História da Igreja III – Código: TG.07.03 2ª. Aula – 20 de março de 2017 Eclosão das Reformas Religiosas I- Reformas Religiosas em relação ao Humanismo e ao processo de constituição da subjetividade moderna: Periodização: Reformas Religiosas nos “tempos modernos”: Marcos cronológicos: 1517, com a publicação das “Noventa e cinco teses” de Martinho Lutero, e 1595, com a Paz de Augsburgo (que estabelecia a tolerância oficial quanto ao luteranismo no Sacro Império RomanoGermânico). http://www.iglesiapueblonuevo.es/img/historia/alemania.gif “Outrora, a fé consistia mais na vida do que na profissão dos artigos de fé. [...] Pouco a pouco, foi se tornando necessário impor dogmas, mas estes eram pouco numerosos e dotados de uma simplicidade totalmente apostólica. Mais tarde, em consequência da deslealdade dos heréticos, submeteram-se as Escrituras a uma investigação mais rigorosa [...]. O símbolo da fé começou então a estar mais nos escritos que nos corações [...] Os artigos foram aumentando em número; a sinceridade diminuiu. A doutrina de Cristo, que no início repudiava toda logomaquia, solicita proteção às escolas filosóficas: eis o primeiro passo no declínio da Igreja. Quanto maiores as riquezas, maior a violência. A intrusão da autoridade imperial nos assuntos eclesiásticos prejudicou a sinceridade da fé. A religião tornou-se mera argumentação sofista. E a igreja viu-se inundada por uma miríade de artigos. Daí se passa ao terror e às ameaças. Por meio da força e do temor, tentamos fazer os homens acreditarem naquilo que não acreditam, amarem aquilo que não amam, forçá-los a compreender aquilo que não compreendem. A imposição não pode unir-se à sinceridade; e o Cristo não aceita senão o dom voluntário de nossas almas”. Carta de Erasmo a Jean Carondelet, arcebispo de Palermo, 5 de janeiro de 1523. Pontos de convergência entre o Humanismo e as Reformas Religiosas: Erasmo de Rotterdam (1530) por Hans Holbein http://antoniopedrobelem.blogspot.com.br/2011/11/retratoserasmo-de-rotterdam-1530-por.html Pontos de divergência entre o Humanismo e as Reformas Religiosas: “Ardia pelo desejo de bem compreender uma expressão empregada no 1º capítulo da Epístola aos Romanos, no qual é dito: “A justiça de Deus é revelada no Evangelho”, já que, até então, sonhava com ela, num frêmito. Essa expressão “justiça de Deus” era objeto de meu ódio, já que o uso corrente e o emprego feito habitualmente pelos doutores haviam-me ensinado a entendê-la no sentido filosófico. Eu entendia por isso a justiça que os doutores chamam formal ou ativa, a justiça por meio da qual Deus é considerado justo, e com a qual arremete para punir os pecadores e culpados. Malgrado o caráter irrepreensível de minha vida de monge, eu me sentia pecador diante de Deus; minha consciência encontrava-se extremamente inquieta, e eu não tinha nenhuma certeza de que Deus seria aplacado pelas satisfações que eu lhe dava. Da mesma maneira, eu não amava esse Deus justo e vingador. Eu o odiava, e se não blasfemava em segredo, eu certamente me indignava e resmungava violentamente contra ele, dizendo: “Não será suficiente que ele nos condene à morte eterna por causa dos pecados de nossos pais e faça abater-se sobre nós a severidade de sua lei? Será preciso, além disso, que ele aumente nosso tormento por meio do Evangelho e que, mesmo aí, faça anunciar-nos sua justiça e sua cólera?” Eu me encontrava fora de mim, a tal ponto minha consciência se encontrava violentamente alarmada; e eu examinava sem descanso essa passagem de São Paulo, tomado pelo ardente desejo de saber o que são Paulo havia desejado dizer. Finalmente, Deus se apiedou de mim. Enquanto meditava, dia e noite, e enquanto examinava o encadeamento dessas palavras – “A justiça de Deus é revelada no Evangelho, como está escrito: o justo viverá pela fé” – comecei a compreender que a justiça de Deus significa, aqui, a justiça que Deus dá, justiça da qual o justo, se tiver fé, vive. O sentido da frase é, portanto: o Evangelho nos revela a justiça de Deus, mas a justiça passiva, por intermédio da qual Deus, em sua misericórdia, nos justifica por meio da fé, como está escrito: o justo viverá da fé. Tão logo isso ocorreu, senti-me renascer, e tive a impressão de ter adentrado as portas abertas, de par em par, do próprio Paraíso. Desde então, as Escrituras inteiras assumiram aos meus olhos um novo aspecto. Percorri os textos conforme minha memória nos apresentava, e notei outros termos que era preciso explicar de maneira análoga, termos como a obra de Deus, isto é, a obra que Deus realiza em nós, o poder de Deus, por meio do qual ele nos dá a força, a sabedoria por meio da qual nos torna sábios, a salvação, a glória de Deus. Da mesma maneira como até então detestara o termo “justiça de Deus”, assim também prezo, atualmente, esta tão doce expressão”. LUTERO. Prefácio às obras. 1545. Pontos de convergência entre o Humanismo e as Reformas Religiosas: Preconiza-se um retorno aos textos fundadores do cristianismo, na aspiração por um retorno às “origens” dessa religiosidade, ao que nela haveria de mais genuíno. Em decorrência, valorização do conhecimento de idiomas antigos. Emprego do espírito crítico. Incentivo ao autoconhecimento: humanistas e reformadores, em diferentes escalas, concediam grande atenção à natureza humana, no paradoxo de sua grandeza criatural e de sua pequenez diante de Deus. Relevância atribuída à consciência individual/interioridade, já elogiada pela devotio moderna, que associa a constituição de si a uma perspectiva cristocêntrica. http://4.bp.blogspot.com/CD_2pGmFLIE/Tm581vN3x9I/AAAAAAAAArE/rq9GYM6hZUs/s1600/reforma_europa.jpg Erasmo de Rotterdam (1469-1536) A princípio, Erasmo estima que as teses de Lutero merecem ser ouvidas e mais moderadas do que condenadas. Mas ao invés de optar pela ruptura, Erasmo preferia a concórdia como exigência evangélica. Segundo ele, Deus revela-se progressivamente através de uma história, cujos meandros respeita. A pedagogia divina manifesta paciência: a Antiguidade pagã é uma preparação para o Evangelho; homens criados à imagem de Deus portam esboços de verdade, que a fé cristã assume e perfaz. A sabedoria de Deus é loucura para os homens, mas Cristo atrai tudo a si, recapitula e reconcilia tudo em si. A história continua, movida pelo Espírito Santo, que conclama a Igreja a se converter em seu caminhar. Em 1524, Erasmo enfrenta Lutero em Ensaio sobre o livrearbítrio. Ele conclui que o homem pode modestamente cooperar para a sua salvação com a graça de Deus. Pelo pecado, o ser humano não perdeu de todo sua semelhança original com Deus. A filosofia de Cristo não sufoca, mas restaura a natureza que foi criada boa, como são Tomás havia frisado. Longe de ser clara, a Escritura está sujeita à interpretação, em razão da sua inscrição na história e na linguagem humana, e devido à profundidade dos mistérios. Temos que seguir sem pretender saber tudo, mas trabalhando livremente para saber melhor. Pontos de divergência entre o Humanismo e as Reformas Religiosas: Martinho Lutero (1483-1546) Lutero considerava que Erasmo não promovia suficientemente a Cristo e a graça de Deus. Lutero responde a Erasmo com Do Servo arbítrio. Ele afirma que a Palavra de Deus não conhece hesitação, que ela irrompe como o raio, corta como a espada, reduz ao nada as pretensões de uma natureza pervertida e os balbucios da história. Ela só pode suscitar desordem e tumulto, não a concórdia. Porque Deus e o mundo se opõem, como Deus e Satanás. Toda a Escritura afirma a decadência moral do homem e a santidade exclusiva de Deus, junto com a justificação pela fé. A própria fé é um dom imerecido. Desde o pecado, o homem se assemelha a um animal de carga, montado ou por Deus ou por Satanás. A pretensão ao livre-arbítrio o submete a Satanás. II- Primeiros desdobramentos institucionais das Reformas Religiosas, em relação ao processo de constituição das subjetividades modernas: “Temos também de observar, diligentemente, aquilo que Deus ordena a cada um de nós: considerar a vocação pessoal em todos os atos da vida. Pois ele conhece bem como o entendimento do homem arde de inquietude, a ligeireza com que é levado para cá e para lá e a ambição e a cupidez com que ele é solicitado a abraçar várias coisas diferentes entre si a um só e mesmo tempo. Temendo, pois, que confundamos todas as coisas em função de nossa loucura e temeridade, Deus, distinguindo esses estados e maneiras de viver, ordenou a cada um aquilo que deve ser feito. E a fim de que ninguém ultrapassasse levianamente seus limites, ele deu a essas maneiras de viver o nome de “vocações”. Cada um de nós deve circunscrever-se ao seu ambiente, para que seu estado se assemelhe a uma estação determinada por Deus, e para não ficar circulando e girando ao acaso, sem propósito, ao longo de toda a vida”. CALVINO. Instituição Cristã, III, X, 6. “Rei é o chefe supremo da Igreja da Inglaterra (…) Nesta qualidade, o Rei tem todo o poder de reprimir, corrigir erros, heresias, abusos (…) que sejam ou possam ser formados legalmente por autoridade espiritual” (Ato de Supremacia, 1534) III –Interpretações da Filosofia e Ciências Humanas sobre as Reformas Religiosas: Século XVIII - filosofia da história: o movimento conhecido como Reforma protestante foi inserido no processo de modernização da sociedade ocidental, conforme postulado por Hegel. Era a “mundanização positiva”. Leopold von Ranke inaugurou uma abordagem menos confessional. Para este filósofo luterano, com a Reforma, nascia a Idade Moderna, pois o “povo” tornava-se protagonista na história. Logo, a história não vinha apenas de governantes e sacerdotes. Também no livro sobre a história alemã na época da Reforma, Ranke mostrou admiração por Lutero, ainda que em tons imparciais sobre o papado, pois a Roma católica já não ameaçava a grande Prússia. Mas Ranke foi criticado por ter escrito uma história da Igreja e da cristandade em seus aspectos político e institucional. Ernst Troeltsch defendia que a religião protestante assemelhava-se ao catolicismo medieval, em seu intento por restaurar a cultura religiosa antiga, com a novidade de enfatizar a liberdade individual. Na linha de uma teologia liberal, assinalou as características do luteranismo e calvinismo, especialmente ante as autoridades políticas. [TROELTSCH, Ernst. El Protestantismo y el Mundo Moderno. México: Fondo de Cultura Económica, 2005]. O tema das reformas religiosas no início da Época Moderna ultrapassa as mudanças institucionais eclesiásticas, relacionando-se também a aspectos culturais, econômicos e de poder. Tais articulações foram abordadas pela historiografia entre as décadas de 19301950. Delio Cantimori propôs o termo Idade Humanística para a época moderna e buscou tecer relações entre o humanismo e a reforma, considerando que o protestantismo representou o fracasso do ideal humanista, da autoconfiança exacerbada no potencial do homem, otimismo excessivo em sua transformação através do livro arbítrio.[CANTIMORI, Delio. Los Historiadores e la Historia. Barcelona: Península, 1985, p.343-363, e Humanismo y Religiones en el Renacimiento. Barcelona: Península, 1984, p.151-171]. Lucien Febvre buscou compreender a Reforma em função da intensa religiosidade vivida na Europa. Notou que entre a devoção e o clero existia um abismo marcado pela insensibilidade. Ele justifica o sucesso da Reforma europeia por dois fatores: pelo surgimento da Bíblia em língua vulgar e pela justificativa da salvação pela fé. Defende que a Reforma deve ser relacionada a uma crise moral e religiosa que assolou a Europa. [FEBVRE, Lucien. Problèmes d’ensemble, in Au Coeur Religieux du XVIe Siècle. Paris: Le Livre de Poche Biblio Essais, 1983, p.7-95; Le Probleme de l’Incroyance au XVIe Siècle. La religion de Rabelais. Paris: Albin Michel, 2003]. Jean Delumeau indaga-se sobre as causas do movimento protestante, refutando duas explicações tradicionais: os abusos da Igreja e a luta da burguesia contra o feudalismo. Ele argumenta que os protestos contra os abusos da Igreja não eram novidade, e algumas lideranças, como Erasmo, apesar de seus protestos, continuaram na Igreja Católica, bem como os protestantes, quando esta se reformou, não voltaram a ela. Ademais, haveria um forte segmento comercial-financeiro na Itália católica. Para Delumeau, seria preciso não negligenciar aspectos teológicos do debate, bem como o combate à superstição, concebendo a Reforma como promoção da vontade cristianizadora contra o catolicismo e a idolatria. [DELUMEAU, Jean. Un Chemin d’Histoire, Chrétienté et Christianisation. Paris: Fayard, 1981, principalmente p.13- 153. Cf. também A Civilização do Renascimento. Lisboa: Estampa, 1994, v.1, p.121-147; Le Catholicisme entre Luther et Voltaire. Paris: PUF, 1994, primeira edição em 1971]. A interpretação marxista das reformas religiosas foi promovida na segunda metade do século XX, quando estudiosos marxistas identificaram em Thomas Müntzer um líder revolucionário em meio às guerras camponesas do século XVI. [BLOCH, Ernst. Thomas Müntzer, teólogo da revolução. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1973, primeira edição de 1962]. “As pobres almas necessitadas são logradas de maneira indizível. Em todas as suas palavras, e em todos os seus atos, os doutores agem de modo tal que o homem pobre, preocupado em prover o próprio alimento, não possa aprender a ler, tendo esses doutores a impudência de pregar que o homem pobre se deixe escorchar e depenar pelos tiranos. Quando então poderá ele aprender a ler? [...] Os doutores fazem da Escritura uma capa que impede a fé cristã de brilhar aos olhos do mundo inteiro. [...] Mesmo quando jamais viu a Bíblia ou ouviu falar dela, nem por isso a pessoa terá menos condições, graças ao verdadeiro ensinamento do Espírito, de ter uma fé autêntica, como o provam todos aqueles que, sem contar com a ajuda de livros, escreveram as santas Escrituras [...] Eis por que é preciso derrubar o trono dos poderosos, orgulhosos e ímpios, tendo em vista que eles constituem um obstáculo em si mesmos e em todo o mundo à santa e verdadeira fé cristã, uma vez que ela deseja expandir-se com toda sua autêntica natureza original. [...] Ah! Se os pobres camponeses reprovados, soubessem disso, como poderiam obter proveito! Deus despreza os grandes senhores, tais como Herodes, Caifás, Anás, acolhendo em seu serviço os humildes, como Maria, Zacarias e Isabel. [...] Eles não portavam grandes barretes, insígnias de títulos prestigiosos, como os possui hoje a Igreja dos ímpios. A fonte enlameada da usura, do roubo e da pilhagem – eis o que são nossos príncipes e senhores, que se apropriam de todas as criaturas: os peixes da água, os pássaros do ar, as plantas da terra, tudo lhes deve pertencer (Isaías 5, 8). Depois disso, fazem proclamar entre os pobres os mandamentos de Deus, dizendo: “Deus ordenou, não roubarás [...] Quem cometer o mínimo delito, deve ser enforcado” e o Doutor Mentor [Lutero] diz: “Amém [...]”. MÜNTZER, Thomas. Escritos teológicos e políticos. Em conclusão: Reformas Religiosas, Secularização e Mundanização Mostra-se necessário distinguir entre dois paradigmas: o da secularização (moderno como mundanização, mantendo-se como possibilidade a referência a um núcleo original meta-humano) e o da laicização ou libertação (moderno como desimpedimento do indivíduo em sua progressiva autoafirmação). [MARRAMAO, Giacomo. Céu e Terra. Genealogia da secularização. São Paulo: Editora Unesp, 1997], a) Afinidade entre as entre mundanidade e secularização: Weber evidenciou o fator ético do agir que, identificado na ascese da Reforma, conectava-se à problemática da secularização. Para ele, o aspecto decisivo da secularização era a prevalência de um modo de agir racional, que encontrou sua expressão na ética da renúncia e da ascese no protestantismo calvinista puritano. Mediante a doutrina da graça e sua ratificação manifesta nas obras e no sucesso, a atitude protestante daria lugar a um rigor religioso, mas também a uma aderência ao mundo que – constituindo o espírito do capitalismo – induziria nas relações sociais um forte efeito de dessacralização. Em seguida, Weber separou as figuras do profeta e do sacerdote pela vocação pessoal. O profetismo foi dessacralizado, atuando em virtude de seus dons sociais. Mas a grandeza da descoberta de Weber sobre as origens do capitalismo está em demonstrar que uma intensa atividade mundana é possível sem se desfrutar do mundo excessivamente, apenas na valorização do trabalho, associada à preocupação de cada um por si próprio. b) Diferença entre mundanidade e desencantamento do mundo: Para Weber, o desencantamento do mundo era traduzido em uma recusa dos meios mágicos e sacramentais de busca de salvação. Portanto, era possível viver uma experiência religiosa reformista concomitante ao desencantamento do mundo. Outro elemento comum ao Humanismo e às Reformas Religiosas é o entrelaçamento entre laico e religioso. Subsistia um mundo popular, devocional e mágico, além das questões institucionais, teológicas e econômicas. Bibliografia: BEDOUELLE, Guy. A via média anglicana. Uma lenta construção. In: CORBAIN, Alain (org.). História do cristianismo: para compreender melhor nosso tempo. São Paulo: Martins Fontes, 2009. CARBONNIER-BURKARD, Marianne. Calvino. Eleição, vocação e trabalho. In: CORBAIN, Alain (org.). História do cristianismo: para compreender melhor nosso tempo. São Paulo: Martins Fontes, 2009. DELUMEAU, Jean. De religiões e de homens. São Paulo: Loyola, 2000. p. 104. LINDBERG, Carter. As reformas do século XVI. In: Uma breve história do cristianismo. São Paulo: Loyola, 2008. MASSAUT, Jean Pierre. Os caminhos da Reforma. Erasmo e Lutero. Liberdade ou servidão do ser humano. In: CORBAIN, Alain (org.). História do cristianismo: para compreender melhor nosso tempo. São Paulo: Martins Fontes, 2009. BLOUGH, Neal. Até as últimas consequências da Escritura. Os radicais das reformas. In: CORBAIN, Alain (org.). História do cristianismo: para compreender melhor nosso tempo. São Paulo: Martins Fontes, 2009. MONTEIRO, Rodrigo Bentes. As Reformas Religiosas na Europa Moderna notas para um debate historiográfico. Varia Historia, Belo Horizonte, v. 23, n. 37, p.130-150, Jan/Jun 2007.