PREVENTIVO DO CÂNCER GINECOLÓGICO: CONHECIMENTO E ADESÃO DAS MULHERES À REALIZAÇÃO DO EXAME Pesquisadora: Kitian Medeiros Martins Colaboração: Vanessa Batista Orientação: Prof. Msc. Maria Regina Rufino Delfino O presente estudo se constitui em um relatório de pesquisa do Programa de Iniciação Científica da Universidade do Sul de Santa Catarina – Campus Tubarão (SC), desenvolvido no Ambulatório Materno Infantil (AMI) desta Universidade. Trata-se de um estudo exploratório de abordagem qualitativa. Este estudo foi realizado com dez mulheres que se encontravam no AMI para realizar consulta médica ginecológica.Teve como objetivo verificar o conhecimento e a adesão das mulheres à realização do preventivo de câncer. O processo de coleta dos dados foi realizado através de um instrumento de entrevista semiestruturada, sendo o registro dos dados efetuado neste instrumento. A análise dos dados seguiu os princípios da pesquisa qualitativa através do processo de categorização dos dados, que compreende a ordenação, a classificação e a análise final. A análise referente à pesquisa revelou que as participantes na grande maioria apresentam algum conhecimento sobre o preventivo e realizam o mesmo anualmente. Palavras-chave: Prevenção. Promoção da Saúde. Câncer do Colo do Útero. APRESENTAÇAO O câncer do colo uterino é uma doença temida devido o seu alto grau de morbimortalidade na população feminina. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer – INCA dentre todos os tipos, o câncer do colo do útero é o que apresenta um dos mais altos potenciais de prevenção e cura, perto de 100%, quando diagnosticado precocemente. Seu pico de incidência situa-se entre 40 e 60 anos de idade, e também, entre os 45 a 49 anos, sendo que apenas uma pequena porcentagem ocorre abaixo dos 30 anos. De acordo com o INCA, o câncer do colo do útero é o segundo mais comum entre as mulheres no mundo, ocorrendo anualmente cerca de 471 mil casos novos da doença e responsável por 230 mil mortes de mulheres por ano. (BRASIL, 2008). O câncer do colo do útero vem aumentando gradualmente sendo atualmente o segundo tipo de câncer mais freqüentes em mulheres, ficando atrás apenas do câncer de mama. Segundo o INCA (BRASIL, 2008) o número de casos novos de câncer do colo do útero esperados para o Brasil no ano de 2008 e 2009 é de 18.680, com um risco estimado de 19 casos a cada 100 mil mulheres. Na região Sul do Brasil, ocorrem por ano 28 casos a cada 100 mil mulheres. O câncer do colo do útero tem como causas principais o vírus papiloma humano (HPV), transmitido por via sexual, sendo comum nas mulheres com iniciação sexual precoce e com multiplicidade de parceiros. Outros fatores que influenciam a origem deste câncer são o tabagismo e o uso de anticoncepcionais orais por tempo prolongado. (BRASIL, 2008). Estudos mostram que aproximadamente todos os casos de câncer do colo do útero são causados por um dos 15 tipos oncogênicos do HPV. Destes, os tipos mais comuns são o HPV 16 e o HPV 18, além também de outros fatores que contribuem para a etiologia do CA de colo. (BRASIL, 2003). Quanto a prevenção primária do câncer do colo uterino, Domingos et al.(2007, p. 397) afirmam que: A principal estratégia para a prevenção primária da doença é o uso de preservativo (masculino ou feminino) durante as relações sexuais, visto que a infecção pelo vírus papiloma humano (HPV) está presente em 90% dos casos. A prevenção secundária é realizada por meio do exame preventivo (Papanicolaou) para a detecção precoce da doença. No entanto, embora o câncer do colo uterino possa se transformar em uma doença letal para a mulher e diagnosticado precocemente, apresenta um alto grau de cura. A forma de prevenção do câncer de colo do útero é o exame Papanicolau, também denominado de colpocitologia, sendo conhecido pelas mulheres como preventivo do câncer. O exame preventivo de câncer, citologia oncótica, ou como também é conhecido, Papanicolau, foi descoberto em 1940 pelo Dr. George Papanicolau, sendo atualmente mais conhecido como preventivo, pela sua função de indicar precocemente alterações celulares, se realizado periodicamente. Segundo Smeltzer e Bare (2005, p. 1460), devido à descoberta de Papanicolau, em 1940, “o câncer do colo de útero passou a ser diagnosticado e tratado mais precocemente”. Segundo Giraud et al. (2005, p. 28) a citologia oncótica “[...] é a pesquisa à procura de células descamadas das lesões cancerosas e pré-cancerosas do colo”. Para Oliveira et al. (2004, p. 177) “O teste Papanicolau é aceito internacionalmente como o instrumento mais adequado e de baixo custo, conhecido e aceito para o rastreamento deste tipo de câncer”. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2007) propõe uma periodicidade do rastreamento do preventivo de câncer no intervalo de um ano e a cada três anos, após dois exames normais consecutivos. Dentre os profissionais da área da saúde, os médicos e em especial os enfermeiros exercem papel de excelência, para a prevenção, detecção e tratamento do câncer do colo uterino. Estes profissionais são os que realizam o exame colpocitólogico, onde visualizam o colo uterino, vagina e sistema genital externo, além de realizar a coleta de forma efetiva da ectocervice e endocervice para análise microscópica. A partir da visualização a olho nu, o profissional irá fornecer orientações cabíveis às alterações apresentadas, até a chegada do diagnóstico definitivo, sendo que a partir deste, o profissional realizará os devidos encaminhamentos. No que se refere às orientações pertinentes a prevenção do câncer do colo uterino, o profissional deve destacar a utilização de preservativos nas relações sexuais como a principal forma de evitar infecções. Estas alterações podem ser detectadas precocemente, caso não sejam, podem causar mutações nas células do sistema genital, levando ao aparecimento de neoplasias, sendo que as maiores incidências de câncer do colo do útero se encontram nas portadoras de HPV. (SMELTZER; BARE, 2005). METODOLOGIA Trata-se de um estudo exploratório de abordagem qualitativa. Participaram da pesquisa dez mulheres na faixa etária entre 20 a 44 anos, que se encontravam no AMI para realizar consulta médica ginecológica. O processo de coleta dos dados foi realizado através de um instrumento de entrevista semi-estruturada, sendo o registro dos dados efetuado neste instrumento. Foram respeitos os aspectos éticos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (Brasil 2000), de acordo com as Normas e Diretrizes de Pesquisa envolvendo seres humanos. A análise dos dados seguiu os princípios da abordagem qualitativa através da ordenação, categorização e análise final dos dados, com base em Minayo (2004), confrontando-os com a literatura consultada. Diante das questões norteadoras da pesquisa identificou-se nas entrevistas realizadas que a maioria das participantes apresenta algum conhecimento sobre a realização do exame preventivo. “O preventivo é importante, porque identifica as doença e feridas. Conhece a causa dos corrimentos e outros problemas”. (Palma). A este respeito, Pelloso, Carvalho e Higarashi (2004) relatam que para ocorrer à detecção precoce do câncer é necessário que a mulher procure os serviços de saúde espontaneamente para a realização do exame preventivo. Embora o exame preventivo seja conhecido por muitas mulheres, neste estudo foram encontradas situações de desconhecimento sobre a finalidade do exame, como medida preventiva do câncer. “[...] faço o preventivo porque me falaram que é importante fazer, mas não sei para que serve”. (Flor-do-Campo). “Faz quatro anos que não realizo mais (exame preventivo), pois tenho vergonha de realizar”. (Orquídea). Além do desconhecimento, ainda há fatores pessoais que influenciam na não realização do exame preventivo de câncer do colo do útero, que se referem aos sentimentos da mulher frente ao exame como vergonha, constrangimento, medo, ansiedade e também pelo resultado do preventivo. (PAULA; MADEIRA, 2003). As participantes deste estudo ainda foram questionadas quanto à freqüência que realizam o exame preventivo, sendo que seis das entrevistadas relataram que realizam o exame anualmente, três fazem esporadicamente e uma a cada seis meses. “Faço todo ano e se tiver alguma alteração já procuro atendimento antes”. (Hortência). “Uma vez por ano, sempre evitando para não passar disto”. (Margarida). Estes depoimentos das interlocutoras apontam a preocupação existente quanto à prevenção do câncer realizando o exame anualmente. CONCLUSÃO O câncer do colo do útero constitui um problema de saúde pública por ser uma doença causadora de morbi-mortalidade na população feminina brasileira. Portanto, requer ações de promoção contínua dos serviços de saúde, por ser um tipo de doença que dispõe de tecnologia simples para prevenção, detecção precoce e tratamento. A partir deste problema, este estudo buscou verificar o conhecimento e a adesão das mulheres à realização do preventivo de câncer, sendo este objetivo plenamente alcançado. A análise dos dados revelou que a maioria das participantes realiza o exame preventivo periodicamente e o considera importante como meio de prevenção do câncer do colo do útero. Por sua vez, algumas mulheres ainda referem não aderir ao referido exame por medo e vergonha, corroborando com dados encontrados na literatura consultada. Do ponto de vista acadêmico, o estudo contribuiu para aprimorar o conhecimento da pesquisadora e para o exercício da pesquisa científica. Este ainda se constituiu em uma oportunidade para orientar as participantes do estudo quanto à importância da prevenção do câncer. PRINCIPAIS REFERENCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão de Ética em Pesquisa. Normas para a pesquisa com seres humanos: Res. CNS 196/96 e outras. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8. ed. São Paulo: Hucitec, 2004. OLIVEIRA, Michele Mandagará de et al. Câncer cérviço uterino: um olhar crítico sobre a prevenção. Rev Gaúcha Enferm, Porto Alegre, n. 25, v. 2, p. 176-183, ago 2004. PAULA, Aline Fernandes de; MADEIRA, Anézia Moreira Faria. O exame colpocitológico sob a ótica da mulher que o vivencia. Rev. esc. enferm. USP., v. 37, n. 3, set. 2003. PELLOSO, Sandra; CARVALHO, Maria Dalva de Barros; HIGARASHI, Ieda Harumi. Conhecimento das mulheres sobre o câncer cérvico-uterino. Acta Scientiarum: Maringá, v. 26, n. 2, p. 319-324, 2004.