COMPARAÇÃO ENTRE AS OFTALMOSCOPIAS DIRETA E INDIRETA NA DETECÇÃO DE ALTERAÇÕES NO FUNDO DE OLHO Maisa Menegali1; Dr. Renato Gomes D’Alascio2; Dr. Astor Grumann Jr. (orientador)3 INTRODUÇÃO O fundo de olho é a única estrutura do corpo humano em que se observa a circulação terminal sem necessidade de métodos invasivos. Portanto, a fundoscopia se torna extremamente importante em uma consulta médica, não somente por oftalmologistas, como também por médicos de outras especialidades e principalmente por clínicos gerais. O oftalmoscópio permite a visualização, de um modo muito simples, das arteríolas, vênulas e capilares, que, quando alterados, remetem a uma série de patologias, beneficiando o paciente com o diagnóstico precoce. Para realização deste exame podemos optar por um dos dois métodos mais utilizados, a oftalmoscopia direta (OD) e a oftalmoscopia indireta (OI), objetos deste estudo. Cada uma possui suas particularidades e costumam complementar-se na realização da fundoscopia, no entanto, muitas vezes não há a disponibilidade das duas classes de oftalmoscópios para o uso combinado e acaba-se optando por somente um deles. Saber qual técnica é mais apropriada para cada situação influenciaria na qualidade do exame, facilitando diagnósticos e propiciando maior confiabilidade. Com isso, pacientes portadores de comorbidades do fundo de olho, ainda não cientes da sua doença ou em acompanhamento da mesma, serão amplamente beneficiados, pois com o diagnóstico precoce o tratamento é antecipado e resulta em maiores chances de resolução e melhor qualidade de vida. Palavras-chave: Oftalmoscopia indireta, oftalmoscopia direta, fundo de olho. OBJETIVOS O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão da literatura visando comparar dois métodos utilizados na realização da fundoscopia, a OD e a OI. Ou seja, buscar artigos científicos e livros que possuíssem informações relevantes para o estudo, analisar esses dados obtidos e construir uma conclusão baseando-se nos resultados encontrados. _____________________ 1 2 Acadêmica de Medicina da Unisul. Bolsista do PIBIC. E-mail: [email protected] Médico Clínico Geral. E-mail: [email protected] 3 Médico Oftalmologista. Professor da UNISUL. E-mail: [email protected] MÉTODOS Inicialmente a pesquisa previa a coleta de dados por oftalmologista voluntário, em função da impossibilidade de o mesmo cumprir essa tarefa, a metodologia ficou baseada em análise de literatura preexistente. Foi realizada a pesquisa de artigos científicos que comparassem as duas oftalmoscopias ou apresentassem informações relevantes sobre as mesmas. As bases de dados utilizadas foram: LILACS, SciELO, PubMed, Bireme, BVS e MEDLINE. As palavras chaves procuradas foram: Oftalmoscopia, direta e indireta. Após a coleta da bibliografia pertinente, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o tema. RESULTADOS E DISCUSSÃO A OD permite uma maior ampliação da imagem (aproximadamente 15 vezes), reproduzindo mais detalhes; produz imagem direta (não invertida); é mais utilizada por profissionais não especialistas pelo fato de ser mais fácil de operar que a OI; não necessariamente é preciso dilatação prévia da pupila. No entanto, em contraste com a alta resolução da imagem, o campo de avaliação é limitado a um pequeno segmento do fundo de olho, impossibilitando o exame periférico; a imagem retiniana é comprometida em pacientes que sofrem de astigmatismo, já que não há neutralização do aparelho para esta comorbidade, resultando em uma imagem pouco nítida e dificultando a avaliação do fundo de olho; necessita de proximidade entre o médico e paciente para execução do exame (em média 15 cm). A OI aumenta a imagem somente em 5 vezes, sendo 3 vezes menos ampliada que a obtida pela OD, porém a imagem é 10 vezes maior que a visualizada pela OD, possui um campo maior de visão e avalia com melhor precisão a periferia do fundo; a observação de cores é melhor, importante para uma série de doenças que podem passar despercebidas na OD; não requer muita proximidade do paciente (aproximadamente a distância de um braço); possui iluminação mais intensa, atravessando possíveis opacidades dos meios refringentes que a OD não conseguiria atravessar. Porém necessita de dilatação pupilar prévia; produz imagem indireta (invertida); a técnica é mais difícil de realizar, geralmente utilizada por especialistas com prática em evitar reflexos indesejáveis na imagem. Oftalmologistas preferem a OI, pois ela possibilita melhor visualização da periferia do fundo de olho, permitindo observar alterações que poderiam passar despercebidas na OD. No entanto, a OD não deve ser menosprezada quando o assunto é rastreamento de doenças do fundo do olho, isto se deve ao fato de a realização deste método ser mais fácil somado ao custo baixo do aparelho comparado ao da OI, tornando a OD uma excelente opção para os clínicos gerais. Isto foi abordado no artigo de Andrade, et al (2000) que teve como amostra 120 pacientes HIV positivos submetidos a OD por não especialistas que, ao considerarem os pacientes como tendo alterações fundoscópicas, encaminhavam-nos ao oftalmologista para realização de OI. O estudo teve como conclusão que clínicos têm um papel importante no diagnóstico precoce de lesões retinianas causadas pelo HIV. Isto indica que mesmo a OD sendo inferior, pode ser de grande ajuda para a realização de diagnóstico por médicos não especializados. Outro aspecto importante na fundoscopia é a realização ou não de midríase. Na grande maioria dos exames faz-se a OD sem midríase e a OI com midríase. Isto contribui substancialmente para o campo da imagem do fundo de olho. Observamos no estudo de Parisi, et al (1996) uma taxa de 25,5% de pacientes com anomalia(as) não detectadas pelo exame fundoscópico sem midríase (OD) e que foram detectadas posteriormente com a realização da fundoscopia com midríase (OI). Apesar de ser uma taxa considerável de pacientes examinados pela OD que ficarão sem diagnóstico, ainda assim 74,5% dos pacientes terão diagnóstico, o que é uma taxa relativamente boa para um exame de rastreamento. Para a resolução do problema de pouca visualização da periferia do fundo de olho pela OD, existe a alternativa de utilizar a OD de campo amplo. Este método seria o meio termo entre o oftalmoscópio direto convencional e o oftalmoscópio indireto, já que possui a praticidade e o custo mais baixo daquele e a possibilidade de visualização de um maior campo deste. Além disso, o oftalmoscópio direto de campo amplo é mais fácil de utilizar e possui uma precisão semelhante ao convencional, o que apoia o uso mais amplo deste método entre clínicos gerais (MCCOMISKIE, et al 2004 e DAMASCENO, et al 2009). Visto isso, podemos concluir que a OD é um método de triagem razoável. Ela perde em qualidade por não oferecer ao observador uma visão estereoscópica, não é apropriada para avaliar gravidade e evolução de doenças, há variação inter-observadores na interpretação das anormalidades do fundo de olho (de 38% segundo SILVA, et al 2002), dentre outras características anteriormente citadas. No entanto, tem papel fundamental no rastreamento de doenças nessa área pelo médico clínico geral. CONCLUSÕES Apesar de a OI proporcionar melhor visualização do fundo de olho, não podemos ignorar o papel da OD neste exame, já que este método se mostrou importante no rastreamento de doenças. Portanto, podemos concluir que o uso da OI é mais indicado para o exame feito por oftalmologistas, pois fornece maior possibilidade de diagnóstico e acompanhamento da doença que a OD. A OD não tem muito espaço na avaliação do fundo de olho pelo oftalmologista, que lançará mão de método mais adequado, porém é muito importante no rastreamento de doenças do fundo de olho por clínicos gerais. REFERÊNCIAS Andrade JLN, Abib FC, Scapucin L, et al. Ocular manifestations in patients with HIV infection: features of a group of patients and literature review. Revista Brasileira de Medicina 2000; 57 (6): 588:590:594-588-591-595. Parisi ML, Scheiman M, Coulter RS. Comparison of the effectiveness of a nondilated versus dilated fundus examination in the pediatric population. Journal of the American Optometric Association 1996; 67 (5): 266-72 Mccomiskie JE, Greer RM, Gole GA. Panoptic versus conventional ophthalmoscope. Clinical & experimental ophthalmology 2004; 32 (3): 238-42. 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