Prognóstico dos lactentes com bronquiolite viral aguda Dra. Luciana F. V. Monte Fevereiro 2017 Prognóstico dos lactentes com bronquiolite viral aguda Dra. Luciana F. V. Monte Médica pneumologista pediatra pela USP Mestre em Pediatria pela USP Coordenadora da Pneumologia Pediátrica do Hospital da Criança de Brasília José Alencar / Hospital de Base-DF Professora de Pediatria da Universidade Católica de Brasília Ausência de conflito de interesses Prognóstico dos lactentes com bronquiolite viral aguda Bronquiolite viral aguda (BVA) Prognóstico nos lactentes Sequela grave: bronquiolite obliterante BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA Uma das principais causas de admissão hospitalar no mundo em lactentes < 1 ano Pico de incidência: 2 a 6 meses de idade SAZONALIDADE: outono / inverno TRANSMISSÃO: contato direto (mãos, objetos) AAP. Pediatrics Vol 134 Nov 2014 Rodrigues JC e cols. Doenças Respiratórias USP. Ed Manole 2008 INFLAMAÇÃO EDEMA MUCO OBSTRUÇÃO E SIBILÂNCIA Vírus Sincicial Respiratório (VSR) : o principal agente BVA: primeiro evento de sibilância associada a um quadro de infecção respiratória viral ? Diagnóstico da BVA Clínico-epidemiológico. Pesquisa de vírus respiratórios na secreção respiratória (aspirado em nasofaringe ou swab nasal): importante do ponto de vista epidemiológico. Exames complementares: casos selecionados de maior gravidade ou dúvida diagnóstica. Hemograma, PCR, VHS AAP. Pediatrics Vol 134 Nov 2014 Diretrizes para o Manejo da Infecção Causada pelo VSR, 2011 Rodrigues JC e cols. Doenças Respiratórias USP. Ed Manole 2008 Abordagem da BVA Manter a hidratação ADEQUADA Oxigenoterapia quando indicada* Soro fisiológico nas narinas Internação se indicada (< 5% dos casos em lactentes saudáveis x 17% população de risco*). ISOLAMENTO CONTATO / GOTÍCULAS. Algumas técnicas de fisioterapia podem ser benéficas Aguardar a história natural do vírus, reavaliar, orientar e ter atenção aos sinais de gravidade Controverso: β-2-agonista, epinefrina, SSH 3% AAP. Pediatrics Vol 134 Nov 2014 Cochrane Database Syst Review 2/ 2016 Diretrizes para o Manejo da Infecção Causada pelo VSR, 2011 Maquire C et al. BMC Pulm Med Nov/ 2015 Zhang L et al. Pediatrics 2015. Oct;136(4):687-701 Brooks et al. JAMAPediatr.doi:10.1001/jamapediatrics.2016 Legg JP, Cunningham S. Arch Dis Child, Vol 100 (12), December 2015 EVOLUÇÃO Casos leves: melhoram em 5 a 7 dias Evolução mais lenta nas crianças com comorbidades Mortalidade < 1% 3 X maior na população de risco* Sintomas (tosse) podem permanecer até por ~ 1 mês PROGNÓSTICO Rodrigues JC e cols. Doenças Respiratórias USP. 2008 Prognóstico dos lactentes com BVA “ Disseram que é bronquiolite; vai virar asma, doutor ? ” “ O bebê vai chiar outras vezes ? ” Prognóstico dos lactentes com BVA Várias coortes: UK; Tucson-USA; North Carolina-USA; Suécia; Austrália e muitas outras... Hospitalização por BVA com VSR 3,5 X mais sibilância aos 6 anos de idade e 2,5 X mais asma aos 7 anos. Hospitalização por BVA crises de tosse, sibilância, hiperresponsividade brônquica: 75% nos 2 anos subsequentes 60% aos 3-4 anos 42% aos 5 anos 22% aos 8-10 anos Milner AD, Editorial. Thorax, 44, 1989 Price JF. Lung Suppl:414—421, 1990 Sangrador C et al. An Pediatr (Barc), 72 (5), 2010 Gidaris D, Urquhart D, Anthracopoulos MB. Respiroloogy, 19, 2014 Prognóstico dos lactentes com BVA 39% (asma pós-hospitalização por BVA VSR) X 9% (controles) 3 X mais asma (BVA por rinovírus) aos 6 anos Metapneumovírus 5 X Palivizumabe: 60 a 80% de redução do risco de sibilância recorrente em lactentes e pré-escolares prematuros (?) HÁ ASSOCIAÇÃO entre bronquiolite aguda nos lactentes e o diagnóstico subsequente de ASMA ou sibilância IDADE PRECOCE e GRAVIDADE da BVA Gidaris D, Urquhart D, Anthracopoulos MB. Respiroloogy, 19, 2014 Milner AD, Editorial. Thorax, 44, 1989 CRÍTICAS: critérios heterogêneos – definição, clínica, grupo etário, vírus estudados. HÁ ASSOCIAÇÃO entre bronquiolite aguda nos lactentes e o diagnóstico subsequente de “ASMA” (sibilância) Bronquiolite provoca a asma ? OU A bronquiolite ocorre em crianças predispostas a ter asma (por vias aéreas mais estreitas, características imunológicas por exemplo) ? VÁRIAS HIPÓTESES e POUCAS RESPOSTAS... Gidaris D, Urquhart D, Anthracopoulos MB. Respiroloogy, 19, 2014 Sangrador C et al. An Pediatr (Barc), 72 (5), 2010 Sly P et al. J ALLERGY CLIN IMMUNOL, 125 (6), 2010 Fatores do hospedeiro: genéticos, resposta imune, antecedentes de atopia, agravos neonatais etc... Fatores ambientais: exposição ao tabagismo, vírus, idade, gravidade, poluição, aglomeração, desmame precoce etc... “ Disseram que é bronquiolite; vai virar asma, doutor ? ” “ O bebê vai chiar outras vezes ? ” Sim, é provável ! MAS... Não há resposta igual para todos. Ainda não há marcadores para prever... O pediatra deve: Orientar higiene ambiental e medidas preventivas Ficar atento, especialmente nos bebês que passaram por episódios mais graves Gidaris D, Urquhart D, Anthracopoulos MB. Respiroloogy, 19, 2014 Sly P et al. J ALLERGY CLIN IMMUNOL, 125 (6), 2010 Se existe essa alta probabilidade.... Podemos diminuir a sibilância pós-BVA ? Prevenção quanto à exposição a alérgenos e irritantes Corticosteróides inalatórios ?? Asma e Sd do Lactente Sibilante: crises 2 vezes/ mês período intercrítico sintomático (sintomas contínuos ou 2 vezes/ semana ou com função pulmonar anormal) crises graves/ risco de morte (iniciar com doses mais altas e reduzir o mais rapidamente possível) Montelucaste ?? Rodrigues JC e cols. Doenças Respiratórias USP. 2008 Gidaris D, Urquhart D, Anthracopoulos MB. Respiroloogy, 19, 2014 Apesar de alguma evidência, ainda não se pode afirmar que o montelucaste possa prevenir episódios subsequentes de sibilância (ou outros sintomas) ou o uso de corticoide pósbronquiolite. O montelucaste tem papel no tratamento da Asma e da Síndrome do Lactente Sibilante. Rolfsjord et al. Março de 2016 PROFILAXIA Desinfecção Isolamento Ministério da Saúde www.portalsaude.gov.br Imunização ativa contra VSR: ainda não... Imunização passiva: palivizumabe Profilaxia com PALIVIZUMABE no DF Prematuros, sem DPC, sem CC IG ≤28 semanas (28+6) (se ≤12 meses no início do período sazonal) IG 29-32 semanas (se ≤6 meses no início do período sazonal) – 5 doses Cardiopatia congênita hemodinamicamente significativa Displasia broncopulmonar* (DBP) Desde abril/ 2013 Se ≤24 meses no início do período sazonal *Em tratamento contínuo para DPC nos últimos 6 meses http://www.saude.df.gov.br/programas/296-programas-saude-da-crianca.html Bronquiolite Obliterante Sequela grave Cerca de 1% dos casos de BVA evoluem dessa forma Adenovírus (principalmente 7 e 21) estão envolvidos em grande parte dos casos OBSTRUÇÃO IRREVESÍVEL E / OU OBLITERAÇÃO DAS PEQUENAS VIAS AÉREAS: bronquiolite constrictiva FATORES GENÉTICOS E AMBIENTAIS Milner AD, Editorial. Thorax, 44, 1989 Rodrigues JC e cols. Doenças Respiratórias USP. Ed Manole 2008 Castro-Rodriguez et al. Acta Pædiatrica, 103, 2014 Bronquiolite Obliterante: quando suspeitar ? Agravo inicial: geralmente bebês pequenos com bronquiolite grave. Presença de sinais e sintomas de obstrução grave e persistente das pequenas vias aéreas por meses a anos Sibilos, crépitos, atelectasia crônica ou recorrente, deformidade torácica, hipoxemia, baqueteamento digital, infecções pulmonares secundárias, redução da capacidade para o exercício, redução da função pulmonar e da qualidade de vida, cor pulmonale ... Milner AD, Editorial. Thorax, 44, 1989 Rodrigues JC e cols. Doenças Respiratórias USP. Ed Manole 2008 Castro-Rodriguez et al. Acta Pædiatrica, 103, 2014 Bronquiolite Obliterante: diagnóstico e abordagem Clínico-tomográfico - 6 a 8 semanas após o agravo Casos selecionados: biópsia pulmonar Abordagem interdisciplinar em centro especializado Oxigenoterapia quando indicada Vacinas, higiene ambiental e tratamento precoce das infecções secundárias Fisioterapia, Nutrição, Reabilitação, Qualidade de vida Tratamento: controverso Transplante pulmonar pode ser necessário Castro-Rodriguez et al. Acta Pædiatrica, 103, 2014 Rodrigues JC e cols. Doenças Respiratórias USP. Ed Manole 2008 Fischer GB et al. Paediatric Respiratory Reviews, 3, 2002 Padrão de atenuação em mosaico Bronquiectasias, espessamento, hiperinsuflação, atelectasia, muco Prognóstico dos lactentes com bronquiolite viral aguda Bronquiolite viral aguda é muito frequente Abordagem conservadora: menos é melhor Atenção para a população de risco de desenvolver BVA grave Sibilância recorrente pós-BVA nos pacientes é algo muito provável Bronquiolite obliterante é uma complicação rara, mas possível Prevenção é a melhor arma Obrigada !