UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 1 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA A CANA-DE-AÇÚCAR NOS ASSENTAMENTOS RURAIS SANTA TEREZINHA DA ALCÍDIA E ALCÍDIA DA GATA NO MUNICÍPIO DE TEODORO SAMPAIO - SP1 Antonio Carlos Ferreira Júnior2 Antonio Nivaldo Hespanhol3 Resumo A Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP) ao regulamentar o plantio de culturas comercializáveis com agroindústrias processadoras, com a justificativa de alocar recursos para o processo de capitalização das famílias beneficiárias dos Projetos de Assentamentos Estaduais, a partir da aprovação da Portaria ITESP – 75 de 24/10/2002 regulamentou uma prática polêmica e recente no Pontal do Paranapanema-SP: o cultivo de canade-açúcar nos Projetos de Assentamentos Rurais de Reforma Agrária. Dessa forma, nos propomos a realizar uma análise da “parceria” entre o pequeno produtor assentado e a agroindústria canavieira, mediada pelo Poder Público (ITESP). Para tanto optamos pela escolha de dois assentamentos localizados no município de Teodoro Sampaio-SP - Assentamentos Alcídia da Gata e Santa Terezinha da Alcídia. Em ambos os assentamentos ocorre o predomínio de produtores rurais que cultivam cana-de-açúcar para a Destilaria Alcídia. Os procedimentos metodológicos adotados foram: Levantamento bibliográfico, coleta de dados primários por meio de entrevista dirigida ao responsável técnico da Fundação ITESP e para alguns assentados, assim como, a avaliação de toda a documentação concernente à parceria entre a Destilaria Alcídia e os Assentados que cultivam cana-de-açúcar. Palavras-chave: cana-de-açúcar, assentamentos rurais, Poder Público. 1. INTRODUÇÃO A pesquisa tem como objetivo principal destacar e discutir alguns aspectos referentes à inserção da cultura de cana-de-açúcar nos Assentamentos rurais de reforma agrária, especificamente nos Assentamentos Santa Terezinha da Alcídia e Alcídia da Gata, localizados no Município de Teodoro Sampaio, no Pontal do Paranapanema-SP. Dessa forma, a análise se centrará nos procedimentos do sistema de “parceria” entre o pequeno produtor assentado e a 1 Texto produzido com base na pesquisa de Iniciação Científica intitulada: “A Cultura de Cana-de-açúcar e a questão do arrendamento de terras nos Assentamentos Rurais de Teodoro Sampaio”. Com apoio financeiro da Fundação de Amparo a Pesquisa Científica do Estado de São Paulo (FAPESP). 2 Aluno do curso de Graduação em Geografia da FCT/UNESP/Presidente Prudente – SP. Bolsista Fapesp; Membro do Gedra (Grupo de Estudos Dinâmica Regional e Agropecuária). E-mail: [email protected] 3 Docente dos cursos de Graduação e Pós-graduação em Geografia da FCT/UNESP/Presidente Prudente. Membro do GEDRA (Grupo de Estudos Dinâmica Regional e Agropecuária). E-mail: [email protected] UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 2 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA agroindústria canavieira, mediado pelo Poder Público, representado pela Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP). Os procedimentos metodológicos adotados foram: Levantamento bibliográfico a respeito das Políticas de Assentamento Rurais no Brasil e no Pontal do Paranapanema, da expansão da cultura de cana-de-açúcar no Brasil e as peculiaridades de tal parceria, além disso, a coleta de dados primários foi realizada por meio de entrevista dirigida ao responsável técnico da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP) e com alguns assentados selecionados a partir da indicação da Fundação. Será analisada, também, toda a documentação referente à parceria entre a Destilaria Alcídia e os Assentados envolvidos (Contrato entre a empresa e os assentamentos, contrato de convênio entre a empresa e o Banco do Brasil, Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRONAF). Sendo assim, estruturamos o presente texto da seguinte forma: Além da presente introdução (primeira parte), na qual são explicitados os objetivos e a metodologia, na segunda parte são apresentados os resultados obtidos na pesquisa e na terceira e última parte são apresentadas as considerações finais. 2. RESULTADOS OBTIDOS: 2. 1. A Política de Assentamentos Rurais no Brasil: algumas considerações. A origem dos assentamentos rurais de Reforma agrária, no Brasil, não está relacionada diretamente a ações governamentais que visam o desenvolvimento do campo, e sim a tentativa de atenuação dos conflitos sociais no campo decorrentes das ocupações por famílias de trabalhadores sem terra, fato muitas vezes, omitido pelos governos federal e estadual. Em meados da década de 1980, período de transição para um governo democrático, elaborou-se o I Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA) com a proposta inicial de assentar 1.400.000 famílias entre os anos de 1985 e 1989. Como nesse Plano seriam utilizados mecanismos que incomodariam diretamente a classe patronal/proprietária – como a desapropriação de terras por interesse social - formou-se uma grande resistência por parte dos UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 3 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA chamados “ruralistas”, forçando o recuo por parte do governo, o que gerou insatisfação entre os trabalhadores rurais e disputas fundiárias. Foi neste cenário que, no inicio da década de 1990, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, criado no ano de 1984, realizou a primeira ocupação na região do Pontal do Paranapanema, na fazenda Nova Pontal em Teodoro Sampaio, iniciando, dessa forma, o seu processo de luta pela terra. Esses trabalhadores tinham como lema “Ocupar, Resistir e Produzir” e inseriram um novo paradigma nas discussões a respeito da questão agrária: o de que sem invasão não há distribuição de terras por parte do governo (FERNANDES, 2001). As ocupações evoluíram ao longo dos anos e toda essa pressão exercida pelo movimento foi o fator principal de incentivo para o governo priorizar políticas públicas que adotassem medidas de implantação dos assentamentos rurais na região. Mesmo assim, esse apoio fornecido pelo Estado não bastou para a garantia de uma infra-estrutura básica (saneamento básico, habitação, escola, saúde, transporte) aos assentados (LEITE, 1998). No Estado de São Paulo foi a partir do Governo de Franco Montoro (1983-1986) que os assentamentos começam a ser implantados em algumas regiões, como resposta às mobilizações de trabalhadores rurais e aos conflitos pela terra que se intensificaram durante este período. Mesmo porque, neste Estado “a rápida e intensa modernização da agropecuária, longe de superar os conflitos pela posse de terras, acabaram por promovê-las, criando uma gama diversificada de demandantes por terra, todos excluídos dos benefícios da pujança econômica que marca essa unidade da Federação” (FERRANTE, BARONE, BERGAMASCO, 2005, p. 38). Os mesmos autores, em um trabalho que avalia a “maioridade dos assentamentos rurais no Estado de São Paulo” a partir de uma perspectiva que considera a multidimensionalidade dos projetos de assentamentos, destacam as peculiaridades da política de assentamentos estadual e as particularidades regionais dos P. A.s, sobretudo em duas regiões com dinâmica econômicas bastante distintas: A região de Araraquara e o Pontal do Paranapanema. Vamos destacar apenas os principais aspectos da Política de Assentamentos no Pontal do Paranapanema, uma vez que, os assentamentos estudados estão localizados no Município de Teodoro Sampaio, um dos municípios do Estado de São Paulo com o maior número de Projetos de Assentamentos Rurais: 25 Projetos de assentamentos, sendo 3 federais e 21 estaduais. UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 4 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA 2.2. O processo de ocupação da região do Pontal do Paranapanema e A política de assentamentos rurais na região A história da ocupação da região do Pontal do Paranapanema nos remete a um processo conflituoso de ocupação de terras de domínio público. Este processo caracterizou-se por grandes fraudes na titularidade dominial (grilagem), práticas violentas, desmatamentos consecutivos, práticas de culturas sem a menor preocupação com a conservação dos recursos minerais e com a obediência da legislação ambiental existente. São as peculiaridades desse histórico que, segundo Ferrante, Barone e Bergamasco (2005), definem as políticas públicas para a região no que diz respeito à reforma agrária e, além disso, “são os ingredientes básicos das tensões sociais envolvendo o estado e diferentes classes sociais” (p.46). Localizado no extremo oeste do Estado de São Paulo, corresponde aos seguintes municípios, segundo a UNIPONTAL (União dos Municípios do Pontal do Paranapanema): Alfredo Marcondes, Álvares Machado, Anhumas, Caiabú, Caiuá, Emilianópolis, Estrela do Norte, Euclides da Cunha, Iepê, Indiana, João Ramalho, Marabá Paulista, Martinópolis, Mirante do Paranapanema, Nantes, Narandiba, Piquerobi, Pirapózinho, Presidente Bernardes, Presidente Epitácio, Presidente Vescenslau, Rancharia, Regente Feijó, Ribeirão dos Índios, Rosana, Sandovalina, Santo Anastácio, Santo Expedito, Taciba, Terabai e Teodoro Sampaio, conforme ilustra o mapa I: 5 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA Mapa I: Pontal do Paranapanema - Localização do Município de Teodoro Sampaio 50º 40’ W 53º 00’ W 21º 25’ S Gr os so Do Su l 21º 25’ S Do Mato o ta d Es Do a Est Paraná do 22º 45’ S 22º 45’ S 53º 00’ W 50º 40’ W Teodoro Sampaio 20º S Escala Gráfica Fonte: UNIPONTAL (União dos Municípios do Pontal do Paranapanema), 2006 Organizador: Antonio Carlos Ferreira Júnior, 2006 0 20 40 Km 24º S 51º S 45º S O Pontal do Paranapanema é a área do Estado de São Paulo com o maior número de assentamentos rurais. As terras dessa região começaram a ser griladas desde a segunda metade do século XIX, com a formação do grilo Pirapó – Santo Anastácio em uma área de 238.000 alqueires UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 6 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA paulistas. Foi por meio desse processo de falsificação dos títulos de propriedades que os grileiros se apropriaram das terras públicas do Pontal sem encontrar resistências maiores por parte do governo (LEITE, 1998). Porém, a ocupação do Sudoeste do Estado de São Paulo só se efetivou com a abertura da Estrada de Ferro Sorocabana [...] “fortemente incentivada pelo Governo Federal, por razões militares e políticas, a estrada de ferro, antecedendo ao café, cortou os sertões em busca do Rio Paraná [...] Os trilhos atingiram Presidente Prudente em 1917 e Presidente Epitácio em 1922” (LEITE, 1998, p.32). Segundo o referido autor, após o reconhecimento do território, aberta a estrada boiadeira e instalados os trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana, iniciou-se a procura por terras para a plantação de café: [...] Não há dúvida, porém que o café foi o responsável direto pelo povoamento da Alta Sorocabana [...]. Há que se fazer um único esclarecimento: enquanto que as zonas mais velhas de café eram procuradas pelas ferrovias, na zona pioneira do sudoeste o café apenas estabeleceu-se após a implantação dos trilhos (LEITE, 1998, p.71). Devido às condições naturais favoráveis (solo fértil, rico em Húmus) a cultura de café se mostrou vantajosa até a década de 1930, com o advento da grande crise econômica decorrente da queda da bolsa de valores de Nova York no ano de 1929. Outras culturas de destaque na região foram o algodão e amendoim que, em meados da década de 1940 atraíram grandes indústrias de óleo vegetal e usinas de descaroçamento de algodão. A situação em que se encontrava a região exigia, do Estado, políticas que amenizassem os conflitos fundiários. É então, a partir da década de 1960, que o Estado começa a direcionar políticas públicas para a região, como, por exemplo, a desapropriação da gleba Rebojo por interesse social, gerenciada pelo poder público estadual a partir de 1968. A partir de meados da década de 1970, com a proposta de construção de três usinas hidrelétricas na região, emerge a necessidade do reassentamento das populações ribeirinhas. Além disso, o governo, com a intenção de promover o dinamismo econômico da região, implementa uma serie de programas, como, por exemplo, a criação do Pró-cana para aproveitar- UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 7 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA se dos recursos oferecidos pelo governo federal em condições altamente por intermédio do PROÁLCOOL. Este programa permitiu o desenvolvimento da canavicultura na região e diversas destilarias foram implantadas. A implantação das usinas hidrelétricas foi gerenciada pela Companhia Energética do Estado de São Paulo (CESP). Porém, na década de 1980, com a crise econômica generalizada, ocorreu, conforme afirmou Antonio (1990), uma forte desaceleração das obras das usinas hidrelétricas redundando em milhares de demissões de trabalhadores. Esta situação reascendeu os movimentos sociais reivindicadores de terras e ao mesmo tempo a organização dos pecuaristas (a burguesia rural) por meio da União Democrática Ruralista (UDR), para banir esses movimentos, resultando entre outras, na origem do assentamento gleba XV de Novembro, no Município de Teodoro Sampaio, conforme destaca Antonio (1990): Essa demissão em massa, por parte da CESP, e das empreiteiras, somadas as enchentes do rio Paranapanema, foram o estopim de uma situação critica que já existia, renascendo assim o movimento social dos camponeses – “operários temporários”. A partir daí, tem-se toda a organização do movimento, e, que se transformará em vários movimentos reinvidicatórios por trabalho e terra. A gleba XV de Novembro é um dos resultados desses movimentos. Os alicerces da construção da gleba XV de Novembro foi o início e abriu profundas crateras no chão da Alta Sorocabana, repercutindo nas imprensas municipais, regionais, nacionais e inclusive internacionais (ANTONIO, 1990, p.48). E ainda: A história da gleba XV de Novembro adquire importância porque ela é o resultado das medidas governamentais implantadas para abafar e amenizar os conflitos e confrontos entre camponeses e latifundiários – pecuaristas, no Município de Teodoro Sampaio nesta década de 1980 (ANTONIO, 1990, p.47). Outro aspecto importante a ser destacado, diz respeito à instalação da Destilaria de Álcool Alcídia, que financiada com recursos públicos (subsídios do PRÓALCOOL) “promoveu uma profunda mudança na paisagem regional”, de acordo com Antonio (1990, p. 42). Cerca a de 15.000 hectares de matas de “paliteiros” e de pastos foram substituídos pelas lavouras de canade-açúcar e, além disso, a construção dos prédios (usinagem e moinhos), atraiu uma parcela significativa de mão-de-obra de camponeses-arrendatários, desarticulando, em grande parte, o movimento social rural do município (ANTONIO, 1990). UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 8 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA Os anos que prosseguiram foram marcados por políticas de assentamento com pouca representatividade e, conseqüentemente, com o aumento dos movimentos sociais dos trabalhadores sem–terra, delineando o contexto político-social do Pontal do Paranapanema, conforme ressaltou Barone (2005): Centenas de ocupações, milhares de trabalhadores mobilizados e acampados, dezenas de ações judiciais discriminatórias promovidas pelo Estado no sentido de identificar e arrecadar as terras devolutas irregularmente ocupadas: esse é o contexto sócio-político do Pontal, que se desdobra desde o início dos anos 1990. Nesse cenário, o incremento da política de assentamentos na região aconteceu, sobretudo, na primeira gestão do Governador Mário Covas (1995-1998), como resultado de intensas negociações para a arrecadação de áreas e o assentamento de milhares famílias (BARONE, 2005, p. 203-204). Bergamasco e Norder (2003) destacam que: A partir de 1995, foi iniciado o assentamento de aproximadamente 3.650 famílias no Pontal do Paranapanema. Ao lado das que foram assentadas e reassentadas desde o inicio de 80, são mais de 5.720 instaladas nessa região até 1999, das quais 1.640 em dois municípios vizinhos: Mirante do Paranapanema e Euclides da Cunha (BERGAMASCO; NORDER, 2003, p.104). Para os referidos autores, O panorama dos assentamentos rurais implantados ou em vias de implantação no Estado de São Paulo mostra que a Região do Pontal do Paranapanema constitui-se na mais importante da região de implementação de assentamentos rurais no Estado (p.104). Assim, de acordo com Barone (2005) existem 101 Projetos de Assentamentos Rurais na região do Pontal do Paranapanema, com cerca de 5 mil famílias que são assistidas pela Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo – ITESP. 2.3. O papel do ITESP enquanto agente intermediador das negociações entre assentamentos e destilaria. A Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP), antigo Departamento de Assuntos Fundiários (DAF), foi fundado em 1999 de acordo com a Lei 10.207 de 08/01/1999 e regulamentada pelo Decreto 44.294 de 04/10/1999. Tem como objetivo principal o planejamento e a execução das políticas agrária e fundiária no âmbito do Estado de São Paulo. UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 9 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA Além de implantar e desenvolver assentamentos de trabalhadores rurais nos termos da Lei 4.957 de 30 de dezembro de 1985, bem como prestar assistência técnica e promover a capacitação técnica dos beneficiários, bem como implantar programas que propiciem o desenvolvimento sustentável das populações assentadas. No Município de Teodoro Sampaio a Fundação ITESP é responsável por 24 Projetos de Assentamentos Rurais, entre eles estão os Assentamentos Alcídia da Gata e Santa Terezinha da Alcídia, que juntos ocupam uma área de 1.807,86 hectares situadas nas imediações da Destilaria Alcídia. Diante dessa realidade a Portaria ITESP – 75 de 24/10/2002 que regulamenta o plantio de culturas comercializáveis com agroindústrias processadoras, com a justificativa de alocar recursos para o processo de capitalização das famílias beneficiárias dos Projetos de Assentamentos Estaduais e com a finalidade de “propiciar autonomia e uma maior participação por parte dos assentados na economia dos municípios, assim como, de aumentar a área plantada com gêneros essenciais a alimentação”, promoveu a continuidade e o fortalecimento de uma prática já efetuada e consolidada no município: a cultura de cana-de-açúcar. A seguir destacaremos os principais aspectos desse documento. O Art. 1° da Portaria ITESP-75, de 24 de outubro de 2002 visa: Estabelecer normas para o plantio de culturas destinadas à venda para agroindústrias, nos Projetos de Assentamentos implantados nos termos da Lei n° 4.957, de 30 de dezembro de 1985. Esta mesma Portaria no Art. 2° estabelece de que forma serão implantadas determinadas culturas e alguns parâmetros que deverão ser seguidos pelos beneficiários: As culturas para fins de processamento industrial poderão ser implantadas nos lotes com área de até 15 ha, ocupando até 50 % da área total e, nos lotes com área superior a 15 ha, ocupando até 30% da área total. §1° A exploração deverá ser feita diretamente pelos beneficiários dos Projetos de Assentamento de forma individual, associada ou coletiva, ficando vedada qualquer outra modalidade de exploração que não permita a participação direta dos beneficiários no planejamento, condução e comercialização da produção. §2° Os beneficiários deverão obedecer aos projetos técnico-agronômicos, elaborados ou aprovados pela Diretoria Adjunta de Políticas de Desenvolvimento, que conterão, UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 10 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA obrigatoriamente, as fases de execução e os recursos financeiros, humanos e materiais, a serem empregados. §3° Os beneficiários não poderão alocar máquinas e equipamentos de terceiros, exceto se previstos nos projetos técnico-agronômicos. Se previstos nos projetos técnicos deverão apresentar a Diretoria Adjunta de Políticas de Desenvolvimento, cópias de contratos de arrendamento ou locação. §4° Os beneficiários deverão observar, ainda, as normas vigentes relativas aos planos públicos de valorização e aproveitamento de recursos fundiários, ao apoio à produção agrícola, a defesa da agropecuária e a proteção do meio ambiente, bem como as demais diretrizes traçadas pela Fundação ITESP. §5° As áreas dos lotes comprometidas com projetos agropecuários financiados pelo Sistema Nacional de Crédito Rural ou com Programas oficiais de fomento, não poderão ter implantadas culturas para fins de processamento industrial. (Art. 2° da Portaria ITESP-75, de 24 de outubro de 2002). Estas diretrizes estipuladas pelo ITESP, através da Portaria-75 de 24/10/2002, legalizaram um processo que desde 1991 já havia sido diagnosticado no Estado de São Paulo pelo extinto Departamento de Assuntos Fundiários-DAF (atual ITESP): o arrendamento, parcial ou total dos lotes. E, portanto, acirrou o debate a respeito do cumprimento da função social do assentamento, que seria a de executar as atividades agrícolas, realizadas pela produção de base familiar, trazendo ocupação e aprendizado sobre os trabalhos na lavoura para todos os integrantes das famílias, segundo a Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania (1995). No caso específico do cultivo de cana-de-açúcar nos assentamento rurais selecionados, toda a negociação entre os assentados e a Destilaria Alcídia ocorreu sob a supervisão da Fundação ITESP que cuidou de estruturar o contrato de adesão dos assentados à cultura de cana-de-açúcar nos lotes, baseados no sistema de Integração Agroindustrial. 2.3.1. Estrutura do contrato para plantação de cana-de-açúcar nos Assentamentos Rurais 1) Declaração de Aptidão: Elaborada pelo ITESP com a finalidade de declarar que determinado morador do lote atende todos os pré-requisitos estabelecidos para o seu enquadramento como beneficiário do Crédito Investimento – PRONAF classe D (conforme estabelecido no Manual de Crédito Rural). De acordo a Portaria MDA n° 46, de 26/08/05, Capítulo I – Da finalidade: Art. 1° A Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) é o instrumento que identifica os beneficiários do Pronaf, conforme o estabelecido no Manual de Crédito Rural (MCR), do Banco Central do Brasil, Capítulo 10, Seção 2, como habilitados a realizarem operações de crédito rural ao amparo do Programa. UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 11 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA § 1° A DAP constitui instrumento obrigatório à formalização de operações de crédito ao amparo do Pronaf, independente dos demais documentos necessários e exigidos pela instituição financeira em obediência à legislação pertinente. § 2° a DAP apresenta as seguintes características: I - Validade: 6 (seis) anos a contar da data de sua emissão, sendo que os proponentes a financiamentos dos Grupos "A" e "A/C" devem apresentar ao agente financeiro uma nova DAP, a ser fornecida pelo INCRA quando beneficiários pelo PRNA e pela UTE/UTR quando beneficiários do PNCF, para cada operação que será solicitada em cada um dos grupos "A" e "A/C" II - Origem: vinculada ao município de localização do estabelecimento utilizado para residência fixa pelo agricultor e sua família; III - Gratuidade: as instituições autorizadas a emitirem DAP não podem cobrar quaisquer custas pela sua emissão ou condicionar seu fornecimento a qualquer exigência de reciprocidade, vínculo ou filiação, sob pena de descredenciamento e demais sanções legais. 2) Carta Convênio de Integração Rural: Carta destinada ao Banco do Brasil com a finalidade de apresentar o produtor integrado (assentado) ao banco para a solicitação do PRONAF. 3) Projeto técnico elaborado pelo ITESP e pela Destilaria Alcídia, que consta: A) Dados do proponente: os dados pessoais do assentado, relação de máquinas e equipamentos existentes no lote, a composição do rebanho, a renda mensal e anual do assentado. B) Dados do imóvel: tipo de imóvel, endereço, área e classificação (minifúndio/latifúndio), Inscrição Estadual. C) Dados do proprietário do Imóvel: dados pessoais do assentado e área cedida para o cultivo de cana-de-açúcar. D) Proposta de Integração: dados do empreendimento – produto, previsão de safra, preço de mercado, vencimento, período agrícola de tomada de crédito, assistência técnica. E) Dados da proposta: Produto, área financiada, produtividade média, faturamento bruto anual, cronograma de utilização do crédito, cronograma de retorno, demonstrativo financeiro da atividade pecuária. F) Garantias: penhor da lavoura, penhor dos equipamentos agrários, penhor dos veículos, penhor dos animais, hipoteca, aval. G) Orçamento: relativo a implantação de canavial em área nova, custo para formação de 1,00 ha de cana-de-açúcar. UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 12 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA H) Circular n° 16/02 – 31/03/2003 – CONSECANA: preço médio do Kg do ATR para efeito de ajuste parcial referente à safra do ano de vigência do contrato. I) Viabilidade do Empreendimento: Balanço financeiro e planilha de custo de tratos culturais. J) Capacidade de pagamento do produtor rural. K) Croqui mapa de acesso à área e do assentamento dividido em lotes numerados. 4) Recomendações e Justificativa técnica: documento elaborado pelo ITESP e pela Destilaria Alcídia com a assinatura do proponente. 5) Termo de Adesão Integradora /Integrado: formalização do contrato junto ao Banco do Brasil (Convênio BB CONVIR Integração Rural) 6) Termo de Adesão: sistema “Balcão de Agronegócios”. 7) Contrato de compra e venda de cana-de-açúcar: baseado na portaria ITESP-75 de 24/10/2002 que estabelece normas para o plantio de culturas destinadas a venda para agroindústria nos Assentamentos de reforma agrária. 8) Contrato de venda de mudas de cana-de-açúcar e serviços agrícolas. 2.4. A cana-de-açúcar nos assentamentos Rurais: O Projeto de Assentamento rural Alcídia da Gata tem a sua origem relacionada às lutas pelas conquistas de terras no Varjão Verde (Agrovila Emídeo Furlan), quando os acampados ocuparam, no inicio da década de 1990, uma área próxima ao rio Paranapanema. A implantação do assentamento ocorreu por meio de negociações entre o ITESP, o INCRA, os latifundiários e os acampados do Movimento dos Agricultores Sem Terra (MAST) (LEAL, 2003). De acordo com os dados levantados no trabalho de campo realizado em abril de 2006, dos 18 lotes que compõe o Assentamento Alcídia da Gata, apenas 4 deles não aderiram ao “consórcio” com a Destilaria Alcídia, em razão dos seguintes motivos principais em cada um quatro lotes: - Abandono do lote; UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 13 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA - Inadimplência por parte do assentado junto ao Banco do Brasil, o que não permitiu que se disponibilizasse o crédito PRONAF – Investimento; - Recém assentado – não estava no assentamento no início do consórcio; - Opção em não plantar cana. Entre os motivos arrolados acima, o último nos chamou a atenção. Ao visitarmos o lote e entrevistarmos os seus moradores verificamos a seguinte situação. A origem da família, composta por casal e filho, sempre esteve relacionada à terra. Antes de serem assentados o então marido e a esposa trabalhavam como empregados em um sítio no Pontal do Paranapanema e eram militantes – esporádicos (apenas nos finais de semana – conhecidos como “andorinhas” do Movimento dos Agricultores Sem Terra - MAST). Inicialmente foram assentadas no Projeto de Assentamento Santa Zélia e, posteriormente, foram transferidos para o Projeto de Assentamento Alcídia da Gata. A família possui um plantel constituído de 45 cabeças de gado leiteiro, 6 porcos e cerca de 20 aves, entre galinhas e frangos. A principal fonte de renda da família sempre foi à pecuária leiteira. E, atualmente, a mesma é auferida a partir da comercialização de requeijão (produto derivado do leite) nos arredores do assentamento e para uma pequena empresa situada no município de Rosana. Em média, por mês, são comercializadas 450 peças de aproximadamente 500 gramas cada, pelo valor de R$ 7,00 a unidade. A família também cria porcos (6 – seis) os quais são alimentados com o soro de leite, além de possuir alguns frangos, destinados ao consumo próprio. A família não possui nenhum tipo de renda externa. Na tabela 1, estão indicados os bens de consumo da família entrevistada: Tabela 1: Bens de consumo da família entrevistada. Bens de consumo Fogão Geladeira Aparelho de som Ventilador Tanquinho Antena Parabólica Liquidificador Televisão Aparelho de DVD Automóvel Quantidade 2 1 1 2 1 1 1 2 1 2 Fonte: Pesquisa de campo, 2006 – Org.: Antonio Carlos Ferreira Júnior UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 14 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA Além disso, no que diz respeito à infra-estrutura do lote e a estrutura física da casa, o que chama atenção entre as demais casas existentes no assentamento é a qualidade do acabamento dos materiais utilizados, além disso, a casa é composta por cinco cômodos grandes, com chão de cimento e telhas Brasilit. Como podemos perceber, analisando a quantidade de bens de consumo, o padrão de moradia e a renda auferida por meio da produção de requeijão, esta família assentada possui um nível de renda bastante superior à média do assentamento. No painel I são apresentadas algumas fotografias do referido lote. Painel I – Fotografias do lote do Assentamento Alcídia da Gata: opção por não plantar cana. Foto 1: Aspecto frontal da casa Foto 2: Garagem UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 15 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA Autor: Antonio Carlos Ferreira Júnior, trabalho de campo, 2006 Autor: Antonio Carlos Ferreira Júnior, trabalho de campo, 2006 Foto 3: Parte externa da casa Autor: Antonio Carlos Ferreira Júnior, trabalho de campo, 2006 Segundo o próprio assentado, a família não confiou na proposta apresentada pela usina pois, “sempre nós, os pequenos, que somos prejudicados” (R.G.B. Assentamento Alcídia da Gata - Pesquisa de Campo, 2006). Quanto à implantação do Projeto de Assentamento Santa Terezinha da Alcídia, segundo Leal (2003) decorreu das negociações estabelecidas entre as famílias remanescentes do Assentamento Alcídia da Gata e o ITESP para serem assentadas no latifúndio Santa Terezinha da Alcídia. A área em questão estava ocupada com cana-de-açúcar da própria Destilaria Alcídia e para que as famílias fossem assentadas foi preciso negociações entre os assentados e a empresa. Segundo o referido autor, nas negociações os assentados receberam uma série de bens como forma de pagamento: roda d’água, materiais de construções, estradas etc. O assentamento Alcídia da Gata possui 26 lotes, sendo que, desses 24 estão inseridos no sistema de integração proposto pela Destilaria Alcídia. Neste caso, destacaremos o caso de um UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 16 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA dos Assentados que é conhecido pelos técnicos do ITESP como um dos que cuida melhor da cana-de-açúcar que fornece a Destilaria Alcídia. Neste lote o assentado, um senhor aposentado e sua esposa, de aproximadamente 70 anos, nos informam que nos primeiros anos plantou mandioca e teve grandes prejuízos. Seu plantel é constituído por cerca de 20 cabeças de gado, sendo 10 vacas leiteiras, que lhe rende aproximadamente 30 litros de leite por dia. Todo o leite é comercializado, em conjunto com o filho (morador de outro lote) diretamente pela família no centro da cidade. Perguntado a respeito da introdução da cana-de-açúcar nos assentamentos rurais o assentado responde elogiando o sistema proposto pela empresa e frisa que ele cuida sozinho de todo o trato da cultura. O assentado nos informa que paga todas as parcelas do crédito (PRONAF Investimento, classe D) dentro do prazo estipulado. No ano passado o assentado obteve um rendimento de aproximadamente R$ 4.000,00 (cerca de R$ 330,00 /mês), em 5,0 hectares dos 20 que compõe seu lote – um rendimento superior às estimativas do Projeto Técnico, se considerarmos a variação mensal dos preços unitários do ATR (Açúcar Total Recuperável) por produto divulgado pelo CONSECANA (Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar e Álcool no Estado de São Paulo). Esta renda complementada pela aposentadoria que recebe e pela comercialização do leite e de demais culturas pequenas (quiabo, por exemplo) permitiu que o assentado equipasse seu lote com alguns equipamentos, como, por exemplo, um pequeno salão (ainda não acabado) onde acontecem pequenas reuniões entre os assentados. Além disso, plantou vários pés de eucalipto no lote, como forma de proteção natural à cana-de-açúcar e equipou sua casa com antena parabólica. Abaixo, no Painel II são apresentadas algumas fotos que mostram o lote e a plantação de cana-de-açúcar, especificamente deste assentado. Painel II - Fotografias do lote do Assentamento Sta. Terezinha da Alcídia: opção por plantar cana. Fotos 4 e 5: Plantação de cana-de-açúcar do assentado do P.A. Santa Terezinha da Alcídia UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 17 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA Foto 6: Vista frontal da casa Foto 7: Salão para pequenas reuniões Autor: Antonio Carlos Ferreira Júnior, trabalho de campo, 2006 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS. A partir da aprovação da Portaria ITESP-75, de caráter polêmico, colocou-se em questão o cumprimento da função social do assentamento que, segundo a Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania (1995), seria a de executar as atividades agrícolas, realizadas pela produção de base familiar, trazendo ocupação e aprendizado sobre os trabalhos na lavoura para todos os integrantes das famílias. UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 18 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA Os debates sobre esta nova realidade, fomentada a partir da aprovação da portaria que regulamenta o plantio de matérias-primas para as agroindústrias, giram em torno do seguinte aspecto: Estaria o assentado num estado de subordinação total a agroindústria e ao mercado, colocando em risco a sua relativa autonomia? Os trabalhos que tratam do Sistema de Integração agroindustrial (modelo pelo qual estão submetidos os assentados que aderiram à produção de cana-de-açúcar para a Destilaria Alcídia) além de apontarem que toda a coordenação fica a cargo da indústria, sendo que o produtor rural é apenas parte integrante desse processo produtivo, apontam que parte da autonomia do produtor integrado é perdida, embora ele continue a ser proprietário formal de sua propriedade (CEAG-SC, 1978). É a indústria, orientada pelo mercado de produtos finais, que programa sua produção transferindo, ao produtor rural, a incumbência de lhe fornecer a matéria-prima de que necessita, segundo níveis de qualidade pré-fixados e obtidos mediante as orientações técnicas oferecidas pela empresa. No geral, a parte do processo produtivo transferida ao pequeno produtor é aquela de índice menor de rentabilidade, a rotatividade do capital aplicado é menor e o risco de produção é maior. Em suma, este sistema, como qualquer outro apresenta diversos problemas, oferece maiores desvantagens aos produtores nele integrados, principalmente no que diz respeito à dependência, que poderá tornar-se total, a ponto de privá-lo de sua autonomia no que diz respeito à exploração de outras culturas. Nos Projetos de Assentamentos estudados, dos 44 lotes 38 aderiram ao sistema de parceria regulamentado pelo ITESP a partir da já citada Portaria ITESP-75 de 24/10/2002, a qual ssegurou, em parte, à autonomia do assentado, principalmente no que diz respeito à exploração de outras culturas. O Artigo 2° da referida Portaria, conforme já citado, deixa claro: As culturas para fins de processamento industrial poderão ser implantadas nos lotes com área de até 15 ha, ocupando até 50% (cinqüenta por cento) da área total e, nos lotes com área superior a 15 ha, ocupando até 30% (trinta por cento) da área total. Sendo cumprida esta normativa, restam os demais 70% do lote para a edificação e a exploração agrícola e agropecuária. Durante a visita de campo constatamos o cumprimento desta norma e a fiscalização regular por parte do ITESP. UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 19 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA Diante de todas essas questões a principal polêmica em torno da temática se reduz a apenas a ideologia pela qual os Projetos de Assentamentos de Reforma Agrária estão revestidos, mesmo porque, a renda auferida nestes tipos de atividades, além de certa estabilidade garantida ao assentado, complementam a sua renda e garante um maior investimento em outras culturas, ou mesmo na infra-estrutura do lote. Diante da inépcia das Políticas agrícolas voltadas ao pequeno produtor, principalmente o assentado, o consórcio proposto pela empresa esta se apresentando como uma alternativa viável e tem sido recebida com muito entusiasmo pelos assentados, sendo que um dos únicos casos de opção negativa ao cultivo da cana-de-açúcar partiu de um caso específico em que o assentado já detém um padrão de vida elevado, principalmente se comparado aos demais. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTONIO, A.P. O movimento social e a organização do espaço rural nos assentamentos populacionais dirigidos pelo Estado: os exemplos na Alta Sorocabana no período de 196090.São Paulo : [s.n.], 1990.. 177f. : il.. BARONE, L.A. Assentamentos Rurais no Contexto do Pontal do Paranapanema.In: FERRANTE E ALY JUNIOR (org.) Assentamentos Rurais: Impasses e Dilemas (uma trajetória de 20 anos). Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) – Superintendência Regional de São Paulo, 2005. BERGAMASCO, S. M. P. NORDER, L. A. A alternativa dos assentamentos rurais: organização social, trabalho e política. São Paulo: Terceira margem, 2003. FERNANDES, B. M. A formação do MST no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2001 FERRANTE, V.L. S. B., BARONE A. L. e BERGAMASCO, S.M.P. P. A Maioridade dos Assentamentos Rurais em São Paulo: impasses do presente, dilemas do futuro. In: FERRANTE e ALY JUNIOR (org.) Assentamentos Rurais: Impasses e Dilemas (uma trajetória de 20 anos). Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) – Superintendência Regional de São Paulo, 2005. LEITE, J. F. A ocupação do vale do Paranapanema. São Paulo: Hucitec, 1998 (p. 31-72) UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBARLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG LABORATÓRIO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA – LAGEA 20 II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA LEAL, G.M. Impactos Socioterritoriais dos Assentamentos Rurais do Município de Teodoro Sampaio. Dissertação (Mestrado), 2003 – Faculdade de Ciência e Tecnologia - Universidade Estadual Paulista. PORTARIA ITESP-75, de 24-10-2002 – Diário Oficial do Estado – Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo “José Gomes da Silva”, 2002. SANTA CATARINA (ESTADO). Centro de Assistência Gerencial de Santa Catarina (CEAG/SC). Análise do Sistema de Integração Agroindustrial em suínos e aves em Santa Catarina. 1978 SÃO PAULO (Estado) Secretaria da Justiça e de Defesa da Cidadania, Instituto de Terras, Departamento de Assentamento Fundiário. Sobre a proposta da Destilaria Alcídia a respeito da implantação da cultura de cana nos Assentamentos do Pontal do Paranapanema. [S.I. : s.i.], [1994 ou 1995].