REVOLUÇÃO FRANCESA 1 – Luxo e Mudança: Palácio de Versalhes. Ainda no século XVIII, a monarquia na França ainda guardava heranças medievais, como os direitos feudais aos nobres, o pagamento de impostos como as Banalidades (taxa que se paga ao usar instrumentos como inchadas, foices, etc.) entre outras regalias. Mas, com a chegada do Rei Luís XIV, mais conhecido como Rei Sol, as coisas lentamente mudariam. Não que ele tenha sido um rei completamente diferente dos outros, pois ele ostentava luxo e poder como as monarquias passadas, no entanto, seus ideais buscavam uma centralização no poder da França somente ao rei. Para isso, ele teria de quebrar uma parte das regalias herdadas do feudalismo, como o poder dos nobres. Luís XIV, com seu glorioso estilo de luxo, gastava horrores para deixar a França com o rosto de exemplo de glamour que ela tem hoje. Cobrava altos impostos da população não só para si, mas também para realizar seu maior projeto: O Palácio de Versalhes. O palácio de Versalhes foi construído para atrair os nobres e tirá-los de seu feudo. Lá, eles poderiam usufruir de uma vida até melhor do que a qual eles tinham em suas propriedades, com festas e bacanais e ainda por cima uma “pequena” mesada paga a cada um pelo Estado. Era um monumento gigantesco (e até hoje é), para caber todos aqueles senhores feudais e suas famílias. Havia comida e bebida, roupas e riquezas abundantes para a vida toda de um nobre. Isso chamava mais e mais desses senhores feudais para dentro daquele “paraíso”, tirando-os de suas terras e destruindo aos poucos o poder de tais. Com isto, Luís XIV obteve o seu objetivo de ter todos aqueles nobres como seus súditos, tão dependentes dele quanto o resto da população francesa. Assim, o rei conseguiu unificar seu Estado, passando a ser uma monarquia absolutista. E claro que este dinheiro todo gasto para o grandioso plano foi pego do bolso da burguesia, a classe que possuía este capital. 2 – Luxo e Decadência: Luís XIV Luís XVI Maria Antonieta Após a morte de Luís XIV, seu filho, Luís XV, o substituiu. Já este não provocou nenhuma mudança importante na estrutura da França, não fez nada para melhorar o país, no entanto, continuou cobrando o mesmo preço alto de impostos da população, não só para manter as regalias do palácio de Versalhes, mas também para suprir suas próprias vontades. Aos poucos, a economia da França foi quebrando, empobrecendo, sugando da burguesia dinheiro desnecessário. Mas foi com seu sucessor, Luís XVI, que as coisas pioraram de vez. Afinal, se algo tem uma chance de ficar melhor e uma chance de ficar pior... Vai ficar pior. Luís XVI não só manteve os impostos altos desde a época de seu avô como fez questão de aumentá-los. A família real vivia totalmente desconexa da realidade da França e era indiferente à pobreza que estava cada vez mais iminente no país. Os impostos aumentaram e Luís XVI gastava o dinheiro que tinha e que não tinha para garantir suas regalias e as dos nobres do palácio de Versalhes também. Como se não bastasse, Luís XVI conseguiu meter a França em duas guerras: A guerra dos 7 anos, quando eles estavam perdendo suas províncias na América para outros países; E a guerra da independência dos 13 Estados Unidos da América do Norte, que por acaso não foi uma guerra essencial para a França e não ouve retorno na ajuda que eles deram às 13 nações recém-formadas. A pobreza estava crônica na França, a burguesia estava mais do que revoltada com a situação. Mas, como tudo pode ficar pior.... Ficou pior. E se a França estava no fundo do poço, eu digo a você, leitor, que eles ficaram abaixo do fundo do poço. Em 1787 a 1788, houve uma seca absurda e um inverno rigoroso, que provocou a decadência da colheita para alimentação da população. Para se constatar, 99% da população formava o Terceiro Estado (burguesia e povo) sendo que a maioria desses 99% era a população camponesa, que vivia da agricultura. Então, agora a decadência francesa não havia atingido com violência as cidades, mas também os campos. Boa parte da população passava fome, enquanto os nobres, o clero e a família real comiam a quantidade de comida equivalente. Tem-se então um protesto do Terceiro Estado em geral contra aquela situação lastimável. 1 ano sem comida. 17 anos em guerra. 3 reinados de impostos altos e gastos incalculáveis com o luxo da minoria. Haviam de mudar aquele quadro, ah, haviam. A população saiu às ruas e foi até a moradia do rei reclamar, mas ninguém da família real fez o favor de ir discutir a situação. Ignoraram por inteiro aquela massa de gente em frente às suas janelas. Como estavam desconexas totalmente da situação real da França, eles mal sabiam por que aquele povo reclamava tanto. Nem mesmo a rainha Maria Antonieta tinha idéia do que estava acontecendo. Mas, com a confusão armada em sua porta, o rei resolvei tomar algumas providências, pelo menos para acalmar os ânimos da população. Luís XVI convocou 3 ministros para lhe darem a solução do problema. A idéia de todos os três basicamente foi a mesma: Abaixar o preço dos impostos e os gastos da nobreza; Extinguir os privilégios feudais daqueles nobres de Versalhes e do Clero; Diminuir a intervenção do Estado na economia, etc. É claro que os nobres e o clero chiaram com isto. Nenhum dos ministros de Luís XVI foram bem sucedidos, pois todas as idéias foram negadas por aquela minoria. Então, Luís XVI partiu para uma coisa que não havia sido feita na França há séculos: A Assembléia dos Estados Gerais. Ia resolver alguma coisa? Não. A Assembléia dos Estados Gerais reunia representante dos três Estrados para decidir uma reforma e melhorar as condições do país. O primeiro Estado era o Clero, o segundo era a Nobreza e o terceiro era o resto da população: o povo. Como o povo é a maioria, numa votação atual, eles logicamente iriam ganhar. Mas a votação da Assembléia não era feita por pessoa e sim por Estado. Na discussão daquelas propostas pelos ministros anteriormente, 2 Estados ( o Clero e a nobreza) ficaram contra as reformas e apenas o Terceiro Estado foi a favor. Resultado: 2 contra 1, a reforma perdeu. A França iria continuar na mesma. Luís XVI até tentou pegar empréstimos da Inglaterra para melhorar aquela situação, mas o máximo que ele conseguiu foi... piorar a situação. Já lhe disse, leitor: Se algo pode ficar pior... vai ficar pior. A França acabou endividada com a Inglaterra, para concluir toda a desgraça. O povo se revoltou mais uma vez contra aquele absurdo, enquanto o rei continuava indiferente ao momento. Mais uma vez, a Assembléia dos Estados Gerais foi convocada, e dessa vez ia ser um pouco diferente. 3 – Algo tinha que mudar: Assembléia dos Estados Gerais. Todo o pessoal chegou ao Hotel Menus Plaisirs. Os nobres e o Clero, o rei e sua família real, todos postados com riquezas e luxos, com roupas coloridas e jóias brilhantes até nos fios dos cabelos. Separados e diante daquilo, uma maça de homens empobrecidos, vestidos de preto, sujos e simples, camponeses maltrapilhos e trabalhadores modestos, uma maioria de luto pela França que antes era o exemplo do glamour. Mais uma vez, a Assembléia iria ser o voto por Estado. Claro que o povo não ia cair nessa mais uma vez. Quando convocou-se este voto, a maioria clamou, reclamou e exclamou o voto por cabeça. Sabendo que os 2 Estados iriam perder por serem a minoria, o rei negou o protesto e encerrou a Assembléia dos Estados Gerais antes mesmo de ocorrer a Assembléia. Então, o pessoal foi à loucura. Imagine você o que teria sido um monte de gente de preto aos gritos. O rei, pomposo como ele era, não ia tolerar aquilo. Colocou todo mundo para fora do Hotel e deu fim à sua tentativa não tentada de uma democracia inexistente. Os rebeldes se negaram a encerrar aquela assembléia e, mesmo que fossem expulsos do Hotel, continuariam a ficarem reunidos em uma praça, até serem ouvidos. O rei, estupefato pela ousadia daquela populaçãozinha de nada, mandou o exército dar um fim na palhaçada. Abateu o povo e, daí então, começou a surgir boatos de que os líderes da rebelião tinham sido presos e levados para a prisão da Bastilha. Com estes mitos (mentirosos, óbvio), a população finalmente pegou as armas, montaram uma milícia de 12 mil voluntários e ganharam as ruas de Paris em direção à Bastilha, a fim de tirar seus líderes dali. Foi entregue ao rei por um dos revolucionários uma insígnia de cores branco, azul e vermelho, que significava a união dos três estados contra a tirania. Indignado pela insistência, o rei fez questão de mandar o exército mais uma vez para enfrentar o povo. 4- A queda da Bastilha: A bastilha. Na verdade, a Bastilha não caiu. Caiu metaforicamente. A Bastilha era símbolo da opressão, a prisão onde os presos pobres e, principalmente, os revolucionários estariam supostamente presos. A Bastilha não caiu literalmente, mas, o que era significava sim, caiu. É claro que 12 mil pessoas com armas na mão, sem nenhuma experiência não iria vencer um exército treinado. Mas quem disse que eles entraram em confronto? Vamos pensar um pouco: O exército não era formado por pessoas da nobreza. Não era formado por pessoas do Clero. Não eram parentes pomposos do rei que estavam ali. O exército era formado, sim, por pessoas do Terceiro Estado. Cada soldado ali era parente de algum revolucionário e reconhecia naquela massa sua própria família, seu próprio sangue. O que eles iriam ganhar lutando contra sua própria “raça”? Nada. Então, que se juntem. Foi o que aconteceu. O exército se juntou ao povo para provocar a revolução francesa. O rei, sem apoio populacional e sem apoio do exército não é nada. O que o nosso Luís XVI faria de agora em diante, então? Ironizaria com aquela velha frase: Se não pode vencê-los, junte-se a eles. Bom, verdadeiramente, Luís XVI não se juntou com os rebeldes. Ele apenas fingiu apoiar a revolução porque amava sua própria vida e sonhava em um dia conseguir voltar ao poder. O caso é que, como você verá isso não vai acontecer. Toda esta confusão francesa já havia ganhado repertório por toda a Europa absolutista e os reis de outros países tremiam suas bases só de pensar no mesmo fato acontecer consigo. A Europa planejava invadir a França para ajudar Luís XVI e dar um basta naquela revolução perigosa. Foi a Áustria que organizou estes países Europeus para invadir a França, o que deixou o rei francês com a garganta um pouco mais aliviada. Ele se animou tanto que planejou até mesmo a fuga da família real para a Áustria, planejando deixar o país a mercê dos ataques estrangeiros. Corajoso, não? Este é o nosso Luís XVI. Porém, isto não aconteceu. A família foi descoberta na cidade de Varennes e os documentos que comprovavam esta conspiração foram apreendidos. Assim, Luís XVI perdeu a cabeça literalmente e conotativamente também. A Áustria nem o resto dos países europeus invadiram a França. A revolução procedeu, para o bem de todos e felicidade geral da nação. Neste tempo todo de caos, camponeses invadiam terras nobres e do clero, roubando jóias e terrenos, distribuindo entre o povo, matando senhores feudais e invadindo inclusive o palácio de Versalhes, para dar um fim radical com ele também. O palácio sobreviveu, mas seus moradores, não. A bagunça reinou na França, saqueando os pomposos primeiro e segundo estados, até finalmente alguns criarem cabeça para começar a organizar a situação. 5 – A época do Terror: Robespierre. Devido à pressão do povo, a França finalmente deixou de ser Monarquia para ser República. Cresceu dali dois partidos políticos: Os Girondinos e os Jacobinos. Os Girondinos eram mais liberais e passivos, comandados pela burguesia influenciada por idéias iluministas e os Jacobinos eram liberais e radicais, influenciados pelos desejos da população mais humilde. Por fim, nesta disputa, como os mais humildes eram maioria e a burguesia neste quadro era a minoria, ganhou as eleições o grupo dos Jacobinos. Os Jacobinos, porém, não eram a verdadeira solução. Mesmo com eles como governo, não se conseguiu uma estabilidade na Revolução. A situação continuava uma bagunça e eles ainda tiveram a sutileza de queimar suas próprias imagens quando resolveram congelar o salário e o preço do pão, sem baixar para facilitar a situação. Robespierre, o líder dos Jacobinos, foi até mesmo mais opressor do que o próprio Luís XVI. Mandava matar qualquer um que fosse suspeito de oposição ao seu governo. 20 mil pessoas foram mortas e, por essas e outras, o momento jacobino no poder foi apelidado de época do Terror. Derrubados pelas próprias façanhas, Jacobinos pularam fora do poder e deram ele aos burgueses, os Girondinos, que também não conseguiam estabilizar a revolução, mas pelo menos foram menos opressores do que seus adversários políticos. Resolveram obedecer aos desejos da maioria e, procurando ajuda, os Girondinos se uniram ao exército e, mais tarde, isso iria atrair para a França o seu grande líder general, Napoleão Bonaparte. 6 – Algumas conseqüências positivas: No período da queda da Bastilha, quando o rei perdeu o poder, quando a França começou a virar uma bagunça total, houve ressalvas importantes, como a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Estão aí essas declarações: 1 – Os homens nascem iguais e livres e assim permanecem quanto a seus direitos. 2 – Esses direitos são: Liberdade, segurança e resistência à opressão. 3 – Liberdade civil e política consiste no poder de fazer o que se quer desde que não prejudique a terceiros. 4 – Ninguém pode ser punido a não ser de acordo com a lei promulgada antes da ofensa. 5 – Um homem é considerado inocente até ser condenado. 6 – Ninguém deve ser perseguido por suas opiniões em qualquer campo, desde que sua expressão não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei. 7 – A propriedade é um direito sagrado e inviolável; Ninguém dela será destituído sem prévia e justa indenização. Outras conseqüências. - A revolução acabou com o predomínio da aristocracia. - O clero deixou de ser um Estado dentro do Estado e passou a exercer apenas seu alicerce religioso. - A nobreza se igualou de nível com o resto da população. - Os resquícios do feudalismo foram destruídos por completo. - A burguesia se deu bem, óbvio. - As reformas desta revolução serviriam de modelo para outras revoluções, como a Conjuração Baiana no Brasil e a independência dos países da América Latina. Também serviu de base para a revolta do Haiti. - O Estado deixou de ser o mandante para servir ao povo. - Nasceu dali o Nacionalismo Moderno, o pensamento de amor pela nação, não pelo território, não pela cidade ou vilarejo ou pelo rei. Pessoas que defendiam um Estado como um todo. Toda a França se transformou na pátria de todos os franceses. E quanto a Napoleão Bonaparte? Bom, isto é outra história.