MODELAGEM DE ALGUNS PARÂMETROS DE CRESCIMENTO PARA A CULTURA DE CANA-DE-AÇÚCAR EM ALAGOAS Ericka Voss CHAGAS1, Manoel da Rocha TOLEDO FILHO2, Glauber Lopes MARIANO1, Silvio Chagas da SILVA3, Joanna Carolina Cavalcanti BORBA1 ABSTRACT Alagoas is the third biggest producer of sugar in Brazil, and sugarcane is the most important culture to the state, but some factors interfere in its growth; it’s important to know some meteorological parameters to get the best utilization of the culture. With the use of mathematical models, it’s possible to evaluate the growth index of the sugarcane, and that is the main objective of this paper, relating Leaf Area Index (LAI) and age of the culture in days. Through polinomial regression, a model was obtained, to adjust the data, with a determination coefficient equal to 0,95, which indicates that the adjusted model adapts to the observed data. RESUMO Alagoas é o terceiro maior produtor de açúcar do Brasil, e a cana-de-açúcar é a cultura de maior importância para o Estado, mas alguns fatores atrapalham o seu pleno desenvolvimento; deve-se conhecer vários parâmetros meteorológicos para que se tenha um aproveitamento máximo da cultura. Com o auxílio de modelos matemáticos, pode-se avaliar os índices de crescimento das plantas, e é este o objetivo do presente trabalho, relacionando índice de área foliar (IAF) e idade da planta em dias após o corte. Através de regressão polinomial quadrática, foi obtido um modelo para ajuste dos dados, com coeficiente de determinação igual a 0,95, o que indica que o modelo ajustado se adapta muito bem aos dados observados. Palavras-chave: cana-de-açúcar, análise de crescimento. INTRODUÇÃO Alagoas é o terceiro maior produtor de açúcar do Brasil, com uma área plantada que corresponde a 17% do total nacional. A cana-de-açúcar é a cultura de maior importância econômica 1 Aluno do curso de Mestrado em Meteorologia - UFAL ([email protected]) Departamento de Meteorologia CCEN/UFAL Cidade Universitária - 57072-970 - Maceió - AL 2 Prof. Dr. do Departamento de Meteorologia - UFAL 3 Prof. Msc. do Departamento de Tecnologia da Informação – UFAL para o Estado, mas existem fatores que atrapalham o seu desenvolvimento, como a baixa fertilidade e teor de matéria orgânica do solo, e um regime de chuvas bastante irregular, que prejudica a cultura principalmente no período de crescimento, e reduz a produtividade em até 70% em anos de seca (TOLEDO FILHO, 1988). As plantas dependem, para seu crescimento e desenvolvimento, da sua constituição genética e das condições ambientais do solo e do clima. A falta de um conhecimento detalhado das relações entre as plantas com o clima tem prejudicado o planejamento inteligente do uso da terra em uma escala maior. As amplitudes diárias da temperatura, o balanço hídrico e outros parâmetros meteorológicos precisam ser completamente analisados antes de se estabelecer um plano para obter o máximo retorno econômico para um dado regime climático. A previsão dos rendimentos agrícolas e, portanto, das safras, com base nas condições meteorológicas, é um dos aspectos importantes dos estudos agroclimáticos. (MOTA, 1989). A análise de crescimento é a parte da fisiologia vegetal em que são usados modelos matemáticos para avaliar índices de crescimento das plantas. Nos estudos ecofisiológicos das plantas não se pode prescindir da análise de crescimento, pois os fatores ambientais e as disponibilidades de água e nutrientes, próprios de cada local, afetam sensivelmente a taxa assimilatória líquida, a taxa de crescimento relativo, a razão de área foliar, etc, destas plantas. Através do estudo das interações destes parâmetros com cada fator ambiental, em particular, o estádio de desenvolvimento da planta, pode-se conhecer a eficiência do crescimento e a habilidade de adaptação às condições ambientais em que estas plantas crescem (TOLEDO FILHO, 2002). Na planta, a determinação da área foliar apresenta um particular interesse. Seu conhecimento é de importância na determinação de inúmeros parâmetros fisiológicos, especialmente alguns relativos ao crescimento e desenvolvimento, como a intensidade de transpiração, taxa assimilatória líquida, índice de área foliar e outros. É de fundamental importância a mensuração das planta para o estudo dos processos físico-biológicos envolvidos no desenvolvimento de plantas cultivadas no sistema solo-planta-atmosfera. O conhecimento da superfície evaporante de uma área cultivada durante todo o ciclo da cultura é de fundamental importância para suporte dos modelos de estimativa da evapotranspiração. Caracteriza-se esta superfície evaporante pela densidade de área foliar que cobre uma determinada área de terreno. TERUEL (1995) define o IAF como sendo nada mais do que a área de folhas subentendida em uma área unitária de terreno (m2 de folha/m2 de terreno). A área foliar pode ser medida ou estimada. Medida, através de medidor digital de área foliar, ou estimada através de diversos métodos empíricos. Entre eles, destaca-se, o método do produto entre o comprimento e a largura das folhas. Nesta metodologia, utiliza-se um fator de correção (FC) que procura corrigir o formato da folha em relação à área da figura geométrica considerado nas amostragens. Em vários estudos de análise de crescimento de plantas, é necessário a determinação e conhecimento da área foliar média das folhas das plantas de uma comunidade vegetal, parâmetro este que nos auxilia como índice de crescimento das plantas, acúmulo de matéria seca, metabolismo das plantas, na estimativa da fotossíntese, intensidade de transpiração e na obtenção do índice de área foliar entre outros. Este trabalho tem como objetivo avaliar o índice de crescimento da cana-de-açúcar através de modelos matemáticos, relacionando índice de área foliar (IAF) e idade da planta em dias. METODOLOGIA O experimento foi feito no período entre 27/11/98 à 01/09/99. O experimento foi instalado em uma área de cultivo contínuo, sob condição de lavoura comercial, em uma área da Fazenda Vila Nova, município de Pilar-AL (9o36`12``S, 35o53`46``W, 107 m de altitude). Os dados da cana-de-açúcar foram obtidos em uma área localizada dentro do experimento micrometeorológico, constituída de quatro parcelas de 30 metros lineares, com cinco repetições em plantas previamente marcadas. Um ciclo da cultura foi acompanhado, de acordo com o calendário agrícola de Alagoas para cana-soca (12 meses). Foram medidos comprimento e largura das folhas para determinação do índice de área foliar (IAF), altura de colmo, altura de dossel e matéria seca das partes aéreas da planta. Através da avaliação de densidade de plantas na área experimental, foram contadas a quantidade de touceiras, e plantas por touceiras, em 10 fileiras aleatórias de 10m lineares, ou seja, com o espaçamento entre linhas de 1m, a área da amostra foi de 10m2. Obteve-se, em média, 24,12 plantas/m2 totalizando, na área experimental, uma população de 241200 plantas por hectare. Estabeleceu-se, nesta pesquisa, três diferentes estádios para a fenologia da cana-de-açúcar, cana-soca. 1o estádio: Perfilhamento e estabelecimento da cultura (da emergência dos brotos ao final do perfilhamento 125 dias após o corte (DAC)); 2o estádio: Período de grande crescimento (do final do perfilhamento ao início de acumulação da sacarose 125 – 300 DAC) e 3o estádio: Maturação ou formação da produção (intensa acumulação de sacarose nos colmos – após os 300 DAC). A calibração do fator de correção para folhas de cana-de-açúcar através da relação entre o peso de uma área conhecida é considerado um método eficiente, não destrutivo, rápido e a estimativa acurada. Com o objetivo de determinar uma equação que possibilitasse estimar com boa precisão a área foliar total das folhas de cana-de-açúcar, cana-soca, variedade SP-4311, foram feitas medidas lineares de comprimento e maior largura. Para se determinar uma equação que estabelecesse, através de medidas lineares de comprimento e maior largura, a melhor estimativa da área foliar total das folhas de cana-de-açúcar, foram feitas amostragens específicas. A amostragem foi no dia 27/11/98, quando a altura do colmo da planta era de aproximadamente 12cm. Foram feitas medidas lineares de seus maiores comprimentos (C) sobre a nervura principal, desde o ponto de inserção da bainha até o ápice da folha, e suas maiores larguras (L) na posição mediana do limbo em todas as folhas de três plantas amostradas aleatoriamente dentro da área de estudo. A área foliar efetiva (AFE) em cm2 foi obtida pelo método gravimétrico, recortando-se amostras de folhas com comprimento único de 20cm e larguras correspondendo à mesma largura máxima das folhas amostradas. Após a medida e seleção das amostras, as mesmas foram colocadas em sacos de papel separadas do resto de folhas, e em seguida levadas para a estufa à 75ºC, para obtenção dos pesos secos. Então, determinou-se a área foliar efetiva através da expressão: AFE A amo PSamo Onde: Aamo = Área das amostras (cm2). PSamo = Peso seco das amostras (g). Multiplicando o valor da área foliar efetiva pelo peso total das folhas, por planta, teremos a área foliar total da planta (área real). AFE A amo * PStot PSamo Onde: PStot = Peso seco total (Peso seco das amostras e Peso seco de resto de folhas) (g). Para determinar o Índice de Área Foliar (IAF), foram efetuadas amostragens a cada quinze dias, durante todo o ciclo da cultura, nas linhas denominadas de amostragens. As plantas foram marcadas para que pudesse haver um acompanhamento do desenvolvimento das mesmas, para a determinação da altura e área foliar. Em cada linha de amostragem, cinco plantas foram marcadas, num total de 20 plantas. As amostragens foram feitas sempre nas mesmas plantas, onde se mediu o comprimento e a largura de cada folha, para obter a área foliar média por planta. Multiplicando os valores de área foliar de cada folha pelo fator de correção obtido anteriormente, obteve-se a área foliar média por planta, e conseqüentemente por amostragem. De posse da área foliar (AF) média de cada planta, determinou-se o IAF de acordo com a expressão: IAF AF Asolo Sendo AF a área foliar média de uma planta e Asolo a área de terreno ocupada por uma planta (m2 de folha/m2 de terreno), ambos em centímetros. O IAF foi calculado considerando a área foliar média amostrada de uma planta e a área ocupada por essa planta, que no caso deste estudo foi de 415 cm2. Obtivemos, assim, a curva de crescimento da cana-de-açúcar em função do tempo do ciclo estudado. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4000 3500 ÁREA FOLIAR (cm2) 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 59 76 91 107 122 137 152 167 182 197 212 226 240 254 275 289 309 323 337 IDADE DA PLANTA (DAC) Figura 1 - Relação entre a área foliar (cm2) e Idade da Planta (DAC) em dias da cana de açúcar no período de 27/11/98 à 01/09/99. Pilar – Alagoas. Observa-se através da Figura 1 que na primeira amostragem, feita 59 dias após o corte, a área foliar (AF) foi de 498,79cm2. Na última amostragem, 337 dias após o corte, a área foliar estimada foi de 3.509,5cm2. A área foliar aumenta com a idade da planta, neste caso se estabilizando aproximadamente após 320 DAC (dias após o corte). Em 278 dias, a área foliar aumentou 703,6%. É importante observar que houve uma queda na área foliar mostrada no gráfico. Ela foi devida à adubação das plantas, que acarretou na queima das folhas. Na Figura 2 é apresentada a regressão quadrática entre o Índice de Área Foliar (IAF) da cana-de-açúcar e a idade da planta, em dias após o corte, no período entre 27/11/98 e 01/09/99. Este ajuste foi feito através de um polinômio de segundo grau, fornecendo o seguinte modelo: y 0,00003x 2 0,0173x 0,3665 Onde y representa Índice de Área Foliar e x representa a idade da planta, em dias após o corte. Para os dados analisados, encontrou-se um coeficiente de determinação R2 = 0,95, o que sugere que o modelo ajustado se adapta muito bem aos dados observados. É interessante lembrar que com o crescimento do índice de área foliar (IAF), aumenta a interceptação da radiação solar para a realização da fotossíntese. Sendo uma planta do tipo C4, a cana-de-açúcar pode ser considerada como uma das mais eficientes quanto ao processo fotossintético. A cana-de-açúcar pode atingir valores de IAF da ordem de 6 a 8 (CÂMARA,1993). 10 9 y = 3E-05x2 + 0,0173x - 0,3665 8 2 R = 0,9532 7 IAF 6 5 4 3 2 1 0 50 100 150 200 250 300 350 DAC IAF Figura 2 - Regressão polinomial Regressão linear entre o Índice de Área Foliar (IAF) da cana-de-açúcar, cana-soca, variedade SP-4311 e a idade da planta (dias após o corte) no período de 27/11/98 à 01/09/99. Pilar – Alagoas. CONCLUSÕES Este estudo mostrou que a área foliar da cana-de-açúcar apresenta um crescimento de acordo com a idade da planta. Os dados observados indicaram um crescimento de aproximadamente 700% em um período de 278 dias. O modelo de regressão polinomial quadrática foi o que melhor se ajustou aos dados observados. Obteve-se, para este modelo, um coeficiente de determinação de 0,95, o que significa que 95% do crescimento da cana é justificado pela sua idade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAMARA, G.M. de S.; OLIVEIRA, E.A.M. de. Produção de cana-de-açúcar. Piracicaba: FEALQ, 1993. 242 p. CHAGAS, E.V. Avaliação do efeito dos eventos El Niño e La Niña sobre a produtividade de cana-de-açúcar na zona canavieira de Alagoas. Maceió, 2003. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Federal de Alagoas – AL. MOTA, F.S., Meteorologia Agrícola. São Paulo: Nobel, 1979. 4ª edição. ROQUE, W.L. Introdução ao Cálculo Numérico. São Paulo: Atlas, 2000. 1ª edição. SPIEGEL, M.R. Estatística. São Paulo: Makron Books, 1993. 3ª edição. TERUEL, D.A. Modelagem do índice de área foliar da cana-de-açúcar em diferentes regimes hídricos. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, 1995. 93f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Agronomia, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1995. TOLEDO FILHO, M.R. Probabilidade de suprimento da demanda hídrica ideal da cultura de cana-de-açúcar (Saccharum spp.) através da precipitação pluvial na zona canavieira do estado de Alagoas. Piracicaba, 1988. Tese-Mestrado - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/USP, 1988. TOLEDO FILHO, M.R. Estudo Micrometeorológico de um cultivo de Cana-de-Açúcar em Alagoas. Porto Alegre, 2001. Tese-Doutorado – Faculdade de Agronomia/UFRGS, 2001.