Aula de 10/02/2009 VIROLOGIA: Por Maria Fernanda Azevedo CONSEQUENCIAS DAS INFECÇÕES VIRAIS: Sofrimento seguido de Recuperação: Algumas viroses aparecem de forma aguda, com um tempo de incubação curto, como por exemplo, o resfriado comum. Outras viroses têm um período de incubação longo. Doença Persistente: Existem ainda vírus que persistem, formando as doenças persistentes. Doença Fatal e doença congênita. Fator contribuinte no câncer: Muitos vírus induzem a transformação da célula hospedeira em uma célula neoplásica. Fator contribuinte em outras doenças: em associação com doenças nãoinfecciosas ou até infecciosas, o vírus pode causar complicações para a doença. OS VÍRUS PODEM SER ÚTEIS: Desenvolvimento de Vacinas: Podem-se desenvolver vacinas pegando, por exemplo, proteínas que são importantes em uma determinada doença e inseri-la em um vírus não-patogênico. Esse vírus não-patogênico será inserido no indivíduo e ele criará uma resposta imune contra essa proteína. Então, a proteína não é do vírus, mas foi inserida nele, pois é importante na resposta imune contra determinada doença. O vírus apenas serviu como vetor para a proteína. Terapia Gênica: Pode-se utilizar o vírus como um vetor de DNA para um determinado agente infeccioso. Ferramentas para Investigar Células Hospedeiras: A inserção de um vírus em uma célula hospedeira e as modificações causadas nela é um instrumento importante para se reconhecer toda a biologia dessa célula hospedeira. O QUE SÃO VÍRUS? Os vírus têm genoma de ácido nucléico. Seu genoma pode ser ou de DNA ou de RNA. A cobertura protéica chamada de capsídeo serve para a proteção desse genoma. Além de proteger o genoma viral, essa cobertura protéica apresenta ligantes para receptores nas células hospedeiras. Essa ligação específica vai garantir a entrada do material viral na célula hospedeira. Alguns vírus possuem uma camada lipídica externa à camada protéica. Esses vírus são chamados de vírus envelopados. As glicoproteínas da camada lipídica (envelope) irão fazer a ligação com o receptor da célula hospedeira. Dessa forma, pode-se dizer que existem dois tipos de vírus: 1) os vírus não-envelopados, que são constituídos de genoma e camada protéica e; 2) os vírus envelopados, que são constituídos de genoma, camada protéica e camada lipídica. Os vírus são pequenos. O menor vírus mede 20nm e o maior vírus mede 400nm. São parasitas intracelulares obrigatórios. Assim, o vírus depende de toda a maquinaria da célula hospedeira para a sua replicação, montando novas partículas virais. Os vírus são incapazes de produzir energia ou proteínas independentemente de uma célula hospedeira. CONSEQUENCIAS DAS PROPRIEDADES VIRAIS: Os vírus não são vivos. 1 Aula de 10/02/2009 VIROLOGIA: Por Maria Fernanda Azevedo Os vírus devem ser infecciosos para sobreviver na natureza. Se os vírus não conseguirem infectar uma célula hospedeira, eles irão desaparecer. Os vírus devem ser capazes de utilizar os processos da célula hospedeira para produzir seus componentes (RNA-mensageiro viral, proteínas e cópias idênticas do genoma). Os vírus devem codificar quaisquer processos necessários que não sejam oferecidos pela célula hospedeira. Por exemplo, o gene para a decodificação da transcriptase reversa, que não está presente nas células humanas. Os vírus de RNA, como o HIV, devem ter em sua estrutura os genes para produzir a transcriptase reversa. Qualquer outra estrutura, proteínas ou enzimas, que a célula hospedeira não oferece, o vírus deve possuir o gene em seu material genético. É necessária a ocorrência de auto-organização dos componentes virais. FATORES QUE AFETAM A FIXAÇÃO NO HOSPEDEIRO: O que é necessário para que o vírus encontre a célula hospedeira para a sua fixação? Receptor de Superfície celular: A célula hospedeira tem q ter um receptor especifico para aquele vírus. Um vírus que só infecta hemácias é porque o receptor específico só é encontrado na hemácia. Disponibilidade de Maquinaria de Replicação: A célula hospedeira tem que fornecer tudo o que o vírus precisa, como energia e componentes nucléicos. Habilidade para sair da célula e disseminar-se: A célula tem que ter toda a condição para ocorrer a replicação desse vírus e as novas cópias poderem sair da célula hospedeira e infectar células normais. Resposta anti-viral do hospedeiro: É importante para medir a capacidade do vírus de infectar a célula hospedeira. A reposta celular é a mais importante devido aos vírus serem parasitas intracelulares obrigatórios. ESTRUTURA VIRAL: Partícula viral = VÍRION Proteína que recobre o genoma = CAPSÍDEO Capsídeo usualmente simétrico. CAPSIDEO + GENOMA = NUCLEOCAPSÍDEO (vírus simples) Pode ter um envelope. SIMETRIA DO NUCLEOCAPSÍDEO: Icosaédrica (20 faces e 12 vertices) Helicoidal: comprimento controlado pelo ácido nucléico. Hélice pode ser firme ou flexível. Existem ainda os vírus de simetria complexa. A simetria não é nem icosaédrica e nem helicoidal. Esses vírus são maiores e mais complexos em sua estrutura e composição. Como exemplo, tem-se o vírus da varíola. ENVELOPE: É uma bicamada lipídica com proteínas (glicoproteinas). 2 Aula de 10/02/2009 VIROLOGIA: Por Maria Fernanda Azevedo É obtido por brotamento através da membrana celular. Também pode ser obtido através da membrana nuclear. Possibilidade de liberação dos vírus sem causar morte celular. Contém pelo menos uma proteína codificada pelo vírus. Mas, normalmente existe muitas proteínas codificadas pelo genoma viral. Essas proteínas servem para a ligação do vírus à célula hospedeira. A perda do envelope resulta na perda da infectividade. Apesar de os vírus envelopados possuírem o material genético, a camada protéica e a camada lipídica externa (envelope), a perda dessa camada lipídica resulta na perda da infectividade. Isso ocorre justamente porque nessa camada lipídica que se encontram as proteínas ligantes com os receptores das células hospedeiras. AGENTES NÃO-CONVENCIONAIS: VIRÓIDES: São partículas mais simples do que o vírus. São somente de RNA e possuem genoma pequeno. Não codificam proteínas. Até o momento, os viróides conhecidos são de plantas. IMPORTÂNCIA: O vírus da hepatite D tem algumas características de viróide e algumas características de vírus. Assim, o vírus humano mais parecido com o viróide é o vírus da hepatite D. Para ele ser executado, ele precisa de outro vírus. Os vírus não envelopados (desnudos) são estáveis nas seguintes condições: temperatura, ácido, ressecamento, proteases e detergentes. Todos os vírus intestinais são não-envelopados. Eles são liberados da célula por lise. Esses vírus podem ser facilmente disseminados, podem secar e manter a infectividade, podem sobreviver às condições adversas do intestino e podem ser resistentes a detergentes e tratamentos inadequados dos esgotos. Os vírus envelopados sofrem ruptura nas seguintes condições: ácido (não pode infectar por via oral-fecal, devido aos ácidos como o ácido gástrico), detergentes, ressecamento (tem que estar sempre na umidade) e calor. Ele modifica a membrana durante a replicação. É liberado por brotamento ou lise celular. Deve permanecer úmido. Não sobrevive no trato gastrointestinal (devido a acidez e efeito detergente da bile). Dissemina-se através de grandes gotículas, secreção, transplante de órgãos e transfusões sanguíneas. Não precisa matar a célula para sofrer disseminação. Pode necessitar de resposta imune mediada por anticorpos e células principalmente para proteção e controle. Provoca hipersensibilidade e inflamação para causar imunopatogênese (muitos vírus não têm efeitos citotóxicos sobre a célula hospedeira. A morte da célula se dá pela própria resposta imune). ETAPAS DA REPLICAÇÃO VIRAL: Reconhecimento da célula-alvo: Ocorre com o reconhecimento do ligante da célula viral com os receptores específicos na célula hospedeira. Fixação. Penetração: Alguns vírus podem penetrar na célula de maneira direta, através da membrana plasmática. Porém, a maioria dos vírus penetra por endocitose. 3 Aula de 10/02/2009 VIROLOGIA: Por Maria Fernanda Azevedo Desnudamento: Se o vírus for envelopado, ele perde o envelope e libera o capsideo e o genoma. Se o vírus for não-envelopado, ele apenas libera o capsideo e o genoma. Assim, a replicação pode começar: no núcleo, para alguns vírus, ou no citoplasma, para outros vírus. Normalmente, se o vírus for de RNA, ele replica-se no citoplasma da célula hospedeira. Se o vírus for de DNA, ele se replica no núcleo da célula hospedeira. Síntese Macromolecular (começa a síntese do que o vírus precisa): a. Síntese inicial de RNAm e proteínas não-estruturais: genes para enzimas e proteínas de ligação do ácido nucléico. No primeiro momento, começa a síntese de moléculas que não vão participar da estrutura final do vírus, mas que são importantes para começar a replicação (proteínas não-estruturais). b. Replicação do Genoma: cada genoma formado teoricamente formará um novo vírus. c. Síntese tardia de RNAm e proteínas estruturais: são as proteínas que vão formar a partícula viral completa que será liberada. Alguns vírus formam o genoma e depois formam as proteínas do capsideo. Outros vírus formam primeiro o capsideo e depois inserem o genoma dentro dele. A síntese protéica ocorre sempre no citoplasma. d. Modificação pós-tradução da proteína: Ocorrem para formar proteínas hidrolisadas ou glicosiladas, no RE ou Golgi. Organização do Vírus: O vírus pode ser organizado no núcleo, no citoplasma ou na membrana. Se o vírus for organizado no núcleo e for envelopado, ele vai adquirir o envelope no núcleo. Se for envelopado no citoplasma, ele vai adquirir o envelope na membrana da própria célula hospedeira. Brotamento do Vírus (envelopados). Liberação do vírus: A maioria dos vírus não envelopados utilizam a lise celular (causa morte celular) para deixar a célula hospedeira. A maioria dos vírus envelopados sae por brotamento através da membrana da célula hospedeira. A saída por brotamento não mata a célula hospedeira. Cabe ressaltar que nem todos os vírus liberados são infecciosos. PROTEINAS VIRAIS: Proteínas Estruturais: Todas as proteínas em um vírion maduro. Proteínas Não-estruturais: Proteínas codificadas pelo vírus, mas não acondicionadas no vírion. EFEITOS NO HOSPEDEIRO: O vírus pode inibir a síntese de DNA, RNA ou proteínas do hospedeiro. Se um vírus inibe a síntese dessas moléculas da célula hospedeira, essa célula está condenada a morte. Nesse caso, o vírus roubou toda a maquinaria da célula hospedeira para ele. Os detalhes e mecanismos variam. EFEITOS CITOPÁTICOS: Alguns vírus causam efeitos citopáticos de lise e outros causam efeitos citopáticos de alteração da morfologia da célula. Os efeitos citopáticos ajudam muito no diagnóstico histopatologico. Se o vírus não causa nenhuma alteração morfológica na celula, fica difícil de fazer o diagnóstico. Qualquer alteração detectável na célula hospedeira: alterações morfológicas (arredondamento ou alongamento da célula), morte, apoptose e crescimento indefinido. 4 Aula de 10/02/2009 VIROLOGIA: Por Maria Fernanda Azevedo PATOGÊNESE DA INFECÇÃO VIRAL: Fase de Penetração: pele, aparelho respiratório, aparelho digestivo, aparelho digestivo, aparelho genito-urinário, conjuntiva. Fase de Disseminação: sangue, linfa, células nervosa (liquor) – Viremia. Período de Incubação: Depende do tipo de vírus. Existem vírus de incubação curta (2 ou 3 dias) e vírus com período de incubação de até 1 ano. Fase de Manifestação dos Sintomas: Infecção aguda → sistêmica (sarampo); localizada (influenza). Infecção persistente → crônica (hepatite); latente (herpes) e lenta (HTLV). Nas infecções latentes, o vírus está ali por anos. Mas ele só vai se manifestar com algum estímulo externo. Podem ocorrer múltiplas reativações. Nas infecções agudas, os níveis virais retornam a zero após a cura da doença. Já nas infecções latentes não; o vírus está sempre no organismo. Com relação a resposta imune, inicialmente tem-se uma resposta inata, com produção de INF-I, além de outras citocinas da imunidade inata. Destaca-se o papel das células NK nesse primeiro momento. Em um segundo momento, pode-se notar a resposta citotóxica, resposta Th1 e Th2, destacando a importância da célula Th1 CD8+ e a resposta de anticorpos devido à ativação das células B. Deve-se ressaltar os mecanismos virais de escape da resposta imune. DIAGNÓSTICO: Exame Citopatológico: É importante porque dá o diagnóstico imediato. É através dos efeitos citopáticos. Como não são todos os vírus que possuem efeito citopático, só é indicado para alguns vírus. Microscopia Eletrônica e Imunoeletrônica: Pode-se identificar o vírus. A imunoeletrônica usa o anticorpo específico para aquele vírus, aglutinando as partículas virais. Efeitos citopáticos observados: Morte Celular: arredondamento da célula, degeneração, agregação, perda da fixação ao substrato. Alterações histológicas: corpúsculo de inclusão no núcleo ou citoplasma, marginação da cromatina. Sincício: Células gigantes multinucleadas. Alguns vírus formam sincício com as células infectadas. Alterações da Superfície Celular: expressão do Ag viral, hemadsorção (expressão da hemaglutinina). Alguns vírus, como o da gripe, expressam na superfície da célula hospedeira uma proteína que liga à superfície das hemácias de certos animais, formando a hemaglutinina. Deteção das Proteínas Virais: Perfis Protéicos (eletroforese): O perfil da eletroforese das proteínas virais pode indicar qual o vírus. Atividades Enzimáticas (Transcriptase Reversa). 5 Aula de 10/02/2009 VIROLOGIA: Por Maria Fernanda Azevedo Hemaglutinação e Hemadsorção. Detecção do Antígeno (fluorescência indireta, ELISA, Western Blot). Coloca-se um anticorpo especifico para o tipo de vírus de desconfiança. Se houver a ligação, identifica-se o vírus. Detecção de Material Genético Viral: Tem sido muito utilizado, não apenas para a detecção, mas para a quantificação da carga viral, normalmente para acompanhamento de terapias com anti-retrovirais. É feito através RTPCR (Transcriptase Reversa-PCR). Sorologia: Os testes sorológicos utilizados são neutralização, inibição da hemaglutinação, hemaglutinação passiva, aglutinação látex, imunoflorescência direta e indireta, ELISA, RIA, Western Blot. 6