Plano de Trabalho O presente trabalho faz parte de um grande projeto intitulado Araucaria angustifolia: era uma vez...conservação genética de suas populações em Minas Gerais, processo n.: 480569/2011-8. O pós-doutorando desenvolverá experimentos com a espécie Araucaria angustifolia no intuito de agregar valores sobre o papel do estudo da diversidade genética de populações de plantas visando garantir a conservação de espécies arbóreas e o manejo de fragmentos florestais. Serão realizados trabalhos de filogeografia, genética de populações e ecologia da paisagem em populações de Araucaria angustifolia provenientes de diferentes áreas do estado de Minas Gerais, Brasil. Título “Araucaria angustifolia: era uma vez...conservação genética de suas populações em Minas Gerais” Objetivo geral O projeto visa a conservação ex situ de populações de Araucaria angustifolia do estado de Minas gerais em forma de teste de procedências. Pretende-se investigar a sua filogeografia, a diversidade e estrutura genética destas populações que poderão ser conservadas ex situ. Objetivos específicos Determinar quais os fatores evolutivos (seleção natural, deriva genética ou imigração) tem maior efeito na formação da estrutura genética de populações de A. angustifolia no seu limite norte de distribuição natural; Estudar a variação genética de diferentes populações de ocorrência no limite norte de distribuição da espécie estado de Minas Gerais por caracteres quantitativos e marcadores moleculares; Realizar a conservação ex situ dos recursos genéticos de populações de A. angustifolia da região norte de distribuição da espécie (estado de Minas Gerais) para as futuras gerações; Formação de uma população base de A. angustifolia para utilização em programas de melhoramento genético da espécie para a região sul do estado de Minas Gerais. Hipóteses i. Haplótipos filogeneticamente relacionados estão geograficamente próximos uns com os outros, indicando um padrão antigo de fluxo gênico restrito? ii. A habilidade de dispersão determina a estrutura filogeográfica? iii. Devido a ampla e restrita distribuição da espécie, a descontinuidade genética define adequadamente as áreas prioritárias para o seu manejo e a sua conservação? iv. Fatores naturais, antrópicos e ecológicos devem refletir nos níveis de diversidade genética e na estruturação dos genótipos em macro-escala? Espécie Araucaria angustifolia (Bert.) O. Ktze. (Araucária) é uma conífera dióica, polinizada pelo vento e de grande valor econômico para a produção de madeira de alta qualidade e pinhões para alimentação humana e, valor ecológico, por servir de alimento para diversas espécies de animais. A espécie é endêmica do Brasil, exceto para umas pequenas populações ocorrentes no noroeste da Argentina (Província de Missiones) e leste do Paraguai. Sua distribuição geográfica encontra-se entre as latitudes 19°15' S (Conselheiro Pena-MG, no alto do Rio Doce) a 31°30' S (CanguçuRS) e entre as longitudes 41°30 W até 54°30 L, entre 500 a 2.300 m de altitude, preferencialmente entre 500 a 1.500 m. Seu habitat é a Floresta Ombrófila Mista (Floresta de Araucária), nas formações Aluvial (galeria), Submontana, Montana e AltoMontana. Nesses ambientes ocorre com alta densidade de indivíduos, que pode variar de cinco a mais de 200 indivíduos reprodutivos por hectare. A espécie também é encontrada em áreas de tensão da Floresta Estacional Semidecidual e Floresta ombrófila Densa (Carvalho, 1994). Sua área original de ocorrência era de cerca de 200 mil Km2, de formato irregular, cujos limites se estabeleciam pela Serra Geral e Serra do Mar, a leste, e pelo rio Paraná, a oeste. Segundo Guerra et al. (2002) e Koch & Corrêa (2002), estimativas recentes indicam que a espécie cobria principalmente os estados do Paraná (40% de sua superfície), Santa Catarina (31%) e Rio Grande do Sul (25%) e como manchas esparsas no sul de São Paulo (3%), internando-se até o sul de Minas Gerais (1%) e Rio de Janeiro, em áreas de altitudes elevadas (1%). A espécie tem diversas utilidades, podendo ser utilizada como madeira serrada e roliça, geração de energia, produção de resina, celulose e papel. Suas sementes servem para alimentação humana e animal. O reflorestamento ambiental com A. angustifolia é recomendado, visto seus frutos servirem de alimento para inúmeros animais silvestres (Carvalho, 1994). Atividades a serem desenvolvidas: Extração do nDNA e do cpDNA A extração do nDNA e cpDNA para a espécie A. angustifolia será otimizada com base no protocolo CTAB, descrito por Doyle & Doyle (1987) podendo ser modificado para solucionar eventuais problemas. Após a extração, o DNA estoque será armazenado a -20°C e o DNA diluído a ser utilizado serão mantidos em geladeira. Seleção de primers e Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) Para a amplificação do cpDNA pela reação em cadeia da polimerase (PCR) serão testados pares de primers universais descritos por Demesure et al. (1995), Dumolin-Lapegue et al. (1997) e Taberlet et al. (1991), para amplificação das sequências específicas do cpDNA. Após a quantificação e diluição do DNA, as reações de amplificação serão conduzidas em termociclador GeneAmp PCR System 9700. A amplificação será realizada seguindo o programa descrito em Grivet e Petit (2002): 4’ a 94°C, seguido de 30 ciclos com 45” de desnaturação a 94°C, 45” de anelamento a 47 - 62°C (dependendo do par de primer), 1 a 4’ de extensão a 72°C (dependendo do tamanho do fragmento a ser amplificado) e 10’ de extensão final a 72°C. O produto da PCR será digerido por várias enzimas de restrição, seguindo as informações de temperatura e tempo de digestão requerida. Serão utilizadas várias combinações de primer-enzima para obter o polimorfismo. Os fragmentos de restrição serão separados por eletroforese em géis de agarose 1%, utilizando o tampão de corrida TBE 1X. A voltagem aplicada será de 50 V durante 140’. Após a corrida eletroforética, os géis serão corados com brometo de etídio à concentração de 0,5 μL/mL, visualizados em luz ultravioleta e fotografados. Marcadores ISSR As reações serão preparadas em microplacas para PCR (PCR-96-Axygen Scientific). Às amostras de DNA serão acrescentadas 10μl de mix de reação contendo: 1,2 μl de tampão PCR 10X (constituído de 500 mM de Tris-HCl pH 8,0; 200 mM de KCl; 2,5 mg/mL de BSA; 200 mM de Tartazine e 1% de Ficol), 1,04 μl de dNTP + MgCl2 (dNTP a 2,5 mM; MgCl2 a 25 mM), 0,96 μl de diluente da enzima Taq polimerase, 0,3 μl de Taq polimerase (5 u/μl) e 2 μl de primer (2 μM) e completado o volume final com água ultrapura. Os primers ISSR a serem utilizados são apresentados no Anexo 1. Os ciclos de amplificação serão constituídos de uma etapa de iniciação de 4 minutos a 96oC, seguidos por uma etapa de desnaturação a 94oC por 1 minuto, uma etapa de ligação do primer ISSR ao DNA molde (pareamento) a 47oC por 2 minutos, e uma etapa de extensão a 72oC, por 1 minuto. Depois de 37 ciclos se efetuará uma última etapa de extensão a 72oC, por 10 minutos. Os produtos da amplificação serão separados em gel de agarose ou acrilamida e 1X TBE (Tris-Borato 90 mM, EDTA 1 mM, pH 8,0). A partir da leitura cuidadosa das fotografias dos géis, serão considerados apenas os fragmentos robustos e inequívocos, sendo descartados aqueles com fraca intensidade ou baixa definição. Assim, os indivíduos serão genotipados quanto à presença (1) e ausência (0) de fragmentos, gerando uma matriz binária Análise dos dados A diversidade de haplótipos serão avaliados considerando todos os indivíduos quanto aos haplótipos de cpDNA, definidos pela combinação das variantes de cada fragmento de restrição. A diversidade de haplótipos dentro das populações (HS) e a total (HT) serão estimadas conforme Pons & Petit (1995), usando o programa HAPLODIV. A contribuição de cada população para a diversidade genética total (CT) e para a riqueza alélica total (CTR) será calculada de acordo com Petit et al. (1998), com o uso do programa CONTRIB (Wu et al., 2006). Duas medidas de diferenciação genética entre populações serão usadas: GST e NST. O GST é um parâmetro comumente usado para estimar a proporção da diversidade genética entre populações (Nei, 1973). O NST é semelhante ao GST, mas considera a similaridade entre as variantes moleculares ou haplótipos (Pons & Petit, 1996). A comparação entre os dois parâmetros permite fazer algumas conclusões sobre a dinâmica histórica da população. Por exemplo, se o valor de NST>GST, as variantes relatadas filogeneticamente são encontradas nas mesmas populações e com maior frequência do que o esperado pela casualidade. Sendo, assim o NST integra uma dimensão filogeográfica, ao contrário de GST. Os valores desses coeficientes variam entre 0 e 1. As duas medidas serão comparadas estatisticamente pelo teste U (Mann-Whitney) (Pons & Petit, 1996). O número de mutações entre os pares de haplótipos será obtido no programa MEGA (Kumar et al., 2004) e, com base nelas, os haplótipos serão agrupados pelo método minimum spanning network (MSN) (Excoffier & Smouse, 1994), usando MINSPNET (http://lgb.unige.ch/software). Adicionalmente, o método nested clade analysis (NCA) (Templeton et al., 1987) será utilizado para inferir sobre as causas históricas que conduziram à variação geográfica. Serão adotadas três metodologias para a estruturação da variabilidade genética. A primeira será a análise de variância de frequências alélicas, conforme descrita em Weir (1996). A segunda metodologia utilizada será a análise de variância molecular (AMOVA) (Excoffier et al. 1992). A terceira metodologia para estimar a divergência entre as populações será baseada em estimadores obtidos pela estatística Bayesiana (Holsinger et al. 2002), com auxilio do programa HICKORY v. 1.0 (Holsinger & Lewis, 2003). A divergência genética entre as populações será avaliada com base na matriz de distância genética obtida pela AMOVA. A matriz de distâncias genéticas será analisada, inicialmente, a partir de uma análise de agrupamento tipo UPGMA (unweighted pair-group method by arithmetic averages). A representatividade deste dendrograma será testada por meio da correlação entre as distâncias genéticas e as distâncias entre as populações no dendrograma (correlação cofenética). As distâncias genéticas também serão analisadas por uma técnica de ordenação que visa representar graficamente a dissimilaridade entre as populações, o escalonamento multidimensional não-métrico (non-metric multidimensional scaling). Para a análise dos padrões de variação espacial em um contexto multivariado. As correlações matriciais e o teste de Mantel serão também utilizados para avaliar o padrão multivariado de estrutura espacial entre as populações. Serão calculados coeficientes de correlação matricial entre as distâncias genéticas e matrizes de conectividade espacial, com valor 1,0 indicando pares de populações “ligadas”, se a distância geográfica entre elas se encontra em cada uma das classes de distância previamente definidas. Essas classes de distância geográfica serão estabelecidas de modo a manter o mesmo número de conexões ente populações. Assim, é possível relacionar o coeficiente de correlação matricial, cuja significância será estabelecida pelo teste de Mantel, com o aumento das distâncias geográficas, gerando assim um correlograma multivariado (Sokal et al., 1986). A análise da descontinuidade genética será baseado nas distâncias genéticas no intuito de acessar a descontinuidade dos dados genéticos no espaço geográfico (Manel et al., 2003; Telles et al., 2003). Para esta análise, as populações serão localizadas em um mapa de acordo com suas posições geográficas relativas e o método de triangulação de Delaunay será utilizado para conectá-las, resultando em uma rede que conecta todas as populações. A rede de Delaunay é formada conectando-se as em conjuntos de três populações (A, B e C), sendo que a ligação entre elas só ocorre se e somente se um círculo passando sobre elas não incluir nenhuma outra população (Legendre & Legendre, 1998). A partir desta rede de Delaunay e das distâncias genéticas, a descontinuidades dos dados multivariados será obtida pela divisão das distâncias genéticas associadas a cada ligação entre as populações ABC na rede de Delaunay pela distância geográfica (Legendre & Legendre, 1998). A Definição de unidades operacionais para a conservação da variabilidade genética será conforme proposto por Diniz-Filho & Telles (2002), que com base no correlograma de Mantel, indicariam quantas unidades operacionais seriam necessárias para se conservar a variabilidade genética de A. angustifolia em diversas localidades de Minas Gerais. A eficiência desse conjunto de populações, no sentido de representar efetivamente a variabilidade genética, será avaliada pela proporção de unidades operacionais que contém pelo menos um indivíduo com bandas para todos os locos ISSR. Resultados esperados Conservação ex situ da variação genética de populações de A. angustifolia de ocorrência no limite norte da espécie; Disponibilidade fácil de material genético (sementes e propágulos) de A. angustifolia, para utilização atual e futura em programas de melhoramento, recuperação de áreas alteradas e degradas e reflorestamentos comerciais; Contribuir para o entendimento da estrutura genética de espécies arbóreas brasileiras. Calendário de atividades Atividades Preparo e produção de progênie das populações Extração de DNA Amplificação de DNA Geração de perfis Análises dos géis Análises dos dados Relatório Final Mês 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12