DEPOSIÇÃO DE REJEITOS FINOS PELO MÉTODO DE SECAGEM L. H. D. Costa J. P. de Ávila Roberta Soares RESUMO: O trabalho descreve os principais processos de deposição de rejeitos argilosos e as consequentes implicações do método de deposição sobre o projeto da barragem , sobre a capacidade de estocagem de rejeitos no reservatório e sobre a recuperação ambiental. Discute-se as principais experiências existentes com a deposição de rejeitos de granulometria fina, considerando o método de lançamento contínuo de lama, em contraposição ao método com utilização de secagem do tipo “dry stacking”. O trabalho relata ainda o caso das experiências feitas com os rejeitos finos de bauxita da Mineração Rio do Norte, em Porto Trombetas,onde o método de deposição tem grande influência no custo das barragens, na capacidade dos reservatórios e no tempo decorrido entre o final do enchimento dos reservatórios e a sua recuperação ambiental. contenção e não oferece risco de fluir para jusante, causando danos ambientais. A granulometria dos rejeitos tem influência no método de secagem e deve-se distinguir os rejeitos arenosos dos argilosos, que precisam ser tratados diferentemente no processo de deposição. O empilhamento de rejeitos arenosos foi estudado pioneiramente por Robinski, que publicou, primeiramente em 1975, e posteriormente em 1978 , trabalhos sobre a retirada de água dos rejeitos mais permeáveis, conseguindo-se maiores ângulos de taludes de deposição, maiores teores de sólidos e portanto, conseguindo depositar maior tonelagem de rejeitos por unidade de volume de reservatório. No Brasil, a SAMITRI vem conduzindo experiências sobre o assunto e publica informações neste simpósio. Em relação aos rejeitos argilosos, as experiências pioneiras da ALCAN, na Jamaica, 1.. INTRODUÇÃO A deposição de rejeitos por via hidráulica, através de bombeamento de lamas, tem sido crescentemente questionada por diversas razões bem fundamentadas: - A lama no reservatório é menos densa que os rejeitos ressecados e portanto exigem maiores volumes de reservatório. - A superfície da lama exige mais tempo antes da recuperação ambiental. - A lama com água na superfície superior exige maior responsabilidade estrutural da barragem, que precisa ter dimensionamento equivalente à uma barragem para acumulação de água. - O potencial de dano de uma barragem de lama é muito maior que o de um depósito de rejeito ressecado. Em contraposição, o lançamento de rejeitos com secagem permite obter maiores densidades, rápida recuperação ambiental, pode ser feito com diques simples para 181 de 1:2000, no máximo 1:1000), o que dificulta muito a drenagem superficial. Há uma tendência dos rejeitos, após alguns dias, de reproduzirem na superfície as irregularidades do fundo do reservatório, de modo que há formação de pequenas lagoas isoladas, de difícil drenagem nos pontos de maior espessura da lama. Neste caso, existe uma lentidão maior no processo de evaporação. A solução é o aumento da declividade da lama para inclinação de no mínimo 0,5% (meio por cento), o que pode ser conseguido aumentando-se o teor de sólidos da lama por espessamento. introduziram novos métodos de deposição , conforme exposto por Chandler (1988). As experiências da ALCAN desenvolveram-se em suas plantas de alumina de Kirkrine e Ewarton, ambas na Jamaica, e basearam na secagem por evaporação, após o pré-adensamento da lama em estruturas tipo silo. A Mineração Rio do Norte, MRN, em Porto Trombetas, vem desenvolvendo experiências semelhantes de secagem da lama de rejeitos argilosos com resultados promissores. O processo em utilização pela MRN difere em vários aspectos do processo ALCAN. O presente trabalho apresenta os primeiros resultados destas experiências, discutindo os condicionantes principais do método, a metodologia utilizada e os resultados obtidos. Espessamento de Lama O espessamento de lama tem sido conseguido seja por meios físicos, através de espessadores, filtros de vácuo, seja por meios químicos, através da adição de floculadores. Os espessadores de rejeitos são utilizados com ou sem adição de floculadores e são constituídos de tanques de decantação de pequena profundidade. Os filtros de vácuo produzem rejeitos com alto teor de sólidos por extração da água de lama. Sua aplicabilidade, entretanto, é questionável quando os rejeitos têm granulometria muito fina, ou há grande quantidade de rejeitos que obriga ao uso de um número elevado de filtros. Da mesma forma, o uso de floculadores pode ficar anti-econômico no caso de grande quantidade de rejeitos a serem tratados. O uso de reservatórios de pré-adensamento para futuro bombeamento e deposição em outros reservatórios, seja por via úmida seja por via seca (“dry stacking”), tem sido utilizado, a exemplo dos sistemas utilizados na Flórida em minas de fosfato, e constitui-se no sistema utilizado pela MRN em Porto Trombetas, que atualmente utiliza a via úmida. 2. PRINCIPAIS CONDICIONANTES DO PROCESSO No empilhamento de rejeitos arenosos a retirada de água pode ser obtida por escoamento através dos vazios, a partir do lançamento em talude de um ponto elevado. Este processo não pode ser utilizado com os rejeitos argilosos, pois além de possuirem baixa permeabilidade, as lamas argilosas têm baixíssimo ângulo de repouso, dificultando o escoamento da água. Deste modo, a desidratação é conseguida através da exposição da superfície de rejeitos à secagem por evaporação. É necessário, portanto, que haja diferentes reservatórios para que o lançamento seja intermitente, com pausas para exposição ao sol. Em cada reservatório devem ser atendidos alguns aspectos, conforme descrito a seguir. Drenagem Superficial O principal aspecto a ser tratado é a remoção da água superficial, seja proveniente dos rejeitos, seja de precipitação de chuva. É necessário manter uma declividade mínima que permita um rápido escoamento da água pluvial. No caso das lamas muito diluídas, a superfície obtida é quase horizontal (da ordem Em Porto Trombetas o pré-adensamento permite aumentar o teor de sólidos de 12% até valores acima de 50%, Ávila e Soares (1995). Neste caso, o teor de sólidos máximo, a ser obtido no reservatório final após o bombeamento, é condicionado pela capacidade 182 deste bombeamento, que em Porto Trombetas fica limitado a 45%, Costa e Outros (1995). Para teores de sólidos em torno de 30%, a declividade da superfície é da ordem de 1:1.000 e com cerca de 40% de sólidos, a declividade cresce para 5:1.000. Com a superfície mais inclinada melhoram as condições de declividade superficial e mesmo que ocorram chuvas a água escoa sem ser absorvida pelos rejeitos. teor de sólidos, houve muita interferência de níveis d’água na superfície dos rejeitos, o que levou à programação de uma segunda área de teste especificamente para o tempo chuvoso, para desenvolvimento de técnicas de “dewatering”. Descreve-se a seguir os principais resultados da primeira área de teste. Bombeamento dos Rejeitos O lançamento foi feito em área previamente terraplenada, com a base do terreno preparada para receber os rejeitos sobre uma superfície de baixa declividade, para propiciar o fácil escoamento da água sobrenadante, sem entretanto deixar fluir a lama. Mesmo assim houve fluxo dos rejeitos, pelo fato de que a declividade adotada, de cerca de 2%, se mostrou excessiva. Desta forma, a superfície final dos rejeitos foi condicionada pelo enchimento das partes mais baixas, onde acumulam-se as maiores espessuras, resultando uma superfície quase horizontal, de drenagem mais difícil. Nestas condições, a secagem da lama quando exposta torna-se mais difícil. Foi feito o acompanhamento dos valores do teor de sólidos ao longo do tempo em treze pontos da área, obtendo-se portanto a evolução da secagem da lama com o tempo. Primeira Camada É claro que quanto maior o teor de sólidos, maior a declividade da superfície e melhor será a drenagem. O limite prático deste parâmetro é a bombeabilidade dos rejeitos. Acima de determinado valor de teor de sólidos, as bombas centrífugas já não conseguem bombear os rejeitos. Existem mecanismos de fluidificação que, através da agitação da lama, tornam possível o seu bombeamento com bombas centrífugas, mesmo com maiores teores de sólidos. As bombas de deslocamento positivo podem ser utilizadas para os rejeitos muito densos, porém, para bombear estes rejeitos estas bombas trabalham com altas pressões e menores vazões. O resultado será um maior número de bombas e uma linha de tubulação para pressões mais altas, isto é, maior investimento no sistema e maior custo de energia. Algumas plantas industriais têm utilizado o transporte, via caminhões ou mesmo correias transportadoras, de rejeitos de alto teor de sólidos obtidos através de bombas de vácuo. 3. AS EXPERIÊNCIAS TROMBETAS DE Análise dos Camada Resultados da Primeira No gráfico da figura 1 foram lançados os resultados das determinações do teor de sólidos em função do tempo. O gráfico foi preparado de modo a distinguir dois aspectos importantes, que condicionam o secamento: a presença do nível d’água à superfície da lama e a espessura de lama submetida ao lançamento. Desta forma, distingue-se três grupos de pontos: Figura 1a. - Pontos situados em área que permaneceu drenada e com pequenas espessuras expostas à secagem. Esta área representa a melhor condição de secagem, aqui denominada de condição 1. Figura 1b - Pontos situados em área que ao longo do tempo a drenagem permitiu melhor PORTO Duas áreas-piloto foram construídas em Porto Trombetas junto aos reservatórios de deposição de rejeitos. Na primeira área foram testadas três camadas que ficaram expostas a diferentes condições de pluviosidade. Basicamente estas três camadas permitiram concluir pela viabilidade do processo em tempo de estiagem. Para o período de chuvas, embora tenha havido considerável ganho do 183 condição de secagem de espessuras de valor intermediário, aqui denominada de condição 2. Figura 1c - Pontos situados em área que permaneceu submersa e com maiores espessuras expostas à secagem. Esta área representa a pior condição de secagem e será denominada de condição 3. condição 2, mostraram aumento do teor de sólidos para cerca de 45% em 10 dias, crescendo para cerca de 65% em 20 dias, 80% em 30 dias e aos 50 dias já atingiu a condição semelhante aos pontos de pequena espessura. - Deve ser pesquisado nas próximas camadas a condição de maiores espessuras, entre 40 centímetros e 1,00 metro, em condição acima do nível d’água, semelhantemente à condição 2, porém com espessuras maiores. - Os pontos situados abaixo do nível d’água e com maiores espessuras, condição 3, permanecem praticamente com o mesmo teor de sólidos até a determinação de 30 dias. Na determinação de 50 dias é possível observar pequena tendência ao aumento do teor de sólidos, o que pode ser atribuído a evaporação da água combinada com melhorias na drenagem. - Os resultados obtidos em todas as áreas permitem indicar a drenagem como o fator mais importante no resultado da observação de secamento. É necessário pesquisar formas de drenagem que permitam melhorar a retirada da água da lama. - As condições de drenagem da área de teste não foram muito favoráveis pela sua posição em cota mais baixa. Este fator representa uma boa condição de teste já que os resultados estavam sendo observados em condições piores que as do protótipo. - Duas outras camadas foram testadas nesta área, sendo que a mais bem documentada de ensaios foi a terceira camada. Esta camada também foi testada em condições de ocorrência de chuvas. Teor de Sólidos (%) 100 90 80 AMOSTRA RETIRADA ATÉ 10 cm DE PROFUNDIDADE 70 60 50 10 20 30 40 50 100 Teor de Sólidos (%) 90 80 70 60 AMOSTRA RETIRADA ENTRE 20 e 40cm DE PROFUNDIDADE 50 40 10 20 30 40 50 70 Teor de Sólidos (%) 60 50 40 30 20 AMOSTRA RETIRADA ACIMA DE 70 cm DE PROFUNDIDADE 10 10 20 30 40 50 Tempo (dias) Figura 1 – Primeira Camada A condição 3, provavelmente, representa melhor as condições de campo encontradas com maior frequência. Os resultados apresentados na figura 1 permitem concluir que: - Os pontos situados acima do nível d’água e com pequena espessura, condição 1, apresentam secamento apreciável já na primeira determinação que foi feita com 10 dias. - Considerando que a lama foi lançada com cerca de 30% de teor de sólidos, o valor determinado variando a 75% com médias de 70% em 10 dias, mostra uma resposta bastante rápida. - Após os 10 dias o teor de sólidos continuou aumentando atingindo cerca de 90% em 20 dias. - Os pontos situados acima do nível d’água, com espessuras de 20 a 40 centímetros, Terceira Camada O material foi lançado por bombeamento com um teor de sólidos em torno de 25%, até formar uma camada de espessura determinada. Ao longo do tempo foram colhidas amostras na área de teste em locais diferentes (pontos 1 a 14). Neste trabalho estão apresentados os resultados dos pontos 1, 1A, 7 e 11 (figuras 2 a 4). Esses pontos foram escolhidos por encontrarem-se em condições distintas, como segue: - Ponto 1 e 1A - Situam-se na área mais baixa, onde surgem as maiores espessuras de rejeito, 184 80 Teor de sólidos equivale à condição 3, descrita na primeira camada. - Ponto 7 - Representa a condição intermediária, condição 2. - Ponto 11 - Situa-se na área mais alta, logo mais favorável à secagem, representando a condição 1. 40 20 0 Precipitação (mm) 75 80 Teor de sólidos 60 60 40 20 0 20 40 60 80 100 40 60 80 100 50 25 0 20 0 Tempo ( dias ) 75 Precipitação (mm) 0 0 20 40 60 80 100 amostra na superfície 30cm de profundidade 50 60 cm de profundidade Figura 4 – Terceira Camada – Ponto 7 25 80 0 20 40 60 80 Teor de sólidos 0 100 Tempo ( dias ) amostra na superfície 20cm de profundidade 60 40 20 40 cm de profundidade 0 60 cm de profundidade 75 Precipitação (mm) Figura 2 – Terceira Camada – Ponto 1 Teor de sólidos 80 60 0 20 0 20 40 60 80 100 40 60 80 100 50 25 40 0 20 Tempo ( dias ) 0 amostra na superfície Precipitação (mm) 75 0 20 40 60 80 100 30cm de profundidade Figura 5 – Terceira Camada – Ponto 11 50 25 Análise dos Resultados da Terceira Camada 0 0 20 40 60 80 100 Tempo ( dias ) amostra na superfície 20cm de profundidade 40 cm de profundidade 60 cm de profundidade Figura 3 – Terceira Camada – Ponto 1A 185 A primeira amostragem (logo após o lançamento do rejeito) apresentou resultados duvidosos, já que o teor de sólidos ficou em torno de 20%. Confrontando-se com o teor inicial de lançamento deveria ser da ordem de 30%. Algumas hipóteses foram levantadas para esta discrepância: - Erro nas determinações de umidade. - Ocorrência de chuvas entre o término do lançamento e a primeira amostragem. - Segregação por sedimentação. - acumular maior tonelagem de rejeitos por umidade de volume; - simplifica a estrutura de contenção que não necessita ser uma barragem para recuperação de água; - permite rápida recuperação ambiental logo após o enchimento da área de deposição. - Erro nos ensaios de laboratório, no entanto, constatou-se que os resultados determinados em laboratório estavam corretos, sendo o teor inicial da ordem de 20 a 25%. Apesar destas dúvidas, foi possível observar uma correlação da variação de teor de sólidos com o gráfico de precipitação, chegando-se as seguintes conclusões: - No período de estiagem prevalecem as conclusões descritas para primeira camada, que relatam ganhos expressivos de teor de sólidos nas camadas expostas à secagem. - A ocorrência de chuvas influenciou apenas as medições das amostras superficiais. As amostras com profundidades maiores que 0,40m apresentam ganhos significativos de teor de sólidos mesmo no período chuvoso. - Nos pontos situados em cotas mais altas (pontos 7 e 11), portanto onde a drenagem é eficaz, ocorre um grande aumento do teor de sólidos mesmo no perído de chuva, atingindo valores entre 50 e 75%. 5. AGRADECIMENTOS: Agradecemos à MINERAÇÃO RIO DO NORTE a autorização para publicação dos dados contidos neste trabalho. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Ávila, J.P. e Soares, R. (1995). Simulação do Adensamento de Rejeitos Finos por Métodos Numéricos: Aplicação aos Rejeitos de Bauxita da Mineração Rio do Norte. III Simpósio sobre Barragens de Rejeitos e Disposição de Resíduos, Ouro Preto. Bromwell, L.G. (1984). Consolidation of Mining Wastes, Simposium on Sedimentation Models, ASCE, P. 275-295, São Francisco. Chandler, J. (1988). Solar Drying of Red Mud, 117th TMS Annual Meeting, Phoenix, Arizona. Costa, L.H. e Outros (1995). Deposição de Rejeitos em Porto Trombetas: Concepção Inicial e suas Modificações com os Resultados da Operação, III Simpósio sobre Barragens de Rejeitos e Disposição de Resíduos, Ouro Preto. Robinsk, E. I. (1975).Thickened Discharge - A New Approach to Tailings Disposal, Bulletin The Canadian Institute of Mining and Metallurgy. Robinsk, E. I. (1978). Tailings Disposal by The Thickened Discharge - Method for Improved Economy and Environmental Control, 2th International Tailings Symposium, v. 2, Denver. 4. CONCLUSÕES Em tempo seco o ganho de teor de sólidos é significativo em poucos dias, atingindo-se valores de mais de 70% de sólidos. Em tempo de chuvas o resultado é semelhante desde que haja boas condições de drenagem da superfície dos rejeitos. Este fato enfatiza a necessidade de teores de sólidos iniciais mais altos para obtenção de maior declividade da superfície. Deve-se investir em procedimentos de “dewatering” para manutenção e melhoria da drenagem. Em Porto Trombetas o sulcamento da superfície mostrou bons resultados. Deve ser mencionado que os benefícios deste método são evidentes pois permitem: 186