Rio de Janeiro, 20 de junho de 2011 Universidade do Estado do Rio de Janeiro Faculdade de Odontologia Desordens Funcionais dos Músculos Mastigatórios Seminário de Oclusão II Alunas: Áquila Santos, Juliana Ferreira, Lilian Lessa, Monique Rocha, Nathália Almeida, Thais Miranda, Thayane Barcelos Índice Introdução 3 Dor 3 Disfunção 4 Modelo Clínico da Dor na Musculatura Mastigatória 4 Co-contração Protetora 6 Sensibilidade Dolorosa Muscular Local 7 Efeitos do Sistema Nervoso Central na Dor Muscular 8 Mioespasmo 9 Dor Muscular Crônica 9 Fatores Perpetuantes 10 Desordens Miálgicas Regionais Dor Miofascial 11 Mialgia Centralmente Mediada 13 Desordens Miálgicas Sistemas Crônicas 14 Bibliografia 15 2 Introdução O estudo dos sinais e sintomas das disfunção mastigatória é dividido em grupos conforme as estruturas afetadas como os músculos, articulações temporomandibulares e a dentição. Juntamente com os sinais e sintomas de cada um estão os fatores etiológicos que podem originar ou cooperar com a desordem. Sinal é um achado clínico objetivo, descoberto durante o exame clínico. Sintoma é uma descrição feita pelo paciente da sua percepção do problema. A identificação clara dos sinais e sintomas durante a avaliação de um paciente é de extrema importância. O conhecimento preciso dos sinais e sintomas de cada desordem pelo profissional evitará que os sinais subclínicos ao paciente passem despercebidos. Dor A queixa predominante dos pacientes que buscam tratamento odontológico é a dor, sendo as desordens funcionais musculares secundárias às odontalgias, com relação a freqüência. A dor muscular pode variar de um leve sensibilidade à um desconforto extremo. A dor sentida na musculatura é denominada mialgia. Essa dor pode ocorrer a partir de diferentes estágios de uso muscular. Os sintomas estão associados à uma sensação de fadiga e tensão muscular. A origem da dor ainda é um assunto discutível mas para alguns autores há uma ligação com a liberação de substâncias alógenas, como prostaglandinas e bradicininas, quando ocorre vasoconstrição de artérias e acúmulo de subprodutos metabólicos dentro da área isquêmica do músculo. A dor muscular, todavia, é muito mais complexa que um simples uso exagerado ou fadiga. Em sua maioria, a dor muscular associada a maior parte das DTMs parece não estar tão correlacionada com o aumento da atividade. Há hipótese de uma grande influência por mecanismo centrais na intensidade da dor. A gravidade da dor está intimamente ligada com a atividade funcional do músculo envolvido. Por isso, geralmente os pacientes descrevem que a dor afeta as atividades funcionais. Contudo quando há relato de dor durante a mastigação ou fala não significa que a origem da desordem são as mesmas. Ao contrário, elas aumentam a consciência do paciente quanto à desordem. Possivelmente algum tipo de atividade ou algum efeito do SNC tenham levado à dor muscular, desta forma, direcionar o 3 tratamento para a atividade funcional não será apropriado; preferivelmente, o tratamento deve visar a diminuição da hiperatividade muscular ou efeitos do SNC. O clínico deve atentar que a dor miogênica é um tipo profunda e, se ela se tornar constante, pode produzir efeitos excitatórios centrais. Esses efeitos podem se apresentar como efeitos sensoriais (ex. dor referida), efeitos eferentes (ex. efeitos musculares) ou até efeitos autonômicos. Outro sintoma comum associado às dores dos músculos mastigatórios é a dor de cabeça. Disfunção A disfunção é um sintoma clínico comum associado às desordens da musculatura mastigatória. Geralmente é caracterizada pela diminuição na amplitude dos movimentos. Quando os tecidos musculares estiverem comprometidos pelo excesso de uso, qualquer contração ou estiramento aumenta a dor. Portanto, para manter o conforto, o paciente restringe os movimentos dentro de uma amplitude que não cause o aumento do nível de dor. Clinicamente se apresenta como uma dificuldade de abrir a boca amplamente. A má oclusão aguda é outro tipo de disfunção. Ela refere-se a qualquer mudança repentina na posição oclusal que tenha sido criada por uma desordem. Uma mudança repentina no comprimento de repouso de um músculo que controla a posição mandibular pode causar essa disfunção. Quando isto ocorre, o paciente descreve uma mudança no contato oclusal dos dentes. A posição mandibular e a alteração das relações oclusais resultantes dependem dos músculos envolvidos. Desta forma o tratamento nunca deve ser direcionado a correção da má oclusão, ao contrário, deve ter como objetivo a eliminação da desordem muscular. Quando devidamente corrigida, a condição oclusal voltará ao normal. Todas as desordens da musculatura mastigatória são diferentes clinicamente. Com isso, distingui-las é importante para o correto direcionamento do tratamento específico à cada desordem. Os seis tipos são co-contração protetora, sensibilidade dolorosa muscular local, dor miofascial, mioespasmo e mialgia crônica mediada centralmente e fibromialgia. Modelo Clínico da Dor na Musculatura Mastigatória O início das dores miofaciais está relacionado com a fadiga da musculatura mastigatória. Na dor da musculatura mastigatória, a sobrecarga (hábitos parafuncionais, apertamento), microtrauma ou inflamação local dos músculos 4 promovem a liberação de neurotransmissores que sensibiliza o sistema nervoso periférico e central. Em conjunto com mecanismos reguladores da dor alterados (também influenciado por hormônios femininos), tal sensibilização pode levar à dor muscular localizada ou difusa. Nossos músculos da mastigação trabalham enquanto comemos, deglutimos, conversamos, rimos, e em outras situações cotidianas restritas,a fadiga acontece quando sobrecarregamos nossos músculos, fazendo-os trabalhar de forma errada ou nos períodos em que deviam descansar, por exemplo: pessoas que mastigam apenas de um lado, pessoas que mascam o dia inteiro (chicletes, pontas de caneta, lápis, palitos, ou outros objetos), indivíduos com bruxismo (ranger de dentes, geralmente durante o sono). Mesmo com todas essas formas de sobrecarga muscular, as crises dolorosas quase sempre apresentam como fator desencadeante o estresse emocional. A dor de origem muscular geralmente é referida como difusa, acometendo áreas extensas da face e cabeça, ás vezes como sensações de queimação, peso, latejamento, tensionamento e pontadas,essa é evidente na palpação da musculatura, que muitas vezes apresenta nódulos dolorosos de tensão muscular (pontos de gatilho), ocorre também dificuldade de abertura bucal, sensação de fraqueza muscular, e irradiação da dor para outras áreas da face e cabeça. Essas dores podem ser erroneamente confundidas e tratadas como cefaléias, enxaquecas, ou dores de ouvido, sendo também frequentemente diagnosticadas de forma equivocada como problemas relacionados às articulações temporomandibulares (ATMs). A artralgia da ATM pode ser resultado de traumas ou de sobrecargas intrínsecas e extrínsecas da articulação, podendo ultrapassar a capacidade adaptativa dos tecidos articulares. Alternativamente, a capacidade adaptativa da ATM pode ser reduzida pelos fatores intrínsecos assim como a diminuição de aporte sanguíneo e nutrição, a produção de radicais livres, neuropeptídeos proinflamatórios e nociceptivos, enzimas, proteínas morfogenéticas ósseas, e fatores de crescimento levam à inflamação, dor, e mudanças teciduais progressivas. O modelo de dor na musculatura mastigatória começa mostrando que os músculos da mastigação estão saudáveis e funcionando normalmente. A função muscular normal pode ser interrompida por certos eventos, se um desses é significante ocorre uma resposta muscular chamada de co-contração protetora,que na maioria dos 5 casos se soluciona rapidamente, no entanto, se a co-contração for prolongada podem ocorrer mudanças bioquímicas e estruturais locais, gerando uma situação conhecida como sensibilidade dolorosa muscular local. Se essa não se resolver rapidamente pode se desenvolver mudanças nos tecidos musculares, levando a um estímulo de dor prolongado, que pode afetar o SNC resultando em certas respostas musculares. Como exemplos de desordens musculares influenciadas pelo SNC, podemos citar a dor miofascial e o mioespasmo. Se as desordens miálgicas agudas não forem devidamente controladas, certas situações perpetuantes podem levar a uma desordem miálgica mais crônica fazendo com que o SNC contribua mais para manter tal condição, sendo essa assim referida como mialgia centralmente mediada. Apesar de não ser primariamente uma desordem mastigatória a fibromialgia é uma condição álgica músculo-esquelética generalizada e global. O modelo abaixo irá detalhar a relação entre as várias desordens de dores musculares: Co-contração Protetora A primeira resposta dos músculos mastigatórios a um evento é a co-contração protetora. Esta é uma resposta do SNC a injúrias ou ameaças de injúrias e é também chamada de contratura muscular protetora. Na iminência de uma injúria, a sequência normal da atividade muscular parece ser alterada para proteger a parte ameaçada de mais injúria. Em presença de estímulos 6 sensoriais alterados ou dor, grupos de músculos antagonistas parecem se contrair durante o movimento, na tentativa de proteger a parte traumatizada. A co-contração protetora não é uma condição patológica, embora, quando prolongada, possa levar a sintomas musculares. A etiologia da co-contração protetora pode ser qualquer mudança no estímulo sensorial ou proprioceptivo das estruturas associadas. No sistema mastigatório, pode-se citar a cimentação de uma coroa alta. A co-contração protetora pode também ser causada por qualquer fonte de estímulo de dor profunda ou um aumento de estresse emocional. A co-contração é relatada clinicamente como uma sensação de fraqueza muscular diretamente após algum evento. Assim sendo, a história pregressa é muito importante. Não há dor relatada quando o músculo está em repouso, mas o uso do músculo aumenta a dor. O paciente frequentemente apresenta limitação de abertura de boca, mas, ao tentar-se abrir a boca vagarosamente, a abertura completa pode ser conseguida. Se a co-contração protetora continua por muitas horasou dias, o tecido muscular pode ficar comprometido e pode-se desenvolver um problema muscular local. Sensibilidade Dolorosa Muscular Local A sensibilidade dolorosa muscular local é uma desordem de dor miogênica primária, não-inflamatória. É a primeira resposta do tecido muscular a uma cocontração prolongada. Sendo esta uma resposta muscular induzida pelo SNC, a sensibilidade dolorosa muscular local representa uma condição caracterizada por mudanças no ambiente local dos tecidos musculares. Estas mudanças são caracterizadas pela liberação de certas substâncias algogênicas que causam dor, o que pode representar a fadiga. Além da co-contração prolongada, o trauma local e o uso excessivo do músculo também podem causar sensibilidade dolorosa muscular focal. Se este último fator fôr a causa do problema, pode haver demora para o início da sensibilidade muscular. Este tipo de sensibilidade dolorosa muscular local é geralmente denominada sensibilidade muscular de início tardio ou sensibilidade muscular pósexercício. Sendo a sensibilidade dolorosa muscular local uma fonte de dor profunda, um importante evento clínico pode ocorrer. Dor profunda gerada pela sensibilidade muscular pode produzir uma co-contração protetora adicional. Esta, por sua vez, pode produzir mais sensibilidade muscular e assim por diante, gerando uma dor muscular 7 cíclica. Como exemplo, podemos citar o bloqueio do nervo alveolar inferior. Por algum motivo, este pode traumatizar e causar uma sensibilidade dolorosa muscular local no músculo pterigóideo medial. A dor associada à sensibilidade produz co-contração protetora. Como esta condição pode levar à sensibilidade muscular, o ciclo se inicia. Durante este ciclo, o dano tecidual produzido pela injeção melhora e após a reparação tecidual completa, a fonte original de dor é eliminada. Entretanto, o paciente pode continuar a sofrer de desordem de dor muscular cíclica. Esta condição é um achado clínico extremamente comum, e quando não identificada leva a um controle incorreto do paciente. Sensibilidade dolorosa muscular local se apresenta clinicamente com os músculos sensíveis à palpação e revela um aumento de dor com a função. A disfunção estrutural é comum e quando os músculos elevadores estão envolvidos, ocorre limitação de abertura de boca. Diferentemente da co-contração protetora, o paciente tem muita dificuldade de abrir a boca além deste limite. Com a sensibilidade dolorosa muscular local há uma verdadeira fraqueza muscular que volta ao normal quando a contratura muscular é resolvida. Efeitos do Sistema Nervoso Central na Dor Muscular Descrever dor muscular com origem predominantemente nos tecidos musculares é algo relativamente simples. No entanto, há casos em que a atividade no SNC pode ser a origem da dor muscular ou influenciar nessa. Nestes casos, a dor muscular pode se tornar muito mais complexa. A causa para isso pode ser secundária a um estímulo de dor profunda ou de estímulos sensoriais alterados quanto surgir influências centrais, como o mecanismo de super sensibilização do sistema nervoso autônomo (Ex: estresse emocional). Isto ocorre quando uma alteração dentro do SNC excita neurônios sensoriais periféricos (aferentes primários), criando a liberação antidrômica de substancias algogênicas nos tecidos periféricos resultando em dor muscular (Ex: Inflamação neurogênica). Estes efeitos excitatórios centrais podem também levar a efeitos motores (eferentes primários), resultando num aumento da tonicidade muscular (co-contração). É importante que o clínico saiba reconhecer quando a dor muscular tem origem central para adotar os procedimentos terapêuticos adequados ao caso. O SNC responde desta maneira secundariamente a um dos três fatores: (1) A presença de um estímulo de dor profunda já existente, (2) Níveis elevados de estresse emocional, (3) mudanças no 8 sistema descendente inibidor que leva a uma diminuição da capacidade de responder ao estímulo aferente, seja ele nociceptivo ou não. As desordens de dor muscular centralmente mediadas serão discutidas nos tópicos seguintes. Mioespasmo (Mialgia de Contração) É uma contração tônica muscular involuntária induzida pelo SNC, frequentemente associada com condições metabólicas locais dentro dos tecidos musculares. Os mioespasmos geralmente são curtos, durando somente alguns minutos por vez. Eles são a mesma coisa que uma câimbra aguda em um músculo da perna. Algumas vezes essas contrações podem se tornar repetitivas com o tempo. Quando elas são repetitivas podem ser classificadas como distonia. Acredita-se que condições distonicas estão relacionadas a mecanismos do SNC e precisam ser tratadas de modo diferente do espasmo verdadeiro. A etiologia dos mioespasmos não tem sido bem documentada. É provável que muitos fatores se combinem para promover o mioespasmo. Condições musculares locais (como fadiga, mudanças no equilíbrio eletrolítico normal) certamente parecem criar mioespasmos. Estímulos de dor profunda também podem causar miespasmos. Clinicamente, observa-se que o mioespasmo produz uma disfunção estrutural. Como um músculo em espasmo é contraído, grandes alterações na posição mandibular ocorrem de acordo com o músculo ou os músculos em espasmo. Essas mudanças de posição criam certas maloclusões agudas. Mioespasmos também são caracterizados por enrijecimento muscular, como se nota à palpação. Dor Muscular Crônica As desordens miálgicas são comumente vistas na prática odontológica e normalmente representam problemas de curta duração. Entretanto, quando a dor miogênica persiste, desordens de dor crônica geralmente podem se desenvolver. Com a cronicidade, as desordens de dor miogênica se tornam ainda mais influenciadas pelo SNC, resultando em uma dor mais regional, ás vezes, em condição de dor global. A dor, como regra, é considerada crônica, quando está presente a pelo menos seis meses ou mais. A duração da dor, entretanto, não deve ser considerada o fator mais importante na determinação da cronicidade. O fator adicional que deve ser considerado 9 para cronicidade é a continuidade da dor. Quando a experiência de dor é constante, sem períodos de alívio, as manifestações clínicas de cronicidade se desenvolvem rapidamente. Por outro lado se a dor é interrompida por períodos de remissão (sem dor), a condição pode nunca se tornar crônica. O dentista deve reconhecer que conforme as queixas de mialgia progridem de uma desordem aguda para crônica, a eficácia do tratamento local é normalmente reduzida. Desordens de dor crônica, na maior parte das vezes, devem ser controladas por meio de uma abordagem multidisciplinar. Fatores Perpetuantes Fatores perpetuantes são fatores, que quando presentes podem prolongar a condição de dor muscular. Estes fatores podem ser divididos em fatores perpetuantes de fontes locais e de fontes sistêmicas. Fatores perpetuantes locais são aqueles que podem ser responsáveis pela progressão de uma desordem muscular aguda relativamente simples para uma condição de dor crônica mais complexa. São relacionados à: 1. Causa prolongada: Se o clínico falhar em eliminar a causa de uma desordem miálgica aguda, é provável que uma condição mais crônica se desenvolva. 2. Causa recorrente: Se o paciente apresenta episódios recorrentes da mesma etiologia que produziu uma desordem miálgica aguda, é provável que esta desordem progrida para uma condição mais crônica. 3. Terapia não adequada: Quando o paciente é tratado impropriamente de uma desordem miálgica aguda, os sintomas não desaparecem prontamente. Isto pode levar a uma condição mais crônica. Fatores perpetuantes sistêmicos são aqueles que podem ser responsáveis pela progressão de uma desordem muscular aguda para uma condição de dor crônica. São relacionados à: 1. Estresse emocional contínuo: Como o aumento do estresse emocional pode ser um fator etiológico no desenvolvimento de uma desordem muscular aguda, níveis significativos e contínuos de estresse emocional podem representar um fator perpetuante que pode avançar esta condição para uma desordem de dor crônica. 10 2. Regulagem baixa do sistema descendente inibitório: Um sistema descendente inibitório efetivo minimiza os estímulos nociceptivos em sua progressão para o Córtex. Se o sistema se tornar menos eficiente, uma nocicepção pode alcançar o Córtex resultando em uma experiência de dor maior. Uma diminuição na função do sistema descendente inibitório parece se encaixar com a apresentação clínica de problemas de dor contínua. 3. Distúrbios do sono: Distúrbios do sono parecem estar associados com muitas desordens de dor miálgica crônica. Esta relação deve ser reconhecida uma vez que pode ser necessária sua abordagem durante a terapia. 4. Comportamento aprendido: As pessoas aprendem a ficar doentes ao invés de saudáveis. Os pacientes que demonstram comportamentos de doença devem receber terapia para promover um comportamento de bem estar antes, para que a cura completa seja alcançada. 5. Ganho secundário: Quando o paciente aprende que dor crônica pode ser usada para alterar eventos da vida normal, o paciente pode ter dificuldades de desistir da dor e voltar para as responsabilidades normais. Por exemplo: Se a dor crônica se torna uma desculpa para evitar o trabalho, é difícil para o clínico resolver o problema a menos que paciente queira voltar ao trabalho. 6. Depressão: Depressão psicológica é um achado comum em paciente com dor crônica, pois pacientes que sofrem por longos períodos de tempo, freqüentemente vão ser deprimidos. Como a depressão pode se tornar um problema psicológico independente, a eliminação somente do problema de dor não eliminará, necessariamente a depressão. DESORDENS MIÁLGICAS REGIONAIS Dor Miofascial (Mialgia com Ponto de gatilho) Dor miofascial é uma condição de dor miogência regional caracterizada por áreas locais firmes hipersensitivas de tecidos musculares conhecidos como pontos de gatilho. Esta condição é as vezes referida como dor com ponto de gatilho miofascial. O ponto de gatilho é uma região, na qual apenas alguns pontos de um músculo parecem se contrair. Se todas as unidades motoras de um músculo se contraírem, o músculo, obviamente irá diminuir seu comprimento. 11 A característica peculiar dos pontos é que eles são uma fonte constante de dor profunda e, portanto podem produzir efeitos excitatórios centrais. Se um ponto de gatilho excita centralmente um grupo de interneurônios aferentes, resulta normalmente em dor referida, em geral com um padrão previsível de acordo com a localização do ponto de gatilho envolvido . A dor normalmente é relatada pelo paciente como dor de cabeça. O sinal mais comum da dor miofascial é a presença de áreas locais de tensão, enrijecimento e hipersensibilidade dos tecidos musculares, em muitos casos os pacientes podem estar conscientes apenas da dor referida e nem se quer ter conhecimento dos pontos de gatilho, esta apresentação clínica pode facilmente distrair o clínico da fonte do problema. O paciente desvia a atenção do clínico para o local da dor (dor de cabeça temporal, por exemplo) e não para a fonte real que seria o músculo trapézio (ponto de gatilho). Portanto o clínico deve ter bastante atenção e ser cuidadoso ao procurar pela fonte da dor. Essa desordem não é totalmente compreendida, porém algumas causas têm sido relatadas para a dor miofascial, como: níveis aumentados de estresse emocional, presença de distúrbios do sono, fatores locais que estimulam a atividade muscular tais como hábitos, postura, tensão muscular ou até mesmo friagem, fatores sistêmicos tais como nutrição inadequada, condicionamento físico deficiente, fadiga e infecções virais ou mesmo um mecanismo de ponto de gatilho idiopático. A queixa principal do paciente é frequentemente a dor heterotrópica e não a fonte real de dor (os pontos de gatilho). Portanto, o paciente irá direcionar o clínico para a dor de cabeça (do tipo tensional) ou a co-contração protetora. Se o clínico não for cuidadoso, ele provavelmente direcionará tratamento ás dores secundárias, o que obviamente não irá funcionar. O tratamento da dor miofascial é direcionado para a eliminação ou redução das causas, pode ser realizado como o seguinte protocolo: Eliminar qualquer fonte de estímulo de dor profunda presente de maneira apropriada de acordo com a causa. Reduzir fatores locais e sistêmicos que possam contribuir para a dor miofascial Se houver suspeita de desordem do sono deve-se realizar uma avaliação apropriada e um correto encaminhamento. 12 Eliminação dos pontos de gatilho, isso é alcançado pelo estiramento indolor do músculo que contém os pontos de gatilho podendo se dispor de algumas técnicas como : Spray e estiramento, pressão e massagem, Ultra-som e Estimulação Eletrogalvânica e injeção e Estiramento. Ressaltar a importância da terapia de suporte sendo essencial como modalidade de fisioterapia e técnicas manuais são usadas para tratar a dor miofascial, essas técnicas de mobilização dos tecidos moles e a do condicionamento muscular. Mialgia Centralmente Mediada (Miosite Crônica) É uma desordem de dor muscular crônica, contínua, e de origem do SNC, que e sentida perifericamente nos tecidos musculares. Essa desordem se apresenta clinicamente com sintomas de uma dor inflamatória do tecido muscular, e por isso é classificada como uma miosite. Como não apresenta os sinais clínicos de uma inflamação, não pode ser classificada como miosite e sim como uma inflamação neurológica. A causa da mialgia mediada centralmente é o SNC, e não as estruturas normalmente associadas do sistema mastigatório. Os neurônios que normalmente só conduzem informações da periferia para o SNC, podem agora passar a conduzir informação do SNC para os tecidos periféricos. Quando isso ocorre, os neurônios aferentes na periferia podem liberar neurotransmissores , que em resposta causam dor tecidual. Esse processo e denominado inflamação neurológica. O tratamento não deve ser do tecido muscular doloroso e sim direcionado para aos mecanismos centrais. Assim, quanto mais tempo durar o processo doloroso, maior a probabilidade de ocorrer uma mialgia crônica mediada centralmente. Porém, a outros mecanismos centrais desempenhem um papel significativo na causa da mialgia mediada centralmente, como super sensibilização crônica do sistema nervoso autônomo, exposição crônica ao estresse emocional, ou outras fontes de estimulo de dor profunda. Uma característica clínica de mialgia crônica mediada centralmente é a presença de dor miogênica constante. Disfunção estrutural, dor significativa em repouso, aumento da dor em função, sensação generalizada de rigidez muscular, dor significativa à palpação muscular, à medida que a mialgia centralmente se torna prolongada, ela pode levar a uma atrofia muscular e/ou contratura muscular. São algumas das características clinicas da mialgia mediada centralmente. 13 O paciente deve ser informado de que a diminuição dos sintomas é inicialmente lenta e não significativa. Á medida que as causas são controladas, os sintomas irão desaparecer lentamente. Deve-se restringir o uso da mandíbula, evitar exercícios e/ou injeções, desocluir os dentes, medicação antiinflamatória, são estratégias gerais de tratamento que devem ser seguidas pelo paciente com mialgia crônica mediada centralmente. Desordens Miálgicas Sistemas Crônicas (Fibromialgia) A palavra sistêmica e dada, uma vez que, os sintomas relatados pelo paciente são espalhados ou globais e a causa parece estar associada a mecanismos centrais. Fibromialgia é uma desordem dolorosa músculo-esquelética crônica global. Ela é difusa, na qual há sensibilidade em 11 ou mais dos 18 locais específicos por todo o corpo. Ela não é uma desordem de dor mastigatória e, portanto precisa ser encaminhada a uma equipe médica. A etiologia ainda não está clara, ela esta provavelmente relacionada a uma alteração no processamento do impulso periférico pelo SNC. Existem outras condições não identificadas que levam a fibromialgia. São diversas as características clinicas identificadas no paciente, dentre elas, temos: disfunção estrutural, dor generalizada em repouso, dor aumenta com a utilização dos músculos envolvidos, etc. Como as causas são desconhecidas o tratamento a ser adotado é incerto. E como a fibromialgia não é uma desordem primaria dos músculos mastigatórios, o dentista não deve assumir a função de terapeuta principal. Quando os sintomas mastigatórios estão presentes, o dentista deve controlá-los juntamente com a equipe de profissionais de saúde. As modalidades de fisioterapia e técnicas manuais podem ser úteis para os pacientes com fibromialgia. Deve-se ter o cuidado de desenvolver um programa individual para cada paciente. 14 Bibliografia OKESON, Jeffrey. Tratamento das Desordens Temporomandibulares e Oclusão. 4°Ed. : Artes Médicas, 2000 15