sun tzu geopolítico: geografia política em “a arte da guerra”

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Congresso de Inovação, Ciência e Tecnologia do IFSP - 2016
SUN TZU GEOPOLÍTICO: GEOGRAFIA POLÍTICA EM “A ARTE DA GUERRA”
SOUZA NETO, João Alves de1
1
Graduando em Licenciatura em Geografia, Bolsista PIBIFSP, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São
Paulo, Campus São Paulo, [email protected]
Área de conhecimento (Tabela CNPq): Geografia Política – 7.06.01.05-4
Apresentado no
7° Congresso de Iniciação Científica e Tecnológica do IFSP
29 de novembro a 02 de dezembro de 2016 - Matão-SP, Brasil
RESUMO: Este trabalho de pesquisa ainda em andamento tem por objetivo ratificar a hipótese
principal sobre a existência de um pensamento geográfico ainda não explorado no interior da obra A
Arte da Guerra de Sun Tzu. Algumas traduções da obra foram cotejadas para constituir a fonte do
projeto. Algumas definições de geografia e geografia política foram utilizadas para fazer frente aos
trechos cotejados do livro. Concluiu-se até o momento que o livro possui sim trechos que remetem a
um pensamento geográfico.
PALAVRAS-CHAVE: a arte da guerra de sun tzu, geografia política, geopolítica.
SUN TZU GEOPOLITICIAN: POLITICAL GEOGRAPHY IN “THE ART OF WAR”
ABSTRACT: This research still in progress aims to support the main hypothesis which states the
existance of a geographical thought still unexplored in the book Sun Tzu’s The Art of War. This
project has selected some translations of the book to have them as source material. Some definitions of
geography and political geography were employed to justify the excerpts chosen from the book. It has
been concluded, for the moment, that the book has excerpts concerning a geographical thought.
KEYWORDS: sun tzu’s the art of war; political geography; geopolitics.
INTRODUÇÃO
O presente resumo expandido visa descrever o estágio atual de pesquisa do projeto de iniciação
científica em desenvolvimento intitulado Sun Tzu Geopolítico: Geografia Política em “A Arte da
Guerra”, realizado a partir do Programa de Bolsas do Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia de São Paulo – Campus São Paulo, que é englobado por um projeto de trabalho de
conclusão de curso (monografia) sob mesmo título, que será publicado e defendido publicamente no
final deste ano. O trabalho tem por objetivo embasar a hipótese principal sobre a existência de um
pensamento geográfico ainda não explorado no interior da obra A Arte da Guerra de Sun Tzu.
A pesquisa se justifica pois nada foi pesquisado sobre o tema dentro desse recorte específico. O
trabalho de KAROL (2013) faz um levantamento dos trabalhos sobre o tema da Geografia PolíticaGeopolítica entre os anos de 1982 à 2012, continuando, de certa forma, o trabalho de levantamento de
MIYAMOTO (1981) sobre a produção entre os anos de 1930 e 1980. Em ambos os casos nenhuma
das produções levantadas tratou sobre A Arte da Guerra de Sun Tzu. CORREIA (2013), por outro
lado, se propõe a fazer um estudo sobre o aspecto geopolítico da obra, mas não o realiza naquela
publicação. Um autor que chegou próximo do proposto por este projeto foi RIBEIRO (2010, pp. 51-
57; 2015, pp. 33-39), porém seu trabalho não se dedica a explorar e trabalhar A Arte da Guerra de Sun
Tzu dentro do recorte proposto.
Uma observação pertinente: cada tradução propõe traduzir Sūnzǐ bīngfǎ 孙子兵法 (seu título
original em chinês) de um jeito diferente. Para evitar confusões sobre a relação entre o original e suas
diversas traduções optou-se por usar o termo “A Arte da Guerra de Sun Tzu” para as traduções chinêsportuguês e “Sun Tzu’s The Art of War” para as traduções chinês-inglês. Para uso geral, independente
do idioma para o qual a obra fora traduzida, a mesma será referenciada como “A Arte da Guerra de
Sun Tzu”. Além disso, preferiu-se utilizar o termo Sun Tzu ao invés da transliteração oficial do
mandarim (o sistema hanyü pinyin) que seria Sunzi (ou Sūnzǐ, com a notação dos tons de cada sílaba)
para facilitar a rápida identificação do autor da obra.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho sobre a fonte se deu na tradução de WING (2011), escolhida como principal, e levou
em consideração a seguinte metodologia.
Traduções de A Arte da Guerra de Sun Tzu
Durante o início da investigação sobre a obra, fora percebida a necessidade de se adotar uma
tradução diretamente do chinês, para se ter maior fidgnidade na relação original-tradução. Com isso
vieram-se as dúvidas acerca dos trechos que poderiam apresentar certa ambiguidade, ainda mais por se
tratar de texto em um idioma com poucas obras traduzidas diretamente dele para o português.
SUN (2006) efetuou a primeira tradução chinês-português publicada da obra, trazendo um
trabalho de investigação sobre seu contexto de criação e histórico de tradução, além de glossário e a
presença do texto original em chinês moderno após o texto da tradução. O autor traduz o título da obra
como “Método Militar de Sunzi” (p. 7).
WING (2011) foi de fato o primeiro a traduzir a obra do chinês para o português. Em uma tese
de doutorado em História Oriental defendida na USP em 1975, ele trouxe todo o contexto histórico e
discussão minuciosa sobre a obra acompanhado da tradução da mesma. O título de capa do seu
trabalho é “Da Arte da Guerra de Sun Zi”, porém ele indica que se traduzisse de forma mais direta, o
faria por “A Maneira Militar de Sun Zi” (p. 19). Esta será a fonte principal do projeto no tocante a
tradução, seguida de SUN (2006) e SAWYER (2003), em casos de ambiguidade na tradução.
SAWYER (2003) faz um levantamento bibliográfico muito maior que os dois autores
anteriores, possibilitado por sua carreira na tradução de obras chinesas e trabalhos sobre a questão da
estratégia na China. Seu trabalho de tradução traz mais discussões mas não o suficiente para descartar
a importância das traduções chinês-português citadas anteriormente. Ele traduz o título da obra, a
título de mais um exemplo, como “Sunzi’s Military Strategy” (Estratégia Militar de Sunzi, em uma
tradução livre) (p. 79).
Embasamento Geográfico-Político
No âmbito da Geografia Política e da Geopolítica serão utilizadas obras que embasem a busca
pelo pensamento geográfico-político no interior da obra A Arte da Guerra de Sun Tzu.
A Geografia se define como uma disciplina científica institucionalizada tardiamente no século
XIX na sociedade ocidental, segundo sua acepção restrita. Esta disciplina visa estudar o espaço a partir
do referencial teórico próprio da sociedade ocidental. Porém, a consciência sobre o espaço é um dado
de qualquer sociedade, pois cada uma necessita construir sua relação com o meio. Daí que a definição
de Geografia pode ser expandida para além da acepção restrita. Nesse sentido, a consciência sobre o
espaço se torna Pensamento Geográfico (em sentido amplo), este sendo o conjunto de discursos sobre
o meio ou espaço para uma sociedade, cultural e historicamente determinada, e abarcaria diversas
manifestações culturais, não trafegando necessariamente pelo rótulo de Geografia (rótulo existente
desde a Grécia Antiga). A partir daí, o Pensamento Geográfico se torna a categoria de análise
fundamental para o presente trabalho (MORAES, 2005).
COSTA (2013) trás, na sua discussão sobre Geografia Política e Geopolítica, a ideia de que o
espaço (geográfico), na sua relação com o poder, pode ser apropriado (portanto, valorizado,
projetado), ou dominado (ou seja, ocupado concretamente), conforme ele discute na introdução da sua
obra. As passagens de A Arte da Guerra de Sun Tzu que tratarem de valorização ou de dominação do
espaço passarão a ter maior relevância para o presente trabalho.
Classificação Geral dos Trechos
Para o trabalho serão aproveitados os capítulos que trazem maior quantidade de passagens sobre
geografia em seu conteúdo. São eles: Capítulo IX – Da Movimentação; Capítulo X – Da Topografia; e
Capítulo XI – Das Nove Situações. Outros capítulos possuem geografia, mas os escolhidos são os
mais ricos em passagens.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Trechos Selecionados
Os trechos mais marcantes (selecionados até o momento) para ratificar a hipótese de existência
de Geografia na obra A Arte da Guerra de Sun Tzu são elencados.
Trechos do Capítulo IX – Da Movimentação
Sun Tzu (apud WING, 2010) começa por descrever a guerra nas montanhas: “Esta é a base da
guerra nas montanhas. Em geral, a movimentação da tropa e a observação do adversário devem seguir
as seguintes regras, ao transpor a montanha, deve-se seguir rapidamente à margem do vale. Acampa-se
em lugar alto e em direção ao sol. Não se ataca o inimigo que está na montanha.” E aqui vemos o
autor valorizar o posicionamento das tropas em relação à proximidade dos rios (talvez pela China
antiga ser uma sociedade hidráulica, ou por serem regiões mais planas, que facilitam a manobra das
tropas), e também podemos perceber que constitui vantagem estar em posição elevada em relação ao
adversário (pelo fato da técnica bélica à sua época ainda não possibilitar superar eficazmente as
diferenças de altitude durante as batalhas) e em direção ao Sol, provavelmente devido a questão da
habitação ou de projeção da luz solar, influenciando a visão.
Após relatar os problemas de se guerrear próximo à corpos d’água na guerra aquática, segue
descrevendo a guerra nos pântanos: “Em zona pantanosa, não se deter muito, mas ultrapassá-la o mais
rápido possível. Se for forçado a enfrentar o inimigo nesse lugar, deve-se ficar próximo às várzeas e de
costas para as florestas.” Estar com as tropas em posição que restringe a liberdade de movimentação
não constitui uma vantagem, por isso lugares montanhosos, aquáticos (aqui a referência é o transporte
primariamente terrestre) ou pantanosos devem ser evitados. Assim, a posição mais vantajosa é aquela
que o seu adversário está com a restrição de movimento.
Trechos do Capítulo X – Da Topografia
O capítulo se inicia com Sun Tzu (apud WING, 2010) escrevendo: “As classificações de
topografia são: acessível, emaranhada, pendente, passagem estreita, em precipício e posição de longa
distância do adversário.” Essas são as seis topografias (também traduzidas por terrenos) que serão
encontradas no decorrer do deslocamento das tropas.
O primeiro terreno é descrito: “Terreno acessível significa local para se atravessar por ambos os
lados”, ou seja, não é local que limite a movimentação indo ou voltando, como poderia ser o caso de
um pântano ou um rio. Por isso, “A esse respeito, antes que o adversário tome o local
convenientemente, deve-se ocupar uma posição elevada, iluminada pelo sol, e guardar,
cuidadosamente, a linha de passagem de suprimentos, a fim de se ter primazia sobre o inimigo.” A
primeira topografia privilegia a circulação, então deve ser perseguida e ocupada (primeiro).
Trechos do Capítulo XI – Das Nove Situações
Sun Tzu (apud WING, 2010) diz: “Na arte da guerra, os campos são classificados em nove
tipos: disperso, fácil, disputável, cruzado, de passagem, profundo, difícil, cercado e mortal”
Sobre o campo disperso, ele escreve: “Campo disperso significa que, quando um príncipe
combate na sua terra, os soldados facilmente fogem para as suas casas.” Aqui é descrito uma situação
de combate na qual o local do combate é ao mesmo tempo local de habitação dos combatentes (estes,
tropas do próprio príncipe), isto é, a tropa possui grande valor afetivo pelo local da contenda, não
estando disposta totalmente para enfrentar o adversário.
O campo de passagem possui paralelo notável: “Campo de passagem significa o ponto de
fronteira de três ou mais Estados. Aquele que o ocupa, aproveita para dominar os Estados vizinhos”.
Aqui temos o que seria o Heartland proposto por Mackinder (2011). Esse campo seria um ponto
estratégico para a mobilização das tropas em diversas direções desejáveis, enquanto seus adversários
não teriam tão alto nível de comunicação (ou circulação).
CONCLUSÕES
Pode-se observar que até o momento foi possível encontrar trechos que remetem à geografia no
livro A Arte da Guerra de Sun Tzu. Resta agora cotejar com as outras traduções os trechos mais
ambíguos, para desfazer possíveis dúvidas em relação ao seu sentido. Fundamentar melhor a base
teórica de Geografia Política e Geopolítica, dentro do âmbito da disciplina Geografia, e de História e
Geografia da China de Sun Tzu, além dos estudos Sinológicos que ajudará na melhor interpretação das
passagens cotejadas.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de São Paulo pela Bolsa
PIBIFSP de Iniciação Científica;
Agradeço à minha Família, por todo suporte;
Agradeço ao meu orientador Carlos Francisco Gerencsez Geraldino por acreditar no projeto.
REFERÊNCIAS
COSTA, W. M. Geografia Política e Geopolítica: discursos sobre o território e o poder.
São Paulo: EDUSP, 2013.
KAROL, E. Geografia Política e Geopolítica produzida por geógrafos no Brasil (1982–2012).
In: Congresso Brasileiro de Geógrafos, VII, 2014, Vitória. Anais. Vitória: Associação dos Geógrafos
Brasileiros. 2014.
MACKINDER, H. J. O pivô geográfico da história. GEOUSP: Espaço e Tempo (Online),
São Paulo, n. 29, p. 88-100, dec. 2011.
MARTINS, E. R. GEOGRAFIA E ONTOLOGIA: O FUNDAMENTO GEOGRÁFICO DO
SER. GEOUSP: Espaço e Tempo (Online), São Paulo, n. 21, p. 33-51, ago. 2007.
MIYAMOTO, S. Os estudos geopolíticos no Brasil: uma contribuição para sua avaliação.
Perspectivas, São Paulo, n. 4, p.75-92, 1981.
MORAES, A. C. R. Ideologias Geográficas: Espaço, Cultura e Política no Brasil. 5. ed. São
Paulo: Annablume, 2005.
RIBEIRO, F. G. D. B. A geografia militar no Brasil: a questão da defesa nacional. 2015.
275 f. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, São Paulo 2015.
RIBEIRO, F. G. D. B. A Nova Geografia Militar: Logística, Estratégia e Inteligência.
2010. 118 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, São Paulo 2010.
SAWYER, R. Sun Tzu’s The Art of War. New York: Basic Books, 2003.
SUN, A. A Arte da Guerra de Sun Tzu. São Paulo: Conrad, 2006.
WING, Y. K. A Arte da Guerra de Sun Tzu. Rio de Janeiro: Mauad X, 2011.
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