UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA NUTRIÇÃO ONCOLÓGICA EM PACIENTES PEDIÁTRICOS Juiz de Fora – MG 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS CURSO DE NUTRIÇÃO NUTRIÇÃO ONCOLÓGICA EM PACIENTES PEDIÁTRICOS por Érika Fabiana Souza Isabela Oliveira Furtado Gomes Marcelo Beneteli Natália Porto Alves Welington Sávio Trabalho de Introdução à Nutrição Prof. Renato Moreira Nunes. Orientador Juiz de Fora / MG, novembro de 2010 Agradecimento Ao nutricionista Marcos Vidal Martins, pela atenção e disponibilidade de nos ajudar na elaboração desse trabalho. Ao professor Renato Nunes por ter nos orientado. A todos os que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desta pesquisa. RESUMO O câncer é uma doença catabólica, em que o tumor maligno atua de forma a consumir as reservas nutricionais do hospedeiro, levando ao prejuízo nutricional. Considera-se como câncer na infância toda neoplasia maligna que afeta a indivíduos menores de 15 anos. É necessário conferir especial importância a uma boa alimentação durante essa fase, especialmente porque um regime alimentar adequado pode permitir que a criança tolere melhor a quimioterapia ou a radiação e acuse menor quantidade de efeitos secundários, seja curada, cresça e se desenvolva e melhore sua qualidade de vida. O acompanhamento do paciente pediátrico em cuidados paliativos deve ser individualizado e realizado por equipe interdisciplinar especializada, com o objetivo de aliviar os sintomas e promover o prazer e a qualidade de vida. Há várias evidências de que a alimentação tem um papel importante nos estágios de iniciação, promoção e propagação do câncer, destacando-se entre outros fatores de risco. Palavras-chave: câncer, criança, nutrição, terapia nutricional. ABSTRACT Cancer is a catabolic illness, where a malignant tumor acts in the way to consume the host nutritional reserves, leading to nutritional loss. It is considered as a childhood cancer all malignant neoplasy that affects individuals younger than 15 years. It needs to give special importance to a good nutrition during this phase, especially because a proper diet can allow the child to better stand for chemotherapy or radiation and accuse fewer side effects, be healed, grow and develop and improve their quality of life. The monitoring of pediatric palliative care must be individualized and carried out by a multidisciplinary specialized team in order to relieve the symptoms and promote the enjoyment and quality of life. There are a lot of evidence that feeding plays an important role in the stages of initiation, promotion and spread of cancer, especially among other risk factors. Keywords: cancer, child, nutrition, nutritional therapy. 1. CÂNCER Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas. Por outro lado, um tumor benigno significa simplesmente uma massa localizada de células que se multiplicam vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramente constituindo um risco de vida13. É uma doença catabólica, em que o tumor maligno atua de forma a consumir as reservas nutricionais do hospedeiro, levando ao prejuízo nutricional, e é um importante problema de saúde pública em países desenvolvidos e em desenvolvimento, sendo responsável por mais de seis milhões de óbitos a cada ano, representando cerca de 12% de todas as causas de morte no mundo7,9. As causas de câncer são variadas, podendo ser externas ou internas ao organismo, estando ambas interrelacionadas. As causas externas relacionam-se ao meio ambiente (80% a 90% dos cânceres) e aos hábitos ou costumes próprios de um ambiente social e cultural. As causas internas são, na maioria das vezes, geneticamente pré-determinadas, estão ligadas à capacidade do organismo de se defender das agressões externas. Esses fatores causais podem interagir de várias formas, aumentando a probabilidade de transformações malignas nas células normais. Os tipos de câncer que se relacionam aos hábitos alimentares ainda figuram entre as seis primeiras causas de mortalidade por câncer no Brasil13,17. 1.1 O que é Quimioterapia? É um tipo de tratamento em que se utilizam medicamentos para combater o câncer. Os medicamentos, em sua maioria, são aplicados na veia, podendo também ser dados por via oral, intramuscular subcutânea, tópica e intratecal (pela espinha dorsal). Estes medicamentos se misturam com o sangue e são levados a todas as partes do corpo, destruindo as células doentes que estão formando o tumor e impedindo, também, que se espalhem pelo corpo16. 1.2 O que é radioterapia? A radioterapia é um tratamento no qual se utilizam radiações ionizantes (raio-x, por exemplo), que são um tipo de energia, para destruir ou impedir que as células do tumor aumentem14. 2. PACIENTE ONCOLÓGICO PEDIÁTRICO Considera-se como câncer na infância toda neoplasia maligna que afeta a indivíduos menores de 15 anos. O câncer infanto-juvenil no Brasil é considerado raro, representando de 2% a 3% de todos os tumores malignos. A sua taxa de incidência na infância vem crescendo em torno de 1% ao ano1,2,12,13. O câncer infantil já é considerado, atualmente, uma doença potencialmente curável. Entretanto, apesar dos notáveis progressos verificados nas últimas décadas, há ainda um grande número de pacientes que não consegue obter a cura e necessita de cuidados paliativos na fase final de sua doença. Os cuidados paliativos compreendem um conjunto de medidas que enfatiza o cuidar global do paciente, quando este não apresenta mais possibilidades terapêuticas de cura4. O universo do cuidar é mais abrangente do que o de curar. Sob esta ótica, os cuidados paliativos têm como objetivo atingir o máximo bem-estar físico, psíquico e social, fornecendo melhor qualidade de vida ao indivíduo e sua família. Por este motivo, o enfoque maior é dado ao controle da dor, sofrimento e melhora dos sintomas, e não em restabelecer a saúde integralmente. As necessidades de higiene e nutrição são valorizadas e oferecidas, pois também são partes do tratamento4. O câncer infanto-juvenil se apresenta de forma bem diferente daquele que acomete os adultos (etiologia, histologia, evolução e resposta ao tratamento), tornando a prevenção e o diagnóstico precoce mais difícil4. O tratamento, que é a principal estratégia contra o câncer em pacientes pediátricos, deve ser realizado por equipe multiprofissional (médicos, enfermeiras, nutricionistas, fisioterapeutas, além de apoio psicológico, social e espiritual) em instituições especializadas, garantindo maior sobrevida com o mínimo de efeitos colaterais. No caso da criança, sua família também deve ser incluída nesta abordagem multidisciplinar4. O câncer pediátrico acomete mais a criança em idade pré-escolar, com idade média de cinco anos. As crianças portadoras de câncer geralmente apresentam inapetência que pode levar a desnutrição protéico-calórica ao diagnóstico ou após o início do tratamento. A desnutrição em crianças com câncer é clinicamente manifestada por perda de peso, anorexia e ingestão alimentar inadequada. Ela correlaciona-se com maior número de infecções, menor resposta terapêutica, maior probabilidade de recidivas e menores taxas de sobrevida. O grau de desnutrição também está relacionado ao tipo de câncer, extensão da doença e tratamento estabelecido. O estresse da internação e a separação da família são outros fatores que podem levar o paciente pediátrico ao risco nutricional3,4,20. O metabolismo proteico se encontra alterado em pacientes com câncer. As necessidades de energia e nutrientes para crianças variam de acordo com a faixa etária, sexo, peso e estatura e devem permitir um crescimento e desenvolvimento adequados e a manutenção de um bom estado de saúde4 (Quadro 2). A nutrição, portanto, deve ter como objetivo oferecer substratos visando manter ou minimizar as perdas nutricionais comuns nesta população, mas sobretudo proporcionar conforto emocional, alívio dos sintomas, prazer, auxiliar na diminuição da ansiedade, aumentar a autoestima e independência, além de permitir maior comunicação com seus familiares, devendo ser adequada aos hábitos e às condições clínicas da criança, sempre que possível4. 3. COMO LIDAR COM OS EFEITOS COLATERAIS Os efeitos adversos causados pela quimioterapia e radioterapia incluem náuseas, vômitos, mucosites, anorexia, entre outros4. Por essa razão, é necessário conferir especial importância a uma boa alimentação durante essa fase, especialmente porque um regime alimentar adequado pode permitir que a criança tolere melhor a quimioterapia ou a radiação e acuse menor quantidade de efeitos secundários, seja curada, cresça e se desenvolva e melhore sua qualidade de vida1. Os suplementos orais líquidos à base de leite são os suplementos de maior aceitabilidade, levando em consideração a alteração de paladar nos pacientes em quimioterapia. Adotando o uso diário de suplementos observa-se um aumento na adequação das recomendações nutricionais11. A criança com câncer tem maior necessidade de ingerir as calorias e proteínas necessárias para o crescimento e para ajudar o organismo no processo de cura. Se o menor não consegue ingerir as calorias e proteínas necessárias, o médico ou o nutricionista sugerirão que lhe sejam oferecidos alimentos com alto teor calórico e protéico, como ovos, leite, pasta de amendoim e queijo. Em certas ocasiões, e mesmo que se trate de alimentos com alto teor calórico e protéico, as crianças com câncer podem não ter desejo de comer. Nesse caso, é possível que se deva recorrer à alimentação por sonda, para ajudar a criança a nutrir-se adequadamente e assim evitar um quadro de desnutrição1. Ocorre também que crianças nessas condições necessitam de nutrição parenteral total (total parenteral nutrition, TPN) para complementar suas necessidades nutricionais. A TPN é uma mistura especial de glicose, proteínas, gordura, vitaminas e minerais que é administrada por via endovenosa (IV). Muitos chamam a esse procedimento “alimentação endovenosa”. A TPN proporciona à criança os nutrientes necessários quando ela é incapaz de ingeri-los ou absorvê-los diretamente dos alimentos1. Sugestões práticas para lidar com os efeitos colaterais do tratamento, que possam afetar seus hábitos alimentares3: Queda do cabelo: a queda do cabelo pode ser total ou parcial e leva geralmente de 14 a 21 dias16. Prisão de ventre: ocorre quando há dificuldade de evacuar e/ou quando há retenção de fezes por vários dias. Recomenda-se optar por alimentos ricos em fibras como laranja, mamão, ameixa, uva, vegetais e cereais integrais e beber mais líquidos (água, sucos, refrescos, por exemplo)16. Feridas na boca: a quimioterapia pode provocar o aparecimento de feridas parecidas com aftas na boca, estômago e intestino. Recomenda-se evitar alimentos ácidos, condimentados, de consistência dura e quente, alimentos picantes ou salgados, alimentos ásperos, secos e de textura grossa (verduras cruas, biscoitos salgados, torradas), dar preferência aos alimentos gelados, líquidos e pastosos15,16. Hiperpigmentação: alguns remédios utilizados no tratamento quimioterápico podem causar escurecimento da pele quando exposta aos raios solares, principalmente nas dobras das articulações, nas unhas e no trajeto das veias16. Anemia: os remédios usados para combater as células doentes também destroem algumas das células sadias do nosso organismo. Algumas das células mais afetadas são as do sangue. Recomenda-se manter uma dieta saudável, rica em legumes, verduras, frutas e cereais e pobre em gorduras15,16. Perda de apetite: O tratamento do câncer infantil utiliza algumas drogas que levam a alterações do apetite devido a efeitos colaterais da droga no sistema digestivo; uma das queixas sugeridas na literatura que levam a alterações do apetite é a mucosite que pode agredir desde a boca até o ânus. Essa mucosite pode vir a comprometer a ingestão alimentar levando a criança a comer menos do que sua necessidade e a rejeitar certos alimentos que incomodem, além do que compromete também a comunicação. Ofereça-lhe comidas e refeições ligeiras com alto teor calórico e protéico1,15,20. Foi feito um estudo em Florianópolis com o objetivo de constatar alterações no apetite de crianças que estão em tratamento quimioterápico, e foram obtidos os seguintes resultados: 37% das crianças atendidas, ao passo que 63% não relataram nenhuma alteração no apetite. Dor na boca ou na garganta: a radioterapia e os medicamentos podem causar dores na boca, gengivas ou na garganta, devido ao surgimento de aftas. Alguns cuidados especiais poderão facilitar o ato de comer: evite alimentos ácidos, picantes, muito condimentados ou salgados, prefira alimentos fáceis de mastigar e engolir (purê, suflê, mingau, pudim, gelatina etc)1,3,16. Mudança nas sensações de olfato e paladar: as sensações de olfato e paladar podem mudar durante o período de doença ou tratamento. Devido a uma condição a que se dá o nome de ageusia (perda ou enfraquecimento da sensação gustativa), os alimentos podem parecer ter gosto amargo ou metálico, especialmente a carne ou outros alimentos ricos em proteínas. Outros parecerão ter menos sabor. A quimioterapia, a radioterapia ou o próprio câncer podem causar esses problemas3. Náuseas e vômitos: a náusea, com ou sem vômito, é um efeito colateral comum da quimioterapia e da radioterapia. Seja qual for a causa, ela poderá impedir a ingestão suficiente de alimentos e dos nutrientes necessários. Evite frituras e alimentos gordurosos, chupar gelo pode ajudar a diminuir o enjôo, beba sucos ou chupe picolés de frutas cítricas, como limão3. Diarreia: ela pode ser causada pela quimioterapia, radioterapia da barriga, infecção ou sensibilidade a certos alimentos. Procure ingerir alimentos como banana, água de coco, chuchu, cará, pois eles ajudam a controlar ou evitar a diarreia. Evite frituras e alimentos gordurosos, verduras, mamão, laranja, ameixa e aveia, condimentos fortes como pimenta, além do leite e seus derivados; evite alimentos açucarados como chocolates; evite os alimentos com alto teor de fibras, inclusive os seguintes: nozes e sementes, grãos integrais, feijão e ervilhas secas, frutas e verduras cruas1,3,15,16. Constipação: alguns medicamentos contra o câncer e outros (como os analgésicos) podem causar constipação. Esse problema também pode ocorrer quando o regime alimentar é carente de líquidos ou de volume, ou então quando o paciente fica muito tempo acamado. Coma alimentos fibrosos: como pão integral, cereais e macarrão; frutas frescas e verduras; feijão e ervilha; grãos integrais, como cevada ou arroz. Coma frutas e batatas com casca1,3,15. Ganho de peso: às vezes, os pacientes engordam durante o tratamento, mesmo sem ingerirem calorias em excesso. O peso extra é constituído por água, e não significa que você está comendo demais. Se o medicamento contra o câncer estiver provocando a retenção de água, o médico poderá pedir-lhe que consulte um nutricionista. Este poderá ensinar-lhe como diminuir a ingestão de sal, o que é importante, porque o sal provoca a retenção de mais água pelo organismo3. Cáries: o câncer e o seu tratamento podem causar cáries e outros problemas dentários e gengivais. As mudanças nos hábitos alimentares também podem agravar esse problema. Evite ingerir alimentos que grudem nos dentes, tais como caramelo ou balas puxa-puxa3. Intolerância à lactose: “intolerância à lactose” significa que o organismo não consegue digerir ou absorver o açúcar existente no leite, chamado lactose. A lactose também está presente em laticínios e em alimentos que contêm leite3. A intolerância à lactose pode ocorrer após tratamento com certos antibióticos, com a radiação no estômago ou com qualquer tratamento que afete o tubo digestivo. Isto porque a parte do intestino que decompõe a lactose pode ter deixado de funcionar devidamente durante o tratamento. Em algumas pessoas, poderá ser necessária uma mudança permanente nos hábitos alimentares3. Se o leite é uma das principais fontes de proteínas do seu regime alimentar, será necessário passar a obter essas proteínas de outros alimentos. Certos produtos à base de soja e os queijos meia-cura ou curados são boas fontes de proteínas e de outros nutrientes. Também existem leites com pouca lactose, que você pode experimentar, ou então utilizar certos preparados que ajudam a decompor a lactose presente no leite e em outros laticínios3. 4. PAPEL DO NUTRICIONISTA No tratamento do câncer o trabalho do nutricionista tem como objetivo prevenir e tratar a desnutrição, promover o crescimento e o desenvolvimento normal da criança, melhorar a resposta imunológica, aumentar a tolerância do paciente ao tratamento e melhorar a sua qualidade de vida, diminuindo com isso os efeitos nocivos à saúde. A intervenção nutricional é importante em qualquer etapa do tratamento, porém é mais eficaz quando iniciada ao diagnóstico. O principal objetivo da terapia nutricional (TN) em crianças em risco nutricional ou desnutridas submetidas à quimio e/ou radioterapia é oferecer energia, fluidos e nutrientes em quantidades adequadas para manter as funções vitais e a homeostase4. Várias são as possibilidades de administração da TN, desde a terapia nutricional enteral (TNE - nutricionista, médico e enfermeiro) via oral ou via sonda até a TN via parenteral (farmacêutico, médico e enfermeiro), sendo esta última somente indicada na vigência da impossibilidade total ou parcial do uso do trato gastrointestinal. A TNE via oral (nutricionista) é a mais recomendada e deve ser a primeira opção quando a ingestão alimentar for menor do que 75% das recomendações em até cinco dias consecutivos. A TNE via sonda deve ser considerado mediante a impossibilidade da utilização da via oral ou na presença de ingestão alimentar inadequada (menor do que 60% das recomendações por até cinco dias consecutivos), sem expectativa de melhora da ingestão4. A atuação do nutricionista é ampla e deve estar presente em todas as fases do tratamento curativo e paliativo do paciente oncológico pediátrico, incluindo avaliação nutricional (AN), cálculo das necessidades nutricionais, instituição da terapia nutricional (TN) e acompanhamento ambulatorial. Devido ao crescimento contínuo da criança, a AN periódica permite que os problemas sejam detectados e tratados precocemente. As necessidades energética, protéica e hídrica para crianças variam de acordo com a faixa etária. A TN adequada minimiza os efeitos debilitantes da doença e aumenta a ingestão oral, promovendo melhora do estado nutricional4. O acompanhamento do paciente pediátrico em cuidados paliativos deve ser individualizado e realizado por equipe interdisciplinar especializada, com o objetivo de aliviar os sintomas e promover o prazer e a qualidade de vida. Embora seja de primeira ordem o papel da nutrição na atenção global à criança, só recentemente ela tem sido reconhecida como parte integrante do complexo multidisciplinar que envolve a abordagem do pequeno paciente portador de neoplasia maligna4,10. Mesmo com necessidades nutricionais aumentadas, as recomendações de nutrientes para criança com câncer são as mesmas das crianças saudáveis. O acompanhamento através de controle de ingestão alimentar deve ser realizado para verificar se as necessidades nutricionais estão sendo atingidas. A escolha de uma dieta adequada e seu monitoramento é imprescindível, para se evitar a superalimentação e suas conseqüências indesejáveis4. 4.1 Suporte emocional, suspensão do tratamento e alívio da dor Um dos aspectos mais importantes durante o tratamento da terapia intensiva é o suporte emocional e psicológico para a criança e os seus familiares, assim como atenção direcionada ao alívio da dor. A criança mais velha, com maior capacidade cognitiva, deve ser informada sobre a sua doença de forma sincera e dentro de seus limites de compreensão. Oferecer espaço para conversa e expressão de sentimentos de medo e angústia aumentam a relação de confiança entre médico, paciente e familiares18. As decisões são tomadas conjuntamente com a família, respeitando-se os princípios básicos de autonomia, beneficência e não maleficiência. Na criança menor, as decisões são tomadas pelos pais, mas a situação é mais complicada nos casos de adolescentes. Devem ser respeitados os princípios de ética, assim como os aspectos espirituais e religiosos da família18. O controle adequado da dor constitui etapa importante do tratamento, não só devido ao aspecto humanitário, mas também a todas as repercussões deletérias que o estímulo doloroso causa sobre o sistema hormonal, cardiovascular e imunológico, comprometendo ainda mais a homeostase das funções orgânicas. Unidades de terapia intensiva que admitem crianças com câncer devem possuir apoio de psicólogos com experiência neste tipo de situação18. 5. ALIMENTAÇÃO COMO FATOR DE RISCO E PREVENÇÃO DO CÂNCER Há várias evidências de que a alimentação tem um papel importante nos estágios de iniciação, promoção e propagação do câncer, destacando-se entre outros fatores de risco5. Acredita-se que uma dieta adequada poderia prevenir de três a quatro milhões de casos novos de cânceres a cada ano. Relatos de estudos epidemiológicos observacionais têm evidenciado que a ingestão de micronutrientes, tais como vitaminas e minerais, pode prevenir alguns tipos de câncer. Dentre os micronutrientes tem-se focalizado o uso da vitamina A e dos denominados antioxidantes, ou seja, os carotenóides, as vitaminas C e E, e em alguns casos, o selênio e o zinco5,19. Nos estudos que envolvem câncer e dieta em diversas populações, um dos temas mais discutidos é a existência de uma diferença na incidência das várias formas de câncer, que pode estar relacionada às variações na ingestão de determinados componentes da dieta5. 5.1 Qual tipo de alimento necessário? Uma boa regra é ingerir vários alimentos diferentes todos os dias. Nenhum alimento ou grupo de alimentos contém todos os nutrientes necessários. Para manter o vigor do organismo, a dieta deve conter porções diárias dos seguintes grupos de alimentos3: • Frutas e vegetais: as frutas e as hortaliças têm assumido posição de destaque nos estudos que envolvem a prevenção do câncer. Estudos destacaram as evidências epidemiológicas de que o consumo de frutas e hortaliças tem um efeito protetor contra diversas formas de câncer. Verduras cruas ou cozidas, frutas e sucos de frutas são fontes de algumas vitaminas (como A e C) e de sais minerais necessários ao organismo3. • Alimentos protéicos: as proteínas contribuem para a regeneração do organismo e o combate às infecções. Carnes em geral, peixes, aves, ovos, leite, iogurte e queijo fornecem não só proteínas como também muitas vitaminas e sais minerais3. • Cereais: os cereais, tanto in natura quanto os presentes no pão, nas massas e arroz, fornecem vários carboidratos e vitamina B. Os carboidratos são uma ótima fonte de energia, sendo necessários para que o organismo funcione bem3. • Laticínios: o leite e seus derivados fornecem proteínas e muitas vitaminas, constituindo a melhor fonte de cálcio. Dependendo do tipo de tratamento que você está recebendo e do modo como se sente, é provável que você precise de mais calorias e de mais proteínas, que podem ser obtidas com a ingestão de carnes e laticínios. O médico ou o nutricionista também podem sugerir a inclusão na dieta de suplementos alimentares comercializados, para garantir a ingestão de quantidade suficiente de proteínas, calorias e outros nutrientes durante o tratamento3. 5.2 Preparo, conservação e armazenamento de alimentos Outros aspectos a serem considerados na prevenção do câncer, são os métodos de preparo e conservação dos alimentos, visto que ambos, quando adotados, podem colaborar de forma direta ou indireta no desenvolvimento de certos tipos de neoplasias5. O emprego inadequado de alguns métodos de conservação de alimentos é fator de risco, principalmente, para os cânceres de estômago e esôfago - como conservas, picles e defumados, contendo grande quantidade de nitratos e nitritos - quando são consumidos rotineiramente, como hábito alimentar do indivíduo5. Preparar as carnes com temperaturas elevadas, produzindo um suco queimado, ou expor a carne diretamente ao fogo, como durante o preparo do churrasco, tem sido desaconselhado pela World Cancer Research Fund, por produzir componentes carcinogênicos na superfície do alimento e aumentar o risco de câncer do estômago5. O óleo de peixe, quando exposto ao ar, à luz ou ao calor sofre uma rápida degradação devido a peroxidação lipídica e a outras alterações químicas. Como alimento conservado, para ser consumido vários dias após o processo, pode apresentar redução nas concentrações de ácidos graxos poliinsaturados-PUFAs da família ômega 3, que é um fator protetor contra o câncer. Além disso, o alimento conservado possui vários tipos de contaminantes (aditivos alimentares e resíduos químicos da agricultura), que poderiam ter efeito carcinogênico5. Quanto aos alimentos, outro aspecto importante é o processo de armazenamento. Este deve ser adequado para prevenir o desenvolvimento de certos tipos de fungos que produzem a aflatoxina, uma substância altamente carcinogênica, sendo apontada como um dos fatores de risco para o desenvolvimento de tumores hepáticos5. Conclusão Com o estudo realizado, percebe-se que o câncer em crianças cresce anualmente. É uma doença bastante influenciada pelo tipo de alimentação que o paciente possui, uma dieta adequada poderia prevenir milhões de casos de cânceres. O papel do nutricionista é de fundamental importância para estabilizar o quadro do paciente oncológico, juntamente com outros profissionais da saúde, necessitando de um suporte emocional e psicológico para a criança e os seus familiares. Referências Bibliográficas 1. BOCHERNITSAN Flavia et al. Técnicas lúdicas para a saúde e o desenvolvimento integral da criança. jun. 2005. p. 43-45. 2. Câncer da criança e adolescente no Brasil: dados dos registros de base populacional e de mortalidade. / Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2008. p. 19. 3. Colaboração do Dr. Nivaldo Barroso de Pinho chefe do serviço de nutrição do Hospital do Cancêr do INCA. Uma boa alimentação durante o tratamento do câncer. p. 8-29. 4. Consenso nacional de nutrição oncológica. / Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2009. p. 67- 97. 5. GARÓFOLO, Adriana et al. Dieta e câncer: um enfoque epidemiológico. Rev. Nutr., Campinas. out-dez. 2004. 6. GARÓFOLO, Adriana. Diretrizes para terapia nutricional em crianças com câncer em situação crítica. Rev. Nutr., Campinas. jul-ago. 2005. p. 524. 7. GARÓFOLO, Adriana. Terapia Nutricional em Pacientes Oncológicos Pediátricos: Revisão da Literatura. Prática Hospitalar. ano X. nº 59.set-out.2008. p. 93-95. 8. GARÓFOLO, Adriana et al. Terapia nutricional em oncologia pediátrica 9 . GUERRA, Maximiliano Ribeiro et al .Risco de câncer no Brasil: tendências e estudos epidemiológicos mais recentes. Revista Brasileira de Cancerologia. 2005. p. 228. 10. JR, Paulo T. Maluf et al. Nutrição e Câncer na infância. São Paulo. 1982. p. 15-18. 11. MAIA, Priscila dos Santos et al. Suplementação oral em pacientes pediátricos com câncer. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 85-96, abr. 2010. 12. MARTINS, Marcos Vidal. Simpósio da Ascomcer. Juiz de Fora. 2010. 13. PORTAL – INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Disponível em: <http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=322>. Acesso em: 15 out. 2010. 14. PORTAL – INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Disponível em: <http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/manuais/radioterapia.pdf>. Acesso em: 15 out. 2010. 15. PORTAL – INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Disponível em: <http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/Orientacoespacientes/guia_de_nutricao_para_pacien tes_cuidadores.pdf>. Acesso em: 15 out. 2010. 16. PORTAL – INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Disponível em: <http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/Orientacoespacientes/orientacoes_quimioterapia.pdf >. Acesso em: 15 out. 2010. 17. PORTAL – INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Disponível em: http://www.redecancer.org.br/wps/wcm/connect/promocaoprevencao/site/home. Acesso em: 06 nov. 2010. 18. SAPOLNIK, Roberto. Intensive care therapy for cancer patients. Jornal de Pediatria vol.79. supl.2. 2003. 19. SILVA, Cyntia Rosa de Melo et al.Suplementação de vitaminas na prevenção de câncer. Rev. Nutr., Campinas. maio-ago. 2001. p. 138. 20. VILANOVA, Osmael et al. Perfil nutricional das crianças atendidas no ambulatório de oncologia pediátrico do Hospital Infantil Joana de Gusmão.