CAPÍTULO 4. VENTOS Define Pressão Atmosférica e os instrumentos que a avaliam. Explica as cartas de pressão à superfície e em altitude e evidencia a sua importância. Define as Leis que governam o movimento do fluido ar atmosférico. Define a equação do movimento em coordenadas esféricas. Faz uma análise de escala do movimento. Define Vento Geostrófico, Vento de Gradiente, Nº de Rossby. Explica a Aproximação hidrostática e a equação da continuidade, bem como a sua importância ÍNDICE 4.1 4.1.1. 4.1.2. 4.2. 4.2.1 4.2.2 4.2.3 4.2.4 4.2.5 4.3. 4.4. 4.5. 4.6. 4.7. 4.8. 4.9. Introdução Pressão atmosférica Dinâmica da atmosfera Leis fundamentais da dinâmica da atmosfera Leis de newton do movimento Força gradiente de pressão Força de atrito Força gravitacional Força de coriolis Equação da dinâmica da atmosfera em coordenadas esféricas Análise de escala do movimento Aproximação geostrófica Esquema de prognóstico: n.º de Rossby Vento de gradiente Aproximação hidrostática Equação da continuidade (conservação da massa) 48 48 49 49 49 49 50 50 50 52 52 53 53 54 54 54 Física Química Atmosfera e Hidrologia 4.1 INTRODUÇÃO 4.1.1.PRESSÃO ATMOSFÉRICA Pressão atmosférica: peso da coluna de ar acima de um determinado nível. Pressão atmosférica diminui com a altitude. Pressão, densidade e temperatura P = RT , com R = 287 J/kg.K Modelo de atmosfera assume que a densidade é constante da superfície até ao topo da coluna: as moléculas distribuem-se uniformemente. largura da coluna é constante ao longo de toda a coluna Cap 4 – Ventos na alta atmosfera e pelo vapor de água na baixa atmosfera. O aquecimento e arrefecimento do ar variação densidade conhecidas por marés térmicas (atmosféricas): pequenas variações de pressão na superfície da Terra. Barómetros Barómetro de mercúrio: barómetro de Torricelli Barómetro aneróide Altímetro: barómetro que converte pressão em altitude Barógrafo Considere 1bar 100.000 N 1kg.m.s 2 1kg 1m 2 1m 2 1m.s 2 Patm = 1013.25 mb 1kPa=10 mb 1hPa=1 mb 1bar=1000 mb Fig 4.1 Modelo de atmosfera com introdução e extracção de ar na coluna A introdução de ar na coluna aumenta densidade e aumenta pressão, enquanto que a extracção de ar na coluna diminui densidade e diminui a pressão Aquecendo ou arrefecendo uma coluna de ar originamse variações horizontais de pressão que conduzem ao movimento do ar. > massa de ar > pressão < massa de ar < pressão Nos Trópicos a pressão aumenta e diminui 2 vezes por dia. A maior variação de pressão (2.5 mb) ocorre perto do Equador. Fig 4.3. Exemplos de Barómetros Correcção de altitude: nível de referência: nível médio do mar P 10 mb z 100 m (próximo da superfície: 6.5ºC/1000m) Isóbaras: linhas de igual pressão. Carta de pressão constante carta isobárica Carta de altura constante Fig 4.2. Ciclo diurno da pressão nas latitudes médias e trópicos. Esta variação diurna (diária) da pressão deve-se primeiramente à absorção de energia solar pelo ozono Fig 4.4. Correcção de altitude. 4º Ano Eng. Ambiente 48 Física Química Atmosfera e Hidrologia Cap 4 – Ventos 4.1.2. DINÂMICA da ATMOSFERA Meteorologia dinâmica: estudo dos movimentos da atmosfera associados ao tempo e ao clima Atmosfera: meio fluido continuo Volume elementar: pto neste continuum, muito pequeno quando comparado com o volume da atmosfera, mas que contem um grande nº de moléculas: partícula de ar. Fig 4.5. Cartas isobáricas 4.2. LEIS FUNDAMENTAIS da DINÂMICA da ATMOSFERA Assume-se a pressão atmosférica à superfície da Terra é constante e nº de moléculas também é constante. O ar frio é, mais denso, logo a coluna de ar é menor e o ar quente menos denso ocupa uma coluna maior As leis fundamentais da Física são a lei da conservação da massa, a do momento e daenergia. Ar é frio sup. isobárica + baixa Ar é quente sup. isobárica + alta Natureza das forças que influenciam os movimentos da atmosfera: Forças de Superfície: força do gradiente de pressão, força de atrito Forças Mássicas: gravidade (força gravitacional) 4.2.1 LEIS DE NEWTON do MOVIMENTO Fig 4.6. Coluna de ar frio e quente. Ar frio altura < e pressão < Ar quente altura > e pressão > Isóbaras e curvas de nível diminuem de Sul para Norte (H. N.) Cristas (quentes – H) e Vales (frios – L) 1ª Lei: Lei da inércia 2ª Lei: F = m.a 3ª Lei: Lei da acção-reacção A 2ª lei de Newton diz que a aceleração de um objecto medida relativamente a um ref. de inércia (fixo no espaço: ref. das estrelas fixas) é igual à soma de todas as forças que actuam nesse objecto. Em Meteorologia tem-se Força do gradiente de pressão Força gravitacional Força de atrito Força de Coriolis 4.2.2 FORÇA GRADIENTE DE PRESSÃO Fig 4.7. Cartas isobáricas e elevação acima do nível médio do mar A Força Gradiente de Pressão actua perpendicularmente às isóbaras das altas para as baixas pressões. As cartas de superfície e em altitude constituem uma ferramenta valiosa para: Prever o tempo Movimento dos sistemas de tempo (prever o comportamento das superfícies isobáricas Aviação Fig 4.8. Força Gradiente de Pressão 4º Ano Eng. Ambiente 49 Física Química Atmosfera e Hidrologia Cap 4 – Ventos É a única força que dirige os movimentos horizontais. Esta força não depende da velocidade do vento, apesar de originar os ventos horizontais, além de acelerar, desacelerar ou mudar a direcção do vento. As outras forças desaparecem quando a velocidade do vento tende para zero, mas podem mudar a direcção e velocidade do vento. Estabilidade estática neutra turbulência gerada pela velocidade de corte T CD .M com CD 2 103 (sup . lisas); 2 102 (sup . rugosas) Instabilidade Estática T bD .B com bD 1.83 103 4.2.4 FORÇA GRAVITACIONAL: Fig 4.9. Representação Gradiente de Pressão esquemática da Força As equações segundo x, y e z da força gradiente de pressão por unidade de massa vêm F 1 p p p 1 i j k p m x y z Fx 1 p m x Fy 1 p m y 4.2.3 FORÇA de ATRITO Só se verifica na camada limite e verifica-se junto ao solo. Aumenta com a velocidade do vento, tem a direcção oposta à direcção do vento e retarda a velocidade do vento. As equações segundo x e y da força de atrito por unidade de massa vêm Fax U T m zi Fay m T V zi zi altura da ABL velocidade de transporte turbulenta A equação da força gravitacional por unidade de massa, vem Fg GM 3T r g * ( gravidade) m r Assim, a equação de Newton (por unidade de massa) escreve-se: 1 V p T g * aabs zi e aabs arel 2 vR R Substituindo, vem 1 p T V * g arel 2 vR R zi e 1 V * arel p T g 2 vR R zi 4º Ano Eng. Ambiente Nestas condições, a equação do movimento vem dv 1 V * p T g 2 v dt zi 4.2.5 FORÇA de CORIOLIS Descreve a força aparente devida ao movimento de rotação da Terra. É perpendicular à direcção do vento, para a direita no H.N. e para a esquerda no H.S. Não há força de Coriolis quando não há vento. Pode apenas mudar a direcção do vento O parâmetro de Coriolis vem: f c 2sen 2= 1.458x10-4 s-1 e é a latitude. Fig 4.9. Influência da Força de Atrito no perfil do vento e na Estabilidade da Atmosfera. com Este parâmetro é constante para qualquer lugar fixo e nas latitude médias é da ordem de fc=1x10-4 s-1 . 50 Física Química Atmosfera e Hidrologia Cap 4 – Ventos No H.N. a força de Coriolis é dada por: Fcx f c .V m Fc y f c .U m A força de Coriolis pode ser interpretada como a diferença entre a força centrifuga e a força gravitacional, em que a FCN com a velocidade do objecto ou se o raio de curvatura . Fig 4.12. Representação esquemática das forças aplicada a um objecto em repouso Objecto com movimento de Oeste para Este Fig 4.10. Representação esquemática da Força de Coriolis. Como a Terra é um meio deformável, a força centrifuga devido ao movimento de rotação da Terra e a força gravitacional, dão à Terra a forma de um elipsóide e não uma esfera. O vector soma de FG e FCN constitui a gravidade efectiva que actua perpendicularmente à superfície e define a direcção descendente. Define-se H e V como componentes horizontais e verticais das forças. Como FCN é sempre paralela ao equador FCNH FCNsen() Objecto com velocidade relativa à sup da Terra, M e Terra em rotação movimento total do objecto é mais rápido do que antes > FCN > FCNH com FGH igual não há balanço a diferença entre as duas forças cria um força para a direita de M: Força de Coriolis, FCF Similarmente, se o movimento for para Oeste <velocidade tangencial cria um força para a direita de M. Fig 4.13. Igual à fig 4.12 mas para um objecto com movimento para E.(e) e para W (f). Fig 4.11. Decomposição da Força Gravitacional e da Força de Coriolis, segundo os eixos definidos pela normal à superfície da Terra. Objecto em Repouso A Terra roda no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, quando vista do P.N. Durante um intervalo de tempo t, um meridiano (linha de longitude) roda um ângulo t ( 360º/24h; velocidade angular da Terra). Supondo um objecto em repouso sobre um meridiano. Durante o mesmo intervalo de tempo, move-se com velocidade Mtan= R. Como este movimento segue uma linha de latitude o objecto em repouso “move-se” em trono do eixo da Terra cria FCN, em que FCNH balança FGH criando, no objecto, uma força aparente igual a zero. 4º Ano Eng. Ambiente Objecto com movimento de Sul para Norte Objecto com velocidade M relativa à superfície da Terra, combinado com o movimento de rotação da Terra movimento total do objecto com < raio de curvatura (R ), em relação ao centro de rotação (X), que não é o P.N. > FCNH. Conceptualmente pode decompor-se FCNH, nas componentes N-S, ns, e E-W, ew. FCNH-ns balança FGH (não mudou) mas a componente FCNH-ew causa um movimento para a direita do movimento relativo M FCNH-ew =FCF Fig 4.14. Igual à fig 4.12 mas para um objecto com movimento para Norte 51 Física Química Atmosfera e Hidrologia Similarmente, um movimento para Sul >R FCF para a direita Cap 4 – Ventos du uvtg uw 1 p 2vsen 2w cos Fax dt a a x (i) (ii) dv u 2tg uw 1 p 2usen Fay dt a a y (j) (jj) Fig 4.15. Desvio originada por um objecto em rotação. dw u 2 v 2 1 p g 2u cos Faz dt a z (k) (kk) Estas equações representam respectivamente as componentes leste, norte e vertical das equações do movimento Os termos (i), (ii), (j), (jj), (k) e (kk) são os termos de curvatura e aparecem devido à curvatura da Terra. Como estes termos são não lineares, são difíceis de “trabalhar”, sendo negligenciáveis nas latitudes médias. Fig 4.16. Desvio originada pela rotação da Terra (Força de Coriolis) na rota dos aviões de longo curso. 4.4. ANÁLISE de ESCALA do MOVIMENTO Uma análise da escala das equações do movimento tem a vantagem de determinar se alguns termos nas equações são desprezáveis para certos movimentos meteorológicos. A eliminação de certos termos numa análise de escala tem a vantagem de simplificar as equações e a eliminação de termos pequenos em alguns casos também tem a vantagem de eliminar ou filtrar algum tipo de movimento que não interessa. Fig 4.17. Variação da Força de Coriolis com a latitude. 4.3. EQUAÇÃO da DINÂMICA da ATMOSFERA em COORDENADAS ESFÈRICAS Em Meteorologia, tem-se i WE j S N k Baixo Cima Convém escrever as eq. do movimento em coordenadas esféricas, com latitude longitude distância vertical acima da sup erfície da Terra A eq. do movimento em coord esféricas, segundo x,y e z escreve-se: 4º Ano Eng. Ambiente Para simplificar as equações do movimento (1), (2) e (3) no caso da escala sinóptica, define-se as seguintes escalas características das variáveis com base em observações por sistemas sinópticos nas latitudes médias: Escala da velocidade horizontal Escala da velocidade vertical Escala horizontal Escala vertical Escala da flutuação horizontal da pressão Escala de tempo U ~ 10 ms-1 W ~10-2 ms-1 L ~ 106 m H ~ 104 m ~103 m2s-2 ~ 105 s Notas: 1- Nas latitudes médias, um ciclone típico tem uma variação da pressão à superfície da ordem de 2kPa (20mb) para uma distancia horizontal de 2000km,i. e., p p p 2 1kPa , 3 10mb / 103 km x y L 2000 10 km 52 Física Química Atmosfera e Hidrologia Cap 4 – Ventos A pressão horizontal é normalizada pela densidade, , de modo a obter-se uma estimativa de escala válida para todas as altitudes na troposfera, apesar do decrescimento exponencial com a altitude de p e . O balanço geostrófico é uma explicação de diagnóstico que dá a relação aproximada entre o campo da pressão e a velocidade horizontal nos sistemas extratopicais de larga escala. 2- w não é uma quantidade medida directamente, mas pode ser deduzida a partir do campo de velocidade horizontal. Por analogia à aproximação geostrófica é possível definir um campo de velocidade horizontal: Vg u g i vg j ou seja 3- É conveniente considerar uma perturbação centrada à latitude v=45º e introduzir a notação: Vento geostrófico 1 Vg K p f 4.4.1 Análise de escala das equações do movimento Características: 1- Direcção: paralela às isóbaras 2- Sentido: deixa as altas pressões à direita no H. N e à esquerda no H. S. 1-Horizontal: 3- f o 2seno 2 cos o 10 4 s 1 V g p 4.6. ESQUEMA ROSSBY DE PROGNÓSTICO: N.º DE Para obter equações de prognóstico é necessário guardar também o termo de aceleração nas equações do movimento horizontal. Assim, as equações escrevem-se: du 1 p fv dt x 2-Vertical: Como 1 p fvg x vem, (Eq. do vento geostrófic o) du f v v g dt Nota: Como a pressão decresce cerca de uma ordem de grandeza da superfície à tropopausa, a graduação vertical de pressão pode ser escalada por po/H, onde po é a pressão à superfície e H a altura da tropopausa 4.5. APROXIMAÇÃO GEOSTRÓFICA Aplicando um filtro de 10-3 às equações de movimentos horizontais, i.e., retendo apenas os termos de ordem a 10-3, vem : 1 p fv x fu 1 p y Analogamente, tem-se dv 1 p fu f u u g dt y Como os termos de aceleração nestas equações são proporcionais à diferença entre o vento real e o vento geostrófico, têm uma ordem de grandeza mais pequena do que a força de Coriolis e a força Gradiente de Pressão. A aplicação destas equações na previsão do tempo é difícil porque a aceleração (que tem de ser medida com precisão) é dada pela diferença pequena de dois termos grandes. Assim, um pequeno erro na medição da velocidade ou p conduz a grandes erros na estimativa da aceleração. Uma medida conveniente da magnitude da aceleração comparada com a força de Coriolis pode ser obtida pela razão: U2 U Ro L f oU f o L 4º Ano Eng. Ambiente (Nº de Rossby) 53 Física Química Atmosfera e Hidrologia Nº de Rossby: adimensional - serve para manter as propriedes dinâmicas Ro <1 indica que a aproximação geostrófica é valida 4.7. VENTO DE GRADIENTE Próximo de um centro de altas e baixas pressões, o fluido segue a curvatura das isóbaras, deixando as baixas pressões à esquerda, no H.N. Em volta dos centros de baixas pressões, o vento é mais lento que o vento geostrófico (subgeostrófico) e em volta dos centros de altas pressões é mais rápido (supergeostrófico). O vento de gradiente ocorre devido à inexistência de balanço entre a força de Coriolis e o p, sendo introduzida a força centrífuga 1 0 0 1 vv p fv s x R uu p fu s y R Definindo ur u e vr v, as componentes do vento de gradiente, a velocidade total do vento de gradiente, é dada por 2 2 M r ur vr Cap 4 – Ventos 4.8. APROXIMAÇÃO HIDROSTÁTICA Fazendo uma análise de escala à componente vertical das eq. do movimento, obtem-se as relacões da 2ª tabela em 5.13. Consideram-se movimentos centrados em 45º da latitude e desprezamos o atrito, obtendose: 1 p g z O campo da pressão encontra-se em equilíbrio hidrostático, i.e., a pressão em qualquer ponto da coluna é igual ao peso de um coluna de ar de secção unitária, acima desse ponto 4.9. EQUAÇÃO da CONTINUIDADE (CONSERVAÇÃO DA MASSA) 1. Derivação euleriana .v 0 t 2. Derivação lagrangeana (a taxa de variação relativa de é igual à convergência da velocidade) 1 .v 0 t 3. Equação da continuidade para fluido incompressível (quando não há variação da densidade) u v w 0 x y z e uma solução do sistema de equações é: 2 Mr G Mr f .R O sinal - é utilizado para fluidos em redor dos centros de baixas pressões e o sinal + é utilizado para fluidos em redor dos centros de altas pressões. Resolvendo a equação quadrática anterior para o fluido ciclónico próximo dos centros de baixas pressões, vem: 4.G M r 0.5. f .R 1 1 f .R e para o fluido anticiclónico próximo dos centros de altas pressões, vem: u > 0 divergência w < 0 convergência v = 0 Logo a eq. da continuidade vem: (pos.) + 0 + (neg.) = 0 (convergência numa direcção tem contrabalançada com divergência noutra). de 4.G M r 0.5. f .R 1 1 f .R Fig 4.18. Representação esquemática do Vento de Gradiente. 4º Ano Eng. Ambiente 54 ser