Vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura Pecuária e Abastecimento / GDF Boletim da GEDEC - Ano VI nº 07 ESPECIAL 02/06/ 2011 - Fone: 3340 3081 A Nova geografia das lavouras O que vai acontecer? O fenômeno que promete mudar a geografia da produção agrícola mundial começa a chegar ao mercado em breve. São as sementes geneticamente modificadas e adaptadas para a seca. Já existem sementes próprias para regiões de pouca água em uso pela agricultura mundo afora. Elas são feitas a partir de melhoramento genético convencional, que é o cruzamento de plantas. O mercado espera, porém, as sementes da biotecnologia, com transgenia, tecnologia pela qual uma planta recebe o material genético de outra. Elas devem trazer um salto na produtividade de regiões de estresse hídrico em relação ao que já existe. A promessa de prazo menor é a da multinacional norte-americana Monsanto, que atualmente desenvolve, nos Estados Unidos, dois tipos de sementes de milho com biotecnologia e transgenia. Um dos produtos já está em pré-lançamento comercial, fase na qual são feitos planos de comercialização, produção das sementes e testes aumentados. A expectativa, segundo o gerente de relações científicas da Monsanto do Brasil, Eugênio Ulian, é que esta primeira geração esteja em fase de aprovação pelas agências regulatórias dos EUA em 2012. Ulian explica que as sementes serão produzidas para regiões específicas. Esta primeira é voltada para o oeste das grandes planícies dos Estados Unidos. O outro produto, também de milho, está em fase de desenvolvimento inicial e não tem data prevista de lançamento. Ele será voltado às demais áreas produtoras de milho nos Estados Unidos, as que usam irrigação. Vão demandar, porém, uma quantidade menor de água. E o Brasil vai demorar a receber as sementes transgênicas, resistentes ao estresse hídrico, da Monsanto? Ulian não tem uma resposta, mas acredita que os produtos dos EUA poderiam ser testados por aqui. "Diferente de outros produtos, resistentes a herbicidas, que são efetivos sete dias da semana, 24 horas, os produtos tolerantes à seca vão funcionar dependendo da região onde você planta. Há região em que essa característica funciona de acordo com o estresse hídrico que encontra", explica Ulian. O objetivo é que a primeira semente de milho da Monsanto deste tipo traga aumento de 8% a 10% na produtividade em relação ao milho híbrido sem a característica de tolerância à seca. Ele é para lavouras com boas condições para o plantio, onde normalmente há chuvas, mas elas poderão faltar. "O milho das sementes adaptadas terá menos perda de produtividade que as convencionais", diz Ulian. O gerente prefere não avançar muito sobre até onde essa tecnologia pode chegar. Mas conta que a Monsanto participa de um projeto chamado Water Efficient Maize for Africa (Wema), que quer dizer "Milho com Eficiência Hídrica para a África", que busca soluções para o desenvolvimento da cultura do milho na região, castigada pela seca. No Nordeste brasileiro, o especialista afirma que as áreas que poderiam ser próprias para o milho já estão ocupadas por outras culturas. Mas emenda que os resultados das pesquisas de tolerância à seca devem avançar também para mais produtos. No mercado brasileiro existe desde os que acreditam na capacidade das sementes até os que não colocam muita fé em quanto elas poderão expandir as fronteiras agrícolas do país. "Com as cultivares resistentes ao estresse hídrico se abre uma fronteira grande na África e América do Sul, especialmente no Nordeste brasileiro, se cria novas fronteiras agrícolas em regiões de baixa precipitação", afirma o professor de economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Eugênio Stefanelo. Dentro da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), instituição que, assim como a Monsanto, corre na busca por tecnologia para o plantio em terras de pouca chuva, também há crença nos resultados das novas sementes. "Há áreas onde hoje não se pode cultivar determinados produtos, que poderão ser plantadas, o risco (de perdas) vai diminuir", afirma o responsável pelo laboratório de engenharia genética do Centro Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen) da Embrapa, Francisco Aragão. "O mapeamento agroclimático vai mudar." É esse mapeamento que determina o risco de plantar cada cultura em determinado lugar no Brasil. De acordo com Aragão, algumas novas culturas poderão ser produzidas, por exemplo, no Sertão do Nordeste. "Na África deve trazer uma mudança grande, lá a água é muito mal distribuída, com longos períodos de seca", afirma o pesquisador, que é doutor em Biologia Molecular. Também a plantação em regiões como Iraque, Irã ou Israel, que ficam no Oriente Médio, deve ser beneficiada, estima ele. Os resultados, porém, não serão visto de uma hora para a outra. A Embrapa trabalha atualmente para formular sementes mais tolerantes à seca a partir da engenharia genética e transgenia nas áreas de soja, feijão, algodão, cana-de-açúcar e milho. De acordo com Aragão, as sementes não devem estar disponíveis no mercado, para plantio, em menos de dez anos. Só ensaios de biossegurança, explica ele, processo que envolve a garantia da segurança do produto para o ambiente, os animais e os humanos, leva cerca de cinco anos. No dia 24 de maio de 2011, inclusive, a Embrapa anunciou a obtenção das primeiras plantas de cana-deaçúcar transgênicas tolerantes à seca. Até elas estarem no mercado, sendo produzidas comercialmente, porém, devem se passar alguns anos. Segundo a instituição, nos próximos meses as plantas estarão em estágio de multiplicação in vitro para, até maio de 2012, serem avaliadas quanto à tolerância à seca. Depois disso, serão, então, testadas em campo. O objetivo é justamente expandir os locais próprios para cultivo da cana, hoje bastante concentrada no Centro-Sul e Nordeste do Brasil. "O melhoramento [convencional] também funciona, mas o que a engenharia genética procura é algo impactante, não uma diferença que só pode ser vista apenas em larga escala, mas de uma planta para outra", afirma Aragão. Além de levar a produção para locais até então pouco próprios, a tecnologia também tem por objetivo oferecer sementes mais adequadas para um mundo com aquecimento global. A Monsanto, por exemplo, fez um compromisso público de dobrar a produtividade da soja, milho e algodão até 2030 e oferecer ao mercado sementes que reduzam em um terço a quantidade de água e insumos usados nestas plantações. O engenheiro agrônomo da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), Plinio Itamar de Souza, especialista na área de soja, acredita que a tecnologia será importante, por exemplo, para regiões onde se cultiva soja com alguma insegurança, dando à cultura maior estabilidade em períodos de seca. Ele acredita que em regiões muito secas, onde há longos períodos sem chuva, não será possível plantar. De acordo com Souza, existe no mercado muito ceticismo em relação ao benefício que estas sementes possam trazer. FONTE: Agência de Notícias Brasil-Árabe