavam uma mistura de ideias e formas literárias. Euclides da Cunha surge em um momento de grande tensão e instabilidade política, onde a República ainda se encontrava em caráter de adaptação. É nesse clima que nasce a obra “Os Sertões”, com o intuito de interpretar a realidade social brasileira da época, causando assim um debate sobre as diferenças sociais entre o interior nordestino e o litoral. A obra deixa, portanto, um exemplo de reflexão em busca de mais compreensão e tolerância para com o diferente, visto que não é só uma obra literária, mas também sociológica que retrata os problemas sociais da época e que ainda são refletidos na sociedade atual. É interessante analisar que, para uma sociedade evoluir é relevante que haja uma convivência harmoniosa entre as culturas, para que a mesma possa lutar por uma só causa, sem separação entre colonizadores e colonizados, pobres e ricos, litorâneos e sertanejos. O autor busca no sertanejo um homem resistente que possa trazer ao país o progresso, e afirma que o desenvolvimento só é possível através de um projeto civilizatório que englobe todos os brasileiros. Para tanto, necessita-se de alguém que encare os fatores externos do meio com resistência. Segundo ele, os tipos sociais como o sertanejo e o gaúcho, resultam da interação entre homem e natureza, homem e sociedade. Partindo do contraste entre o sertanejo e o “civilizado”, personificado pelo soldado federal, o autor retrata a selvageria existente nos dois. Porém não esconde, a sua simpatia pelo primeiro e mostra impiedade contra aqueles que, a pretexto de destruir um foco de “rebeldia monárquica”, escreveram uma das mais sangrentas páginas da história brasileira. Cunha (1998, p. 246) enfatiza: O governo baiano afirmou serem mais que suficientes as medidas tomadas para debelar e extinguir o grupo de fanáticos e não haver necessidade de reforçar a força federal para tal diligência, pois as medidas tomadas pelo comandante do distrito significavam mais prevenção que receio; e aditava não ser tão numeroso o grupo de Antonio Conselheiro, indo pouco além de quinhentos homens etc. O livro é escrito tendo em vista os problemas sociais pelos quais a pátria estava passando e que a mesma estava alheia a todas essas questões que ainda hoje, são características marcantes nesse país. Cunha testemunhou uma guerra que ao seu modo de ver foi um crime praticado pela nação, contra o povo sertanejo que não sobreviveu ao massacre, mas que apesar disso foi considerado forte. Com intuito de denunciar esse crime, o autor mistura a arte literária com a realidade pela qual ele vivenciou e relata detalhadamente todo acontecido, partindo assim da visão de mundo que tinha e das influências científicas da época, denuncia: “Aquela campanha lembra um reflexo para o passado. E foi na significação integral da palavra um crime. Denunciemo-lo.” (CUNHA, 1998, p.10) 2.1 Os diferentes tipos humanos na obra euclidiana Analisando os tipos humanos, o autor traça um paralelo entre o sertanejo e os litorâneos apontando que o povo forte dos sertões, resistente aos fatores externos do meio em que vivem vão-se sobrepor à raça fraca do litoral, partindo do argumento de que o homem deve ser estudado a partir do individual para o coletivo, visto que só se pode entender o coletivo através do individual, ou seja, através da parte se pode entender o todo. Cunha (1998, p. 112): É difícil traçar no fenômeno a linha divisória entre as tendências pessoais e coletivas: a vida resumida de um homem é um capítulo instantâneo da vida de sua sociedade {...}. Acompanhar a primeira é seguir paralelamente e com mais rapidez a segunda: acompanhá-las juntas é observar a mais completa mutualidade de influxos. O homem é estudado em duas vertentes: o que vive na cidade e o que vive isolado no sertão, sem nenhum desenvolvimento e sem perspectiva de evoluir acompanhando assim a evolução do país. Na verdade, o que existe é um contraste: os homens desenvolvidos do litoral que deveriam civilizar os subdesenvolvidos que vivem isolados no interior, levam na verdade a morte para homens, mulheres, velhos e crianças. O narrador relata detalhadamente o meio físico pelo qual o homem está inserido e em seguida descreve minuciosamente cada ser humano característico da região, mostrando as variações dos processos migratórios, as crenças e os costumes. Nessa descrição o autor faz uma análise dos personagens principais como: o jagunço, o gaúcho, o vaqueiro e os sertanejos com suas características físicas, psicológicas e culturais. Faz também um estudo da formação do povo brasileiro, como resultado do cruzamento entre o indígena, o africano e o português. Para o escritor, a desigualdade social existente no país originou-se da mistura de raças, que fez com que as pessoas nascidas dessa junção não tivessem identidade própria, sendo que, um filho da escravidão entre um negro da África e um branco europeu, não era senhor e nem escravo, não conseguia administrar. Era apenas agregado em terras alheias; um agregado em meio às culturas alheias. Como esse povo, os mestiços provenientes muitas vezes de violência entre senhores e escravos, poderia ganhar uma guerra sem lutar com as mesmas armas, principalmente culturais, que a raça considerada forte lutava? Cunha (1998, p. 116) evidencia: Durante o curso deste processo redutor, os mestiços emergentes, variáveis, com todas as mudanças da cor, da forma e do caráter sem feições definidas, sem vigor, e as mais das vezes inviáveis, nada mais são, em última análise do que os mutilados inevitáveis do conflito que perdura, imperceptível, pelo correr das idades. É que neste caso a raça forte não destrói a fraca pelas armas, esmaga-a pela civilização. Segundo o autor, o abandono do sertanejo deixa-o desfigurado, consequência do meio em que vive. Daí a conclusão de que a geografia determina a cultura de um povo, inclusive o aspecto físico. Caracteriza o gaúcho do sul, os seus costumes, as suas vestes, contrapondo com os do vaqueiro, o primeiro com aparência mais atraente devido ao próprio clima em que vive e que não convive com a terra seca e, tampouco com a luta que passa o sertanejo. Cunha (1998, p. 121): A luta pela vida não lhe assume o caráter selvagem dos sertões do norte. Não conhece os horrores da seca e os combates cruentos com a terra árida e exsicada. [...] as suas vestes são um traje de festa, ante a vestimenta rústica do vaqueiro. As amplas bombachas, adrede talhadas para a movimentação fácil sobre os baguais. Além destas características citadas com relação aos costumes do povo sertanejo, a obra enfatiza bem o fato de que chegado certo momento, todo tipo de gente se dirige para Canudos, o que causa um despovoamento das cidades vizinhas e falta de mão de obra, proporcionando revolta nos coronéis. Porém ao chegar à comunidade, as diferenças se tornavam iguais e a comunidade se ajudava de uma forma coletiva e junta somava força, na solução dos problemas e na reivindicação dos direitos. Isso causou preocupação ao governo republicano, pois o mesmo desejava continuar manipulando toda sociedade brasileira. Portanto, a organização e respeito às diferenças, que existiam em Canudos, de certa forma proporcionavam perigo aos que detinham o poder. Visto que todos que chegavam lá eram tratados com igualdade e todos lutavam pelo mesmo objetivo, seguindo os preceitos do Conselheiro. 3. DIFERENÇAS CULTURAIS Um grande equívoco hoje é pensar que a questão da diversidade, a luta pelo reconhecimento da diferença, é um assunto da atualidade ou até mesmo decorrente do novo milênio. É fato confirmado que a globalização, as políticas neoliberais trazem à tona, embora com uma nova roupagem. Analisar a diversidade cultural significa entender primeiramente que, no contexto social, agregamse outras realidades tais como: etnia, diferenças etárias, de gênero, geográficas, religiosas, de visões de mundo, projetos individuais, desejos, valores, experiências vividas e outras. Ela está intimamente ligada à condição de classe social, portanto não se trata de dimensões que se opõem ou que possam ser facilmente substituídas uma pela outra. Deve-se buscar uma visão dialética da relação entre igualdade e diferença. Não é admissível nos dias atuais falar em igualdade sem incluir a questão da diversidade, nem mesmo é possível abordar a questão da diferença dissociada da afirmação da igualdade. “Temos o direito a reivindicar a igualdade sempre que a diferença nos inferioriza e temos direito de reivindicar a diferença sempre que a igualdade nos descaracteriza”. Boaventura (apud SANTOS, 2007, p.27). Reconhecendo as ideias de Boaventura, pode-se evidenciar a importância de cada cultura, já que ela é um dos aspectos que mais marca um povo, revela sua identidade e pode se apresentar de várias formas, dentre elas através da língua, dos sotaques, da religião, dos costumes e das tradições, tudo isso em escala nacional e regional. “É este conjunto complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costumes e várias outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. (MELLO, 2001, p.40) Na esteira do pensamento de Mello e da realidade histórica do povo brasileiro, pode-se dizer que toda essa mistura aqui existente constitui muitas formas de simbolizar o universo cultural em que o homem está submerso. A sociedade brasileira reflete, por sua própria formação histórica, o pluralismo, portanto pode-se falar em culturas no plural ou diversidade cultural. O povo brasileiro é nacionalmente um povo intercultural, não apenas um mosaico de culturas, como se pode observar nesta declaração. Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, (UNESCO, 2002, artigo 1º) discorre que: A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade. Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural é, para o gênero humano, tão necessária como a diversidade biológica para a natureza. Nesse sentido, constitui o patrimônio comum da humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em beneficio das gerações presentes e futuras. É de grande valia entender que a originalidade de cada cultura reside na maneira particular como os grupos sociais resolvem os seus problemas, ao mesmo tempo que se aproximam de valores que são próprios de cada um. Porém, o fato das pessoas possuírem semelhanças, não as tornam idênticas. No entanto o que deve ser valorizado nesse contexto é a aceitação à diversidade e a transformação da mesma em algo mais universal. Este deve ser o verdadeiro perfil do povo brasileiro. Sabe-se, contudo, que o diálogo entre culturas supera no final o relativismo cultural e enriquece valores universais. Nessa perspectiva é importante mencionar que, a educação carece de uma prática pedagógica que veja o educando com suas diferenças e igualdades, evitando práticas discriminatórias, tanto no aspecto social, como no ritmo de aprendizagem, pois assim pode-se evitar também acreditar somente em um modelo padrão de comportamento. A ideia de padronização das culturas dá lugar ao entendimento das diferenças como desvio, patologia e desigualdade. Tudo isso gera desrespeito ao modo de pensar, agir e aos costumes de determinado povo, podando assim, a expressão prática das diversidades culturais. Dessa forma afasta-se da educação defendida ao longo dos anos. A escola possui a vantagem de ser uma das instituições sociais em que é possível o encontro das diferentes presenças. Sendo ela também um espaço sociocultural marcado por símbolos, rituais, crenças, culturas e valores diversos. Esse leque de possibilidades existente no espaço educativo escolar precisa ser vista na sua riqueza, no seu fascínio. Nesse aspecto, a questão da diversidade cultural na escola deveria ser vista no que de mais fascinante ela pode proporcionar às relações humanas, sendo essa a grande premissa da pedagogia da diversidade, como é exemplificado por Santos (2005, p. 50): Precisamos ter sabedoria para criar estratégia de enfrentamento à diversidade do mundo atual, tornando-nos sempre eternos aprendizes; é preciso criar competências para nos comunicarmos e interagirmos com todas as pessoas, convivendo com as diferenças, mas principalmente reconhecendo-as como espaços abertos para construção de novos saberes. A abertura à diversidade torna possível a não separação dos educandos em blocos e a queda de todas as barreiras sociais. É urgente a necessidade de colocar em prática a máxima da Educação, proposta pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que é: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Santos (2005, p. 23) ainda acrescenta: A escola não pode continuar anulando e marginalizando as diferenças nos processos através dos quais, forma e instruí os alunos e muito menos desconhecer que aprender é errar, ter dúvidas, expressar dos mais variados modos o que sabemos, representar o mundo a partir de nossas origens e sentimentos. Lançar mão desta abordagem de Santos sobre a diversidade, implica reconhecer as diferenças e tendo-as como ponto de partida, administrar a aprendizagem, usando por base o planejamento político-pedagógico de uma educação que articula e programa ações educativas capazes de atender a todos os educandos, pois tem como princípio básico: a luta pela superação das desigualdades sociais e valorização das diferenças culturais. No entanto, não se pode deixar de destacar o valor de todas estas discussões para uma melhor compreensão destes novos fundamentos que hoje lutam para serem reconhecidos em suas singularidades sociais, políticas e culturais, contribuindo para que as práticas pedagógicas sejam diferenciadas. 3.1 A escola atual frente ao multiculturalismo Dentre os muitos desafios na educação atual, ressalta-se o de encontrar estratégias mais eficazes contra os vários preconceitos que existem na escola. Não basta a pregação científica aos alunos, de que não existem raças ou culturas superiores ou inferiores. Tampouco a teoria cristã, a qual afirma que para Deus todos são iguais, para que estes possam deixar de serem preconceituosos. Como educador é necessário entender que apesar da lógica racional ser importante no processo informativo e formativo, ela não muda por si mesmo o pensamento coletivo dos alunos em relação aos preconceitos. A escola precisa oferecer uma educação que respeite essas diferenças, pois ainda há professores acomodados diante desse aspecto e acabam achando mais fácil trabalhar com conteúdos voltados para a homogeneidade. Sacristan (apud CHALUH 2006, p.111): A comodidade profissional dos professores que acreditam que é mais fácil trabalhar com uma base homogênea de estudantes; O controle interno e externo dos conteúdos, que fazem com que os professores imponham uma cultura de certa forma homogeneizada assim como tipos e níveis de rendimentos padronizados; escassa variedade de espaços, de estímulos e recursos culturais para a aprendizagem o que propicia o uso de fontes uniformizadas de informação. Conceber o conhecimento sob a visão de Sacristan, é reconhecer que a escola carece de um ambiente acolhedor que possibilite a interação de todas as formas de pensar e agir, respeitando a individualidade de cada educando, fazendo com que este possa realizar troca de experiências reais. Paulo Freire, (1992, p.156) ressalta: A multiculturalidade não se constitui na justaposição de culturas, muito menos no poder exarcebado de uma sobre as outras, mas na liberdade conquistada de mover-se cada cultura no respeito uma da outra, correndo o risco livremente de ser diferente, sem medo de ser diferente, de ser cada uma “para si” somente como se faz possível crescerem juntas e não na experiência da tensão permanente, provocada pelo todo poderosismo de uma sobre as demais, proibidas de ser. Nesse aspecto, o educador precisa estar sempre aberto a novas perspectivas e a novos desafios apresentados pela realidade, deixando de lado a velha concepção de que está formado e agora pode formar outros. Desse modo, faz-se necessário que o professor evidencie as diferenças presentes em sua sala de aula, estimulando a construção de conhecimentos para seus educandos e para a luta a favor da transformação social. Na escola, o aluno recebe todos os tipos de informações a todo instante. O que falta é o aspecto formativo e dialógico que dificulta a interação do aluno com aquilo que lhe é informado e com os outros, favorecendo assim só um lado, levando todos a pensarem da mesma forma e gerando conflitos, desfavorecendo a diversidade. É evidente que é preciso atenção para com as atitudes preconceituosas em sala de aula, as quais às vezes são irracionais, já que a raiz está nas emoções momentâneas, mas podem levar o aluno a ter problemas psicológicos no futuro, quando são agredidas verbalmente por outros alunos, geralmente aqueles com características diferenciadas é que são as vítimas, como é exemplificado: “Japa, Gordão, Balofo, Zarolho, Quatro-olhos [...] são tantos apelidos que apontam exatamente para a diferença, para aquela característica que distingue alguém do resto do grupo.” (MARTINS, 2001, p. 21). Com efeito, a busca por mudanças no ensino hoje, requer dos estudantes, pais, professores, funcionários e corpo diretório, engajamento no processo de ensino aprendizagem no que diz respeito à diversidade de cada educando. Portanto, espera-se da escola a criação e abertura de espaços que promovam ações cooperativas, solidárias onde todos possam participar e interagir. Santos (2005, p. 57) entende que: Abrir espaços de cooperação, de construção de relações solidárias, de participação deve fazer parte das preocupações dos professores, administradores, funcionários, alunos e pais, pois, sem esses valores e atitudes, não só não é possível realizar as transformações necessárias à escola, como também não se realizarão o principio da igualdade e o respeito à diversidade. De acordo com a autora, a resolução para a inclusão da diversidade, não se encerra na abertura de espaços propícios, mas também na importância de investir na formação permanente e continuada dos professores para que estes possam estar preparados na superação de problemas que possam surgir durante o processo de aprendizagem. O reconhecimento das diferentes manifestações e comportamentos culturais pode repercutir no aumento das auto-estimas dos educandos, gerando confiança e contribuindo ao alcance de outros objetivos. É importante que cada profissional de educação acredite nisso, se quiser contribuir para o sucesso escolar e para a construção de uma sociedade mais democrática, onde todos possam estar incluídos. Sabe-se que, de acordo com os direitos humanos, todas as pessoas nascem livres, com liberdade de expressão e participação na sociedade, sem discriminação de raça, cor ou qualquer outra condição social. Para tanto, a escola precisa oportunizar um ambiente adequado para o aperfeiçoamento dessa prática social, numa perspectiva de formar cidadãos críticos, autônomos e competentes para atuar em qualquer sociedade que estiverem inseridos. Uma educação voltada à diversidade humana garante esses direitos, pois favorece a compreensão entre os indivíduos e constrói relacionamento de respeito para com o outro. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNS) propõem nos temas transversais, uma alternativa que busca expor, compreender e valorizar a diversidade étnica e cultural que faz parte da sociedade brasileira. PCNS (1997, p. 121) discorrem ainda: [...] compreender suas relações, marcadas por desigualdades socioeconômicas e apontar transformações necessárias, oferecendo elementos para a compreensão de que valorizar as diferenças étnicas e culturais não significa aderir aos valores do outro, mas respeitá-los como expressão da diversidade, respeito que é, em si, devido a todo ser humano, por sua dignidade intrínseca, sem qualquer discriminação. A afirmação da diversidade é traço fundamental na construção de uma identidade nacional [...]. Diante dos problemas percebidos e a partir de uma perspectiva crítica, propõe-se aqui a busca pela superação de uma atitude meramente condenatória e o resgate do espaço intra-escolar para viabilizar práticas pedagógicas imbuídas por expectativas que celebrem a diversidade cultural, ao invés de sufocá-la. Nesse sentido, um caminho possível é a luta por uma formação docente que sensibilize professores e futuros professores à pluralidade cultural e favoreça práticas pedagógico-curriculares a ela reunidas. É importante ressaltar que muito se fala a respeito da formação continuada dos profissionais em exercício do magistério, porém pouco se faz. Na prática observa-se quão deficiente é a formação inicial, mesmo sabendo da importância de se estar em constante reflexão e crítica para atender a todos os educandos com qualidade. Os educadores são peças chaves na transformação da escola. São eles que estão em contato direto com o aluno, que organizam, planejam, orientam, avaliam e desenvolvem atividades no cotidiano da sala de aula, mas se faz necessário entendê-los como seres culturais. Cada um traz sua história de vida, sua bagagem pessoal que devem ser levadas em conta sempre que os órgãos formadores promovem os processos de formação continuada. “Isso significa que, em todas as ações de formação continuada, os participantes não estarão igualmente motivados para a vivência do processo”. (MONTEIRO E GIOVANNI, 2000: 134) Almeja-se uma formação que busque um trabalho de reflexibilidade crítica sobre as práticas e de reconstrução permanente de uma identidade pessoal e profissional, num processo de interação mútua; para que estas mudanças ocorram, precisa-se de uma política educacional que dê o suporte necessário, caminhando juntos, professores e sociedade. Nesse contexto reafirma-se, que o estudo sobre as diferenças socioculturais, conduz a um repensar do papel do educador. Acredita-se que é principalmente através da formação de professores que se pode ajudar a construir uma escola e uma sociedade melhor para todos. É necessário abrir caminhos, romper com os discursos até então dominantes, para realmente encontrar-se com o diferente numa prática viva de respeito à diversidade humana. CONSIDERAÇÕES FINAIS É impossível pensar em escola sem necessariamente pensar a cultura e as relações existentes entre elas. A educação deve ter como base o diálogo, a formação e a transformação, com isso supõe-se não só um contato, uma transmissão e aquisição de conhecimentos, mas também um desenvolvimento de competências, hábitos e valores. Deverá ser, portanto, não só uma reprodução do saber e das culturas, mas, sobretudo, uma produção de novos saberes e novas expressões culturais. No entanto, percebe-se que a escola ainda não reflete na prática todos esses aspectos e a maioria dos educadores ainda se sentem despreparados para trabalhar a diversidade cultural existente nela. Analisar a escola como espaço sociocultural significa compreendê-la na ótica da cultura, sob um olhar mais denso, que leva em consideração a dimensão do dinamismo, do fazer-se cotidiano, com a participação de seres humanos concretos, sujeitos sociais e históricos, presentes e atores da própria história. Euclides da Cunha retratou bem, através da literatura, essas questões sociais e pôde-se perceber também uma grande preocupação com as desigualdades daquela época no Brasil, já que através da arte literária, buscava encontrar soluções que conduzissem a um país melhor. Dessa forma é inegável a contribuição que a obra Os Sertões trouxe para aquele período e para os dias atuais, provocando assim esse debate sobre as diferenças socioculturais na sociedade e na educação. É evidente que a diversidade cultural precisa ser considerada no processo educativo, visto que esta é frequentemente ignorada nas práticas pedagógicocurriculares desenvolvidas pelos professores. Portanto, urge que se invista na formação de um educador criticamente comprometido e que possa respeitar o conhecimento prévio dos seus educandos. A educação como um processo em construção, aponta para a necessidade de uma maior reflexão e abertura de caminhos que levem ao atendimento desta diversidade, respeitando e valorizando todos os saberes presentes no cotidiano educacional. Partindo do pressuposto de que a escola não é a detentora de todos os males, mas essencial para a reconstrução de uma sociedade mais justa e igualitária, diferente do modelo social republicano, apresentado na obra de Euclides da Cunha. REFERÊNCIAS BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais terceiro e quarto ciclos apresentação dos temas transversais/ Secretaria de Educação Fundamental Brasília: MEC/SEF, 1998. CHALUH, Laura Noemi. Educação e Diversidade. Campinas-SP: Alínea, 2006. CUNHA, Euclides da. Os Sertões. – Rio de Janeiro: Record, 1998. FREIRE, Paulo. 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