O enorme sucesso do Pavilhão Soviético de Melnikov para a Exposição Internacional de Artes Decorativas de Paris em 1924, leva a cidade de Paris a encomendar-lhe um projecto para um parque de estacionamento. E a resposta de Melnikov, que envolvia a construção do parque de estacionamento sobre uma ponte do Sena, ultrapassou demasiado as expectativas das autoridades francesas, ao ponto de nunca terem autorizado a sua realização. Mas o maior interesse deste projecto reside, de facto, nesta forma de monumentalização de um parque de estacionamento, ao tornar escultórico, monumental, o que muitas vezes se encara como depósito residual da vida urbana. Os automóveis como dispositivos de mobilidade, mesmo que a salubridade do ar nas cidades leve a procurar a sua redução, fazem parte da vida urbana. Se os parques de estacionamento são necessários, porque não terem a mesma visibilidade dos teatros, das igrejas e dos edifícios dos tribunais? E Melnikov sublinha a monumentalidade deste projecto com a imagem de dois atlantes que sustêm a estrutura do edifício como que a elevá-la de forma a não perturbar a função original da ponte, e, com essa elevação, criam as oblíquas das rampas que para além da sua funcionalidade, participam na expressividade de uma imagem. Podemos encarar estes dois atlantes como sendo uma espécie de duplos do próprio Melnikov que materializa nestas duas figuras o seu gesto. antónio olaio