CICLO DE KREBS Prof. Didier Salmon MSc Cristiane S. Lessa Bioquímica para Enfermagem Janeiro 2016 13/01/16 Ciclo de Krebs • Também conhecido como ciclo do ácido cítrico ou ciclo dos ácidos tricarboxílicos; • É o estágio final do metabolismo de carboidratos, aminoácidos e lipídeos; • É executado na matriz mitocondrial de eucariontes e no citoplasma dos procariontes. • Faz parte do metabolismo aeróbico; • Foi descoberto por Hans Krebs Vias Lineares • Glicólise e Gliconeogênese GLICOSE PIRUVATO Via Circular • Ciclo do Ácido Cítrico ou Ciclo de Krebs – Representa o estágio final da oxidação de fontes de energia metabólica (carboidratos, ácidos graxos e aminoácidos) – Rota central de recuperação de energia a partir de vários combustiveis metabólicos Um pouco de história... • Como resultados de experimentos Lavoisier postula que: – “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” • Equação de Lavoisier: Matéria orgânica + O2 CO2 + H2O + energia • Otto Warburg busca entender a equação de Lavoisier em diferentes tecidos; • Desenvolve um respirômetro para medir o consumo de O2 e a produção de CO2. Respirômetro de Warburg Coloca o substrato Pressão CO2 Tecido Meio de cultura Fluido com cor Papel de filtro com KOH KOH + CO2 KHCO3 - Era usado para medir a produção de CO2. - Permitia determinar a estequiometria das reações. • Células Produzem CO2 • Formação de Bicarbonato • ↓ Pressão no frasco • ↑ Líquido na coluna • Mede consumo de O2 pela diminuição da pressão e de CO2 por formação de bicarbonato Destino do Piruvato na Presença de O2 • A: Piruvato (C3) + 3O2 3CO2 + 3H2O • Szent – Györg (1930) testa ácidos C4 • B: Piruvato (C3) + ácidos dicarboxílicos (C4) + nO2 50 piruvato + CO2 40 30 piruvato 20 10 0 0 5 10 tempo 15 20 nCO2 + nH2O oxaloacetato succinato malato fumarato Hans Krebs • Krebs então testa outros ácidos dicarboxílicos. Em 1935 descobre que um deles, o α-cetoglutarato, com 5 carbonos, assim como nos experimentos de Szent-Györgyi, aceleravam a produção de CO2 e não eram consumidos na reação • Em 1937 Krebs testa ácidos tricarboxílicos como citrato, isocitrato e aconitato, agora com 6 carbonos, e observa que a produção de CO2 também era estimulada e esses intermediários não eram consumidos. 50 piruvato CO2 40 30 piruvato 20 10 0 0 5 10 tempo 15 20 + citrato isocitrato aconitato Hans Krebs • Segundo Krebs, outra contribuição significativa para suas descobertas veio dos estudos de Martius e Knoop, em 1937, que elucidaram a transformação oxidativa de citrato até α-cetoglutarato Em 1936, Carl Martius e Franz Knoop demonstraram que o citrato pode ser formado de modo não-enzimático a partir do oxaloacetato e do piruvato Hans Krebs • Krebs também observou que a formação de citrato (C6) ocorria rapidamente após a adição de oxaloacetato (C4) em diversos tecidos. Oxaloacetato (C4) + ???(C2) • Citrato(C6) Composto vindo provavelmente da degradação da glicose Juntando as seguintes informações: • 1- ácidos di- e tri- carboxílicos aceleravam a formação de CO2 em diversos tecidos mas não eram consumidos na reação. • 2- algum composto de 2 carbonos vindo provavelmente da glicólise se combinava com oxaloacetato e formava um composto de 6 carbonos (citrato) que iniciava uma via de interconversão, Krebs conclui e postula um modelo que ele chamou de “Ciclo do Ácido Cítrico” ou dos “Ácidos Tricarboxílicos”. Krebs então postula que: “O piruvato, ou um derivado vindo da glicólise (acetato), se condensa com o oxaloacetato e forma citrato. Por uma sequência de reações que envolvem cis-aconitato, isocitrato, α-cetoglutarato, succinato, fumarato, malato e oxaloacetato como intermediários, um ácido acético é oxidado e o oxaloacetato necessário para a reação inicial de condensação é regenerado. Isso explica a ação catalítica dos ácidos di e tricarboxílicos (de 4, 5 e 6 carbonos), bem como a capacidade que esses ácidos possuem de se oxidar nos tecidos que oxidam carboidratos.” Ciclo do Ácido Cítrico • Mitocôndria – Membranas interna e externa – Matriz Mitocondrial Matriz Membrana interna Membrana externa Os experimentos de Fritz Lipmann • Os experimentos de Fritz Lipmann – Naquela época já se sabia que a Coenzima A estava envolvida em reações de transferência de carbono e que ela era derivado do ácido pantotênico, uma vitamina pertencente ao complexo B (vit. B5). Ac. Pantotênico = Vit. B5 Os experimentos de Fritz Lipmann Lipmann demonstra que o consumo de O2 é aumentado na presença de ácido pantotênico quando se fornece glicose-fosfato para leveduras Coenzima A • Ubíqua nos tecidos • Síntese de citrato aumenta na presença de CoA E como é formado Acetil-CoA a partir do piruvato? Pelo Complexo Piruvato Desidrogenase!!! • Complexo multienzimático associados de modo não covalente. Possui três tipos de enzimas em cópias múltiplas: E1, E2, E3 E1= piruvato desidrogenase (amarelo) E2= di-hidrolipoil-transacetilase (verde) E3= di-hidrolipoil-desidrogenase (vermelho) Grande o suficiente para ser visto em microscopia eletrônica O Complexo Piruvato Desidrogenase Reação de descarboxilação oxidativa • Complexo multienzimático: grupos de enzimas associadas de modo não-covalente que catalisam duas ou mais reações seqüencias em uma rota metabólica – Aumento a velocidade das reações, canalização dos intermediários minimizando as reações secundárias, controle coordenado das reações catalisadas O Complexo Piruvato Desidrogenase Descarboxilação Oxidativa 1- O piruvato reage com o TPP ligado à E1, sendo descarboxilado ao derivado hidroxietil; 2- Transferência de 2e- e do grupo acetil a partir do TPP para a forma oxidada do grupo lipoil-lisina do centro do complexo E2, formando o acetil-tio éster do grupo lipoil reduzido; 3- Transesterificação, o grupo SH da CoA substitui o SH da E2, produzindo Acetil CoA. 4- A E3 promove a transferência de 2 átomos de hidrogênio dos grupos lipoil reduzidos de E2 ao grupo prostético FAD de E3, restaurando a forma oxidada do grupo lipoillisina de E2. 5- O FADH2 reduzido de E3 transfere um ion hidreto ao NAD, formando NADH. O complexo enzimático está agora pronto para outro ciclo catalítico. Cinco coenzimas, Quatro vitaminas • Cinco coenzimas (Grupos prostéticos) participam da reação – TPP (tiamina) – Vitamina B1 – FAD (riboflavina) – Vitamina B2 – NAD (niacina) – Vitamina B3 – CoA-SH (pantotenato) – Vitamina B5 – Lipoato Tiamina (Vitamina B1) Cinco coenzimas, Quatro vitaminas • Cinco coenzimas (Grupos prostéticos) participam da reação – TPP (tiamina) – FAD (riboflavina) – NAD (niacina) – CoA-SH (pantotenato) – Lipoato Riboflavina (Vitamina B2) Cinco coenzimas, Quatro vitaminas • Cinco coenzimas (Grupos prostéticos) participam da reação – TPP (tiamina) – FAD (riboflavina) – NAD (niacina) – CoA-SH (pantotenato) – Lipoato Niacina (Vitamina B3) Cinco coenzimas, Quatro vitaminas • Cinco coenzimas (Grupos prostéticos) participam da reação – TPP (tiamina) – FAD (riboflavina) – NAD (niacina) – CoA-SH (pantotenato) – Lipoato Vitamina B5 Cinco coenzimas, Quatro vitaminas • Cinco coenzimas (Grupos prostéticos) participam da reação – TPP (tiamina) – FAD (riboflavina) – NAD (niacina) – CoA-SH (pantotenato) – Lipoato Lipoato Atua como transportador de acilas. Beriberi – Deficiência de B1 A tiamina está envolvida em várias funções após fosforilada no organismo: • Metabolismo de carboidratos; • Metabolismo de lipídeos (mielina); • Metabolismo de aminoácidos; • Produção de neurotransmissores; Sua falta provoca doenças, como o beribéri, caracterizada por perda da função neural. Principais causas: • Dieta pobre em B1; • Abuso de álcool (dificulta absorção da B1); • Baixa absorção da vitamina B1 pelo intestino (como por infecção de Penicillium citreonigrum); • Diarreias e/ou vômitos por longos períodos; • Genética (rara) Ciclo de Reações da PD Piruvato Desidrogenase (E1) Diidrolipoil Transacetilase (E2) Hidroxietil-TPP Diidrolipoil Desidrogenase (E3) Lipoamido = ácido lipóico ligado a um resíduo lisina Piruvato Desidrogenase (E1) Diidrolipoil Transacetilase (E2) Diidrolipoil Desidrogenase (E3) Hidroxietil-TPP Acetil- diidrolipoamido Transesterificação e produção da AcetilCoA Piruvato Desidrogenase (E1) Oxidação da hidroxietil a acetila na redução do dissulfeto do lipoamida Diidrolipoil Transacetilase (E2) Diidrolipoil Desidrogenase (E3) Hidroxietil-TPP diiidrolipoamido Piruvato Desidrogenase (E1) Diidrolipoil Transacetilase (E2) Diidrolipoil Desidrogenase (E3) Hidroxietil-TPP Regeneração do lipoamido Piruvato Desidrogenase (E1) Diidrolipoil Transacetilase (E2) Diidrolipoil Desidrogenase (E3) Arsênico MAS... O complexo piruvato desidrogenase pode ser inibido pela reação do grupo lipoamido com compostos que contêm arsênico Resumindo as reações do PDH E1= piruvato desidrogenase Piruvato + TPP Hidroxietil-TPP + CO2 E2= dihidrolipoil transacetilase Hidroxietil-TPP + lipoil-lisina oxidada TPP + Acetil tioester da lipoil-lisina reduzida E2= dihidrolipoil transacetilase Acetil tioester da lipoil-lisina reduzida + CoA Acetil-CoA + lipoil lisina reduzida E3= dihidrolipoil desidrogenase: restauração do complexo PDH ao seu estado inicial (regeneração da lipoamida oxidada e produção de FADH2 e redução do FADH2 pelo NAD produzindo NADH ) Regulação do Complexo Piruvato Desidrogenase • Inibida quando [ATP/ADP], [NADH/NAD+] e [acetilCoA/CoA] – Balanço energético positivo • Inibida por ácido graxos de cadeia longa (modificação alostérica) • Por modificação covalente de E1 (mamíferos): – piruvato desidrogenase cinase fosforila E1 inativa o PDC (ATP é um ativador alostérico desta cinase) – piruvato desidrogenase fosfatase: reativa o PDC Insulina A insulina reverte essa inativação ativando a PD fosfatase promovendo a síntese de acetil-CoA As Reações do Ciclo de Krebs Matriz Mitocondrial 1) Citrato Sintase • Sintase: reação de condensação sem nucleosídeo trifosfato (ATP, GTP...) ou outra origem de energia 1) Citrato Sintase • Oxaloacetato (em amarelo) é o primeiro substrato a se ligar, e promove uma mudança conformacional, criando um sítio de ligação para o segundo substrato, o Acetil-CoA (em vermelho um análogo da Acetil-CoA) = reação cinética seqüencial ordenada 1) Citrato Sintase • Importância da ligação tioéster 2) Aconitase • Isomerização de citrato a isocitrato via cis-aconitato • Aconitase contêm um grupo ferro-enxofre 4Fe-4S 3) Isocitrato Desidrogenase • Ocorre a primeira descarboxilação oxidativa com liberação com conservação de energia na forma de NADH • O CO2 eliminado vem do OAA não do acetil-CoA 4) a-Cetoglutarato Desidrogenase • Perda do grupo carboxila na forma de CO2 e Energia de oxidação conservada na ligação tioéster 5) Succinil-CoA Sintetase • Energia livre de hidrólise da ligação tioéster do succinil-CoA forte e negativa (-36 kJ/mol) • Sintetase: reação de condensação com uso de nucleosídeos trifosfato 5) Succinil-CoA Sintetase • Fosforilação a nível do substrato, como na glicólise. 6) Succinato Desidrogenase • Catalisa a desidrogenação estereoespecífica do succinato em fumarato • Única enzima do ciclo que não se encontra solúvel na matriz Malonato = inibidor competitivo 7) Fumarase 8) Malato Desidrogenase • Regeneração do Oxaloacetato pela oxidação do malato Saldo Final • 3 NADH • 1 FADH2 • 1 GTP ou ATP Componentes do TCA são importantes intermediários anabólicos • O ciclo de Krebs é uma via anfibótica, serve para processos catabólicos e anabólicos; • Intermediários da via são precursores de vias de biossíntese: - Oxaloacetato convertido em glicose na gliconeogênese; - Succinil-CoA é intermediário central para a síntese do anel porfirínico dos grupos heme e transportadores de elétrons; - O citrato produzido por alguns organismos é usado na industrias para variados propósitos; • Esses intermediários são repostos por reações anapleróticas. Componentes do TCA são importantes intermediários anabólicos Reações anapleróticas repõem os intermediários O catabolismo de proteínas gera diversos intermediários do TCA Regulação do Ciclo de Krebs Regulação em dois níveis principais: • Conversão de piruvato a Acetil-CoA (piruvato desidrogenase) • A entrada de acetil-CoA no ciclo (citrato-sintase) Regulada também: • Na reação da Isocitrato-desidrogenase; • Na reação da alfa-cetoglutarato-desidrogenase Regulação do Ciclo de Krebs No músculo cardíaco o fluxo de metabólitos no TCA é proporcional a taxa de consumo de oxigênio : 3 níveis de regulação: Piruvato carboxilase -Disponibilidade de Substrato -Inibição por acumulo de Produto -Inibição competitiva retroativa pelos intermediários Velocidades da glicólise e do CK são reguladas de maneira integrada (NADH, ATP, Citrato) Diabetes e formação dos corpos cetónicos...