Aplicação da Produção mais Limpa na análise de aspectos

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Aplicação da Produção mais Limpa na análise de aspectos e
impactos gerados por uma indústria do setor de mármore e granito
Bianca Passos Arpini (UFES) [email protected]
Dédima Marisa Araújo Louzada Oliveira (UFES) [email protected]
Caio Faria Gomes dos Santos (UFES) [email protected]
Resumo: Devido ao agravamento das preocupações relativas ao meio ambiente
impulsionadas pelos orgãos internacionais e sociedade civil, tornou-se essencial as
empresas adotarem uma política de gestão ambiental. O presente artigo trata da
análise qualitativa dos aspectos e impactos ambientais de uma empresa do setor de
mármore e granito e a quantificação da lama abrasiva gerada no processo de
serragem. A Produção mais Limpa (P+L) surge no âmbito estratégico de minimizar
ou até mesmo eliminar a geração de resíduos durante a cadeia produtiva de chapas
de granito. Dessa forma o intuito principal é revelar os benefícios gerados na
implementação da P+L na redução de rejeitos e seu possível aproveitamento em
outros setores.
Palavras-chave: Produção Mais Limpa; Gestão de Resíduos; Mármore e Granito.
1. Introdução
Na conjuntura atual do mundo moderno é bastante perceptível a ascensão notável
da economia globalizada no planeta. Entretanto, um fato inquestionável é que as
empresas com uma visão meramente econômica traçam estratégias de produção
para serem mais eficientes e competitivas no mercado almejando altos lucros sem
analisar os inúmeros riscos ambientais que podem causar. Combinar a demanda do
mercado por produtos de qualidade e inovadores com a preservação dos recursos
naturais tem se mostrado um enorme entrave as empresas atualmente.
O grande desafio das empresas é aliar a sua lucratividade e vantagens econômicas
com a minimização ou até mesmo eliminação de riscos e agressões ambientais.
Logo, o surgimento da necessidade de se desenvolver a responsabilidade sócioambiental com ações que dizem respeito à preservação, reuso e reciclagem dos
recursos naturais
tem servido como um encorajamento as empresas para
promoverem um programa de Produção mais Limpa (P+L). A P+L é a aplicação
contínua de uma estratégia ambiental preventiva integrada a processos, produtos e
serviços para aumentar a eficiência global e reduzir os riscos para os seres
humanos e o ambiente (UNEP, 2009).
Por mais que seja difundida essa preocupação com a gestão e preservação dos
recursos naturais, ainda não é conferida a importância requerida às ações para
reduzir ou até mesmo eliminar a geração de resíduos no processo produtivo, neste
caso de uma empresa no ramo de mármore e granito. Neste setor um dos principais
resíduos impactantes ao meio ambiente é a lama abrasiva resultante do processo de
1
serragem do bloco. O tratamento incorreto deste resíduo pode poluir o solo e as
águas além de comprometer a vegetação local.
O objetivo deste estudo de caso é analisar qualitativamente os aspectos e impactos
ambientais de uma empresa do setor de mármore e granito e quantificar a lama
abrasiva gerada no processo de serragem. Os métodos utilizados foram a realização
de um levantamento de dados por meio de visitas in loco à empresa para o
mapeamento do fluxo do processo com suas respectivas entradas e saídas, bem
como dados para a quantificação da lama além de propor soluções para os
problemas gerados por este resíduo.
O presente artigo possui as seguintes seções: Revisão Teórica; Metodologia;
Desenvolvimento; Considerações Finais e Anexo A.
2. Revisão Teórica
2.1 Produção Mais Limpa
A partir da metade do século XX, a preocupação da sociedade com os impactos
gerados sobre o meio ambiente pelas empresas tem crescido e se difundido
continuamente, como pode ser evidenciado pelo aumento da severidade da
legislação ambiental em todo o mundo (APO, 2002; KAZMIERCZYK, 2002; ELIAS e
MAGALHÃES, 2003 apud DIAZ, 2005).
Com a finalidade de atender a essa legislação, as empresas passaram a investir em
sistemas e tecnologias para controlar e tratar resíduos, efluentes e emissões
gerados nos processos produtivos. Essas tecnologias, geralmente muito caras, são
conhecidas como técnicas de “fim-de-tubo” (end of pipe) e se preocupam em tratar
os resíduos da produção ao final do processo, visando diminuir os impactos
ocasionados ao ambiente. Desde o início da década de 1990, estas técnicas de fim
de tubo, vêm sendo substituídas pelo conceito de prevenção da poluição através da
utilização eficiente dos recursos. A prática de Produção mais Limpa (P+L) surgiu
para contribuir para o fim das práticas das técnicas de fim de tubo e construir a
estratégia necessária para integrar os conceitos de desempenho econômico e
ambiental (ELIAS e MAGALHÃES, 2003 apud DIAZ, 2005).
Sabe-se que a Produção mais Limpa almeja o desenvolvimento sustentável como
resultado da combinação de globalização econômica e ambiental. Em outras
palavras, busca-se manter a competitividade no mercado de maneira sustentável, ou
seja, equilibrando-se crescimento econômico com proteção ambiental. Para este fim,
a abordagem P+L envolve entradas (matéria prima, insumos, equipamentos,
serviços, etc.), saídas (resíduos, efluentes, lixos, produto), além de aspectos
tecnológicos e gerenciais (tecnologia, gerenciamento, desenvolvimento humano,
etc.) ao longo de toda a cadeia produtiva e de serviços. A premissa básica da P+L é
que os poluentes e os desperdícios devem ser eliminados onde eles são gerados.
Cada ação para reduzir o consumo de matéria prima e energia previne ou reduz a
geração de resíduos, resultando em aumento da produtividade e benefícios
financeiros para a organização. Como o objetivo da P+L é minimizar ou eliminar a
2
geração de poluentes na sua origem, esta prática também ajuda a reduzir os custos
com a implantação de equipamentos para o tratamento dos poluentes no final do
processo (fim de tubo), gerando economia nos processos (KAZMIERCZYK, 2002;
TRIANTIS e OTIS, 2004 apud DIAZ, 2005).
Em resumo, a aplicação adequada das práticas de P+L viabiliza às empresas
conciliar a pressão do mercado por produtos e serviços inovadores com a demanda
de melhor qualidade de vida pela comunidade, por meio do uso racional dos
recursos naturais.
2.2 Produção mais Limpa e o Setor de Mármore e Granito
A produção mundial de rochas ornamentais e de revestimento evoluiu de 1,8
milhões de toneladas/ano, na década de 1920, para um patamar atual de 92,8
milhões de toneladas/ano. O mercado de rochas ornamentais e de revestimento, no
Brasil, começou a se expandir por ocasião da segunda guerra mundial, quando as
importações, especialmente de mármores, foram suspensas. Atualmente, o país
produz cerca de 500 variedades comerciais de rochas.
De acordo com a ABIROCHAS, a extração brasileira de rochas totaliza 5,2 milhões
de toneladas/ano. Os estados do Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia respondem
por 80% da produção nacional. O estado do Espírito Santo é o principal produtor,
com 47% do total brasileiro e concentra 60% da capacidade instalada de
beneficiamento de blocos. O estado de Minas Gerais é o segundo maior produtor e
responde pela maior diversidade de rochas extraídas.
O desempenho das exportações brasileiras de rochas ornamentais de 2007
interrompeu a tendência de forte crescimento registrada ao longo dos últimos anos.
Tal situação reflete a crise do mercado imobiliário dos EUA, salientada a partir do 2º
semestre de 2007. O setor de rochas, para se manter competitivo no mercado, optou
pela adoção de uma postura de “produtividade defensiva”, em que o aumento de
produtividade ocorre por meio de demissões e/ou da diminuição do volume de
produção. Esta situação traduz uma estratégia de corte de custos, ao invés de
expansão dos investimentos, que implica redução do potencial de produção
(ALMEIDA, 2008).
Além disso, sabe-se que os processos relacionados ao setor de mármore e granito,
desde a extração de blocos até o beneficiamento de chapas, são responsáveis pela
geração de uma série de resíduos, efluentes e emissões que podem ser impactantes
para o ambiente, se não tratados de maneira adequada.
Apresentado esse cenário, coloca-se, pois, em questão a aplicação dos conceitos de
produção mais limpa na indústria de rochas ornamentais, como forma de estar
tornando-o mais competitivo, mesmo frente a essa onda de crise econômica, e,
simultaneamente, ambientalmente melhor, ao permitir a visualização dos resíduos
gerados em seus processos como oportunidade de aproveitamento em outros
setores.
É válido salientar que já foram realizados muitos estudos acerca do assunto, em que
se apontavam caminhos para a redução dos rejeitos produzidos, tais como, uso da
lama abrasiva, oriunda dos processos de serragem e beneficiamento do granito,
para produção de cerâmica e argamassa, desde que essa lama atenda a
3
características químicas específicas; utilização do mesmo resíduo para fazer blocos
ecológicos e uso do cascalho dos blocos para fazer seixos rolados.
Nota-se, portanto, a importância do método P+L, como meio de estimular a
eficiência na produção, diminuindo ao máximo os rejeitos produzidos ou propiciando
uma nova alternativa de destino para esse resíduo. Dessa forma, ajuda a manter
esse setor promissor, por estar agregando a ele um forte elemento de
competitividade no mercado: uma maneira mais limpa de produzir.
3. Metodologia
3.1
Classificação metodológica
Para a classificação da pesquisa, toma-se por base o critério proposto por Vergara
(2004), que a qualifica em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos
meios.
Quanto aos fins, trata-se de uma pesquisa metodológica, descritiva e aplicada.
Metodológica, pois se utilizou o método do SEBRAE (instrumento) para chegar-se às
devidas conclusões no âmbito de Produção mais Limpa. Descritiva, porque visa
expor os processos de uma empresa do setor de mármore e granito, bem como os
principais aspectos e impactos ambientais associados aos mesmos. Considera-se
ainda que seja uma pesquisa aplicada, uma vez que tem por finalidade específica
propor soluções para os problemas ambientais encontrados.
Quanto aos meios, trata-se de uma pesquisa bibliográfica, de campo, de laboratório
e estudo de caso. Classifica-se como bibliográfica, pois se recorreu ao uso de
material acessível ao público em geral, como livros e artigos já publicados acerca do
tema. A pesquisa é também um estudo de caso, já que foram detalhados e
examinados os processos de uma empresa do setor de mármore e granito. Além
disso, é de campo, porque foram colhidos dados in loco na empresa analisada. Por
fim, é laboratorial por ter-se feito análise experimental da lama coletada do local de
estudo.
3.2
Universo e Amostra
O universo desta pesquisa de campo foram as entradas (insumos e matéria-prima) e
as saídas (produto final, lixo, resíduos e efluentes) dos processos de serragem e
beneficiamento de chapas de granito da empresa estudada.
A amostra está contida nos resíduos, em particular, na lama abrasiva advinda da
serragem, que foi foco principal do estudo e escolhida para ser quantificada. A
justificativa da escolha é o fato de este ser o resíduo mais impactante ao ambiente e
gerado em maiores proporções no processo, conforme afirmação encontrada em
literatura: “O principal resíduo resultante da atividade de beneficiamento de rochas é
a lama abrasiva, devido à quantidade que é gerada e aos impactos que promove
4
(BRANDÃO, 2007).” Tal premissa foi confirmada quando se aplicou o instrumento do
SEBRAE.
3.3
Dados
3.3.1 Coleta de Dados
No período de 2 de abril de 2009 a 29 de junho de 2009, coletaram-se dados
relativos ao processo produtivo, visando ao preenchimento de um formulário
ambiental, que é embasado no modelo do SEBRAE, constitui-se como um forte
instrumento para identificação de desperdícios, em termos ambientais, e vai ao
encontro dos objetivos deste trabalho . É válido ressaltar alguns dos elementos
coletados nesse formulário, tais como consumo energético e de água; quais
insumos, matérias-primas e saídas (resíduos, efluentes, lixos e produtos) associados
ao processo, além da quantidade anual e preço de compra (no caso de entradas)
dos mesmos; quantidade de funcionários por área; características gerais da
empresa; entre outros de cunho ambiental. As informações, obtidas in loco durante
as visitas realizadas na empresa, foram adquiridas por meio de observação dos
processos realizados; de entrevistas focalizadas (informais, porém com foco
definido) junto aos funcionários; de planilhas, que continham os valores de venda
dos produtos ao longo do último ano (2008) e início desse semestre (2009/1); de
outros documentos relativos aos preços de insumos e matérias-primas; de medição
da caçamba- utilizada para o transporte da lama até o aterro existente na empresa realizada com trena; de coleta de amostra de lama oriunda da serragem para análise
laboratorial.
Não se pode deixar de evidenciar a realização de pesquisa bibliográfica em internet,
anais de congressos e artigos, os quais tratam direta ou indiretamente do assunto
abordado neste estudo, e que contribuíram para ampliar o conhecimento acerca do
tema.
3.3.2 Tratamento dos Dados
Nesse quesito serão abordadas, segundo a apostila da Prof.ª Gláucia Zoldan,
algumas das etapas da metodologia SEBRAE para implantação do programa P+L
que foram de fato realizadas durante esta pesquisa.
Primeiramente, a meta era obter um diagnóstico geral da empresa, para
compreendê-la com um todo e identificar seu modo de organização. O próximo
passo foi desenhar os fluxos dos processos existentes na empresa, mostrando o
fluxo de entrada e saída das matérias-primas, energia, água e demais insumos e o
que é gerado em cada processo. O diagrama de blocos gerado nesta pesquisa pode
ser visualizado no Anexo A.
Após a identificação de entradas e saídas, foi possível avaliar os impactos
vinculados aos aspectos dos processos existentes na empresa. Entende-se por
aspecto ambiental, definido na ISO 14001 como um “elemento das atividades,
produtos e serviços de uma organização que possa interagir com o meio ambiente”.
5
Observando-se a essa definição que “um aspecto ambiental significativo é um
aspecto ambiental que tenha ou possa ter um impacto significativo no meio
ambiente”. Por outro lado, impactos ambientais são definidos na ISO 14001 como
“qualquer mudança no meio ambiente, seja adversa ou benéfica, total ou parcial,
resultante das atividades, produtos ou serviços da organização”. Em outras palavras,
aspectos são atividades que interagem com o meio ambiente, enquanto impactos
são mudanças no meio ambiente resultantes dessa interação. A finalidade da
identificação dos aspectos ambientais é determinar quais deles têm ou podem ter
impactos ambientais significativos. Isso viabiliza a identificação das oportunidades
de melhoria para a empresa, podendo refletir nos objetivos e alvos da mesma.
A ferramenta utilizada para promover a análise qualitativa foi a Planilha de Aspectos
e Impactos Ambientais, cujo preenchimento contemplava a descrição dos aspectos e
dos impactos; o gerenciamento do aspecto, quanto a sua situação (normal, anormal,
ou de risco), sua classe (benéfica ou adversa) e sua temporalidade (passada, atual
ou planejada); a análise de significância dos impactos, em relação à relevância,
abrangência, ocorrência, severidade – este tópico levou em consideração uma
escala cuja variação é de 1 a 3 e será explicado adiante; apresentou-se ainda
alguns pontos da legislação brasileira associada a cada item; e por fim, deixou-se
uma sugestão de ação corretiva e/ou melhoria para eliminação, minimização ou
controle destes impactos.Consideraram-se todos os processos envolvidos, desde a
serragem até o aterramento da lama.
No que se refere aos critérios usados para examinar os impactos identificados,
seguem suas definições e os devidos pesos referentes a cada status: severidade –
indicada na saída, em função do grau de intensidade do impacto, considerando a
capacidade do meio ambiente de suportá-lo ou reverter seus efeitos, restabelecendo
a condição original (baixa = 1, média = 2 ou alta = 3); abrangência - deve-se usar
uma escala referente à abrangência física do impacto ambiental causado pelo
aspecto das atividades, produtos e serviços em análise, vinculada ao incômodo
gerado: setor de trabalho (1), interno à empresa (2) ou externo à empresa(3);
probabilidade de ocorrência: freqüência de ocorrência do aspecto associado ao
impacto em análise (baixa = 1, média = 2 ou alta = 3).
Em termos qualitativos, para identificação de oportunidades de melhoria, somou-se
os valores apresentados para cada impacto, plotou-se o valor na coluna de
relevância e em seguida, fez-se uma ordem de prioridade, sendo os valores maiores
considerados prioritários. A última etapa concretizada nesta pesquisa foi a
quantificação das principais oportunidades apontadas na planilha. No caso em
questão, para se efetuar as medições, focou-se na lama da serragem, da qual
coletou-se uma amostra e levou-se para análise em laboratório, onde essa amostra
foi submetida a pesagem e desidratação em forno, com a finalidade de se obter a
massa específica.
6
4. Desenvolvimento
4.1 Apresentação da empresa
A empresa deste estudo de caso é atuante no setor de mármore e granito. Fundada
em 1994 é presente no mercado da América do Norte, América Latina, Europa e
Ásia. Localiza-se no município da Serra- Espírito Santo, na região da Grande Vitória
desde 2005. Situada em uma região intermediária entre mata atlântica, plantações
de eucalipto e zona residencial, possui uma área de produção com cerca de 19 mil
m² e com um corpo de 105 funcionários próprios.
A empresa constitui-se como uma das maiores do Brasil no segmento de
beneficiamento e exportação de chapas de granito. Seus principais produtos e
serviços são chapas básicas, exóticas e serragem de blocos para terceiros além de
possuir diversos fornecedores de matéria-prima por todo o país.
4.2 Descrição dos Processos
A empresa estudada possui um processo de produção dividido em duas etapas:
Serragem de blocos e Beneficiamento de chapas. Na serragem ocorrem todos os
processos até o bloco se tornar chapas, já o beneficiamento é toda a parte de
acabamento das chapas serradas.
Na serragem, os blocos de material exótico ao entrarem no processo são lavados e
em seguida esquadrejados, para que as laterais imperfeitas do material sejam
retiradas e o bloco tenha melhor acabamento. Esse procedimento utiliza água e
corte a fio diamantado, liberando como resíduos casqueiros e um efluente com pó
de rocha e água. Logo após, os blocos de material exótico, mais frágeis, são
envelopados, ou seja, recobertos com uma manta de fibra de vidro e em seguida por
resina a fim de evitar danos ao material durante os processos subseqüentes. Depois
destes processos, tanto os blocos exóticos quanto os básicos são cimentados nos
carros transportadores para serem serrados em teares convencionais utilizando
água, cal hidratada, granalha e lâminas. Por meio do processo de atrito entre as
lâminas, elementos abrasivos e os blocos são gerados enormes quantidades de pó
de rocha e pó de granalha contida no efluente (lama abrasiva), juntamente com os
casqueiros formados pelas laterais assimétricas dos blocos não esquadrejados.
Depois de serradas, as chapas são encaminhadas para o pátio de beneficiamento
de chapas, especificamente para a levigação. A levigação é um polimento mais
bruto que confere um melhor acabamento à superfície rugosa do material que
utilizando abrasivos e água gera um efluente que contém água, restos de abrasivos,
e pó de rocha. As chapas exóticas, antes de passar por esse processo, são teladas
com telas de fibra de vidro em uma das superfícies, para que o material não sofra
danos devido a sua fragilidade. Havendo imperfeições nas chapas, estas são
preenchidas com pó de rocha. Após a levigação, as chapas são direcionadas a um
forno de desidratação em que sofrem aquecimento para que a umidade presente
nas chapas evapore e permita melhor aderência da resina nas mesmas.
Ao saírem do forno de desidratação, as chapas recebem uma camada de resina na
7
sua superfície, bem como endurentes e se necessário algum corante. Em seguida
são direcionadas para uma câmara a vácuo para que seja retirado o ar contido entre
a superfície e a resina, melhorando a aderência desta. Depois de sair da câmara a
vácuo as chapas recebem um retoque de resina para corrigir as possíveis
imperfeições e em seguida são encaminhadas para o forno de secagem para que a
resina endureça. Logo após as chapas necessitam ficar por cerca de vinte e quatro
horas no processo de cura, para que a resina fique completamente aderida à
superfície da chapa. Depois de “curadas”, as chapas seguem para o processo de
polimento para que lhe sejam conferidos brilho e acabamento final. Neste processo
são utilizados abrasivos e água gerando um efluente que contém água, restos de
abrasivos, e pó de rocha.
Todos os efluentes gerados durante os processos de levigação e polimento de
chapas são encaminhados por canaletas à estação de tratamento de água do pátio
de beneficiamento e o da serragem dos blocos para a estação de tratamento de
água do pátio de serragem. Nessas estações, a água é separada dos resíduos
sólidos por meio da decantação do resíduo sólido auxiliada por um produto
floculante (polímeros) retornando assim ao processo.
Os resíduos sólidos (lama) resultantes dos tratamentos de água dos setores de
serragem e de beneficiamento são encaminhados a cada dois dias, por meio de um
caminhão, a um aterro pertencente à empresa.
4.3 Análise dos resultados
Na análise realizada na empresa buscou-se identificar os principais aspectos e
impactos ambientais. Foram mapeadas, segundo a figura 2, as principais entradas e
saídas do processo produtivo de chapas de granito. Os dados dessas entradas,
chamadas de aspectos ambientais, foram inseridos e analisados em uma planilha de
Aspectos e Impactos Ambientais do SEBRAE para que identificasse a relevância de
acordo com a abrangência e severidade dos impactos relacionados ao meio
ambiente, identificando onde o estudo mereceria mais ênfase.
8
TABELA1: Amostra de um trecho da Planilha de Aspectos e Impactos Ambientais
GERENCIAMENTO DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS
Gerenciamento do
aspecto
Análise
Significância
 LEI Nº 9.433 DE
08 DE JANEIRO
DE 1997;

Atual
Classe Adversa
Normal
 LEI Nº 6.938, DE
31 DE AGOSTO
DE 1981;
Contaminação
da água.
3
3
3
9
Ação
Corretiva
Prioridade
Legislação
Relevância
Abrangência
Ocorrência
Severidade
Classe
Situação
Ambientais
Temporalidade
Impactos
1
RESOLUÇÃO
NORMATIVA DO
CONSELHO
ESTADUAL
DE
RECURSOS
HÍDRICOS
–
CERH
(CONSELHO
ESTADUAL
DE
RECURSOS
HÍDRICOS)
Nº
005/2005.
Promover
análises
periódicas
da
água,
para
verificar se
está
havendo
contaminaçã
o
pelos
efluentes
gerados.
Pode-se inferir, a partir da análise efetuada na tabela que os impactos mais
relevantes são: geração de lama, por não ter um tratamento adequado no aterro
pode impactar o meio ambiente; a geração de casqueiro oriundo das rebarbas dos
blocos e a poluição da enorme quantidade de água utilizada no processo.
O objetivo deste estudo também é quantificar a lama abrasiva gerada no processo
de serragem, ou seja, não considerando os outros impactos como o casqueiro e a
poluição da água, pois não são o foco deste artigo. A lama da serragem terá como
constituintes a água, o óxido de cálcio (CaO), a granalha de ferro e restos de rocha
moída, pelo fato de que o maquinário usado – os teares – funcionam geralmente por
meio da mistura abrasiva, a qual cumpre a finalidade de aumentar o atrito no corte
dos blocos, lubrificar e evitar o aquecimento das lâminas, além de minimizar a
oxidação das lâminas (BRANDÃO, 2007).
A quantidade da lama abrasiva gerada foi calculada embasando-se no volume da
caçamba que leva este resíduo ao aterro de dois em dois dias. São realizadas
quatro viagens em cada dia. Isso resulta em uma média de aproximadamente duas
caçambas por dia. Para calcular o volume anual, foram consideradas as seguintes
dimensões da caçamba: 1,2m x 4,9m x 2,30m. (altura, comprimento e largura,
respectivamente), em seguida multiplicou-se pela quantia de dias no mês (22) e de
meses no ano (12) e, por fim, duplicou-se a quantia, por serem duas viagens ao dia.
O volume anual de lama, portanto, resulta na expressão a seguir:
9
Volume anual: [(1,2 x 4,9 x 2,30)m3 x 22 x12 x2] = 7140,67 m3/ano
Para encontrar a massa de lama abrasiva gerada anualmente, foram coletadas
amostras da lama para análise experimental, em que o material foi submetido a
pesagens e desidratação. Foram encontrados valores de massa específica (ρ =
1740 kg/m³) e percentual de umidade de água presente na lama (35%). Efetuou-se a
multiplicação de massa específica pelo volume anual obtido, e a expressão fica:
Massa anual de Lama abrasiva = [(7140,67 m3) x (1740 kg/m³)] = 12.424.765,8
kg/ano
Os pontos de geração de lama abrasiva são os teares, máquina de
esquadrejamento e as lavagens realizadas. Vale ressaltar que essa lama oriunda
desses pontos ainda é efluente. Sua transformação para resíduo ocorre nos filtroprensa.
Com relação às possibilidades de aproveitamento dos resíduos gerados no processo
foram encontrados, em pesquisas, a utilização da lama para fazer cerâmica e
argamassa. Estes estudos mostram a viabilidade deste processo desde que a lama
atenda a características químicas específicas. Um exemplo a ser mencionado é o
artigo de Mothé Filho et al (2005), cujo objetivo era caracterizar o rejeito sólido
(lama), oriundo da cidade de Cachoeiro do Itapemirim, e avaliar a possibilidade de
sua utilização na indústria cerâmica. Para este propósito foram feitas análises e
misturou-se a matéria prima com argila da região de Itaboraí. Os resultados
indicaram que o rejeito podia ser utilizado para obtenção de material cerâmico.
Ressalta-se ainda o projeto que fora realizado dentro da UFES, orientado pelo
professor Avancini Tristão, e que visava a utilização da lama, proveniente também
de Cachoeiro de Itapemirim, para fazer blocos de solo-cimento ecológicos.
No que concerne a uma oportunidade de redução e até mesmo eliminação da lama
abrasiva é a utilização de recentes tecnologias utilizadas na serragem de bloco,
como o corte de blocos em teares a fios diamantados. Essa tecnologia está em
etapa de grande avanço de desempenho e vem se mostrando como a nova
tendência mundial no corte de rochas ornamentais. De acordo com Alencar et. al.,
(1996 apud COIMBRA FILHO, 2006), o processo de corte com fio ocorre pela ação
abrasiva dos anéis ou pérolas com grãos de diamante, dispostos ao longo do fio.
Este funciona como uma espécie de serra-fita que gira a determinada velocidade e é
tensionada sobre o bloco serrando-o.
O fio diamantado incorporado a teares trouxe uma nova perspectiva para a indústria
de rochas ornamentais. O tempo de corte pode ser diminuído para todas as rochas,
independente do grau de dureza ou serrabilidade das mesmas, sendo que quanto
maior é o grau de dureza da rocha, maior é a relação de economia no tempo para
cortar um bloco (ROCHAS DE QUALIDADE ,2004 apud COIMBRA FILHO, 2006).
Um exemplo citado por meio de dados fornecidos pelas empresas Marmocil e Cava
é que, na serragem de um bloco de 7 m 3 do granito Verde Bambu levava-se 15 dias
no tear convencional e se submetido a um tear de 20 fios, leva em torno de apenas
10
32h (ROCHAS DE QUALIDADE, 2004 apud COIMBRA FILHO, 2006). As vantagens
propiciadas pelo tear a fio diamantado em relação ao sistema de corte tradicional
são várias, como: necessidade de menos obras de fundação, menor área ocupada,
em muitos casos dispensa a necessidade de levigamento devido ao alto padrão de
acabamento, dispensa a utilização de granalha, cal e argila, pois só utiliza fio
diamantado e água que produzem rejeitos líquidos e sólidos que podem ser
facilmente reciclados (ROCHAS DE QUALIDADE, 2004 apud COIMBRA FILHO,
2006).
Com relação à saúde e segurança no trabalho, diminui o alto nível de ruído causado
pelos teares tradicionais, reduzindo, dessa forma, a possibilidade de estresse e de
perdas auditivas do trabalhador, promovendo uma melhoria continua do ambiente de
trabalho.
Na figura 1 se encontra o ciclo da água em que o efluente 1 é água e pó de rocha;
efluente 2 é água, pó de rocha e pó de granalha; lama prensada 1, que é a lama
abrasiva contendo cal, pó de rocha, pó de granalha, restos de lâminas desgastadas.
Entende-se por ciclo, toda a trajetória de um aspecto, do início ao fim, ao longo do
processo.
ÁGUA
ESQUADREJAMENTO
EFLUENTE 1
ÁGUA
ÁGUA DO POÇO
TRATAMENTO
DE ÁGUA E
FILTRO-PRENSA
ÁGUA DO POÇO
ÁGUA
SERRAGEM
ÁGUA
EFLUENTE 2
LAMA
PRENSADA 1
ATERRO
FIGURA 1 – Ciclo da Água
5. Considerações Finais
Esse artigo procurou mostrar e identificar os principais aspectos e impactos
ambientais gerados, visando à aplicação dos conceitos de Produção mais Limpa
numa empresa rochas ornamentais. A identificação das principais oportunidades de
melhorias ambientais possibilita a empresa uma ação mais efetiva na busca da
eliminação (com uso de novas tecnologias de serragem de blocos) ou um melhor
11
tratamento do principal resíduo apontado, lama abrasiva, e sua quantificação para
controle.
A aplicação de métodos qualitativos mostrou-se válida por tornar claro onde há
ocorrência de desperdícios nas empresas e difundir o questionamento da geração
de um resíduo, buscando na causa do problema uma solução, que no caso da lama
abrasiva, é possível a eliminação por meio da tecnologia do corte a fio diamantado.
Como proposta para futuras pesquisas sugere-se o estudo de tecnologias
econômicas para o aproveitamento da lama abrasiva na fabricação de outros
produtos tornando acessível às pequenas e médias empresas o reaproveitamento
do resíduo e identificando seus entraves para a efetiva utilização do material em
escala.
6. Referências
ALENCAR, C. R. A; CARANASSIOS, A.; CARVALHO, D.. (1996). Tecnologia em
lavra e beneficiamento de rochas ornamentais. Instituto Euvaldo Lodi, v.3. Estudo
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12
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13
ANEXO A – Diagrama de entradas e saídas dos processos
Diagrama de Entradas e Saídas dos Processos
Estoque de Blocos


Bloco sujo
Água Limpa
Lavagem do Bloco
Estocado

Água com impurezas




Casqueiro
Lama
Água com impurezas
Fio Desgastado


Resto de resina
Acetona + resina

Embalagem do cimento




Lama
Água com impurezas
Lâmina Desgastada
Emissões de
Particulados
Ruídos
Restos de Blocos
Bloco Limpo




Bloco
Água Limpa
Fio diamantado
Energia





Bloco esquadrejado
Resina
Manta de Fibra de Vidro
Energia
Acetona




Bloco
Cimento
Água Limpa
Pó de Pedra







Bloco cimentado
Água Tratada
Granalha
Cal
Lâmina
Argila
Energia


Chapas serradas
Água Tratada
Esquadrejamento
Bloco Esquadrejado
Envelopamento
Bloco Envelopado
Fixação do Bloco no
Carrinho
Bloco cimentado
Serragem
Chapas Serradas
Lavagem das Chapas





Água com impurezas
Lama
Água evaporada com
Sílica


Resto de resina
Resto de tela

Restos de pó de pedra
Chapas Limpas



Chapa exótica bruta
Tela de fibra de vidro
Resina


Chapas pré-polida
Pó de pedra
Telagem
Chapas Teladas
Preenchimento de
Imperfeições
Chapa preenchida
Levigação
14
FIGURA 2 – Diagrama de entradas e saídas
15
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