Vacina contra rotavírus no SUS Brasil é o primeiro país do mundo a incluir a dose em sistema público de saúde O rotavírus representa uma grande ameaça para a saúde das crianças, por provocar cerca de 30% dos casos de diarréias graves nos menores de cinco anos. Para reduzir em até 42% as internações hospitalares por diarréias, o Ministério da Saúde vai oferecer, a partir de 2006, no Sistema Único de Saúde (SUS), a vacina contra rotavírus. Os recém-nascidos terão direito a duas doses gratuitas: uma aos dois meses de idade e outra aos quatro meses. Para atender à demanda, o governo disponibilizará oito milhões de doses da vacina por ano. O Brasil será o primeiro país a incluir a vacina contra o rotavírus em seu sistema público de saúde. A dose passará a integrar o calendário do Programa Nacional de Imunizações (PNI) da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS). A vacina obteve registro este ano no país pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e foi testada em todos os continentes, em mais de 60 mil crianças. O estudo comprovou que a vacina contra o rotavírus é totalmente segura e eficaz. Para o secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, a introdução no SUS da vacina contra o rotavírus demonstra mais um esforço do Brasil para combater doenças que se previnem com a vacinação. “Todo o investimento que o ministério faz em vacinas é amplamente recompensado pela redução de casos e de mortes associadas a essas doenças”, afirma. Jarbas aponta como uma das evidências para a eficácia das campanhas no país a erradicação da varíola e da poliomielite. O secretário acredita que, graças a esse tipo de ação, até 2010 a pólio seja erradicada do planeta. A vacina para o rotavírus é produzida com o vírus vivo, atenuado, capaz de desenvolver a imunidade no corpo. Apenas não se recomenda a dose para crianças com quadros graves de imunodeficiência, como as portadoras do vírus HIV. Em geral, quando a criança toma a vacina, há pouca probabilidade dela apresentar algum efeito colateral. “Por a dose ser oral, o número de reações adversas é bem menor e mais leve”, explica Jarbas. Sintomas – Dá-se o nome de rotavírus a uma família de vírus que causa principalmente a gastroenterite, infecção que agride o conjunto gastro-intestinal (estômago e intestino). O período de incubação da doença varia de um a três dias. O paciente apresenta como principais sintomas vômito, febre e diarréia líquida constante, que, se não tratada, pode levar a uma grave desidratação. O problema ataca com mais intensidade principalmente crianças pequenas. “O importante é evitar a desidratação, para que a doença não provoque a morte”, observa Jarbas Barbosa. Apesar das doenças diarréicas serem mais comuns nas camadas mais pobres da população, principalmente no Norte e no Nordeste, a vacina será distribuída no país inteiro. “Queremos atingir não apenas as regiões mais carentes, mas as periferias das grandes cidades, onde as condições higiênicas também são precárias”, diz Jarbas. A vacinação contra rotavírus no Brasil privilegiará os recém-nascidos, pois se trata da faixa etária mais vulnerável à doença. Nessa fase da vida, as crianças adoecem com mais freqüência de diarréias graves e podem morrer por causa disso. Existem cerca de três milhões e 400 mil crianças menores de um ano no Brasil. O governo disponiblizará a partir de 2006 oito milhões de doses da vacina. Com isso, o Ministério da Saúde atenderá todas as pessoas com idade entre dois e quatro meses de idade e ainda contará com uma quantidade de reserva do medicamento. “O ministério sempre acrescenta um pouco mais de doses do que o necessário para formar o chamado estoque estratégico, pois vacinamos também crianças no limiar da faixa etária”, explica Jarbas Barbosa. O Ministério da Saúde trabalhará com uma margem de aproximadamente 20% de reserva de doses. Mudanças – O calendário infantil brasileiro não era atualizado há mais de seis anos. “A última vacina incluída de forma regular foi a HiB (Haemophilus influenza tipo b, para proteção contra a meningite bacteriana), em 1999”, lembra Jarbas Barbosa. Em 1998 foi introduzida no SUS a vacina contra hepatite B. Com a vacina contra rotavírus, o calendário infantil do governo passará a cobrir 12 doenças. Entre elas estão tuberculose, pólio, difteria, tétano, caxumba, sarampo e rubéola. Todas são aplicadas gratuitamente nos postos de saúde. Higiene é fundamental para prevenir doença A transmissão do rotavírus acontece de forma fecal-oral. O vírus é expelido nas fezes da criança e vai para o meio ambiente. Nos locais onde as condições sanitárias não são adequadas, o rotavírus acaba contaminando pessoas de qualquer idade. Mãos sujas, alimentos e objetos contaminados facilitam o contágio. Por isso, cuidados com a higiene ajudam na prevenção. Os profissionais de saúde chamam a atenção para a importância, por exemplo, de se lavar as mãos com sabão antes e depois de ir ao banheiro No caso dos profissionais de berçários e de enfermarias pediátricas, esse procedimento deve ser realizado sempre após a troca de fralda das crianças. Todo o alimento tem de ser bem lavado. Se a pessoa não tiver acesso à água encanada e tratada, é importante que faça a desinfecção da água, ou fervendo ou colocando hipoclorito. Pode-se adquirir essa substância gratuitamente em postos do SUS ou por meio dos agentes comunitários de saúde. O aleitamento também serve para prevenir o rotavírus. “Mesmo que a criança tenha diarréia, a amamentação deve continuar, pois é uma das mais importantes formas de prevenção das doenças diarréicas agudas”, ressalta Jarbas Barbosa. SUS oferece tratamento Caso a criança apresente sintomas do rotavírus, a mãe deve levá-la imediatamente para uma unidade de saúde. “Se ela estiver vomitando, não espere. Um intervalo de poucas horas pode ser fatal”, alerta o secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa. O diagnóstico da doença ocorre por meio da história clínica do paciente, de antecedentes epidemiológicos e de exame clínico. No entanto, a confirmação laboratorial é fundamental, já que a diarréia por rotavírus pode apresentar as mesmas características de outros agentes causadores. O tratamento se baseia na reidratação dos pacientes. Eles são avaliados por meio de exame clínico que identifica o grau de desidratação. Se for detectada uma desidratação leve, recomenda-se o uso do soro de hidratação oral na própria casa do paciente. Se for moderada, indica-se também o soro via oral, mas sob observação médica. Em casos mais graves, faz-se a aplicação do soro na veia do paciente. O tratamento inclui ainda o aumento da ingestão de líquidos. “Esse tratamento foi estabelecido e padronizado pela Organização Mundial da Saúde”, afirma Jarbas.