Protocolo para Tratamento da Fratura-luxação Trans-escafoperisemilunar do Carpo e da Luxação Perisemilunar do Carpo 011 ESTABELECIDO EM 10/11/2006 ÚLTIMA REVISÃO EM 31/08/2009 NOME DO TEMA \\ Protocolo para Tratamento da Fratura-luxação Trans-escafoperisemilunar do Carpo e da Luxação Perisemilunar do Carpo RESPONSÁVEIS – UNIDADE \\ Dr. Samir Haikal Júnior Paulo Randal Pires COLABORADORES \\ Dr. Fernando Milton da Cunha VALIDADORES \\ Corpo Clínico – HMAL INTRODUÇÃO / RACIONAL \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ A luxação do osso semilunar do punho, com ou sem a associação da fratura do escafóide, é uma lesão relativamente comum, sobretudo nos traumas de maior energia e em pacientes jovens. Dados da literatura e também os observados em nossa prática, apontam para dois problemas principais a serem minimizados com este protocolo: 1. O grande número de pacientes com esta lesão inveterada, que procuraram o atendimento inicial e o diagnóstico não foi realizado; 2. A relativa alta frequência de instabilidade carpal ou outras sequelas decorrentes de abordagem terapêutica inadequada. OBJETIVO \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ Uniformizar o atendimento e tratamento da fratura-luxação transescafoperisemilunar do carpo na Rede FHEMIG com o objetivo de: Diminuir o número de casos não-diagnosticados no 1º atendimento; Diminuir a incidência de instabilidade e outras sequelas secundárias a esse tipo de lesão; Comparar nossos resultados com os da literatura; Controlar os resultados ao longo do tempo. MATERIAL/PESSOAL NECESSÁRIO \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ No Bloco Cirúrgico: 1. Intensificador de Imagens (Arco cirúrgico); 2. Furadeiras à bateria; 3. Miniâncoras; 4. Parafuso de Hebert; 5. Material cirúrgico e anestésico habitual; 6. Anestesiologistas; 7. Medicamentos; 8. Fio “K” 1.0 e 1.2; 9. Fio Ethibond 00; No Ambulatório: 10. Mobiliário e ambiente habitual. 11. Equipe de Enfermagem; 12. Técnico de gesso; 13. Material ortopédico padrão para confecção de imobilizações gessadas; 14. Estrutura de material de curativos, retiradas de pontos, pequenos procedimentos; 15. Serviço de radiologia convencional; 16. Equipe de fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais especializada; 17. Micro-computador (PC) para armazenamento dos dados. ATIVIDADES ESSENCIAIS \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ CONDUTA INICIAL 1. Após abordagem para identificação de lesões prioritárias, tais como, TCE, traumatismo abdominal, hemorragia, obstrução de vias aéreas, etc. o paciente deve ser avaliado clínica e radiograficamente, de acordo com as anotações no APÊNDICES I e II deste protocolo; Protocolo para Tratamento da Fratura-luxação Trans-escafoperisemilunar do Carpo e da Luxação Perisemilunar do Carpo \\ 11 \\ pág. 149 2. Feito o diagnóstico, a luxação deverá ser reduzida como descrito abaixo: Sob sedação ou outro recurso anestesiológico no bloco cirúrgico; Após realização de tração moderada mantida por 10 minutos, proceder a extensão do punho ainda com tração axial. Comprimir de palmar para dorsal o semilunar realizando a flexão do punho. Ao terminar o movimento em flexão do punho, manter a compressão do semilunar e retornar o punho para neutro. Verificar com exame radiológico ou no arco cirúrgico; Nos casos irredutíveis ou com extrema migração do semilunar, o acesso palmar deve ser realizado, abrindo o túnel do carpo e seu assoalho. 3. Se não houver condição técnica ou profissional para essa manobra, imobilizar o punho em tala gessada curta e encaminhar o paciente em caráter de urgência (manter o jejum e ministrar analgésicos) para onde possa ser executado o tratamento; 4. Se não houver condição técnica ou profissional para a continuidade do tratamento depois de realizada a redução da fratura-luxação, deve-se imobilizar o punho em tala gessada curta e encaminhar o paciente para onde possa ser executado o tratamento final. Após redução e imobilização, não será considerado urgência, mas demoras superiores a alguns dias são consideradas prejudiciais ao tratamento; 5. Se houver condição técnica e profissional para proceder a realização completa do protocolo, deve-se executar as instruções conforme descrito no item “tratamento” deste protocolo; 6. Solicitar avaliação clínica pré-operatória (exames e risco cirúrgico) conforme necessidade individual. TRATAMENTO 1. Sempre cirúrgico (se lesão aguda); 2. Após verificados os exames pré-operatórios de rotina, o risco cirúrgico e respeitando o tempo mínimo de jejum obrigatório, o paciente é levado ao bloco cirúrgico e, sob anestesia eficaz, é submetido ao procedimento cirúrgico; 3. Não é considerada necessária a sutura dos ligamentos lesados quando há fratura do escafóide; 4. Deve-se suturar o ligamento escafo-semilunar nos casos sem fratura do escafóide; 5. Procede-se à redução incruenta do semilunar (quando for o caso) por manobras de tração (delicada) e flexo-extensão do punho e sob visão do Arco Cirúrgico. PACIENTE SEM FRATURA DO ESCAFÓIDE: Acesso dorsal; Proceder à sutura do ligamento escafo-semilunar e utilizar mini-âncoras em caso de avulsão (mais comum); Fixação percutânea com um ou dois fios de Kirschner 1,0 mm semiluno-piramidal e escafo-semilunar. Deixar os fios sob a pele; Controle da boa redução e fixação com exame radiológico; Imobilização com tala gessada curta que será substituída, após uma semana, por luva gessada que permanecerá por quatro semanas; Reabilitação após a retirada da luva gessada; Retirada dos fios de Kirschner em 12 a 16 semanas. pág. 150 \\ 11 \\ Protocolo para Tratamento da Fratura-luxação Trans-escafoperisemilunar do Carpo e da Luxação Perisemilunar do Carpo PACIENTE COM FRATURA DO ESCAFÓIDE: Fixação da fratura do escafóide com um parafuso de Hebert canulado, introduzido anterogradamente sobre o fio-guia; Fixação percutânea com um ou dois fios de Kirschner 1,0 mm semiluno-piramidal. Deixar os fios sob a pele; Controle da boa redução e fixação com exame radiológico; Imobilização com tala gessada longa por uma semana, que será trocada por luva gessada se fixada com parafuso de Hebert e por gesso axilo-palmar com polegar incluso se fixado com fios de Kirschner; Imobilização gessada por mais quatro semanas; Fisioterapia após a retirada da luva gessada; Retirados fios de Kirschner de 12 a 16 semanas. Obs. No caso de não se conseguir boa redução do escafóide por meios incruentos, será procedido então a redução aberta e fixação, de preferência com parafuso de Hebert. Admite-se a alternativa de fixá-lo com dois fios de Kirschner 1 mm. PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES 1. Tromboembolismo: Devido ao baixo risco de complicações relacionadas ao tromboembolismo nesse perfil de paciente, salvo condições especiais, nenhuma medida específica deverá ser adotada. 2. Infecção: Antibioticoterapia profilática no pré-operatório imediato. Cefazolina 2 g ou Cefalotina 2 g 3. Pseudo-artrose e instabilidade escafo-semilunar: Técnica cirúrgica adequada; Controle radiológico pré-operatório e na primeira semana; Imobilização gessada como sugerido ou maior; Cooperação do paciente. ITENS DE CONTROLE \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ 1. O número de lesões não-diagnosticadas no atendimento inicial será registrado e comparado com as estatísticas prévias, para evidenciar se com a aplicação do protocolo houve diminuição da sua incidência. 2. Os pacientes com esse diagnóstico serão cadastrados e seus resultados individuais devem conter os seguintes dados: a. Identificação; b. Idade, sexo, profissão e mão dominante; c. Mecanismo e tipo de trauma; d. Data do diagnóstico e tratamento; e. Tempo de imobilização; f. Presença ou não da fratura do escafóide; g. Se o protocolo não foi seguido, apresentação do motivo do desvio; h. Mensurações de ADM, força deste punho e mão e contra-lateral; i. Retorno ou não do paciente às atividades prévias; j. Necessidade de nova cirurgia e sua descrição sumária; k. Satisfação do paciente com o resultado final. (dor, ADM, etc). Protocolo para Tratamento da Fratura-luxação Trans-escafoperisemilunar do Carpo e da Luxação Perisemilunar do Carpo \\ 11 \\ pág. 151 SIGLAS \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ ADM – Amplitude de Movimento HMAL – Hospital Maria Amélia Lins HPS – Hospital de Pronto Socorro (João XXIII) Fio “K” – Fio de Kirschner R E F E R Ê N C I A S \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ GRAU DE RECOMENDAÇÃO / NÍVEL DE EVIDÊNCIA 1. Mayfield JK, Johnson RP, Kilcoyne RK: Carpal dislocations: pathomechanics and progressive semilunar instability. J Hand Surgery [Am] 5: 226-241, 1980. D 2. Palmer AK, Dobyns JH, Linscheid RL: Management of post-traumatic instability of the wrist secondary to ligament rupture. J Hand Surg [Am] 3: 507-532,1978. C 3. Short WH, Werner FW, Green JK, Masaoka S: Biomechanical evaluation of ligamentous stabilizers of the scaphoid and lunate. J Hand Surg [Am] 27: 991-1002, 2002. B 4. Herzberg G, Forissier D: Acute dorsal trans-scaphoid perilunate fracture-dislocations: Medium-term results. J Hand Surg [Br] 27: 498502, 2002. C 5. Short WH, Werner FW, Green JK, Masaoka S: Biomechanical evaluation of the ligamentous stabilizers of the scaphoid and lunate: Part II. J Hand Surg [Am]; 30: 24-34, 2005 . A ANEXOS/LINKS \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ ALTERNATIVA EM CASO DE DESVIOS E AÇÕES NECESSÁRIAS DIAGNÓSTICO CLÍNICO 1. Suspeita-se de fratura-luxação trans-escafoperisemilunar do carpo em vítima de traumatismo indireto sobre o punho em hiperextensão apresentando: Dor no punho; Limitação da amplitude de movimentos do punho. 2. Sempre suspeitar e investigar sobre a data e mecanismo de trauma para jamais tratarmos uma lesão inveterada como se fosse aguda. 3. As lesões inveteradas têm protocolo próprio; 4. Mais comum em homens jovens; 5. Verificar sempre: Condições gerais e outras lesões; Condições da pele; Funcionamento do nervo mediano (comumente comprimido); Testes motores dos dedos. DIAGNÓSTICO RADIOLÓGICO 1. PA e perfil do punho suspeito e contra-lateral: No PA O diagnóstico pode passar despercebido; Pode apresentar sobreposição aumentada entre o semilunar e o capitato e entre o semilunar e o rádio; pág. 152 \\ 11 \\ Protocolo para Tratamento da Fratura-luxação Trans-escafoperisemilunar do Carpo e da Luxação Perisemilunar do Carpo Identificar as fraturas comumente associadas e relacionadas: Do escafóide; Do estilóide radial; Do estilóide ulnar; De outros ossos do carpo, como capitato, piramidal, trapézio, etc. No Perfil A concavidade do semilunar geralmente aponta para palmar, desencaixada do pólo proximal do capitato; O capitato pode se apresentar migrado proximalmente; Identificar outras fraturas e deslocamentos, com especial atenção para o escafóide. Frequentemente o paciente já chega com a lesão reduzida. Nesse caso é obrigatória a apresentação dos exames radiológicos prévios demonstrando a lesão. Na impossibilidade de recuperação, um relatório médico deve ser feito pelo ortopedista ou cirurgião que prestou a assistência inicial, em que conste se houve, de fato, a luxação. FLUXOGRAMA Lesão traumática do carpo Avaliação clínica: Dor e limitação de movimento do punho após trauma. Pesquisar lesões associadas e o nervo mediano Avaliação Radiográfica: Incidências PA e perfil dos punhos. Identificar fraturas associadas Fratura-luxação transescafoperisemilunar do carpo Tratamento cirúrgico Avaliação pré-operatória de rotina e risco cirúrgico Lesão sem fratura do escafóide Lesão com fratura do escafóide Fixação semiluno-piramidal e scafo-semilunar com 1 ou 2 fios de kirschner. Sutura do ligamento escafosemilunar (acesso dorsal) Fixação semiluno-piramidal e scafo-semilunar com 1 ou 2 fios de kirschner. Fixação da fratura de escafóide com parafuso canulado de Hebert Protocolo para Tratamento da Fratura-luxação Trans-escafoperisemilunar do Carpo e da Luxação Perisemilunar do Carpo \\ 11 \\ pág. 153