INTRODUÇÃO A busca constante pelo desenvolvimento tecnológico e diversificação da produção de bens de consumo, está associada a alguns fatores negativos, que acarretam prejuízos do ponto de vista ambiental, como a geração de resíduos sólidos. Demajorovic (1995) avalia que esse é um dos problemas centrais da sociedade contemporânea, reforçado pelo crescimento desordenado da população, aceleração da ocupação do território urbano, entre outros aspectos. A produção de um grande volume de resíduos, proveniente principalmente do processo de industrialização, requer uma infra-estrutura bem estabelecida, para que seja garantida uma destinação adequada desses resíduos. Essa gestão é especialmente problemática em países emergentes, onde a geração de resíduos costuma conflitar com a capacidade de destinação final. Muitos países em desenvolvimento, tais como Quênia, Índia, Brasil e México, mantêm a prática de dispor seus resíduos a céu aberto, sem nenhum controle (Henry et al., 2006), (Sharholy et al., 2007), (IBGE, 2002), (Buenrostro e Bocco, 2003). Além de degradar a paisagem natural, essa forma de disposição pode contaminar o solo, o ar, a água superficial e subterrânea, favorecendo o desenvolvimento de agentes patogênicos (Esin e Cosgun, 2007). Há bastante tempo, os oceanos servem como local de destinação dos mais diversos tipos de resíduos gerados pelo homem (Araújo e Costa,2003). De acordo com Coe e Rogers (1997), lixo marinho é todo material sólido manufaturado ou processado, que entra no ambiente marinho através de qualquer fonte. Nesse trabalho, os conceitos de “lixo” e “resíduos sólidos” serão tratados de maneira análoga. Os ambientes costeiros são os mais afetados pela pressão da atividade antrópica (Ivar do Sul,2005). Segundo Cicin-Sain e Knecht (1998), as zonas costeiras são habitadas por mais da metade da atual população do mundo. Existem feições costeiras que merecem atenção especial, no que diz respeito à ocorrência de resíduos sólidos - as praias. Santos et al. (2011) afirmam que estes ambientes sofrem, desde meados do século XX, uma grande pressão em função do turismo, tanto pela beleza paisagística quanto pelo potencial de balneabilidade. Os danos associados à presença de lixo no ambiente de praia apresentam-se em vários âmbitos: impactos na saúde, com a proliferação de ambientes patogênicos (Esin e Cosgun, 2007), ingestões por animais, sobretudo tartarugas, mamíferos e aves marinhas (Laist,1997) e alteração do padrão estético das praias, que irá refletir diretamente no apelo turístico e, portanto, na economia (Nollkaemper, 1994). A ocorrência de lixo em praias está relacionada a uma variedade de fontes, incluindo adição local e aporte externo. Ivar do Sul (2005) destaca como principais fornecedores: fontes terrestres - usuários de praias, drenagem de rios, lançamento de esgotos e geração de resíduos nas cidades costeiras; e fontes marinhas - navios, barcos de pesca e plataformas oceânicas. É importante levar em consideração a influência das condições meteorológicas e oceanográficas, como fatores de transporte desses resíduos. Araújo e Costa (2003) alertam que a dinâmica costeira (ventos, ondas e marés) transfere lixo para o mar, assim como as condições oceanográficas permitem que esses materiais alcancem locais menos acessíveis, como praias desertas, ilhas oceânicas e recifes costeiros. Plásticos e outros derivados do petróleo ocorrem de maneira notavelmente superior, quando comparados à outros tipos de resíduos (i.e. papel, metal, vidro...). Barnes et al. (2009) informam que cerca de 90% do lixo nos oceanos é composto por plástico. Esse é um dado preocupante, visto que este é um material que permanece no ecosssistema marinho por períodos longos, devido à sua baixa capacidade de degradação (Hopewell et al., 2009). Aqui deve entrar o parágrafo que contextualiza esse trabalho com outros que já foram realizados. Este estudo tem como objetivo identificar o padrão de ocorrência de resíduos sólidos em praias de Salvador, Bahia, Brasil e Litoral Norte deste município, sob duas abordagens diferentes: a categórica; que divide as praias em dois grupos, de acordo com o grau de visitação, esperando encontrar maior ocorrência de lixo em praias com maior visitação e, a contínua; que pretende observar um gradiente negativo na ocorrência de lixo, partindo da praia mais próxima ao centro urbano de Salvador, em direção à mais afastada do centro urbano. Araújo, M.C.B. & Costa, M.F. (2003a). Lixo no ambiente marinho. Ciência Hoje 32, 64-67. Buenrostro, O., & Bocco, G. (2003). Solid waste management in municipalities in Mexico: Goals and perspectives. Resources Conservation & Recycling, 39, 251– 263 Cicin-Sain, B.; Knecht, R. W. Integrated coastal and ocean management: concepts and practices. Washington: Island Press, 1998. 517 p. Coe, J.M. & Rogers, D.B. (1997). Marine Debris: sources, impacts and solutions. Nova York: Springer-Verlag, 431 p. Demajorovic, J. Da política tradicional de tratamento do lixo à política de gestão de resíduos sólidos. As novas prioridades. Revista de administração de Empresas. São Paulo: EAESP, FGV. v.35 n.3 p.88-93, maio/jun. 1995. Diegues, A. C. 2001. Ecologia humana e planejamento em áreas costeiras. São Paulo: Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas em Áreas Úmidas Brasileiras, USP, 225p. Esin, T., Coşgun, N., “A study conducted to reduce construction waste generation in Turkey”. Building and Environment. Volume 42, Issue 4, p.1667-1674, 2007 Henry C, Koelsch R, Gross J, Harner J (2006). 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