OS TERRITÓRIOS DA PESCA: O USO DOS RECURSOS NATURAIS E AS FORMAS IDENTITÁRIAS DOS PESCADORES ARTESANAIS DO ENTORNO DO RIO DO SAL/SE Ronilse Pereira de Aquino Torres - [email protected] Mestranda em Geografia – NPGEO/UFS Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura – NPGEO/UFS Orientadora: Profª. Drª. Maria Augusta Mundim Vargas - [email protected] Universidade Federal de Sergipe – NPGEO/UFS Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura – NPGEO/UFS RESUMO Pretende-se neste trabalho fazer uma abordagem sobre o pesca no Rio do Sal, afluente do Rio Sergipe, retratando os aspectos culturais dos pescadores ainda presentes, como se deu a apropriação dos espaços, bem como a ligação que estas populações têm com a área estudada, os territórios da pesca e suas territorialidades. Procuramos identificar e analisar a permanência da atividade pesqueira, mas, sobretudo, a existência de um território (ou territórios) identitários da pesca. A fenomenologia será a base fundamental para a concretização dos objetivos desse estudo exploratório e qualitativo, utilizando como instrumentos questionários, entrevistas, trabalho de campo e visitas órgãos públicos somados a levantamento bibliográfico referente ao tema aqui tratado. Palavras-chaves: sociedade-natureza, território da pesca, identidade. INTRODUÇÃO Registra-se a influência da pesca no aspecto socioeconômico do país, visto que várias cidades litorâneas se formaram a partir de núcleo de pescadores, no decorrer dos distintos ciclos de nossa história. Com a colonização, a chegada de diferentes povos no território nacional e a miscigenação, verificou-se um desenvolvimento ainda mais significativo na pesca. A pesca sempre fez parte das culturas humanas, não só como fonte de alimento, mas também como modo de vida, contibuindo para a contrução da idendidade das comunidades. No Brasil, a pesca artesanal está ligada, historicamente, à influência de três correntes étnicas que formaram a cultura das comunidades litorâneas: a indígena, a portuguesa e a negra. Da cultura indígena as populações litorâneas herdaram o preparo do peixe para a alimentação, o feitio das canoas e jangadas, as flechas, os arpões e as tapagens; da cultura portuguesa, herdaram os anzóis, pesos de metal, redes de arremessar e de arrastar; e da cultura negra, herdaram a variedade de cestos e outros utensílios utilizados para a captura dos peixes (DIEGUES, 1983). Este trabalho busca fazer uma abordagem sobre o pesca no Rio do Sal, afluente do Rio Sergipe, retratando os aspectos culturais dos pescadores ainda presentes (população e práticas remanescente), como se deu a apropriação dos espaços, bem como a ligação que estas populações têm com a área estudada, os territórios da pesca, as identidades construídas e as territorialidades estabelecidas. (...) a territorialidade emana do grupo produtor, no sentido de que ela é, antes de tudo, a relação culturalmente vivida entre um grupo humano e uma trama de lugares hierarquizados e interdependentes, cujo traçado no solo constitui um sistema espacial – dito de outra forma, um território (BONNEMAISON, 2002, p. 96-97). O Rio do Sal é de grande importância, uma vez que as diversas atividades econômicas como a pesca, a extração do sal, o abastecimento doméstico são desenvolvidos em suas margens. Mas, atualmente o rio vem sofrendo com a pressão urbana e passa por sérios problemas ambientais, relacionados com a ocupação desordenada nas suas margens, tais como: lixeiras a céu aberto, deficiências de sistema de esgoto, desmatamento, contaminação por fontes diversas e a má qualidade de água. A população que vive nas margens do Rio do Sal denuncia que a mortandade de peixes é elevada, muitos não sabem a causa, mesmo assim, muitas pessoas insistem em recolher os peixes para alimentarem suas famílias. Assim, a observação e a caracterização dos elementos presentes na paisagem vêm sendo ponto de partida para a compreensão das relações entre sociedade e natureza. O homem, enquanto um ser social busca na natureza as suas necessidades de sobrevivência, sempre em processo de mudança, construindo e transformando os espaços. Relacionar natureza e sociedade requer uma discussão inicial a respeito do conceito de natureza que se pretende apresentar, bem como as ações da sociedade em direção a natureza, de modo a proporcionar uma reflexão que se alie ao tratamento da questão, buscando um olhar múltiplo sobre estes dois conceitos. Toda sociedade, toda cultura cria, inventa, institui uma determinada ideia do que seja a natureza. Nesse sentido, o conceito de natureza não é natural, sendo na verdade criado e instituído pelos homens e constitui um dos pilares sobre o qual os homens erguem as suas relações sociais, sua produção material e espiritual, enfim, a sua cultura, (GONÇALVES, 2005). O relacionamento dos seres humanos com a natureza faz parte da cultura. Assim, como há várias culturas, vários povos, há também formas variadas de relacionamento dos seres humanos com a natureza. O processo de construção do espaço se dá paralelamente ao processo de construção da própria sociedade. Por ser o espaço construído ao longo da vida das pessoas, o mesmo é resultante da história das pessoas e dos grupos sociais que o habitam, considerando as relações existentes entre as pessoas e grupos e daquelas com a natureza. É resultante também das formas de trabalho, de produção e do lazer. Dentro desse contexto, onde a ocupação e as transformações dos mais diversos ambientes naturais se efetuam de maneira rápida e intensiva, encontram-se as áreas de proteção ambiental, como por exemplo, os terrenos de mangue que margeiam os estuários tropicais. Os problemas ambientais tanto na escala local quanto regional vêm se agravando pelo crescente aumento populacional das cidades localizadas às margens de rios e de seus afluentes. Este aumento exerce uma pressão sobre o ecossistema, provocando perda de áreas naturais pelo desmatamento e aterro dos manguezais e das matas ciliares, além da extração de madeira, construção de habitações, poluição gerada pelo aumento do volume dos esgotos sanitários descartados no ambiente, do lixo urbano, da pesca predatória e da ampliação do número de indústrias e empreendimentos agrícolas implantados nestas áreas. Alguns destes agravantes estão presentes na sub-bacia do Rio do Sal, afluente do Rio Sergipe, localizado na divisa dos municípios de Aracaju e Nossa Senhora do Socorro, objeto desse estudo. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA O Rio do Sal margeia a periferia Norte de Aracaju, onde se encontram os bairros Porto Dantas, Lamarão, Soledade e, os canais afluentes da margem direita encontram-se os bairros Santos Dumont e Bugio. Trata-se de espaços urbanos inicialmente ocupados por população de classe média, mas cujas margens dos canais foram invadidas por favelas e habitações subnormais que se encontram em diferentes estágios de “urbanização”, mas que comprometeram e ainda comprometem sobremaneira a dinâmica ambiental do Rio do Sal. Apresentam problemas socioambientais em vários níveis e dentre eles afetam diretamente a pesca. Na margem esquerda da sub-bacia, no município de Nossa Senhora do Socorro a realidade dos bairros João Alves Filho, Marcos Freire I, II, Loteamento São Braz e Piabeta não difere desta descrita nos bairros de Aracaju. A sub-bacia do Rio do Sal é afluente da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe. Seu nome, Rio do Sal, é uma alusão à antiga exploração de sal mineral proveniente das salinas, que em meados das décadas de 70 e 80 eram numerosas, com cerca de 380 salinas. Atualmente apenas, quatro salinas ainda resistem. Esta sub-bacia localiza-se na divisa entre os municípios de Aracaju e Nossa Senhora do Socorro e ocupa uma área de aproximadamente 332km². De acordo com França (1999) a intensa especulação imobiliária que se estabeleceu a partir da década de 1960, na zona norte de Aracaju, em especial a porção banhada pelo Rio do Sal, passou a ser ocupada por populações de baixa renda, muitas delas migrantes de outros estados brasileiros que se viram excluídas das políticas de habitação traçadas pelo governo de Sergipe. Os problemas ambientais surgem pelo modo como a sociedade se relaciona com a natureza e é dentro desse contexto que se encontram as formas de uso e ocupação de áreas consideradas de preservação permanente, como é o caso dos manguezais. Na tentativa de mudar este quadro, o manguezal é considerado Área de Preservação Permanente, de acordo com a Lei Federal n.º 4771. Porém, este importante ecossistema continua sendo ameaçado, principalmente devido à falta de fiscalização e de planos de recuperação por parte das autoridades competentes. Os manguezais são ecossistemas estuarinos muito especiais e importantes, formados por comunidades altamente diversificadas, que ocupam porção substancial das costas tropicais e subtropicais do planeta. É formado também por um solo altamente fértil e lodoso composto por sedimentos trazidos pelo rio, que se coagulam e se precipitam, misturando-se ao húmus formado pela decomposição das folhas e outras partes das plantas, além dos restos dos próprios animais que habitam a região, o que demonstra tanto sua importância ecológica como também econômica (WIKIPÉDIA, 2010). OS TERRITÓRIOS DA PESCA Neste contexto, procuraremos identificar e analisar a permanência da atividade pesqueira, mas, sobretudo, a existência de um território (ou territórios) identitários da pesca. Assim, analisaremos as comunidades que ainda praticam a pesca nesta área estuarina, buscando identificar as relações dos pescadores com a natureza, suas práticas e finalidades. No tocante à identidade, busca-se analisar a existência de elementos simbólicos que retratem a identificação social expressa nesse território, ou seja, dentro de uma relação de apropriação que se dá tanto no campo das ideias quanto no da realidade concreta e simbólica. Segundo, (PENNA, 1992, p.167). As identidades sociais, puramente simbólicas, são produzidas como representações da realidade de um reconhecimento social da diferença: (...) as marcas da identidade não estão inscritas no real, embora os elementos sobre os quais as representações de identidade são construídas sejam dele selecionados (...). O Território deve ser estudado tomando como referência o espaço, pois ele é formado a partir do espaço geográfico, daí a indissociabilidade entre os dois, apresentando uma visão particular de território, sendo que cada estudioso tem uma visão particular do que seja território, ela é influenciada pela realidade estudada, por seus objetivos e por sua concepção de espaço. O estudo das diferentes acepções do território é fundamental para a formação do geógrafo, pois o espaço, o território e a paisagem são conceitos-chave da ciência geográfica e foram adquirindo concepções variadas no decorrer da história do pensamento geográfico, sendo trabalhados de diferentes maneiras pelos principais autores que contribuíram para um enriquecimento maior dos principais conceitos da Geografia. Questionamos a permanência/insistência da prática pesqueira no estuário do Rio do Sal; se ainda é possível identificar comunidades pesqueiras; se a prática ocorre por uma apropriação simbólica/cultural ou por mera estratégia de sobrevivência de parcela da população “marginal/pobre”; enfim, se podemos afirmar a ocorrência de um território da pesca no estuário do Rio do Sal. Sendo assim, abordaremos o território da pesca do Rio do Sal numa perspectiva social, cultural e ambiental, pois preocupamos com a configuração da área bem como com as pessoas que vivem e se identificam com o lugar, com a investigação das formas de organização dos territórios da pesca. Os valores culturais, as formas culturais e o conteúdo cultural, existe apenas através dos homens e lhe é próprio. Como produtos de corpos e mentes humanos e do seu trabalho e como extensão especializada deles, os valores culturais formam, assim, uma parte totalmente “natural” da natureza. (KROEBER, 1993). Assim, (...) o território apela para tudo aquilo que no homem se furta ao discurso científico e se aproxima do irracional: ele é vivido, é afetividade, subjetividade e muitas vezes o nó de uma religiosidade terrestre, pagã ou deísta. Enquanto o espaço tende à uniformidade e ao nivelamento, o território lembra as ideias de diferença, de etnia e de identidade cultural (...) (BONNEMAISON, 2002, p.126). Godelier (1984) referenciado por (DIEGUES, 2001, p. 38) afirma “que a força mais profunda que movimenta o homem e faz com que invente novas formas de sociedade é sua capacidade de mudar suas relações com a natureza, ao transformá-la”. Ainda segundo Godelier (1984) nenhuma ação intencional do homem sobre a natureza pode começar sem a existência de representações, de ideias que, de algum modo, são somente o reflexo das condições materiais de produção. Em suma, no coração das relações materiais do homem com a natureza aparece uma parte ideal, não-material, onde se exercem e se entrelaçam as três funções do conhecimento: representar, organizar e legitimar as relações dos homens entre si e deles com a natureza. Torna-se, assim, necessário analisar o sistema de representações que os indivíduos e grupos fazem de seu ambiente, pois é com base nelas que eles agem sobre o meio ambiente. Ao longo da história o ser humano foi atuando no espaço, alterando-o de acordo com suas necessidades e aspirações. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente, o homem territorializa o espaço. Neste sentido, Raffestin (1993, p. 144) entende o território como: (...) um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por consequência, revela relações marcadas pelo poder. (...) o território se apoia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção a partir do espaço. Ora, a produção, por causa de todas as relações que envolve, se inscreve num campo de poder (...) Para Raffestin (1993), é essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço concreto ou abstrato, o ator está “territorializando” o espaço. Bonnemaison (2002, p. 107) destaca que: A territorialidade é a expressão de um comportamento vivido: ela engloba, ao mesmo tempo, a relação com o território e, a partir dela, a relação com o espaço “estrangeiro”. Ela inclui aquilo que fixa o homem aos lugares que são seus e aquilo que o impele para fora do território, lá onde começa o “espaço”. Dourado (2011) indica que ao analisar a territorialidade como a expressão de um comportamento, que se desenvolve tendo como referência o lugar, o território, o autor afirma que a territorialidade ao se apoiar sobre uma relação interna e sobre uma relação externa, oscila continuamente entre o fixo e móvel, circunscrevendo-a entre as características inerentes ao território, a identidade e as relações de poder: a ideia de mobilidade, processualidade, dinamismo, fluidez. Os territórios da pesca, como tantos outros territórios, são mais do que meros espaços delimitados geograficamente, entende-se por lugares conhecidos, usados, nomeados e defendidos a partir de um cotidiano íntimo e familiar, estabelecido pelos pescadores enquanto territórios exclusivos, utilizados meramente para a prática da pesca artesanal. Haesbaert (2002, p. 18) classifica o território em três vertentes básicas: 1) jurídico-política, segundo a qual “o território é visto como um espaço delimitado e controlado sobre o qual se exerce um determinado poder, especialmente o de caráter estatal”; 2) cultural(ista), que “prioriza dimensões simbólicas e mais subjetivas, o território visto fundamentalmente como produto da apropriação feita através do imaginário e/ou identidade social sobre o espaço”: 3) econômica, “que destaca a desterritorialização em sua perspectiva material, como produto espacial do embate entre classes sociais e da relação capital-trabalho”. (HAESBAERT citado por SPOSITO, 2004). Saquet (2004) resgata a classificação jurídico-política, cultural e econômica do conceito de território mencionada por Haesbaert (2002) como sendo essencial para se fazer as interligações necessárias. Considera também a vertente da natureza, que sempre estará presente dentro do território. A natureza está no território, e dele é indissociável. É no território que as relações se estabelecem, sejam relações de poder, sociais, culturais, políticas e econômicas. Estas relações não são somente materiais, são também de ordem simbólica. O território aparece como essencial, oferecendo àqueles que o habitam, condições fáceis de intercomunicação e fortes referências simbólicas. Ele constitui uma categoria fundamental de toda estrutura espacial vivida, a classe espacial. A construção da territorialidade é um fenômeno eminentemente cultural. A territorialidade nada mais é que as manifestações sociais dentro do território. (HAESBAERT, 2004.). É dentro desse contexto que será estudada a territorialidade nos territórios da pesca no rio do Sal. Territorialização diz respeito à ocupação de um determinado espaço por determinado grupo humano, constituído por algum critério social: etnia, nacionalidade, condição socioeconômica, nível cultural e outros. Mas a vida é tecida por relações, e daí a territorialidade poder ser definida como um conjunto de relações que se originam num sistema tridimensional sociedade-espaço-tempo em vias de atingir a maior autonomia possível, compatível com os recursos do sistema. (...) Mas essa territorialidade é dinâmica, pois os elementos que a constituem, H r E, são suscetíveis de variações no tempo. É útil, neste caso, que as variações que podem afetar cada um os elementos não obedecem às mesmas escalas de tempo. (RAFFESTIN, 1993, p. 160-161). Castells (1999) em seu texto Paraísos Comunais: identidades e significado na sociedade em rede traz o conceito de identidade cultural. Este autor, entende identidade como o processo de construção de significados com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, o(s) qual(ais) prevalece(m) sobre outras fontes de significados. Dessa forma, toda e qualquer identidade é construída a partir de significados, dentro de um contexto marcado por relações de poder. Castells (2000) afirma que a identidade de um povo pode ser construída a partir de três formas: a) identidade legitimadora: quando é introduzida pelas instituições dominantes da sociedade no intuito de expandir e racionalizar sua dominação em relação aos atores sociais; b) identidade de resistência: criada por posições/condições desvalorizadas e/ou estigmatizadas pela lógica da dominação, construindo assim, trincheiras de resistência e sobrevivência com base em princípios diferentes dos que permeiam as instituições da sociedade; e c) identidade de projeto: quando os atores sociais, utilizando-se de qualquer tipo de material cultural a seu alcance, constroem uma nova identidade, capaz de redefinir sua posição na sociedade e, ao fazê-lo, de buscar a transformação de toda a estrutura social. Nesse contexto, um fator tem sido importante de ser analisado nas comunidades pesqueiras – o significado cultural e a identidade que o pescador e a comunidade local têm da pesca. As práticas socioculturais dão às comunidades pesqueiras características identitárias e culturais, pois passam a ser uma das dimensões da vida social dos pescadores, um espaço de crenças, mitos e utopias, além de adquirir valor simbólico e material para a reprodução da condição humana dos pescadores. Pretende-se com este trabalho, buscar elementos que retratem a identificação social dos pescadores do Rio do Sal, já que esta se expressa através do território, ou seja, dentro de uma relação de apropriação que se dá tanto no campo das ideias quanto no da realidade concreta e simbólica. Comungamos com (PENNA, 1992, p. 167), que diz que as identidades sociais, puramente simbólicas, são produzidas como representações da realidade de um reconhecimento social da diferença: “as marcas da identidade não estão inscritas no real, embora os elementos sobre os quais as representações de identidade são construídas sejam dele selecionados”. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho é parte do projeto de mestrado em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia – NPGEO, da Universidade Federal de Sergipe e tem como proposito, analisar as comunidades que ainda praticam a pesca na área estuarina mencionada anteriormente, buscando identificar as relações dos pescadores com a natureza, suas práticas e finalidades. No tocante à identidade, busca-se analisar a existência de elementos simbólicos que retratem a identificação social expressa nesse território, ou seja, dentro de uma relação de apropriação que se dá tanto no campo das ideias quanto no da realidade concreta e simbólica. A fenomenologia será a base fundamental para a concretização dos objetivos desse estudo exploratório e qualitativo. Para Lencione (1999), a fenomenologia consiste num método e em uma forma de pensar, nos quais a intencionalidade da consciência é considerada chave pra a consideração da percepção advinda das experiências vividas é, assim, considerada etapa metodológica importante e fundamental. Com esta perspectiva buscamos apresentar contribuições à Geografia Cultural e a sociedade no que diz respeito a discussões sobre os processos geográficos responsáveis pelas relações sociais cujas intencionalidades produzem espaços e territórios, neste caso em especial os espaços e territórios da pesca no rio do Sal. REFERÊNCIAS: BERGMANN, Melissa. Análise da percepção ambiental da população ribeirinha do Rio Santo Cristo e de estudantes e professores de duas escolas públicas, município de Giruá, RS. Dissertação (Mestrado em Ecologia). Porto Alegre: UFRS, 2007, 104p. BONNEMAISON, J. Viagem em torno do território. In: CORRÊA, R. L.; ROSENDHAL, Z. (Org.). Geografia cultural: um século. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2002. BRASIL. Lei Federal (1965). Código Florestal Brasileiro – Lei nº 4771, DF: Congresso Federal, 1965. CASTELLS, M. O Poder da identidade. Paraísos comunais: identidades e significado na sociedade em rede. Vol.II, 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CLAVAL, P. O território na transição da pós-modernidade. Revista GEOgraphia. Rio de Janeiro: Ano I, nº 2, p. 7 a 26, dez de 1999. CORRÊA, Roberto L. ROSENDAHL, Zeny. (Orgs). Introdução a Geografia Cultural. Bertrand Brasil. Rio de Janeiro, 2003. DIEGUES, A. C. S. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: NUPABUSP, 1994. DOURADO, Auceia Matos. Território, territórios: identidade dos assentamentos de reforma agrária em questão. Anais do IX ENANPEGE – Encontro Nacional da Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia. Goiânia/GO, 2011. GOBIRA, N. C. M. S. Desvendando o rio Pardo: As marcas de uma paisagem ribeirinha. Percepções e práticas da comunidade tradicional em Itambé no Sudoeste da Bahia. Dissertação (Mestrado em Geografia). São Cristóvão: UFS, 2010, 124 p. HAESBERT, Rogério. Território territórios: concepções de território para entender a desterritorializaçao. Niterói: PPGEO-UFF/AGB, 2002. ________. O mito da desterritorialização: do “fim multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. dos territórios” à KROEBER, A. L. A natureza da cultura: o conceito de cultura em ciência. In: Lisboa: Edições 70, 1993. LENCIONE, S. Região e geografia. In: SPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo: Editora da Unesp, 2004. LEOPOLDO, D. F. MORAIS, V.C. Território e territorialidade: estudo de caso na comunidade quilombola de São Pedro de Cima. Disponível na internet em: http://www.uff.br/vsinga/trabalhos/Trabalhos%20Completos/Dayana%20Francisco%20 Leopoldo.pdf. Acesso em 03 de Ago. 2011. MANGUEZAL. Disponível em: <.http://pt.wikipedia.org/wiki/Manguezal>. Acesso em 14 de Ago. 2001. PENHA, M. O que faz ser nordestino. São Paulo: Cortez, 1992. PORTO, C. W. G. Os (dês)caminhos do meio ambiente. 12. ed. São Paulo: Contexto, 2005. RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. Tradução de Maria Cecília França. São Paulo: Ática, 1993. SAQUET, Marcos Aurélio. O território: diferentes interpretações na literatura italiana. In: RIBAS, A. D.; SPOSITO, Eliseu; SAQUET, Marco Aurélio. Território e desenvolvimento: diferentes abordagens. Francisco Beltrão: Unioeste, 2004. SOUZA, Marcelo José Lopes de. O território: sobre espaço e poder. Autonomia e desenvolvimento. In CASTRO, I. E. de; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (Orgs.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001, p.77- 116.