XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. FONTE DE ENERGIA RENOVÁVEL: UMA ALTERNATIVA PARA IRRIGAÇÃO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO Alane Danielle Pacheco Pereira1, Ceres Duarte Guedes Cabral de Almeida2. Introdução O Semiárido brasileiro caracteriza-se pelo déficit hídrico, uma vez que, as chuvas são irregulares no tempo e no espaço e a quantidade de chuva é menor do que o índice de evaporação, que chega a 2.500 mm/ano. A média pluviométrica é de cerca de 700 mm anuais. A água e a energia são, evidentemente, os fatores físicos mais influentes nas condições de vida dos habitantes do meio rural do semiárido brasileiro, principalmente, no que se refere à produção agrícola (Costa et al., 2006). A irrigação tem importante papel na região semiárida, garantindo à atividade agrícola sustentabilidade econômica, minimizando, sobretudo o risco tecnológico, representado pela escassez de água. Considerando a instabilidade climática, a agricultura irrigada é uma opção estratégica importante no processo de desenvolvimento setorial e regional (Heinze, 2002). O manejo racional da irrigação consiste na aplicação da quantidade necessária de água às plantas no momento correto. Por não adotar um método de controle da irrigação, o produtor rural usualmente irriga em excesso, temendo que a cultura sofra um estresse hídrico, o que pode comprometer a produção. Esse excesso tem como consequência o desperdício de energia e de água, usados em um bombeamento desnecessário (Lima et al., 1999). Nesse contexto, a utilização da energia solar e eólica surge como uma opção viável para modificar a forma como se gerar energia. Visto à localização privilegiada do semiárido brasileiro, no que se refere à radiação solar e aos ventos, a procura pela utilização de fontes renováveis para a produção de energia elétrica viabiliza estudos e diagnósticos para se conhecer o potencial eólico e solar da região (Silva e Severo, 2012). Este trabalho objetiva abordar os principais aspectos do uso de fontes alternativas para bombeamento de água para irrigação, especialmente focado no pequeno agricultor. Uso da Energia Solar na Irrigação A energia solar é uma das alternativas mais viáveis para o semiárido brasileiro, visto que o Nordeste brasileiro apresenta média diária de aproximadamente 8 horas de irradiação solar (Silva e Severo, 2012). Nesse contexto, Costa et al. (2006) propuseram um sistema produtivo que consiste na utilização da água bombeada, com energia solar, na irrigação localizada de pequenas áreas plantadas (até 1 ha), visando a melhoria da alimentação e da renda familiar dos habitantes de áreas rurais do semiárido brasileiro. Na região do pajeú pernambucano, situado a 400 km do Recife, foram instalados 6 sistemas produtivos. Os resultados foram altamente significativos sob diversos aspectos: renda, alimentar, social e na saúde. Um sistema de bombeamento fotovoltaico é constituído por um gerador fotovoltaico, mecanismo de acondicionamento de potência, conjunto motobomba e equipamentos complementares, como hidrômetro e sensor de nível (Fedrizziet al., 2002). Existem sistemas de bombeamento para poços profundos e rasos; moto-bombas superficiais, imersas e flutuantes que podem ser acionadas por motores de corrente contínua ou alternada; bomba centrífuga ou de deslocamento positivo. Enfim, sempre é possível encontrar uma dada configuração otimizada para o sistema de bombeamento (Costa et al., 2006). Um dos problemas encontrados nesta região, de alta evapotranspiração, é como acumular água de maneira eficiente para as diversas aplicações, particularmente consumo humano e animal, bem como para uso produtivo. A necessidade de reservar água levou ao desenvolvimento da construção de cisternas, cuja função é armazenar a água e servir como tanque de passagem, além de regularizar a pressão necessária para a irrigação. No semiárido brasileiro, os recursos hídricos são dispersos, explorados por meio de pequenos poços com vazões entre 0,5 a 5 m3/h, denominados cacimbões ou “Amazonas”. Com essa limitação só a pequena irrigação, do tipo localizada, possibilita o uso racional desses recursos. Este tipo de irrigação com tecnologias e sistemas apropriados, desponta como altamente importante e promissor no processo de desenvolvimento agrícola da região. Energia Eólica como fonte de energia para irrigação na agricultura familiar O aproveitamento da energia eólica em bombas d’água para irrigação é uma tecnologia consolidada, não poluente e muito econômica. Os cataventos são largamente utilizados, como sistema de bombeamento e este parece ter sido uma das primeiras aplicações da energia eólica. Basicamente, um sistema eólico de bombeamento é constituído por rotor eólico, bomba hidráulica, transmissão e dispositivo de controle. Os dois últimos componentes são necessários para 1 Graduanda em Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). E-mail: [email protected] Professora, Colégio Agrícola Dom Agostinho Ikas (CODAI/UFRPE). E-mail: [email protected]. 2 XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. melhor adequar a operação conjunta dos dois primeiros e garantir o aproveitamento da energia de uma faixa de velocidade do vento (Leão Filho, 2007). O mesmo autor afirma que para o bombeamento de água através da energia eólica é usado o aerogerador de multipás, uma caixa de rolamento, uma torre reforçada para fixação do aerogerador e uma bomba hidráulica. A bomba deve ser acoplada a uma haste metálica ligada diretamente ao eixo do rotor do aerogerador e ser instalada próximo ao fluxo de água. O vento ao passar pelo rotor acionará a haste, fazendo com que ela suba e desça, bombeando a água para um reservatório. Em geral, o volume de água bombeado pelo catavento é suficiente para pequenos sistemas de irrigação. Eficiência nos sistemas de irrigação Na seleção de sistemas de irrigação é necessário o conhecimento da eficiência de cada método de aplicação de água. Eficiência de irrigação pode ser definida como a relação entre a quantidade de água requerida pela cultura e a quantidade total aplicada pelo sistema para suprir essa necessidade. Quanto menores as perdas de água devido ao escoamento superficial, evaporação, deriva e drenagem profunda, maior será a eficiência de irrigação de um sistema. Valores médios de eficiência de irrigação para diferentes sistemas são apresentados na Tabela 1. Um dos motivos que mais contribui para a baixa da eficiência da irrigação é o fato dos irrigantes não assimilar os princípios básicos da agricultura irrigada, o que dificulta o próprio entendimento da eficiência da irrigação e suas vantagens. A irrigação pressurizada pode promover a redução substancial do dispêndio de água pelo uso de sistemas de irrigação localizada e por aspersão. A eficiência média de irrigação a nível nacional está estimada em 60% (Coelho et al., 2005). A irrigação utilizada de forma eficiente pode promover uma economia de aproximadamente 20% da água e 30% da energia consumida. Do valor relativo à energia, a economia de 20% seria devido à não aplicação excessiva da água e 10% devido ao redimensionamento e otimização dos equipamentos utilizados (Lima et al., 2004 ). Considerações Finais Diante do exposto, a alternativa de utilização da energia solar e eólica para irrigação no semiárido brasileiro é de grande relevância para a economia local, geração de empregos, e consequentemente melhoras na condição de vida da população, além de alguns benefícios para o meio ambiente. As potencialidades de fontes alternativas de energia devem ser mais exploradas na região, visto que o custo/benefício a longo prazo é reduzido, e os impactos ambientais em sua instalação e utilização são mínimos quando comparados a outras formas de obtenção de energia. Nesse contexto, a utilização de um sistema de irrigação eficiente contribui para o uso dessas fontes alternativas de energia, uma vez que, evita o desperdício de água e energia, tornando possível o bombeamento de água através da energia solar e eólica. Referências Bibliográficas COELHO, E.F.; COELHO FILHO, M.A.; OLIVEIRA, S.L. Agricultura irrigada: eficiência da irrigação e de uso de água. Bahia Agrícola, v.7, n.1, set, 2005. COSTA, H. S.; ARAÚJO, K.; NETO, G. C. “ÁGUA DO SOL” – USO DA ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA NA PEQUENA IRRIGAÇÃO DE BASE FAMILIAR NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO. Avances en Energías Renovables y Medio Ambiente. Vol. 10, 2006. FEDRIZZI, M. C.; SAUER I. Pequenos sistemas de bombeamento fotovoltaico: análise da competitividade com outras opções. Anais do III Congresso Brasileiro de Planejamento Energético. 2002. HEINZE, B.C.L.B. A importância da agricultura irrigada para o desenvolvimento da região Nordeste do Brasil. Brasília: Ecobusiness School/FGV, 2002. 59p. Monografia. LEÃO FILHO, A.D. Uso de geradores eólicos de pequeno porte para irrigação no semiárido do Estado de Sergipe. São Cristovão: Universidade Federal de Sergipe, 2007. 76p. Tese Mestrado. LIMA, J. E. F. W.; FERREIRA, R. S. A; CRISTOFIDIS, D., 1999. Ouso da Irrigação no Brasil. In: Freitas, M. A V., O Estado das Águas no Brasil. MME, MMA/SRH, OMM p73-101. SILVA, G.J.F.; SEVERO, T.E.A. Potencial/Aproveitamento de Energia Solar e Eólica no Semiárido Nordestino: Um Estudo de Caso em Juazeiro – BA nos Anos de 2000 a 2009. Revista Brasileira de Geografia Física,v.3, p.586-599, 2012. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Tabela 1: Eficiência de irrigação e consumo de energia de diferentes métodos de irrigação. Método de Irrigação Eficiência de Irrigação (%) Uso de Energia (kWh/m3) Por superfície 40 a 75 0,03 a 0,3 Por aspersão 60 a 85 0,2 a 0,6 Localizada 80 a 95 0,1 a 0,4 Fonte: Lima et al. (1999) Figura 1: Catavento para bombeamento de água. Fonte: Lima et al. (1999). Figura 2: Equipamentos para bombeamento solar. Fonte: Costa et al. (2006).