PRODUTIVIDADE DO FEIJOEIRO COMUM EM FUNÇÃO DA SATURAÇÃO POR BASES DO SOLO E DA GESSAGEM Zélio de Lima Vieira 1; Valter de Oliveira Neves Júnior 1; Rodolfo Araújo Marques 1; Rafael Benetti1; Adilson Pelá 2 1 Acadêmico PVIC/UEG do Curso de Agronomia, UnU Ipameri - UEG. 2 Orientador, docente do Curso de Agronomia, UnU Ipameri – UEG. RESUMO O experimento teve como objetivo avaliar a interação da gessagem e da saturação por bases do solo, para o cultivo do feijoeiro na condição de cerrado. O experimento foi instalado na Universidade Estadual de Goiás - UnU Ipameri. Utilizou-se o Delineamento Inteiramente Casualisado, arranjado em esquema fatorial 5x2 e três repetições; cinco níveis de saturação de bases (15%, 30%, 45%, 60% e 75 %) e dois de gessagem (0 ou 1350 kg ha-1 de gesso), de acordo com os resultados das análises química e física do solo. O calcário e o gesso foram distribuídos e incorporados ao solo 30 dias antes da semeadura. A adubação de semeadura foi de 420 kg ha-1 da fórmula NPK 5-25-15. Aplicou-se 400 kg ha-1 de Uréia parcelada em cobertura, aos 20 e 40 dias após emergência. Aos 92 dias após o plantio realizou-se a colheita e as produtividades foram corrigidas para teor de água de 13%. Os dados foram submetidos à análise de variância e à análise de regressão, a 5% de probabilidade. Verificou-se interação significativa entre a calagem e a gessagem. A máxima produtividade da cultura, quando da adição de gesso, ocorreu a 57,58 % de saturação por bases, com 1311 kg ha -1 de grãos. Sem aplicação de gesso, a máxima produtividade foi estimada para valores de 73,7 % de saturação por bases, com 1043 kg ha-1 de grãos. Concluiu-se que a gessagem, além de proporcionar aumentos de produtividade da cultura do feijoeiro, também pode proporcionar produtividades em menores valores de saturação por bases. Palavras-chave: Sulfato de cálcio; acidez do solo; Phaseolus vulgaris. Introdução O feijão (Phaseolus vulgaris L.) é um dos mais importantes constituintes da dieta do brasileiro, por ser reconhecidamente uma excelente fonte protéica, além de possuir bom conteúdo de carboidratos e de ser rico em ferro (Vieira et al. 2006). 1 A Cultura do feijoeiro é exigente em nutrientes e extremamente sensível a quaisquer condições de estresse (Ramalho et al. 1993). A toxidez de Al, comum nos solos de cerrado, é controlada pela calagem (Malavolta, 1985). Além do controle do Al tóxico a calagem aumenta a disponibilidade de fósforo, favorece a mineralização da matéria orgânica e tem efeito positivo na fixação simbiótica do nitrogênio, além de aumentar a disponibilidade do molibdênio, bem como melhorar as propriedades físicas do solo que são favorecidas pela adição dos cátions floculantes aos colóides do solo, Ca e Mg (Cfsemg, 1999). Os solos sob Cerrado normalmente apresentam problemas de acidez subsuperficial, e a incorporação profunda de calcário para controlar essas condições nem sempre é viável nas áreas de cultivo. Assim, camadas mais profundas do solo, abaixo de 40 cm, podem continuar com excesso de alumínio tóxico, associado ou não à deficiência de cálcio, mesmo que se tenha efetuado calagem considerada adequada. Conseqüentemente, as raízes da maioria das espécies cultivadas desenvolver-se-ão apenas na camada superficial. Esse problema, aliado à baixa capacidade de retenção de água desses solos, pode causar diminuição na produção das plantas, principalmente nas regiões onde é mais freqüente a ocorrência de veranicos (Sousa & Lobato, 2004). O gesso agrícola tem despertado interesse por possibilitar o fornecimento de Ca e a redução da saturação de alumínio em camadas subsuperficiais do solo, sem que ocorram alterações significativas no valor de pH (Raij, 1988). Assim, o objetivo do experimento foi avaliar a interação da gessagem e da saturação por bases do solo, para o cultivo do feijoeiro na condição de cerrado. Material e Métodos O experimento foi instalado na área experimental pertencente à Universidade Estadual de Goiás – UEG, Unidade Universitária de Ipameri, situada às margens da rodovia GO 330 km 241, diretamente no campo, na safra de verão de 2008/2009 (outubro a fevereiro). O clima da região é Aw, segundo a classificação de Köppen, ou seja, clima quente e úmido (A) e chuvas de verão(w). Utilizou-se o Delineamento Inteiramente Casualisado, em esquema fatorial 5x2, com três repetições; cinco níveis de saturação de bases (15%, 30%, 45%, 60% e 75 %) e dois de gessagem (com ou sem aplicação de gesso agrícola), utilizando a cultivar Pérola. Os tratamentos foram aplicados em parcelas de 4m2, e as avaliações foram realizadas na área útil dessas, constituídas pelas duas linhas centrais, eliminando-se 0,5m em cada extremidade, 2 totalizando 1m2. Foram coletadas amostras de solo (Latossolo Vermelho-Amarelo) e enviadas ao laboratório para realização da análise química e física (Tabela 1). As amostras foram coletadas no centro da área do experimento na camada superficial e subsuperficial do solo (0– 20 e 20-40 cm). Tabela 1. Características químicas e físicas do solo antes da instalação do experimento – UEG, Ipameri, Estado de Goiás, 2009. Amostra 0-20 20-40 cmolc/dm3 (mE/100 ml) Ca+Mg Ca Mg Al 0,5 0,3 CTC 0-20 20-40 4,57 3,47 0,3 0,2 Sat. Bases (%) 14,66 10,66 0-20 MG. 1 G. 2 0,2 0,1 Sat. Al (%) 57,69 68,38 Areia (%) M. 6 H+Al K K 0,9 0,8 Ca/Mg 3,9 3,1 Ca/K 0,16 0,07 Mg/K 1,50 2,00 1,88 2,86 1,25 1,43 63,0 29,0 Ca /CTC (%) 6,56 5,76 Silte (%) F. 30 MF. 17 TOT. 57 16 mg/dm3 (ppm) P (Mel.) P (Resina) 2,4 1,5 Mg K /CTC (%) /CTC (%) 4,38 3,50 2,88 2,02 Argila (%) Floculação (%) Tot. Água 27 3 91 S 3,5 H+Al /CTC (%) 85,34 89,34 Classe de textura mdarg. Com base nos resultados da análise química e física do solo, determinou-se as doses de calcário e gesso necessárias. A dose de gesso correspondeu a 1350 kg ha-1, baseado no teor de argila x 50, de acordo com critérios de Sousa & Lobato (2004), segundo os quais se a saturação por alumínio for maior que 20% ou o teor de cálcio for menor que 0,5 cmolc/dm3, há grande probabilidade de resposta ao gesso. As doses de calcário foram respectivamente: 0 kg ha-1 (saturação 15%); 790 kg ha-1 (30%); 1575 kg ha-1 (saturação 45%); 2672 kg ha-1 (saturação de 60%) e 3150 kg ha-1 (saturação de 75%). O calcário dolomítico com 87% PRNT e o gesso foram distribuídos e incorporados ao solo, de forma manual com auxílio de ferramentas, com 30 dias de antecedência à semeadura. A semeadura foi realizada dia 19/11/2008, com espaçamento de 0,5 x 0,08 m. A adubação de semeadura foi baseada em Vieira et al. (2006), e consistiu na aplicação de 420 kg ha-1 da fórmula NPK 5-25-15. A adubação de cobertura foi parcelada, aos 20 e 40 dias após a emergência, aplicando-se 200 kg ha-1 de Uréia em cada aplicação. Aos 15 e 40 dias após a semeadura realizou-se capinas no experimento como forma de controle de plantas daninhas. A colheita foi realizada aos 92 dias após o plantio, coletando-se as vagens das plantas da área útil da parcela e debulhando-as manualmente. Após a pesagem dos grãos no laboratório da Universidade Estadual de Goiás - Unidade Universitária de 3 Ipameri, parte destes foram levados à estufa a 70 ºC para obtenção da massa seca e teor de água das amostras, a partir do qual estas tiveram suas massas corrigida para um teor de água de 13%. Os dados foram submetidos à análise de variância e à análise de regressão, a 5% de probabilidade. Resultados e Discussão Verificou-se interação significativa entre a calagem e a gessagem, a 5% de probabilidade. Houve resposta quadrática da produtividade em relação às saturações por bases utilizadas nos dois tratamentos. A máxima produtividade da cultura, quando da adição de gesso, ocorreu a 57,58 % de saturação por bases, com 1311 kg ha-1 de grãos. Produtividade (Kg ha -1) a) 1600 1200 800 y = -0,1431x 2 + 16,481x + 836,73 R2 = 0,5235* 400 0 15 30 45 60 75 Saturação por base (%) Gesso Figura 1. Resposta de produtividade do feijoeiro comum com interação do calcário com gesso agrícola em diferentes níveis de saturação por bases. A Figura 2 mostra que, quando da não adição do gesso agrícola ao solo, a resposta a produtividade foi bem inferior. Sem aplicação de gesso, a máxima produtividade foi estimada para valores de 73,7 % de saturação por bases, com 1043 kg ha -1 de grãos. Isso provavelmente ocorreu pelas condições de solo, principalmente em subsuperfície, ou seja, baixos teores de Ca e alta saturação por alumínio, onde normalmente o calcário não atinge. O enxofre também pode ter contribuído com estes resultados. Segundo estudos de Sousa & Lobato (2004) o gesso agrícola como melhorador do ambiente radicular em profundidade, tem sido eficiente para a maioria das culturas anuais, destacando respostas das culturas de milho, trigo e soja. Pavan (1983) corroborando com esta afirmação apresentou dados de crescimento radicular de cafeeiro em solo, equilibrado com soluções de CaCl2 0,01mol/L e 4 CaSO4. 0,01 mol/L. Os dados mostram que o sulfato de cálcio promoveu a redução do alumínio livre em solução e o maior desenvolvimento de raízes. Produtividade (Kg ha -1) b) 1600 1200 800 400 y = -0,1481x 2 + 21,855x + 237,13 R2 = 0,5858* 0 15 30 45 60 75 Saturação por base (%) Sem Gesso Figura 2. Resposta de produtividade do feijoeiro comum sem interação do calcário com gesso agrícola em diferentes níveis de saturação por bases. Conclusão Pelos dados obtidos concluiu-se que a gessagem, além de proporcionar aumentos de produtividade da cultura do feijoeiro, também pode proporcionar produtividades em menores valores de saturação por bases. Referências Bibliográficas COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DO ESTADO DE MINAS GERAIS CFSEMG. Recomendações para uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais; 5ª Aproximação. Viçosa, 1999. MALAVOLTA, E. Manual de calagem e adubação das principais culturas. São Paulo: Ceres, 1987. 496 p. PAVAN, M. A. Aplicação de alguns conceitos básicos da química na disponibilidade dos íons Al3+ para as plantas. Palestra apresentada no Curso de Pós-graduação em Solos e Nutrição de Plantas, disciplina de Solos Tropicais. ESALQ. 1983, 34 p. 5 RAIJ, B. Gesso Agrícola na melhoria do ambiente radicular no subsolo. São Paulo: Associação Nacional para Difusão de Adubos, 1988. 88 p. RAMALHO, M.A.P.; ABREU, A. de F.B.; SANTOS, J.B.dos. Desempenho de famílias precoces de feijoeiro em diferentes locais e épocas de plantio. Revista Ceres, Viçosa, v.40, n.229, p.272-280, maio/jun.1993. SOUSA, D.M.G. de; LOBATO, E. Cerrado: correção do solo e adubação. 2. ed. –Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2004. p.89 – 95. VIEIRA, C.; JÚNIOR, P.J.; BORÉM, A. Feijão. 2. ed. Atual. - Viçosa : Ed. UFV, 2006, p. 6